| T O M Á S |
Tudo passa e o tempo cura. Mas não nos mantém iguais. Cada situação que ultrapassamos, cada momento que vivemos, molda-nos e torna-nos pessoas diferentes. É impossível permanecermos iguais eternamente.
Abri a porta de minha casa, dando passagem para que os meus irmãos entrassem. Imediatamente, eles correram em direção à sala – de onde vinham vozes – e saltaram para o colo da Joana, enchendo-a de beijos.
Ouvia a gargalhada da minha cacheada preencher o cómodo, com uma leveza surreal. Parecia que tudo estava bem, novamente, era como se nada a tivesse abalado, em algum momento.
Entrei na sala contemplando o João, sentado nas pernas da Joana, contar as suas novidades do dia, enquanto ocupava a sua atenção entre a ela e a Vanessa.
Imediatamente, aqueles olhos miúdos e claros, giraram na minha direção, enquanto os seus lábios esboçavam um sorriso doce. Tão doce que me aqueceu todo por dentro.
O sorriso da Joana era tão lindo! Tinha a certeza de que faria o impossível para o ver todos os dias, para poder entrar em casa e ver a animação dos meus irmãos ao saber que ela lá estava, ara poder ter a minha família sempre reunida.
Caminhei casualmente até ela, inclinando-me sobre o seu rosto e beijei-lhe os lábios tenuemente, depositando-lhe um beijo na testa de seguida. Cumprimentei a Vanessa cum um beijo no rosto.
- João, Milena, trabalhos de casa! – bradei, fazendo as crianças bufarem e se arrastarem para fora do compartimento.
- Bem, e eu acho que vou à minha vida – a Iara levantou-se do sofá.
- Fica! Janta connosco.
- Não Tomás! Eu agradeço, mas não, fica para a próxima!
A Joana abraçou-a fortemente e eu acompanhei-a até à porta.
- Obrigada! – agradeci-lhe.
Os últimos dois meses tinham sido tempos complicados. Receber a notícia de que um dos bebés já não tinha vida, foi algo complicado de assimilar. A Joana andava constantemente triste, pensativa, pois culpava-se do ocorrido. Havia vezes que durante a noite eu a ouvia chorar.
Não vou dizer que para mim foi fácil, ou sequer suportável. Foi algo que eu não estava à espera e me atingiu tão fortemente quanto à Joana. Era como reviver o passado.
Porém, eu não era mais uma criança de dezasseis anos. Naquele momento, eu sabia lidar melhor com o ocorrido e sabia de que não me poderia ir abaixo. Teria de me manter forte por todos daquela casa. A Joana necessitava de mim, da minha força, que eu a apoiasse e consolasse, mesmo estando quebrado.
Eu devia-lhe isso!
A Iara foi alguém extremamente essencial para que a Joana recobrasse o ânimo. Ela e a Jéssica foram duas amigas que a animaram de uma forma que eu não conseguiria. Ajudaram-na a lidar com a perda, de uma forma que eu não conseguiria.
E naquele momento, a Vanessa sabia pelo que eu lhe agradecia – estava-lhe grato por me ter ajudado a recuperar minha Joana.
- Quando eu não for mais amiga dela, irei deixar de a ajudar. Mas eu sou, e sei que vou continuar a sê-lo até ao fim dos meus dias, por isso vais sempre ter-me por perto na vida da tua namorada e eu vou fazer de tudo para a ver bem. Nunca vais precisar de me agradecer por isso! Porque eu gosto dela tanto quanto tu, só que de maneiras diferentes. Assim como eu nunca te vou agradecer por a fazeres feliz.
Assenti suavemente com a cabeça, sentindo o efeito das palavras da Vanessa. Eram verdadeiras, e por isso eu estava feliz por saber que a Joana tinha alguém que presava pelo seu bem-estar, tanto quanto eu.
Fechei a porta e voltei para junto da Joana. Sentei-me ao seu lado e ela aninhou-se no meu corpo, abraçando-me fortemente.
- Eu amo-te muito, Tomás!
- Também te amo, meu amor! Muito mesmo.
Ela assentiu e beijou os meus lábios, de uma forma urgente, como se necessitasse de contacto. O beijo transformou-se num largo sorriso.
- A safadinha mexeu-se aqui dentro – a Joana declarou, levando a mão à barriga.
- O papá também te ama muito, Miquelina! – eu disse junto à sua barriga de cinco meses.
- Para de chamar a nossa filha disso, Tomás! Que merda! Já disse que não quero esse nome horrível! Coitadinha, queres traumatizar a criança antes mesmo de nascer.
- Desculpa, amor! – pedi, tentado beijá-la.
- Sai! Vai ver se a Milena precisa de ajuda – levantei-me e encaminhei-me para fora da sala. – E podes começar a pensar no que fazer para o jantar! Não pretendo sair mais deste sofá.
- Vou cobrar – falei no batente.
- Eu vou parir a tua filha, Tommyzinho. Se quiseres cobrar, só se for o cu.
- Não me dês ideias, Janinha.
Ela olhou-me de lado, com um sorriso sapeca nos lábios.
- Sonha!
- Amo-te!
A Joana deitou-me a língua de fora, fazendo-me gargalhar.
- Quero ver essa língua logo à noite – provoquei com uma piscadela, mas já deveria prever uma resposta.
- A língua e muito mais, eu espero – foi a vez dela de piscar o olho, de uma forma extremamente exagerado. – Agora vai lá de uma vez! E traz-me nozes!
A gravidez da Joana estava a ser um tempo relativamente calmo. Pelo menos, no que diz respeito aos enjoos. Ela não era intolerante a nada e, de manhã, acordava normalmente. Em contrapartida, tínhamos as hormonas completamente loucas e as suas vontades muito estranhas.
No momento em que soube que ia ser uma menina, fiquei tão feliz! Prometi naquele instante que faria de tudo para a proteger e não permitiria que ela sofresse o que eu sofri ou mesmo os meus irmãos. Amá-la-ia com todas as minhas forças, como já o fazia naquele momento.
Quando a senti pela primeira vez, mexer-se na barriga da Joana, foi como como tem a perfeita consciência que ela ali estava, era mais real. A nossa menina estava ali, a mexer-se, a reagir aos estímulos exteriores, quase que lhe conseguia tocar.
Não era difícil imaginar como seria. Ao mesmo tempo que era a tarefa mais árdua deste muno. Teria os meus olhos, ou os da Joana? Seria irrequieta como o João, ou mais calma como a Milena? Herdaria a teimosia da Joana ou insubordinação da tia Paloma? Amar-me-ia como eu já a amava? Eu conseguiria ser para ela mais que um pai, um amigo?
Eram tantas as questões, as dúvidas. Ser pai não seria o mesmo que ser irmãos mais velho. Eu teria um embrulhinho nos braços, desde o seu primeiro dia. Eu ensiná-la-ia a falar, a amar, a sorrir. Eu estaria lá desde o iniciozinho, e tudo dependeria de mim e da Joana.
- Tomás – a Joana chamou o meu nome a meio da noite. – Achas que a tua mãe ia ficar feliz por saber que vai ser avó, de uma menina?
- A minha mãe é uma mulher sem coração – respondi-lhe.
- Eu fico com pena disso, sabes? Eu gostava que a nossa filha tivesse a família toda reunida, e que toda a gente a amasse. É triste saber que ela nunca terá o amor da tua mãe, porque uma mulher que não ama os filhos, já mais conseguirá amar a neta.
Um suspiro saiu-lhe da garganta, preenchendo todo o silêncio da noite.
- A Miquelina... - fui interrompido por um protesto, por ter chamado a nossa bebé pelo nome que ela não gostava, soltei um risinho, antes de continuar – ...terá o nosso amor, todo ele. Será tanto, que não sentirá a falta de ninguém, muito menos de uma mulher que não a merece. A minha mãe não merece ninguém, muito menos as tuas insónias.
Outro suspiro penoso.
Não tardou para sentir que ela adormecera, envolta aos nos meus braços.
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Olha euuuuuuu!! \0/
Eu gosto especialmente dos capítulos do Tomás. Não sei, eles transmitem um misto de sensações muito boas de se escrever. Espero que também as sintam, ao lê-laaaaaas!!
E eu gosto tanto de ver a Joana e o Tomás assim, bem e felizes! É mesmo bom!
ESTAMOS NA RESTA FINAL!!!
Teremos mais uns três ou quatro capítulos e chegaremos ao fim...
Espero que tenham gostado deste capítuloooo!!
VOTEM - não se esqueçam, é mesmo muito importante para mim!!
E COMENTEM o que acharam! Quero saber de tudooooo!!
Beijinhos, vêmo-nos o mais breve possível!!
Amo todos vocês!!