Inalcançável - Livro 2

By bellanye

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(Livro #2 da Série Inesperado) Após a volta de Théo Carter, a vida de Annie vira novamente de cabeça para bai... More

direitos autorais
inalcançável #2
elenco dos sonhos
epígrafe
capítulo 2
capítulo 3
capítulo 4
capítulo 5.1
capítulo 5.2
capítulo 6
capítulo 7
capítulo 8.1
capítulo 8.2
capítulo 9.1
capítulo 9.2
capítulo 10
capítulo 11
capítulo 12
capítulo 13
capítulo 14
capítulo 15
capítulo 16
capítulo 17
capítulo 18
capítulo 19
Capítulo 20
capítulo 21
capítulo 22
capítulo 23
capítulo 24
capítulo 25
capítulo 26

capítulo 1

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By bellanye

O colar fino de ouro branco está em minhas mãos. O pingente de estrela brilha ao entrar em contato com a luz do sol que entra pela janela. É o preferido de Mía.

Foi um presente do pai, eu me lembro quando ele entregou a ela a caixinha preta de veludo e o sorriso no rosto da minha filha iluminou-se ao abrir.

O pingente representa ela. A estrela que ilumina vidas repletas de escuridão.

Minha mente voa para o dia em que fui embora levando minha filha comigo. Mais uma decepção. Eu sabia que não deveria ter confiado nele. Não dei tempo para explicações, eu fugi. Não acho que fui covarde, foi um ato de desespero. Instinto de mãe. Ninguém tiraria minha filha de mim.

Théo jogou no lixo qualquer possibilidade de confiança e reconciliação, ele não merece. Nunca mereceu. Ele só pensa nele mesmo.

Foi difícil deixar para trás tudo o quê vivi em poucos três dias ao lado de Théo, na casa dos pais. Eu me lembro tão bem de tudo, principalmente da noite dentro do seu escritório. As carícias depois de todas as palavras ditas. O refúgio em seus braços. Tudo parecia ainda tão recente.

Eu tento deixar para trás e não pensar, mas Mía pergunta incansavelmente pelo pai. Dói em mim. Eu digo o de sempre: que ele está ocupado e viajando a trabalho. Ela entende, na maioria das vezes. Não queria afastá-la do pai, mas eu não poderia correr o risco de perdê-la. Além do mais, Théo estava prestes a voltar com Sarah. A conversa deles no escritório deixou bem clara suas intenções. Eu sabia que ele largaria tudo por ganância, mais uma vez, e Mía seria decepcionada.

Ele poderia machucar a mim, mas a minha filha não.

Desde o dia que fugi eu nunca mais tive notíciais de Théo.

Mudei o número do meu telefone e fui para a casa dos meus pais, lá eu sempre encontraria um abrigo e um colo para chorar.

Eu sei que agi por impulso, mas eu tive medo.

Mía é o que eu tenho de mais importante em minha vida. Ninguém pode tirá-la de mim.

Guardo o colar de volta na caixinha de veludo e observo de soslaio Mía entrar no quarto. Coloco a caixinha no fundo da gaveta da grande cômoda branca e fecho.

- Mãe! - Mía anda em passos largos e para ao meu lado. - A tia Julie vai levar o Duque pra passear, eu posso ir também?

Ela me olha com olhos pidões, piscando seguidas vezes fazendo os cílios enormes subirem e descerem.

- Hãn... eu não sei, vai dar mais trabalho a ela - respondo, colocando roupas limpas e dobradas na gaveta de blusas.

- Deixa disso, Ann. Nós nos entendemos. - Julie aparece no corredor, colocando a cabeça para dentro do quarto da minha filha. - Não é, Mía?

- É isso aí! - Mía levanta o dedão para Julie, em sinal positivo.

Eu solto uma risada.

- Posso ir? - insiste ela.

Balanço a cabeça positivamente, liberando Mía para o passeio. A pequena abre um sorriso, animada, e fica na ponta dos pés para dar um beijo em meu rosto. Eu me abaixo até ela, facilitando o beijinho na bochecha.

- Obedece a tia Julie! - grito, já que Mía sai correndo antes que eu possa falar mais alguma coisa.

- Eu já tô craque em cuidar dos dois, posso até planejar mais um pro futuro. - Julie diz, com um sorriso de menina que está presente em seu rosto todos os dias.

- Vamos com calma, Julie, um passo de cada vez.

Ela ri, mandando um beijo no ar para mim.

Julie é uma menina incrível. Fred estava certo ao tecer elogios sobre a irmã quando eu ainda nem a conhecia. Nos demos bem de cara, e ela me acolheu como parte da família.

Há quase 5 meses me mudei de Campo de Girassóis, e não foi pra fugir do Théo. Um dia, quando estava pesquisando coisas aleatórias na internet, vi um anúncio de vestibular. Me inscrevi sem criar muitas expectativas. Quando voltei da casa dos pais de Theo, logo na semana seguinte, fiz a prova. Pra minha surpresa eu passei. Ganhei uma bolsa de estudos e a oportunidade de terminar a faculdade. Me transferi para lá depois de pedir conselhos aos meus pais sobre o que eu deveria fazer. Eles me apoiaram.

Meus amigos também ficaram felizes por mim, mas eu não tinha certeza se estava fazendo a coisa certa. Se eu quisesse mesmo continuar a estudar eu teria que mudar mais uma vez.

A universidade fica em Florência, uma cidade grande. Melissa me encorajou a largar tudo e tentar a sorte na cidade grande.

Por um acaso do destino Florência era justamente a cidade onde Fred morava antes de ir trabalhar em Campo de Girassóis. Ele me ajudou muito a tomar uma decisão. Logo que ficou sabendo do resultado do vestibular insistiu para que eu ficasse em seu apartamento. Eu não aceitei. Ele insistiu ainda mais e eu não tive porquê recusar, visto que demoraria para conseguir uma casa com preço bacana naquela região e tão perto da universidade.

Eu inicialmente não queria me mudar de Campo de Girassóis. Aquele era o meu lugar. A cidade que eu tanto amava, aonde estavam os meus amigos e o meu próprio negócio, que eu custei muito a conseguir. Também não queria afastar Mía dos amigos da escola, ela já estava acostumada com o lugar e com as pessoas. Seria difícil para nós duas, mas eu mantive a minha decisão. Estava fazendo isso justamente por nós, para melhorar nossas vidas e me tirar da bagunça em que eu me encontrava.

Voltei da casa dos pais de Théo destruída, despedaçada mais uma vez. Théo me quebrou de novo. Foi difícil me reerguer, mas completamente necessário. Fui obrigada a arrancar de dentro de mim tudo o quê eu sentia por ele.

Arrumei minhas malas e mudei para Florência. Apenas Mía e eu. Fred ficou em Campo de Girassóis, ele precisava terminar a obra do cinema na cidade. Gutierre ficou encarregado de cuidar da floricultura e promovido a gerente, contratou um funcionário e agora ele é o patrão. Eu ainda sou dona da Mía's Fleur e comando tudo de longe.

Assim que chegamos em Florência fomos recebidas por Julie. Ela me ajudou demais, e continua ajudando.

Julie cuida de Mía quando eu estou ocupada com a faculdade. Ela não trabalha fora de casa, o pequeno Enrico ainda depende muito dela, então ela se ofereceu para cuidar de Mía. Eu quis pagar por isso no começo, mas ela recusou. Nós nos damos muito bem, e Mía adora a tia Julie.

Eu me vejo muito nela. Fui obrigada a amadurecer cedo, na marra, por causa da chegada de Mía na minha vida. Aconteceu o mesmo com Julie. Ela é tão nova e tão madura. É uma ótima amiga também. A casa dela fica perto do apartamento, ela mora com o filho, com o namorado Otávio, e Duque, um labrador que quando fica em pé em apenas duas patas ultrapassa o meu tamanho.

Otávio e Julie formam um casal lindo e ele é super gente boa, assim como ela!

Fiquei nervosa no meu primeiro dia de aula, parecia que era a primeira vez que eu pisava em uma universidade. Com o passar dos dias me acostumei com a correria de estar em uma faculdade e hoje não vejo a hora de estar com o meu diploma em mãos.

Eu sinto falta de Campo de Girassóis, da cidade pacata e sem o trânsito louco de São Paulo, mas Florência também têm seus encantos.

Após 3 meses, já devidamente instalada e habituada com o apartamento, Fred voltou para a cidade. O trabalho dele em CG havia terminado. Fiquei receosa no início, nós não mantivemos um relacionamento amoroso e eu não sabia o quê aconteceria dali para frente. Ele se mudou para a casa da irmã, disse que de forma alguma tiraria minha privacidade no apartamento. Não me senti bem com isso, o apartamento era dele e não meu, mas mesmo argumentando muito, ele manteve a decisão de ficar na casa de Julie.

Um dia saímos juntos para jantar, como bons amigos. Contei para ele tudo o quê aconteceu com o Théo. Contei sobre o meu medo e a forma patética em que fugi. Ele me contou sobre o dia em que saiu para uma boate com os amigos, enquanto eu estava na casa dos pais de Théo, e como conheceu uma mulher por lá. Eles acabaram ficando juntos aquela noite.

Naquele momento, naquele jantar, eu percebi que não tinha segredos entre nós dois. Coisas que eu jamais teria certeza com o Théo, que vivia escondendo absolutamente tudo de mim. Fred sabia dizer as coisas certas nos momentos exatos. Ele me fazia bem, eu gostava da sua companhia e de como ele me fazia sentir especial. E o mais importante, ele adorava a minha filha.

Então, eu me vi em seus braços novamente.

- Até daqui a pouco. - Julie diz do corredor, me despertando dos meus devaneios, segurando Enrico com um braço e dando a mão livre para a Mía.

Eu aceno para eles e Mía sai toda sorridente com ela, pronta para levar Duque para passear.

Minha filha está mesmo crescendo, antes não desgrudava de mim, hoje já não é tão dependente da minha companhia. Não quero imaginá-la como uma adolescente cheia de vontades e atitude, acho que nunca estarei pronta para soltá-la de vez.

Suspiro refletindo sobre isso.

Termino de guardar as roupas de Mía em seus devidos lugares e saio do quarto.

Observo a hora em meu celular após responder uma mensagem de Melissa.

Caramba, eu vou me atrasar!

Corro para o quarto, entro na suíte já despindo-me e vou para o banho.

Não consigo relaxar debaixo da água quente, preciso correr se não quiser chegar atrasada.

Puxo a toalha verde do gancho da parede quando termino o banho, enrolo em meus cabelos molhados. Enrolo outra toalha em meu corpo e volto para o quarto.

Tenho um sobressalto ao escutar a porta fechar, mas logo assim que me viro relaxo meus ombros ao notar o sorriso nos lábios de Fred, meu noivo.

Fred larga a chave do apartamento em cima da cômoda e, sem tirar o sorriso do rosto, caminha em minha direção. Os olhos estão fixos em meu corpo, ele me mede de cima à baixo e eu sinto minhas bochechas queimarem.

Me viro, entrando no closet à procura de uma roupa, fazendo com que Fred me siga.

- Às vezes eu acho que tô sonhando - diz ele, me abraçando por trás assim que se aproxima.

Ele dá um beijo estalado em meu pescoço e seus braços me apertam nele.

Dou risada, sentindo cócegas quando ele desliza o nariz desde o meu ombro até a minha nuca.

- Agora não, Fred. - Detenho suas mãos assim que ele tenta tirar minha toalha. - Nós vamos nos atrasar.

Fred me vira, alcançando minha boca com urgência. Entrelaço meus dedos em seu cabelo, correspondendo ao beijo quente. Rápido, mas quente.

Ele tenta subir a mão pela minha coxa. Interrompo o beijo.

- Você é tão teimoso - falo, recuando o rosto para encará-lo.

Fred solta uma risada baixa.

- Não consigo resistir a você desse jeito.

Eu sorrio para ele. Roubo um selinho e me viro novamente, me afastando para procurar por uma roupa adequada para a ocasião.

Olho atentamente para as minhas roupas, me dou conta de que preciso fazer compras urgentemente.

- O quê acha desse? - pergunto, puxando um vestido preto decotado.

Coloco na frente do meu corpo e olho para Fred, esperando uma resposta.

Ele analisa o vestido em silêncio.

- Muito decotado. - Fred balança a cabeça, reprovando.

Reviro os olhos e devolvo o vestido para a arara.

- E este? - Coloco o vestido vermelho na frente do meu corpo.

- Esse é aquele curto demais? - pergunta ele.

Faço que sim com a cabeça.

Fred faz uma careta, e eu já sei a sua resposta.

Quando comecei a me relacionar com Fred descobri que ele é um homem ciumento. Ele diz que é excesso de cuidado, e que fica louco só de pensar em me perder.

Às vezes me incomoda, e nós já brigamos feio por esse jeito ciumento dele. Mas, tirando isso, Fred é um excelente noivo. Eu gosto do que temos, a nossa sintonia é bonita de se ver.

Finalmente decido por um vestido preto, mais colado ao corpo, destacando minhas curvas e com um decote mais comportado.

Fred vai para o banho enquanto eu faço uma maquiagem simples, mas elegante. Deixo meu cabelo solto e faço careta ao encará-lo no espelho. Estou a tanto tempo com o mesmo corte, meu cabelo já está batendo na cintura. Preciso mudar.

Quando já acabo de me arrumar Fred está escolhendo uma camisa. Ele opta por uma camisa social azul escuro e ajeita os detalhes em frente ao espelho.

Sorrio ao observá-lo. Ele é um homem lindo.

- O quê foi? - pergunta ele, virando a cabeça em minha direção.

Eu devo estar com cara de boba.

- Estava te observando.

Ele sorri com a boca fechada, caminha em minha direção até espalmar as mãos em minha cintura.

- Você está linda - sussurra ele, antes de selar os nossos lábios com cuidado para não borrar o meu batom.

**

Quando Fred para o carro eu olho através da janela.

O grande restaurante está cheio.

Eu tenho boas lembranças deste lugar, foi aqui que Fred me pediu em casamento.

Não desconfiei de nada, para mim era apenas mais um jantar à dois, costumávamos sair toda semana. Mas, de repente, ele estava se declarando. O pianista começou a tocar uma música que eu adorava, e quando eu menos esperava ele se ajoelhou, abriu uma caixinha de veludo que tinha um anel lindo dentro e segurando a minha mão fez o pedido.

Fiquei sem reação. Foi lindo, mas eu não esperava. Minha cabeça girou, lembrei de tantos acontecimentos. Pensei em pessoas que eu não deveria pensar. Minha vida toda passou como um trailer de filme na minha mente.

Apesar da minha confusão, eu fiquei feliz. Fred faz meu coração bater mais forte, ele me trata de um jeito especial, único. Nos entendemos tão bem. Ele ama Mía, como uma filha. Ele é o melhor para mim, para nós.

Eu aceitei o pedido.

Encaro o anel de noivado em meu dedo. É tão brilhante.

- Vamos?

Concordo com a cabeça.

Saio do carro passando a mão pelo meu vestido para esticá-lo. Fred dá a volta e entrega a chave ao manobrista.

Sua mão para em minhas costas, e andamos até a entrada do restaurante.

Fred marcou uma reunião de negócios no restaurante. Outro engenheiro da empresa em que ele trabalha estará no jantar hoje, acompanhado de sua esposa.

É a maior empresa da cidade, e às vezes eu me sinto deslocada no meio de tanta gente chique e cheia de pose. Vim de cidade pequena, não sou acostumada com luxos.

Caminhamos até a mesa reservada. Avisto de longe o amigo de Fred com a esposa. Eu não tenho muito assunto com ela, ela conversa sobre assuntos que eu não falo muito, como compras, dias em salão de beleza e outras coisas fúteis. Meu mundo é o oposto, sou estudante de Direito e mãe em tempo integral. Se ela quiser bater um papo sobre Show da Luna ou Peppa Pig com certeza eu domino o assunto.

Eu sou a mais nova entre eles, a maioria já passou da casa dos 30 anos, menos Fred.

Eles nos cumprimentam quando chegamos. Eu sorrio um pouco sem graça, um pouco envergonhada. É nítido o quanto me sinto deslocada.

Fred aponta para os nossos lugares. Ele puxa a cadeira para mim, eu agradeço com um sorriso.

- Então, aonde está O cara? - pergunta Fred, sentando em seu lugar.

Ele me explicou que o novo serviço deles será para um homem bem sucedido, que decidiu fazer uma grande obra em um dos estabelecimentos mais antigos da cidade.

Pelo que entendi, o tal homem comprou o estabelecimento e quer transformá-lo em um novo negócio.

- Está chegando. - Marco, amigo de Fred, confere a hora no relógio de pulso. - Esses homens ocupados sempre atrasam compromissos.

Fred concorda, e eles engatam uma conversa sobre os últimos acontecimentos na empresa. A esposa de Marco dá risada de algumas coisas que o marido fala, e eu observo tudo me sentindo perdida nos assuntos.

Tiro meu celular da bolsa preta de mão. Tem uma mensagem da Julie.

Sorrio ao checar, é uma foto de Mía abraçada ao Duque.

Julie Bittencourt:
"Estamos vendo Barbie em Vida de Sereia"


Solto uma risada baixa, discreta.

Annie L:
"Ela vai querer fazer você assistir todos os filmes da Barbie possíveis"

Julie Bittencourt:
"Hahahaha, eu nasci pra ser mãe de menino mesmo"


Antes de vir para o jantar liguei para Julie, ela me disse que ficaria com a Mía sem problemas. Julie é um anjo na minha vida.

Fred fez nossos pedidos.

Duas taças de vinho depois, Marco estica o pescoço para enxergar melhor a entrada do restaurante.

- Eles chegaram. - avisa ele, levantando da cadeira com pressa.

Fred faz o mesmo, apenas Evelyn e eu permanecemos sentadas.

- Tá de brincadeira comigo - resmunga Fred.

Um vinco confuso marca minha testa.

Me viro na cadeira para observar.

Eu congelo. Sinto que esqueço como faço para respirar.

Théo está entrando no restaurante.

Me seguro na cadeira, sinto que a qualquer momento posso me desequilibrar.

Abro e fecho minhas pálpebras rapidamente, na esperança de estar vendo alguma miragem e o Théo desaparecer por um milagre.

Fred está tenso, em pé ao meu lado. Observo suas mãos serem fechadas em punhos e seu maxilar contrair.

Minha cabeça gira.

Céus! Não pode ser.

Observo Théo caminhar até a mesa, parece que estou assistindo um filme em câmera lenta.

Desvio minha atenção dele ao perceber que seu braço está entrelaçado ao braço de uma mulher.

Estreito meus olhos. Não é Sarah.

Eu não conheço essa mulher.

Ela é bonita. Linda, na verdade. Tem uma postura de mulher fina, elegante. Caminha tão suavemente que parece flutuar. O vestido vermelho que está usando é longo, eu consigo ver o incrível salto agulha quando ela dá um passo na frente do outro. Parece uma modelo de passarela.

Eu com esses saltos com certeza já teria caído de cara no chão.

Quem é ela? O quê ela está fazendo com Théo?

Atrás deles está um homem alto, de pele branca, tão branca quanto a neve. Os cabelos loiros e óculos de armação preta quase na ponta do nariz. Fico ainda mais incrédula ao reconhecer que é Vicente, o detetive da empresa Mansur e amigo de Théo. O mesmo que me achou em Campo de Girassóis.

Milhares de perguntas começam a pipocar em minha cabeça.

O quê está acontecendo aqui?

Volto meu olhar ao Théo. Ele está me encarando.

Sinto todo o meu corpo fraquejar.

Eu conheço tão bem esses olhos.

Minha pulsação acelera. Sinto falta de ar.
Estou zonza.

Antes que ele chegue à mesa, eu me levanto. Fred me encara confuso.

- Com licença.

Saio da mesa em passos largos, fazendo meu salto - não tão alto - emitir som enquanto caminho.

Minhas pernas estão bambas.

Como ele me achou? Ele sabia que eu estaria aqui? Como?

Será que ele veio atrás de mim? Será que ele veio para levar Mía embora?

Não...

Eu não vou deixar.
Ele não vai levar a minha filha.

Entro no banheiro com pressa. Por sorte, está vazio.

Apoio minhas mãos no mármore branco. Encaro meu reflexo no espelho.

Eu estou pálida.

Inspiro todo o ar necessário para encher os meus pulmões e solto em seguida pela boca, tentando regular minha respiração.

Encaro minhas mãos trêmulas. Preciso me acalmar.

Penso em Fred, ele deve estar furioso.

Fred sabe sobre tudo que aconteceu em Minas. Eu contei que Sarah apareceu grávida e que Théo planejava ir embora com ela, levando minha filha. Fred tomou minhas dores e achou um absurdo as atitudes de Théo.

Será que ele vai confrontar Théo? E se eles brigarem?

Ai, meu Deus.

Meu estômago revira. Estou tão nervosa que sinto ânsia.

Corro para uma das cabines com a mão na boca. Ajoelho a tempo e despejo tudo dentro do sanitário.

Toda essa situação me deixa em estado de nervos.

Permaneço ajoelhada e levanto meu vestido acima dos meus joelhos, para não sujá-lo, mesmo vendo que o banheiro está impecavelmente limpo.

A ânsia sobe por minha garganta mais uma vez e eu vomito tudo o quê comi durante o dia inteiro.

Eu odeio passar mal de nervoso.

Minhas mãos ainda estão trêmulas, levanto e saio da cabine respirando fundo, tentando me acalmar.

Lavo as mãos e a boca me encarando no espelho.

Quando eu terei paz?

Solto uma lufada de ar e praguejo baixinho por ter esquecido a bolsa em cima da mesa, preciso retocar meu batom.

Não estou pronta para voltar lá. Não estou pronta para encarar o Théo. Não quero saber o que ele veio fazer aqui, eu preciso ir embora.

Preciso ligar para minha mãe e para Melissa, preciso contar o que está acontecendo.

Ajeito o meu cabelo, jogando os fios castanhos para trás dos meus ombros.

Eu, infelizmente, não posso ficar trancada nesse banheiro para sempre.

Dou um suspiro pesado antes de voltar para a mesa.

Todos já estão acomodados quando retorno. O garçom está na mesa anotando os pedidos de Théo, Vicente e da mulher elegante.

Ela é ainda mais bonita de perto.

Fred me olha com a testa franzida quando me sento ao seu lado.

- O quê aconteceu? - pergunta ele, baixo, se aproximando de mim.

- Nada. Eu só precisava usar o banheiro.

- Sei...

Ele está desconfiado. Ele sabe o real motivo.

Não quero brigar com Fred, então repuxo meus lábios em um pequeno sorriso.

Evito ao máximo o contato visual com Théo. Mantenho meus olhos em Fred, ou em qualquer outro ponto daquele restaurante.

Marco inicia uma conversa sobre os negócios.

E eu escuto a voz rouca de Théo depois de meses.

Todo o meu corpo se arrepia e meus batimentos aceleram.

Merda!

Eu não olho em sua direção.

Fred me encara seguidas vezes. Ele está tão sério e tão furioso que sinto medo dele começar uma briga com Théo a qualquer instante.

Estico o braço e toco em sua mão, tento tranquilizá-lo.

O garçom chega com nossos pedidos, dou graças a Deus em pensamento. Estou morrendo de fome.

Marco ainda está conversando com Théo. Vicente opina em algumas coisas e Fred não se intromete no assunto. Ele também deveria estar conversando, mas prefere ficar quieto. Acho que é melhor assim.

A mulher elegante não diz nada, e Evelyn puxa assunto comigo sobre a nova cor em seu cabelo.

Forço o meu melhor sorriso e embalo em uma conversa com Evelyn, tentando ao máximo me distrair.

Um jantar nunca foi tão longo antes.

Os minutos se arrastam, a voz dele continua me causando arrepios. Eu olho para ele de soslaio algumas vezes, Fred parece não perceber.

Acabo de comer e bebo um grande gole do meu vinho.

Eu não quero estar sóbria neste momento.

Minha conversa com Evelyn rende, e acho que é a primeira vez que isso acontece.

Marco pede a opinião de Fred em um assunto, ele responde sem vontade.

- Podemos ir até a minha cobertura conversar melhor sobre isso - diz Marco.

Eu viro a cabeça instantaneamente na direção de Fred. Meu olhos suplicam para ele não aceitar.

Fred dá um suspiro pesado.

- Acho que não, Marco. - Ele tenta.

- Eu acho uma ótima ideia - opina Théo.

Meu olhar é atraído até ele. Théo dá um sorriso presunçoso em minha direção.

Merda. Merda. Merda.

A mão de Fred envolve a minha, eu desvio o olhar para ele. Ele está furioso.

- Então nós vamos. - Marco abre um sorriso satisfeito com a decisão de Théo.

Solto um suspiro frustrado.

Essa noite será longa.

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