Boa tarde, Zeus ✓

By sofianeglia

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" - "Entenda os seus medos, mas jamais deixe que eles sufoquem os seus sonhos." - O que isso têm a ver... More

intro + sinopse
0. prólogo
1. cite seu livro favorito
2. lute por uma reação
3. cite o que escreves
4. lute para entender
5. cite o amor
6. lute por atenção
7. cite a faculdade
8. lute para que esqueçam
9. cite sua importância
10. lute para ser importante
12. lute para ser só isso
13. cite o que se passa
14. lute por uma tarde inteira - pt. 1
14. lute por uma tarde inteira - pt. 2
14. lute por uma tarde inteira - pt.3
15. cite que não quer mais brigas - pt. 1
15. cite que não quer mais brigas - pt.2
16. lute para não brigar
17. cite o que dói mais
18. lute para que não doa
19. cite os sentimentos
20. por ela vale a pena lutar
nota final
OLÍMPIOS REESCRITO!

11. cite a amizade

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By sofianeglia


11. cite a amizade

      Com toda a minha familiaridade com as palavras, sabia exatamente qual usar para me descrever: covarde. E eu não me esforçava a negá-la. 

      Tinha me acovardado atrás do meu posto na livraria, tinha me acovardado por trás do meu computador. Tinha me acovardado atrás do meu caderno repleto de anotações. E mesmo assim, não fugia completamente do que tinha acontecido e do que Zeus era e representava. Eu mesma havia criado a cova que jazia naquele momento. Tinha ele por tudo, criei uma história e rescrevi seu nome diversas vezes que mesmo eu evitando, ele me cercava. 

     Mesmo querendo fugir do que eu estava sentindo, eu ainda permitia. Porque fugir do que se sente, é sentir igual. E eu sabia exatamente o que tinha acontecido quando ele me puxou para o calor do seu corpo somente alguns dias antes. 

      E naquele momento eu estava sentada atrás do meu balcão, olhando Aquiles pela primeira vez passar álcool nas mesas sem reclamar, vendo de vez em quando minha melhor amiga aparecendo para ver se os pedidos estavam todos certos, e simplesmente esperando ele entrar pela porta da livraria. 

     Ia aparecer, eu já sabia. Aimée tinha me avisado que ele e Apolo iam aparecer, e Aquiles não via a hora.

      Aimée tinha ido me falar aquilo, mas ainda parecia irritada comigo. Ela sabia que eu não estava brincando quando disse que eu não queria ser madrinha. Não me imaginava com um vestido e uma flor na mão, igual a outro alguém que ela fosse escolher, ou ajudando a planejar um casamento. Entendia muito bem deles, mas não os queria. 

      Ela insistiu, mesmo assim. Falando que a ideia não era tão ruim, que eu podia ser madrinha dela, e seria um marco. Seria eu com Zeus, já que Apolo não confiava em Aquiles. 

      Aimée tinha chamado Zeus naquele dia por causa disso, mas alguma coisa aconteceu e ela decidiu não contar tudo. E mesmo assim, a cada pergunta com ele lá, sobre como eu conseguia não querer ser madrinha, traduzia-se na minha cabeça "como eu podia não querer ficar do lado de Zeus e apoiar ela e Apolo?". 

      E eu tinha sido covarde em não admitir para ela a admiração que sentia por Zeus, em não falar que eu conseguia imaginar ele do meu lado, mas sem que eu estivesse com um vestido no seu casamento. Porque era errado. Eu tinha um compromisso com Rodrigo, mesmo que este status pudesse mudar à cada minuto que se passava. 

      O barulho da porta abrindo e fechando fez eu olhar. Não eram eles, como não tinha sido nas outras sete vezes que a porta havia aberto. Os clientes que entraram eram sérios, homens de terno que exalavam poder. Sentaram-se nas mesas para o lado da cafeteria, na divisão dos livros e da fome.

     Eles não levantaram os cardápios, ou conversaram entre si. Quando um dos nossos funcionários foi atender, um deles pediu dois cafés e que tirassem o pote com os açúcares. Encarei tentando lembrar se eles já tinham passado por ali. 

     Não conseguia encontrar na minha mente algum deles dois, mas fiquei interessada pelo modo como eles eram centrados e com o fato de eles não conversarem. 

     Todas as pessoas que frequentavam nosso espaço conversavam entre si, liam alguma coisa com o outro na sua frente. No último exemplo era perceptível o desconforto da outra pessoa, que ficava entre olhar o outro ler e não saber o que fazer. Alguns clientes vinham para estudar, sempre ocupando as mentes... mas aqueles dois não. 

     Eles sentaram de costas retas nas cadeiras, e olhavam um para o outro a maioria do tempo, só quando existia um movimento fora do padrão, um riso mais alto, eles se mexiam para ver. 

     Continuaram assim até mesmo depois dos cafés serem servidos, e a tensão só apareceu quando a porta fez barulho de novo. 

     Desta vez, a voz de Apolo conversando com Zeus sobre um jogo de futebol que ele ia ter com os camaradas da empresa de arquitetura encheu o espaço. 

      Meu coração começou a correr em círculos assim que vi Zeus. Estava tranquilo, escutando o amigo convidar ele para participar, rindo sobre a ideia porque "olha o tamanho dele", não funcionava para o futebol. 

     Apolo cumprimentou Aquiles e acenou com a cabeça para mim, indo direto dar oi para Aimée. Zeus acenou para Aquiles quando eu esperava que ele fosse dar um oi mais caloroso que o anterior, mas deixou assim e veio na minha direção. Aquiles também não ficou muito feliz com o aceno, e começou a reclamar enquanto limpava a mesma mesa pela quarta vez.

      Quando ele se virou para mim, eu já estava encarando, e ele não mostrou-se surpreso. Caminhou na minha direção com as mãos nos bolsos da calça de moletom. — Boa tarde, Iara. — Ele falou assim que parou na minha frente, com um sorriso de lado. — Tudo bem? 

       — Boa tarde, Zeus. — Respondi no mesmo tom. — Acredito que sim. E contigo? 

     A minha resposta era vaga assim como a sua pergunta. Por entre seus olhos, via a nossa cena de novo no escritório e como ele realmente queria saber se estava tudo bem entre a gente. 

     — Tudo tranquilo... — Ele respondeu. Se apoiando no meu balcão, Zeus ficou na minha frente e me olhando. Como se esperasse eu falar alguma coisa. Seu rosto estava realmente tranquilo, e ele me encarava sem saber o que fazer: sorrir ou continuar sério. 

     Cerrando rapidamente as minhas sobrancelhas, soltei o ar pelo meu nariz e não consegui aguentar o pequeno sorriso no meu rosto. — Quer falar alguma coisa? — Perguntei, cruzando os meus braços e me apoiando na minha mesa. Não estava com uma blusa decotada, mas sabia que era difícil ignorar o tamanho dos meus seios, e ele logo perdeu alguns segundos para me saborear através da sua visão. 

     — Normalmente é tu que fala né, pensei que ia começar a me encher o saco enquanto eu espero o Aquiles terminar de arrumar as mesas. 

      — No fundo tu gosta que eu fique falando. — Afirmei, mas surpresa. Eu sabia que aos poucos ele tinha deixado eu falar mais, mas não quer atrás da sua postura realmente gravava o que eu dizia. 

      — Acho que não é pra tanto. — Ele chegou um pouco mais perto por cima do balcão. Estávamos flertando, eu sabia. E eu estava deixando. 

     — Quer escutar eu falando sobre o quê? Posso dizer alguma outra teoria minha, se te agradar. Ou sobre meus livros... Tu mostrastes um interesse casual a última vez que nos vimos.

      — Eu mostrei mais do que esse interesse, Iara. — Respondeu, agora, toda a brincadeira presente na sua voz tinha desaparecido. — Mas eu tenho meus limites. 

       Concordando com a cabeça, me ajustei na cadeira e limpei a garganta. — Nós dois temos. — Falei, e ele sabia que era referente ao Rodrigo. Será mesmo que eu queria aquilo? Colocar a relação com Rodrigo de dois anos, basicamente, no lixo só para ter um gostinho de estar com Zeus? 

       Continuando, pendi minha cabeça para o lado e troquei de assunto. — Os gêmeos não vieram hoje?

      — Hoje não. Eles tiveram aula hoje de manhã, ficaram com minha vizinha. — Respondeu, examinando como eu reagia a novas informações. — Eles estão gostando daqueles livros que tu deu. Martina gostou que a princesa que é a heroína super "foda". — Fazendo aspas com os dedos, ele terminou. 

     — Os livros infanto-juvenis que eu escrevi tinham personagens femininas muito fortes. 

     — Aqueles livros sãos teus?— Perguntou surpreso. Eu concordei com a cabeça. — Hum, então tu escreve sobre princesas que não precisam de ajuda. Não escreveu sobre alguma que era um pouco travada, assim? — Implicando comigo, Zeus começou a se soltar e deixou de lado a seriedade de antes. 

     — Eu sempre escrevi sobre princesas. As dos livros para jovens são só mais fortes do que as de hoje. Hoje tenho princesas, heróis e deuses que precisam de romance, algo mais quente e apaixonante. O que não as impede de serem fortes, deixando bem claro.

     — Tu é daquelas que acha que precisa de um príncipe? — Questionando aquilo, parecia estar pensando em algo além do que eu podia captar. 

      — Eu não preciso, mas muitas personagens minhas sentem-se melhor tendo um.

     Sorrindo para ele, queria continuar sobre como eu tinha a teoria de que eu era uma laranja completa. Tinha lido algo assim alguns anos atrás. E como precisava de outra completa para que realmente desse certo, queria comentar como Rodrigo tinha se cortado no meio durante nosso relacionamento para que eu o completasse. 

       Foi o primeiro sorriso leviano que eu permiti, sem notar o que aquilo representava para a gente. Aceitara antes que era impossível controlar o que estava sentindo, e agora era impossível esconder minhas feições dele.

    Ansiosa com aquela minha reação, fechei o rosto, me perguntando se teria que conversar com ele, explicar o que aquilo era para mim. Confiava nas palavras e nas conversas para me expressar, sorrir não era algo tão natural para mim. 

     Notando aquela reação minha, Zeus retribuiu o sorriso, me deixando um pedaço mais nervosa. 

     — Nós podemos conversar mais tarde? Precisava te contar algo. — Falei rápido e voltando ao meu "normal".

      Concordando comigo, Zeus não pode continuar, mas ficou com o rosto confuso. Arrastado por Aquiles até umas das mesas enquanto o irmão de Apolo afirmava que ia tirar seu intervalo.

       Respirando fundo, voltei a olhar para o computador e o resto dos clientes, percebendo que aqueles dois homens de terno tinham ido embora. Indo com o olhar para o espaço da cafeteria, vi os funcionários todos arrumando os utensílios, mas o que me chamou a atenção era alguém encostado na parede com o desenho da xícara de café e a marca de Aimée. 

     Minha melhor amiga estava me olhando simpática ao que eu tinha sentido, e não duvidava que ela sabia completamente o que eu estava passando. O porque da ansiedade ao sorrir, e porque sorrir logo para Zeus.

     Vindo até mim, ela desceu os dois degraus da cafeteria até a biblioteca e mais três passos até a frente do balcão que eu estava. Se apoiou como Zeus, e não precisava se mexer mais do que aquilo. Ela era a minha pessoa, nós nos entendíamos. O medo era que Zeus estivesse se tornando uma também. 

     — Tu vai conversar com ele? 

     — Vou ter que conversar. Tu sabe que é importante. 

      — Mas é necessário agora? Eu sei que tu é super a fim de mostrar esse teu lado quando tu acha que a pessoa pode aguentar, mas ele é o Zeus. Acho que devia esperar mais um pouco, e enquanto isso ter uma conversa com Rodrigo. 

     — Eu sei que preciso falar com ele também. — Respondi, passando as mãos entre os cachos na minha cabeça e os sacudindo.

      — A conversa com Rodrigo é mais importante. Zeus consegue aguentar uma semana, e tu precisa dessa uma semana. Vai que o discurso seja igual o que tu teve comigo? 

      Rindo e lembrando do que aconteceu quando tive nossa conversa, estendi a mão até ela. Ela agarrou a minha mão com uma das suas e começou a fazer carinho com a outra. Sentia sua falta. 

       — Estou perdoada por causa do casamento imaginário? — Questionei, trocando o assunto. 

       Sorrindo, de olhos pequenos e rosto suave, Aimée concordou. — Eu já sabia que ia ser um não, mas precisei tentar. E ver como tu ia reagir com o grandão.

      — Não consigo mais fingir, não é? 

      — Não. E, inclusive, foi o Apolo que perguntou pra mim sobre isso. Fiquei super confusa. 

       Soltando minha mão, Aimée bateu no balcão algum ritmo, e perguntou se não íamos almoçar. Ela estava a fim de pegar o carro e ir comer massa em algum lugar chique. Ia ser difícil encontrar um lugar aberto para o almoço, que fosse chique, aquela hora da tarde, porém eu concordei pegando a minha bolsa. 



         Quando nós voltamos, Aquiles não estava à vista. Aimée tinha ido até Apolo que tinha ido para o apartamento deles. Eu estava prestes a ir para o meu posto com ideias frescas para acrescentar na minha história, quando vi um dos homens de terno de novo, mas dessa vez estava acompanhado por um de terno cinza, cheio de anéis nas mãos e, também, acompanhado de Zeus, que tinha os punhos cerrados. 

       Podia marchar e me intrometer na conversa, tentar obter mais alguma informação e matar a curiosidade do motivo que ele estaria conversando com aqueles indivíduos, mas pela sua postura... Não estava brincando. Não era somente uma conversa.

      Indo até minha cadeira, tinha uma visão mais ampla dos três. Os homens estavam sentados e conversando baixinho com Zeus, dois cafés na frente de cada um. Diferente do de antes, o homem de terno de risca cinza estava de perna dobrada. A mão com minguinho parcialmente levantado levava a xícara de café até a boca. 

      Vestia um sorriso audacioso, e não olhava diretamente para os outros dois ao conversar. 

     Assim que ele terminou de falar, seus olhos vagarosamente subiram até Zeus, que cerrou mais ainda os punhos, dando um passo para frente que faria qualquer um ficar com medo, mas o homem não se mexeu. Apenas levantou e fechou o terno, batendo no ombro de Zeus. 

      Antes de sair, ele caminhou até minha frente. Sob o seu olhar, fiquei desprotegida. Era uma pessoa intensa, alta e tinha fúria nos olhos que eu só tinha visto uma vez antes, nos olhos de Zeus. 

      — Foi um prazer, Iara. Nos veremos em breve. — Disse, nada mais. 

      Eu segui ele com os olhos até que saísse da minha livraria, e com o coração pulando rápido e tão de repente, fui caminhando até onde Zeus permanecia. 

     Toquei no seu ombro assim que parei na sua frente, lutando contra todas as vontades que tinha de abraçar seu corpo musculoso. Estava tenso, e aquela energia toda fazia eu ficar igualmente nervosa. Não entendia como o homem sabia meu nome, não entendia como ele podia estar com tanta raiva. 

      Ele não olhava para mim e mantinha os punhos cerrados. 

      Devagar e sem confiança, minha mão desceu seu braço. Ao alcançar sua mão, comecei a soltar os dedos fechados, entrelaçando os meus. 

      Piscando rapidamente, Zeus, olhou para mim. Seu peito subia acelerado, e ele agarrou com força a minha mão. 

      — Tem um motivo de eu não falar de mim. — Ele falou entre dentes. 

      Podia estar preocupada, mas controlei o meu nervosismo ao falar. — E tem um motivo por tu falar. Nós viramos amigos, tu querendo ou não a gente conversa. — Falei. Sacudindo a cabeça, Zeus me puxou pelas nossas mãos trincadas para o seu corpo. A sua outra mão veio até a minha cintura. Ele respirava fundo, de um jeito que nunca tinha presenciado. Parecia estar com medo. 

     — Por favor, te acalma, grandão. E só fala comigo. — Continuei. Os meus dedos que estavam soltos começaram a massagear o seu peito. E por mais que estivesse tão nervosa quanto ele, não conseguia parar de pensar sobre como aquilo tinha acontecido, aquela proximidade. Estava tão boba que só conseguia pensar em como o seu corpo estava quente e queria senti-lo contra minhas costas ao dormir. 

      — Não posso falar. Tu vai ter que ver. — Ele me olhou, a toda a força que ele tinha dentro do corpo e no seu rosto esvaiu. 

      — Tudo bem. Eu to bem, e vai ficar tudo bem. — Falei e fiquei repetindo. — Só me diz o que e quando pra eu me preparar... — Continuei e sorri. Tentava quebrar aquela tensão. 

      — Tu vai finalmente ter o que tu queria. Tu vai me ver lutar. — Ele disse, e então, olhando diretamente para mim, começou a copiar a minha respiração.

      Depois de alguns segundos, soltou os meus dedos. — Eu preciso treinar, Iara. — Disse.

      Na sua voz parecia vida ou morte o quanto ele precisava treinar, e eu ainda tentava assimilar o fato de que ia ver ele lutando, e como chegamos àquela conclusão não fazia o menor sentido. 

    Eu concordei com ele, e somente depois disso que ele saiu de perto de mim, me deixando completamente desconcertada com tudo o que tinha acontecido aquela tarde. 


n o t a  d a  a u t o r a: 

Olá. o que acharam do capítulo e o que acham que vai acontecer no próximo? 

Eu não sei como me sinto, e acho que teria escrito um pouco diferente, mas deixarei isso para quando for editar. 

Não esqueçam de votar, comentar & compartilhar. 

p e r g u n t a  d o  d i a : quem aí viu grey's anatomy e sabe o quão importante é ser a "pessoa" de alguém? hahahah 

amo você! beijo!


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