- MEU DEUS, É O MEU ANJO DA GUARDA!
Me assustei dando um pulo da porta. A pequena garotinha se colocou de pé na cama e me olhava assustada, as meninas que tinham escutado o grito vieram ver o que tinha acontecido. Eu pensei que Beatrice iria ter um treco de tão assustada que ela olhava para todas nós.
- Fi-Fifth Harmony? – Ela disse um pouco desesperada e eu queria rir. Queria rir muito porque essa reação é que um fã brasileiro teria.
- Sim? – Camila lhe respondeu confusa e a menininha desceu da maca, quase caiu mas desceu bem. Correu para as nossas pernas e me tocou o joelho. Logo depois o seu grito foi escutado por todo o hospital.
- Sh! – Peguei ela no colo e tampei a sua boca. – Calma, Beatrice! – Disse um pouco desesperada, colocando-a de pé na cama mas seus bracinhos rodearam meu pescoço.
- Você é real mesmo!
Não teve outra, todas nós rimos da sua reação. Desfiz o abraço e segurei em seu rostinho, estava um pouco machucado, suas bochechas eram vermelhinhas a deixando ainda mais fofa.
- Somos reais mesmo! – Lhe assegurei. – Você está bem?
Ela assentiu várias vezes com a cabeça.
- Dói. – Ela disse apontando para a sua cabeça.
Coloquei ela sentada na cama e arrumei os seus cabelos que estavam desgrenhados.
- Vai ficar tudo bem, você vai melhorar logo! – Disse. – Quantos anos você tem?
Ela levantou quatro dedos e me respondeu. – Tlês!
Gargalhei abaixando um de seus dedinhos.
- Assim é três!
As meninas se aproximaram mais de nós duas e fizeram Beatrice abraçar uma por uma seguidas vezes. O melhor foi ver ela encantada com as trancinhas de Normani.
- Dinah, onde está a minha mamãe?
Suspirei me sentando na poltrona perto da cama. Chamei ela para sentar nas minhas pernas e ela veio correndo. Seu vestido rosa estava sujo, me preocupa ver ela nesse estado, espero que tragam algo para ela vestir depois dela tomar banho. Ally fechou a porta e todas se sentaram em volta de nós duas, mas Normani fez questão de se sentar bem ao meu lado.
- Você sabe que existe o mal e o bem, né? – Ela concordou. – O mal fez com que sua casa pegasse fogo e levasse a sua mamãe a fazer uma viagem! Mas essa viagem é pra sempre. Mas o bem fez você ficar bem.
- Que explicação mais porcaria... – Camila disse.
- Não me atrapalha, Walz!
- Então mamãe não vai mais voltar? – Beatrice me perguntou com os olhinhos brilhando em lágrimas. Me senti mal por ter que falar aquilo para ela, ela é tão pequena, não deve saber de nada ainda.
- Não, meu amor... – Ela ia chorar mais. – Mas o Papai Do Céu está com ela lá em cima, ela está cuidando de você! – Me virei para a janela que tinha do nosso lado e apontei para o céu onde haviam várias estrelas. – Está vendo a estrelinha mais brilhante? – Ela assentiu. – É a sua mamãe, todas as noites ela vai estar bem ali, te acompanhando sempre. É só você olhar para ela.
- Mamãe... – Ela tocou o vidro da janela e começou a chorar. Quem ia começar a chorar agora era eu. – Eu amo você!
Abracei o seu corpinho e ela me abraçou de volta, chorando desesperada. Não há nada que se podia fazer, então apenas a abracei tentando passar toda a segurança que eu tinha. Por um lado eu estava muito aliviada por ela estar viva, ter o seu corpinho mole nos meus braços não foi algo muito legal de se lembrar.
Quando eu percebi, todas as meninas nos abraçavam e eu também já estava chorando.
Chorando também por não saber o que vai acontecer com Beatrice, tenho certeza que ela não sabe o número de ninguém, como iriam avisar a sua família o que aconteceu?
Depois daquele abraço ficamos conversando com Beatrice, ela nos contou que nunca viu seu pai e que sua mãe falava muito mal dele, provavelmente ele as abandonaram. Ela disse também que não conhece nenhum de seus avós que sempre foi sozinha com sua mãe, deixando toda a situação ainda mais difícil.
Ela tinha se enturmado com todas as meninas, nunca tinha visto elas tão animadas há dias, e isso é muito bom. Normani foi a que mais brincou com ela e pela primeira vez em anos, consegui finalmente me sentir feliz.
- Opa! Parece que a coisa aqui está boa, não? – Uma enfermeira de cabelos castanhos entrou no quarto com janta para a Beatrice. – Vamos jantar, pequena?
Bea olhou a enfermeira animada e bateu palmas.
- Vamos! – Ela se levantou e foi até a mulher vestida de branco.
- O que ela vai vestir? Ela não tem roupas... – Lauren perguntou para a mulher e a mesma sorriu triste.
- Por enquanto, aqui só as roupas normais de um paciente. Ela vai ter mais roupas no abrigo.
Franzi o cenho assustada. Abrigo? Mas iriam levar ela logo para o abrigo?
- A-Abrigo? Mas já?
- Ela não tem parentes por perto e diz que não conhece nenhum deles. Então a única saída é o abrigo, a assistente social vai leva-la logo que ela sair daqui amanhã pela tarde. – A enfermeira ia me explicando enquanto ajudava ela a comer. Me levantei para ajuda-la e Normani simplesmente saiu da sala.
Era muita informação, ela era pequena demais para ir a um abrigo assim tão rápido!
- Não tem nada que possamos fazer? – Ally perguntou.
A enfermeira limpou a boca de Beatrice que sorriu, prontamente comecei a dar comida para ela, fazendo a enfermeira olhar Ally.
- Tem. Adota-la!
Ally me olhou e eu levantei os ombros.
- Vou indo, quando acabar é só apertar o botão que eu venho pegar as louças! – Ela se despediu e eu continuei dando a comida de Beatrice.
- E agora? – Camila me perguntou.
- Não sei!
- Só me adotar, ué! Mamãe não vai se importar, não é mamãe? – Ela olhou para a janela como se esperasse uma resposta. – Ela disse que não.
- Vamos terminar de comer, depois resolvemos isso.
Ally, Camila e Lauren eram verdadeiras palhaças. Fizeram Beatrice rir de todos os jeitos e eu agradeci mentalmente, melhor do que ela ficar triste por causa de sua mãe. Quando acabei de alimenta-la. Ela me abraçou e deitou sua cabeça em meus seios.
- Onde Normani foi? – Perguntei para as meninas.
Camila estava jogada no colo de Lauren, provavelmente dormindo, já era tarde. Ally brincava com uma bolinha de papel que eu não faço a minima ideia de onde ela tirou.
- Já está sentindo falta, é? – Lauren me respondeu.
Rolei os olhos - Cala a boca, Jauregui.
- Ela passa dias sem sexo e fica essa cavala! – Camila disse.
- Você não tava dormindo?
- Calem a boca! Tem criança aqui! – Ally nos repreendeu fazendo Lauren rir.
- Eu só perguntei porque ela saiu do nada da sala e não voltou mais!
Camila se levantou do colo de Lauren e foi olhar lá fora.
- Big Rob não está aqui. – Ela disse confusa.
- Será que ela saiu?
- Olha, talvez tenha ido ver o namoradinho dela, né? – Falei despertando Beatrice que dormia. – Não dorme ainda, anjinho. Você precisa tomar banho, vamos só esperar a enfermeira.
- Vocês duas parecem duas crianças! – A voz irritada de Lauren me irritava. – Agem como duas, pelo amor de Deus! Não podem ter ao menos uma amizade civilizada?
- Não. – Peguei meu celular e fui para o spotify e coloquei uma música do Michael Jackson.
Love Never Felt So Good.
- Vamos dançar para ela não dormir. – Deixei o celular na maca e peguei ela no colo.
As meninas logo se juntaram a nós duas e cantaram, dançaram, fizeram palhaçadas e foi assim até várias músicas. Beatrice não parava de sorrir.
- Cheguei! Entra Big Rob! – Normani entrou na sala com o Big Rob, várias sacolas de lojas e um sorriso lindo em seus lábios.
- Que porra é essa, Normani? – Lauren perguntou para a negra que deu de ombros e deixou as sacolas na maca.
- Roupas para a Beatrice, além disso tem meias, um ursinho, mantas... – Ela disse olhando dentro das sacolas. Ela estava a coisa mais linda com aquele vestidinho jeans, podia estar suja mas continuava linda.
- Lauren, não pode falar palavão! – Beatrice a repreendeu e eu fiz uma careta concordando. – É feio!
- Lindíssima, falou tudo! – Ally a aplaudiu me fazendo rir.
- Você precisa parar de visitar esses fã clubes brasileiros! – Falei pegando Beatrice no colo. – Vamos tomar banho, princesa?
Estava feliz por Normani ter se importado tanto ao ponto de comprar essas coisas para Beatrice, mas eu não tinha coragem para agradece-la agora.
- Onde você achou tudo isso, Normani? Tá tarde, tem loja aberta? – Camila perguntou fuçando as sacolas.
- Meninas, vou lá pra fora do hospital, tem muita gente querendo entrar! – Big Rob nos avisou.
- Fãs? – Lauren perguntou.
- Sim.
- Vamos lá dar um oi! – Lauren correu para fora e Big Rob entrou na brincadeira, correndo atrás dela.
- Duas crianças! – Ally disse me ajudando a despir Beatrice.
- Tem duas lojas abertas no final da rua. Comprei pouca coisa...
- Porra... – Camila falou deslumbrada contando as sacolas. – 6 sacolas cheias é pouco?
- Tia, Mila, não pode falar palavão! – Beatrice fez uma carinha extremamente brava me fazendo rir.
- Ai, você me chamou de tia Mila! Coisa mais linda! – Camila pegou ela no colo enchendo suas bochechas de beijo.
- Chega, Camila. Vamos tomar banho, porquinha! – Peguei ela no colo e com ajuda de Ally demos banho nela. Lavamos seu cabelo com cuidado e a enrolamos na toalha e quando terminamos a levamos para o quarto de novo.
- Hm... Agora tá cheirosa! – Camila cheirou sua bochecha e ela riu.
Beatrice beijou o nariz de Camila fazendo a latina ter um ataque de fofura e apertar a pequena em seu colo fazendo a mesma gargalhar.
- Veste isso nela? – Normani me perguntou, apontando para o pijama rosa de unicornios. Assenti, separando.
- Obrig-
- Tia, Mani, canta Make You Mad? – Beatrice me interrompeu e Normani sorriu indo até ela. Ally também se juntou para ver, eu apenas observei de longe.
Elas começaram cantar para a pequena, Normani cantou meu solos e Beatrice parecia encantada com elas. Elas também dançaram para a pequena que não parava de sorrir.
- Agora vamos cantar outra? – Camila perguntou trazendo a menina para mim. Comecei a vesti-la e ela gritou.
- WRITE ON ME!
E assim fizeram, Lauren chegou bem na parte de seu solo cheia de presentes, provavelmente dos fãs que estão aglomerados na porta do hospital e não teve outra, cantamos todas juntas enquanto a arrumava e Ally me ajudava. Cantaram praticamente o nosso álbum de 7/27 todo, menos The Life e Squeeze. Graças a Deus!
Logo depois a enfermeira entrou na sala mas a dispensamos, já tínhamos feito todo o trabalho.
Cantamos The Life para ela que cantava junto, até ela reclamar de sono e as meninas saírem do quarto para deixa-la dormir, exceto por Normani. Beatrice queria seu colo e ela, claro, cedeu. Me levantei para deixar as duas sozinhas quando escutei a voz de Beatrice.
- Onde você vai?
- Vou lá fora para você poder dormir, princesa.
Normani me olhou como quem pedisse para ficar, mas eu não queria.
- Não vai... Fica aqui comigo e a tia Mani?
Eu ia contestar quando Normani me repreendeu com o olhar. Então fiquei, desliguei a luz do quarto e fiquei apenas observando a interação das duas sentada na poltrona. Isso me fez lembrar de como eu queria criar uma família com Normani, mas esses planos de anos foram todos desmanchados por seu erro e agora vê-la toda calma cuidando de Beatrice era tão lindo, lindo até que...
- Canta pa mim dormir? – Ela pediu.
- Qual música?
- Squeeze! É a única que falta do álbum. – Beatrice se ajeitou no colo de Normani. Pude notar o nervosismo da negra e o desconforto também, mas quem negaria algo para a pequena?
- C-claro.
Eu queria me levantar e sair dali antes que tudo me atingisse novamente, mas eu não pude só porque escutei a voz doce de Normani começar a cantar a nossa música enquanto abraçava e embalava Beatrice.
Eu não consegui me controlar e comecei a chorar em silêncio. Por que Normani tinha que ser tão idiota? Idiota de me trair e me deixar sem saber por dias. Tão linda e tão idiota!
A música acabou com Normani a colocando na cama e cobrindo o seu corpo com a nova manta. Normani me olhou e suspirou, abriu a porta e só aí pude notar seu rosto molhado, ela também estava chorando. Deixei ela sair, mas ela não fechou totalmente a porta, deixou meio aberta. Meu olhar caiu sobre o pequeno pacote na cama do hospital, dormia serena e alheia a tudo.
Só aí eu percebi que não podia deixa-la sozinha em um abrigo.