Tudo Pela Reportagem

By mariiafada

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PLÁGIO É CRIME - Todos os direitos reservados a Maria Augusta Andrade © Não autorizo qualquer reprodução ou u... More

Prólogo.
Primeira parte.
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Segunda Parte.
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!!!!!100 MIL F*CKING VIEWS!!!!! ❤️
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31 (Pra quem não está conseguindo ler!!)
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42. [Final]
Epílogo.
Agradecimentos.
Capítulo Bônus (1)
Booktrailer <3
Se você gostou de TPR, vai gostar de Morde e Assopra também!
Capítulo Bônus da Gabi! Yey!

37.

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By mariiafada



Brianna Steall, a mãe de Ray, poderia até ser uma mulher baixinha e já na casa dos cinquenta anos, mas discutia com a jovialidade e disposição de uma garota da minha idade.

– Você achou que seria engraçado, vir até aqui e me atormentar? Me mostrar o que você se tornou, é isso? – ela rugiu enquanto gesticulava com os braços de uma maneira intimidante e chamativa, o que tornava a situação toda ainda mais constrangedora.

Ray tentou falar, mas a mulher não deixou.

– Olhe só para os seus cabelos, Richard! O que fez com eles?

– É Ray – eu me intrometi na conversa, me aproximando do meu amigo e cruzando os meus braços com o dele. Encarei Brianna de frente, sem medo algum, e quando ela ergueu o queixo, ergui o meu também. – O nome dele é Ray, agora. E isso no cabelo dele se chama luzes.

A mãe de Ray ergueu as sobrancelhas.

– E quem é essa aqui, Richard? – riu ela. – Sua namorada eu sei que não pode ser.

Inflei de raiva.

– Sou uma amiga e não gosto do tom de voz que você está usando com ele.

Brianna riu mais ainda.

– Ele é o meu filho, eu...

– Não sou mais o seu filho, lembra? Você me expulsou de casa – interrompeu Ray friamente. – Expulsou-me de casa e disse que não tinha mais filho. Portanto, não sou filho.

Brianna assentiu orgulhosamente, mexendo no penteado em seu cabelo.

– Tem razão, você não é mais meu filho. O meu filho nunca me decepcionaria do jeito que você fez.

– Qual é o seu problema? Ray não fez nada de errado. – eu argumentei calmamente, sabendo que as pessoas as quais passavam pelo caminho até o restaurante estavam ouvindo a discussão.

– Nada de errado? Garota, olhe só para ele, o modo como se veste. Veja o que Richard se tornou... Esse não é o meu filho, não o criei assim – Brianna balançou a cabeça, a voz falhando. – E ele ainda vem aqui, só para me atormentar...

– Eu não vim aqui para te atormentar, não vim aqui vê-la, pelo amor de Deus! – Ray explodiu exasperado.

– Não use o nome Dele, Richard! Perdeu esse direito quando escolheu esse seu caminho sujo.

Ray revirou os olhos.

– Elizabeth, vamos embora, eu cansei disso aqui.

– Você poderia ter tentando compreender – eu disse à Brianna. – Ter apoiado o seu filho.

A socialite riu com gosto.

– Ah, é? E você queria que eu tivesse feito o quê? Emprestado as minhas roupas, minhas maquiagens e batons para ele?

– Eu continuo sendo homem, mamãe – murmurou Ray entredentes. – Não quero virar uma mulher, não gostaria de ser uma. Esse não é o meu caso.

– Homem que gosta de homem? – Brianna destilou com desprezo.

Viu? Agora você finalmente está entendendo, obrigada! – Ray deu um sorriso e segurou o meu braço, já virando-se de costas. – Vamos, Lizzie...

– Você é um desgosto, sabia? Para mim e para o seu pai – Brianna falou olhando diretamente para Ray. O meu amigo parou, abatido e sem reação. Seus olhos se encheram com lágrimas, as quais ele até tentou conter, ainda meio virado de costas para a mãe. – Você, Richard...

– Não. – eu a interrompi, dando um passo para frente e ficando mais perto da mulher, protegendo Ray atrás de mim. Levantei o dedo indicador cheia de indignação. – Agora você vai me ouvir, Sra. Steall. Não admito que fale assim de uma pessoa tão maravilhosa como o Ray. Você pode até não aceitá-lo como ele é, mas não pode dizer essas coisas, porque Ray não é uma pessoa ruim, ele só não é o Richard. Esse garoto aqui é um dos meus melhores amigos, com luzes platinadas no cabelo e se vestindo assim mesmo, desse jeito. Eu o amo como todo o meu coração, e Ray continua sendo um dos seres humanos mais incríveis que já conheci, mesmo que não seja a pessoa a qual família espera, e vocês o rejeitem da maneira mais cruel e ridícula possível. Ele é atencioso, engraçado, está sempre do meu lado e cuida de mim como se fosse um irmão mais velho! – olhei para Ray e sorri, como que agradecendo tudo o que ele tinha feito por mim. Ray sorriu de volta. Dirigi-me à Brianna novamente: – Você é que é um desgosto para o mundo, por se negar a conhecer um filho tão bom como ele. Fique com o seu preconceito, fique com seu amargor, mas nunca, jamais, desmereça o Ray por causa da orientação sexual dele. Ele é uma pessoa melhor do que você poderia ser em mil anos.

A mãe de Ray ficou muda, sem saber o que dizer. Até mesmo o próprio Ray, que tinha lágrima nos olhos, estava sem palavras. Limpei as mãos no ar e me aprumei.

– Bem, e isso é tudo que eu tenho a dizer. Passar bem, Brianna. – dei as costas para ela e puxei Ray comigo, levando-o pelo o braço com o senso de dever cumprido. Quando estávamos há alguns metros longe do restaurante, eu sussurrei: – Espero que não tenha deixado Brianna te afetar.

O meu amigo passou seus braços ao redor do meu ombro, colocando a cabeça ali.

– Obrigada, Liz. Obrigada por aquelas palavras.

Eu ri e desmereci seu agradecimento com um aceno.

– Ah, não foi nada.

Apesar de me sentir devastada por causa da briga com Homero, meu humor melhorou consideravelmente ao ajudar o Ray a colocar a mãe dele no lugar. Pelo menos uma coisa eu tinha feito certo, apesar de ter estragado todo o restante.

– Não falei uma só mentira – assegurei. –E falaria tudo de novo, se precisasse.

– Ah, eu sei que falaria – Ray e eu rimos. Ele deu tapinhas nas minhas costas, seus olhos brilhando de gratidão. Entramos no Central Park de mãos dadas, ambos magoados, mas juntos. Isso era o que importava, afinal. – Eu bem sei que falaria, Liz...


*


Eu queria ligar para o Homero. Ou melhor, queria que ele me ligasse, mesmo que fosse para discutir ainda mais. Simplesmente desejei que ele falasse algo. Passei a tarde trabalhando com os hackers, mas sem deixar de observar o telefone na mesa por um segundo de quer.

O silêncio de Homero era o meu pior castigo, a pior forma de punição do mundo. Caminhei até o telefone no intuito de discar o número dele – só para desistir depois – pelo menos umas cinco vezes durante toda a tarde. Não tinha um discurso gravado em mente, só queria dizer mais uma vez: Homero, eu sinto muito.

No entanto, será que Homero tinha razão? Eu ainda não havia superado o trauma do que aconteceu e por isso agia assim, com insegurança, sem ao menos confiar nele? Provavelmente sim. Não era um medo racional, eu simplesmente surtei. Juntarem-se à minha paranoia pós-trauma o ciúme infantil, e de bônus todas as minhas preocupações. Será que Homero estava realmente repensando a nossa relação? Será que ele achava mesmo que nos afastar era a melhor decisão?

– Liga logo para ele, Lizzie! – foi Tora quem falou, aproximando-se da mesa onde eu estava. Mais uma vez, ela já tinha terminado sua tarefa e estava livre para me observar surtar enquanto encarava o telefone. – Se você não ligar, eu ligo.

Acenei em negativa, cabisbaixa.

– Ele pediu um tempo, não quer falar comigo agora – abaixei a cabeça me deitei na mesa. – E talvez não queira falar nunca mais.

– Não, não acredito nisso. Homero vai te perdoar e logo vocês voltarão a ser... Como é mesmo o nome? Alguma coisa a ver como ovos mexidos?

– É Homeleth, Tora, até eu já sei – murmurou Isaac, o nariz enfiado em um livro de programação. Fiona riu baixinho, mas não disse nada. – Agora, shhhh, vocês duas. Estou tentando ler isso aqui. É importante.

A tarde se arrastou lentamente e meus esforços de manter a mente ocupada sempre falhavam. Em dado momento, quando o expediente normal do horário de trabalho do jornal está estava para acabar, eu decidi dar uma olhada em Samantha.

– Essa garota só sabe jogar Candy Crush Soda – retruquei observando-a salvar mais um ursinho congelado. – E, droga, ela acabou de passar da fase que eu estava!

Samantha logo pausou o jogo e ligou para uma amiga, mas não durou muito. Elas conversaram e marcaram um encontro no sábado, o qual eu prontamente anotei na minha agenda, só por precaução.

Depois, houve um momento de hesitação. Ela parou no menu do celular e não fez nada, como se analisasse as opções. Se eu pudesse ver o seu rosto enquanto ela mexia no celular seria muito útil. Samantha clicou no aplicativo do Google e ficou um bom tempo sem fazer nenhuma ação novamente.

– Qual é o problema, Sam? – perguntei baixinho, lembrando do rosto dela e a expressão nele ao se virar de costas para Slender e ir embora no dia anterior, aparentemente preocupada. – O que está te incomodando?

Devagar, Samantha digitou um nome. S... Parou. Apagou, mas recomeçou meio segundo depois. Sônia S... Ela não digitou mais nada. Apagou tudo e fechou o Google. Desligou o celular. Encarei a tela preta, sem entender.

Não, Samantha, não pode me deixar assim curiosa! Sônia S? Como assim, o que isso quer dizer?

– Hackers, preciso da ajuda de vocês – levantei da mesa e andei até a frente da sala, ficando de costas para o painel de telas. – Quem relacionado a Slender seria Sônia? Não me lembro de ter visto ninguém como esse nome na minha pesquisa.

– Hum... Estou procurando no banco de dados, procurando por notícias, qualquer coisa...– garantiu Tora digitando ferozmente. Ela era muito rápida, chegava a ser assustador. – Achei algo!

Tora lançou na tela principal uma notícia antiga, de onze anos atrás. A manchete dizia:

Morre mulher do empresário Marco Slender, Sônia Slender. Médicos afirmam que a causa da morte seja por problemas no coração ainda não especificados. O enterro será nessa sexta-feira, dia 30 de setembro.

– 30 de setembro. – repeti para mim mesma. – É hoje! Oh! – arquejei ao finalmente entender. – Hoje faz onze anos que a mãe dela morreu.

Fiz as contas mentalmente e conclui que quando a mãe morreu, em 2005, Samantha tinha apenas treze anos.

Engoli em seco. Foi no mesmo ano que aconteceu o desmoronamento do hospital no Myanmar, onde eu estava com a minha mãe na época. Eu tinha nove anos.

– Lizzie, isso continua sendo estranho – Fiona me trouxe de volta das lembranças tristes. Pisquei e balancei a cabeça, enterrando as memórias no fundo da mente. – Por que Samantha procuraria o nome da própria mãe no Google?

– É verdade, não faz sentido. Se ela quisesse se lembrar da mãe, estaria procurando uma foto em um baú antigo ou algo do tipo... – considerei.

– Então por que o Google? – insistiu Fiona, tão confusa quanto eu.

– Talvez ela não tenha fotos da mãe – propôs Isaac, mas achei improvável.

Fiquei em silêncio, sentindo que sabia a resposta e só precisava me esforçar para lembrar. Evoquei a memória da primeira vez que pesquisei sobre Slender e achei uma pequena informação dizendo que na época ele foi acusado por alguém pela morte da esposa, mas não demorou muito para ser absolvido por falta de provas e retirada da queixa.

– É isso! – animada por ter uma pista, comecei a andar de um lado para o outro, estalando os dedos para estimular o raciocínio. – Logo depois da morte de Sônia, Slender foi acusado por alguém de matá-la, mas ele foi absolvido e o caso abafado. Samantha deve ter dúvidas sobre a morte da mãe, ela duvida de Slender!

Exultante, soquei o ar em uma pequena comemoração. Ali estava minha brecha, uma maneira de me aproximar da filha Slender, a pessoa em quem ele mais confiava. Se eu conseguisse sua confiança, teria uma chance de vencer Slender, ganhar aquele jogo e descobrir onde o cartão de memória verdadeiro estava.

– Quero saber tudo sobre esse caso. Quem acusou Slender, em especial. A pessoa que acusou ele provavelmente sabe de alguma coisa.

Os hackers mergulharam no trabalho, fazendo pesquisas por toda a internet e fora dela, procurando em boletins de ocorrência da polícia e material desse tipo. Tora foi a primeira a achar algo concreto.

– O nome da mulher que denunciou Slender foi Marta O'Hara, aparentemente ela era a babá dos filhos de Slender... Depois de algumas semanas retirou a queixa contra o empresário e nunca mais foi vista. Não tem parentes vivos por aqui.

Parei, absorvi essa informação e recomecei a andar.

Vamos Lizzie, pense.

Marta O'Hara provavelmente foi silenciada ou comprada. Em ambas as opções, seria difícil fazê-la falar, mesmo depois de tanto tempo.

– Eu preciso saber onde ela está, onde vive hoje em dia. Se essa mulher sabe o que realmente aconteceu com a mãe de Samantha e tem uma prova, eu posso usá-la, posso mostrá-la à Samantha!

– Vai ser difícil encontrá-la – disse Isaac estreitando os olhos para o computador.

– Mas não é impossível – complementou Fiona.

Aproveitei o momento em que eles faziam as pesquisas e me servi com mais café. O sol estava se pondo e o cansaço do dia se abatia sobre mim, mas em um momento crucial como aquele eu precisava estar inteiramente acordada. A voz do Dr. Burke surgiu em minha mente: Para melhorar o mais rápido possível, precisar se alimentar devidamente.

Eu não estava me alimentando devidamente.

– Fi, será que você poderia me dar um pedaço do seu sanduíche natural? – pedi com sorriso amarelo.

Fiona assentiu, ocupada.

– Fique com ele todo, eu tenho mais dois da minha bolsa.

Eu precisava ser mais preparada como Fiona. Comi o sanduíche, mastigando-o às pressas. Precisava estar muito bem, nada poderia dar errado. Eu finalmente tinha uma pista para trabalhar. De quebra, poderia esquecer – pelo menos por hora – o Homero.

– Rá! Encontrei! – comemorou Fiona. – Talvez eu tenha usado métodos ilegais para ser mais rápida... Não importa. Marta está viva, mora em um asilo em Long Island... Os dias de visita são segunda-feira, hoje, que é quarta-feira e no dia depois de amanhã. Se você resolvesse ir lá agora... Hum, teria só duas horas para chegar e conseguir vê-la.

Eu já estava anotando o endereço do Asilo e Casa de Repouso Hastings na minha agenda, sem perder tempo.

– Eu não posso sair sem o Rivers, certo? – chequei com os meus hackers.

– Sim, não pode. Ordem expressas. Expressas.

– Definitivamente não.

– Nem ao menos pense nisso...

Todos eles falaram na mesma hora, deixando-me quase surpresa. Estavam mesmo empenhados em me proteger.

– Liguem para Rivers, digam para ele me encontrar nesse endereço, tudo bem? É uma viagem um pouco longa até Long Island, não podemos perder tempo nenhum.

– Lizzie...

– Meninos! – respirei fundo e olhei para cada um de uma maneira muito séria e tensa. – Eu sei que é perigoso, sei que é arriscado. No entanto, só temos duas horas, preciso de uma prova para convencer Samantha a confiar em mim e a cada dia que passa Slender consegue sua influência de volta. O tempo é precioso agora, não podemos esperar até sexta-feira, estará perto demais. Só façam o que estou pedindo, por favor?

Deixei a sala sem ouvir mais nenhum protesto, segui direto pelo corredor até as escadas e chequei o relógio. Duas horas. Tínhamos duas horas. Pensei em Samantha. Viver na dúvida sobre a morte da mãe, sem confiar cem por cento no pai... Deve ser difícil. Passar pela morte de uma mãe deve ser difícil.

A minha mãe estava bem viva, para ser sincera. Ela não morreu no desmoronamento do hospital em Myanmar, mas ficou tão fragilizada por eu quase ter morrido que decidiu me mandar de volta para os Estados Unidos. E assim acabou a minha aventura exótica da infância.

O problema é que a Dra. Scott prometeu voltar para casa em breve, mas nunca o fez. Ela também não ligava muito ou mandava cartas, e-mail e nem nada do tipo. Mamãe amava o seu trabalho por demais, talvez mais do que amava a mim.

Por algum tempo agi como se a minha mãe tivesse morrido, porque assim era mais fácil de lidar com a dor e a saudade. Depois, quando mamãe deixou de ligar, eu mantive essa dúvida: Será que ela ainda estava viva?

Algumas perguntas são cruéis demais para se manter por tanto tempo. Eu entendia bem como Samantha se sentia. E se eu pudesse ajudá-la, provar o monstro que Slender era, talvez conseguisse sua confiança. Primeiro, eu precisava falar com Martha O'Hara.

E o meu tempo estava acabando.

*


Pegar um táxi até Long Island, apesar de caro e ter que enfrentar longo trânsito, me apareceu a melhor opção. O metrô seria a escolha mais rápida, no entanto não existia nenhuma estação perto do Asilo... O táxi teve de servir.

O taxista usava uma boina xadrez vermelha e verde que me lembrava o Sherlock Holmes, tinha um bigode grosso e preto. Era um homem falante e alegre de sotaque sulista, manteve o rádio ligado durante todo o percurso e assobiava sem parar. Apresentou-se como o Sr. Bentley.

Entreguei-lhe o endereço e o homem me garantiu que sabia exatamente onde ficava o Asilo e Casa de Repouso Hastings.

– Se chegar lá no mínimo do tempo estimado, ganha um bônus – ofereci à ele.

– Agora sim está falando a minha língua, moça.

Com um sorriso por baixo do bigode, o homem facilmente deslizou pelo trânsito para fora de Manhattan, na direção de Long Island. Recostei-me no banco durante a viagem, batendo a caneta no aro na minha agenda, preparando-me para o questionário de perguntas que faria à Marta O'Hara.

Era provável que ela se negasse a me ver ou responder qualquer coisa, mas eu imploraria com todas as minhas forças até ela ceder. Se tem uma pessoa que consegue ser insistente, essa pessoa sou eu.

E se Marta não se lembrasse, por causa da idade ou alguma doença? Eu a ajudaria na composição dos fatos pacientemente, até conseguir qualquer coisa útil.

Joguei o celular de uma mão para outra, ainda no mesmo dilema de mais cedo. Ligava para Homero, avisava o que estava fazendo? Estaria desrespeitando o seu pedido de "tempo"? Afinal, até quando isso duraria? Fazia apenas algumas horas e eu já estava impaciente.

Enquanto pensava no assunto, recebi uma mensagem desaforada de Rivers:

O QUE EU DISSE SOBRE SAIR SOZINHA? DA PRÓXIMA VEZ QUE FOR RAPTADA NÃO COLOQUE A CULPA EM MIM. ESTOU CHEGANDO, NÃO FAÇA NADA IDIOTA, OU SEJA, NÃO SE MOVA ATÉ EU ESTAR AÍ!!!!!! – Agente Rivers.

Digitei uma resposta rápida:

Só estou visitando uma senhora de idade, não precisa se preocupar! Chegue logo, estarei dentro do Asilo conversando com Marta O'Hara.

– E aqui estamos nós, Srta. Elizabeth. – anunciou o taxista depois de alguns minutos, parando o carro em um estacionamento que ficava apenas a poucos metros da entrada do asilo.

Dali, eu poderia dizer com toda a certeza que se tratava um lugar de luxo. A entrada era um arco de mármore. A porta gigante e lustrosa de madeira estava fechada.

– Você poderia me esperar aqui? Não vou demorar mais de meia hora.

O Sr. Bentley ponderou.

– Eu espero, mas é melhor se apressar. O taxímetro está rodando.

– Hummm, eu sei! – lamentei pensando no quanto aquilo me custaria. Abri a porta do carro apressada, mas antes de colocar os pés para fora, parei.

Aquilo era perigoso. Rivers tinha razão. Eu deveria esperar por ele. Mesmo que eu não acreditasse que Slender teria homens vigiando Marta, acreditava que alguém poderia simplesmente ter me seguido até ali.

Vou esperar pelo Rivers, decidi. Olhei para o relógio. Vinte minutos para o horário de visitas acabar! Fiquei mais cinco minutos no carro, esperando em silêncio e com uma paciência de Jó.

Não vou esperar pelo Rivers, desisti depois de se passarem mais alguns minutos. O meu tempo era precioso demais.

Saltei do carro e andei em direção ao asilo. O estacionamento estava um pouco vazio, mas era bem iluminado. O taxista ficaria bem.




Meus saltos ecoaram pelo piso da entrada. Eu toquei a sirene dourada ao lado da porta, um homem alto e calvo abriu-a para mim, desejando-me boa noite de uma maneira muito polida e educada.

– O horário de visitas já acabou – informou ele antes mesmo de me deixar entrar. – Talvez prefira voltar na sexta-feira.

– Na verdade, ainda tenho dez minutos – argumentei e mostrei-lhe o relógio. Dei um sorriso e juntei as mãos. – Por favor, não vou demorar.

O homem, que supus ser o mordomo casa, suspirou e abriu a porta.

– Por aqui, senhorita.

Ele me guiou por um breve e iluminado corredor.

O lado de dentro era ainda mais luxuoso e ricamente mobilhado. Cortinas grossas de veludo vermelho cobriam as janelas da sacada. O pé direito da recepção era enorme, toda a casa em si era impressionante.

– Quem você deseja ver? – o mordomo perguntou indo até o balcão vazio da recepção e colocando-se atrás de um computador moderno.

– A Sra. Marta O'Hara, por favor.

O homem levantou os olhos escuros, aparentemente surpreso, mas não protestou.

– Ela está na sala da recreação, por favor, me acompanhe.

Atrás da recepção estavam duas escadas duplas que levavam até o segundo andar, e foi por lá que o mordomo me guiou. Diferente do primeiro e silencioso andar, o outro era mais animado e tinha música. Vozes e risadas vinham do final do corredor por onde fui levada.

Chegamos em uma sala ampla, cheia de mesas e diversos artigos para jogos, como pôquer, baralho, bingo e dentre outros. Espalhados pelo salão estavam uma boa quantidade de idosos, que jogavam, riam e até mesmo dançavam. Entre eles circulavam enfermeiras vestidas de verde, inspecionando os mais velhos.

– Martha O'Hara é aquela ali – o mordomo me indicou uma mulher em uma cadeira rodas sentada de costas para o restante das pessoas, olhando pela janela. – Não costuma receber muitas visitas... Na verdade você é uma das primeiras. Bem, boa sorte.

O mordomo se afastou e me deixou sozinha. Reuni coragem e caminhei até Marta, distribuindo sorrisos para os idosos pelo quais passava e rejeitando educadamente uma dança com um senhor que me convidou assim que me viu.

Sentei-me numa poltrona amarela ao lado da cadeira de Marta e pigarreei.

– Olá... Sra. O'Hara?

A mulher olhou sobre o ombro, me surpreendendo. Ela era nova demais para estar em um asilo. Deveria ter no mínimo cinquenta anos, seu cabelo loiro quase não tinha fios brancos. Tentei sufocar o choque e sorri.

– Eu sou a... – hesitei. Dizia o meu nome verdadeiro?

– Não perca tempo dizendo o seu nome, querida – a mulher murmurou com uma voz firme e lúcida. – Na verdade, não perca o seu tempo aqui, comigo, não vai descobrir nada.

Eu me surpreendi com a sua sinceridade, mas não ia desistir tão fácil.

– Então sabe o porquê estou aqui?

Marta consertou o cachecol ao redor do pescoço, mesmo que não estivesse fazendo frio.

– Posso tentar adivinhar. – a Sra. O'Hara virou sua cadeira motorizada na minha direção, revelando um rosto saudável, com rugas de expressão aqui e ali. Ela tinha os olhos castanhos mais serenos que já vi, apesar da leve rudeza na voz. – Você é um dos abutres.

– Abutres? – repeti confusa.

– Uma jornalista, que quer incriminar o Sr. Slender.

Suspirei.

– Na verdade, eu só queria que você me contasse o que aconteceu...

– Um erro, isso foi tudo. Estou cansada de repetir que aquilo foi um erro, eu me enganei!

Marta estava quase gritando. Suas mãos agarraram o cachecol e o ajeitaram mais uma vez. Ela respirou profundamente e desviou o olhar do meu rosto assustado.

– Desista, garota. É perda de tempo.

A mulher começou a mover sua cadeira para longe de mim.

– Sônia Slender. – eu disse fazendo-a parar de súbito. – Eu só quero saber o que aconteceu com a Sônia. Só isso. Mesmo que você tenha se enganado, o que levou a senhora a acreditar que Slender era o culpado pela morte da mulher?

Silêncio. Marta continuou parada, de costas.

– Por favor.

– Sônia tinha problemas cardíacos e isso causou a sua morte. É tudo o que tenho a dizer.

A mulher voltou a se afastar de mim, seguindo pelo corredor oposto ao que eu entrei. Supus que para lá ficavam os quartos. Eu fiquei alguns segundos parada, incapaz de acreditar que Marta se recusava a colaborar. Torci as mãos e corri atrás dela.

– O que pensa que está fazendo?! – protestou Marta quando eu a ultrapassei no corredor e me pus na sua frente, segurando sua cadeira de rodas. – Saia da minha frente ou vou atropelar você!

– Tenta, eu não me importo. Mas quer saber? Acho que você está mentindo. – nivelei o meu olhar com o da Sra. O'Hara. – Acho que Slender comprou o seu silêncio. Afinal, sem querer ofender mas você era uma babá, como poderia pagar pela estadia nesse asilo luxuoso?

– Como você ousa? – Marta tentou atacar o meu rosto, mas eu me afastei, ainda conseguindo segurar a sua cadeira de rodas.

Tudo bem, talvez seja passar do limites fazer aquilo com alguém mais velho e paraplégico, mas tentei ao máximo não machucá-la, só impedi-la de prosseguir com a cadeira motorizada e me atropelar.

– Marta, por favor! Conte a verdade sobre a morte de Sônia!

– Já disse a verdade, sua maluca! Enfermeira!

Eu tapei a sua boca com cuidado, impedindo-a de gritar.

O cachecol de Marta caiu, e foi nesse momento que o pescoço dela ficou à mostra. Os meus olhos captaram um brilho dourado e foram atraídos para o pescoço da senhora imediatamente.

Ela estava usando um relicário dourado, idêntico ao de Samantha, a única diferença que é naquele ali existiam duas letras gravadas: SS.

Liguei os pontos facilmente. Arquejei e me afastei da cadeira da mulher.

– Você não é a Marta – conclui perplexa. – Você é a Sônia. Sônia Slender.






*




A mãe de Samantha resmungou, ofegante. Esperei pacientemente que ela recuperasse o fôlego.

– É Sônia Jones, agora – corrigiu a mulher. – Não sou mais casada com o Marco. Deixei de ser no momento em que morri.

Troquei o peso de perna e estreitei olhos.

– Você me parece bem viva.

A mulher me lançou um olhar enviesado, mas não disse nada.

– Como? – eu exigi. – Como isso aconteceu?

– Não é da sua conta, agora me deixe em paz! – ela avançou sua cadeira contra mim e seu pé acertou minha canela com uma força impressionante.

Uivei de dor e sai do caminho, abrindo espaço para Sônia. Ela correu à toda velocidade em sua cadeira e se trancou em um quarto no final do corredor. Depois de me recuperar do golpe, corri até a porta que vi a ex mulher de Slender entrar.

– Sônia!

– Já disse pra ir embora, garota!

Bati na porta mais forte.

Não vou embora.

– E eu não vou sair deste quarto. Vou ligar para a recepção e mandar enxotarem você daqui.

– Não! – eu encostei a testa na porta e suspirei. – Por favor, não... – bati minha testa na madeira, tentando pensar em algo. Abri os olhos de súbito. É claro! – A Samantha sente sua falta, sabia?

Silêncio.

– Lembra dela, a sua filha?

Mais silêncio.

– Ela se tornou uma garota muito bonita. Ontem visitou a escultura da Paz, seu local preferido, lembra? Ao lado na Catedral de São João, O Divino?

– Você... Você é amiga da Samantha? – Sônia perguntou baixinho. Precisei colar o meu ouvido na porta para escutá-la melhor.

Tirei o cabelo do rosto e ri.

– Bem... Pode-se dizer que sim. Na verdade, sou amiga do Homero, que é amigo da Samantha.

Homero... Meu deus. Eu o vi quando era uma garotinho. Deve ter se tornado um homem muito bonito e gentil.

Você não faz ideia, pensei.

– E o Jason? – ela continuou falando bem baixo. – O meu filhinho, quando eu morri ele era tão novo...

– Ele também se tornou um rapaz muito bonito – contei. – Mas é a Samantha que me preocupa, Sônia. Se você abrir a porta eu prometo que te conto tudo.

Segundos depois ouvi a fechadura destrancar e a porta abrir. Sônia jogou seu carrinho para o lado e me deixou entrar, mas seu olhar ainda era de desconfiança. Manquei para dentro do quarto, que era grande e tão luxuoso quanto o restante da casa. Sentei-me no sofá de couro, tomando um susto quando a ex mulher de Slender avançou rapidamente com a cadeira de rodas para perto de mim.

– Os meus filhos, fale sobre os meus filhos – ela exigiu.

Levantei as mãos em sinal de trégua.

– Calma, calma. Eu vou falar, com uma condição. Você também vai ter que me contar melhor essa história, o porquê assumiu a identidade da Marta e o que realmente aconteceu.

– Tudo bem – concordou Sônia, depois suplicou: – Agora os meus filhos, por favor.

– Eu só vi o Jason duas vezes... E para ser sincera, ele meio que deu em cima de mim – encolhi os ombros. – Acho que ser criado por Slender não ajudou muito. Mas ele é bonito e bastante saudável. Esperto também – a última parte só acrescentei para deixá-la satisfeita, já que Jason não era lá muito inteligente de verdade.

– Você tem alguma foto dele?

– Sinto muito, mas não.

A decepção em seu rosto foi evidente.

– E Samantha... Acho que posso conseguir uma foto dela – eu peguei o meu celular novo - mais um presente do FBI - e acessei o Google. Digitei Samantha Jones, recebendo uma resposta imediata para a pesquisa. Dezenas de fotos apareceram como resultado. Entreguei o aparelho para Sônia. – Aqui. Ela é uma modelo muito famosa, e usa seu nome, sabe. Jones.

Sônia segurou o celular em suas mãos trêmulas e seus olhos se encheram de lágrimas. Ela arquejou como se sentisse dor, dobrando-se para frente. Tocou a tela do meu celular, acariciando o rosto sorridente de Samantha pousando em um tapete vermelho.

– Ah, Deus. Minha criança...

– Vocês não tem muito acesso à internet aqui, não é? – perguntei. Para ela nunca ter visto o rosto da filha antes, essa só poderia ser a resposta.

– Foi tudo por causa dela, sabe? – começou Sônia, entregando-me o celular e limpando as lágrimas. – O acidente.

– O quê?

– O acidente que me colocou nessa cadeira de rodas, querida. Começou com uma discussão entre mim e o meu ex marido. Marco mandou a minha filha para longe sem o meu consentimento, para algum colégio interno da Inglaterra, dizendo que era para a própria proteção de Samantha. Mas eu estava farta disso e exigi a minha filha de volta, para perto de mim.

Ela fez uma pausa.

– Como aconteceu o acidente não importa, não mais. O importante é que Marta entrou no meio, tentando me defender de Marco e ela... Ela acabou morrendo, e eu paraplégica. O meu ex marido é uma pessoa ardilosa, não sei como pensou em tudo tão rápido, mas em alguns minutos ele tinha orquestrado o plano inteiro. Salvou a minha vida, mas me escondeu. Provavelmente subornou algum médico-legista para trocar as nossas identidades e me enfiou aqui nesse asilo. Eu tentei acusá-lo pela minha morte, ou melhor, pela morte de Marta... Mas Slender me silenciou.

Expirei, sem poder conter a surpresa. Se Slender subornava policiais, é claro que subornaria médicos também.

– Marta está morta – conclui para mim mesma. – E você...

– Fui obrigada a ficar aqui, ou ele me mataria. Provavelmente já se esqueceu da minha existência. No começo eu pensava em tentar fugir, não vou negar. Mas para onde eu iria? As pessoas achavam que eu estava morta, não tinha dinheiro ou alguém para contar... Estava fadada ao fracasso e ao esquecimento. Acabei aceitando o meu destino, escondida aqui como Marta O'Hara, a mulher que salvou a minha vida.

Fiquei em silêncio, meditando sobre a história. Todos aqueles anos escondida, sem poder ver os próprios filhos, confinada em um asilo, esquecida por todos. Sônia teve uma vida difícil, isso eu não poderia negar.

– Sônia – eu saltei do lugar onde estava e fiquei de joelhos ao lado da cadeira dela. Olho no olho. Cara a cara. – Eu preciso que você preste atenção, porque é muito importante o que estou prestes a dizer, tudo bem?

Ela assentiu obedientemente.

– Eu posso prender Slender e acabar com o seu pesadelo. Se eu conseguir ter sucesso, você não vai mais precisar se esconder aqui... E estará livre, poderá ver seus filhos, viver com eles.

Sônia piscou, mal acreditando.

– Você é da polícia?

Considerei o que responder. Se dissesse que era uma jornalista que simplesmente ia longe demais, ela não colocaria tanta fé em mim.

– Trabalho para o FBI – informei, o que não era inteiramente mentira.

– Certo, mas mesmo assim, eu não sei...

– Samantha está em Nova York – eu a interrompi.

A mulher inflou de esperança.

– Está?

– Sim, mas acho que não ela acreditaria em mim se eu simplesmente aparecesse e revelasse: "Ei, a sua mãe está viva! Quer vir reencontrá-la, como no programa da Oprah?" – Sônia riu comigo. – Eu preciso de provas, sabe? Assim, poderia trazê-la até aqui... Para ver você.

Reencontrar os filhos era tudo que Sônia queria, então ela concordou de imediato.

– E o que você tem em mente?

– Eu estava pensando em um certo objeto, que a Sam com certeza reconheceria... – olhei para o relicário dourado.

Sônia prontamente o tirou e colocou nas minhas mãos.

– Obrigada, muito obrigada.

– Quando poderá dizer a ela que eu estou viva? Quando vou poder ver a Sam e o Jason?!

Segurei as mãos de Sônia.

– É complicado, porque Slender os vigia com frequência. Mas não se preocupe, eu te garanto que semana que vem Samantha estará aqui. Provavelmente na terça-feira.

Levantei-me, pronta para ir embora.

– Obrigada, mocinha, se estiver falando a verdade. Espero que tudo dê certo.

– Eu também espero – guardei o relicário na minha bolsa. – Agora eu preciso ir.

Andei até a porta sentindo-me estranhamente mais leve.

– Espere! Você não disse nada sobre o Homero.

Engoli em seco. A leveza desapareceu. Encolhi os ombros, sem querer tocar no assunto.

– Eu sou a madrinha dele, sabe. – Sônia pressionou. – Eu o vi crescer...

– O Homero... Ah, ele é ótimo homem, sim. – cedi. – Puxou ao pai para os negócios. Tem os olhos da mãe, mas com certeza isso você já sabia. Qualquer garota que ter a chance de fisgá-lo é muito sortuda, sem dúvida.

Sônia me observou de dentro do quarto com olhos espertos.

– Bem, então não o deixe escapar, mocinha.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Sônia sorriu e fechou a porta do quarto.




*


Ótimo – retruquei enquanto caminhava até o estacionamento. O sol tinha desaparecido por completo, afundando Long Island na noite cor de vinho e sem estrelas. Bati na tela do meu celular. – Sem sinal!

Pelo menos o táxi continuava ali. Olhei de um lado para o outro do estacionamento deserto, sem ver nenhum sinal de Rivers. Abri a porta do carro e entrei no banco de trás.

– Tudo certo! Demorei muito? – perguntei ao Sr. Bentley. Joguei a bolsa no banco ao lado e coloquei o cinto.

– Hum-hum – ele grunhiu em resposta.

Fiquei na dúvida se considerava aquilo um sim ou não.

Como estava escuro, não consegui ver o rosto do homem. Será que estava chateado por ter esperando tanto?

Ele arrastou o carro para fora do estacionamento e dirigiu lentamente pela estrada. Estava pegando o caminho errado, oposto à Manhattan. Seu chapéu xadrez do Sherlock Holmes estava meio amassado e colocado para o lado. O taxista, que antes era falante, agora estava silencioso e suspeito.

– Está indo para a direção errada, Sr. Bentley.

Silêncio. A falta de respostas me deixou nervosa, torci as mãos no cinto de segurança. A atmosfera do carro estava sombria e pesada. Olhei para o retrovisor, mas ele estava virado para longe do motorista. Havia um pouco de sangue respingado no espelho. O meu estômago afundou em terror.

– Você está se sentindo bem, senhor?

Como estava atrás do banco dele, precisei esticar o pescoço para vê-lo.

Não era o mesmo homem, isso ficou claro para mim na mesma hora. A pessoa que dirigia o carro agora era bem mais larga e alta. Meu coração congelou. Minhas mãos procuraram a porta do carro, mas ele as travou na mesma hora, como em um maldito filme de terror.

Eu ouvi uma risadinha vindo dele, as quais me trouxeram lembranças ruins. Eu conhecia aquela risada.

O homem deu uma súbita volta de trezentos e sessenta graus na pista, e se não fosse pelo cinto de segurança eu teria parado do outro lado do carro ou abatido a cabeça violentamente contra o banco.

Ele tirou o chapéu se virou para o banco de trás.

– Eu não estava me sentindo bem, para falar a verdade, Elizabeth. Mas agora que você chegou... Ah, eu me sinto ótimo. – disse Jill Tretton, dando-me um sorriso de louco escancarado.

Seu rosto me deu náuseas e o terror que senti antes não se comparou ao sentimento de desespero que me preencheu naquele momento em especial. O rosto de Jill estava completamente desfigurado pelo o fogo, sua pele se tornara uma crosta cheia de feridas vermelhas, carne podre e exposta, lembrando-me o Freddy Krueger. Eu fiz isso com ele?

Jill pisou no acelerador, ajeitou o retrovisor e me encarou pelo espelho. Não tinha sobrancelhas, cílios ou cabelos. Só olhos vidrados de alguém que já perdeu a sanidade faz muito tempo.

– Vamos dar uma voltinha, Lizzie. Temos alguns assuntos inacabados para resolver.

O Tretton pisou no acelerador, fazendo o táxi voar pela pista e desaparecer na noite. 


***

Oi, oi amores! 

Desculpem pelo final do capítulo, e desculpem pelo próximo também... Ele vai ser bem barra. Muitos de vocês devem estar fazendo a mesma pergunta que alguns já fizeram essa semana: Meu deus, a Lizzie não vai ter um final feliz???? Não vai ter um descanso nunca? 

Calma, prometo que o final não será ruim, (pelo menos eu acho kkkkkk), mas até lá esse finalzinho de livro vai ser bem agitado e sofrido para a Lizzie. Ela se envolveu com um pessoal bem perigoso, fazer o quê ): 

Mas e aí? Como acham que vai ser esse encontro Jill  x Lizzie? Adoro ler as teorias de vocês! 

Ahhh, vou tentar postar o próximo capítulo no domingo mesmo, provavelmente à noite! Falta tão pouco... Pelas minhas contas vão ser 40 capítulos fechados </3. [Não estou contando o epílogo nessa conta]. 

Antes de dar adeus, um aviso ultramegasuper importante... Na verdade é mais um convite do qualquer outra coisa. 

Gente, essa é mais uma indicação de livro minha, mas dessa vez é ultramegasuper especial. Porque vou falar do livro da minha MELHOR AMIGA!!!!! (estou tão emocionada, tão feliz, tão orgulhosa por ela). A Dhu é novinha aqui no Wattpad, e quando ela me mostrou o que estava escrevendo eu fiz a maior propaganda da nossa comunidade aqui. E agora ela se juntou a nós!! O livro dela se chama A Vida de Alice, está na minha lista de leitura e acabou de começar, ela só postou o prólogo dá para começar a acompanhar.

Sei que sou suspeita para falar, mas vou falar assim mesmo: A minha amiga escreve muito bem, se puderem ir lá não vão se arrepender. Mesmo, mesmo. Juro. Vão lá, sério <3

p.s: Se você gosta da Scarlett, vai gostar da Dhu também, porque ela é uma das minhas inspirações para a amizade da Lizzie e Scarlett. <3333 

p.p.s.: Por hoje é só, amores, até o próximo capítulo! 

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