"A vida já é curta, mas nós tornamo-la ainda mais curta, desperdiçando tempo." -Victor Hugo
[Arabella]
Não dormi muito bem durante a noite, enquanto eu rolava na cama de um lado para o outro, imagens estranhas invadiam minha mente. Eu estava em uma rua deserta e corria de algo ou alguém, nunca chegava a ver pois meu coração disparava furiosamente dentro do peito e eu acordava na hora.
Acordei pouco disposta, mas me animei ao lembrar que hoje eu sairia de casa. Peguei as muletas que estavam perto da cama e me dirigi até guarda roupas. Escolhi um vestido claro com estampa de flores azuis e uma sapatilha preta, literalmente uma, já que eu só conseguia calçar o pé que estava bom.
Fiz minha higiene pessoal no banheiro, e segui mancando para a cozinha. Encontrei Cecília na cozinha preparando o café da manhã, cumprimentei-a e me sentei em uma cadeira em volta da grande mesa.
Cecília respondeu com um largo sorriso e continuou o que estava fazendo. Conversamos por alguns minutos até que ouvi passos se aproximando e olhei para fonte do barulho e deparei-me com Miguel.
-Parece que alguém realmente está empolgado. Até levantou cedo! -ele sorriu, cumprimentou Cecília, beijou minha bochecha e sentou-se ao meu lado.
Cecília pôs a mesa e sentou-se no lado vago ao meu para nos acompanhar durante a refeição.
Depois de comermos, terminamos de nos aprontar e Miguel ajudou-me a entrar no carro. O trajeto não demorou mais que vinte minutos, já que tivemos a sorte de não pegarmos nenhum congestionamento. Durante todo o caminho fiquei observando a cidade passar pelo vidro do carro, e ao mesmo tempo que achava um tanto desconhecido o cenário que via, um certo sentimento de familiaridade se compelia dentro de mim.
Miguel cumprimentou o porteiro da empresa que aparecia em nossa frente, e parou o veículo no estacionamento privativo da mesma. Ele ajudou-me a descer do carro e seguimos num ritmo um tanto lento para dentro do grande prédio que ostentava uma grande faixada que exibia o nome "West Comunicações" em letras elegantes.
Caminhamos por alguns corredores e Miguel cumprimentava seus colegas de trabalho com um bom dia e algumas vezes com um tapinha no ombro das pessoas. Vi que muitas pessoas ao me ver, me observavam com um leve assombro enquanto o faziam de maneira nada discreta. Ouvi alguns burburinhos, mas não liguei e continuei andando.
Algumas pessoas chamavam meu nome em um cumprimento, e mesmo sem saber quem eles eram retribuí o gesto.
Ouvi alguém me gritar e quando me virei para me certificar quem era, vi Rafael acenando de forma sorridente ao se aproximar de nós.
-Bom dia, Arabella, bom dia Miguel. Mas que surpresa vê-la tão cedo por aqui.
-Bom dia, Rafael. Não pude ficar por mais um minuto presa naquela casa, então gentilmente, esse bom homem ao meu lado se dispôs a fazer um tour comigo pela empresa em que trabalhamos.
-Hum, está bem humorada pelo que vejo. -ele comentou com certo espanto em meio um sorriso.
-Um milagre de natal, não é mesmo? -perguntou Miguel sorrindo.
-Com certeza. -Rafael riu. -Foi bom vê-los, mas tenho que ir trabalhar. Tenham um bom dia.
-Você também. -respondi.
Conheci a sala de Miguel, na qual ele trabalhava sozinho pois não a dividia com ninguém, diferente de alguns de seus colegas de trabalho. Fui apresentada aos seus amigos, e posso dizer que gostei de cara da maioria deles.
Passei a tarde observando Miguel trabalhar e aprendi bem rápido muita coisa que ele estava me ensinando. Era um trabalho muito detalhado, mas eu havia gostado, é o tipo de coisa que te desafia a fazer melhor a cada vez mais, se superar.
Miguel pediu nosso almoço e comemos em sua sala mesmo. No fim do dia quando estávamos indo embora, o chefe de Miguel nos encontrou no corredor que levava a saída. Ele ficou surpreso ao me ver por ali e perguntou com eu estava e tudo mais. Disse que eu poderia voltar ao trabalho assim que quisesse e me sentisse melhor. Agradeci por suas palavras e nos despedimos.
No caminho de volta para casa Miguel recebeu uma ligação, que ele deixou chamar até cair na caixa postal até que estivesse parado para atender o celular. Quando estacionou em sua garagem ele deu a volta no carro e ajudou-me a descer. Já em pé do lado de fora, ele puxou o aparelho do bolso e discou um número e aguardou a chamada.
Ele abriu a porta e esperou que eu passasse e entrou logo em seguida com o celular ainda na orelha.
Poucos segundos depois, um homem alto de cabelos escuros e olhos maravilhosos apareceu em nosso campo de visão com um enorme sorriso, e eu pensei, que homem bonito!
-Quem é melhor e mais bonito advogado desse país? Isso mesmo, euzinho aqui. -ele sorriu e estendeu os braços abertos de forma exibida.
-Na parte do bonito eu até concordo, mas quanto a competência fica a questão. -eu ri e ele se aproximou de nós.
-Pensei que você só chegaria amanhã. -disse Miguel.
-Tive o dia livre hoje e pensei em adiantar essa parte. -ele fez pouco caso. -Bella, minha querida como vai? -o cara passou seus braços ao meu redor de maneira a me abraçar.
-Eu vou bem na medida do possível. -respondi e fui me sentar no sofá pois não aguentaria permanecer por muito tempo em pé.
O cara bonitão se sentou a meu lado e Miguel se jogou ao lado dele no sofá. Ele emoldurou meu rosto em suas mãos e me olhou com um sorriso galante.
-Apesar das circunstâncias, devo ressaltar que você continua lindíssima, e me sinto muito sortudo por apreciar por mais uma vez sua beleza. -ele me encarou com seus hipnotizantes olhos verdes.
-Você não vai começar a flertar com Arabella na minha casa e na minha frente, não é ?! -Miguel perguntou em uma mistura de tom entre indignado e exausto, como se já esperasse pelo ocorrido.
-É claro que sim, irmãozinho. Você sabe que eu vivo para isso, se não o fizer, perco o propósito na vida, e isso seria uma grande perda para o mundo, tenho que dizer.
-Quando é que você vai tomar um jeito, Maurício? -Miguel suspirou.
-Um dia irmãozinho, um dia. -ele riu.
-Bom, você já se acomodou? Há quanto tempo chegou? Eu não atendi sua ligação porque estava no trânsito, mas estava te retornando agora mesmo.
-É eu vi. Eu estava te ligando só para avisar que estava chegando, como você não estava em casa Cecília me mandou entrar e fez um lanchinho para mim.
-Ah, sim. Como foi a viagem? -Miguel perguntou.
-Bem tranquila, mas eu estou bastante cansado. Espero que não se importem por eu não me ajuntar a vocês para o jantar. Quero deitar mais cedo, descansar e ter uma longa noite de sono.
-Tudo bem, relaxa, cara. Dorme um pouco e amanhã nos falamos. -disse Miguel.
-Claro. -Maurício se levantou. -Bella, minha linda, tenha uma boa noite de sono. -ele me abraçou e me deu um beijo no rosto.
Por que é que esse povo adora ficar me beijando? Ainda bem que eles são lindos.
-E sonhe comigo. -ele piscou.
-Boa noite, Maurício. -joguei um beijo no ar enquanto ele se afastava rumo ao corredor e desaparecia de nossas vistas.
Depois de ter tomado um banho e vestido um a roupa mais confortável fui para a cozinha. Eu e Miguel conversamos sobre o que havia acontecido durante o dia enquanto jantávamos, também perguntei a ele sobre o advogado. Quis saber da onde ele era, quem ele era, e o que estava fazendo aqui.
Miguel respondeu uma coisa e outra e começou a retirar a mesa quando havíamos terminado a refeição. Eu me levantei e o segui até a pia.
-Deixa que eu lavo. Da outra vez foi você, agora sou eu. -me apoiei na pia.
-Tem certeza? Você pode se cansar se ficar tempo de mais em pé.
-Eu tô legal, sério.
-Então tá. -ele disse e foi se sentar em banco que estava perto do balcão.
Assim que terminei de lavar toda a louça, Miguel estendeu o pano de prato para mim. Sequei minhas mãos e fui para o quarto com ele em minha cola.
-Você vai me perseguir toda vez que eu vier para o quarto? Eu já consigo me virar sozinha, com as muletas é bem mais fácil. -eu apontei para elas.
-Gosto de te perseguir. É meio que um hábito. -ele riu.
-Tudo bem. -me sentei na cama e coloquei as muletas encostadas na parede ao lado.
-Gosto de monopolizar seu tempo. -sorri.
-Gosto de estar com você. -ele também sorriu.
-Boa noite, Thor. -eu o abracei quando ele se aproximou, beijei seu rosto e o observei me olhar com surpresa.
Pisquei para ele e ele sorriu em resposta.
-Boa noite, Bella. -ele também beijou o cantinho da minha boca. Arqueei as sobrancelhas e ri.
Ele saiu deixando-me sozinha, apaguei a lâmpada do quarto e me afundei entre os lençóis.
***
No outro dia, Maurício se juntou a nós durante o café da manhã, comemos e conversamos e eu me sentia especialmente curiosa nessa manhã e fazia muitas perguntas. Miguel foi para a empresa e Maria chegou lá pelas nove da manhã. Vesti uma roupa mais adequada, fomos para a sala e começamos a fazer exercícios para o fortalecimento dos músculos da perna.
Maurício nos acompanhou durante a tarefa sentado no sofá e de vez em quando fazia algumas piadinhas quando eu reclamava de dor ou cansaço.
A tarde Maurício saiu para resolver algumas coisas e eu aproveitei para tirar um cochilo, já que Maria tinha sido bem mais exigente nas tarefas hoje.
Depois do jantar, Miguel, Maurício e eu nos reunimos na sala para discutirmos a respeito do caso que Maurício estava trabalhando.
-Bom, como vocês sabem, o julgamento será dentro de uma semana. -começou Maurício. -E posso afirmar que não haverá complicações durante o processo. Na verdade, andei revisando o caso é vai ser bem fácil ganharmos a causa. Temos provas suficientes para uma acusação de tentativa de homicídio, com mais de quinze testemunhas que se dispuseram a testemunhar, além de vídeos de segurança de estabelecimentos próximos que registraram o ocorrido.
-Um excelente trabalho, fico feliz. -disse Miguel.
-Você contratou o melhor, irmão. -Maurício respondeu com uma piscadela.
-E o que eu tenho que fazer exatamente? -perguntei querendo saber aonde eu me encaixava nisso tudo.
-Você, meu amor, só precisa levar esse lindo corpinho e comparecer durante a audiência. O resto do trabalho é comigo. -Maurício sorriu.
-Só isso? Acho que não vai ser difícil. -pisquei para ele.
-É assim que se fala, gata. -ele bateu a palma de sua mão na minha.
-Ai, eu mereço, vocês dois querem parar com isso, pelo amor de deus?! -Miguel bufou.
-Com ciúmes, irmãozinho? -provocou Maurício.
-Ele sabe que não precisa ficar assim. -passei os braços ao redor da cintura dele. -Não é mesmo, Thor? -entrei na gozação.
Quando estiquei o pescoço para dar-lhe um rápido beijo na bochecha, ele virou o rosto e acabei acertando seus lábios em cheio. Tentei recuar com o susto, mas ele não permitiu e puxou-me com o braço fazendo com que nossos corpos se tocassem lado a lado. Ele riu da minha surpresa e descaradamente piscou para mim.
-Ei, ei, ei, eu já entendi cara. Tudo bem, ela é sua, já entendi o recado. -Maurício debochou.
-Eu acho que vou me deitar, é muita testosterona em um mesmo ambiente. E vocês dois são uns bobos. -eu ri e me levantei do sofá.
-Ah, vai não, amor. Ainda é cedo. -Maurício disse sedutor.
Miguel jogou uma almofada em sua direção, mas ele se desviou a tempo e riu da cara do amigo.
Segui rumo ao corredor onde ficava os quartos de hóspedes e ainda pude ouvi-los falar mais uma vez.
-Boa noite, Bella. -disse Miguel.
-Boa noite, gatinha. Se precisar de algo saiba que eu estou no quarto ao lado. -disse Maurício.
Ouvi Miguel dizer alguma outra coisa, mas não consegui compreender. Entrei no quarto, vesti um pijama e joguei-me sobre a cama. Minutos depois eu estava mergulhada na inconsciência de um sono profundo.
Hi, people! Saudações terráqueos, tudo bem por aí? Então tá bem. Não esqueça de deixar sua estrelinha e seu comentário, tá bem? Então é isso. Que a força esteja com você ;)
Beijos borrocados de batom 😘😘