Andando Sozinho

By Fernando77Moraes

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Quando Carlos Montenegro recebe uma estranha carta com as datas e iniciais de sua namorada - morta quando ain... More

Prefácio
AGRADECIMENTOS
Nota do Autor
P r ó l o g o
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Capítulo XXXIV
Capítulo XXXV
Capítulo XXXVI
Capítulo XXXVII
Capítulo XXXVIII
Capítulo XXXIX
Capítulo XL
Capítulo XLI
Capítulo XLII
Capítulo XLIII
Capítulo XLIV
Capítulo XLV
Capítulo XLVI
EPÍLOGO
A MORTE

Capítulo XXV

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By Fernando77Moraes

Sentado quase às escuras no sofá da sala, Lazar fitava o fogo na lareira. Passava das 22h e Charlene já estava dormindo. Sob a fraca luz do abajur que ele direcionou, iluminando o quadro na parede sobre a lareira, que ele havia dado para sua esposa no dia do seu aniversário, Lazar meditava contido em seus pensamentos. Ao seu lado, em cima de uma mesinha, uma garrafa de uísque já pela metade.

- Por que me deixou? - sussurrou ele, com os olhos marejados.

De repente um barulho surgiu vindo da frente da casa. Em um sobressalto, Lazar se levantou e foi até o baú que ficava em um canto da sala. De dentro tirou sua espingarda calibre 12. Aproximou-se da janela, afastou a cortina e viu que lá fora uma pessoa de pé entre a escuridão observava sua casa. Destrancando a porta, Lazar apontou a arma na direção do estranho querendo saber o que fazia ali em sua propriedade.

- Quem é você e o que faz aqui? - Indagou ele com o dedo no gatilho, tendo o sujeito na mira. O estranho começou a se aproximar em passos lentos, ficou em silêncio por alguns instantes.

Lazar percebeu que ele mantinha os braços cruzados e que parecia estar usando um manto com capuz lhe cobrindo a cabeça.

- Você não precisa dessa arma - finalmente falou o estranho com um tom de voz firme e equilibrado.

- Quem é você? - Perguntou mais uma vez Lazar, dando um passo para frente.

- Vim aqui porque tenho respostas para as suas perguntas.

- Do que você está falando?

- Você é um bom homem e não deve se culpar desse jeito. Esta cidade vem sofrendo com muitas mortes e, se quiser que isso pare, vá amanhã cedo antes do sol nascer até a igreja. Lá você verá que o que tenho é para o bem desta cidade.

- Papai, o que você está fazendo aí fora?

Lazar se virou ao ouvir a voz de sua filha e, ao voltar-se para frente, viu que o estranho desaparecera.

- Com quem estava falando? - indagou a menina, parando ao lado da porta.

- Com ninguém, minha filha - respondeu Lazar, olhando para os lados a procura do estranho.

- Mas então para que a ar...

- Vamos! - Interrompeu ele. - Suba e volte para o quarto.

Está muito frio aqui embaixo. Não quero que pegue um resfriado.

Charlene começava a subir a escada, quando parou e viu sobre a mesinha a garrafa de uísque.

- Você me prometeu que não iria mais beber - disse ela com certa fúria na voz.

- Vá dormir! - bradou Lazar, percebendo em seguida que não deveria ter falado daquele jeito.

Charlene girou o corpo com firmeza e subiu correndo para quarto. Assim que entrou, trancou a porta.

Lazar, ainda com a arma em punho, olhou uma última vez pela janela antes de apagar o fogo da lareira e subir para o quarto.

* *

O galo começou a cantar alto, anunciando mais um dia que nascia. Antônio Lazar abriu os olhos e ficou observando o teto do quarto. Em seus pensamentos, lhe veio o acontecido de horas atrás. Vá até a igreja antes do sol nascer, sussurrou ele. Pela janela, viu que o céu ainda adormecia em meio ao escuro. Colocando os pés sobre o assoalho frio, Lazar trocou de roupa e, antes de descer, foi até o quarto de Charlene. Viu que a porta ainda continuava trancada.

- Me perdoe - disse ele, colocando a palma da mão na porta.

Ao entrar em sua picape, Antônio colocou sua espingarda sobre o banco, deu a partida e saiu rumo à igreja. Em poucos minutos, estacionava a picape nos fundos do lugar religioso. Assim que desligou os faróis, uma pessoa abriu a porta dos fundos e ficou de pé diante dele. Pela postura, Lazar percebeu que devia ser o mesmo homem que aparecera em sua casa. Os dois fitaram um ao outro até Lazar pegar a arma sobre o banco e descer apontado para o estranho.

- O que você queria em minha casa? - interrogou ele.

- Ele está esperando por você - respondeu o homem em tom ríspido. - Largue a arma, ela não será necessária aqui dentro.

- Seja lá quem for que quer falar comigo, entrarei levando ela.

Subitamente o homem voltou a entrar na igreja, fechando a porta com força. Lazar deu um passo para trás, ficando mais perto da porta da picape. Quando abriu a porta decidido a ir embora, ouviu um rangido e, ao girar o corpo na direção do som, viu o mesmo homem parado mais uma vez diante da porta.

Antônio Lazar abaixou a arma ainda engatilhada e, lentamente, se dirigiu ao encontro do sujeito. Os dois entraram na igreja, Lazar sendo levado sem saber para onde.

Eles passaram por um corredor que dava acesso aos aposentos do padre e outras salas que tinham as portas fechadas. Após a morte de Raquel, aquela era a primeira vez que voltava a entrar na igreja.

Já faz muito tempo, pensou ele.

Finalmente Antônio e seu acompanhante chegaram até uma porta de madeira rústica, tinha entalhada o desenho de um cálice e uma hóstia ascendendo sua borda. Agora ele sabia muito bem onde estava indo. Atrás daquela porta era o local onde as missas eram realizadas, onde boa parte dos moradores de Santana se reuniam aos domingos para rezar. Aquele que lhe servia de guia a abriu, fazendo sinal para que Lazar fosse o primeiro.

Ao cruzar a porta, Lazar olhou para o altar à sua esquerda, fez timidamente o sinal da cruz ao ver esculpida em madeira a imagem de Cristo pregado à cruz e pediu perdão por entrar ali, depois de tanto tempo, tendo uma arma nas mãos. Ele deu alguns passos e parou diante do corredor que dividia a fileira de bancos.

A velha igreja de Santana há algum tempo não era usada, depois que o padre decidiu ir embora, abandonando a todos por ser severamente questionado por causa das mortes que vinham acontecendo.

Sob a luz de algumas velas, Lazar pôde ver que a igreja ainda mantinha a sua beleza. Continha vários desenhos de anjos em seus vitrais coloridos e, na abóbada, uma pintura de Cristo envolto em uma túnica branca parecia flutuar, com os braços abertos e os pés um sobre o outro apontados para baixo, como se estivesse voando. De suas costas emanavam raios de luzes amarelas. A pintura, feita para sua inauguração, retratava como deveria ter sido sua ascensão até os céus. Antônio Lazar hesitou em largar a arma, mas, ao ouvir um barulho, preferiu firmá-la ao corpo.

- Que bom que veio, meu amigo - soou uma voz.

Lazar estacou, indo para trás, e girou nos calcanhares. Um homem surgiu por detrás de uma porta, que tinha presa em sua parte superior uma cortina vermelha com detalhes dourados. Ele andou e parou em frente ao altar.

- O que você quer? - indagou Lazar, segurando firme a espingarda.

- Conversar - respondeu ele afável, mantendo-se no mesmo lugar, tendo o rosto iluminado pelas velas.

- Você disse que tinha respostas para mim.

- E as tenho. Só que para isso... gostaria que soltasse essa arma. Não será com ela que conseguirá obter o que deseja.

- E como sabe o que desejo?

- Bom - disse o estranho, que retomou a posição na qual Lazar o havia visto em sua casa (as mãos dentro das mangas de seu manto). - O que realmente você deseja?

Imerso em seus pensamentos, Antônio Lazar começou a titubear, achando que tudo não passava de algum mal-entendido, mas por fim respondeu:

- Minha mulher de volta!

O estranho começou a andar de um lado para outro, mantendo os olhos fitando o chão.

- Infelizmente, meu caro... isso não está ao meu alcance, mas... sei como parar com o sofrimento desta cidade. Posso dizer-lhe que sei como fazer que mais ninguém em Santana sofra pela morte de um ente querido.

Antônio analisou as palavras daquele homem, ainda sem conseguir entender seu propósito.

- Você está confuso com tudo isso, não é mesmo? Bom... e se eu disser que... - ele parou de repente. Virando-se para Lazar, tirou as mãos de dentro das mangas e as entrelaçou - esta cidade vem sofrendo de uma maldição.

- Maldição? - sussurrou Lazar.

- ... espíritos maus - continuou o estranho. - Que estão assombrando este lugar...

- Mas minha esposa morreu por causa de uma doença - interrompeu Lazar, sentindo os músculos dos ombros se retesarem.

- E quais os motivos que a levaram a essa doença?

- Não sei explicar - respondeu Lazar com a voz fraca.

- Eles fizeram isso! - a voz do estranho saiu cavernosa, ecoando pelo ambiente, mas logo voltou a ter um tom afetuoso. - Desculpe ir incomodá-lo esta noite... estou vendo que você não poderá nos ajudar - disse ele dando as costas para Lazar e preparando-se para sair.

- Espere! - interveio Lazar que sentiu estar, mais uma vez, sendo abandonado. Sem medir as consequências, optou por acreditar naquele estranho homem. - Faço o que for preciso!

- Tem certeza do que está escolhendo? - falou o homem ainda de costas para ele, olhando para as próprias mãos, os dedos entrelaçados.

Lazar por uns instantes hesitou, mas logo respondeu enfático:

- SIM!

- Por hoje é somente isso. Sei que sua resposta não é realmente sua e por isso... lhe darei mais um dia para pensar, e se assim for volte amanhã à noite. Então saberei que estará pronto para aceitar as responsabilidades.

Lazar viu o homem sumir por entre a escuridão, atrás da porta com cortina vermelha da qual havia surgido. Só então percebeu que ele estava acompanhado de mais dois homens. Uma lufada de ar passou por seu pescoço e, ao se virar, pôde ver que o homem que o trouxe até ali estava de novo ao seu lado.

Lazar não percebeu sua presença durante toda a conversa. Ou ele estava muito concentrado, ou aquele homem tinha o poder de aparecer onde quisesse. Antônio voltou pelo mesmo caminho até chegar ao local onde havia entrado anteriormente na igreja. Dentro da picape, colocou as mãos trêmulas sobre o volante e olhou para o vazio.

O sol começava a surgir por trás das montanhas e ele ficou esperando para ver se o homem e seu bando saiam da igreja. Foi quando se deu conta de que Charlene estava sozinha em casa. Dando a partida, voltou o mais rápido que pôde. Enquanto dirigia, pensou nas palavras do estranho que conhecera. "Santana está sendo assombrada por maus espíritos."

Ao passar pelo portão da fazenda, Lazar levou um susto: Charlene estava sentada na escada da varanda. Os braços agarrados nas pernas encolhidas próximas ao corpo. A garota tremia por causa da brisa gelada da manhã. Lazar parou bruscamente, descendo com rapidez da picape.

- Por Deus, Charlene, o que está fazendo aqui fora?

A garota estremecia o queixo, falando com dificuldade.

- Eu não... sa-bia on-de... você es-tava... a-chei que... - Lazar envolveu os braços, esquentando o corpo da menina. -... onde vo-cê foi pa-pai?

- Me desculpe, minha querida. Venha, vamos entrar. Vou lhe fazer uma bela caneca de chocolate quente.

Apressado, Lazar tirou do baú um cobertor e colocou sobre os ombros da menina. Juntou a pouca lenha que tinha e acendeu a lareira.

- Fique aqui se aquecendo, meu bem, enquanto vou à cozinha.

Inconformado com o que havia feito - deixado sua filha sozinha -, Lazar preparava a bebida tendo a mente no encontro de instantes atrás. Tirou do armário e colocou sobre a mesa uma caneca duas vezes maior que uma xícara normal. Minutos depois a levou com cuidado para Charlene, que pegou a caneca e tomou um gole do chocolate quente.

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