Tudo Pela Reportagem

Від mariiafada

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PLÁGIO É CRIME - Todos os direitos reservados a Maria Augusta Andrade © Não autorizo qualquer reprodução ou u... Більше

Prólogo.
Primeira parte.
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Segunda Parte.
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!!!!!100 MIL F*CKING VIEWS!!!!! ❤️
31.
31 (Pra quem não está conseguindo ler!!)
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41.
42. [Final]
Epílogo.
Agradecimentos.
Capítulo Bônus (1)
Booktrailer <3
Se você gostou de TPR, vai gostar de Morde e Assopra também!
Capítulo Bônus da Gabi! Yey!

39.

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Від mariiafada


– Você sabia que, além de tudo o que te contei, Rasputin tinha um pênis de 28,5 centímetros?

Não! – Dr Burke reclamou, revoltado. – E eu também não queria saber. Obrigada por essa informação perturbadora a qual nunca mais sairá da minha mente, Elizabeth. É assim que você lida com os traumas? Vomita esse tipo de coisa?

Ele se afastou e começou a caminhar pelo pronto socorro do hospital Monte Sinai, enquanto esperávamos os resultados dos meus exames.

– Na verdade, é, sim. – encolhi os ombros. – Desculpe, achei que era uma curiosidade interessante. Quero dizer, vinte e oito centímetros...

Eu achei isso interessante! – Ray admitiu rindo. Estava sentado na cadeira ao lado da minha cama. Sorri para ele e pisquei.

– Se você colocar no Google consegue ver uma foto do pênis de Rasputin, ele está exposto em um museu na Rússia...

– Não vai precisar de pontos! – informou o médico enfaticamente, tocando delicadamente na minha bochecha. Ele estreitou os olhos e me entregou um espelhinho para que eu pudesse ver o meu próprio rosto. – Mas vai ficar inchado e muito roxo. Vou transcrever algum remédio para a dor e o inchaço.

– Já estou procurando – Ray estava com o celular em mãos. Alguns segundos depois arregalou os olhos. – Santo russo super dotado! Tem certeza que são vinte e oito, Lizzie? Eu diria que são trinta centímetros.

Dr. Burke suspirou pela décima vez na noite. Eu ri, animada para conversar sobre qualquer coisa que não fosse a marca das mãos de Jill no meu pescoço, que ficariam ali por algum tempo até desaparecer. Pensar nisso me dava náuseas severas.

– Na verdade, Rasputin era siberiano – corrigi por força de hábito, surpreendendo a mim mesma. Como sabia daqueles detalhes? Maldito pai professor de História viciado no Império Czarista. – Eu li em uma revista que eram quarenta centímetros, mas a fonte não era confiável, então fiquei com o de vinte e oito.

– Doutor, o que você acha? – Ray apontou o celular para o médico.

– Urgh! Não quero ver isso. – ele virou o rosto e balançou a cabeça. – O que há de errado com vocês? Discutindo sobre o pênis de um homem morto.

– Cheguei no momento certo. Sobre o pênis de quem estamos falando? – Scarlett surgiu com uns três copos de café na mão, seu cabelo preso em um coque caído, as mechas azuis escapando.

– Vou ver se os exames estão prontos! – decidiu o Dr. Johan, fugindo daquela conversa inapropriada. – Um copo de café, Elizabeth. Só isso. – ele me lembrou antes de deixar o pronto de socorro.

– Rasputin, Scarll. Vinte e oito centímetros! – atualizei-a, recebendo o café das suas mãos de bom grado, o cheiro da bebida me esquentou por dentro e eu me senti muito melhor.

– Wow, vinte e oito? – ela pegou o celular das mãos de Ray e deu uma conferida. Sentou-se na beirada da minha cama e tomou um gole do seu café.

– Eu diria que são trinta. – defendeu Ray.

– Não, definitivamente não chega a trinta – afirmou Scarlett como se fosse uma expert.

Eu observei os meus amigos discutindo seriamente sobre aquele assunto aleatório e sorri. Senti-me sortuda por tê-los ali e agradecida por eles não estarem me pressionando para saber o que aconteceu. Eu não queria falar sobre aquilo ainda.

– Homero ligou – Scarlett me informou depois de um tempo, quando o meu café já estava pela metade.

– Ligou? – eu engasguei um pouco. Minha garganta estava dolorida, então doeu mais do que o usual. – O que ele disse? Você não contou que eu estava aqui, contou?

– Ele só deixou um recado com a secretária telefônica. O que aconteceu, vocês brigaram?

– É uma longa história, Scarll...

– Tudo bem, você me conta depois – Scarlett procurou a minha mão e a apertou, mais compreensiva do que eu realmente merecia. – O que importa é que você está bem, essa é a minha garota. Sobreviveu a mais uma. Mas vamos evitar uma próxima, tudo bem? Chega de hospitais.

Eu ri com ela e assenti.

– Chega de hospitais.

Sim, eu realmente sobrevivi. E isso por si só já era uma vitória. Contanto que eu permanecesse viva até terça-feira, tudo estaria bem.

Ou pelo menos era isso que eu desejava.

*

Chegar em casa depois de tudo que aconteceu era um alívio, uma certeza de que ali eu estava segura de Slender, Tretton ou qualquer outra pessoa. O serviço de proteção à testemunha do FBI para proteger Gabi e Lele garantia que ninguém suspeito se aproximasse do apartamento.

Depois de um bom banho e um bom tempo na banheira com uma dose de uísque para relaxar e entorpecer os ânimos, aconcheguei-me no sofá e contei tudo para as meninas. Como estava mais calma e em um ambiente reconfortante, consegui falar sem tremer, hesitar ou chorar.

Seth estava dormindo no meu colo e ronronando como um gatinho, o que só me deixou ainda mais calma e acalentada. Eu sabia muito bem que a marca azulada em meu pescoço estava chamando a atenção dos meus ouvintes, e Gabriella chorou quando descrevi o estrangulamento.

– Ele está morto agora, Gabs – tranquilizei-a, mas se eu parasse de respirar por um momento podia sentir as mãos dele ali, pressionando o meu pescoço, acabando com a minha vida. Estremeci.

– Não é justo que tenha que passar por tudo isso – fungou a garota.

– Não é justo, mas é a realidade. – balancei a cabeça. Precisava de mais uma dose de uísque. – Chega de falar nisso, já passou e eu estou bem! Vamos, tirem esse olhar de pânico de rosto. Tudo vai ficar bem.

– Acho que seria uma boa ideia sairmos amanhã – opinou Ray enchendo sua taça de mais vinho.

Jogado na minha poltrona de leitura, o meu amigo se aconchegou mais e deixou a garrafa vazia de vinho deslizar para o tapete. Provavelmente ele ainda matutava sobre as palavras duras da sua mãe e por isso estava bebendo mais do que o normal naquela noite.

– Talvez possamos ir para a exposição de quadros do Brad! – disse Scarlett, pegando os convites jogados na escrivaninha que o meu ex namorado me entregou alguns dias atrás.

– Nem pensar! – protestei. – Não quero vê-lo tão cedo, a minha vida já é dramática o suficiente sem ele. Além do mais, eu tenho que trabalhar...

– Não tem não. O Joey deixou um recado para você – Scarlett se levantou e apertou o botão da secretária eletrônica.

Depois de um alguns segundos a voz do Joey saiu pelo auto falante.

– Ei, Lizzie... Como você está? Criança, eu soube do que aconteceu – suspirou. – Foi uma noite difícil para você. Não precisa vir trabalhar amanhã. Cuidaremos de tudo por aqui. Sei que provavelmente vai se negar a acatar a minha ordem, mas precisa descansar. Ordens expressas do seu médico...

– Fala sério! – esbravejei em protesto, arrependo-me de forçar a garganta para gritar. Fui forçada a diminuir o tom de voz. – Não, não e não.

– ... seus hackers vão cuidar de tudo, e se algo urgente surgir vamos contatá-la, é claro. – Joey continuou falando. – Tire o dia de amanhã para descansar, Lizzie. Ah, antes que eu me esqueça! Li a sua reportagem, está perfeita. Divina. Chorei, me emocionei, senti-me tocado pelas garotas. Definitivamente vai concorrer ao Pulitzer do ano que vem.

Eu arquejei e todas riram da minha reação. Tampei a boca com ambas as mãos, emocionada. AimeuDeus aimeuDeus aimeuDeus.

– Enfim, isso era tudo. Melhoras, fique bem. Tenho que desligar agora.

A voz de Joey sumiu depois do bip.

– Vocês também ouviram o que ele disse? – perguntei sem acreditar. – Ele acha que tenho potencial para concorrer ao... – estava emocionada demais dizer o nome do meu almejado prêmio.

As meninas se divertiram com a minha reação, mas logo a secretária telefônica passou para o próximo recado e eu paralisei quando a voz dele preencheu a sala:

– Oi, Lizz... Elizabeth – Homero pigarreou. Pisquei, encarando a telefone como se estivesse encarando o próprio Homero. As meninas também ficaram em silêncio. – Você está bem? Obrigada por ter respeitado o meu pedido de "tempo", não achei que fosse... Deixa para lá. Só fiquei preocupado por não ter ouvido notícias suas o dia inteiro. Não aconteceu nada, aconteceu? Provavelmente está ocupada com a investigação, não é? Olha, eu sei que provavelmente fui muito duro com você hoje mais cedo. Mas sabe que estou certo, não sabe? E eu... Eu amo você, no entanto preciso pensar sobre o que aconteceu, como fazer isso dar certo. Talvez eu vá ao psicólogo. – Homero deu risadinha constrangida. Fechei os olhos, querendo mais do que nunca estar ouvindo-o dizer tudo aquilo pessoalmente. Sua risada me aqueceu por dentro. – Talvez nós pudéssemos... Ah, caramba, não. Eu estava quase sugerindo terapia de casal. Isso é horrível. Esquece. Esquece... Eu não sei. Para falar a verdade, estou confuso. E morrendo de saudades de você, o que é ridículo porque a vi ontem mesmo. – ele riu de novo, dessa vez mais forte. A voz da sua mãe veio de algum lugar ao fundo, chamando-o. – Só um momento, mamãe.

Eu ri também.

– Esse homem realmente quer fazer todos nós nos apaixonarmos por ele? – retrucou Ray. O meu amigo falou arrastado, sinal de que já estava bêbado.

– Então, Liz, acho melhor tirarmos alguns dias para pensar.

Não – lamentei baixinho.

– ...não queria ter que ficar longe de você justamente agora, mas acho que se nos vermos vou perder o senso de julgamento e só piorar as coisas. Quero fazer isso dar certo, não acumular os problemas e fingir que eles não existem. Não quero que nada fique entre nós... Terapia de casal realmente é uma péssima ideia, não é?

– Nem tanto... – ponderei comigo mesma.

– Bom, eu não sei. Veremos. Agora, eu preciso ir. A viagem não fez muito bem à vovó, mamãe e eu estamos cuidando dela. A notícia do casamento também a pegou de surpresa, mas ela vai ficar bem, é uma senhora forte. Espero que você esteja bem, de verdade. Ligo para você outra hora... Tchau.

Eu nem ao menos tinha me recuperado de Homero quando outra mensagem começou:

– Oi, princesa, é o papai – congelei no lugar, agora não mais triste e sim alarmada. – Lizzie, eu estou preocupado. Você mal atende as minhas ligações ou responde meus e-mails. Algo aconteceu aí em Nova York? Fale comigo, por favor! Essa cidade é perigosa. É o antro da perdição, do capitalismo e da comida ruim... Aliás, você está se alimentando direito? Precisa de dinheiro ou alguma coisa?

– Ele ainda não sabe sobre o casamento! – conclui aliviada. A notícia não tinha chegado à Washington ainda. Pelo menos um problema adiado.

– Só me ligue, quero ouvir a voz da minha filha. Tchau, estamos todos com saudade... – ele parou, meio desconcertado. – Diga à Scarlett que... Que mandei um "oi".

Ele desligou. O rosto de Scarlett fez jus ao nome da minha amiga e ficou escarlate.

– Eu preciso dar um jeito na bagunça da minha vida! – gemi e me afundei no sofá.

– Precisa mesmo – concordou Ray e soluçou. – Talvez eu devesse virar drag queen. Eu seria uma drag queen e tanto. Eu arrasaria!

Gabi e Lele riram da versão bêbada do nosso amigo. Ele soluçou novamente e seus olhos pesaram lentamente. Vê-lo pegando no sono me fez lembrar do quanto eu ansiava por um descanso também.

– Mas talvez amanhã eu ajeite a minha vida – deitei-me no sofá, a cabeça no colo de Gabi. – E relaxa, Scarlett. Eu já aceitei que você e o meu pai estão em um relacionamento amoroso. Eu entendo, mesmo. Até defendi você hoje mais cedo, eu acho. Rivers estava interessado e eu disse que... Hum, isso é gostoso – murmurei quando Gabriella fez cafuné em minha cabeça. – Ah, sim. Rivers. Ele gosta de você. Eu disse que não estava disponível. Isso é um começo.

– Um começo – Scarlett ecoou, ainda meio chocada. – É, um começo.

Peguei no sono dez segundos depois, no embalo das vozes sussurrantes das meninas, que discutiam onde colocariam Ray para dormir. Cinco pessoas e um cachorro em um apartamento ridicularmente minúsculo.

Preciso de um novo lugar para viver, foi a última coisa que pensei antes do sono me sugar para um sonho tranquilo e pacífico.

*

A água quente da banheira aquecia o meu corpo e me fazia desejar nunca mais sair dali. Pela janela do banheiro eu poderia dizer que o tempo em Nova York estava frio e nublado, e nada mais no mundo era melhor do que estar na água quente, relaxando.

Meu cabelo estava preso em um lápis e o meu copo de uísque ao lado da banheira, cheio pela metade. Estava bebendo desde às uma da tarde, porque era o meu dia de folga e eu merecia, ou, pelo menos, era isso que eu dizia a mim mesma.

Talvez estivesse ali na banheira por tempo demais, presa em devaneios trôpegos. O colar de Sônia brilhava no meu pescoço, mas eu não me lembrava de tê-lo colocado.

Peguei o meu celular jogado ao lado do copo de uísque e procurei na agenda pelo número de Homero.

Coloquei o celular na orelha, ou ao menos tentei.

– Oi, Homero. É, sou eu, Elizabeth Scott – aumentei a voz por alguma razão desconhecida. Estava falando com a secretária telefônica? Não fazia a mínima ideia. – Eu não gosto desse negócio de tempo, mocinho. Eu não gosto nem um pouquinho. E talvez eu esteja bêbada... Mas eu posso, porque eu passei por muita coisa e eu mereço encher a cara. É, eu mereço. E... e... eu não gosto dessa ideia de tempo. Tempo para quê? Não precisamos de tempo, porque eu estou bem. Eu estou ótima! Pessoas têm ataques de ciúme, lide com isso!

Afundei mais na banheira, sentindo-me encorajada pelo álcool a falar mais. Coloquei as pernas para cima.

– Lide com isso! – repeti e caí na risada. – Terapia de casal? Não, eu me recuso. Está praticamente me chamando de louca. Nunca precisei disso em toda a minha vida. Eu não sou louca. Não preciso de terapia. Você é o louco. Surtou por nada! Na-da. Quer saber? Da próxima vez que eu te ver vou lhe dizer tudo o que penso. E sabe o que eu penso? – fiquei em silêncio, buscando por respostas na minha mente. Encostei a cabeça no apoio da banheira e funguei, esquecendo-me do que estava falando. – Ah, Deus, eu sinto sua falta....

– Lizzie? – alguém bateu na porta.

– Estou nua!

– Grande coisa, já vi você nua várias vezes! – Scarlett esgueirou-se para dentro banheiro, dando-me um susto que se eu estivesse sóbria provavelmente não tomaria.

Pulei da banheira e deixei que a água se espalhasse pelo chão.

– Estou nua! – repeti ofendida, vendo nada mais que um borrão de Scarlett, já que estava sem óculos e sem lente de contato. Estreitei os olhos. – Como ousa?

– Você está bêbada?

Fiquei em silêncio, piscando cinicamente para ela. Ri com desdém.

– É claro que não. Agora, se me dar licença, eu e Homero estamos conversando – sussurrei e apontei para o celular em minhas mãos.

Scarlett suspirou e puxou o celular para si.

– Ei!

– Você não estava ligando para ninguém. Seu celular estava desligado e você estava segurando ele de cabeça para baixo. E sim, você está incrivelmente bêbada. Mas vai ter que voltar a ficar sóbria.

– Nãaaao – choraminguei e bati as pernas, fazendo a água espirrar para os lados. – Lizzie sóbria ruiiiim. Lizzie bêbada boooom.

Elizabeth – Scarlett se agachou ao meu lado e segurou meu rosto, encarando-me seriamente. Fiquei séria também. – Não é assim que você lida com as coisas. Você é a responsável aqui, lembra? Sei que passou por uma noite traumática ontem, mas precisa sair dessa banheira, tomar um banho gelado e se vestir. Nós vamos sair.

– Mas...

– Isso é uma ordem!

Obediente, puxei o ralo da banheira e deixei que a água quente e perfumada com sais de banho escorresse. Scarlett ligou o chuveiro na ducha fria e imediatamente acordei, ficando mais sóbria na hora. Ela me ajudou no banho, segurando o shampoo quando eu não conseguia.

– Obrigada – resmunguei enquanto a água gelada batia sobre o meu corpo.

– Você já fez isso por mim antes, lembra? Milhares e milhares de vezes. Não estou fazendo nada demais.

Assenti e deixei que Scarlett me envolvesse com uma toalha e me guiasse até o quarto. Senti-me bem melhor.

– Aí está ela! – Eleonora sorriu ao me receber no quarto. – Como se sente, Lizzie?

– Com saudades da minha banheira – sussurrei tremendo de frio.

– Escolhemos um vestido para você! – Gabriella se apressou, mostrando o tubinho vermelho na cama.

– Aonde vamos? – perguntei enquanto pegava uma escova e desembaraçava o cabelo.

– Para a exposição de quadros do Brad! – respondeu Scarlett, evasiva. – Ei, tenho os sapatos perfeitos para combinar com esse vestido!

– Por que vamos para a exposição dele? Eu não quero ver o meu ex namorado!

– Ele implorou, tá legal? Brad praticamente se jogou aos meus pés e eu não soube dizer não. Ele tem bochechas coradas realmente adoráveis.

– É quase como as bochechas de um garotinho de seis anos de idade. – complementou Gabriella. – Realmente adoráveis.

– Ele só quer um pouco de apoio. Só isso. – Scarlett explicou. Ela apertou os meus ombros e sorriu de maneira confiante para mim. – Vai ser divertido, tá legal?

*

– "Divertido", ela disse. Scarlett disse que seria divertido.

Olhei ao redor e suspirei. Encontrava-me parada no meio do salão da galeria abarrotada de gente, evitando os garçons e suas atraentes bandejas cheias de bebida, evitando o meu ex namorado, que desde o momento que me vira ali não parava de me apresentar para as pessoas como sua musa inspiradora. Eu tentava evitar, sobretudo, as dezenas pinturas de Brad naquela galeria que faziam referência a mim.

O ponto máximo da noite foi quando parei em frente a um quadro azul. Era um quarto escuro e melancólico. No chão, brinquedos abandonados de uma criança pequena. O nome do quadro dizia: Esperança roubada. Era uma clara referência ao filho que Brad pensou que teria. Aquilo não era diversão. Era tortura.

– Acho que estou passando pela minha fase azul, como Picasso passou pela dele – contou Brad a um casal de pessoas as quais eu não conhecia, mas pareciam ser entendedores de arte. O meu ex namorado passou os braços ao redor do meu ombro, colocando-me no meio da conversa sobre o quadro azul. – Pintei esse quadro depois de uma notícia muito triste... Ah, fiquei arrasado. Pensei que eu seria... Papai.

O casal arquejou e lamentou, como se entendessem a dor. Gritei internamente para que o chão me engolisse. Onde estava o garçom rondando com Martínis?

– Deve ser tão difícil para vocês... – a mulher apertou meu braço, solidarizando-se com a nossa suposta dor.

Tudo que consegui pensar era em como o batom vermelho dela estava borrado. Dei um sorriso enferrujado.

– Estamos tentando seguir em frente – afirmou Brad, colocando a mão na minha cintura. Lancei para ele um olhar entediado.

– Só me ajude a vender o quadro. Te dou 40% da grana. – ele cochichou para mim enquanto fingia chorar no meu ombro.

Aquele era o Brad pelo qual eu me apaixonara. Esperto!

– Foi horrível! – imediatamente reforcei as palavras do meu ex. – Mas é como ele disse, estamos tentando superar.

Brad e eu trocamos um olhar de casal que suporta os momentos difíceis juntos, deixando o outro casal ainda mais tocado.

– Eu adoro os seus traços fortes, suas pinceladas cheias de autoridade. Lembram-me o próprio Franz Marc! – disse o homem, agora ainda mais interessado pelo quadro.

Brad trocou um sorriso comigo e depois um soquinho discreto com as mãos. Sutilmente me afastei para que ele pudesse terminar a venda. Na verdade, não estava sendo tão ruim. Ele parecia o mesmo de antes, o cara que eu costumava namorar. Talvez pudéssemos ter uma relação amigável, afinal.

Sai à procura dos meus amigos, esticando o pescoço para ver através das milhares de cabeças do salão. Como esperado, Ray, Lele, Gabi e Scarlett estavam no Bar na galeria, sentados nos bancos altos e estofados.

– Eu amo Nova York – Lele estava admitindo. – Eu amo essa festa. As pessoas falam sobre arte e eu não entendo praticamente nenhuma das referências, mas me sinto mais inteligente só de estar ao redor delas.

– Bem vinda à Manhattan! – Ray e Lele bateram suas taças.

– Estão se divertindo?! – eu questionei, espremendo-me no balcão entre Scarlett e Gabriella.

– Muito! – Gabriella disse animada. – Eu amei os banheiros. São bonitos e tão limpos! Só que alguns homens são realmente mal educados...

– Conheceu alguém? – Scarlett virou-se para Gabi interessada, os olhos de gata brilhando. Ela sempre estava disposta a bancar a casamenteira. – Quem?

– Eu não sei o seu nome, mas ele foi cruel – Gabi fez uma careta. Ás vezes ela era tão ingênua e sensível que eu queria guardá-la no meu bolso e protegê-la do mundo. – Muito cruel. Eu só estava dizendo que talvez se o piso fosse de acrílico que imita madeira e não inteiramente branco a galeria não seria tão irritantemente clara, sabe? O piso escuro ia absorver a luz e tornar o ambiente mais agradável.

– E o que ele disse?

– Descartou a minha ideia e disse que a minha opinião era irrelevante. Depois virou as costas e foi embora. Rude. Muito rude.

– Ah, eu gosto dos rudes e cruéis – disse Ray.

– Bem, eu não gosto. Gosto de ser tratada com respeito. – afirmou Gabriella.

– Está certíssima. – eu a apoiei. – Não aceite menos que o mínimo de respeito. Ele foi rude. E você tinha razão, esse salão é muito claro.

– São os holofotes de luz. A intenção deles era iluminar os quadros, mas foram colocados no ângulo errado – explicou Gabriella.

Nerd... – Lele provocou a amiga.

– Você se interessa por arquitetura, Gabi?

Ela riu nervosamente e encolheu os ombros.

– Bom...

– Elizabeth! – Brad se materializou do meu lado, cortando a fala de Gabi. – Já disse o quão bonita você está hoje nesse vestido vermelho?

Revirei os olhos.

– O que você quer?

– Mais um quadro, mais uma história emocionante sobre nós dois como casal adorável. Se conseguir, fica com 20% do lucro.

– Não acredito nisso, Brad! – Ray lançou para nós dois um olhar de reprovação do balcão. – Enganando os compradores? E você está ajudando, Lizzie?

– Calado, eu preciso do dinheiro. – virei-me para Brad. – 30%.

– Trinta?! – Brad estrilou, mas concordou à contra gosto. – Tá, pode ser.

Satisfeita, concordei em ajudá-lo. Olhei para os meus amigos.

– Já volto... Vocês vão ficar bem?

– Sim! – garantiu Lele. – Vamos ficar aqui, fingindo que entendemos de arte.

– E lançando olhares de indignação para o Homem Rude. – Gabriella afirmou, treinando sua expressão ameaçadora. Ela era adorável.

– E bebendo! – completou Ray, batendo sua taça com a de Scarlett.

Eu ri enquanto deixava Brad me arrastar para o segundo andar da galeria. Acenei para os meus amigos, que acenaram de volta.

Brad e eu estávamos subindo os últimos degraus das escadas quando meus olhos pousaram no quadro exposto na parede do corredor em frente às escadas. Arregalei os olhos.

– Não pode ser. – arfei e parei no mesmo lugar. – Brad, não me diga que você realmente fez isso.

O meu ex namorado riu e me deu seu melhor sorriso amarelo.

– É um bom quadro.

– É o Homero! – estrilei, apontando para a pintura, perplexa.

Era o Usurpador Corporativo.

O quadro era obscuro, feito com pinceladas rudes em azul marinho, marrom e preto. A única coisa viva na tela era o vermelho – mas especificamente o vermelho do coração sangrento que o homem de terno, Homero, segurava em suas mãos, que mais pareciam garras.

– Ah, Lizzie... Eu estava realmente inspirado naquele dia. E com muita raiva do Homero. É um bom quadro, admita! Ele possui todo um conceito complexo.

– É, possui, o conceito de que você é um lunático! – balancei a cabeça e encarei o quadro por um bom tempo. – Você vai me pagar por isso...

Espera um momento.

Não, o quadro não era uma ideia ruim. Era perfeito. Eu compraria e presentearia Homero com ele! Então nós dois riríamos, esqueceríamos a briga, a terapia de casal e tudo ficaria bem.

– Eu quero esse quadro para mim!

Brad engasgou.

– O quê?

– É. Ele é perfeito. – segurei o meu ex pelo paletó. – Eu preciso desse quadro, Brad.

– De jeito nenhum! Quer usar o meu quadro, minha obra de arte, para reatar com seu usurpador corporativo? Absolutamente não!

– Brad...

– Você é uma pessoa horrível, sabia? Quer usar a minha arte e o meu sofrimento para voltar com aquele cara. Você me largou por ele!

O meu queixo caiu.

– Como é que é? Eu larguei você por ele? Ficou maluco? Você me traiu, lembra? – cutuquei o peito de Brad com força. – Você que estragou tudo. E quer saber? Eu vou ficar com o quadro. Ele é meu, o Usurpador Corporativo é meu, assim como o usurpador corporativo que te inspirou. São todos meus!

– Eu não te traí ... – Brad foi interrompido por duas vozes femininas atrás de mim.

– Desculpe atrapalhar, mas você é o artista?

Virei o corpo para ficar de frente para as duas garotas, mas paralisei no meio do processo, em choque. Uma das garotas era completamente desconhecida para mim: morena, magra, incrivelmente alta e bonita. A outra, já não era tão desconhecida assim.

Eu não sei se Samantha me reconheceu de alguma maneira, ou foi o colar que a fez ficar tão em choque quanto eu. Seu rosto empalideceu e suas mãos foram até o pescoço, onde o relicário dourado estava.

Sem pensar, fiz o mesmo movimento. Em algum momento antes do banho de banheira eu tinha colocado o relicário de Sônia no pescoço e provavelmente esquecido de tirá-lo. Samantha me presenteou com um olhar confuso e intrigado.

– Esse é o colar da minha mãe?


***


Surpresa!!! Dois capítulos em um dia só! 

Para os desesperados, podem ficar calmos porque o 40 não vai ser o último capítulo. Vocês ganharam mais um, porque o 38 e 39 seriam um só, mas a minha linda leitora beta me aconselhou a dividir os capítulos e até achei beeem melhor, apesar de ter um toque quase paranoico com coisas que não acabam em números redondos.


40 era um número tão bonito, tão divisível. 41 é só um número primo, sem graça. Eu sei, isso não fez sentindo, mas meu toque é grande e incomoda... Ninguém mandou eu escrever tanto hahaha ): 

Tá vendo que esse negocio de não prometer um dia dá certo? A postagem sai mais rápida. Então dessa vez não vou prometer... mas não vai demorar!


Espero que tenham gostado do capítulo, no próximo o Homero volta! Yey! Bjs e bjs <3

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