Mais tarde, naquela noite, Maxon perguntou enquanto arrumávamos os travesseiros para dormir.
- Você acha que ela vai aceitar?
Pensei sobre o assunto.
- Tenho certeza que vai. Não de imediato, mas ela não vai querer desistir, pode demorar mas ela vai ceder - fiz uma pausa - Mas não sem um acordo, é claro. Conheço minha filha.
Ele sorriu.
- Parece que nossa família tem talento para os acordos, não é?
- Mas é claro - respondi entre risos.
Ele se deitou e passou a mão pelos cabelos loiros grisalhos.
- Mas não pense que não me sinto desconfortável com essa situação - ele disse - trinta e cinco homens disputando a mão da nossa filha não é algo que me agrada, essa foi minha última saída.
- Eu sei, querido. Mas não se preocupe - eu disse afagando seu rosto - Ela vai saber se cuidar, com certeza vai passar pela Seleção com muito mais experiência do que você na época - eu disse entre risos. e então percebi ter falado o que não devi.
Maxon não tinha conhecimento de Leroy, e alguns outros príncipes "amigos" de nossa filha. Provavelmente eu sabia mais do que ela pensava, as criadas me contavam tudo.
- O que você quis dizer com "mais experiência"? - ele perguntou de imediato, com o rosto confuso exigindo explicações.
- Nada - eu disse, reprimindo o riso, enquanto apagava a luz dos abajures no criado mudo.
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- Ela aceitou - disse Maxon, adentrando o quarto, no outro dia de manhã.
Me aproximei tocando seu peito.
- Assim? Tão fácil?
- É claro que não - ele sorriu, maliciosamente - ela concordou, mas com uma condição.
Um acordo é claro.
- Ela fez várias pequenas exigências, mas a principal delas foi deixar a Seleção correr por três meses, mas sem pedido de casamento.
Arqueei as sobrancelhas.
- E você aceitou?
Ele assentiu.
- Acredito que ela vai se surpreender. - ele sorriu e se inclinou, dando-me um beijo caloroso - Assim como eu - completou - O Anúncio será hoje a noite.
Cheguei mais cedo ao estúdio para ajeitar os últimos detalhes. Logo todos chegaram, seguidos de Eadlyn.
Hoje era seu dia.
Me aproximei para arrumar seu vestido.
- Esse vestido é perfeito - comentei - Você está linda.
- Obrigada. Você também.
Eu tinha escolhido um modelo mais claro e poucas jóias, não queria ofuscar a estrela daquela noite.
Sorri e continuei ajeitando sua roupa.
- Obrigada, linda. Sei que está um pouco apreensiva, mas acho que uma Seleção fará bem a todos. Você passa muito tempo sozinha, e teríamos que pensar nisso cedo ou tarde, e...
- As pessoas ficarão contentes. Eu sei - ela disse.
Meus olhos passaram de seu vestido para seus olhos.
Eu sabia o que estava pensando, também. Prometi que não a faria passar por isso, mas o que mais eu poderia fazer?
- Sei que parece um sacrifício. E é verdade que, quando levamos uma vida pública, há muitas coisas que fazemos não porque queremos, mas porque devemos - engoli em seco, lembrando de todas as coisas que passei para estar ali - Mas foi assim que encontrei seu pai, fiz minhas amigas mais íntimas e aprendi que era mais forte do que imaginava. Sei do seu acordo com seu pai. Se tudo isso acabar s que você encontre a pessoa certa, que assim seja. Mas, por favor, permita-se viver a experiência. Melhore, aprenda. E tente não nos odiar por pedirmos isso de você.
- Eu não odeio vocês - ela disse.
- Mas considerou a possibilidade quando fizemos a proposta - dei um sorrisinho - Não é mesmo?
- Tenho dezoito anos. Meus genes estão programados para brigar com meus pais.
- Não ligo para uma boa briga desde que no final você tenha consciência do quanto eu amo você.
Ela se aproximou e me abraçou.
- Eu amo você. Juro.
Depois que a soltei dei mais uma arrumadinha em seu vestido e fui atrás de Maxon.
Ele já estava sentado, fui até ele e me sentei ao seu lado, ele tomou minha mão.
Ficamos conversando até o anúncio começar, acenei e sorri para as câmeras. Todos estavam na plateia. Os conselheiros. Brice. Lucy e Marlee e sua família.
E então o jornal começou. Ministros e conselheiros fizeram os pronunciamentos, e depois Gavril - que tinha adiado sua aposentadoria - se dirigiu ao centro do palco, e anunciou.
- Esta noite, Illéa, para encerrar nosso programa temos uma notícia empolgante. E não há ninguém melhor para comunicá-la do que nossa futura rainha, a bela Eadlyn Schreave.
Com um gesto ele se voltou para Eadlyn enquanto cruzava o palco, em meio aos aplausos.
Eles se cumprimentaram.
- Bem-vinda, princesa Eadlyn.
- Obrigada, Gavril.
- Agora preciso der honesto - ele disse - Parece que foi ontem que anunciei seu nascimento e de seu irmão, Ahren. Não acredito que faz mais de dezoito anos!
Abri um largo sorriso e apertei a mão de Maxon. Nem eu acreditava.
- É verdade. Já somos grandes - ela respondeu, e se virou para nós, trocamos olhares calorosos.
- A senhorita está a ponto de fazer história. Penso que Illéa inteira está ansiosa para ver o que fará daqui a alguns anos, quando se tornar rainha - Gavril disse.
- Com certeza será um período empolgante, mas não sei ao certo de quero esperar tanto para fazer história - ela disse, dando -lhe uma cotovelada brincalhona.
- Bom, então por que não nos conta o que tem em mente, Alteza?
- Nosso grande país passou por muitas mudanças ao longo dos anos. Apenas no reinado de meus pais, assistimos às forças rebeldes praticamente se extinguirem e, embora enfrentemos desafios, as linhas imaginárias do sistema de castas não dividem mais nosso povo. Vivemos uma era de liberdade extraordinária, e esperamos ávidos que nossa nação alcance todo o seu potencial.
Suspirei.
As palavras de Eadlyn traziam à lembrança tudo que enfrentei ao lado de Maxon, tudo que fizemos pelo nosso povo e em como minha vida tinha superado em todos os sentidos minhas expectativas.
Além do nosso amos ser maior a cada dia, eu não podia negar, tínhamos construído um belo reinado.
Ela prosseguiu:
- E isso é ótimo... mas ainda sou uma garota de dezoito anos - a plateia riu - Acaba sendo chato passar a maior parte do dia dentro do escritório com meu pai. Sem ofensas, Majestade - ela disse se virando para Maxon, ao meu lado.
- Tudo bem - ele respondeu.
- Assim, devido que é hora de mudar o ritmo. É hora de buscar não só um colaborador que trabalhe comigo nesta exigente tarefa, mas um parceiro que caminhe ao meu lado ao longo da vida. Para tanto, espero que Illéa me conceda meu desejo mais profundo: uma Seleção.
Todos se espantaram, apenas Gavril sabia de tudo, a expressão de choque era clara em todos ali.
- Amanhã, cartas serão enviadas a todos os rapazes elegíveis de Illéa. Eles terão duas semanas para decidir se gostariam de competir pela minha mão.
Segurei o riso diante da palavra "competir", eu nunca vi como uma disputa quando passei por aquilo, mas se o destino trouxesse um garoto do estilo Celeste ao palácio, poderíamos presenciar algo bem animado.
- Tenho consciência, naturalmente, que trilharemos um caminho desconhecido. Jamais tivemos uma Seleção comandada por uma mulher. E ainda que tenha três irmãos, estou ansiosa para encontrar mais um príncipe para Illéa. Espero que todo o pais celebre comigo quando isso acontecer.
Meu coração se encheu de amor e orgulho.
Eu sabia que ela não acreditava nem um pouco em suas próprias palavras e que acreditava que estávamos a usando apenas como distração para o povo.
Quando meu nome foi sorteado para a Seleção experimentei do mesmo desespero, claro que os pontos de vista eram diferentes, mas apontavam para a mesma situação. Eu tinha toda uma vida planejada, sonhos, desejos, todos ao lado do homem que eu amava na época.
Apesar dos anseios de Eadlyn serem bem diferentes dos meus, pois incluíam liberdade para reinar de modo independente, eu tinha certeza que o final da história, embora ela não acreditasse, seria o mesmo.
Não do jeito que ela sonhava, mas muito melhor.
Posso dizer isso, experiência própria