Mudar uma mentalidade é, sempre foi e sempre será complicado, digam o que disserem, façam os estudos que fizerem. Se alguém cresceu e viveu toda ou a maior parte da sua vida com um determinado tipo de educação e conceitos, dificilmente consegue aceitar outros.
Pelo menos era assim que funcionava o mundo em que vivia, era um mundo de pura crueldade. Eram, na sua maioria, jovens adultos, ensinados desde que aprendiam a falar, que não se devia ter qualquer tipo de consideração pelo outro e que todo e qualquer um que não pertence-se à família, não prestava, e era, sem dúvida, inferior.
Lembro-me de em mais nova ter ouvido a minha mãe falar-,me nos dias de ouro, em que toda a gente se respeitava, que se aceitavam todas as etnias e orientações sexuais e que se repugnava quem não o fazia, até que chegou a um ponto em que o mundo enlouqueceu e, de repente, todos se achavam melhores e superiores por serem, diferentes, mesmo não passando de umas cópias uns dos outros. Foi desde então que a sociedade se foi deteriorando, e o que era toda uma comunidade feliz e respeitadora virou um jogo de cada um por si numa busca desesperada de auto-afirmação .
E era mais ou menos numa situação desse género que se encontrava a maioria da Europa e talvez do mundo. Numa constante guerra para provar quem era o melhor.
Eu sentia-me cansada, o meu corpo doía e eu simplesmente não entendia porque é que ainda não tinha desistido. O meu corpo parecia queria continuar juntamente com o meu coração, esperançoso que um dia tudo fosse acabar, mas, por outro lado o meu cérebro simplesmente me incentivava a desistir relembrando-me constantemente de que, mesmo que tudo acabasse, e a paz retorna-se, provavelmente eu já não estaria cá para ver.
A minha cabeça permanecia até então encostada à parede deteriorada daquele local, que emanava um intenso cheiro a mofo e podridão, um turbilhão de pensamentos invadiam a minha cabeça fazendo-me sentir como se estivesse a enlouquecer.
A horas passavam, não eram certas quantas já tinham chegado e partido desde que ali estava fechada, o relógio na parede deixava-me com vontade de cortar as orelhas e o frio que ali estava fazia-me querer arrancar a pele.
Os meus olhos fechavam-se e eu forçava-me a imaginar uma noite estrelada e serena, sem tiros, guerras, medos ou terror. Imaginava o sol, a nascer nas montanhas e a despedir-se nos mares gelados, que, em tempos tanta felicidade me proporcionaram. Era triste dizer, mas aquela cave, por mais estranho que soasse, dava-me uma certa paz e sossego, eu sabia que não tinha de fugir mais, morresse ou vivesse dali não tinha como sair. Desesperar era apenas um inútil gasto de esforços. Sinceramente nem o queria realmente fazer, não existiam mais forças para tentar. O que tivesse de acontecer, aconteceria.
E realmente nada do que é minimamente bom ou agradável dura muito, pois, talvez menos de um dia após me ter deixado ali, Styles voltou. Com a sua farda suja e gasta e a sua postura impassível, típica de um soldado que não se importa minimamente com ninguém, talvez nem consigo mesmo.
O seu rosto parecia mais pesado e a sua expressão permanecia indecifrável, não eram possível ser identificados nenhum tipo de sentimentos ou emoções.
Os meus olhos arderam pela luz, que entrou repentinamente fazendo-me acordar do transe em que tinha permanecido todas aquelas horas.
- Vejo que ainda estás viva, não pensei que estivesses. - disse num tom seco, dando de ombros - Mas é melhor assim, dá para ver do que és capaz. - esboçou um sorriso carregado de sarcasmo.
- O que é que queres? - Inquiri com a voz a falhar devido ao tempo que esteve sem uso.
- Divertir-me, anda. - Disse, aproximando-se e fazendo-me encolher por reflexo.
A grande mão do soldado agarrou o meu braço, levantando-me do chão com um simples puxão, fazendo alguns dos meus ossos estalarem e, por consequência, doerem.
Sabia, no mais profundo do meu ser, que devia ao menos preocupar-me para onde é que ele me estaria a levar empurrando-me com tamanha força e soltando grunhidos sempre que eu tropeçava e, por consequência o fazia tropeçar atrás. No entanto, não estava realmente preocupada se me levava para o morte ou, simplesmente para um bando qualquer de tarados que não viam ou tocavam em mulheres à meses.
Mas, para minha grande surpresa, ele apenas nos encaminhou até ao que me parecia uma espécie de matagal. Era final de tarde, o céu estava raiado pelo por-do-sol e corria uma brisa que fazia a minha pele arrepiar-se. Não haviam muitos soldados naqueles lados o que indicava que, talvez, tivessem saído em missão para matar ou roubar.
A minha cabeça permanecia baixada, encarando os meus pés descalços caminharem na terra a um ritmo um pouco acelerado. Styles, diferentemente, permanecia com a sua postura e soltava grunhidos de minuto a minuto, demonstrando a sua impaciência para com aquela situação.
Depois de cinco minutos de caminho ele parou e soltou o meu braço empurrando-me ligeiramente para a frente. Levantei o meu olhar e fiquei um tanto confusa ao ver uma espécie de lago. Confusa, olhei, de relance, para o soldado que mantinha a mesma posição e a mesma expressão, por cima do ombro lancei-lhe um olhar de confusão recebendo, em resposta, um suspiro e um rolar de olhos. Styles pareceu desfazer-se um pouco da posição firme e prenunciou-se.
- Podes tomar banho, aproveita - Disse com um certo tom de gozo na sua voz.
- E se eu fugir? - Atirei sem me virar para ele.
- Não vais. - Disse com toda a certeza do mundo.
- Como podes ter tanta certeza? -
- Estás demasiado magra, não tens qualquer tipo de forças ou energias. Corrias no máximo 100 metros antes de caíres para o lado e ficares perto de um ataque cardíaco - Riu secamente.
- Antes de te armares em espertinho e não me matares na hora em que me viste, eu corri muito para me tentar salvar de pessoas como tu. - bufei ainda de costas para si.
- Ainda assim, podes tentar. Mas os teus músculos vão-te tramar e só vai ser pior para ti.-
- Isto é a tua noção de diversão? -Inquiri virando-me totalmente para si ficando, finalmente, frente a frente com ele.
- Pode-se dizer que sim - lançou-me, novamente, um olhar cheio de sarcasmo.
Pela primeira vez pude realmente olhar para Styles. O seu rosto era de um tom extremamente claro, podia até ser comparado a porcelana, uma cicatriz residia na sua bochecha direita, os seus olhos eram verdes com leves tons de azul, a sua barba tinha desaparecido fazendo-o parecer ligeiramente mais novo, os seus olhos estavam emoldurados por bolsas roxas de cansaço e falta de sono, todo o seu rosto era definido em demasia dando-lhe assim um ar ainda mais duro. A sua respiração era lenta e calma demais para quem estava a viver em terreno de guerra e que, no momento, conversava com uma irlandesa que devia estar morta. Ele era alto, extremamente alto, tinha ombros largos e era, claramente musculado. Algumas tatuagens espreitavam na gola da sua camisola deixando-me intrigada sobre a existência de mais.
- Então já posso voltar para a cave? Ou ir para a cova? - disse por fim.
- Eu disse-te que podias tomar banho. - Relembrou nunca tirando o sorriso irónico do rosto.
- Devem estar uns -10ºC, só podes estar a brincar! - Disse, espantada com o facto de ele ter realmente falado a sério quanto ao banho.
- Sou um soldado, mato pessoas, achas realmente que eu tenho paciência ou tempo para, Brincar? Estou a deixar-te tomar um banho, e ainda te queixas. - bufou.
- O lago está praticamente em gelo- Disse desesperadamente ao verificar que ele não parecia desistir da ideia.
- Tens 3 minutos para entrar dentro desse lago caso contrário, não só tomarás banho como ficarás aqui sozinha e sem nada para vestir.- atirou fazendo-me ficar aterrorizada.
Eu não sabia o que fazer, nem o que dizer. Sabia que depois de entrar naquela água, as roupas finas que trazia comigo não me iriam aquecer de maneira nenhuma e acabaria por entrar em hipotremia. Talvez essa fosse a definição de diversão de Styles, assistir à minha morte lenta por pura estupidez. Mas, mais uma vez, estava a viver num mundo em que todos se acham superiores, e neste caso, por eu ser uma simples sem-abrigo, fugitiva de guerra e ele um soldado do país que domava todo o meu, no momento, ele por certo, auto afirmava-se superior.
- Por favor não. - pedi desesperadamente, tendo apenas como resposta um passo do soldado em minha direção ficando perigosamente perto do meu corpo, a sua grande mão agarrou com força o meu pescoço apertando-o e fazendo-me por impulso, ficar com o meu rosto a centímetros do seu.
- Eu é que mando, tens 3 minutos, está a contar.- Disse e então soltou-me com uma certa brutidão.
Suspirei e virei-me de costas para ele, fechei os olhos sentindo toda a minha pele arrepiar-se ao que comecei a levantar a camisa comprida que tinha sobre o meu corpo. Os dedos dos meus pés encolheram-se e, conforme ia levantando o vestido sentia o olhar de Styles queimar sobre mim. Assim que tirei o vestido totalmente atirei-o para uma pedra que ali estava e, lentamente caminhei, apenas com as cuecas vestidas, até à beira do lago. Ao que a pele dos meus pés teve o primeiro contacto com a água uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Estava realmente gelada.
- Vais com isso vestido? - Inquiriu o soldado.
- Styles, por favor - implorei virando-me para ele tapando os meus seios com os braços.
- Por favor o que? - Questionou.
- Não me obrigues. Não me faças entrar nesta água - disse, deixando mais uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto.
Styles engoliu em seco parecendo, por segundos, desconfortável mas, rapidamente se recompondo.
- Foste tu que disseste que não tomavas banho à mais de um mês, só te estou a tentar fazer um favor, Rose. Tu pediste por isto. - Disse soltando um breve riso carregado de maldade. Mais uma vez o rapaz com quase metro e noventa aproximou-se de mim, passou a sua mão gelada pelo meu rosto e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. - Mudaste de ideias? Afinal posso fazer o que quiser contigo, mesmo sem teres tomado banho?-
Mais lágrimas desceram pelo meu rosto, numa mistura de dor e terror.
- Por favor não, peço-te. - Repeti.
- Veste-te - Atirou afastando-se novamente de mim.
Assim que ele o fez virei-me de costas e coloquei o vestido de novo, sentindo uma pequena presença de calor. A minha pele, no momento, estava totalmente pigmentada com tons de roxo e amarelo, devido ao frio a que tinha estado submetida.
Assim que me recompus andei atrás de Styles, sem saber bem porquê, uma vez que podia tentar fugir e, talvez sobrevivesse por mais uns dias.
Mais uns minutos de caminhada e estávamos de volta à base, esta continuava vazia, o que me deixava com algumas dúvidas do que estaria a acontecer, mas, longe de mim perguntar ao rapaz cujo nome seria, "qualquer-coisa-Styles".
Segui-o por mais uns minutos já dentro do edifício, ficando ligeiramente confusa ao que ele fez um percurso completamente diferente do que havia feito quando saímos da cave. Finalmente, segundos depois ele parou em frente de uma grande porta branca e e ao abri-la fiquei ainda mais confusa.
- O que ?- olhei para ele ao que ele se virou, finalmente, para trás.
- Tu precisas de tomar banho, e eu estou com frio.- Disse lançando-me um sorriso ladino.
Entrei, atrás de si, para uma espécie de balneário com aproximadamente 10 chuveiros.
-A água quente não dura muito e daqui a pouco eles chegam, despacha-te.- Disse retirando o seu casaco e preparando-se para retirar a sua camisola.
- Tenho muitas coisas para testar ainda, Rose. - Sorriu de uma maneira que me aterrorizou -
AI ! Das prai duas pessoas que lêem isto! Desculpem a demora... :( Eu gostei muito deste capitulo, espero que também tenham gostado!! Não se esqueçam de comentar e votar, é mesmo importante!!!