CHANCE

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O loiro mal consegue acreditar no que acontece. Pergunta algumas vezes a Fernando se escutou certo, se foi mesmo Pedro quem saiu pela porta dizendo para arrumarem o escritório, pois traria Heloá. O moreno passa a rir depois da terceira vez. O mais velho não é disso e Vinny se pega curioso quanto ao conteúdo da conversa dele com Heloá antes e agora, depois de ela ter saído chorando dali. O que realmente terá acontecido para tudo isso? Ele não tem essas respostas e provavelmente nunca as terá. O que importa mesmo é que Pedro reconheceu seu erro e tentará corrigir. O que já pode ser considerado um milagre, porque o historiador tem a bela mania de achar que está certo sempre. O que geralmente acaba se confirmando, mas não desta vez.

― Nando, e se ele não conseguir? E se o que falou para a Heloá foi tão ruim a ponto de ela se recusar a voltar de qualquer jeito?

― Está preocupado que teremos de rearrumar o escritório?

O clima é tão leve que os dois riem da brincadeira, ambos sabem que não se trata disso, porém Fernando acaba por cessar o riso, a expressão recebe a visita de uma sombra desagradável.

― Não sei, Vinny. Se foi mesmo tão ruim para ela sair chorando daqui...

Os corações se apertam numa dor bem parecida. Sem perceber, dividem as mesmas preocupações e sentimentos. O loiro não suporta o fato de terem estragado aqueles minutos de felicidade. Estavam bem, rindo, e de repente isso?

― Ei, e aquele espelho atrás do seu guarda-roupa? ― Diz num pulo, saindo do escritório.

― Não, Vinny! ― Fernando tenta deter o amigo, em vão.

― Por que? Você guarda ele aqui mesmo, vamos usar. ― Tira e coloca-o em pé, olhando-se no reflexo. ― A Heloá amará isso! Um espelhão só para ela. ― E pisca para si mesmo.

O moreno suspira e se cala, não quer estender o assunto do espelho e Vinny já correu pegar um pano para limpá-lo, não adiantaria retrucar e desenterrar certos pontos do passado. Talvez ela nem se lembre...

Um barulho na varanda chama a atenção de Sabrina, que deixa a taça de sorvete sobre a mesa da cozinha e calmamente vai em direção a porta de entrada. A madeira range e ela vê Bernardo entrar com um sorriso que a morena, infelizmente, conhece bem. A cabeça dele se volta para ela e os ferimentos e hematomas estão visíveis. Sabrina abaixa-se, abre uma portinha na estante da sala, retira a maleta de primeiros socorros que sempre deixa pronta para os retornos desastrosos do namorado, e apressa-se em ajudá-lo a se sentar no sofá.

― Tudo bem, amor, não foi tão ruim assim.

― É, já sei, vai dizer "devia ver o outro cara como ficou", acertei? ― Diz com ironia, sem deixar de apoiá-lo até se acomodar da melhor maneira possível no estofado.

Ele não responde, apenas sorri fraco, contraindo o canto dos lábios com a pontada de dor que sente na coluna. Sabrina abre a maleta e inicia os procedimentos que tantas vezes já realizou, até desistiu de insistir em levá-lo ao pronto-socorro, ele não permite de jeito nenhum, nunca.

Bernardo se contorce um pouco, alcançando um envelope no bolso de trás da calça e joga-o na mesinha de centro aos risos.

― Agora podemos fazer a piscina!

Sabrina meneia a cabeça, reprovando-o, sem parar de tratá-lo.

― Nunca pedi uma piscina, Bê, muito menos desse jeito.

― É o jeito que ganho a vida. ― Dá de ombros. ― Lembra que falamos que seria fantástico ter uma lá atrás? ― Pensa bem e pisca para ela. ― Ou um ofurô, o que acha? ― Aproxima-se, fungando no pescoço da namorada de propósito. ― Vou amar ficar com você em uma água quentinha durante horas... ― Sussurra obscenidades no ouvido dela.

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