- eu...vou levar a Anne a almoçar ao... - não termino a frase enquanto ele se aproxima de mim.
Tenho medo e não tenho ao mesmo tempo. Tenho medo por causa de tudo pelo que passei, tenho medo porque ele é um homem e facilmente pode fazer algo contra mim. Mas por outro lado não tenho, acho que ele não era capaz de me magoar, mas eu não o conheço de todo, e ele salvou-me à uns dias atrás, e agora...
Estou tão confusa!
-eu ouvi à primeira o que disseste.- ele não grita mas está muito próximo. - presumo que estejas ciente da situação da Anne, por isso se não queres problemas vais sair por aquela porta e deixá-la em paz! - ele aponta para a porta de saída num tom ameaçador.
Estou perto de chorar, mas não posso. Eu não posso deixá-lo me tratar como quer e lhe apetece, não posso voltar a ser o que era, recuso-me.
Contorno a figura masculina à minha frente e estendo a mão para Anne. Se ela realmente quiser vir comigo ela vem, não vai ser ele a decidir. Anne agarra a minha mão e sorri. Ambas caminhamos em direcção à porta mas antes de a alcançar paro. Viro-me para o Harry.
- eu realmente vou sair por aquela porta, mas é para ir almoçar com a tua mãe. Agora se nos dás licença. - sorriu e saímos do estabelecimento.
Deito o ar que estava a prender para fora quando finalmente saímos da instituição. Estou orgulhosa da minha atitude. Mas e se ele vem atrás de nós?
Mesmo antes de dar tempo para ficar preocupada se ele pode vir atrás de nós, ouço o meu nome.
- Natasha! - acelero o passo ao perceber que é a voz do Harry.
- Para! - ele volta a gritar.
Eu paro assim como Anne e ambas viramos para o rapaz de cabelos compridos.
- o que foi? Vais me prender também para não fugir? - grito.
- eu...- ele tenta.
-sabes que mais? Tu não mandas em mim! - volto a fazer o percurso anterior.
- eu posso vos levar até à cidade. - ele oferece.
- a sério? - acho que ele percebe a surpresa na minha voz.
- se não quiserem eu vou indo. - ele vira costas e vai embora, mas eu paro-o.
- seria muito simpático da tua parte nos dares boleia.-sorriu e ele retribui.
- eu vou buscar o carro esperem aqui. - Harry afasta-se e eu deixo de o ver.
- é a primeira vez em anos que estou tão próxima do meu filho, sabes Natasha?- Anne está com as lágrimas a querer sair quando fala.
- vai estar mais vezes a partir daqui, prometo Anne.- dou-lhe um pequeno sorriso e logo de seguida um carro Preto para à nossa frente.
O vidro da frente baixa e vejo a cara do Harry. Ele dá sinal para entrarmos, abro a porta de trás para a Anne entrar e entro a seguir, mas antes de fechar a porta Harry interrompe-me.
- nem penses, eu não vou sozinho à frente a fazer de motorista!
- vai tu à frente querida. - Anne oferece.
Desço do banco e fecho a porta de trás do carro e abro a da frente. Sento-me e coloco o sinto.
A viagem é feita em silêncio total e agora que tenho tempo para pensar não decidi um sítio para almoçar.
-onde vão almoçar? -Harry lê os meus pensamentos e pergunta.
- não sei, podes nos deixar à beira do Starbucks. - digo quando o semáforo fica Verde e ele vira à esquerda.
-sabes que o Starbucks só serve pequeno almoço e lanche, certo? - ele fala
-Sim, eu sei. Ainda estou a pensar num sítio. - respondo
Nenhum de nós diz fala a seguir, por isso o resto da viagem é calma. Em 5 minutos consigo ver o símbolo do Starbucks, e quando penso que Harry vai parar em frente ao mesmo ele corta antes de lá chegar e estaciona a dois quarteirões depois num parque de estacionamento.
- pensei que fossemos ao Starbucks querida.- Anne fala no banco de trás do Range Rover.
- e vamos, de certeza que o Harry só estacionou aqui por causa da Polícia, certo Harry? -ele sai do carro.
- estão à espera de quê para sair? - Harry fala impaciente já fora do carro.
Eu saio e Anne segue-me. O rapaz arrogante tranca o carro, guarda as chaves no bolso do casaco e segue o seu caminho.
Com Anne ao meu lado vamos até ao Starbucks, quando vejo a figura masculina que nos deu boleia a abrir a porta do café, acho que todo o meu apetite se foi. Será que ele não tem outro sítio para ir almoçar sem ser conosco?
-vais almoçar connosco filho? Que maravilha!- Anne parece estar bastante entusiasmada e isso acaba por me colocar mais bem humorada.
O seu filho segura a porta para Anne e entra logo a seguir à mãe fechando a porta mesmo antes de eu conseguir entrar. Não acredito que ele fez isto, mas que idade ele tem? Parece uma criança!
Depois de fazer o pedido sento-me ao lado da Anne, de frente para o Harry.
-Natasha, certo?- ele pergunta
-sim
-então Natasha de onde és? Não és americana já deu para entender.- os seus olhos penetram os meus e sinto um frio no estômago.
- nasci em Paris.- olho para o meu prato e brinco com o garfo.
-não me parece que sejas francesa também.-Harry insiste
-a minha mãe era judia e o meu pai americano.- não o consigo encarar
-hum... estou a ver.- ele volta a comer.
-está bom o comer Anne?- pergunto com carinho à mulher ao meu lado contente por estar a almoçar com o seu filho depois de se ter passado anos.
-sim, está deliciosa querida.- ela sorri da maneira que só ela o sabe fazer.
-que idade tens Natasha?- a voz do rapaz à minha frente faz-se ouvir
-21.- respondo ainda sem olhar na sua direção.
-oh, e achas que tens a responsabilidade devida para te comprometeres a trazer alguém no estado que se encontra a Anne para sair da instituição?- a forma fria como ele se refere à mãe faz-me estremecer e pela primeira vez nesta conversa os meus olhos vão ao encontro dos dele.
-podes ter a certeza que tenho mais responsabilidade e maturidade para o fazer do que tu Harry. Tenho respeito e carinho por ela, coisa que tu não tens, e coragem para a fazer sair de lá.- a minha voz sai calma e baixa mas acusa o efeito que eu pretendo.
Os seu olhar prende na mãe e está baixa a cabeça e pede licença.
-vou à casa de banho não demoro. -Anne desculpa-se.
-tu não és ninguém para chegar do nada de um dia para o outro e tentar ser a saltadora da Pátria. Tu não estavas lá quando as coisas aconteciam, por isso tu não sabes.- a sua voz não aumenta nem precisa, a voz rouca e baixa dá arrepios e de imediato perco as palavras.
-estes teu planos para a minha mãe têm de acabar, de vez. -ele conclui.
-estou a tentar fazer por ela o que ninguém fez por mim.- respondo e baixo a cabeça, Anne senta-se de novo no seu lugar e terminamos o almoço em silêncio.
Depois de almoçar vamos passear pelo centro, num jardim. Quando vejo o carrinho dos gelados mais à frente tiro a minha carteira e tiro dinheiro para comprar dois gelados, um para mim e um para a Anne. Se o Harry quiser que pague ele, é demasiado arrogante para eu lhe pagar um gelado!
Antes de eu conseguir alcançar o senhor dos gelados Harry antecipa-se.
-Anne, tome, traga 3 gelados ao seu gosto.- ele dá o dinheiro à mãe e ela contente vai comprar os gelados.
-não era preciso, eu já tinha o dinheiro para ela comprar. Obrigada. - guardo o dinheiro de volta na carteira.
-eu sei que tinhas, por isso mesmo.- fico a olhar para ele enquanto ele dá um sorriso escondido e dirige-se aos bancos de jardim enfrente ao senhor dos gelado.
-anda, vem-te sentar.-ele diz.