Boa tarde, Zeus ✓

By sofianeglia

65K 9.4K 3.1K

" - "Entenda os seus medos, mas jamais deixe que eles sufoquem os seus sonhos." - O que isso têm a ver... More

intro + sinopse
0. prólogo
1. cite seu livro favorito
2. lute por uma reação
3. cite o que escreves
4. lute para entender
6. lute por atenção
7. cite a faculdade
8. lute para que esqueçam
9. cite sua importância
10. lute para ser importante
11. cite a amizade
12. lute para ser só isso
13. cite o que se passa
14. lute por uma tarde inteira - pt. 1
14. lute por uma tarde inteira - pt. 2
14. lute por uma tarde inteira - pt.3
15. cite que não quer mais brigas - pt. 1
15. cite que não quer mais brigas - pt.2
16. lute para não brigar
17. cite o que dói mais
18. lute para que não doa
19. cite os sentimentos
20. por ela vale a pena lutar
nota final
OLÍMPIOS REESCRITO!

5. cite o amor

2.3K 363 91
By sofianeglia




5. cite o amor

Em uma mesa de oito lugares, Aimée sentou em uma das pontas, acompanhada de Apolo que sentou à sua esquerda, e a cada arrastar das cadeiras pelas crianças que decidiam o seu lugar e Rodrigo que abria espaço para colocar as panelas, minhas mãos vacilavam um tanto a mais.

Eu tremia, com vontade de arrancar minhas unhas e arregalar meus olhos, respirar o mais fundo que conseguia. Gostaria de mostrar ali todos os sentimentos que passavam pelo meu corpo. Massagear meus ombros para tentar aliviar o que minha cabeça deixava tenso e, assim, investigar um dentro de um cérebro vazio e tranquilo alguma coisa para falar que não a vida de Zeus. Ou como queria xingar Rodrigo por sequer ter rido de Zeus, de uma pergunta genuína.

Ajudando os gêmeos a realmente sentarem corretos nas cadeiras, fui em busca de uma almofada para cada um para eles colocarem no encosto da cadeira, deixando assim as pernas mais livres. Eu queria fazer com que eles sentissem o bem estar de estar ali dentro do meu apartamento, o meu lar, ao mesmo tempo que estava buscando alguma ocupação.

Eu ajeitei os quadrados recheados de estofamento nas costas de cada um, os empurrei para a mesa e arrumei melhor as panelas que Rodrigo já estava colocando para que os outros se servissem. O vermelho dos metais contrastava bem com o verde dos pratos e o colorido dos sousplat.

Não conseguia pensar em um tempo onde não me importava com a apresentação de uma mesa de jantar. Mesmo que fosse uma janta somente para eu comer, enfeitaria do mesmo jeito. Um sentimento de tranquilidade me acobertava ao ver aquela mesma mesa, a qual eu jantava e almoçava a maioria dos dias quando criança, arrumada do meu jeito, algo que deixaria minha mãe orgulhosa do capricho.

Dando uma última revisada, apoiei-me na cadeira onde Martina tivera sentado. Os olhos como o mar examinavam a comida cheios de fome. Conseguia imaginar ela e seus irmãos na casa deles com o dobro de comida, rindo enquanto comiam vegetais e algum peru em algum Natal o qual eu não participei e talvez nunca fosse participar. Rindo, eles falariam sobre alguma brincadeira na escola e o irmão mais velho, sorrindo e com seu peito repleto de orgulho, pensaria em como eles eram um presente do deus o qual era seu nome.

Então, a mão de Martina tocou a minha que estava na sua cadeira, e olhando para cima, a garota examinou o meu rosto, querendo saber o que eu estava pensando. Piscando algumas vezes, balancei a cabeça e apertei sua mão, notando que Zeus já havia voltado do banheiro e estava me olhando da onde tinha sentado ao lado de Vinícius.

Rodrigo conversava com Apolo alheio a como eu e o homem nos olhávamos. Em como eu me perdia na ideia de que, de uma maneira controversa, nos entendíamos sem precisar conversar.

Sem me desprendendo do seu olhar, caminhei até o único lugar que tinha sobrado ao lado de Rodrigo, na frente de Zeus.

— A gente vai comer ou não? — Perguntou Martina, chamando atenção dos outros adultos da conversa deles.

— Com certeza, minha cara. O que preferes primeiro? — Respondi. Naquela tarde, no inesperado, Martina e Vinícius gostaram do jeito que eu falava, e quiseram saber mais sobre português, literatura, Libras. Isso somente depois de dificultarem muito o meu humor e não aceitar nenhuma comida ou atividade que eu oferecia. Mas era um assunto na aula deles e queriam saber mais que os outros colegas ao conversar com a professora no português correto.

Segundo Vinícius isso era fácil, já que os outros não estudavam.

— Eu nem sei que que teu namoradinho fez. — Martina continuou. Na sua voz alegria e piada, usufruindo do deboche ao falar sobre Rodrigo. Ao escutar aquilo, Rodrigo deu uma risada e colocou uma de suas mãos atrás da minha cadeira, tocando o meu ombro.

Me afastando do encosto da cadeira e de sua mão, tirei as tampas das panelas. — Bem, temos uma carne de panela com especiarias vindas diretamente de Portugal. Temos vagem, brócolis e cenoura. Arroz integral e - o meu preferido - feijão.

— Eu quero feijão! — Gritou Vinícius, o que fez todos rirem levemente. Aimée pegou o prato dele e começou a servir o arroz e o feijão, enquanto Apolo continuava conversando de novo com Rodrigo, agora sobre alguma nova construção.

Olhando para Martina, pedi o seu prato e questionei o que ela queria, para o que ela respondeu "tudo".

Eu sentia vontade de sorrir. Abrir meus lábios e mostrar as fileiras de dentes que muitos duvidavam  que eu tinha. Mas eu levantei um lado dos meus lábios por alguns segundos, somente pra ela, que me imitou e mostrou ter uma covinha na bochecha.

E, assim, eu sentia vontade de sorrir e olhar para Zeus.

Até ali não sabia o que ele tinha feito, mas estava longe de ser estúpida. Roxos nas mãos, cortes na bochecha e barulhos de dores a cada movimento. Ele tinha entrado em alguma briga. Mas por quê?

Voltando para ele com meus olhos, estendi minha mão, pedindo seu prato, mas nunca recebendo ele em troca.

Dali em diante todo o barulho foi feito pelos gêmeos e os outros três, enquanto eu ficava imaginando um jeito eficaz de alimentar minha curiosidade com fatos concretos sobre alguém que não podia ser mais misterioso.


— Então... Valeu pela janta, mas a gente tem que ir. — Zeus disse, largando os talheres no prato causando um barulho tão inesperado que todos nós paramos de conversar.

As crianças olharam ele com as sobrancelhas cerradas e o beiço pronto para mostrar o quanto não queriam ir. Martina e Vinícius estavam lendo de novo os livros que eu tinha mostrado. Duas fantasias, minhas favoritas para crianças com sede de ação, sendo um método de eles explorarem as suas criatividades sem derrubar coisas pelo lugar.

— Mas a gente não quer ir.

Falaram os gêmeos, ao mesmo tempo. O jeito que falaram "quer" como "qué" e os braços cruzados aumentaram mais o recado de insatisfação enquanto o irmão deles levantava e empurrava a cadeira de volta para o lugar. Os braços de Zeus estavam cobertos por um casaco fino e preto, mas as voltas e curvas dos músculos mostravam-se poderosas demais através do tecido.

— Vamos. Sem discussões. — Foi a palavra final. De voz grossa, olhar penetrante e corpo que afirmava poder, Zeus sempre teria a voz final quando quisesse... Ou pelo menos era assim que o retratava na minha mente.

Todos na mesa olharam ele como se fosse um ultraje, menos Aimée e eu. Ela, que por alguma razão mostrava entender a pressa, e eu que examinava ele perpetuando dentro de mim o sentimento que me esmagava todas as vezes que o via. Uma dor no meio do peito, a pressão de querer tanto algo, de permitir que a curiosidade vencesse sem nenhum medo.

Me levantando dei a volta e fui até o seu lado, para onde as crianças estavam. — Espere alguns minutos, pelo menos. Prepararei a sobremesa para vocês levarem.

— Não, Iara. — Foi o que ele falou, me desconcertando ao pronunciar meu nome com o mais perfeito som do "erre".

— Sim. Apenas alguns minutos. Eu sou a dona da casa, é o mínimo que eu posso fazer como anfitriã.

Encarando-o, duvidei que fosse dizer algo a mais. As veias dos seus olhos foram aumentando o vermelho em volta do mar que ele tinha como olhos. Seus nariz inflou, e eu percebi seus punhos fechando, mas aí ele sentou e as crianças sentaram-se.

Eu fui com uma pressão ainda maior sobre meu tórax, um desespero voraz cobrindo a minha pele e trazendo arrepios pelo meu corpo.

Suspirando, peguei um pote e organizei os cupcakes que tinha trazido da cafeteria, dois para cada, e voltei até a mesa. Assim que eles me viram voltando, os gêmeos se levantaram com Zeus, que mostrava estar mais irritado ainda.

Com o seu rosto fechado, só fazia com que eu não quisesse dar o braço a torcer. — Não é como se você detestasse doces, não é mesmo? — Questionei, deixando-o mais irritado ainda.

Colocando o pote na mão da Martina, Vinícius foi dar um beijo em Aimée e nos outros, enquanto ela abanava com a mão livre. Zeus continuou no mesmo lugar até eles pegarem as mochilas que estavam na sala. Olhando uma última vez para mim, o homem alto e loiro examinou-me da cabeça aos pés, os olhos mostrando uma dúvida a qual eu desejei pedir satisfação.

Com um pé para frente, desejei também pegar a sua mão e insistir que eles ficassem, poderiam dormir ali. Não era como se eu não tivesse espaço. Mas eu fui lerda demais, e ele logo seguiu o caminho até os irmãos, checando se estavam com tudo nas mãos.

Foi para o melhor, pensei.

— Acho que vamos também... — Disse Aimée para Apolo. Voltando o rosto para mim, reparei como seu olhar foi para Rodrigo e logo entendi o que estava acontecendo ao ver como ele estava estático com a visão no lugar onde Zeus estava.

Antes que eu pudesse dar tchau para os gêmeos, Zeus seguiu para a porta e eles foram atrás. E como uma fila para a aula, todas as pessoas que estavam na minha casa começaram a ir embora.

Aimée me deu um último abraço e então colocou o braço no namorado. Fechando a porta e eu me encostei contra a sua madeira, tentando encaixar o que aquilo tudo significava para mim.

Porém eu não estava sozinha e logo o barulho de pratos sendo retirados e panelas sendo fechadas preencheu meus ouvidos no meio do silêncio tão familiar e tão desconcertante naquele momento.

Rodrigo juntava as coisas como se fosse obrigado a mexer o corpo. Copo por copo, talher por talher, foi recolhendo tudo conforme minutos passavam, mas o tempo parecia restringir tudo na minha volta a cada movimento que ele fazia.

— Rodrigo, pode ir. Deixa que eu arrumo tudo. — Finalmente disse. Minha voz quieta e equilibrada, mas o suficiente para ele escutar. E assim que eu fui para onde ele largava as coisas no balcão da cozinha, ele parou apoiado ali mesmo.

— Eu posso ir porque eu sou dispensável? — Foi a sua pergunta, seu ombros levantando como se fosse apenas um comentário, mas os dispersar dos seus olhos e as mãos nervosas ajustando o óculos mostravam o medo que ele tinha da minha resposta.

— Não comece com isso. — Respondi, evitando a verdade, algo que eu me orgulhava de sempre falar.

— Comece com o que? Comece a falar de novo como tu presta mais atenção naquele cara? — Suas mãos apontaram devagar para a porta, a voz diminuta e roca mostrava que ele estava a beira do choro.

Era algo que eu sempre me atraí. A demonstração incansável do que ele sentia fora algo sempre marcado na sua personalidade, mesmo que fosse mostrado silenciosamente. Mas conforme os anos foram passando, um, dois... meu sentimentos por ele não crescera. Tinha carinho, sentia prazer, porém nada além.

— Rodrigo, por favor. — Respondi, deixando os olhos revirarem.

— Eu que te peço... — Falou, indo até mim. Suas mãos encontraram meu rosto, acariciando a minha bochecha com o polegar. — Tu te mostra pra mim, tu sempre é verdadeira comigo, não com ele... Por que sempre tem que prestar atenção nele, então?

Nos ciúmes existe mais amor-próprio do que verdadeiro amor.** Isso não tem a ver comigo, é o que tu sente. — Pegando os seus pulsos, retirei as suas mãos de mim e acariciei seu ombro, alisando a camisa verde que usava, minha cor predileta de todas as cores. — Tu precisas ir embora.

E em um suspiro revoltado, Rodrigo pegou suas chaves e a mochila, abrindo a porta e a fechando com violência, me deixando novamente em um silêncio, desta vez menos pesado.

Indo até um dos balcões da sala, liguei o pequeno amplificador que possuía, conectando ele com meu celular. O toque de violão elétrico começou suave, e logo a voz masculina e de perfeita afinação deu início a música toda.

Eu juntei o resto dos pratos, peguei potes para guardar o que restou da comida e guardar na geladeira. Liguei o fogo para esquentar a água que auxiliaria na lavagem do molho da carne de panela que grudou nas paredes da panela. Organizei os sousplat e os acessórios nos seus devidos lugares, limpei a superfície amadeirada da mesa e, no final, me sentei à frente do computador, cansada.

Mas não fisicamente.

O cérebro de alguém aguentava até certo ponto, um limite premeditado de esforço. Para mim ele chegava no seu máximo quando mais de 5mil palavras eram colocadas em uma das minhas histórias, quando em um ambiente existiam pessoas que se alimentavam de energia positiva com a sua negativa. E quando eu falhava completamente em encontrar motivações.

A motivação do meu dito namorado de ter feito uma cena na minha cozinha era ciúmes. Na sua cabeça aquilo era razão.

Eu era boa na procura de motivos concretos ou insinuados. Todo personagem tinha uma motivação. Um porquê de todas as suas ações. Paixão, vingança, o que fosse.

O Zeus que estava ali escrito na minha frente, palavra por palavra no meu computador, tinha motivações. Tinha um emprego provavelmente diferente, não tinha irmãos, não possuía aquela raiva que eu tivera visto na mesa de jantar. Mas tinha uma motivação, escondendo a sua real identidade de deus da mitologia, andar pela humanidade buscando o sentido do amor que ele mesmo não conseguia sentir.

O meu Zeus escrito era misterioso igual o real, algo que vinha com o disfarce, mas isso era a única coisa que eu sabia sobre o verdadeiro, além de pequenas deixas que ele dava. Doces, a cor vermelha, música alta, sol e canetas de cor azul... Preferências pequenas que eram possíveis notar sem que ele comentasse.

Mas aquele sentimento dentro de mim, de não saber o que realmente estava acontecendo, me quebrava. Demolia em pedaços o meu cérebro e arrebentava as ligações todas que eu já tinha criado.

O que ele leu no meu caderno parecia ser as únicas coisas que eu sabia. Horários que ele costumava desaparecer, horários que ele costumava reaparecer, palavras sempre usadas para me descrever e descrever os outros. Era um estudo um tanto invasivo da sua vida, mas que ele não sentia.

E depois do que ele tivera me prometido ao concordar em me ajudar, me questionava se eu tinha um ponto de partida com tudo aquilo, pois de nada fazia sentido. Ele podia ter ido embora quando decidiu ir. Mas por que esperar eu entregar os doces? Era um gosto dele, isso era cristalino, porém não era motivação suficiente.

Os roxos, as mãos arrebentadas. Não conseguia captar as motivações da realidade.

Só tinha, no caso, a minha motivação. Continuar questionando e, por sorte, continuar a ignorar os pensamentos que diziam Zeus estar relutante mas aos poucos querendo me conhecer. Tinha o meu querer em criar a melhor história possível.


**frase do Friedrich Nietzsche

n o t a d a a u t o r a:

Oláááá! Pensei que o wattpad não ia deixar eu atualizar hoje, mas deu tudo certo! Espero que tenham gostado do capítulo.

Estamos em fase de conhecimento (como eu gosto de falar) e, sabendo disso...

p e r g u n t a d o d i a: O que vocês reconhecem na Iara até agora? personalidade e etc...

Amo vocês!

Não esqueçam de comentar, votar e compartilhar para todos amiguinhos.

Beijos e até sexta que vem com um capítulo de nome: lute por atenção

Continue Reading

You'll Also Like

420K 34K 49
Jenny Miller uma garota reservada e tímida devido às frequentes mudanças que enfrenta com seu querido pai. Mas ao ingressar para uma nova universidad...
2.1M 179K 109
Os irmãos Lambertt estão a procura de uma mulher que possa suprir o fetiche em comum entre eles. Anna esta no lugar errado na hora errada, e assim qu...
4.3K 574 29
Algumas histórias de terror são contadas para amedrontar as crianças mal comportadas, mas e se esses contos fosse reais? Você estaria pronto para enc...
301K 22.9K 45
"𝖠𝗆𝗈𝗋, 𝗏𝗈𝖼ê 𝗇ã𝗈 é 𝖻𝗈𝗆 𝗉𝗋𝖺 𝗆𝗂𝗆, 𝗆𝖺𝗌 𝖾𝗎 𝗊𝗎𝖾𝗋𝗈 𝗏𝗈𝖼ê." Stella Asthen sente uma raiva inexplicável por Heydan Williams, o m...