Soldier Heart. | H.S || A RES...

By autorax

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"Eu devia matá-la mas, ela matou esse lado de mim" More

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01 - Run.
02 - Styles.
03- Bath.
04- Room.
05- High.
06- Runaway.
08- Deathly.
09- Pain.
10- Tease.
11- Lake.
12- Thunderstorm.
13 - Gone.
14- Changes.
15 - Lótus.
16. LoveSick
17. Morphine.
18.YOU.
19. Love you Goodbye.
20. Mr. William.
21. Truth.
22. Undercover.
23. Ready to fck.
SOLDIER HEART SOB REVISÃO

07- Niall.

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By autorax

Este capitulo vai ser só Niall e Rose, e se forem como eu.. vão amarrr o Niall ainda mais nesta fic :). Mas não se preocupem que no próximo o bicho volta!


O resto dessa noite foi passada com a cabeça encostada às costas do sofá e com uma quantidade exagerada de chá a aquecer-me as mãos antes entorpecidas. Ouvi histórias bastante interessantes e pelo que entendi Niall já vivia naquela casinha há 6 anos. Desde que sua mãe falecera, ele isolou-se na antiga casa dos falecidos avós paternos e remodelou-a a seu gosto.

Perguntei-lhe sobre como é que tinha sobrevivido a toda aquela guerra, a nível de mantimentos, e para minha, não tão grande, surpresa foi apenas com produtos da horta e até mesmo caça, pelos visto perto da sua pequenina casa passavam muitos veados e gazelas, e que existia também um pequeno rio que corria ali perto onde ele apanhava peixe. O loiro afirmava que só comia carne em dias de festa, como o seu dia de anos ou a mudança de estação. Eram dias de festa peculiares mas nada que me deixasse muito confusa. Nos dias que corriam nada me surpreendia.

Eventualmente a conversa já eram só bocejos e, embora eu tenha insistido que dormia no sofá, Niall guiou-me até ao maravilhoso quarto de hospedes que me indicou como sendo o local onde eu iria dormir naquela noite, e nas noites que ali precisa-se de passar.

As paredes, assim como toda a casa, eram revestidas por pedra, a cama era antiga com estrutura metálica com detalhes muito bonitos, toda pintada de preto e com uns lençóis de flanela cor um ar igualmente antigo e por cima um cobertor colorido, com todas as cores possíveis e imagináveis. Tinha algumas plantas penduradas e uma pintura, muito bonita, em tela pendurada na parede oposta à da cama. Era um desenho um bocado abstrato de plantas e animais selvagens, todos numa sincronia tão harmonizada que trazia paz a quem o olhava.

- Gostas? Fui eu que pintei quando tinha 17 anos - Niall olhou-me sorridente com os olhos a brilhar, parecia que era a primeira vez que alguém olhava para aquela obra.

- É lindo, tens imenso jeito Niall, está mesmo mesmo fantástico!- Disse dando um abraço espontâneo ao rapaz, ao inicio ambos ficamos um bocado tensos. Nenhum tinha tido nenhuma demonstração de afeto durante um tempo ridiculamente indeterminado. Porém ao final de uns segundos o abraço tornou-se em algo extremamente carinhoso e reconfortante.

O rapaz soltou um sorriso tímido e esfregou os pés um no outro, ele era adorável.. parecia uma criança. No entanto, era capaz de ser muito mais velho que eu pela quantidade de anos a que está naquela casa, sozinho.

- Olha.. eu não tenho pijamas de rapariga porque.. não o sou. - ele riu envergonhado pousando um pijama violeta na cama - mas posso emprestar-te este meu para que não tenhas de usar essas roupas sujas.. Aliás! Depois de o vestires dá-me essa roupa e amanhã vens comigo à ribeira para as lavares. -

Eu agradeci e ele saiu por uns momentos para eu vestir as vestes suaves e quentes, que me deram uma sensação de conforto estonteante.

Quando ele regressou a questão da sua idade ainda rondava a minha cabeça.

- Ni.. Erm.. Niall - disse baralhada devido à rapidez com que o apelido saiu.

- Não.. não tem mal. Eu gosto de diminutivos, fazem com que as pessoas não pareçam tão agressivas - Deu de ombros sorridente e eu assenti - Mas o que ias dizer? -

-Eu acho que ainda não te perguntei quantos anos tens! - Perguntei vendo-o começar a abrir a cama e a pousar uma almofada na mesma. Aproximei-me para o ajudar.

- Erm.. - Ele parou para pensar. - estamos em que ano mesmo? -

- 2040 eu acho, sim.. Styles disse-me que estamos em Fevereiro - Assenti e vi o loiro revirar os olhos com a menção do soldado.

- Então.. pelas minhas contas 21 . - Sorriu dando de ombros e eu fiquei perplexa, ele vivia ali desde muito novo.

- Pareço mais velho? - Ele olhou para mim preocupado. - Eu tento fazer o máximo para não envelhecer, ainda que isso seja impossível não é porque.. eu não sou um vampiro - Ele riu - Mas até já cabelos brancos eu tenho quer dizer, eu sempre os tive porque sou loiro.. -  Ele rolou os olhos e bateu na cabeça duas vezes - Estúpido Niall, estúpido. Só dizes disparates, estúpido! - ele disse continuando a bater na própria cabeça e eu aproximei-me dele afastando as suas mãos para que parasse com aquilo.

- Ni.. calma.. respira.- Disse sentando o rapaz na cama onde eu ficaria a dormir. Passei a mão pelos seus cabelos tentando acalmar o rapaz que eventualmente deixou algumas lágrimas escorrerem.

- Desculpa, eu estou a ser estúpido.. não faz sentido.. eu só faço porcaria, desculpa Rosie. - Ele disse tentando engolir o choro e recompor-se.

- Ni.. calma. Tu não és estúpido nenhum, só fiquei espantada porque vives aqui há muitos anos, e desde muito novinho. Na verdade é fantástico como te safaste sozinho no meio do nada.-

- Doeu.. muito. - Disse com um sorriso triste e eu abracei-o de lado ainda sentada na cama e apoiei a cabeça no seu ombro.

- Eu acredito que sim.. -

Eventualmente, depois de se acalmar Niall foi para o seu quarto, que me prometeu mostrar no dia seguinte, assim como o resto da casa, a sua quinta e o rio.

Deitei-me na cama e senti-me tão confortável que numa questão de segundos cai num sono tão profundo que nem os sonhos ou pesadelos tiveram lugar.


~~~~

Acordei na manhã seguinte com o cheiro a comida tão agradável que eu achei que podia chorar só de sentir o aroma delicioso. A minha barriga deu uma volta e apertou fazendo-me sentir até mal disposta.

Levantei-me espreguiçando-me e esfregando os olhos, afastando a cara de zombie com que devia estar.

Como tinha referido a casa era mesmo pequena então assim que saí do meu quarto deparei-me com a sala e cozinha, cozinha na qual um loiro parecia muito concentrado no que fazia.

- Bom dia - disse suavemente tentando não assustar. Mas falhei miseravelmente pois no momento em que eu falei jurei que os ovos que ele fazia iam voando pela casa.

- AHH, uhm .. bom dia Rosie! - Ele disse sorridente - Desculpa, não estou habituado a ter nínguem cá.. apesar de te estar a fazer o pequeno almoço não estava a espera que estivesses aqui porque tu estavas, e eu estou - Ele começou a baralhar as palavras como na noite anterior e eu aproximei-me afagando-lhe as costas.

- Não tem mal, todos se assustam quando estão distraídos - sorri-lhe simpaticamente.

Depois daquele percalço seguiu-se o pequeno almoço que eu devorei numa questão de poucos minutos, estava realmente bom.

Niall estava claramente ansioso por me ir mostrar tudo o que havia lá fora e por isso tinha comido tão ou mais rápido que eu, e o dobro. Fazendo-me soltar pequena risadas com a maneira como ele enchia a boca de uma maneira exagerada.

- Já acabaste? - Ele perguntou pela vigésima vez e eu finalmente assenti que sim, então ele, apressado puxou-me para o seu quarto e empurrou-me delicadamente para me sentar na sua cama. Ainda que eu soubesse que aquilo foi apenas um ato típico da maneira agitada de ser do pequeno doende não deixou de ser cómico ver a sua reação ao que tinha acabado de fazer.

- Oh, desculpa Rosie fui um bocado bruto. - Ele corou e eu sorri simpática de modo a que ele entendesse que não existia qualquer mal  - Bem este é o meu quarto.. a cama está desfeita porque deve-se deixar assim por 3 horas para deixar os ácaros respirarem eu acho.. qualquer coisa assim. Na verdade só alimenta a minha preguiça de a fazer e por vezes... quase sempre ultrapassa essas 3 horas. -  Ele dizia enquanto vasculhava qualquer coisa no seu roupeiro de madeira clara. Dentro do mesmo era possível identificar varias camisas de flanela, algumas camisolas de lã, umas t-shirts e alguns pares de calças. O rapaz, contrariamente a mim, já estava vestido, com umas calças de ganga rasgadas em vários locais aleatórios por conta do uso e uma camisola branca de lá por cima de uma camisa de flanela azul e branca.

- Bem.. eu acho que as minhas calças te vão ficar um bocado grandes por isso podes usar esta camisola aqui. - Ele atirou para o meu lado uma camisola de lã muito grande, até para ele, verde seco, uma camisola interior branca e um par de meias que provavelmente me chegariam até aos joelhos. - Desculpa a roupa meio estranha.. felizmente hoje faz sol por isso não irás ter muito frio -  Ele disse sorridente e acompanhou-me até à casa de banho onde eu me vesti.

~~~

Enquanto caminhávamos pelas rochas ao lado do rio que corria lentamente eu apercebia-me do quão ridícula eu estava com uns sapatos 3 números acima do meu. No entanto, não me podia queixar. Era sem dúvida melhor que andar descalça.

Niall estava a ser extremamente gentil comigo e, ainda que isso me deixasse um bocado desconfortável  pela ausência de carinho que eu tinha sentido nos últimos tempos, mais precisamente, no período desde que a Guerra começou.

- Bem, chegamos!- o Loiro disse sentando-se numa pedra. Sentei-me ao seu lado e fiquei perplexa com a vista. À minha frente estava uma das paisagens mais bonitas que tinha presenciado em 20 anos de vida,  o rio estava calmo e as montanhas cruzavam-se umas com as outras fazendo um efeito lindíssimo de desvanecimento, digno de uma pintura. Naquele lugar não existia Guerra, e esse conceito era algo completamente desconhecido no meio daquela harmonia que parecia tão longe, como um mundo à parte.

- Quando eu era pequeno e vinha para
casa dos meus avós, era aqui que eu costumava passar todos os meus dias.. sempre foi muito Pacífico e em tempos de guerra torna-se quase como um oásis- ele dizia sorridente.

Era fantástica a maneira como Niall estava sempre feliz, eu perguntava me como e que alguém que vivia sem qualquer contacto humano se sentia tão bem e tão cheio de si, mas pondo as coisas em perspectiva estar somente em contacto com a Natureza e a sua pureza, livre de maldades e crueldades, na sua medida obviamente, não parecia ser assim tão mau.
Era um encontro connosco mesmos.
- Ni- chamei fazendo tirar os olhos da paisagens os direcionar para mim - o que vai ser de mim quando esta guerra acabar. Eu tenho medo. Vou ter de voltar para a cidade e submeter-me as ordens dos ingleses. - disse sentido as lágrimas começarem a formar-se no fundo da minha garganta.
- Podes sempre ficar a viver comigo- Ele disse esperançoso e eu lancei-lhe um sorriso simpático.
- Por muito tentador que isso seja, eu não sei se seria capaz Ni.. eu sempre fui uma rapariga da cidade... com as minhas ambições e sonhos. E, ainda que neste momento ficar aqui isolada contigo pareça a opção mais segura eu acabaria por dar em louca.-
Eu sabia o que dizia, só esperava que Niall entendesse mas não tão diretamente, obviamente que por falta de contacto com outras pessoas Niall desenvolveu alguns problemas de sociabilização, e se eu ficasse no meio daquela floresta para toda a eternidade acabaria por arrancar todos os meus cabelos, um por um.
- Eu entendo que te sintas assim.. obviamente que eu também um dia tentei fazer a minha vida. Com alguém de quem gostasse. Mas as coisas acabaram por tomar outras proporções e eu acabei no meio do nada - ele sorriu tristemente, de uma maneira até melancolia - e sei que eventualmente vais ter de partir e acabar com algum Inglês rico -

Ele tinha razão, seria o meu final por certo, com os extras de que provavelmente seria alguém agressivo que me trataria abaixo de cão somente por eu ser irlandesa e o meu país ter perdido a guerra com o seu país.
Era agonizante saber que eu nunca poderia ter uma vida feliz, como qualquer pessoa sonha ter . E isso era algo que me apavorava.
Dentro de poucos dias teria de regressar à civilização. Verificar se q Guerra já tinha sido dada como terminada e então tentar reconstruir a minha vida.
Esta era uma decisão que podia ser considerada egoísta, pois significaria que dentro em breve abandonaria Niall, mesmo depois de conhecer o pequeno rapaz que parecia tão feliz por ter finalmente algum contacto com um humano.

Talvez um dia eu pudesse regressar e leva-lo de regresso à sociedade, se essa voltasse a existir.. e tentar dar-lhe um lar, com alguém que pudesse estar ao seu lado e que não o deixasse a apodrecer no meio do nada.

- Eu vou ter de voltar ao quartel brevemente- Disse sem pensar muito, com os olhos focados num ponto aleatório do horizonte.

- Fazer? - Ele questionou sentando-se imediatamente noutra posição e olhando-me preocupado. - Estás maluca Rosie, ires ao quartel é assinar a tua morte! - Ele disse desesperadamente, gesticulando.

- No tempo em que eu tive uma mínima conversa com Styles ele disse-me que a Guerra estava quase a terminar, e eu gostava de ir a casa.. - Disse tendo a perfeita noção de que o que dizia soava louco.

- Rosie, eu não estive realmente na guerra, no meio dela.. e na verdade só perdi o contacto com uma senhora simpática que me visitava de tempos a tempos e me trazia sabão para lavar o chão, a roupa e o corpo. Mas eu não sei se será seguro, pelo que me contaste está tudo destruído. - Ele dizia com um olhar preocupado.

Ele tinha razão, e na verdade nem eu sabia muito bem porque é que tencionava regressar mas, algo me dizia que era o mais certo a fazer. Talvez eu só quisesse saber se os soldados já tinham abandonado a base como o Soldado me disse que fariam. A base era na verdade um antigo hostel muito conhecido em Dublin que eles fizeram questão de adaptar ao seu jeito animalesco de ser e por isso não era muito isolado.

Na minha cabeça, naquele momento e situação fazia sentido que eu quisesse ir em busca de respostas. No entanto, eu sabia que estava somente a divagar e até possivelmente a enlouquecer, era uma atitude completamente masoquista.

- Rosie... - Niall chamou-me com festinhas no braço, olhei-o e com um sorriso triste ele continuou. - Tem alguma coisa a ver com Styles, outra vez?

Talvez tivesse,mas soava coisa de louco, não fazia sentido que eu quisesse rever o rapaz que me manteve em cativeiro durante dias.

- Não! Estás parvo Ni? O homem é maluco.. só um maluco para tirar alguém do lixo e fecha-la numa cave! - Disse gesticulando.

- Por muito maluco safou-te da morte certa - deu de ombros e sem qualquer autorização deitou-se nas minhas pernas que estavam cruzadas. Eu comecei a dar-lhe suaves festinhas nos fios de cabelo, observando o pequeno a fechar os olhos lentamente. Mantendo-se acordando mas apreciando o carinho - E isso vai ser algo que o teu subconsciente vai ter em conta, na verdade vai ser só isso que ele vai ter em contra. Infelizmente o nosso cérebro não tem a capacidade de memorizar a dor, e os momentos maus.. fica no nosso inconsciente para situações futuras nos alarmar quando estivermos perante algo do mesmo género, no entanto no nosso coração apenas ficam as coisas boas.. mas não é por isso que elas nos vão fazer em algum momento felizes. Ele, como representante do seu pais ajudou na morte e destruição de famílias, ele ajudou a mandar lares a baixo. Não é porque ele não te destruiu a ti que ele deixa de ser um monstro. Todos eles são. - Ele disse, de olhos ainda fechados. Como se estivesse a falar da coisa mais natural do mundo.

No fundo ele tinha razão, havia algo que me dizia que eu precisava de falar com Styles uma última vez. Talvez fosse apenas a necessidade de tirar as coisas a limpo, como o porquê de ele me ter salvo, ou quem era ele ao certo.

- Mas Ni.. havia qualquer coisa nele que não batia certo. Como se ele não quisesse realmente estar ali. - Desabafei e ouvi um suspiro vindo da sua parte - Eu sei que soa louco, até porque eu não tive realmente tempo para ganhar alguma afinidade com ele. Mas eu não gosto da ideia de que ele tenha passado na minha vida, me tenha salvo de alguma maneira, por muito bizarra que seja, e que eu não saiba nada sem ser o seu apelido. - suspirei, sentia-me ridícula a dizer aquelas coisas mas no fundo, para mim, faziam sentido.

- Tu fugiste dele. - Niall respondeu.

- Não foi dele, foi do sufoco de não ter o que fazer ou com quem falar - suspirei.

- Ficarias lá por ele, se tivesses outras condições? -

- Talvez, quer dizer.. não.. Não sei - desisti.

- Dá mais uns dias, mais dois dias no máximo. Precisas de repor as ideias e recuperar as tuas forças caso seja preciso fugir. Então voltas à base, apenas para confirmar se eles ainda lá estão. Mas, eu vou contigo. - Ele disse abrindo os olhos e lançando-me um sorriso simpático, como sempre.

Concordei com ele e eventualmente acabamos por, mais uma vez, cair em assuntos aleatórios sobre a lei e a lógica da vida.

O resto da manhã, ou tarde, foi passada no rio. Niall tentava ensinar-me a apanhar o peixe mas eu acabava sempre por deixar os animais fugir ou tropeçar numa rocha e cair. A um certo ponto toda eu estava encharcada e no mesmo estado estava Wood, que não se ficou a rir depois da terceira queda, apanhando um dos maiores banhos da sua vida.

O banho foi tomado num pequeno riacho que havia ali perto, um afluente do grande rio que corria entre montanhas, de águas límpidas.

Em todos os momentos dessa tarde eu só conseguia pensar no quão longe da realidade aquele lugar era, e de como Niall se tinha tornado tão puro de todo aquele contacto com a Natureza.

Eventualmente chegou o por do sol, e deu-se inicio à tenebrosa noite. Os meus pés e mãos começaram a gelar pela ausência do sol e foi nesse momento que soubemos que tínhamos de regressar à sua casa. Aquele serão foi iniciado mais ou menos como a noite anterior, com a diferença de que Niall achou que devia ligar a lareira, ainda que eu tenha insistido para que ele não o fizesse, o loiro tinha-me contado que o tinha deixado de fazer há uns tempos pois tinha medo que o fumo da mesma chamasse a atenção e descobrissem o seu cantinho. A verdade, é que a lareira acesa deixava a casa muito mais quente, e juntamente com o chá que ele, mais uma vez, fez faziam todo o clima bastante acolhedor.

Niall estava novamente deitado no meu colo a receber festinhas, e pelo que entendi aquela era a sua nova posição favorita.

- Rosie.. - ele chamou-me depois de um curto período de um silêncio confortável. Assenti para que ele prosseguisse. - Posso desabafar uma coisa contigo? - pediu.

- Claro - sorri simpática e dei-lhe um pequeno carinho na testa fazendo-o fechar os olhos.

- Quando eu vim para aqui estava totalmente perdido, a minha mãe tinha falecido e não restava mais ninguém da minha família então eu fiquei apavorado e fugi para aqui antes que a proteção de menores me apanhasse e me levasse para um orfanato, se sempre houve coisa que me apavorou foi ficar dependente de algo ou de alguém, preso a alguém. Principalmente alguém de quem eu não gostasse... - Niall continuou.

E assim ficamos por umas boas horas, ele a contar-me todo o processo de como foi ali parar e de todo o seu processo de adaptação que foi bastante complicado. Descobri que antes de ir para aquele lugar Niall sofreu imenso, o seu pai, que desapareceu quando o mesmo tinha 13 anos costumava abusar e bater no rapaz, somente por ele não crescer e ter sido sempre o mais baixo e quieto dos amigos. Então eventualmente o pequeno loiro acabou por se tornar paranóico e sempre que ouvia alguém gritar, com ele ou com alguém perto dele entrava em pânico e chegava inclusive a ter ataques de asma. Envergonhadamente, confessou-me que num certo ponto da sua vida, pouco antes do inicio da guerra, ele costumava ir a uma vila ali perto ter com Liam, um rapaz mais velho que ele que era demasiado curioso e acabou por descobrir Niall a tomar banho no rio. Vi o mesmo derramar uma lágrima quando mencionou o outro rapaz.

- Ele já deve estar morto por esta altura, ele era muito inocente.. Não via maldade em nada -

Foi o que Niall disse no meio de um ligeiro choro, talvez ele gostasse mais do tal rapaz do que pensava.

Eventualmente chegou a conversa que eu menos queria, outra vez o tema de eu partir.


- Tu tens a certeza que queres mesmo ir? - Ele perguntou, ainda de olhos fechados.

- Certezas não tenho de nada- suspirei - Mas sinto que é o melhor.

- Mas vais voltar? - Ele perguntou abrindo por momentos os olhos lançando-me um olhar esperançoso.

- Eu espero que sim - sorri-lhe. - Mesmo que já não esteja lá ninguém, e que a guerra tenha realmente acabado eu volto, até arranjar uma solução ou até as coisas tomarem algum rumo, ou a cidade cair no abandono.- disse continuando com os carinhos nos seus cabelos.

- E se ainda lá estiverem.. e se alguém te vir? E se Styles te vir? Por muito que eu vá eu não tenho nem um terço da força deles. - ele disse e eu parei com os carinho fazendo-o abrir os olhos repentinamente.

- Ni, eu quero que me prometas uma coisa, e só nessa condição te deixo ires comigo. - disse e ele concordou com a cabeça - Se algum soldado aparecer, sendo Styles ou não.. foge, só foge. Não me puxes ou fiques comigo, eu não posso correr o risco de te ver morrer.

- Mas e se morreres tu Rosie? E se eles te apanharem?- ele disse com os seus olhos piedosos.

- Então teremos de deixar o destino fazer o que ele faz melhor - Disse dando-lhe um pequeno beijo na testa e levantando-me do sofá para me ir deitar.

Seriam dias compridos.

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