Tudo Pela Reportagem

Por mariiafada

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PLÁGIO É CRIME - Todos os direitos reservados a Maria Augusta Andrade © Não autorizo qualquer reprodução ou u... Mais

Prólogo.
Primeira parte.
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Segunda Parte.
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!!!!!100 MIL F*CKING VIEWS!!!!! ❤️
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31 (Pra quem não está conseguindo ler!!)
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42. [Final]
Epílogo.
Agradecimentos.
Capítulo Bônus (1)
Booktrailer <3
Se você gostou de TPR, vai gostar de Morde e Assopra também!
Capítulo Bônus da Gabi! Yey!

38

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Por mariiafada

Eu estava tentando arduamente manter a calma. Mas, sinceramente? Era praticamente impossível dada à minha situação atual.

Fiquei alguns minutos paralisada pelo medo, sem conseguir me mexer. Só o meu coração trovejava no peito, batendo nas costelas tão forte que doía.

Do lado de fora da janela o cenário era irreconhecível, as árvores da estrada de Long Island diluíam-se com céu, tudo se misturava como um borrão em minha mente.

Minhas mãos estavam apoiadas no banco ao lado, garantindo a minha estabilidade. Eu precisava ser racional e torcia para conseguir. Enquanto isso, o carro praticamente voava pela pista, indo perigosamente rápido. Se Jill pretendia matar a nós dois, estava no caminho certo... Eu precisava convencê-lo a diminuir a velocidade.

Vamos, Lizzie, você consegue. Por favor, tente.

– Jill...

– Cala a porra da boca – o homem vociferou. – Eu não dei permissão para falar, dei?

Mordi a língua e me contive. Jill me encarou pelo retrovisor e riu.

– Você está pálida, Elizabeth. E eu ainda nem comecei. Sabe o vamos fazer hoje? Sabe o que eu vou fazer com você hoje?

Permaneci em silêncio. Decidi que quando ele estivesse distraído eu ligaria para a polícia. Não ousei olhar para o celular antes do momento certo. Mantive os olhos na janela. Estava conseguindo, estava sendo racional e pensando em maneiras de escapar. Você consegue, respira fundo.

– Agora você pode falar, imbecil, porque estou dando permissão. Responda a minha pergunta.

– Eu não acho que isso seja...

– Responda a droga pergunta!

O meu celular era do FBI. Eles iriam me rastrear e com sorte Rivers chegaria a tempo. Eu só precisava enrolar Jill até lá. Você só precisa pensar racionalmente. Arranjar uma maneira de fugir... Por favor, Rivers, chegue logo.

Eu não estava armada, nem com spray de pimenta ou qualquer coisa útil. A única arma em potencial na minha bolsa era a caneta esferográfica enfiada no meio da minha agenda.

– Não, eu não sei o que pretende fazer comigo hoje.

Jill Tretton gargalhou. 

– Aaaah, Lizzie! Você é uma garota esperta, coloque essa linda cabecinha para pensar! – ele cantarolou e lançou um olhar proposital ao banco do carona.

Segui seu olhar e senti vertigens, pancadas do puro instinto de medo me atingindo. Eu não queria ser racional. Queria chorar e gritar, entrar em desespero. No entanto, recusei-me a sucumbir, mesmo conseguindo ver que nas sacolas de Jill havia um galão de dois litros de gasolina e provavelmente fósforos.

Jill iria fazer comigo a mesma coisa que fiz com ele.

– Vai me queimar viva?

– Não só isso, querida – ele balançou a cabeça com vontade. Estava fora de si, completamente insano. Socou o volante repetidas vezes e continuou vociferando: – Seria muito pouco. Ninguém toca em um Tretton e sai ileso. Ninguém. Principalmente uma vadia como você, que usa amostra de perfume e um lampião para me incendiar e acha que vai conseguir se livrar de mim. Perfume e um lampião? Garota, aquilo foi um insulto!

Jill devaneava, sem prestar atenção em mim. Ele estava tão desequilibrado que nem ao menos pediu o meu celular ou a minha bolsa. Agia de forma imprudente, deixando detalhes cruciais passarem. Mesmo assim, continuava sendo perigoso, talvez ainda mais do que se estivesse são. Seu olhar às vezes se perdia e o carro saia da estrada por alguns segundos.

Perguntei-me o que teria acontecido com o Sr. Bentley. Rezei para que estivesse vivo.

– Eu não estava tentando insultá-lo, sabe – tentei falar, a voz tremendo. Minhas mãos sutilmente alcançaram o celular. Longe do campo de visão de Jill, enviei uma mensagem de texto para Rivers: SOS. SOS. SOS. Esperei que fosse o bastante para que ele entendesse. – Eu só estava tentando sobreviver.

– E eu estava no meio do seu caminho, é isso?

– Sim.

O meu celular começou a tocar bem alto. Era Rivers. Fechei os olhos e praguejei internamente. Droga.

Jill virou-se com tudo, largando o volante e inclinando-se para trás. O táxi entrou na outra pista, fazendo os carros que vinham na direção oposta buzinarem e desviarem.

– Que merda é essa? Ah, quis bancar a espertinha? Vou matar você, porra! Não banque a espertinha comigo!

Uma arma surgiu na mão do homem e ela acertou o meu rosto com tudo enquanto Jill arrancava o celular de mim. Pontos pretos brilharam na minha visão, a dor na minha bochecha direita explodiu e me fez arfar, recostando a cabeça no banco por alguns instantes.

Jill voltou-se para o volante, tentando não bater em outro veículo e foi obrigado a diminuir a velocidade e lagar a arma no banco ao lado.

Ainda meio zonza, verifiquei minhas opções: Se tentasse pegar a arma, não conseguiria usá-la de qualquer maneira, a posição não era favorável. Até tirar o cinto e fazer o meu movimento, Jill teria me acertado de novo. E ele não estava usando cinto de segurança, a velocidade estava menor, mesmo que ainda perigosa.

Eu sabia o que tinha de fazer. Apesar do medo estar instalado por todo o meu corpo, eu só conseguia pensar em uma única maneira de me fazer escapar dali com vida. Era arriscado e perigoso, mas precisava ser feito.

Ainda presa ao cinto de segurança, ergui-me para frente e prendi os meus braços ao redor do pescoço de Tretton com toda a força que consegui. O carro deu uma guinada para o lado, os pneus cantaram. A arma caiu no chão, debaixo do banco do carona.

Tretton era incapaz de se livrar do meu aperto e eu não o largaria. Seu rosto danificado ficou vermelho, algumas feridas se abriram e melaram os meus braços de sangue. O táxi, sem ninguém controlando-o, deixou a estrada, atravessou o acostamento e foi em direção à floresta, voando sobre o banco de terra que separava a estrada do restante da área arborizada. Jill continuava se debatendo, resistindo ao meu aperto.

Uma árvore enorme e grossa a alguns metros provavelmente seria a nossa última parada. Segundos antes do impacto eu soltei o Tretton, libertando-o para respirar. Quando o carro se chocou com o tronco da árvore, a batida foi tão forte, que Jill atravessou o para-brisa. O cinto de segurança me salvou, mas não impediu que a minha cabeça batesse no banco do motorista tão forte que apaguei por alguns minutos.

O sangue quente de Jill em meus braços ajudou a despertar, juntamente com a fumaça do motor destruído do carro. Pisquei e abri os olhos, enxergando nada mais que um borrão. Tirei o cinto de segurança e tossi. O meu corpo inteiro doía, cada músculo e osso. A cabeça latejava como nunca.

Precisava sair dali. Precisava chamar ajuda. Mas estava tão tonta, tão fraca e desorientada....

Com uma força a qual eu nem ao menos sabia que tinha, inclinei-me para frente, a procura do meu celular. O corpo de Jill estava dividido: metade no para-brisa e a outra dentro do carro.

Espero que esteja morto, pensei.

O meu celular tocou de novo. A melodia veio do corpo de Jill. Fiquei em pé e destravei as portas, depois conclui que o celular se encontrava no bolso da calça dele. Só que Jill de repente se mexeu e grunhiu.

– Vou matar você, sua desgraçada!

Ele começou a se levantar. Quis pegar a arma, mas ela estava perdida em algum lugar no chão do carro e eu não tinha tempo. Resolvi simplesmente fugir. Eu estava melhor que o Tretton, se saísse do carro poderia correr.

Voltei ao banco de trás no exato momento que Jill voltou ao banco do motorista. Ele tentou agarrar o meu braço, mas consegui me soltar. Abri a porta do carro e coloquei um pé para fora, mas o Tretton me arrastou de volta, colocando-me deitada no banco, prendendo-me embaixo dele com suas pernas.

Debati-me, mas não adiantou muita coisa. Jill Tretton deveria estar morto. Deveria ter morrido na cabana em chamas, deveria ter morrido quando foi arremessado para fora do carro, mas não morreu. Como um homem tão miserável poderia ter tanta sorte?

Suas mãos envolveram o meu pescoço e o apertaram com força. Perdi o ar. Seu rosto desfigurado sorriu, minha visão nebulosa só o tornou ainda mais assustador. A pressão em meu pescoço só aumentava, assim como o meu desespero. Ele fazia aquilo tudo pior do que poderia ser. Seus dedos afundaram na minha garganta, me privando de ar e me fazendo engasgar.

Meus braços caíram para o lado enquanto eu beirava à inconsciência.

Jill Tretton ria, deliciando-se do momento. 

– Eu disse que ia acabar com você, não disse? – aproximou o rosto do meu, diminuindo a pressão um pouco. Consegui respirar minimamente, meus pulmões arderam em chamas e eu despertei da quase inconsciência, mesmo que não tivesse forças para lutar mais. Tretton era um torturador experiente, prolongaria aquilo por quanto tempo quisesse.

Uma vez eu quase morri sufocada, presa entre os escombros de um hospital no Myanmar, o país dos templos. Templos magníficos feitos inteiramente de ouro. Um pequeno país, ao qual, quase ninguém sabe da existência, localizado na Ásia. E eu quase morri lá. Pensei que aquele seria o momento mais angustiante de toda a minha vida, mas eu estava errada.

O rosto da minha mãe, o qual eu não lembrava fazia tempo, se destacou em minha memória. Sorri. Nós éramos parecidas: cabelos castanhos avermelhados, olhos verdes e muitas bochechas. O sorriso da minha mãe era lindo.

Meu deus... Eu estou divagando. Vou morrer e estou divagando!

Jill me deixou respirar novamente, meus pulmões pegaram fogo e eu tossi, mas não por muito tempo. Logo estaria sem ar novamente, sufocando no meu próprio desespero. Era isso, eu ia desistir? Ia deixar aquele assassino me matar?

Não, nem pensar. O inferno que eu ia deixar!

A minha bolsa estava em algum lugar no chão. Deixei que umas das minhas mãos débeis vasculhassem a esmo... Encontrei a minha agenda e dentro dela a caneta. Sem pensar muito, agarrei aquele objeto e enfiei-o na coxa de Tretton de uma maneira desleixada, mas eficaz. Arranquei dele um grito de dor.

Jill me largou, suas pernas afrouxaram o aperto ao redor do meu corpo. Chutei o seu peito e consegui tirá-lo de cima de mim.

A porta do carro ainda estava aberta, então eu deslizei para a grama gelada e engatinhei para longe do táxi. Ergui-me do chão, encarando o início da floresta ao redor. Do outro lado ficava a estrada, que estava a somente a alguns poucos metros. Jill retrucou um palavrão, sinal que estava se recuperando e sua fúria cada vez mais crescente.

– Você me insulta cada vez mais, Elizabeth. Uma caneta, esse é o seu melhor?

Eu tentei correr, mas descobri que não tinha fôlego ou força para tal coisa. Minhas pernas simplesmente não me obedeciam. Jill não estava muito melhor que eu, mas conseguiu cambalear para fora do carro. Seu rosto inteiro sangrava.

– Foi Slender que mandou você? – perguntei.

Ele riu cheio de desdém, algo que não combinava com seu rosto contorcido e ferido.

– Não. Eu não trabalho mais para Marco Slender. O desgraçado me demitiu... Você é uma vingança pessoal.

– Não vai acontecer, Jill.

Mantenha-se longe dele, Lizzie. Você não tem força agora, mas pode recuperá-la. Só não o deixe por as mãos em você novamente.

Fui tropeçando pela beira da floresta, sem tirar os olhos do Tretton, que se arrastava na minha direção.

– Eu posso morrer no processo, mas vai acontecer, sim. Você... Você – sua língua embolou e desistiu daquela frase. – Sempre termino o que eu começo.

– Não dessa vez.

Aquele trecho da estrada estava particularmente silencioso, até um carro preto surgir. Ele freou assim que os faróis atingiram o táxi destruído. A luz forte me atordoou, mas Jill estava de costas para ela. Em um impulso, ele se jogou na minha direção e me prendeu contra si.

Um homem loiro saltou do carro com a arma em mãos, apontando para Jill, consequentemente apontando para mim também. Rivers.

Ele desceu até a borda da floresta, a poucos metros de onde estávamos.

– Não se mova, mais um passo ou eu mato ela! – Jill ameaçou.

– Você não está armado – Rivers rebateu sem se abalar, aproximando-se de nós. – Se não se afastar da Elizabeth agora mesmo, vou enfiar uma bala exatamente no centro da sua cabeça. Agora, solte-a.

Rivers era bom com ameaças, mas Jill não era qualquer um, era um assassino profissional. Sabia lidar com ameaças, era um homem resistente. Prova disso era a sua força, mesmo depois de tudo que aconteceu.

– Eu ainda tenho as minhas mãos – disse o Tretton, envolvendo minha cabeça e o pescoço já dolorido com suas mãos calosas. – E sei quebrar um pescoço como ninguém.

Rivers não se moveu, mas continuou com a arma erguida na nossa direção. Um sorriso sombrio se abriu em seu rosto.

– Não vai acreditar na rapidez e na boa mira que eu tenho – informou ele. – Mesmo com o rosto de vocês dois tão próximos, eu poderia facilmente atirar na sua cabeça e não errar.

– Você não vai acreditar na destreza das minhas mãos. Já fiz isso milhares de vezes, policial. Você segura assim – Jill pressionou suas mãos no meu pescoço, a outra manteve a minha cabeça imóvel. Soltei um grunhido, fazendo-o rir. – E torce. Então, se você não colocar essa arma no chão agora, eu a mato. E você não vai acreditar como eu quero fazer isso. Quis fazer isso a noite inteira...

Rivers estava relutante. Tudo que eu conseguia ver era sua silhueta escurecida pelos faróis do carro. Seus joelhos estavam levemente flexionados, nenhuma parte do seu corpo tremia ou hesitava. Com cuidado, ele colocou a arma no chão e a chutou para longe. Eu me mantive quieta, sabendo que seria perigoso me mover quando Jill poderia acabar com a minha vida simplesmente com um movimento simples das mãos.

– Elizabeth, você está bem? – Rivers quis saber.

– Sim, estou bem. – respondi com um fiapo de voz rouca, uma sequela do estrangulamento.

Jill finalmente deslizou as mãos para outra posição, uma mais favorável. Esperei que Rivers entendesse o que o meu olhar de alerta significava. Sua respiração ficou mais rápida, presumi que captou o recado, mas não aprovou a ideia.

– Nós vamos nos mover para longe e você vai ficar , policial – ordenou Jill, arrastando-me com ele um passo mais perto da floresta.

Eu tive aulas de auto defesa e era faixa azul em krav maga. Sabia mil maneiras diferentes de me livrar de uma pessoa a qual me prendesse por trás. Escolhi um desses golpes e apliquei em Jill, torcendo o seu pulso e girando o seu braço, o que resultou em uma tontura imediata. Lutei para continuar de pé e não desabar no chão.

O homem gritou e eu cambaleei para longe. Rivers avançou e derrubou Jill no chão antes que ele me alcançasse. Os dois lutaram. Não consegui dizer quem estava ganhando ou perdendo. Meus olhos instintivamente procuraram pela arma de Rivers perdida na grama. Joguei-me na direção dela e a agarrei, mirando na direção dos dois.

– Atire, Elizabeth! – ordenou Rivers, mas ele levou um soco poderoso no queixo e se calou. Jill estava por cima dele agora, esmurrando-o.

Respirei fundo, tentando fazer com as minhas mãos não tremessem tanto. Reuni coragem, destravei o cão e puxei o gatilho, mirando exatamente em Jill Tretton. O recuo da arma reverberou pelo meu braço, tive a impressão que todos os meus ossos estilhaçariam. Dei outro tiro, depois mais um.

Fez-se silêncio.

Soltei o ar e estreitei os olhos, desorientada. Eu acertei? Um dos homens estava gemendo e grunhindo, porém não consegui identificar qual. Por um momento o desespero voltou. Atingi o homem errado?

Rivers jogou o corpo de Jill para o lado e se levantou. Sorri debilmente e abaixei a arma. Acabou, está feito. Finalmente acabou.

Rivers se levantou e tirou a poeira da sua roupa, fazendo isso de uma maneira estranhamente casual para a situação. Ele estava arfando. Limpou o sangue que escorria do nariz com a manga da camisa e olhou para mim. Caminhou até onde eu estava e me ajudou a ficar de pé. Por um momento nenhum de nós dois disse nada, ambos ofegantes e acabados. Recuperamos o fôlego juntos, no silencio da floresta.

Ergui a arma para ele. O agente encarou-a e sorriu.

– Elizabeth Scott – disse entre uma golfada de ar e outra. – Acho que você acabou de ganhar o direito de ter uma arma. Fique com ela.

Eu comecei a rir de alívio e o Rivers me acompanhou. Não demorou muito para a adrenalina do meu sistema diminuir e eu sentir os efeitos colaterais de tudo que acontecera. Minha cabeça voltou a doer como nunca. Era como experimentar a tontura que senti no deserto mais uma vez. Exaustão extrema, um corpo implorando por descanso.

– Rivers... – sussurrei. – Minhas pernas, eu...

Antes que caísse, o agente me pegou.

– O reforço está vindo, Lizzie. Não se preocupe. Chamei uma ambulância também, você vai ficar bem.

Eu ainda sorria.

– Você me salvou. – engasguei e tossi. – Caramba, você me salvou.

– Eu já deixei você ser raptada uma vez, disse a mim mesmo que isso só aconteceria novamente por cima do meu cadáver. Questão de honra – admitiu o homem dando de ombros.

– Pare... – eu pedi. – Se não vou realmente acreditar que você é uma pesso e não um robô.

Rivers passou o meu braço ao redor dos seus ombros, ajudando-me a ficar em pé.

– Eu tenho os meus momentos bons... Espero que isso tudo tenha valido a pena, sua maluca – retrucou ele, enquanto me levava até o seu carro para esperarmos por ajuda.

Lembrei-me do relicário e de tudo que eu conseguiria com ele. Quase morri e aquela noite me assombraria para sempre, entrando para minha grande lista de traumas. Eu definitivamente ia precisar de um psiquiatra para tratar todos os danos psicológicos que se assomaram dentro de mim durante aquele longo e torturante mês. Rapto, deserto, rapto novamente, floresta e três tiros no peito do homem que queria me matar.

Sou tão sortuda.

Pelo menos eu venceria Slender. E isso era tudo que importava no final.

*

– Você já ouviu falar em Rasputin?

Dr. Burke me encarou com seriedade e confusão, enquanto seu estetoscópio estava no meu peito. Senti-me extremamente constrangida por ter chorado em sua frente quando um paramédico me trouxe para a ambulância. As lágrimas jorraram para fora enquanto alguém limpava dos meus braços o sangue de Jill Tretton. Burke me consolou, apoiando as mãos nas minhas costas.

Precisei daquele desabafo e ele entendeu, esperou pacientemente até eu me acalmar. Depois, começou o seu trabalho de sempre: me examinar e cuidar dos ferimentos.

– Não fale – ordenou ele. – Está forçando a garganta.

Suspirei e fiquei quieta, observando enquanto a polícia circulava o local, retirava o corpo de Jill e investigava o táxi. O sr. Bentley foi achado inconsciente nos arbustos do estacionamento do asilo. Estava vivo e ficaria bem.

Eu me encontrava na maca da ambulância, aos cuidados do meu adorável médico. Aparentemente, Mike exigia que somente o Dr. Johan fosse o médico responsável por mim, já que ele conhecia todo o meu histórico. Ele não estava feliz de por eu ter me metido em confusão de novo. Bom, sinceramente eu também não estava.

Quando terminou com o estetoscópio, o médico começou a limpar o ferimento no meu rosto.

– Como se sente, Elizabeth?

– Um caco! – admiti, contendo-me para não dizer mais nada. Não queria pensar no modo como me sentia de verdade. Chorar quase todo o reservatório de água do meu corpo já era o suficiente por uma noite.

– Pode ser mais específica? Preciso saber se o acidente gerou sequelas graves.

Ele cuidadosamente esfregou o algodão com produtos médicos no lugar onde Jill me acertou com a arma, bem na bochecha. Gemi e agarrei a lateral da maca.

– Você já ouviu falar em Rasputin? – insisti. Antes que ele pudesse me silenciar, complementei: – Por favor, só me distraia. Eu meio que preciso disso agora.

Dr. Burke revirou os olhos, mas acatou o meu pedido.

– Não, nunca ouvi falar. Por que tanto interesse nesse homem?

– Jill Tretton era como ele. Difícil de matar. Rasputin era um amigo íntimo do último czar da Rússia e sua família. Conhece toda aquela lenda da Anastásia e como a princesa da Rússia teria sobrevivido quando sua família foi assassinada? A Fox fez um filme...

– Acho que já ouvi falar – Burke considerou. – Como sabe todas essas coisas?

– Meu pai é professor de História – expliquei e depois voltei ao que interessava. – Rasputin era amigo íntimo e meio que médico da família de Anastásia. Tornou-se muito próximo da czarina, Alexandra, porque ele era a única pessoa que conseguia tratar do problema hemofílico do príncipe herdeiro, Alexei. Ele se tornou uma pessoa extremamente influente em São Petersburgo, uma figura política conhecida. No entanto, era um homem extremamente misterioso e sua reputação... Bem, ele chegou a ser relacionado com orgias, bruxaria, satanismo... A lista é grande.

– Jill Tretton gostava de orgias? – quis saber o médico.

Eu engasguei com uma risada, apesar do nome do homem que tentou me matar fizesse o meu coração apertar.

Não, só estou te introduzindo na história, deixando a par de tudo. Continuando... Rasputin era influente no meio político, mas uma pessoa completamente fora do comum e inconfiável. Se você visse uma foto dele entenderia o porquê. Ele tinha uma barba espessa e grande, cobrindo quase todo o rosto. Usava roupas escuras de monge, era extremamente alto e o olhar dele... Esse detalhe era o pior de tudo. O homem tinha um olhar de louco, na minha opinião. Mas um louco brilhante.

– Ainda não entendi o seu ponto.

– Estou chegando lá – garanti. – Além de ter uma vida cercada de mistérios e desconfianças, a morte dele também é inacreditável. Primeiro, em uma noite de 1914...

– Meu Deus, ela sabe até a data – comentou o médico para si mesmo.

– Shhhh – lancei um olhar feio para o Dr. Burke. – Em 1914 ele foi esfaqueado no estômago com um punhal por uma mulher, que saiu gritando na rua logo em seguida: "Eu matei o anticristo!" 

– Nossa!

– Rasputin se recuperou do ataque depois de um tempo. Só que, devido a Primeira Guerra Mundial e as desconfianças de que o monge servia ao serviço secreto da Alemanha, parlamentares e aristocratas russos armaram uma espécie de "emboscada".

Àquele ponto, o médico estava prestando total atenção, sem mais cuidar de nenhum ferimento, inteiramente entretido.

– Primeiro, tentaram envenená-lo em um jantar, mas ele sobreviveu. Em 1916, novamente foi envenenado com cianeto de potássio, e mesmo assim o homem conseguiu viver. Depois, ele foi fuzilado, recebendo um total de onze tiros, e sobreviveu.

Dr. Burke estava fascinado.

– Então Rasputin foi castrado e seu corpo jogado no rio Neva, somente aí falecendo, mas não pelos seus múltiplos ferimentos, e sim de hipotermia!

– Impressionante – murmurou o médico.

– Jill Tretton foi queimado vivo e sobreviveu. Depois seu corpo atravessou o para-brisa de um carro e ele, ainda sim, viveu e tinha força o suficiente para me... – levei as mãos até o pescoço e senti um calafrio – Me estrangular com as próprias mãos.

Acho que o meu rosto voltou a empalidecer, porque o médico começou a me examinar novamente e exigiu que eu deitasse na maca. O meu corpo pesado e ainda debilitado não protestou.

– Vamos levar você para o hospital, Elizabeth – afirmou ele. – Rasputin e Jill podem até ser resistentes, mas você bateu a cabeça diversas vezes hoje, pode ter ganhado uma concussão séria.

– Lizzie, quer que liguemos para alguém? – perguntou o Rivers se aproximando da ambulância. Ele já estava com o celular em mãos. – O Homero...

– Não! – eu fui taxativa. – O Homero não.

Rivers franziu o cenho, mas não discutiu.

– Tudo bem, então. Vou ligar para aquela sua amiga de mechas coloridas no cabelo...

– Scarlett.

– Isso. Scarlett. – ele sorriu. – Por falar nela...

– Nem pense nisso – eu o cortei, antecipando o que o brilho malicioso nos seus olhos já revelavam. Dr. Burke riu baixinho. – Ela não está disponível.

– Tudo bem, então... – Rivers deu de ombros e suspirou. – Perguntar não faz mal. Aqui estão suas coisas. Bolsa, celular, agenda. Está tudo aí.

O agente colocou tudo ao lado da minha maca dentro da ambulância. Uma porta já estava fechada, os paramédicos se preparavam para me levar ao hospital. De novo.

– Obrigada. – eu disse a ele antes que a outra porta se fechasse. O agente piscou e sorriu, dando-me adeus.

Vasculhei dentro de minha bolsa em busca da única coisa que me interessava. Meus dedos logo se enrolaram em um colar gelado. Puxei-o da bolsa e o relicário brilhou. Eu o segurei nas minhas mãos por um bom tempo, até que decidi abri-lo. Lá dentro havia duas fotos, que supus ser de Samantha e Jason mais novos, os filhos de Sônia.

Abri e fechei o relicário diversas vezes. Senti que estava perto de uma descoberta interessante e crucial. Insisti nela e a sensação perdurou. O relicário dourado brilhava.

– Ah, meu deus! – arquejei quando finalmente descobri.

– Está tudo bem, Elizabeth? – Dr. Burke se aproximou, preocupado.

Sorri.

– Está tudo maravilhoso! – assegurei-o.

Eu tinha acabado de descobrir exatamente onde o cartão de memória estava. 


***

Oi gente!!! Desculpem por não ter postado domingo, eu passei por alguns probleminhas essa semana e não consegui postar, tive um bloqueio criativo, muita insônia... Enfim. Mas agora está aí, mais um capítulo! 

Como eu disse, ele foi beem tenso. Mas a nossa Lizzie é guerreira, ela ainda tem mais uma provação pela frente. E sim, para aqueles leitores que já ligaram os pontinhos, a cena do prólogo está chegando!!

 Para quem não lembra, é a cena do começo onde  a Lizzie pensa se pula ou não... Vale a pena voltar ao Prólogo e ler de novo se a memória está falha! ;)

Genteeee! Uma coisa antes: Eu confundi total o nome do médico desse livro com outro médico, de outra história, nada a ver com essa. E eu nem estou escrevendo a outra história mais... Enfim, a privação do sono está me dando retardo mental. Mas olha, o nome do médico é Dr. Johan, apesar da Lizzie chamar ele de Burke (kkkk). Não é Dr. Mallik, viu? Dr. Mallik é outro personagem, bem diferente. Ok? Era isso. 

E mais uma coisinha, só essa: Quando a Lizzie fala que o corpo de Jill está dividido entre o carro e o para-brisa, não é dividido mesmo, como que partido ao meio (se não ele nem teria acordado depois, claro kkkkk). Ele só está entre o carro e o para-brisa. Isso confundiu uma amiga, achei que alguém pudesse se confundir também. 

Não vou prometer um dia de postagem, porque já vi que nunca cumpro e não posto no dia, algo sempre acontece e me atrapalha. Só vou dizer que não vai demorar, ok? Já tenho o outro capítulo escrito, tudo certinho. 

Espero que tenham gostado, mesmo não tendo o Homero no capítulo.  </3 Hohô vai dar uma sumida, mas ele volta, prometo kkkkk

Bjs bjs, até semana que vem! <333

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