Tudo Pela Reportagem

By mariiafada

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PLÁGIO É CRIME - Todos os direitos reservados a Maria Augusta Andrade © Não autorizo qualquer reprodução ou u... More

Prólogo.
Primeira parte.
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Segunda Parte.
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!!!!!100 MIL F*CKING VIEWS!!!!! ❤️
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31 (Pra quem não está conseguindo ler!!)
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42. [Final]
Epílogo.
Agradecimentos.
Capítulo Bônus (1)
Booktrailer <3
Se você gostou de TPR, vai gostar de Morde e Assopra também!
Capítulo Bônus da Gabi! Yey!

41.

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By mariiafada

Os dias até a terça-feira foram quase superficiais, passaram muito depressa, como em um piscar de olhos. De repente o final de semana acabou e eu voltei ao trabalho. Na segunda-feira, o instrutor de paraquedas me levou para um centro de treinamento e me ensinou tudo o que eu precisava saber para ter um bom salto. George, o instrutor, não praticava mais o esporte em si, porém quando era chamado dava aulas de salto de paraquedas a iniciantes. Ele era de fato um ótimo e paciente professor, pelo final da tarde eu estava preparada para um salto de emergência.

Já pela noite, eu me preparava em casa para o próximo dia, tentando relaxar e ficar calma. Mantive-me rodeada pelos meus amigos, desejando no fundo que mais uma pessoa estivesse ali conosco. Foi a primeira e última vez que pensei nele na segunda-feira. Eu estava rindo de algo que Lele comentara e desejei que Homero pudesse ouvir o comentário também, porque ele com toda a certeza acharia graça. Depois, tratei de tirá-lo da minha mente.

Então... PUF! Eu estava no batente da World Slender, pronta para pular, gritos dos homens de Slender ao meu redor, gritos do próprio Slender, que me mandava voltar para o terraço e deixar de ser ridícula. Ele não sabia sobre o paraquedas.... Mas espera. Eu ainda não cheguei nessa parte. Vocês ainda precisam entender como eu fui parar lá. Afinal, a ideia toda desse relato era contar como cheguei até lá. Porque, é claro, algo do plano deu errado.

*

A vã preta do FBI estacionou no Central Park a alguns metros da World Slender. Fiona estava no computador, falando o tempo inteiro com os snipers, que já se preparavam em suas posições. Rivers estava ao meu lado, tamborilando os dedos na perna, talvez até mais nervoso do que eu. Mike e Joey tinham me desejado boa sorte mais cedo naquele mesmo dia, eles monitorariam a operação de um escritório do FBI.

Isaac entrou na vã vestindo seu uniforme de eletricista e um boné vermelho para combinar. Eu engasguei numa risada e ele estreitou os olhos para mim.

– Não ria do meu disfarce!

– Eu não estou! – defendi-me incapaz de conter o sorriso.

Isaac ignorou aquele detalhe e me mostrou um aparelhinho preto menor que um botão, macio e delgado.

– Esse é o "ponto" por onde vamos nos falar – ele começou a explicar. – Assim que você estiver no terraço, eu vou cortar a luz e cinco minutos depois apareço como o eletricista. Eles tem um sistema automático para ligar o gerador, mas ele também vai falhar. Levou horas descobrindo essas coisas mas valeu a pena, o sistema de proteção deles é ridículo – Isaac desdenhou com divertimento, colocando o ponto no meu ouvido e escondendo-o com o meu cabelo. – Quando o gerador não funcionar, o sistema estará preparado e ligará também automaticamente para a empresa que cuida do serviço de eletricidade deles, que por acaso não é só a da prefeitura, e sim uma empresa particular. E é aí eu entro e cuido de tudo.

– É, acho que dessa vez eu posso dizer: Eu amo você, seu geniozinho. – admiti, maravilhada com o plano detalhado do meu hacker.

Isaac ficou vermelho feito um tomate.

– Mas eu continuo sendo só como uma tia para você – apressei-me em acrescentar ao ver o rosto corado dele.

– Tudo bem, eu já entendi – ele enfatizou, depois sorriu. – Titia.

– Mas não me chame assim, me sinto velha!

– Lizzie, você não pode ficar nervosa! – Rivers falou de repente, me assustando. O homem suava frio como eu nunca vi antes.

Eu ri e franzi o cenho.

– Não estou nervosa.

Aquilo era uma grande mentira. O nervosismo se instalou debaixo da minha pele desde o dia anterior, mas eu sabia como camuflá-lo e domá-lo. Rivers claramente não obteve sucesso em fazer o mesmo.

– Não está nervosa? – ele arfou, mas concordou e assentiu, tentando conter-se. – Hum, tudo bem. Claro, é aceitável. Mas... É uma altura impressionante da qual você vai saltar.

Talvez eu salte, só se tudo der errado – frisei. – Relaxa, Rivers. Eu sou expert em lidar com as coisas quando elas dão errado.

– Eu estou relaxado! – Rivers rebateu ofendido e foi para o outro lado na vã.

– Aqui está sua mochila, Liz – Tora se aproximou de mim com a mochila do paraquedas, um disfarce para Slender não perceber o que eu estava planejando. Era verdade que as mochilas não costumavam ter amarras na cintura como a minha tinha, mas continuava sendo a melhor ideia.

– Obrigada.

Com a ajuda de Tora coloquei a mochila, ela era mais pesada do que realmente parecia. Tora sorriu para mim e checou as horas.

– Está na hora de você ir.

Respirei fundo e olhei para todos os presentes que me ajudaram naquela operação, em especial os meus hackers: Isaac, Tora e Fiona. Em pouco tempo eu criei um carinho tão enorme por aqueles adolescentes, que para mim ainda eram como crianças.

– Bem, gente, foi um prazer trabalhar com todos vocês.

– Não, sem despedidas! – decidiu Rivers balançando a cabeça enfaticamente. Ele foi sucinto e direto: – Nos vemos daqui a pouco, os snipers te darão cobertura total e estaremos falando com você pelo "ponto". Lizzie, lembre-se que você tem uma arma no bolso interior do seu casaco. Não tem como nada dar errado. Nada. Então, mantenha-se ao plano.

O agente abriu a porta da vã e me deixou pular para fora.

– Arrasa, Lizzie! – Rivers desejou por último. Aquela frase saindo de sua boca pareceu tão errada, estranha e otimista que me fez rir. A porta se fechou e a vã partiu, começando suas voltas ao redor do parque.


Caminhei pelos quarteirões que faltavam até a sede da World Slender, com os passos tranquilos e a mente pacífica. É claro que estava nervosa, mas soube controlar o sentimento e me manter calma.

Testando, testando.... Lizzie, pode me ouvir? – era Isaac falando pelo "ponto".

– Sim, eu posso ouvi-lo perfeitamente.

Desviei de uma mulher cheia de sacolas que passava por mim apressada e continuei o caminho. Ergui a cabeça e consegui ter um belo vislumbre da World Slender brilhando com seus vidros escuros e aço cromado. Era só virar a esquina e estaria a poucos metros da entrada.

Vamos continuar testando o sinal. Pode me dizer, sei lá, o que está vendo?

– Estou vendo... Ah! Vejo um homem incrivelmente alto e másculo comendo algodão doce rosa, o que é engraçado, e ao seu lado há uma garotinha de cabelos trançados – estreitei os olhos para enxergar melhor o homem a e garotinha parados do outro lado da rua, mas a minha atenção foi desviada. – Agora estou vendo uma babá passeando com gêmeos ruivos! Eles são lindos... – eu acompanhei os três com a cabeça virada, sem querer desgrudar os olhos dos gêmeos. Virei a esquina e girei a cabeça para frente. – Tudo bem, agora estou vendo... o Homero!

E foi nesse exato momento que o meu plano começou a dar errado.

– Como é que é? – Isaac estranhou.

Assim que ouviu seu nome, Homero, que estava de costas para mim e falando no celular, se virou com as sobrancelhas erguidas em surpresa. Ele guardou o celular na mesma hora. Meu coração acelerou.

– É o Homero. Droga. Droga. Droga! Isaac, isso não estava no plano... O que eu faço?

– Só... Espante-o, mande-o embora! – instruiu Isaac. – Não o deixe subir com você ou será um desastre. Desastre!

Eu continuei parada feito uma estátua de olhos esbugalhados, enquanto Homero se apressava na minha direção. Seu rosto e a expressão nele já me contavam o que suas palavras diriam segundos depois. Ele estava arrependido. E isso, em vez de amolecer meu coração, só me deixou mais furiosa.

– Lizzie...

– Não! – eu rugi. – Não quero ouvir. Não quero falar com você.

– Eu sei, você tem todo o direito do mundo de estar com raiva.

Eu gargalhei bem alto, espumando de ódio.

– Você é um imbecil – acusei e lhe dei um empurrão. Gostei de empurrá-lo e fiz de novo. – Um babaca, o mais idiota dos idiotas. Você foi embora, quando eu implorei para que ficasse... Quem no mundo faz isso?!

Homero não me impediu de machucá-lo. Ele só queria a minha atenção.

– Eu sei, eu sei. Você tem toda a razão, eu sou mesmo e me odeio por isso. Você não faz ideia.

– Ah, mas eu faço! Eu faço, porque agora, nesse momento, eu te odeio tanto... Não toca em mim! – eu me afastei das suas mãos com fúria nos olhos. – Eu não sei o que você está fazendo aqui, então presta atenção: Quero que vá embora, porque não vou permitir que estrague o meu plano, entendeu? Não me importa se você surtou e me deu as costas, não importa que esteja arrependido, nada disso importa mais. Você destruiu algo para o qual não há conserto, então vai embora e some da minha frente.

Homero se calou e engoliu em seco.

– Não posso ir embora – ele disse calmamente.

Eu vou aí chutar a bunda desse cara se ele não for embora – Rivers falou no meu ouvido.

– Não se preocupe, eu vou fazer isso por você – retruquei em resposta.

– O quê? – Homero questionou sem entender.

– Só vai embora – eu demandei. Olhei as horas no relógio: três minutos atrasada! – Por favor, vai embora.

– Eu não posso, Lizzie. Slender exigiu a minha presença aqui.

Eu quis cobrir o rosto com as mãos e gritar de frustração o mais alto que eu conseguia. Por que as coisas não podiam seguir como eu tinha planejado só uma vez?!

– Desde quando você obedece as ordens dele? E para que Slender precisa de você? – forcei-me a perguntar pacientemente.

– Ele quer que eu... – Homero suspirou, como se soubesse que eu não gostaria nada daquilo. – Ele quer que eu acompanhe você até o terraço.

Não, não, não – Isaac protestou no nosso "ponto" compartilhado. – Ele vai estragar tudo!

Diga que vai entrar lá sozinha – recomendou Rivers. – Seja teimosa, isso não é algo difícil se tratando de você.

Homero e eu nos encaramos por longos minutos. Eu precisei sufocar todo o ressentimento que oprimia o meu peito e pensar no melhor para a operação. Eu não queria aborrecer Slender, tinha que aceitar seus termos para assim mostrar que não estava interessada em mais nada além de entregar o cartão de memória, fazer a troca e seguir a minha vida.

Aproximei-me de Homero, meu rosto ficando a centímetros do seu.

– Se você fizer qualquer coisa que estrague minha operação...

– Não vou – ele prometeu. – Eu mereço sua raiva e todo seu rancor, Lizzie. Eu sei disso. Mas você antes de qualquer um sabe o que eu estou sentindo. Porque você tinha razão, eu também estou traumatizado e quando tudo isso acabar...

Quando tudo isso acabar eu pretendo nunca mais ver a sua cara novamente – cortei-o de uma maneira fria e cruel. – Se você vai me acompanhar, vamos logo.

Sem esperar para ver a decepção nos olhos azuis límpidos de Homero, dei-lhe as costas e andei até as portas giratórias da World Slender, sabendo que ele me seguiria.

*

A tensão entre Homero e eu era tão intensa que parecia quase sólida, como um bloco de gelo entre o espaço que dividíamos no elevador.

– Estou no elevador – informei a Isaac. – Se prepare para agir.

– O quê? – o homem ao meu lado perguntou, provavelmente achando que eu me dirigia a ele.

– Estou com um "ponto" no ouvido, não é com você que estou falando – expliquei sem muita paciência.

Estou preparado! – garantiu Isaac.

– Elizabeth... – Homero começou.

– Vou pular do prédio – eu anunciei girando o corpo na direção do dele. – Eu vou pular do prédio e achei melhor avisar logo, para que você não pense que estou cometendo suicídio ou sei lá. Eu tenho um paraquedas e vou usá-lo se a operação der errado. Então, não diga que eu não avisei: Se a situação ficar perigosa, vou saltar do prédio, é a maneira mais rápida e segura de sair de lá.

Homero ficou lívido.

– Mas...

– E você perdeu o direito de opinar nas minhas decisões quando decidiu que "não conseguia mais fazer isso", me deu as costas e foi embora.

Foi como ter dado um tapa em seu rosto. Homero ficou em silêncio, assentindo no modo automático. E, sinceramente, eu não me senti nem um pouco culpada de tratá-lo daquela maneira.

– Tudo bem, então – ele murmurou.

– E se alguma coisa acontecer não faça nada estúpido – adicionei. – Como se jogar na minha frente e receber uma bala que era pra mim... Esse tipo de coisa.

– Não sou seu Superman, saquei.

– Exatamente.

O elevador estava se aproximando do último andar. Homero abriu a boca para falar algo, mas desistiu quando as portas se abriram. Eu saí primeiro, parando no meio de salinha fechada, abafada e mal iluminada.

– Isaac, é com você. – anunciei. – Não estou mais no elevador.

Okay, vamos lá. Cortando a luz em 3, 2... 1!

As portas do elevador se fecharam e as luzes já fracas daquele cubículo se apagaram, deixando Homero e eu no mais completo escuro. Respirei fundo e apoiei as mãos na cintura. O peso da mochila incomodava um pouco.

– Caramba, você é rápido... O prédio inteiro apagou?

Sim.

Assenti e encarei o lugar no escuro onde sabia que Homero estava.

– Nós vamos ou não?

– Eu sou só quero me certificar mais uma vez... Você tem certeza que quer fazer isso?

Inacreditável.

– Homero, não desperdice o meu tempo. Eu tenho certeza que quero fazer isso, se você não quer vir, não venha. Agora, se vai entrar comigo naquele terraço, eu preciso saber... Você está dentro ou está fora?

Sem discutir mais ou, ao menos, responder a minha pergunta, Homero passou na minha frente e seguiu pelo caminho que ele provavelmente já conhecia.

– É por aqui – indicou. – E cuidado com os degraus.

Cinco degraus depois demos de cara com uma porta grossa e pesada. Antes de abri-la, ele se virou para mim, seu rosto tão próximo do meu que senti sua respiração quente se misturar com a minha.

– E só para você saber, com você estou sempre dentro. – Homero me segurou pela nuca e roubou um beijo meu.

Antes que eu pudesse afastá-lo, ele já tinha me soltado e puxado a porta, que se abriu depois de um esforço considerável, revelando um terraço amplo e uma ventania como eu nunca tinha visto antes. Os primeiros detalhes a me chamar a atenção, definitivamente, foram os vários homens trajados de preto, formando uma linha atrás de Slender. Deveriam ser ao todo vinte, provavelmente armados.

Que ótimo, ele trouxe a turminha inteira.

Marco Slender estava em pé, em sua postura altiva e elegante como sempre. Assim que me viu ele abriu um sorriso e ergueu as sobrancelhas grisalhas.

– Está atrasada, querida.

Meu coração falhou uma batida.

Boa sorte, Lizzie – Rivers desejou.

Reuni bravura e passei por Homero, entrando no terraço e sendo atingida pelas fortes rajadas de vento gelado. Não me encolhi, pelo contrário, ergui o queixo e caminhei na direção de Slender. Parei a menos de meio metro dele.

– Parece que você teve problemas durante a semana – Slender comentou com um toque de maldade, seus olhos no meu pescoço azulado. – Sinto muito por isso.

Não, você não sente.

Estou entrando no prédio – avisou Isaac. A partir daquele momento dividi a minha atenção entre a conversa dele com os funcionários da World Slender e a minha conversa com o dono dela.

– Sim, ocorreu um imprevisto – admiti sem me abalar. – Jill Tretton bem que tentou me estrangular, mas acabou morto com três tiros no peito. Eu mesma puxei o gatilho

Assim que eu disse isso, um homem tentou passar por Slender e vir na minha direção. O empresário levantou o braço e conteve seu avanço. Zig Tretton, reconheci imediatamente, e tive o impulso de dar passos para trás, mas uma mão nas minhas costas me manteve firme. Olhei sobre o ombro para Homero e agradeci com um olhar. Pela primeira vez no dia fiquei feliz em tê-lo ali.

– Deixe-me matá-la – implorou Zig enquanto segurava o terno de Slender, puxando-o com um desespero quase doentio. Ele parecia acabado, a morte de Jill provavelmente mexeu com seu psicológico. – Por favor, pela memória do meu irmão.

Slender empurrou o homem de volta para trás e ignorou seu pedido.

– Ninguém vai morrer hoje. – ele disse cada palavra olhando para mim, seus olhos cinzentos sem perder um mínimo movimento meu. – Não é mesmo, Lizzie?

Estou na sala dos Servidores. Uau... É bem bonita – Isaac estava falando no meu ouvido. Houve um barulho e ele ficou em silêncio. Ninguém vai morrer hoje. Meu coração desceu até os joelhos e eu precisei me controlar para não chamá-lo em voz alta. Será que Slender descobriu? Será que ele sabia, tinha feito algo com o garoto?

Não, pelo amor de Deus, não. Isaac, volte! VOLTE!

– Não é mesmo, Elizabeth? – insistiu Slender, estranhando o meu silêncio e a minha expressão vazia. Eu estava lutando comigo mesma para controlar as expressões perto dele. O homem ergueu a sobrancelha. Homero tocou nas minhas costas novamente, como um apoio silencioso.

Ai... Desculpe, Lizzie. Bati o pé numa mesa e deixei o "ponto" cair. Estou bem, voltei. – a voz de Isaac preencheu os meus ouvidos mais uma vez. – Agora vou bloquear as câmeras dessa sala e fazer com que a luz volte para que eu possa trabalhar nos servidores.

Soltei o ar que estava prendendo e sorri aliviada. Ele estava vivo!

– É isso mesmo, Slender, ninguém precisa morrer hoje. – respondi ao me recompor, o coração ainda batendo pesado pelo susto. Jamais me perdoaria se algo acontecesse com o meu hacker.

– Desgraçada! – praguejou Zig, que precisou ser fortemente contido por mais três pessoas.

Estalei a língua, para mostrar que suas palavras não me afetavam.

– Vamos acabar logo com isso ou não? Onde está o cartão de memória? – troquei o peso de perna, mostrando que a minha paciência estava acabando.

Entrei no sistema, vou verificar se ele tem o arquivo do seu vídeo em algum computador – Isaac falou.

– Me mostra o seu que eu mostro o meu – propôs Slender com um sorriso ácido e as mãos dentro da calça do terno.

Puxei um pacotinho plástico do bolso da calça enquanto tirava o cabelo que o vento insistia em levar para o rosto.

– Aqui está! – levantei-o no alto e mostrei.

Obviamente, não era o original e a única cópia do vídeo de Slender confessando seus crimes para Améliè que eu tinha, mas não é como se eu fosse a única ali que estava fazendo aquilo. Slender tirou seu próprio pacote plástico transparente do bolso e balançou no ar como eu fiz. Nós dois sorrimos.

– Homero, seja o nosso mediador, por favor – requisitou o empresário.

Relutante em deixar o meu lado, Homero pegou o meu cartão de memória e caminhou até Slender. Os dois trocaram de cartão no mesmo instante. Entrementes, Isaac soltou um xingamento de surpresa.

Lizzie, você não vai acreditar... – ele perdeu o ar. – Slender colocou uma cópia do seu vídeo em cada computador da empresa.

Engoli em seco e senti pedras na minha garganta.

– Filho da mãe – deixei escapar baixinho.

Homero estava caminhando na minha direção novamente, suas sobrancelhas abaixadas e o rosto sério.

O desgraçado provavelmente achou que invadiríamos um computador só... Esperto, admito. Mas eu sou mais! – Isaac gargalhou, divertindo-se de verdade ao fazer aquilo. – Pronto, estou apagando tudo, sem deixar nada... Chupa, Slender!

Mordi o lábio para não rir. Eu realmente amava aquele hacker. Disse a mim mesma para continuar seguindo com o plano e ficar calma. Estava tudo indo bem até agora, tudo perfeito.

Homero voltou para o meu lado e me entregou o cartão de memória. Forcei um sorriso e agradeci.

– Não se importa se eu testar, não é? – Slender perguntou, já estendendo o braço para receber a câmera de um dos seus capangas.

– De maneira alguma – garanti, feliz por ter insistido em colocar uma cópia do vídeo ali.

Esperei pacientemente, torcendo para que acabasse logo.

Está feito, Liz. Salvei sua pele, depois dessa eu mereço até um beijo! – declarou Isaac. –... um beijo na testa, eu sei. Vou me contentar com isso. Bem, agora eu vou dar o fora daqui.

Slender estava conferindo o vídeo e não parecia muito feliz, provavelmente se lembrando de como eu o fiz de bobo na época. Seu lábio levemente erguido para cima era o único sinal da raiva que sentia, o resto do seu rosto permanecia neutro.

Sim, tudo resolvido, era só um probleminha bobo.. Que é isso, foi um prazer! – Isaac estava se despedindo dos funcionários. Segundos depois ele anunciou: – Senhoras e senhores, eu consegui! Estou andando para longe do prédio, estou são e salvo!

Isso!, comemorei internamente. Isaac estava a salvo. Pude respirar melhor. Tudo bem, logo eu também estaria andando para longe do prédio...

A porta de ferro do terraço se abriu com um estrondo forte e dois homens vestidos exatamente como o restante dos capangas de Slender se aproximaram do seu chefe. Homero segurou o meu braço e apertou, mas nenhum de nós dois se mexeu, apesar de ambos prenderem a respiração durante aquele minuto de tensão.

Marco Slender entregou a câmera para um rapaz ao seu lado e assentiu, confirmando que estava tudo em ordem. Depois, voltou sua atenção para os dois que chegaram por último.

– Aconteceu alguma coisa com o servidor – informou o subordinado de Slender.

Troquei um olhar com Homero e mordi o canto interno da boca. Droga. Droga. Droga.

Continue! – exigiu o empresário, sua voz já beirando a irritação. – O que aconteceu?

– Sumiu tudo, chefe – murmurou o homem. – Os dados, o software, o HD foi completamente limpo. E nós não conseguimos impedir, aconteceu muito rápido...

– Lizzie, vai. – Homero pediu, empurrando-me levemente na direção da extremidade do terraço.

No entanto, eu não consegui me mexer. A partir daquele momento parece que tudo aconteceu em câmera lenta. O olhar cinzento de Slender deslizou na minha direção. Não houve dúvidas, ele sabia que eu era a responsável pelo HD destruído.

Mais uma vez Marco Slender foi enganando por uma jovem jornalista. O empresário empurrou os homens que estavam no seu caminho e gritou. Foi um urro carregado da mais pura raiva que despertou o meu senso de autopreservação. O meu cérebro ordenou uma simples ordem: Fuja!

– Lizzie, VAI! – Homero gritou. Ele empurrou seu padrinho para longe e eu corri na direção do batente, sentindo ânsias ao olhar para baixo, mas mesmo assim passei as pernas e fiquei pendurada para o lado de fora.

– ELIZABETH! – Slender me chamou.

Eu não consegui pular, precisei olhar para trás e ver o que estava acontecendo. Fiquei na ponta dos pés, agarrada ao batente do terraço e os pés escorados nas marcas de relevo da construção. Era tão alto... Porém, nem toda a altura do mundo me daria mais medo do que o terror que senti quando olhei para o terraço e vi que Slender apontava uma arma para a cabeça Homero.

Toda a raiva que senti dele desapareceu imediatamente e minhas mãos quase cederam o aperto no batente. Não, o Homero, não... Slender o segurava pelo pescoço, a mesma posição que Jill me prendera alguns dias atrás. O vento chicoteava o meu rosto com uma força mais intensa agora.

Lizzie, a situação está fora de controle. Vamos atirar em Slender! – a voz de Rivers surgiu no meu ouvido.

– Não, ainda não! – implorei, pensando no bem do homem que eu amava. – Espere um pouco. Não atirem. Isso é uma ordem.


Slender riu.

– Não seja ridícula. Volte para o terraço, Elizabeth, ou eu mato o Homero.

– Ele não vai me matar, Lizzie! Pule! – Homero pediu, trincando o queixo quando o cano da arma do seu padrinho se instalou embaixo da sua garganta. O meu estômago afundou de medo.

– Quer pagar para ver, Homero? – perguntou Slender, preparando o gatilho.

– NÃO! – eu berrei impulsionando-me de volta para o terraço.

– Liz, só olhe para mim, não volte – Homero insistiu, falando cada palavra devagar, a voz tremulando de medo. Eu parei e simplesmente o ouvi, meus olhos encheram-se d'água. Como aquele homem poderia desejar que eu pulasse sabendo que se fizesse isso ele morreria?

– Não vou pular e colocar sua vida em risco – sussurrei em resposta.

Homero conseguiu até mesmo sorrir. Seus olhos brilharam com algo parecido a carinho ou pena, como se ele já tivesse aceitado o seu destino.

– Só me escute, meu amor. Concentre-se em mim, tudo bem? Assim mesmo, respire fundo, você consegue fazer isso. Eu preciso que você chegue viva até o chão, tudo bem, Cupcake? Só fique viva, me prometa.

– Homero...


Ele fechou os olhos.

– Me promete, Liz.

– Volta para o terraço, Elizabeth – Slender demandou.

– Não ouça o que ele está dizendo. Ei, Lizzie, olhe para mim. – Homero abriu mais um sorriso, os olhos marejados. – Você vai ficar calma e vai conseguir pular. Fique viva, está bem? Fique viva. E lembre-se que eu te amo.

– Eu vou matá-lo – prometeu Slender.

– Não, você não vai – Homero o cortou. – Slender não vai me matar, Lizzie, senão ele já teria feito isso. Marco é apaixonado pela minha mãe e ele nunca faria nada que a magoasse. E minha mãe o odiaria profundamente se o meu próprio padrinho fizesse tal coisa.

O sorriso do empresário se desmanchou e percebi que Homero estava falando a verdade. A expressão de Marco Slender pela primeira vez deixou transparecer seu gênio doentio. Os olhos do homem irradiavam loucura, seu corpo magro se envergou numa posição estranha. Com um resmungo arranhado da garganta ele empurrou Homero para longe, seu peito subindo a descendo, a arma dançando na sua mão.

– Tem razão, Homero... Eu não posso matar você – concordou Slender, fazendo uma careta de desgosto. O homem girou seu corpo na minha direção e deu alguns passos para perto. – Mas eu posso matar a Elizabeth.

Metade do meu corpo ainda estava visível, então seria fácil ser atingida por um tiro. Tudo aconteceu de uma só vez. Slender atirou, Homero avançou na sua direção e agarrou seu braço para desviar a bala, os tiros dos snipers começaram, eu flexionei o meu corpo para trás e soltei o batente. Estava sentindo uma dor excruciante no ombro, o que me atordoou e atrapalhou o salto. Para completar, Homero e Slender ainda lutavam pela arma quando a saraivada de tiros atingiu o empresário mais velho, tiros que poderiam ter acertado Homero também.

Lizzie, o paraquedas! – Rivers gritou nos primeiros segundos.

O medo se empertigou em cada parte do meu corpo enquanto eu pairava pelo ar e depois caia em queda livre. Concentrei-me em tentar escapar viva e abri o paraquedas, sendo contida no ar pela grande vela laranja, que se abriu e inflou. O instrutor tinha me ensinado bem, então não foi difícil me guiar até o Central Park. No entanto, eu continuava descendo rápido demais.... Ergui o pescoço para cima e notei dois furos no paraquedas, provavelmente dos tiros. Droga!

Deslizei pelo céu em uma velocidade que provavelmente era maior do que Isaac tinha calculado. Meu coração batia forte como nunca, eu mal conseguia respirar. O Central Park se aproximava e tudo que eu conseguia pensar era em Homero. Ele tinha de estar bem.

Elizabeth! Você está indo rápido demais! – Rivers gritou e arquejou bestificado. – Meu Deus! Liz...

Eu não sabia como era a sensação de quem simplesmente observava a minha descida, mas constatei no vídeo, o qual, mais tarde viralizou pela internet que as chances de eu acabar morrendo eram grandes. Porém, pela primeira vez a sorte jogou do meu lado e eu bati em uma árvore, o que me rendeu muitos arranhões feios e cortes profundos no braço, rosto e barriga, mas nada além disso.

A vela do paraquedas ficou enrolada nos galhos e eu pendurada a um metro e meio do chão. Demorei alguns minutos para me recuperar da queda, os cortes na minha pele ardiam. Gemi e chamei Rivers pelo "ponto".

– Rivers, eu preciso saber como o Homero está! Rivers!

Estamos indo até você, Lizzie.

– Rivers, o Homero!

Ele suspirou e ficou em silêncio.

Fiona, fale com ela...

O desespero voltou, assim como as lágrimas. O que aquilo queria dizer? Por que ele simplesmente não me contava?

Lizzie... – Fiona tentou.

– Não, eu não quero saber! Eu preciso vê-lo, eu preciso ir até ele!

Tirei o cinto e as amarras que me prendiam ao paraquedas e meu corpo caiu no gramado. Senti uma dor aguda ainda maior no ombro e gritei, mas mesmo assim me levantei. Eu precisava ver o Homero.

As pessoas do Central Park inteiro estavam olhando para mim. Eu não me importava. Cambaleei na direção do prédio da World Slender, querendo voltar até lá e me certificar de que o Homero estava bem.

Eu sentia dores pelo corpo inteiro, andar ficava a cada passo mais difícil, o esforço que eu fazia era lancinante. Revivi aqueles últimos segundos sem parar em minha mente: Homero e Slender lutando pela arma que ainda atirava balas a esmo, a saraivada de tiros dos snipers dos prédios ao lado...

– Elizabeth! – Rivers vinha na minha direção com uma equipe, entre eles, o Dr. Johan. Acho que quando percebeu a velocidade com a qual eu descia, o agente do FBI intimou o médico imediatamente.

– Não, eu preciso ir... Eu preciso ir até lá! – protestei quando o médico impediu o meu avanço e me segurou. Só que eu estava tão cansada e zonza e caí ali mesmo na grama do parque. O Dr. Johan sentou-se ao meu lado, mas não deixei que encostasse em mim.

– Rivers! Eu preciso saber se ele...

– Elizabeth, você tem que ficar quieta agora. Levou um tiro e está perdendo sangue! – Dr. Johan censurou-me e concentrou-se no ferimento no meu ombro.

Um tiro?

– Não, eu me recuso. Eu tenho de saber, Rivers! Por favor, me diga... – supliquei para o agente, que fazia uma careta de tristeza.

– Já chega, eu não queria fazer isso, mas vou ter que sedá-la – informou o médico.

Rivers se agachou ao meu lado e tocou o meu rosto ferido pelos galhos da árvore. Senti uma pontada de dor da agulha e meu corpo ficou mole.

– Me diga... – consegui pedir enquanto desvanecia.

– O Homero está vivo, Lizzie. Só levou um tiro de raspão, agora descanse. É você quem está em perigo – Rivers finalmente me contou.

Seu rosto estava ficando borrado e escurecido a medida que eu perdia a consciência. Sorri de alívio e parei de lutar contra o remédio.

Eu consegui. Slender perdeu... E o Homero está vivo, foi a última coisa que me lembro de ter pensado. 

***


Ooooi gente linda, tá todo mundo vivo aí??? kkkkk

Nosso penúltimo capítulo, que tristeeee </3. Esse capítulo foi bem tenso, mas acho que vocês vão gostar do 42, apesar dele ser uma loucurazinha, rs. Se tudo der certo, eu posto amanhã (sei que comigo essa coisa de prometer dia não da certo, mas acho que dessa vez eu cumpro minha palavra kkkk). 

Sobre a enquete que eu fiz, a maioria das pessoas escolheram continuar postando aqui, então vai ser aqui mesmo, galera. Tem algumas perguntas que vou deixar para responder nos Agradecimentos, como se terá um livro da Gabriela ou uma continuação de TPR.. E se tiverem mais algum dúvida deixem aqui embaixo que eu responderei nos Agradecimentos. Ok?

Meu coração tá pesado em saber que está acabando, mas infelizmente precisava chegar a um fim, né não? ):  TPR vai acabar mas outros projetos vão começar... 

Enfim, por hoje é só! <3 Um beijo no coração de vocês e até amanhã, no nosso último capítulo. *cries in writer language*


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