Escuto o alarme tocar, reviro os olhos mentalmente, Lucca não podia acordar mais cedo não? Levanto enquanto me arrasto, coloco a primeira calça jeans e blusa de manga comprida que encontro. Passo uma água no rosto.
Acordei.
Na sala Angêla e Lucca já estão prontos com as malas a postos. "Nem um café da manhã?" digo resmungando, não estou nem um pouco ansiosa para ver Lucca partindo meu coração e partindo sentido Alemanha. L aponta para o balcão, "Seu preferido. Não posso negar que tomei um gole, tive que aprender a gostar disso" um chocochip gelado me esperava como café da manhã, "Não acredito que vocês vão embora" digo fingindo choro enquanto agarrava minha bebida preferida.
"Não vai se despedir?" Jenna aparece na boca do corredor vestida com seu roupão de grávida, sua barriga de 7 meses já estava enorme e seu sorriso parecia ficar maior a cada dia. "Eu gostaria de estar aqui para vê-la nascer" Luc diz enquanto acaricia a barriga de J. "Você também acha que é uma menina?" "Jake tem cara de pai que se veste de princesa junto com a filha, e você tem cara de que a leva para lutar karatê" ele diz sério "Isso foi o melhor elogio para mim até agora" diz Jen rindo, "Nós sentiremos sua falta, ninguém mais fará as compras no supermercado para S" Jake diz me olhando, "Muito engraçado" digo fingindo revirar os olhos.
"Vamos?" diz Angel ansiosa, imagino que para ela, mais do que qualquer um, sua necessidade e vontade de sair daqui seja enorme. "Vamos" digo enquanto engancho meu braço no seu.
***************************
"Como pode o aeroporto estar tão cheio logo de manhã?" pergunto a mim mesma, pensando alto enquanto espero L e sua mãe fazerem todo o procedimento necessário antes de entrarem na sala de embarque. "Toda a população que acordou antes da três horas da manhã está aqui, eu tenho certeza. O resto lá fora ainda dorme." digo ainda em voz alta, pensando e perplexa.
"Tudo bem?" diz L saindo do guichê da sua companhia aérea, "Tudo certo" digo ainda com a voz de alguém indignada. Eu nunca viajei muito, todo o tempo livre em casa da família era tomado com eventos da prefeitura e da cidade. "Viajaremos na primeira classe" diz Angêla olhando orgulhosa para o filho, "Eu nunca imaginei ficar tão feliz de sair do país. Fico mais feliz ainda de levar Luc comigo. Você acredita Serena?" beijo o ombro cansado de A, "Acredito sim" digo baixo e feliz por ver o sonho se realizar.
"Eu nunca viajei de avião" ela diz no ouvido de Lucca, "Dói?" ela me olha também perguntando, "Você mal vai perceber, são apenas nove milhões de quilômetros de distância" digo rindo "Agora ajudou" L responde batendo no meu ombro ironicamente e rindo, "São 11 horas de voo, dá para ver uns cinco filmes" digo sorrindo, tentando melhorar o humor ansioso de Angel, ela me olha cansada "Não melhorou"
"O portão de embarque de vocês é aquele ali" digo apontando para a fila com atendentes sorridentes e passageiros inquietos. "Então.. depois que eu passar por aquele portão já era?" L me pergunta, "Não, fica tranquilo, você não morre depois de passar por ali. As chances são maiores depois que você entrar no avião" "Você tá engraçada demais" preciso ser, se eu ficar séria posso começar a pensar sobre o por quê estou aqui, e definitivamente não quero chorar, penso mas não digo apenas sorrio.
"Vocês precisam entrar, não vão querer perder o voo, vão?" os olhos de Angel saltam e eu rio de sua reação, "então eu vou.." L diz caminhando em direção, ele para na entrada da fila, eu vou atrás. Me despeço de Angêla, minha grande mãe, grande mulher.
Sinto a mão de Lucca no meu braço.
Dou um beijo na sua testa, peço a Deus mentalmente para protege-lo. Dou um beijo em seus lábios, peço a Deus mentalmente para guiar sua boca para alguém que mereça ouvir sua voz cantada. Dou um beijo em seu peito, peço a Deus mentalmente para abrir seu coração e afastar qualquer mal que interromper a caminha maravilhosa que ele faz. Encostamos nossas testas, não dizemos nada, ás vezes as palavras são gananciosas demais para querer que bastem.
"O pôr do sol é o final do dia. Vê se você consegue ver o nascer do sol no avião, não por mim. Mas por quem você foi depois do 'nós' " digo limpando a lágrima que cai de seus olhos. Ele não diz mais nada, quer que nosso capítulo termine assim.
Então, que assim seja.
Repito mentalmente.
O pôr do sol é o final do dia. Vê se você consegue ver o nascer do sol no avião, por mim. Por nós. Um recomeço do dia, afinal.