Dual_2

By GiseleGalindo

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Seguiu as pistas da temporada 1 à temporada 2? Bom... Então, venha acompanhar a trajetória desses amigos... i... More

QUAL O LIMITE DO AMOR?
PRÓLOGO
DISTÂNCIAS
ORGULHO
PRECONCEITO
CONFIANÇA
SEGURANÇA
VOCÊ
NOITE
DIA
ECLIPSE
FAMÍLIA
PRIMEIRA
DELÍRIO
LAMENTO
CHANCE
VOLTA
PARAR
CONTAGEM
REGRESSIVA
3
2
1
ESTOU
PAUSA
SOU
EPÍLOGO

ESQUECER

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By GiseleGalindo


Preciso contar isso para você, minha amada, meu outro eu escondido ― os médicos e enfermeiros daqui dizem que isso não é muito bom, confundir-me com você, mas sabemos que não é bem assim, é simplesmente uma forma de reafirmar a parte de você que há mim e vice-versa, nosso amor. Enfim, eles só acreditam na ciência, no que querem acreditar e ver ―, amanheci sem entender ao certo se era dia ou noite, pois para mim não havia passado mais que cinco minutos de olhos fechados. Ledo engano o meu, passara-se uma noite inteira e nada de sonhos. Nadinha.

Corri ligar para o Sal e contar a novidade, se continuar assim, logo estarei fora daqui, logo terei alta. Acredita? Isso é um ótimo sinal. De novo tentei me comunicar com Pedro, em vão.

Já é fim de tarde e o sol perde suas forças, escrevo sobre uma das mesas da Sala de Convívio. Por que a chamam assim será sempre um mistério para mim. Cruzamos, na maioria das vezes, com pessoas em estado pior que o nosso.... Minha mão treme, as letras saem como garrancho, algo de amargo começa a crescer, deslizando suas raízes em forma de garras dentro de mim. Sinto-me sufocado e extremamente cansado. Parece que uma parte de mim é arrancada a força. Meus olhos reviram em suas órbitas. A língua incha e meu corpo todo estremece, esticando-se. Minha carne puxada, rasgando-se, abrindo-se em fendas e revelando certa luz. A dor é insuportável, porém, sinto-me de alguma forma vivo. Um vivo que deseja morrer? Sou tomado por uma força desconhecida. Quero conhecê-la?

― Olá!

Ouço a voz melodiosamente infantil, delicada e carinhosa. Abro os olhos e estou naquela sala etérea. Ela num canto, ao fundo. Tento falar, porém a voz falha, arranha a garganta, como se não usada há tempos. Enquanto tento encontrar os mecanismos da fala, ela continua.

― Senti sua falta. ― A expressão amável me comove. ― Não sou mais tão forte, Vinny. Esses remédios, essa coisa toda está acabando comigo.

― O... O que... O que estou fazendo aqui?

― Está aqui para responder a pergunta que você mesmo já se fez antes de chegar.

― O quê?

A vertigem me assalta, com força bruta. E sei, sei o que quero.

― Sim. ― Respondo, olhando-a suplicante.

― Entendo... ― A vozinha encantadora toma ares de desapontamento. ― Espero que quando se arrepender, não seja tarde e consiga reverter tal decisão.

Por que me arrependeria? É o que quero. E se essa visão, esse sonho, essa menininha pode fazer algo para que eu seja normal, sim, mil vezes sim.

― Sentirei profundamente sua falta.

Quem sussurrou isso? Ela ou ele?

Os cabelos castanhos dela iniciam uma dança majestosa no ar, numa brisa inexistente, mas que me atinge numa lufada morna para em sequência queimar feito gelo e depois fogo, como se me purificasse de alguma maneira absurda.

A vertigem aumenta e sinto um baque surdo.

― Ei, Vinny, cara, acorda!

― Tragam os primeiros socorros, ele está fervendo de febre.

― Chamem o doutor de plantão, rápido!

O loiro abre os olhos e vê que mãos tentam tocá-lo, foge de todas. Escorrega, percebe que está no chão, o suor empapa suas roupas, coladas no corpo.

― Ei, calma, calma, amigão...

Procura se situar, olha em volta e aos poucos sua mente entra nos eixos. Engole em seco, focando a visão, espalma as mãos para frente e fala baixo.

― Estou bem.

Permite que se aproximem e ajudem a se levantar enquanto verificam seus batimentos cardíacos, pupilas e tudo o mais que adoram fazer. Vinny olha para o enfermeiro de confiança de Pedro, aguarda enquanto a maioria se distancia.

― O que aconteceu? ― Sussurra, não por se tratar de um segredo, mas por ainda estar aturdido.

― Você dormiu sobre a mesa e de repente estava se debatendo, dizendo coisas estranhas e então se jogou no chão. Voltou a sonhar? ― Questiona como se fosse algo normal, contudo, o loiro sabe o que aquela pergunta carrega em si. Mais dias de internação.

― Não... acho que...

― De qualquer forma teremos de fazer exames de sangue. ― O enfermeiro o interrompe, óbvio que ele sonhou, todos perceberam. E não foi nada tranquilo. ― Conhece os procedimentos.

― Claro... ― Sabe que não adianta relutar.

O loiro pede para que o ajudem a se sentar um pouco, além de um copo de água. Verificando que não oferece perigo algum, decidem aceitar os pedidos dele. Mesmo afastados, vários pares de olhos profissionais o observam.

Vinny pega o caderno, lembrando-se do rostinho angelical que desvanece em sua mente, e lê a última página. Não se lembra de ter escrito aquelas palavras, porém estão todas ali, com a letra tremida, parecendo garranchos, ainda assim, inegável e lamentavelmente, dele. Todo o sonho descrito e um aviso...

O pesadelo é real, acorde!

Pedro observa os nervos da mão de Alex saltarem enquanto ele permanece com um olhar vago para os fundos da van. Até entende a aflição do cara, mas se o encosto da cadeira ranger ou quebrar, terá de se concentrar muito para não cair na gargalhada. Por que não a impediu quando pôde, mané? O moreno ajusta o alcance e a frequência da escuta.

No escritório de sua casa, Gabriel, que analisa alguns documentos da empresa, se levanta para preparar um drinque, quando ouve o característico som na maçaneta. Sabe muito bem quem é, ela tem um modo todo dela de se mover, abrir e entrar. Sem demora, a voz sorridente invade seu habitat, varrendo de vez qualquer preocupação. Bianca se joga nos braços do pai, feliz da vida por vê-lo. O loiro a gira no ar, num aperto carinhoso, estalando um beijinho na ponta de sua cabeça.

― Estava com saudade, papai.

― Sério? Desde...

― Hoje de manhã. ― Completa a garotinha aos risos.

Tamara aparece na porta com aquela expressão de "não tem jeito, ela não espera", pedindo desculpas pela interrupção.

― Tudo bem, meu amor. ― Gabriel vai até a esposa. ― Realmente passamos muito tempo longe um do outro, nada mais justo que ela poder me atrapalhar quando quiser.

Ao terminar de falar, o empresário faz cócegas na filhinha, bagunçando todo o cabelo dela. Tamara sorri e se encaminha à suíte para se trocar, a filha e o marido estão em muito boa companhia.

A morena se senta diante da penteadeira e acaba se detendo na própria imagem refletida no espelho. Como sua vida mudara! Quando imaginaria que tudo daria tão certo? Parecia impossível que um dia os três fossem felizes juntos, e assim estão. Os pensamentos a levam as perdas até ali. As mudanças em sua vida acarretaram certos pontos negativos. Os amigos não tiveram tanta sorte quanto ela. Becka e Flávia estão bem, mas distantes de todos e pelo que notara havia algo errado entre elas. Sal está feliz profissionalmente, graças a parceria de Gabriel, e, claro, seu talento natural de enxergar o mundo de uma forma maravilhosa através das lentes de suas câmeras, entretanto, está sozinho. O que não chega a ser um ponto negativo, óbvio, muita gente se dá bem sozinha, não ele. Vinny, bom, todos torcem para que se recupere logo e volte ao mundo real. A morena acredita que tudo se desencadeou com a morte do pai. O amigo o amava tanto! Seu marido bem que tentou ajudar também, contudo, quem conseguiu mesmo foi Pedro, o amigo-irmão de infância do loiro. Bendito Pedro! Já Heloá, af!, essa não suportou o fora do Fernando e foi ladeira abaixo, desaparecendo. Tamara jamais entenderá tal atitude. A morena suspira forte. Sabrina encontrou Bernardo, mas para isso teve de perder Bruno e seu filho tão...

― Hum, esse suspiro é bom ou não?

Tamara sente o toque suave dos dedos do marido no pescoço e a voz sussurrada ao ouvido a acalma, nem percebera quando ele entrara no quarto.

― Estava pensando na Sabrina. ― É o suficiente para entender que não é bom.

― Amor...

― Eu sei.

O loiro a abraça ternamente, afastando os cabelos da esposa e salpicando-lhe beijinhos na nuca, infalível, ela sorri, acariciando as mãos dele e deitando um pouco a cabeça, oferecendo-lhe mais de sua pele aos beijos.

― Bianca?

― Dormindo feito um anjinho.

― Nossa, perdi a noção do tempo aqui!

― Pois é, ainda está com a mesma roupa. ― Sorri, olhando para ela no reflexo. ― Quer que lhe ajude no banho? ― Arqueia uma das sobrancelhas, sugestivamente.

― Por isso me casei com você, sabe exatamente do que preciso e como me servir. ― Leva a mão dele aos seus lábios ainda carmins do batom e beija-lhe os dedos.

Gabriel já comandava boa parte da empresa, é bom ser comandado em casa. Um joguinho do qual ambos gostam em demasia. Como que hipnotizado pela boca carnuda da esposa, aproxima lentamente seu rosto do dela até lamber o canto de seus lábios e beijá-los com devoção.

A respiração de Tamara se torna profunda e pesada, envolvendo o pescoço do marido com os braços e deixando a voracidade assumir o controle.

O loiro passa um dos braços por baixo das pernas dela, apoiando o tronco de sua amada com o outro braço, elevando-a sem cessar os beijos, totalmente entregue a ela. Chegam ao banheiro da suíte, a morena nem precisa olhar para abrir o chuveiro. Aos poucos a água adquire a temperatura de seus corpos e as roupas são deixadas de lado.

Os ponteiros deslizam enquanto o casal se une mais uma vez na cama molhada, arfando de prazer.

― Amo estar casado com você. ― Sussurra Gabriel em êxtase.

― Eu também, meu amor.

― Amo nossa filha. ― Murmura quase sem fôlego.

― Você faria qualquer coisa por nós.

― Ah, sim, claro, sempre. ― Responde ao que fora uma afirmação.

― Ache o Bruno.

Os movimentos do loiro cessam e os olhos se arregalam para ela, pasmos.

Tamara coloca as mãos sobre o rosto, arrependida.

― Desculpa, não devia ter dito isso.

Gabriel rola para o lado e fica olhando o teto.

O silêncio não dura muito.

― Lamento, meu amor, eu só...

― Pensava neles durante nossa...

― Desculpa! Não foi o tempo todo, mas se tornou inevitável.

― Inevitável?

Algo amargo trava na garganta da morena, que não aguentando a situação, levanta-se, pega seu robe de seda pérola, veste-o enquanto sai do quarto.

O loiro respira fundo e soca o colchão.

Pedro escuta atento não apenas a conversa entre Karla e Celo, mas a cada som do ambiente, ao redor do hotel e da van. A equipe está concentrada, pronta para agir a qualquer momento, caso seja necessário intervir.

Alex tenta, porém, a voz firme e ao mesmo tempo melosa de Karla lambuza sua mente, pega-se imaginando a noiva naquele vestido, as pernas cruzadas e o olhar de desejo que com certeza deve lançar para o merdinha.

― Consegui! ― Anuncia um dos agentes com entusiasmo. ― Entrei no sistema de vídeo do hotel.

Num instante as pequenas telas escuras se inundam com as imagens do hall, do elevador, do restaurante, do bar e dos corredores alternadamente. Como os quartos não possuem sistema de segurança, será o único ponto cego.

― Tem certeza de que não podem nos perceber? ― Questiona GG, preocupado com o sucesso da missão. Prefere que a operação siga seu curso, mesmo que mais demorado, jamais arriscar qualquer falha por imprudência. Antes eles só ouvindo do que serem detectados por uma bobagem como imagens.

― Sim, senhor!

Mesmo fixo nas telas que mostram Karla, Alex acaba achando graça do comportamento, do modo como se dirigem ao líder. Dificilmente Tadeus receberia uma resposta nesse tom tão rígido, subordinado. Respeitoso sim, nunca tão inferior.

― As imagens ficam. Você conseguiu e as colocou nas telas. Se nos detectarem no sistema, o problema será seu.

É quando Alex percebe que o tal Breno é bem diferente. GG permanece quieto, como se acatasse. O chefe não é ele? Que merda está acontecendo ali? O loiro olha rapidamente para Tadeus, que parece nem se importar, dando continuidade ao seu trabalho, observando o perímetro urbano. Voltando a se virar em direção as telas, nota uma veia saltando no pescoço de Breno, então pousa seus olhos na imagem que o fantasma observa. Distante, mas totalmente perceptível, a mão de Celo sobe pelo joelho de Karla, friccionando a coxa, a carne saliente entre os dedos grossos. Mais que incomodado com aquilo, Alex entende, há algo que perdeu no processo todo. O tal Breno, que até o próprio líder respeita, tem sentimentos por sua noiva?

― Vivian, você está mais apetitosa do que nunca esta noite. ― Celo cospe um pouco de bebida ao falar, já meio grogue.

― Pode me chamar de Vivi ― ela se aproxima perigosamente, sussurrando em seu ouvido ―, prefiro assim, você sabe. ― Estica um pouco a perna, alcançando atrás do joelho dele com seu sapato de salto alto, roçando e puxando-o para si.

― Hum... que delícia! ― Lambe da base do pescoço até o lóbulo da orelha dela.

A morena joga a cabeça para trás numa gargalhada para lá de sensual. A conversa se alongara e ele está no ponto certo, ela calcula, fingindo estar tão bêbada quanto o miserável. Chega de bar, hora de quarto e cofre!, pensa resoluta, não suporta mais a voz molenga dele, sua pegação, suas insinuações baratas e lambidas exageradamente nojentas. Ela desliza a mão pelo peito dele, ameaçando abrir sua camisa, dedilhando os botões, e entende que Celo está a ponto de bala.

― Que tal irmos à um quarto deste hotel? ― Murmura, rindo, meio enrolando a língua.

Celo agarra a cintura delgada, prendendo-a em si para em seguida puxá-la como se ela fosse obrigada à saída do bar, em direção ao elevador.

― Algum quarto? Só confio no meu quarto, sua gostosa do caralho. E é lá que vou me fartar de você. ― Enterra o rosto no pescoço dela e dá um chupão de arder até os ossos.

Ela finge gostar e geme, agarrando o braço dele e apertando, como de prazer. Depara-se com o espelho ao fundo da caixa metálica e não gosta nem um pouco do que vê. Usa sua força para girar seus corpos, encostando as costas no espelho, não quer assistir além de viver aquilo. Celo a enche de beijos grosseiros e a morena incentiva com mais gemidos, alguns de verdadeira dor. O luminoso pisca em crescente, numa contagem que parece sem fim, até que para e abre as portas.

Com as testosteronas a mil, não há um que pisque na van. Apesar de atentos à missão, acabam se envolvendo com o transcorrer dos fatos naquelas imagens para lá de eróticas. As expressões de Karla convencem e colocam alguns em dúvida quanto a encenação. Será que ela curte essas sacanagens? Só pode gostar de um pilantra desses pela grana dele. Sabia que não era tão boa assim, deve estar dentro dos esquemas deles também, tirando um por fora. São alguns dos pensamentos que povoam as mentes julgadoras.

Os dois seguem pelo corredor, esbarrando em esculturas, vasos e extintores. As mãos de Celo resvalam de cima a baixo nas laterais do corpo dela, preenchendo suas palmas com as bases de suas nádegas, apertando-as, junto seus corpos e beijando seu peito com furor. Por sua vez, as mãos de Karla incentivam, repuxando a roupa dele, como se sentisse prazer. Ele demora a achar a chave do quarto. Rindo de agonia, ela ajuda, apalpando-o. O que o faz delongar ainda mais a situação, brincando com ela. Entram e estão no ponto cego. A van retorna apenas ao áudio. Alguns reagem decepcionados, tentando se recompor de imediato.

Sal desliga a televisão e caminha à mesa da sala de estar, que usa como escritório em casa. Observa as caixas e as fotografias espalhadas. Sabe que a ideia que teve para a abertura da galeria é maravilhosa, contudo, não queria que fosse. As lembranças deveriam ser boas, no entanto, o entristecem. Olha ao redor e não lhe faz muito sentido. Permitiram que o vazio chegasse e se instalassem.

Depois de minutos parado, em pé, diante daquelas imagens, o negro segue à cozinha, pega um copo, enche de água gelada e se delicia ao senti-la descendo por seu interior, o choque do quente com o frio lhe dá certo ânimo e decide arquivar tudo. Como num estalo de realidade, volta à sala e começa a guardar tudo nas caixas com rapidez.

Uma das fotos escapa e flutua no ar até atingir o chão. Sal a alcança e a raiva lhe consome ainda mais. Ela.... Como pôde?

Karla sente o baque de seu corpo na parede quando Celo a joga com brutalidade, para em seguida se atirar sobre ela com carícias nada gentis. Entre ele e a frieza do concreto, dá-se conta que está demorando muito para o cara desmoronar, talvez tenha sido pouco... O copo dele ficou vazio, deve cair a qualquer minuto.

As mãos dele amassam o corpo dela, infiltram-se pela barra do vestido, alcançam as tiras de sua calcinha, quando vão puxá-las para baixo, a morena se vira ágil, beijando fervorosamente a boca dele, descendo as mãos e desafivelando o cinto, mudando a ordem de quem tira a roupa de quem primeiro. O olhar travesso, tentador.

― Hum... Gosto disso... ― Balbucia entre os lábios incansáveis dela. ― Mulher com atitude.... Uma puta do cacete! ― Celo se afasta rápido, tira a calça e a cueca apressado. ― Olha, um cacete durão só para você. ― Os olhos injetados, vibram de excitação.

Pedro mal respira, concentrado no momento em que ela dirá a palavra-chave para que ele interrompa tudo e a tire de lá. Alex amaldiçoa todos naquela van que parecem tão excitados quanto o maldito naquele quarto. Tadeus procura se manter afastado, se Alex fizer algo errado terá de se virar sozinho e ele não terá outra opção a não ser dispensar Karla por não cumprir com o acordo. GG é o único que se mantém realmente focado na missão, apenas esperando para que a etapa da primeira transa seja cumprida para seguirem com o plano e um dia colocarem as mãos na prova cabal dos irmãos criminosos, exterminar cada delito deles e partir para a próxima. Ah, tudo poderia ter sido tão mais simples... Lamenta-se e olha para Breno, que nem pisca, atento ao máximo no áudio desde que ficaram sem as imagens.

― Cara, tenho certeza que já estão peladões e ele está mostrando o pau dele para ela, que panaca! ― Comenta baixinho um dos policias para o outro colega, que solta uns risinhos sacanas.

― É como só ouvir um pornô, a imaginação está explodindo aqui. ― Sussurra mais um que chega perto dos demais, incentivado pelos comentários.

― Ele é que vai explodir já já. ― Ri o primeiro. ― E antes de meter nela. ― Gargalha e os ao redor o acompanham.

― Melhor controlar os membros da sua equipe, Tadeus. ― Alerta GG, irritado com o amadorismo.

Todos se silenciam diante da reprimenda e do olhar do chefe.

Karla se aproxima lentamente de Celo, lembrando-se de toda a ficha que construíra dele e do irmão, as informações que lhe podem ser úteis no momento. Brinca com os botões da única peça de roupa que restara nele.

― Garanto que essa puta aqui se amarrou no seu cacetão, cariño.

O corpo dele amolece e ela precisa se concentrar ao máximo para não rir. O olhar malicioso adquire tons afetuosos.

― Minha mãe me chamava assim, você é mesmo incrível, Vivi!

Celo agarra os seios dela sob o sutiã e o vestido, apertando-os freneticamente. Ela geme alto, desabotoando devagar cada botão da camisa e ganhando tempo. Santo Deus, por que ele não caíra ainda?

― É um filho da puta com complexo de Édipo! ― Desabafa Alex irritado. ― Era só o que faltava mesmo!

― E pelo jeito essa agente é bem esperta por ter colhido tais informações. ― GG sorri aprovando. Chega perto de Breno e confidencia ― Quem sabe ela não queira elevar seu cargo e se tornar um de nós?! Seria uma excelente aquisição. ― Recebe de volta um olhar gélido e se cala.

Diz, Heloá, diz, por favor. Pedro sente o suor começar a escorrer por sua coluna. O nervosismo está tomando conta dele, não pode permitir isso.

― Cariño, cariño ― acaricia os cabelos dele ―, me faz sentir todo seu amor, confie em mim, cariño. ― Afasta-se, sedutoramente, retirando um sapato de cada vez, lânguida, sem perder o foco nele.

― Mamãe sempre quis que confiássemos nela. ― O olhar dele para ela é faminto, numa mistura de posse e fúria. ― Vou mostrar o quanto confio, Vivi. Minha força te fará gozar comigo, piranha safada!

Por um segundo ela se assusta e cambaleia para trás, soltando o segundo par dos saltos altos, porém as mãos dele caem do lado do corpo e os ombros baixam. Celo tenta dar um passo e vacila. Vai cair... vai... cai de cara no chão! Karla mexe no braço dele e nada. Às pressas, procura pelo quarto e o cofre não está onde disseram, continua sua busca desenfreada. Uma ligeira tonteira a assola e culpa a bebida que ingeriu ao acompanhar Celo. Apesar de ter aprendido a beber, seu corpo parece naturalmente fraco para o álcool. Que óbvio! O quadro torto!

A porta é escancarada e Digo entra ensandecido, vê o irmão pelado no carpete e Vivian em pé do outro lado do quarto, como pega de surpresa. Ele chuta Celo e exige que se levante.

― Ainda bem que você chegou, estava para telefonar à recepção à sua procura...

― Cala boca, vadia! ― Vocifera irado.

GG e Alex fazem menção de agir e Breno os impede com um único gesto, precisa respeitar o pedido dela. Uma promessa por outra promessa. Até Karla dizer o que já deveria ter dito, nada será feito.

― Digo, estava tudo bem e de repente...

Ele a joga contra a parede e a esmurra bem próximo ao rosto dela. Por um instante Karla pensa que a espancará ali mesmo. De esguelha, percebe as sombras no corredor, os cães de guarda dele estão de prontidão, não há escapatória. É boa de luta, mas não contra... quantos? Digo e mais o de praxe, uns quatro lá fora? Armados? Sem chance, só em filmes mesmo.

― Ia dar para o meu irmão, Vivian? Sério isso? Preferiu ele?

Então, se trata disso? Karla quase ri. Ego de macho ferido?! Como explicar que quem escolheu com quem ela transaria foram Os Fantasmas? Que os seguranças do Celo são mais relapsos e ele volte e meia fica sozinho sem que Digo saiba? A morena desliza os dedos pela face enrijecida dele.

― Pelo que pode ver ele não deu conta do recado, Bombom.

― Bombom? ― Um dos fantasmas tosse entre risos.

― Shhh! ― Repreende GG.

O subordinado abaixa a cabeça, deixando o momento espontâneo de lado.

― Mas essa garota é boa mesmo, hein?! Usando a intimidade para se safar e retomar o plano. ― Acrescenta GG.

― Põe boa nisso! ― Um colega de Alex deixa escapar. O loiro o fuzila com o olhar e o agente se cala.

― Por que não fecha a porta e começamos a nossa festinha? ― Ela continua. Beija o lábio inferior dele e junta mais seus corpos.

― É uma vagabunda mesmo... ― A respiração o trai.

― E você gosta, não é? ― Arranha de leve o maxilar dele. ― É disso que vocês gostam, certo? Homens.... Curtem mulheres que façam suas vontades, que se submetam às exigências dos seus pênis e se rebaixem para crescer. Pode deixar que sou dura na queda e sempre vou até o fim.

A indireta atinge certeiro os alvos na van.

― Está chapada também, gata? ― Ri alto.

― Chapada de tesão por você. ― Massageia a parte interna da coxa dele.

― Entendi, vagaba, quer se abaixar e me fazer crescer... ― Um sorriso diabólico se expande na face dele. ― E está me dando seu corpo por quanto tempo eu quiser. ― Soca o ar em triunfo. ― Puta que pariu, você é muito mais pervertida do que eu imaginava!

Digo a solta e corre fechar a porta, ordenando que não os interrompam por nada, mesmo que escutem os gritos de uma gata no cio. Gargalha e tranca a única saída. Quando ele se vira para ela de novo, encontra-a sorrindo e elevando a barra da saia, deixando a perna ainda mais à mostra. O olhar de Digo se intensifica, quase bestial, lambe os lábios e ao ameaçar o primeiro passo, a mão de Celo segura seu calcanhar, detendo-o.

― Ela... ― Balbucia, as palavras mal saem. ― Droga...

― É uma droga mesmo, irmãozinho, caiu de bêbado e o prêmio agora é só meu. ― Chuta a mão de Celo para longe.

Percebendo o que está prestes a acontecer, Karla se adianta e enlaça Digo com os braços e as pernas, beijando-o sem parar, fazendo-o cair direto na cama. Ele retorna a ação sexual, esquecendo o irmão.

― Sabe, existe uma regra bem clara quanto a outras pessoas neste quarto ― ele começa puxando a parte de cima do vestido dela para baixo, forçando o tecido e avermelhando a pele feminina, o que o deixa louco de tesão ―, esta noite vou abrir uma exceção, porque você é uma gostosa da porra! Desde que te conheci quis abrir suas pernas e me enfiar até o fundo.

Karla gira seus corpos, invertendo as posições, fica sentada sobre ele, ao mesmo tempo em que segura os pulsos dele e os prende para cima, repuxando o lábio inferior dele com os dentes, quase sangrando. Se é violência que o maníaco curte...

― Faz tanto tempo, Grandão, eram relações de negócios, depois amizade e agora...

― Sexo! ― Digo urra de prazer antecipado. E desejando a resposta, pergunta. ― Quem é grandão?

― Hum... ― Karla pressiona as coxas e mexe. ― Esse aqui...

― Aperta mais! ― Ordena de olhos fechados, gemendo.

Como não está sendo vista, permite escapar a expressão de asco, fazendo o que lhe pede.

― Dois irmãos doentes mentais de merda! ― Alex diz baixo entredentes.

― Macacos... ― Murmura Celo.

Recuperados da artilharia de Karla, enquanto a maioria na van ri do estado vergonhoso do infeliz no chão ao ouvirem aquilo no meio de tanta carga sexual rolando no quarto, Breno escuta e gela, petrificado. É uma palavra de segurança!

Digo paralisa e joga Vivian para longe. Salta da cama e agarra o colarinho da camisa aberta de Celo, chacoalhando-o com raiva.

― O que você disse, palhaço? Quer acabar com minha diversão?

Karla se recupera do susto e se levanta do chão.

― El.... me.... drogo... ― Balbucia para o irmão que chegou tão perto que poderia morder a orelha dele, o que não o faz.

A face de Digo adquire um tom cada vez mais escuro de vermelho, beirando o roxo. Sabe que pela distância é impossível que ela tenha escutado. Ele se aproxima dela devagar.

― Ele está bem? ― Sorri sensual. ― Se quiser podemos chamar alguém para tirá-lo daqui e assim ficamos mais à vontade.

― Claro... ― Retribui o sorriso, porém com doses de perversidade. ― É isso o que você quer fazer? O que você quer, Vivian? ― Pergunta sugestivo.

Os homens na van se entreolham. Karla não ouviu o que Celo falou para o irmão, fica claro isso, mas eles sim, a escuta no dente dela tem longo alcance. Digo está jogando com ela e a agente nem imagina a armadilha.

― Eu quero tudo com você. ― A voz sai rouca, libidinosa.

― Tudo?

― Tudinho... ― Diz lentamente em biquinho.

Alex nota que agora todos estão de olho em Breno, aguardando alguma ordem. Quando ele se tornou o líder ali?

Digo coloca sua mão no pescoço dela com delicadeza, inspirando profundamente. Karla estranha, ele a está cheirando?

― Seu cheiro de sexo é fraco, talvez se meu irmão se juntar a nós...

― Não sabia que gostava a três.

― Gosto de tudo. ― Imita ela, inclusive o biquinho. ― Tudinho...

Um sinal de alerta se acende na mente dela. Karla decide esperar o que vem, disposta a ir até o fim daquilo, jamais daria o braço a torcer. Não diria.... Qual é a palavra mesmo? Banana? Não.... Celo falou Macacos... Pijamas? Que ideias são essas? Ela era professora infantil.... Gostava tanto.... Passado é passado e ponto, certo?

― Tudo bem, vadia? Parece meio zonza. ― Ri alto. ― Meu irmão deixou uma bela de uma marca desse lado do seu pescoço. ― Passa os dedos pelo outro lado da pele dela. ― E eu deixarei aqui. ― Pressiona mais o polegar onde colocara a mão antes. ― Será uma viagem inesquecível, docinho, muito melhor que a do meu irmãozinho ali.

Minha nossa, ele sabe! Como? Estava tudo tão colorido como os unicórnios do céu de anis que caiu no labirinto e perseguiu os olhos da coruja numa caixa na espiral cinza. O quê? Que pensamentos são esses? A palavra.... Não sei qual....

― Você... não...

― Pelos seus olhos, já começou. ― Digo morde o ombro dela e lambe. ― Sem resistência, piranha, se deixa consumir pela turbulência de prazer. As primeiras cobaias disseram que parece uma prisão na verdade de si mesmo e que é também libertador. ― Ergue as mãos como se rendendo. ― Bom, foram elas quem disseram. Me diz você, como é? Ou está tão chapada que nem isso dá para fazer?

Ele se afasta aos risos e pega uma taça, enche de vinho, senta-se à poltrona, beberica e a assiste com morbidez. Karla mal consegue se mexer. Leva a mão ao local do pescoço em que ele pressionou o polegar. Sente algo e puxa. A visão está turva, porém vê um pedaço de papel, parece um pequeno curativo redondo, branco. A boca seca rapidamente, o coração dispara.

― Não adianta tirar, já está no seu organismo, filhinha. ― Chega perto dela e derrama o resto de vinho sobre o corpo feminino, lentamente, saboreando a vista. ― Vivian, você já é uma delícia e agora tem mais delícia dentro de você. ― Lambe o caminho do líquido. ― Acho que darei esse nome ao meu novo produto, o que acha? Em homenagem a você. ― Ergue a taça como se brindasse. ― Está feliz?

Karla geme, a língua está enrolada, como se tivesse vontade própria, não tem controle algum de seus membros.

Digo a arremessa na cama. O corpo da morena pula no colchão e para de frente para ele, que se aproxima, abrindo o zíper da calça. Celo resmunga e Digo manda se calar, está tudo sob controle.

― Depois de me refastelar dela, farei um interrogatoriozinho bem especial e saberemos o que afinal a vagaba pretendia. E NÃO CONSEGUIU! Ninguém engana a gente e fica impune! ― Segura brutalmente o rosto dela e ergue para que veja Celo no chão. ― Ele era limpo, desgraçada! Você o sujou e agora sentirá de todas as formas o castigo dos condenados.

Ela só pode estar delirando. O imbecil se sente um deus?

Ele se ajoelha na cama e rasga o vestido dela, revelando a lingerie ousada de renda rubra, que a deixa ainda mais tentadora. Digo lambe os lábios, apreciando feito um animal a presa.

Flávia segura um porta-retratos, admirando a imagem, passa as pontas dos dedos sobre o papel. As lágrimas rolam por sua face sem constrangimento, está sozinha e não deve nada a ninguém. Talvez deva algo a si mesma. Isso sim a deixa mal. Onde ficou sua independência? Seu amor próprio? Desde quando se tornara essa pessoa amargurada, que veste a cada dia uma nova máscara? Ressente-se consigo mesma. Vai ao janelão do apartamento e observa a cidade, poucos são os edifícios que a alcançam. Tanta vida lá embaixo! Tanto brilho! Tanta cor! Tanto som! Toca o vidro. Por que nada lhe chega?

Os momentos de silêncio são os piores dentro da van. Alex se revolta.

― Só eu estou percebendo que ele a drogou e a estuprará?

― Fica na tua! ― GG o encurrala, impondo seu corpanzil amedrontador. ― Ela concordou com o plano e seguiremos até o fim. Depois disso ela inventa algo, que outra pessoa o drogou. Aliás, que ideia foi essa? Agora ela me parece uma estúpida por tentar isso! Enfim, depois ela conseguirá ficar ainda mais próxima deles. Dá para recuperar a coisa toda. Melhor ainda se os idiotas se arrependerem e pensarem que devem algo a ela por terem a forçado a isso. Ela sabia onde estava se metendo e topou.

― Não importa, é um dos nossos em perigo, porra! ― Outro policial tenta argumentar.

O loiro olha para Tadeus, que abaixa a cabeça, resignado, não tem realmente poder algum ali. Devia ter entregue a missão aos fantasmas. Não que sua insistência tenha feito alguma diferença, há com certeza outra razão para terem permitido a continuidade de sua equipe na OCB. Karla? Seus contatos? Não.... Logo de cara quiseram tirá-la da missão. É outra coisa.

Diz, Heloá, diz!

― Digo... ― Karla usa todas as forças que encontra dentro de si para burlar o efeito da droga e se manter na realidade. ― Você não precisa... fazer isso... eu quero...

― Você quer? Você quer o quê, vadia?

― Você...

O traficante entorta a cabeça como se pensasse em algo e na visão de Karla saem de suas órbitas duas minhocas coloridas, brilhantes, saltitantes, que a fariam vomitar, mas a fazem rir contra sua vontade.

― Isso, chacoalha esse corpo gostoso para mim!

Na van, os homens ficam boquiabertos com o que ouvem. Ela continua tentando?! Para eles, o que GG alegou parece ser verdade. Karla persiste no plano. Breno escuta atento, há algo errado, muito errado. Diz, porcaria, diz!

O traficante segura firme o pulso dela, machucando-a e virando-a com violência. A morena fica de bruços. Ele dá vários tapinhas nas nádegas dela até ficarem rosadas. Karla continua rindo, seus pulmões e os músculos da face doem, não consegue parar. Os tapas de Digo se intensificam. Do riso dela vêm as lágrimas.

Preciso dizer.... Meu Deus, qual é mesmo a palavra? Preciso dizer.... Estou perdida! Socorro! O que ele colocou em mim? As sereias chamuscam no rio de lava seca. Os raios me cegam e a voz de trovão decreta o fim. Ou seria o começo de uma eternidade de desespero no caos da Terra desconhecida de segredos infinitos que preciso descobrir? A palavra.... Preciso dizer.... Pedro.... Pedro.... D.I..... É isso? Só pode ser! Pedro...

― Vamos começar pelo rabo! ― Digo puxa com tudo a calcinha, arrebentando-a e rasgando alguns pontos da pele de Karla.

― Pedro.... ― Sai um sussurro grogue.

Breno se levanta e sai veloz. Meio segundo depois os demais saem atrás dele, que entra no hotel sem se identificar, feito um tufão, e sobe as escadas, seguido por mais três colegas. Alex entra em um dos elevadores que está aberto, vê a distância dos outros e decide subir sozinho, não há tempo para esperar que cheguem. Aperta o botão da cobertura com o coração a ponto de parar.

― Escada? ― Tadeus, bufando de cansaço, ridiculariza enquanto seus homens apertam o botão do elevador e outros seguem ao balcão de atendimento para anunciar a ação.

Depois de uma risadinha, GG diz:

― Nunca duvide deles, capaz de chegarem bem antes de nós.

Assim que o segundo elevador abre suas portas, a maioria entra ajeitando as armas e se preparando para o embate. Alguns permanecem no hall com os procedimentos de rotina das missões.

Ninguém sabe. Tantos se foram. Tantos ficaram. Tantos voltaram. Tantos estão por vir. E continuo sobrevivendo numa mentira de mel, melosa, melada de segredos infinitos em você e em mim. Meu vestido rasgado queima na fogueira dos pecados, nem minhas lágrimas são capazes de aplacar as chamas devoradoras. Um fogo crepita sem fim. Talvez seja tempo de apagar.

― O que você disse, vadia? ― Cospe na palma da própria mão.

― Pedro... ― Sai como um suspiro de esperança. É só o que consegue pronunciar.

― Está falando o nome de outro na minha cama?

O terror digladia com o amor, que me leva distante dali... flutuo. Flutuo num vazio pacífico, de ondas mil. Ah, a vertigem! Bem-vinda! Sinto mãos grandes e pesadas sobre mim, mas são carinhosas, desejam-me profundamente bem. O oceano repleto de animais de olhos brilhantes me inunda e o medo se vai no caminho de tijolos dourados. Voou pelo Olimpo, pelos verdes prados de nuvens sonhadoras. Ele me ama tanto.... As crianças se divertem no poço. Brincam sobre os desígnios de uma voz de trovão.

— Com mais ninguém, apenas com ele, caso contrário o nunca mais será seu destino perpétuo.

Estalos. Estalos. São estrelas rachando, quebrando-se. E a escuridão reina.

— Acha que encontraremos Marco?

Ela eleva o olhar triste e esperançoso para ele.

— Claro, ainda é cedo, querido, temos vinte e três anos. — Acarinha a face dele. — Paulo pode chegar com novidades. Tenha paciência. — Suspira com certa dificuldade, apoiando as mãos espalmadas no peitoral dele. — E me prometa que não fará nenhuma bobagem.

Mas ele fez e foi tarde demais para a fada e seu pó de pirlimpimpim.

Breno alcança o piso da cobertura, anda calculadamente, perscrutando, observando, sentindo. Chega ao corredor onde estão os capangas dos irmãos. Sabe que são quatro, viu pela câmera de segurança do prédio. Tira do bolso um dispositivo que ele mesmo aprimorara. Técnica utilizada em um de seus treinamentos e missões na selva africana. O espelhinho permite que veja seus alvos e com o fino cano que se dobra até sua boca, assopra e acerta o primeiro dardo, em seguida dispara mais, um atrás do outo. Ao avançar, já estão todos caídos no chão em sono profundo. Quando vai chutar a porta, vê Alex despontar no corredor e disparar até ele.

― Pode deixar que assumo daqui. ― O loiro grita, invade o espaço, jogando o próprio corpo contra a porta e entra.

Breno tenta impedi-lo, porém em vão, Alex lhe escapa das mãos e é atingido em cheio no peito por um disparo de arma de fogo. O moreno se protege contra a parede no corredor, maldizendo a imbecilidade do agente apressadinho para ser herói.

Digo não pensa duas vezes ao ouvir a porta sendo estourada e atira sem piedade. Seus seguranças nunca o interromperiam dessa maneira. Em seguida puxa Karla, dando uma gravata nela, e a mantém a sua frente, protegendo-se de quem mais possa entrar. Vê os pés de um de seus seguranças deitado no corredor e entende, está encurralado. Devem ter vindo ao socorro da vagabunda. Policial? Olha de novo todo o corpo dela, nada de microfone ou rastreador. Maldição! O cara loiro começa a se mexer, claro, colete a prova de bala. Aponta a arma para a cabeça dele.

Karla abre os olhos, ainda mais confusa, enxerga a arma apontada e não pensa duas vezes, sem dar chance para a nóia que vive, bate desajeitadamente na mão de Digo. O disparo sai, porém desviado, acertando... ela não consegue entender onde ele foi acertado, apenas escuta o grito... Alex... A morena tenta se levantar.

O traficante diz impropérios sem controle algum. Breno entra pronto para atirar. Karla segura o braço de Digo, morde-o, utilizando a pouca força que lhe resta. O tiro dele atinge a perna do fantasma, que sem ter como ter certeza do alvo, diante da movimentação da morena, fica parado.

Celo agarra o tornozelo do moreno, escora-se e aperta o ferimento. Breno resmunga e o acerta com um soco de esquerda, derrubando-o no mesmo instante. Digo, por sua vez, acerta uma coronhada na cabeça de Karla e atira contra outro homem que aparece na porta, o segundo tiro não sai. Lembra-se que não recarregara a arma por completo e parte para cima de Breno, numa luta corpo a corpo. Com a colisão, a arma de Breno voa pelo ar.

O moreno mal tem tempo de reagir, quando se vira já vê um Digo avançar para cima dele. Recebe um murro na boca do estômago, em sequência um soco no maxilar, seu corpo cambaleia, porém é experiente para revidar e desequilibrar o adversário, que acaba se grudando no tronco dele, acertando-o diversas vezes. Breno fecha os punhos ao redor da cintura de Digo, impulsionando-o para trás.

GG espia e se posiciona para atirar, os demais percebem que podem se expor também e se posicionam, mas está difícil um alvo. A luta está acirrada, podem atingir qualquer um dos dois. Tadeus puxa Alex para fora do quarto, deixando-o seguro no corredor, ao lado do outro atingido, pede que estanquem os ferimentos até a ambulância chegar para socorrê-los adequadamente. Alguns agentes algemam os seguranças desacordados. Breno inicia uma sucessão de golpes conhecidos pelos colegas, que ficam prontos para receber Digo e finalizar o ataque. O que ocorre com maestria. Imobilizam o traficante e o algemam, não antes de armarem uma luta desleal de quatro contra um.

Os mesmos que fizeram comentários e piadas inapropriadas na van, são possuídos por um ódio imensurável por tudo o que viram e ainda mais ouviram do que Digo pretendia fazer e do que chegou a fazer com a agente disfarçada. Uma defesa ilegal, mas quem saberia além deles?

Tadeus ordena que soltem, algemem e levem o criminoso sem mais agressões. Basta! A lei cuidará dele. Sem mencionar que precisam deles vivos para a continuidade das investigações. GG se surpreende e permite a autoridade do colega.

Breno mal se importa com isso, corre até Karla, arrancando o lençol da cama e a envolvendo. Rapidamente a encaixa em seus braços e a leva dali sem dizer nada e ignorando as ordens de GG.

TRADUÇÃO VIA VAGALUME.COM.BR (adaptada)

Deixe-me Ir

O amor que uma vez esteve pendurado na parede

Costumava significar algo

Mas agora não significa nada

Os ecos sumiram no corredor

Mas eu ainda me lembro

A dor de dezembro


Oh, não há nada que você poderia dizer

Sinto muito, é tarde demais


Eu estou me livrando destas lembranças

Tenho que deixá-las ir, deixe-as ir

Eu disse adeus, queimei tudo

Tenho que deixá-las ir, deixe-as ir


Você voltou para descobrir que eu tinha ido embora

E aquele lugar está vazio

Como o buraco que foi deixado em mim

Como se fossemos absolutamente nada

Não é o que você significava para mim

Pensei que fossemos destinados um para o outro


Oh, não há nada que você poderia dizer

Sinto muito, é tarde demais


Eu estou me livrando destas lembranças

Tenho que deixá-las ir, deixe-as ir

Eu disse adeus, queimei tudo

Tenho que deixá-las ir, deixe-as ir


Eu as deixo ir (e agora eu sei)

Uma nova vida (está neste caminho)

E quando é certo (você sempre sabe)

Então, desta vez (não vou largar)


Só há uma coisa a dizer aqui

O amor nunca vem tarde demais


Eu me livrei daquelas lembranças

Eu as deixei ir, eu as deixei ir

E duas despedidas trouxeram esta nova luz

Não me deixe ir, não me deixe ir

Oh, Oh

Oh (não me deixe ir, não me deixe ir, não me deixe ir)


Não vou deixar você ir

Não me deixe ir.

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