VOLTA

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A noite poderia ter sido bem diferente, contudo, Pedro está satisfeito com o resulto, afinal, conseguiu trazê-la de volta, por mais que isso complique as coisas. Apesar de tudo, Fernando e Vinny estão felizes. Felizes na ignorância, mas ainda assim, felizes. Enquanto o mais velho observa os três sumirem pelo corredor e entrarem no escritório, reflete sobre os últimos acontecimentos e os próximos passos. Ainda precisa ter uma séria conversa com Duda e dar um jeito de impedir Heloá de cometer a maior burrada de sua vida. Senta-se no braço do sofá, passando as mãos pela cabeça e soltando o ar com força. Pelo menos ela está ali e poderá controlar melhor a situação. Sem perceber, um sorriso molenga lhe brota, acariciando a face e lhe causando certo alívio.

O ar se torna rarefeito, pesando em seus pulmões. Sabe que Vinny está a três passos de distância à sua esquerda e Fernando logo ao lado dele. Os olhos de Heloá baixam do espelho ao chão, lentamente, a cabeça se vira, levando seu olhar turvo aos pés do moreno, sem conseguir encarar mais nada dele.

― Você só pode estar de brincadeira. ― Sibila, ameaçadoramente, segurando o grito na garganta. ― Só pode ser uma piada de muito mal gosto.

O loiro corre os olhos de um para o outro sem entender nada. Fernando está paralisado, a respiração pausada, a mente exigindo que ele diga algo, porém as outras partes de seu corpo não reagem.

― Algum problema, Heloá? ― Vinny tenta saber. ― Olha, podemos mudar qualquer coisa se você quiser, nós...

― Não fico aqui nem mais um segundo. ― Ela esbraveja, saindo do escritório.

Pedro escuta a voz alterada da morena e se levanta de pronto, interpondo-se ao caminho dela à saída.

― Sai da minha frente, Pedro!

― Não antes de saber o que aconteceu. ― Por cima do ombro dela, observa os dois que vem logo atrás pelo corredor e param no meio da sala, atônitos.

A morena fixa seu olhar raivoso no peito de Pedro. Ela não correu e ainda assim encontra-se ofegante como se tivesse enfrentado uma maratona.

― Heloá... ― Fernando começa e para com o gruído que vem dela.

― Sei que conversamos e temos um acordo, Pedro, mas não dá para ficar embaixo do mesmo teto que esse babaca. ― Respira fundo, tentando se controlar. ― Sinto muito, mas vou embora.

O historiador lança uma expressão aos dois amigos, que compreendem o recado, devem esperar com paciência. Ele segura os ombros dela com sutil firmeza, o que a faz encontrar seu olhar sincero.

― Tudo bem ― diz calmamente ―, mas me explica o que aconteceu.

Heloá agarra a mão de Pedro e o leva ao escritório. Fecha a porta e aponta o espelho, o sangue fervendo. Ele fica em silêncio, as sobrancelhas se unindo na falta de entendimento. Ela olha de novo e uma ideia lhe surge, pode não ser o mesmo, é bem possível. Apressa-se a olhar atrás dele e acha a etiqueta. Sim, é ele, infelizmente. Suspira agoniada.

― Heloá, se não gostou, não tem problema, tiro daqui. ― Pedro segura uma das laterais e para.

― Não é isso... Não sou uma mulherzinha chata que não gosta de um espelho num quarto que nem é dela e por isso dá um ataque.

― Então, me desculpa, mas é exatamente o que está parecendo.

― Foi pura maldade dele. ― Fala sem nem ao menos dar atenção ao que Pedro acabara de dizer. ― Ele não tem esse direito. Não pode brincar desse jeito com os sentimentos das pessoas. Eu falei com todas as letras naquela manhã, que se ele quisesse, eu largava tudo e voltava para tentarmos de novo. Beijei o filho da mãe! E ele na maior cara de pau disse que não, que isso não aconteceria, que nosso tempo tinha passado. Como fui estúpida! Estúpida! ― Num meio giro, olha para Pedro e se dá conta do que faz. ― Ai, Deus, o que é isso?! Estou falando de outro cara com você, justo com você! Eu devia ter ficado com o Sal, que idiotice vir para cá! É que... é estranho, mas me sinto tão à vontade para conversar e me abrir com você. Depois do que aconteceu entre a gente não posso, não posso mais...

Dual_2Where stories live. Discover now