Boa tarde, Zeus ✓

By sofianeglia

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" - "Entenda os seus medos, mas jamais deixe que eles sufoquem os seus sonhos." - O que isso têm a ver... More

intro + sinopse
0. prólogo
1. cite seu livro favorito
2. lute por uma reação
4. lute para entender
5. cite o amor
6. lute por atenção
7. cite a faculdade
8. lute para que esqueçam
9. cite sua importância
10. lute para ser importante
11. cite a amizade
12. lute para ser só isso
13. cite o que se passa
14. lute por uma tarde inteira - pt. 1
14. lute por uma tarde inteira - pt. 2
14. lute por uma tarde inteira - pt.3
15. cite que não quer mais brigas - pt. 1
15. cite que não quer mais brigas - pt.2
16. lute para não brigar
17. cite o que dói mais
18. lute para que não doa
19. cite os sentimentos
20. por ela vale a pena lutar
nota final
OLÍMPIOS REESCRITO!

3. cite o que escreves

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By sofianeglia


3. cite o que escreves

     Os gêmeos, os quais eu não sabia que existiam, me seguiram sem nenhum palavrear. Os dois entrelaçaram suas mãos, pequenas e macias comparadas a do irmão mais velho, e ajustaram as mochilas escuras e idênticas que tinham nas costas. 

     Seus pés batiam com vigor, diferente de qualquer um dos seus movimentos. Eles ficaram impressionados com a frase em Libras que eu tinha falado, porém foi o irmão deles ir para longe que voltaram com os rostos franzinos e de protesto à minha pessoa. 

     Não tinha compreensão sobre o que fazer com crianças daquela idade. Não sabia nem a idade certa deles, mas pareciam adultos o suficiente para me desequilibrar, e desarmar caso eu tivesse algo escondido nas minhas mangas à partir dali, o que piorava tudo o que eu estava começando a programar na minha mente. 

     Zeus tinha concordado. Ele estava desesperado o suficiente para que aceitasse uma proposta que nem eu tinha certeza sobre e esperava que ele não conseguisse ler através do meu rosto. Ele não tinha como saber o que eu pensava ainda, não como Aimée.

    Olhando para trás, tive certeza de que eles estavam me seguindo mais uma vez. O caminho de volta para a livraria parecia ser maior do que a ida, o pavimento e o som de partículas de pedra contra calçado que dele vinham davam a impressão de que tudo estava magnificado, que os três passos que faltavam afetaram como nove os músculos da minha perna e que o gelado da maçaneta da porta congelaria assim que desse todo o meu braço. 

    Eu controlei para que não começasse a chorar de nervoso ou mostrar o quanto eu estava despreparada. Apenas fiquei em pé, dando espaço eles passarem, enquanto apertava o metal da maçaneta esperando que ele realmente congelasse o tempo e eu tivesse alguns segundos para me recompor melhor daquela nova sensação. 

     Eles eram crianças, irmãos de Zeus. Nada de tão ruim poderia acontecer, e certamente nada das opções macabras que passavam na minha mente onde a maioria das minhas prateleiras cairiam e eles arrancariam pedaços de livros clássicos, ou como o deus dos deuses e daquele grupo de amigos me passaria a perna e não escutaria o que eu tinha para dizer. 

     — Vai ficar parada aí? — A garota perguntou. Suas mãos ainda seguravam a alça, algo na posição que ela tinha mostrava que ela estaria mais nervosa que eu. 

     — Não... Perdão, acabei sonhando acordada. — Confessei, piscando a visão de um monte de folhas de livros rasgadas no meio da minha biblioteca sendo encharcadas por café. Me afastando da porta voltei a caminhar e fechei o bloco que serviu de apoio com um clique preciso. 

     A placa de aberto para fora dava um tempo para o meu corpo tranquilizar. Eu estava trabalhando, eles iam se comportar e eu não ia arruinar a minha chance com Zeus.

     Fixando meu olhar neles, percebi que já estavam sentados, olhando um para o outro enquanto sussurravam sobre algo. Seguindo a atenção deles, vi o motivo e desejei que Aimée estivesse ali para que eu pudesse sussurrar o quanto queria torcer o pescoço de Aquiles e prevenir que eu realmente o fizesse. 

    Atirado no seu modo clássico, Aquiles estava com as pernas em cima de uma mesa enquanto conversava com uma das nossas garçonetes.

    Inalando todo o ar possível e expelindo logo depois, girei nos meus calcanhares, agarrando a maçaneta novamente. Dessa vez, ela estava quente, assim como minha cabeça que implorava para explodir em um único momento de braveza. 

     Puxando e empurrando com força, a porta engatou com um estrondo e logo seguiu o barulho de uma cadeira sendo arrastada e passos rápidos para a cafeteria. Só queria que ele levasse a sério aquela oportunidade, talvez na única vez na vida, e provasse que o que eu sentia por ele não era verdade.

     Voltando para os gêmeos, simplesmente passei o meu olho por cima da persona de Aquiles e me sentei na mesa que eles estavam, suas mochilas agora penduradas nas cadeiras que teriam sido aproximadas.

     — Qual o nome de vocês? — Questionei. Meus braços posaram no meu colo, meus dedões enrolando um no outro antes que eu pudesse notar. 

     O garoto olhou uma vez para a sua irmã, que não tirava o rosto de mim. Impassível e me imitando, a garota estava com as mãos no colo e encarava com olhos de quem gosta de desafios, pequenos cílios permaneciam abertos mas davam a entender que cerrariam a qualquer momento qualquer fossem minhas palavras. 

     Ele suspirou e começou a falar. — Meu nome é Vinícius. Ela é a Martina.  

     Dobrando os braços, ele apoio seu corpo em cima da mesa e ela revirou os olhos, saindo do estado frenético que estava ao me olhar. 

    — Vini, não vale! — Ela reclamou, empurrando o ombro do seu irmão, mas não parecia estar tão brava quanto queria. Vinícius apenas soltou uma risadinha e voltou a encarar sério, igual ela estava fazendo antes de começar a falar. 

    — O teu nome, qual é? — Levantou o queixo na minha direção, intimidando. 

     — Iara. — Respondi, pensando em estender minha mão, mas escolhendo não fazer isso. 

     Ela virou para o irmão dela e o cutucou com o cotovelo. — Viu, eu te disse que era ela! — Concluiu animada. 

     Sem mostrar surpresa, puxei minha cadeira para mais perto da mesa, minhas mãos agora em cima da mesa de madeira, alisando a superfície perfeitamente lixada. Uma sensação de orgulho aparecendo no meio do nervosismo. Amava aquele lugar. 

    — Quem são esses? Teus escravinhos também?— Veio a voz de Aquiles, antes que eu pudesse perguntar quais os motivos de Martina saber quem eu era. 

     Virando o meu rosto, só aumentei meu desdém ao olhar o rosto de desentendido do irmão de Apolo. Ele tinha feito uma piada daquelas logo para uma pessoa negra, e ainda chefe dele por tempo indeterminado. Na minha cabeça, qualquer comentário assim vindo de outra pessoa não machucaria tanto ou irritaria tanto quanto vindo da boca dele. 

    Os gêmeos olharam para ele com a expressão que eu não daria. Sobrancelhas cerradas, bocas abertas, perguntando entre linhas faciais que merda ele tinha acabado de falar. 

     Eu me levantei, alisando a minha roupa e pedindo um momento para eles. Indo para trás do balcão, puxei os livros que tinham que ser colocados nas prateleiras, juntados ao longo das semanas. Agarrando cada lado da caixa de plástico preto, levei-a até Aquiles. 

    — Os livros já estão divididos por gênero. É teu dever organizar eles nas prateleiras. — Disse, empurrando-os nas mãos dele. 

     — Mas eu nem se-

      — Basta usar o cérebro que tu possui. — Disse. Revirando os olhos, ele fez exatamente o que eu pensei que iria fazer: subir as escadas e ir para o mais longe de mim. Assim ficava melhor. 

     Passando a palma nas minhas têmporas, firmei meus dedos na raiz dos meus cabelos e sacudi os cachos para manter meu volume. Aquele movimento me tirava a irritação na maioria das vezes e me fazia voltar para a realidade que eu procurava ter. 

      — Eu acho que ele nem tem cérebro, né. — Martina pronunciou. Vinícius soltou um riso, colocando a testa na mesa, escondendo o rosto e segurando o torso, seu cabelo claro destacando-se contra a mesa escura.

     Eles eram parecidos com o irmão, possivelmente em mais formas que já tinha notado. Eles eram muito mais do que perfeitos cabelos loiros e olhos azuis. 

      — O que vocês costumam fazer? — Questionando isso, os dois voltaram com caras sérias, Martina mais que seu irmão. 

     — Tia Aimée normalmente deixa a gente ver algum filme e ajuda com nossos temas. A gente come... não sei. — Vinícius respondeu, confirmando que ele era o comunicativo dos dois, deixando a parte calada e irônica igual à Zeus para Martina. 

     — Mas pelo o que seu irmão esclareceu, vocês estariam de férias?

     — Sim. É verão, afinal. — Martina respondeu, revirando os olhos claros e rufando com o nariz indignação. 

      — Correto... Então sem deveres de casa. Podemos aprender a fazer algumas comidas na cozinha? O que acham? — Propus. Na minha cabeça, Rodrigo saberia como lidar melhor com eles do que eu. 

     — Pra gente conhecer o teu namorado? — Ela perguntou, cruzando mais ainda os braços e fazendo eu indagar mais ainda o quanto ela conhecia sobre a minha vida. 

     Era bizarro o suficiente ela saber quem eu era, falar com convicção sobre Aquiles e ambos agirem com tanta proximidade de Aimée. Zeus, porventura, teria comentado alguma coisa. 

     Sabia o quanto ele observava todo mundo, notar todos os seus movimentos - assim como de todos os meus amigos - me dava a vantagem de saber mais dele e como ele não andava com outras pessoas, se não algumas escapadas sexuais que Aquiles fazia questão de comentar junto das dele. Ele teria poucas coisas para comentar sobre acontecimentos banais em que não estivéssemos envolvidos. Em que eu não estivesse envolvida. 

    Ele contaria, sorrindo e rindo sobre qualquer observação de Aquiles que para ele fazia sentido e conseguia roubar um sorriso aberto. Dominaria a história com maestria desconhecida e somente imaginada por mim, falaria sobre eu e Aimée e sobre outras coisas do seu dia a dia para os irmãos. 

    Olhando para eles, preferi que eles não fossem na cozinha. 

    — Considero uma opção melhor nós ficarmos conversando. — Finalmente disse. 

    — Por que tu não fala então? — Vinícius questionou, tirando um comentário de Martina, que cochichou que eles escutariam fingindo interesse. 

     Ignorando-a, decidi colocar o coração para fora da boca. Puxando pelo que parecia a vigésima vez a cadeira, me sentei e puxei minhas pernas em posição de Índio. Meus dedos acharam minha perna e em uma nota mental pensei que precisava comprar hidratante, já que o meu tinha terminado naquela manhã. 

    — Eu não falo, usualmente, porque não tenho o conforto de quando estou entre meus amigos e as pessoas que considero família. Eles estão acostumados com... a minha compostura. 

    — Tá dizendo que eles entendem como tu parece um robô? — Martinha comentou. Dessa vez Vinícius que lhe ofereceu uma cutucada. 

    — Exatamente. Não fico assim só quando falo dos meus livros, com este assunto fica infinitamente mais fácil. 

     Aguardando uma resposta e não ganhando alguma, meus dedos alisaram novamente meu joelho e minha canela, dançando conforme meus pensamentos montavam a frase perfeita. 

    — Eu escrevo livros situados em épocas antigas, de fala longe de coloquial, de personagens fortes e astutos. Múltiplas vezes escrevo sobre como estou me sentindo, permanecendo na língua densa e esculpida que torna tudo mais... bonito. 

    Olhando para eles, continuei confirmando que eles estavam me escutando. — Para mim, o português é lindo com todas as suas gírias, porém o uso deste tipo de palavreado nos meus livros e textos fazem com que minha mente funcione com mais praticidade. 

    Os gêmeos olhavam para mim com olhos grandes, porém enxergava além daquele olhar. Já percebera que logo mais um comentário seria feito, e talvez eles demorassem um tempo para acostumarem com outras pessoas, mas tinha certeza que a dificuldade era minha. 

    Levantando um dos lados da boca, Vinícius pareceu impressionado. 

    — Tia Aimée acertou em uma coisa, pelo menos. 

    — No quê? — Perguntei, segurando minhas mãos para baixo da mesa.

    — Tu realmente ama o que faz. — Dando de ombros, sorriu. Então, a minha dificuldade e quase incapacidade de socializar direito mostrou não ser um empecilho com ele. 

     — O mano nunca falou sobre quem tu era, mas acho que a tia ta certa em falar. Juro que quando tu fala das tuas coisinhas tu fica menos robô. — Martina completou, e de repente o que ela adicionou não fez diferença, só me trouxe um pouco a mais para o chão. 

     Acenando com a cabeça, não mostrei o quanto fiquei afetada. Entender que estava sonhando ao pensar que o deuses dos deuses comentaria sobre quem eu era fazia das fantasias que minha mente tentava acreditar pequenas cinzas no chão.

     Aceitando a realidade, acenei mais uma vez. 

     — Querem encontrar algo para ler?

     — Não, mas como que eu posso aprender Libras? 

     Repetindo mentalmente para aceitar a realidade, olhei para o relógio e contei quantas horas ainda faltava naquela tarde. Não porque queria me livrar deles, conversas assim faziam eu me inspirar e era algo magnífico, mas queria olhar mais um pouco para o rosto daquele que me fazia perder a noção do que eu escrevia e do que eu realmente gostava. Precisava me policiar. 


n o t a  d a  a u t o r a:

HELLO! Demorei, eu sei. Mas a notícia boa é que eu modifiquei o que eu quero do livro, mais ou menos, então sei o caminho que vou tomar e que eu estou entrando em férias dos meus empregos então tenho mais tempo pra escrever! 

Como vocês estão? 

Eu estou bem, feliz por conseguir postar um capítulos e super animada com o que vocês estão achando. 

Resolvi que vou começar a atualizar toda sexta às 18h. O horário pode varias, mas à princípio é isso aí. E, conforme eu for escrevendo, posso soltar alguns capítulos do nada, mas só conforme for. ahhahaha

p e r g u n t a  d o  d i a : o que vocês acharam dos gêmeos? Eu tenho uma raiva por causa da petulância, mas como eu sei o que eles passaram, deixo assim. hehe.

beijos! amo vocês. 

não esqueçam de votar, comentar e compartilhar. (o último é uma baita ajuda.) 

*música da playlist "boa tarde" , disponível no meu spotify.


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