LAÇOS MORTAIS | Bonkai |

By Dark_Siren4

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Logo após o desastroso casamento de Josette e Rick, Bonnie pensa ter se livrado de seu pior pesadelo: Kai Par... More

Antes de começarmos...
1. Que os Jogos Comecem
2. Armadilha
3. Nosso Pequeno Quiz
4. Lacey, minha amiga zumbi
5. Fogo Líquido
6. Minha Droga
7. Minha Bela Adormecida
8. Dentro do Labirinto
10: Rosalie
11. Um Passeio com A Morte
12. Bato um Papo com a Minha Consciência Gostosa
13. Zelador, Garoto de Recados e Assassino
14. Estou de Mudança
15. O Rouxinol
16. A Bailarina, o Sociopata e a Tigresa
17. Cúmplice da Morte
18. Silêncio
19. Lição
20. Fogo e Pólvora
21. Meu Novo Ursinho de Pelúcia
22. Jantar Nada Romântico
23. Encontro com o Exterminador do Futuro
24. A Chamada
25. Controle
26. Tentação
27. A Visita
28. Acordo Desfeito
29. Brincando com Facas
30. Ataque de Fúria
31. Le Courtaud Rouge
32. A Caçada
33. Pedaços de Uma Outra Vida
34: Uma Brecha do Passado
35. Onde os Lobos Habitam
36. Desejo e Segredos
37. A Alcatéia de Paris
38. Dentro de Mim
39. Conversas Ocultas
40. Quase Amigos
41. Pratos Limpos
42. O Jantar Sangrento
43. Entre Deus e o Diabo
44. Bandeira Branca
45. Vamos Passear
46. Palavras Secretas
47. O Duelo
48. Despedida
49. Regresso
50. Genesis
51. Pesadelos e Decisões
52. Reencontro
53. Sobre Um Homem Cruel
54. Minha Existência
55. O Lírio
56. Perseguida
57. Sob Sete Palmos
58. Suspeita
59. Feridas
60. Ameaça
61. Descoberta
62. Trégua
63. Pertencer
64. Vozes
65. Fantasmas
66. Renascida
67. Encruzilhada
68. Água e Vinho
69. Convidados
70. Disputa
71. Café da Manhã
72. Jardim Noturno
73. Mortos
74. Intervenção
75. Fuga
76. Esperança
77. Profundezas
78. Limbo
79. Decisão
80. A Porta
81. O Monstro em Mim
82. Expostos
83. Limites
84. Lobo Mau

9. A Árvore Morta

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By Dark_Siren4

Por todas as vizualições. Obrigada! ♥

A música do capítulo é "Bad Intentions" da Niykee Heaton.

As semanas transcorriam rapidamente como se o tempo estivesse com mais pressa que de costume. E minhas visitas à Bonnie estavam ficando cada vez mais limitadas. Eu ia até sua cela, para levar comida e coisas necessárias e a deixava lá. O sentimento de alívio da garota era quase palpável. Sério. Estava esperando que ela dançasse a Macarena ou coisa do gênero.
Isso me enfurecia mais.
Meu ódio por Bonnie crescia à cada dia, sem precedentes. Tudo me irritava nela. Sua repulsa por mim, seus olhos verdes de feiticeira e até o maldito ar que ela respirava. E depois daquela manhã, tudo pareceu piorar.
Eu estava indo bem. Mexendo com a mente dela, perturbando-a. Era realmente divertido. Porém, vi seu braço esfolado pelas unhas em seu súbito surto com a ilusão em sua cabeça.
O sangue escorria deliciosamente por sua pele morena e suculenta. E claro, que cedi aos meus instintos de predador e a puxei para mais perto. Não sou burro; me aproveitei daquela proximidade para desfrutar dos toques em seu pele macia com aquele odor sensual e provocante. Podia sentir os tremores que corriam por seu corpo e a rigidez de seus músculos. Com minha audição de vampiro, consegui me sintonizar com cada batida acelerada de seu coração.
O animal que residia em mim, atacou. Porém, o homem tomou as rédeas e aos poucos deixei que minhas presas se afundassem em sua carne tenra. De forma lenta e torturante, arrancando alguns gemidos de dor da bruxa.
Meus caninos se afundaram completamente naquela pele macia. E senti o fluxo de sangue correr para mim. Não importava quantas pessoas eu matasse e o quanto me alimentasse, o sangue de Bonnie era apelativo para mim como um veneno doce e torturante.
Me deixei levar pelo momento, absorvendo cada gotícula quente e saborosa. Cercando sua cintura com a mão e segurando seus cabelos negros e macios em minha palma.
Afundei minhas presas com mais necessidade dela... Até que uma Bonnie fraca começou a se debater pedindo para que eu parasse. Eu iria matá-la, mas não estava me importando com isso. Apenas queria mais de seu sangue doce, de sua pele de veludo e seu perfume corrosivo como ácido.
Bonnie continuou me chamando com a voz débil e fraca, até que uma parte racional de minha mente se afastou de seu pescoço, mas não antes do animal soltar um rosnado em protesto. Ele queria mais sangue.
A garota me encarava, pálida e suplicante. Seus olhos eram como os de uma corça assustada.
E aquilo fez com que o animal selvagem, o predador, se recolhesse para as profundezas de minha mente.
Bonnie nunca pareceu tão indefesa como naquele momento. Tão pequena e minha...
Quando me vi, estava inclinando meu rosto em direção ao seu, fitando suas boca com uma vontade desmedida.
Aquilo era mais do que fome. Era desejo.
Então, ela desviou seus lábios dos meus.
A frustração da rejeição me queimou como uma labareda de fogo. Encostei a testa em sua bochecha, suspirando de raiva.
- Vá se limpar- murmurei friamente, a tirando de cima de mim sem delicadeza nenhuma e saí do quarto.
Lembro de ter passado todo o dia em meu quarto, me perguntando porque havia feito àquilo. Eu deveria fazê-la sofrer. Porém, a cada vez que a machucava, uma farpa se infiltrava em meu peito, me impedindo de respirar e pensar com clareza. Aquilo estava ficando cada vez mais incômodo. Como uma coceira nas costas difícil de alcançar.
Pessoas normais categorizariam aquilo como culpa. Para mim, era apenas fraqueza. Uma fraqueza que eu havia herdado de Luke em nossa Fusão. Mas eu iria erradicá-la de dentro de mim.

◆◆◆◆◆

Torturar Bonnie não era o meu único passatempo. Sou um cara bem versátil, sabe?
E um deles era... conquistar garotas.
Uma coisa bem ridícula, eu sei. Porém, passar tanto tempo no Mundo Prisão me fez ficar um pouco carente de flertes.
Sempre que eu dispunha de tempo- coisa que tinha de sobra agora- eu saía durante à noite.
Uma parte de mim, dizia que aquilo era só uma atividade boba, pois eu ficava entediado om facilidade e precisava de desafios para me motivar. E tinha algo mais excitante do que conseguir a atenção de uma mulher difícil? Porém, havia uma voz no canto de minha mente, que sempre estava focada nela. Em Bonnie.
Por mais que eu procurasse algo que fosse totalmente aleatório, sempre me pegava comparando as outras mulheres com ela. Em todos os lugares havia uma garota que me fazia lembrar de Bonnie. Seja nos cabelos negros, na pele de cetim, nos lábios, no corpo sedutor...
Eu estava me tornando irremediavelmente obcecado por ela. Obcecado em minha vingança.
Porém, não daria esse poder à ela. Bennett não passava de uma simples garota fraca que eu podia matar no momento em que mais me apetecesse.
E ainda assim, deixei que meus pensamentos corressem para ela. O que estaria fazendo agora?
- Olá, Terra chamando Kai!- uma voz doce e gentil se fez.
Balancei a cabeça, tentando afastar o parasita que Bonnie Bennett estava se tornando em meus pensamentos. E voltei- me para a garota alta e de cabelos castanhos que desciam por suas costas como uma cascata quente.
O único motivo para ter ido falar com ela, foram seus brilhantes olhos verdes. Eram parecidos com os de...
Balancei a cabeça de novo. Eu não iria pensar nela.
- Desculpe- sorri, para a jovem caloura de faculdade.
Eu não fazia idéia de quem era aquela festa. Um cara bêbado me convidou à entrar quando caminhava em frente à enorme casa.
Não podia ser deselegante, não é?
O barulho estava ensurdecedor. Música estourava pelas caixas de som gigantes, espalhadas pela casa. E o local, estava lotado de gente.
Isso tudo me favorecia, fazendo a garota cujo o nome nem me lembrava ficar mais perto.
- No que você estava pensando?- ela riu, sorvendo um pouco de cerveja em um copo descartável vermelho- Parecia estar à um milhão de anos daqui.
Seus olhos verdes, percorriam meu rosto em inspeção.
Dei um sorriso diabólico.
- Estava imaginando você...- murmurei, chegando mais perto dela. Com nossos corpos rentes um contra o outro perto da parede da sala cheia de gente-... sem esse casaco.
A garota desviou os olhos, enrubescendo fortemente.
Seus dedos escorregaram nervosamente, pela lapela de seu tweed marrom.
- Quer que eu tire?- sussurrou timidamente, com seus olhos verdes incertos sobre mim.
Bonnie nunca desviava seus olhos dos meus. Aquele desafio explícito me excitava mais que essa garota da qual nem o nome eu me lembrava.
Ergui a mão e deixei que meus dedos delinearam a lapela de seu casaco desde a gola, até o seus dedos pousados no tecido.
- Na frente do todos?- questionei com um sorriso safado.
Ela ruborizou como um tomate dessa vez. A garota estava completamente vestida, mas eu queria deixar bem claras as minhas intenções para com sua doce pessoa.
- Nós podemos ir para algum lugar...- sugeriu, mais tímida que antes.
Fiquei me perguntando se ela era virgem, ou apenas inexperiente mesmo.
- É uma ótima idéia- murmurei, acariciando sua maçã do rosto com a ponta de meus dedos.
Me inclinei, deixando meus lábios quase roçarem nos dela. E ela ficou nas pontas dos pés à procura dos meus.
Me afastei, deixando-a com mais vontade.
- Vamos?- estendi, minha mão para ela.
A garota saiu do estado de transe um pouco tonta. Seus dedos quentes enlaçaram os meus.
- Vamos- ela parecia decidida.
E lá vamos nós, pensei, ao sair da casa apinhada de pessoas com aquele delicioso lanche em meu encalço.

◆◆◆◆◆

Deslizei a camisa de volta para o meu corpo. Senti algo molhado contra meu peito. Olhei para baixo.
- Merda- reclamei, ao ver a grande mancha de sangue no tecido cinza.
Eu detestava sujar minhas camisas. Já era bem irritante ter que ficar hipnotizando o pessoal das lavanderias locais, para não estranharem as grandes marcas de "ketchup" em minhas roupas.
Suspirei e me estiquei para pegar minha jaqueta preta no banco de trás do carro.
- Acho que dessa vez, eu exagerei...- pensei alto, vendo o corpo esbelto e morto da garota estendido no banco do Volvo.
Ela jazia deitada, com os olhos verdes mirando o nada. Sangue ainda escorria de sua garganta estraçalhada, cobrindo seus seios alvos e desnudos.
Aquele ar doce desapareceu no momento em que entrei em seu carro. Quando me vi, já estava com ela em cima de mim no banco do passageiro sem me dar chance de irmos para um lugar sem testemunhas.
De certa forma foi gostoso. Essa sensação de adrenalina que me percorreu só de pensar em ser pego com uma de minhas vítimas.
Não que eu temesse alguma coisa, mas seria bem difícil ter que me livrar de mais de um corpo.
A questão era: o que eu faria com a nada doce garotinha?
Atear fogo no automóvel com ela dentro, para simular um acidente? Era uma boa opção. Pena que eu já tinha feito isso com Brittany, Jasmine e Carla. Chamaria muita atenção mais uma garota que morreu nas mesmas condições.
- Pensa, cara- murmurei, deslizando a mão por meu cabelo.
E subitamente me lembrei daqueles antigos filmes de terror, que vi quando criança.
Um sorriso se desenhou em meus lábios.

◆◆◆◆◆

Após vestir a garota chamada Tori Willis- achei sua carteira de motorista dentro do carro- com um enorme sobretudo. Joguei- a em um rio na localidade. As pedras em seus bolsos ajudariam o corpo a afundar mais rápido e os gases da decomposição não a fariam flutuar.
Pois é. Eu me gabava de ter sido um ótimo aluno na época do colegial.
Voltei para o Volvo prateado perto do rio. Esse seria mais difícil de afundar, pois o rio não tinha tanta profundidade nesse ponto.
Me concentrei na tarefa de limpar as janelas cobertas de sangue, no interior do carro. E livrei-me de qualquer coisa que indicasse meu "entrosamento" com a jovem senhorita Willis.
Após minha pequena faxina, dei a partida no carro e rodei com ele por alguns quilômetros na cidade noturna e silenciosa. Já era madrugada e o brilho das lâmpadas dos postes nunca pareceu tão intenso.
Avistei um homem com roupas esfarrapadas e sujas, empurrando tropegamente um carrinho de compras visivelmente roubado e cheio de quinquilharias.
Estacionei o carro à alguns metros adiante dele. Desci e o vi parar seu caminhar na calçada e ficar me encarando com uma certa desconfiança.
- Ei, meu caro amigo, o que faz nessa noite tão bonita e cheia de possibilidades?- perguntei, com um sorriso maldoso.
O homem maltrapilho me encarou de cima abaixo com um certo ar de petulância.
- Não vê que eu estou fazendo compras, moleque?- disse de maneira rude.
Fitei seu rosto e em seguida o carrinho cheio de lixo e utensílios não muito apetitosos.
- Hã... E achou alguma coisa interessante, nas suas compras? Ouvi dizer que haverá uma ótima promoção na sessão de congelados- murmurei com um ar conspiratório.
Ele se empertigou.
- Sabe de onde vem a carne dos supermercados?
Franzi o cenho.
- Não faço a mínima idéia.
- É isso que eles querem que você pense- grunhiu- Por isso sou vegetariano.
- E quem seriam... "Eles"?- questionei, notando que meu colega de calçada, era claramente maluco de pedra.
Suas mãos se apertaram mais na barra do carrinho de compras.
- Não se faça de idiota! Sabe muito bem quem são eles!- grunhiu mais um pouco.
- Ok...- cantarolei, tentando não entrar naquele papo de louco- Hoje é seu aniversário!
O homem sujo inclinou a cabeça para o lado.
- É?
- Claro que sim, meu chapa!-murmurei com empolgação- E sabe o que eu trouxe pra você?
- O quê?-arregalou os olhos, curioso.
Sorri de canto.
- Um carro novinho!
- Eu não acredito!- falou, parecendo emocionado.
- Acredite, amigo. Venha a cá- ele caminhou até mim um pouco desconfiado e trôpego. Uma garrafa de bebida envolta em papel pardo pendia em seus dedos sujos- Hum... Acho que vou lhe dar uma colônia também- disse baixo, quase engasgando com aquele cheiro nauseabundo que provinha dele.
- O quê?
- Nada, não- sorri amarelo- Então, cara... A vida é injusta e pessoas como nós precisam tomar algumas coisas para si. Veja você- apontei para seu peito, transpassando um braço por cima de seus ombros encurvados- Nessa noite fria, comemorando seu aniversário sem nenhum presente e sem amigos. Isso não é legal.
Ele concordou com um aceno de cabeça.
- Então, aqui está sua recompensa por ser um... hã... Bom cliente de supermercados!- e entreguei as chaves do carro.
- Sério?- ele parecia radiante.
- Claro que sim- murmurei- Vá em frente.
Ele destravou o alarme, abriu a porta do carro e sentou-se no banco do motorista.
- Puxa... Obrigada- o cara parecia à ponto de chorar- Valeu mesmo.
- Não há de que- dei de ombros e comecei a caminhar para longe.
- Ei!- ele gritou e parei de andar me voltando para ele- Quem é você?
Sorri cruelmente.
- Eu sou um vampiro.
Ele arregalou os olhos e sorriu em seguida.
- E eu sou o presidente do Canadá!- pela forma como disse aquilo, parecia bem convicto.
- Isso explica muita coisa- sussurrei e assenti com a cabeça, entrando no jogo de "quem é mais louco"-Aproveite o carro, senhor presidente.
- Eu vou, sim- murmurou, voltando a apreciar o carro.
- Não tenho dúvida- sussurrei para mim mesmo, caminhando para longe dali.

Bonnie

Meus passos impacientes ecoavam pelo enorme espaço escuro. Aquele buraco conseguiu ficar mais e mais sufocante a cada dia. Talvez fosse a temperatura extremamente baixa quando anoitecia- quando imaginava que era noite. Já havia perdido a noção de tempo há muito- Ou o ar quente e abafado com aquele forte aroma de bolor, durante o dia.
O que me deixava mais maluca era a escuridão total, com aquela única lâmpada pendendo do teto. Não me lembrava mais como era a sensação do sol em meu rosto ou brisa contra minha pele.
E a solidão...
Cada dia só me fazia retornar aos meses em que passei no Mundo Prisão. Eu não tinha com quem conversar e falar sobre o que eu sentia, sobre meus medos e minha dor. Claro, que sempre existia o ótimo ouvinte tagarela que era Kai. Mas ele tinha tanto tato como uma pedra. E eu não daria uma de mulherzinha carente e abriria o jogo com aquele sociopata.
Acho que isso o frustrava bastante. O fato de eu não querer conversar com ele; apenas me limitava à acenar com a cabeça quando dizia algo e responder com uma monossilába suas perguntas. E na maior parte das vezes o confrontava quando meu ódio e todas as emoções negativas me preenchiam demais. Esses dias nunca acabavam bem para mim.
Acho que eu estava em um dia desses. Tudo estava me enfurecendo.
Se Kai passasse por aquela porta, com certeza o acertaria com a primeira coisa que achasse naquele quarto.
Minhas mãos tremiam descontroladamente, juntamente com meus braços. Apertei-os em volta de meu corpo, tentando controlar aqueles espasmos.
Havia dias em que Kai cismava em tomar chá comigo como um maldito inglês. Não entendi da primeira vez, mas depois compreendi. Aquele monstro, achava engraçado me ver lutando para segurar o pires e a xícara sem fazê-los tremer com minhas mãos.
- Quer que eu a ajude, Bonnie?- provocava- Vejo que está com uma certa dificuldade, aí.
- Espero que tenha veneno nesse chá- resmunguei, tentando manter a xícara imóvel sem sucesso.
- Não- ele riu- Apenas camomila. Sabe, para ajudar na sua ansiedade.
Eu respirava fundo para não xingá-lo de todos os nomes horríveis que passavam por minha cabeça.
Acelerei meu caminhar pela cela, agradecendo que o espaço fosse grande o suficiente para isso. Soltei o ar pesadamente, sonhando com algo que pudesse me distrair como uma TV ou livros, porém não havia nada além daquelas paredes.
Eu estava ficando louca. Sério.
Às vezes podia jurar que ouvia meus amigos me chamando. Na maior parte das vezes era a voz de Elena ou Jeremy. E isso me fazia ter noção de que aquilo não era real.
Jeremy estava à quilômetros de mim, provavelmente sem saber o que estava acontecendo e dando continuidade à sua vida.
Era o que eu esperava. O amava o suficiente para querer vê-lo bem.
E Elena... estava em algum lugar, em um sono profundo, aguardando meu coração parar de bater para que pudesse viver outra vez. E isso era tudo minha culpa. Como Kai vivia dizendo.
Nisso ele tinha razão.
Era minha culpa que minha melhor amiga não pudesse mais estar presente na vida de quem mais amávamos. Eu provoquei a fúria de Kai. E ele se vingou no meu ponto fraco; o coração.
Raiva e mágoa se infiltravam no meu ser, fazendo a rachadura aumentar dolorosamente. Isso doía muito.
- Argh!- gritei, parando de caminhar e ficando minhas unhas roídas na pele de meus braços- Kai! Onde você está seu babaca?! Kai! Venha aqui!
O fato de eu estar o chamando, só servia para indicar a profundidade de minha loucura.
Como ele ousa me largar aqui sozinha!, pensei, ensandecida de ódio.
Fazia semanas em que o não o via com frequência. Limitava- se à trazer a comida e coisas que fosse precisar e depois saía, me deixando completamente só. Como se eu não fosse nada; apenas um cão com o qual ele estava cansado de brincar.
Ele estava estranho desde aquele dia. O dia em que ele tentou me beijar.
Acho que meu monstro particular não estava acostumado com a rejeição.
Consegui dar um sorriso convencido. Se aquilo o estava irritando, ótimo! Queria que aquele panaca sofresse.
Não que ele fosse capaz desse feito, mas gostava de imaginar algo assim. Me fazia dormir bem à noite.
Caminhei decididamente até a porta e comecei a esmurrar a madeira velha e ressequida.
- Kai! Me solta! Você não pode me abandonar aqui!- gritei feito uma louca- Kai! Eu vou matar você! Desgraçado! Me solta!
Dei murros sucessivos contra a porta e quando não pareceu ser o suficiente, joguei toda a força de meu corpo contra a madeira. Era uma coisa com a qual eu estava acostumada, quase como uma rotina masoquista.
Eu ainda esperava ter forças o suficiente para derrubar aquela porta. Nem a droga da minha magia eu tinha. Kai a drenava, sempre que estava dando sinais de estar recuperando meu poder.
Joguei- me com toda a minha força contra a madeira. Não surtiu feito nenhum. Apenas caí no chão como um saco de batatas.
Senti algo quente descendo por meu rosto.
- Kai...- solucei, agarrando meu ombro dolorido- Me deixa sair daqui...
E como sempre, ele não veio.
Me sentei com dificuldade, sentindo a dor cortante em meu ombro direito, juntamente com as dores em meus músculos. Resquícios dos outros dias de tortura.
- Que droga...- dei um murro no chão, ainda chorando- Que droga! Droga! Droga! Droga!
A cada "droga" batia meus punhos contra o chão, com mais força.
Após alguns minutos da minha crise infantil de raiva, parei. Puxei meus joelhos para mais perto do peito e- como sempre- me enrosquei em uma bolinha apertada.
Acho que se passaram horas ou longos minutos e continuei sentada no chão frio de cimento, diante da porta, esperando algum sinal de vida de Kai.
As lágrimas quentes ainda caíam por meu rosto, pingando sobre meu joelho ralado, com um fina crosta de um machucado recente.
Me perdi em pensamentos ainda esperando que algo mudasse aquela monotonia. Aos poucos me transportei para minha antiga vida.
Lembrei de minha infância em Mistyc Falls, quando tudo era mais fácil. Onde eu só tinha que me preocupar se vovó ia me dar uma bronca por alguma travessura que fiz.
Solucei mais.
Eu sentia falta dela como quem sente falta de um membro do próprio corpo. Sheila Bennett era um pedaço inseparável de mim. Quando ela morreu foi como se arrancassem meu coração do peito.
"Bonnie" a ouvi dizer, sem saber se estava apenas em minhas lembranças ou se estava realmente aqui. "Apesar de a natureza ser nossa amiga, não a aconselho a subir nessa árvore".
Sorri mais ao me lembrar do velho carvalho no jardim dos fundos em minha casa. Vovó odiava quando eu tentava escalar seu velho tronco.
Me confortei ao imaginar que aquela velha porta de madeira era o antigo carvalho e que vovó estava às minhas costas me pedindo para não subir nele.
- Eu não vou subir, vovó- repeti minha resposta com um sorriso triste- Estou apenas tentando escalar. Tem diferença.
Esperei por sua resposta que nunca viria.
Deixei meus olhos vagarem pela velha madeira. Decorando o que eu já havia decorado. Os veios e os traços, as espirais envoltas em si mesmas, indicando a idade da árvore da qual foi feita...
Parei de respirar.
Levantei-me do chão, ainda encarando a entrada.
Pousei a mão sobre a madeira fria. Apesar do tempo, ela ainda fazia parte da natureza. Ela era a própria vida.
E eu podia tomá-la para mim.
Espalmei as mãos pela árvore semi - morta. Ainda existia energia nela, pulsando fracamente.
- Por que eu nunca pensei nisso?-perguntei à mim mesma.
Estive tão perdida e absorta no choque de ser mantida em cárcere que minha mente não estava trabalhando com sua total propriedade.
Respirei fundo e inspirei novamente. A vida que pulsava na madeira começou a fluir para mim como uma brisa quente me envolvendo. Eu não sou uma esponja de magia, mas bruxas podiam literalmente sentir a natureza à sua volta. E podíamos sugar um pouco dessa magia.
Tirei o tanto quanto podia.
Respirei fundo, tirando minhas mãos da superfície. Abri meus olhos e vi como a porta tinha perdido muito de seu tom amadeirado e claro, ficando de um cinza escuro e triste.
Estiquei as mãos diante de meu corpo e podia sentir a magia reverberando dentro de mim. Ainda era pouco, mas seria o suficiente até que eu conseguisse ter meus poderes de volta.
Um riso escapou por meus lábios. Era a primeira vez em meses, que sentia vontade de rir ou sorrir.
Me virei, voltando a palma para cima.
- Motus!- murmurei, vendo a cama velha ranger e aos poucos ser içada no ar à poucos centímetros do chão.
Uma outra risadinha escapou por meus lábios.
E subitamente, ouvi o barulho da fechadura da porta. Kai.
Recolhi a palma e a cama caiu sobre o piso de cimento com estrondo no mesmo instante em que Kai entrou em meu quarto.
Ele estava parado no batente da porta, vestindo seus habituais jeans e coturnos, com uma camisa verde escura. Estampada nela estava a imagem do gato Frajola, segurando o corpo do passarinho amarelo, Piu-Piu, decaptado. O gato ostentava um sorriso cheio de sangue e haviam os dizeres na camisa "Acho que vi um passarinho."
Os olhos cinzentos de Kai eram inquisitivos.
- O que foi isso?- perguntou, com um ar desconfiado.
- Isso o quê?- menti.
Ele franziu as sobrancelhas escuras me encarando.
- Esse estrondo que eu ouvi- explicou, olhando por cima de meu ombro.
Engoli em seco.
- Nada, ué - dei de ombros, colocando as mãos atrás das costas em uma tentativa de esconder os tremores de nervosismo em minhas mãos- Você tem uma super audição, não é? Pode ter escutado, hum... sei lá, um acidente de carro à um quilômetro daqui.
Kai continuou me fitando ainda com aqueles olhos perscrutinadores.
- Sei- se limitou a dizer e voltou-se com uma pequena bandeja com comida na mão esquerda, para a porta- Por que a porta ficou cinza?
Gelei. Com essa eu não contava.
- Er... Ela não era dessa cor?- fingi.
Kai a trancou.
- Acha que eu sou idiota, Bonnie?- e se voltou para mim- O que está aprontando?
Merda. Por que ele tinha que ser tão observador e inteligente?
Engoli em seco mais uma vez.
- Aprontando...?- um risinho nervoso escapou- Como eu vou aprontar em um buraco como esse? Quer dizer, não tem nada que eu possa fazer aqui...
Kai continuou me encarando, com uma frieza assustadora.
- Você conseguiu escapar do Mundo Prisão em questão de meses, enquanto eu levei dezoito anos para tal feito, Bonnie- murmurou, fazendo a bandeja flutuar para qualquer lugar, enquanto dava um passo na minha direção- Isso só me faz tomar mais cuidado com você.
Sorri de canto, tentando disfarçar minha ansiedade.
- Está com medo de mim, Kai?
Seus lábios curvaram em um pequeno sorriso.
- Deveria?-rebateu.
- Espero que não- reforcei seu olhar. Não o deixaria me intimidar.
Passaram - se alguns segundos naquela disputa silenciosa. Na qual nenhum dos dois queria ceder terreno para o outro poder declarar a vitória.
Ele sorriu mais, baixando os olhos.
- Está na hora de almoçar.
Retesei os músculos em meu corpo. Kai percebeu.
- Não se preocupe, BonBon. Eu me alimentei na noite passada- murmurou e relaxei um pouco- O que não me impede de fazer um pequeno lanchinho hoje.
Notei seus olhos cobiçosos secando meu pescoço e o decote em meu vestido azul.
Me virei, saindo de perto daquela zona perigosa que era estar perto dele quando agia dessa forma. Caminhei até a cama.
Merda. Meu andar vacilou.
Esperava que Kai não notasse a leve inclinação em que a cabeceira se encontrava. Um pouco caída para o lado direito.
Sentei no colchão com cuidado e ouvi um rangido alto do estrado torto que protestou.
- O que andou fazendo nessa cama?- ele disse, reparando na evidente posição estranha do móvel. Seu sorriso era travesso, mas seus olhos estavam um tanto avaliativos.
Ergui um sobrancelha, fingindo indignação.
- Nada do que está imaginando- rebati.
- Ah, minha doce BonBon...-ele riu, vindo na minha direção- Sabe que eu estou aqui para atender todos os seus desejos, não é?
Senti meu estômago revirar com aquela proposta.
- Prefiro ficar presa com tigres famintos.
- É um fetiche estranho...- franziu as sobrancelhas e sorriu em seguida- Mas posso arranjar os tigres.
- Você é asqueroso- revirei os olhos.
Ele sentou-se em sua habitual cadeira perto de mim.
- Um dia- falou com um sorriso sacana- Você não vai resistir à tudo isso- e apontou para o próprio corpo.
- Aguardarei esse dia ansiosamente- murmurei com sarcasmo.
Isso nunca vai acontecer, pensei. Nem nos seus sonhos, depravado.
Me ocupei em pegar a bandeja com comida- que havia flutuado até ali- em cima da mesa metálica, antes que vomitasse com aquela conversa.
E o prato surpresa era? Macarrão com queijo.
- Você não sabe cozinhar outra coisa?- resmunguei fazendo cara feia para a refeição que eu vinha degustando à meses. Kai só trazia algo diferente se eu fosse "boazinha" em seus padrões de louco.
Kai observava as próprias unhas.
- Sou um rapaz prendado, BonBon- disse ainda sem olhar para mim- Só provará das minhas especialidades na cozinha depois do casamento.
- Lá vem você com esse papo de novo- falei com rispidez- Eu não vou me casar com você, Kai. Tire essa idéia ridícula da cabeça.
Ele suspirou, abaixando a mão e voltou seus olhos azuis para mim.
- O que é realmente ridículo é achar que eu não vou sentir a magia que está pulsando dentro de você- havia aquela frieza cruel que eu conhecia muito bem em seus olhos- Você deve me achar muito obtuso mesmo, não, garota?
Pensei que fosse parar de respirar. Meu coração se agitou loucamente.
Ele sabia.
- O fato de ser uma esponja de magia, não é algo para se desprezar, querida- disse maldosamente- Consegui sentir seu poder do outro lado do corredor.
Não tive tempo.
Vi sua mão avançando para agarrar meu braço e tirar toda minha magia. Fui mais rápida.
Com um aceno de mão, o pescoço de Kai fez uma volta abrupta. O estalo ecoou no ar. Ele desabou no chão, com um barulho surdo.
Me levantei de imediato.
Eu teria alguns minutos antes de sua coluna vertebral se regenerar e ele vir atrás de mim.
Me agachei ao seu lado e procurei as chaves. As encontrei no bolso do frente de sua calça.
Estava quase saindo, quando tive uma idéia.
Agachei-me ao seu lado mais uma vez e ignorei a curvatura estranha e assustadora de seu pescoço. Estendi as mãos trêmulas e segurei a palma esquerda de Kai.
Lá estava o anel de lápis-lazuli que o protegia do sol em seu dedo anelar. Rapidamente, tirei-o e o guardei dentro do decote em meu vestido. Isso iria atrasá-lo um pouco.
Dei um último olhar à Kai.
Ele não me machucaria mais.
E corri para a porta.

♥♥♥♥♥

Nota da Autora:

Oieee queridos (^-^)

Mais um capítulo de "Laços Mortais".
Kai está cada vez mais dominado e nem percebeu. E quanto à fuga da Bonnie, hum? Isso vai render!
Espero que tenham gostado :)
Comentem o que acharam, adoro saber a opinião de vocês! (*_*)/

Beijinhos :* .Até o próximo!

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