Rest in Peace

By handerson21

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O que são os Anjos da Guarda senão soldados de Vida? E o que são Ceifadores de Almas senão soldados da Morte... More

Casa de Bonecas
Julgamento
Lafayette
Diversões
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Seres Alados
Terno Cinza
Fios Cortados
Rebeldia Pura
Mentes Complexas
Pilares
Karma Karma
H de Horatio
Desertora
Números Extras

Mensageiros

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By handerson21

Ódio, raiva, desprezo. Todos os sentimentos que os Anjos da Guarda sentiam ao ver Celeste andando pelo hall principal do Centro de Artes. A Ceifadora seguia ouvindo o burburinho dos Anjos enquanto via as Almas a observando com certa admiração. Ela cruzou o que parecia ser a recepção de um hospital vendo uma senhora sentada numa cadeira atrás de um balcão. Os cabelos brancos e os óculos de armação fina davam-lhe um ar de importância.

Chegou a um corredor. Seguiu até o final e passou pela porta que dava acesso a Sala de Evangeline. A mesma encontrava-se sentada numa cadeira de madeira envernizada com desenhos de anjos na madeira da cadeira. Vida encarou Celeste com um sorriso em seu rosto.

- Celeste. – disse Evangeline parecendo comemorar a chegada da Ceifadora.

- Olá, Evangeline. – retribuiu Celeste com certo nível de timidez. – Como tem passado?

- Muito bem. – respondeu a Ceifadora dirigindo-se até a cadeira acolchoada onde Vida estava sentada. – Posso? – perguntou apontando para o divã.

Evangeline confirmou com a cabeça. Celeste sentou-se no divã e encostou suas costas no apoio ficando com seu rosto voltado para o teto. O lustre de diamantes capturava os olhares daqueles que o encarassem.

- Por que está desconfortável? – perguntou Evangeline cruzando suas pernas.

- Lafayette já havia me contado sobre isso. – Celeste rebateu parecendo voltar ao real motivo de sua ida até o Centro. – Você costuma tirar o rumo de uma conversa para poder entender a mente dos outros.

- Morte odeia expor seus sentimentos, então espera que os Ceifadores também não os exponham. – comentou Evangeline. – Lafayette tenta reprimir seus sentimentos e seus problemas. Eu, apenas, tento fazer com que ele os aceite.

- Ele parece aceita-los muito bem. – Celeste disse vendo Evangeline descruzar suas pernas.

- Mera ilusão. Lafayette colocou naquela cabeça teimosa a ideia de que reprimir sentimentos lhe faz mais forte, mas ele está enganado. – falou Evangeline se levantando e indo em direção a uma estante de livros.

- Podemos focar somente no real motivo de minha vinda até aqui? – perguntou Celeste parecendo impaciente.

Evangeline chegou até uma estante e começou a olhar os livros de capa dura que estavam na estante. Cada um deles possuía uma cor diferente. Ela olhava as letras douradas que estavam inscritas nas estantes de madeira.

- Lafayette lhe ensinou muito bem, sabe? – comentou Evangeline pegando um livro fino e apoiando em seu braço. – Você também reprime seus próprios sentimentos.

- Foco, por favor. – disse Celeste de forma autoritária. Evangeline a encarou por cima do ombro e deu um sorriso. – Desculpe-me. Não foi minha intenção.

- Você é explosiva. É aceitável. – retrucou Vida pondo mais dois livros apoiados em seu braço. – Belinda Moreno e Blanca Aguilar. – disse sussurrando para si mesma e pegando esses dois livros e pondo junto dos outros.

- Você é filha de Deus. Então, me responda por que somos assim? – perguntou Celeste vendo Evangeline parar e encarar a estante por segundos. – Se nosso trabalho não requer compaixão, por que nos dar sentimentos?

- Uma pergunta interessante. – falou Evangeline se dirigindo até sua cadeira com sete livros em mãos. – Deus criou o homem a sua imagem. Deus criou os Anjos para proteger a sua imagem. Deus possui sentimentos e vocês também.

- Não somos Anjos. – rebateu Celeste. – Não possuímos asas.

- O que faz um Anjo ser considerado um Anjo é o quanto ele está disposto a fazer para manter o equilíbrio existente. – comentou Vida sentando-se e apoiando os livros na mesinha de centro. – Meu irmão Lúcifer foi um Anjo que se voltou contra Deus por achar que fazer o homem a sua imagem era um erro, pois dar tanto poder assim aos mortais seria algo perigoso. Por isso foi banido, mas nunca deixou de ser um Anjo e sabe por quê?

- Não, mas eu quero saber. – pediu Celeste sentando-se no divã com seus olhos repletos de curiosidade. – Você pode me dizer?

- Não. – respondeu rispidamente Evangeline abrindo o primeiro livro que estava na pilha. – A pergunta lhe foi feita para que você achasse a resposta. Ao achar a resposta, você entenderá por que os Ceifadores são considerados Anjos. – Vida pegou o livro e folheou até a última página. – Belinda Moreno.

- Por que pegou esses livros? – indagou Celeste parecendo impaciente. – Você está dando voltas e mais voltas para não chegarmos ao assunto das Almas ceifadas, não é?

- Você veio falar sobre as Almas ceifadas e nós vamos falar sobre elas. – Vida apontou para o centro da mesa fazendo um vasilhame de cristal surgir e dentro dele havia muffins. – Sirva-se.

Celeste tirou a tampa do pote e retirou um dos bolinhos dando uma mordida. Evangeline levou o livro ao seu colo e leu as últimas linhas.

- Progreso, México. Causa da morte: eletrocutada dentro da piscina do navio Star of Sea. Anjo da Guarda: Wohl. Data da morte: 13 de março de 2016. – Evangeline fechou o livro e em seguida pegou outro o abrindo e o folheando até chegar à última página. – Francisco Guzman. Progreso, México. Causa da morte: eletrocutado dentro da piscina do navio Star of Sea. Anjo da Guarda: French. Data da morte: 13 de março de 2016.

- O que está querendo dizer? – perguntou Celeste finalizando seu bolinho parecendo curiosa com aqueles textos que lhe foram apresentados. – Mortes. Almas ceifadas por Ceifadores.

Evangeline deu uma pequena risada. Pegou o último livro da pilha e abriu. Folheou até o final da mesma forma que fizera com os outros. Pediu que Celeste escutasse atentamente tudo que ela falaria.

- Ulysses Manganiello. Progreso, México. Causa da morte: afogou-se nas águas da piscina do navio Star of Sea. Anjo da Guarda: Alna. Data da morte: 13 de março de 2016. Ceifador: Lucy Allen Foster. – concluiu fechando o livro e encarando Celeste. – Notou alguma diferença entre esse trecho e os demais trechos dos outros livros?

- Percebi mais semelhanças do que diferenças. Todos morreram no mesmo lugar e no mesmo dia. – parou e se levantou dando a volta no divã e parando bem na frente de Evangeline. – Mas tirando isso, somente o trecho de Ulysses Manganiello teve o nome do Ceifador que coletou sua alma citado.

Celeste recordava-se do encontro que tivera com Lucy no Bar. Lembrou-se do nome que havia surgido no braço da garota: Ulysses Manganiello. Sempre quis conhecer o México. O comentário que Lucy fizera invadiu sua mente naquele momento.

- Preocupada. Nervosa. – comentou Evangeline se levantando e pegando todos os livros. Foi até as prateleiras. – O pior de se ter sentimentos perto de mim é que eu posso senti-los. – começou a devolvê-los aos lugares. – Você está certa. Quando uma Alma é ceifada, o nome do Anjo da Morte é acrescentado nos livros indicando que havia chegado sua hora.

- Somente essas duas Almas foram ceifadas no dia de hoje sem que sua vida tivesse chegado ao fim? – perguntou Celeste olhando toda aquela sala notando certas decorações como vasos e estatuas de Anjos.

- Seria ótimo se fossem somente essas duas. – respondeu Evangeline devolvendo o último livro a prateleira. – Mas não é bem assim. Sete almas em Progreso, México. 29 almas em Bagdá, Iraque. 38 almas no Centro de Estudo Spokane, na Antártida. No total, 348 almas foram ceifadas.

- Parece pouco. – rebateu Celeste se sentindo um pouco aliviada até que vê Evangeline negando com a cabeça. – Claro levando em conta que nada de ruim aconteceu até o momento.

- Isso por que o Centro tem trabalhado arduamente para manter um equilíbrio com o Parque. – disse Evangeline voltando para sua cadeira e relaxando seu corpo. – Se 100 almas forem ceifadas da Terra, 100 novas almas deverão ser enviadas para a Terra e só conseguimos esse equilíbrio por que Láquesis nos mantém informados de forma igual.

- Entendo. – Celeste cruzou seus braços. – Então, o Centro está tendo problemas para conter esse aumento de almas ceifadas antes do tempo?

- Estamos nos esforçando ao máximo para termos Almas á mais prontas para serem enviadas caso Almas sejam coletadas prematuramente. – respondeu vendo uma expressão de conformismo e felicidade surgir no rosto de Celeste. – Mas não fique tão feliz. Vocês ainda precisam sanar esse problema. Um serafim virá aqui, a mando do meu Pai, pedir um parecer técnico sobre o Centro e não quero ter de mentir para ele sobre esse problema.

- E por que mentiria? – perguntou Celeste.

- Para proteger meu sobrinho. – deu um sorriso que de certa forma causou desconforto em Celeste e Evangeline sabia o porquê daquele sentimento. – Bom, eu tenho deveres para cumprir. Espero que entenda.

Celeste apenas concordou com sua cabeça. Seguiu até a porta sendo acompanhada por Evangeline. A Ceifadora pôs a mão na maçaneta e girou enquanto Evangeline ficou posicionada atrás dela.

- Ambas nos preocupamos com ele de formas diferentes. – comentou Evangeline.

- Na verdade, não. – rebateu Celeste abrindo a porta e ficando abaixo do portal de madeira. – A nossa preocupação com ele provém do mesmo sentimento. A diferença é que ambas dividimos posicionamentos diferentes na vida dele.

Celeste fechou a porta enquanto Evangeline ficara parada olhando para uma de suas estatuas. Em seguida, alguém bateu na porta três vezes. A mesma se abriu e Nathanael entrou vendo Evangeline de braço cruzados.

- Vi a Srta. Celeste sair. – disse Nathanael. – Houve algum problema?

- Sim. – respondeu de forma seca. – Diga aos Anjos para ficarem ainda mais atentos com seus protegidos. Aqueles tempos difíceis que tanto são falados parecem estar mais próximos do que imaginamos.

- Do que está falando? – Nathanael parecia confuso e preocupado com o tom de voz que Evangeline usou. – Tempos difíceis? Que tempos difíceis?

- Nada, querido. – Vida se virou e pôs a mão no ombro de Nathanael. – Apenas faça o que eu estou pedindo.

Nathanael encarou Evangeline vendo que ela estava preocupada. Aquela calma e neutralidade habitual da Vida foram apagadas.

Seattle, Estados Unidos.

Horatio caminhava com sua avó pelo corredor de um supermercado. A senhora empurrava o carrinho de compras enquanto Horatio olhava as prateleiras pegando os itens que lhe eram pedidos. Logo atrás deles, Elijah estava caminhando com as mãos escondidas dentro dos bolsos da calça branca enquanto andava com o Anjo da Guarda da avó de Horatio.

- Você é sempre calado assim? – perguntou Elijah tentando puxar assunto com Accul, o Anjo de topete e costeletas bem feitas.

- Sim. – respondeu Accul olhando as prateleiras com caixas de cereal coloridas. – Mas com o tempo vamos começar a desenvolver uma relação legal. – o Anjo deu passos largos dando de ombros. – Isso se ela não morrer antes.

- Um ponto de vista interessante. – disse Elijah tentando acompanhar Accul que já estava próximo de Beatrice, a vovó Gilmore, e Horatio. – Como o Harrison era?

- Pode ser mais específico? – retrucou Accul com certa simpatia. – O que quer saber sobre Harrison?

- O básico. – Elijah responde vendo Horatio pegar um pote com picles. – Ele era um bom Anjo para o garoto?

- Sim. – falou, mas logo em seguida parou e pensou. – Na verdade, não tivemos muito contato. Quando a irmã do garoto morreu, a família se desestabilizou e ele... – Accul apontou para Horatio. – Ligou para Beatrice pedindo para que ela cuidasse dele.

- Garoto esperto. – comentou Elijah vendo Beatrice dobrar no final do corredor. Os dois anjos transpassaram pela prateleira de metal e chegaram ao outro corredor. – Ele cuidava bem do Horatio?

- No pequeno período de tempo que convivi com eles, Harrison foi de muita importância para o garoto. – Accul parou torcendo seu nariz e pondo um sorriso no rosto. – Imagina que o garotinho decidiu fugir da casa da avó durante a noite por que sentia falta da irmã?! Harrison fez com que o menino adormecesse assim que pulou da janela e caiu nos arbustos.

Elijah pareceu ficar surpresa. Suas sobrancelhas formaram arcos de cor escura. Sulcos se formaram em sua testa. Olhos esbugalhados evidenciavam o quanto os métodos de Harrison causavam espanto em Elijah.

- Método estranho não acha? – perguntou o Anjo de Horatio cruzando seus braços indicando certo temor. – Harrison era um suicida?

- Era? – Accul falou demonstrando que realmente não sabia sobre essa informação. – Ele mais parecia um Anjo da Guarda do quê um Suicida. Acho que isso é irrelevante quando se leva em conta o quanto ele protegeu Horatio.

- É. – Elijah apertou os próprios braços com sua mão. Parecia temeroso por algo. – São meras informações. – terminou dando um sorriso forçado.

- Você parece ser do tipo que não gosta de Suicidas. – comentou Accul fazendo Elijah ficar na defensiva. – Eu entendo. Os humanos possuem sentimentos semelhantes.

- Ódio, escárnio, desgosto, nojo, temor, repulsa. – Elijah enumerou os sentimentos em seus dedos. – Talvez.

- Mas podemos aprender muito com eles, sabe. – rebateu Accul vendo Beatrice pegar um pacote com pães. – Aprendi que podemos esquecer certas coisas para que elas não fiquem se acumulando.

- Aprendeu com a Vovó Gilmore? – pergunto Elijah de forma levemente irônica.

- Ela está começando a apresentar os sintomas do Alzheimer. Esquece-se de pequenas coisas. Confunde outras. – disse Accul de forma entristecida. – Um dia ela foi ao shopping comprar um suéter para o irmão da mãe do Horatio e no final do dia voltou para casa com uma caixa de ferramentas.

Elijah deu uma risada. Accul apenas sorriu. Tinha noção do quanto à situação citada era engraçada, mas sabia que a doença que começava a se manifestar em Beatrice era algo grave.

- Desculpe-me. – disse Elijah pondo a mão na frente de sua boca tentando conter o riso. – Foi sem querer.

- Na hora eu também ri. – Accul comentou tentando acalmar o Anjo que se sentia envergonhado. Suas bochechas coradas denunciaram a vergonha que sentia de si mesmo. – Mas essa doença é algo grave.

- Eu sei. – assim que terminou de falar ouviu pequenas vozes sussurrarem em seus ouvidos palavras que saíram de forma rápida. – Ouviu isso?

- Sim. – respondeu Accul pondo o dedo médio na entrada do ouvido. Elijah fez o mesmo gesto. – São querubins. O que eles falaram? – sua pergunta foi seguida por som que somente os anjos ouviam.

Tu és a ligação entre o Céu e a Terra.

Tu és uma parte de Deus, tu és uma parte da Vida.

Cuidai da tua Alma como se fosse à última.

Zele por ela, proteja-a de todos os perigos.

Saiba diferenciar quem é aliado e quem é inimigo.

Elijah movimentou seu dedo freneticamente dentro do ouvido. Querubins são mensageiros de Deus e do Centro, contudo suas vozes são extremamente agudas ao ponto de causarem dores até mesmo nos Anjos que as ouvirem. Accul deu alguns passos para trás tentando recobrar seus sentidos.

- Você ouviu isso? – falou o Anjo de topete e costeletas falando em um tom de voz alto. – Eu não sei se ouvi direito.

- O que você acha que ouviu? – retrucou Elijah quase gritando.

- Algo que não parecia uma mensagem pacífica. Parecia mais um alerta. – concluiu Accul vendo Beatrice e Horatio andarem em direção ao caixa.

- Também achei que fosse isso. – Elijah olhou para frente cerrando seus punhos. – E o que ele quis dizer com saiba diferenciar quem é aliado e quem é inimigo?

Accul olhou para Elijah que parecia meio confuso, mas ambos tinham apenas uma certeza: um sistema de alerta pouco usado, como os Querubins, acabara de ser colocado em prática. Ainda mais, para dar um aviso que não apresentava indícios de um evento harmônico.

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Oi, meus caros leitores. O que estão achando? Gostaram do capítulo? Evangeline deu uma explicada sobre a interação entre o Centro, a Fábrica e o Parque. 

Aqueles tempos difíceis que tanto são falados parecem estar mais próximos do que imaginamos. Se essa frase não lhe causou preocupação, eu não sei o que causará. O que está acontecendo no Outro Plano de tão grave ao ponto de deixar Evangeline e Lafayette preocupados?

E parece que vai surgir uma amizade entre Elijah e Accul.

Deixem seus votos se gostaram do capítulo. Comentem suas teorias sobre o que está acontecendo no Outro Plano.

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