LAÇOS MORTAIS | Bonkai |

By Dark_Siren4

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Logo após o desastroso casamento de Josette e Rick, Bonnie pensa ter se livrado de seu pior pesadelo: Kai Par... More

Antes de começarmos...
1. Que os Jogos Comecem
2. Armadilha
3. Nosso Pequeno Quiz
4. Lacey, minha amiga zumbi
5. Fogo Líquido
6. Minha Droga
7. Minha Bela Adormecida
9. A Árvore Morta
10: Rosalie
11. Um Passeio com A Morte
12. Bato um Papo com a Minha Consciência Gostosa
13. Zelador, Garoto de Recados e Assassino
14. Estou de Mudança
15. O Rouxinol
16. A Bailarina, o Sociopata e a Tigresa
17. Cúmplice da Morte
18. Silêncio
19. Lição
20. Fogo e Pólvora
21. Meu Novo Ursinho de Pelúcia
22. Jantar Nada Romântico
23. Encontro com o Exterminador do Futuro
24. A Chamada
25. Controle
26. Tentação
27. A Visita
28. Acordo Desfeito
29. Brincando com Facas
30. Ataque de Fúria
31. Le Courtaud Rouge
32. A Caçada
33. Pedaços de Uma Outra Vida
34: Uma Brecha do Passado
35. Onde os Lobos Habitam
36. Desejo e Segredos
37. A Alcatéia de Paris
38. Dentro de Mim
39. Conversas Ocultas
40. Quase Amigos
41. Pratos Limpos
42. O Jantar Sangrento
43. Entre Deus e o Diabo
44. Bandeira Branca
45. Vamos Passear
46. Palavras Secretas
47. O Duelo
48. Despedida
49. Regresso
50. Genesis
51. Pesadelos e Decisões
52. Reencontro
53. Sobre Um Homem Cruel
54. Minha Existência
55. O Lírio
56. Perseguida
57. Sob Sete Palmos
58. Suspeita
59. Feridas
60. Ameaça
61. Descoberta
62. Trégua
63. Pertencer
64. Vozes
65. Fantasmas
66. Renascida
67. Encruzilhada
68. Água e Vinho
69. Convidados
70. Disputa
71. Café da Manhã
72. Jardim Noturno
73. Mortos
74. Intervenção
75. Fuga
76. Esperança
77. Profundezas
78. Limbo
79. Decisão
80. A Porta
81. O Monstro em Mim
82. Expostos
83. Limites
84. Lobo Mau

8. Dentro do Labirinto

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By Dark_Siren4

Acordei em meu quarto escuro.
Há muito que eu havia me habituado com aquelas paredes frias e de tinta descamada. O cheiro de bolor que provinha de todos os cantos, já não me incomodava mais. O colchão não era tão desconfortável como no início.
E eu?
Estava me tornando algo que desconhecia. Uma Bonnie mais apática e triste. Assustada e desconfiada de tudo. Eu simplesmente já não reconhecia a líder de torcida do colegial, ou a garota amigável que todos conheciam. E acima de tudo, a poderosa bruxa Bennett.
O que eu era perto de Kai?
Simplesmente me reduzi à menos que nada. Era o que ele dizia.
Eu tentava não prestar atenção naquelas palavras cruéis, mas elas se infiltraram na minha mente como serpentes, sussurrando verdades hediondas. Coisas horríveis sobre mim.
Com o tempo entendi que estava me entregando. Mas não foi de súbito.
Foi aos poucos. Quando deixei que ele fizesse aquelas coisas horríveis dia após dia. No início eu lutava contra e Kai me machucava mais. E depois, quando comecei a dar razão à tudo o que ele dizia.
Você é fraca.
Não é nada.
Um brinquedo que posso quebrar à qualquer momento.
Ele sussurrava na minha cabeça.
E de súbito, suas verdades... passaram à ser as minhas.
Em que momento eu mudei tanto, não faço a mínima idéia. Porém, conseguia sentir a rachadura se formando dentro de mim. Eu estava quebrando e a única coisa que me impedia de estilhaçar, era a esperança. A de que sairia desse pesadelo. Que um dia veria Caroline, Matt, Tyler, Stefan, Damon, Jeremy e Elena...
Isso fazia o aperto em meu peito se precipitar. E a rachadura cresceu um pouco mais.
Fechei os olhos com força, obrigando as lágrimas à voltarem para seu lugar. Eu não queria chorar mais.
Já estava cansada. Exausta demais para isso.
Me virei no colchão, buscando algum conforto. Geralmente, me enroscava em uma bolinha apertada sob os cobertores, como se isso pudesse me proteger de tudo. Mas não podia. Não dele.
Uma fisgada em meu ombro, me fez parar o movimento.
Afastei o cobertor cinzento de lã, até a cintura. E tive a visão da camisola cor de bronze que eu vestia e na altura da alça fina em meu ombro, pude ver dois grandes hematomas roxo-escuros.
- O que é isso?- sussurrei para mim mesma, sentindo minha garganta doer um pouco pela voz rouca.
Continuei encarando aquelas marcas. Eram... Santo Deus, eram mordidas!
E uma lembrança esquisita surgiu em minha mente.
Mãos viajavam pelo meu corpo, provocando sensações estranhas. No início eram carícias leves, mas depois tornaram - se mais urgentes e dolorosas. Até que senti uma pontada aguda em meu ombro. Duas vezes.
E eu acordei, vendo Kai com suas mãos em lugares extremamente proibidos de meu corpo.
Ele parecia um pouco eufórico e ofegante, com os olhos azuis-cinzentos derretidos em um chumbo azul brilhante.
Até que eu... adormeci.
Aquilo foi um sonho, não?
Encarei meu ombro ferido mais uma vez. Mas como havia sido um sonho? Os hematomas estavam evidentes.
Porém, algo em minha mente cismava em dizer que aquilo foi apenas um sonho.
E a única explicação lógica que eu podia dar à isso era que havia me ferido, enquanto dormia.
Que coisa mais ridícula, Bonnie, pensei sentido-me uma idiota. Quem morde o próprio ombro?
Tive que levar àquela conclusão em consideração. Então, se eu não havia feito àquilo à mim mesma, só podia significar uma coisa.
Kai havia me hipnotizado.
Não tinha como provar isso, mas essa desconfiança cresceu à grandes proporções, até que se tornou uma certeza.
Os tremores habituais, começaram a descer por meus braços, se instalando em minhas mãos. Afastei as cobertas e ignorei o frio que me percorreu.
Me levantei da cama e caminhei automaticamente, para a porta aberta do banheiro do outro lado do quarto.
Quando toquei a maçaneta, senti meus joelhos tremerem.
Ao entrar no recinto, tranquei a porta de imediato e desabei no azulejo amarelado no mesmo instante.
Havia se tornado uma coisa natural para mim. Manter-me - aparentemente - controlada em meu quarto, mas caía aos prantos sempre que me trancava naquele pequeno espaço vazio.
Kai não podia me ver chorar ali.
Cada soluço explodia por minha garganta, arrancando- me o ar com força.
Eu ofegava, com as lágrimas descendo por meu rosto. Minhas mãos eram garras afundadas em meus cabelos embaraçados.
Kai havia feito algo comigo.
Ele me tocou. Ele não tinha esse direito. Ele não podia ter se aproveitado de mim daquela forma.
Ele não podia.
Eu conseguia sentir seu perfume impregnado em minha pele, intoxicando meu ser.
Comecei a esfregar as palmas de minhas mãos contra meus braços e o ombros desesperadamente, tentando arrancar o odor amadeirado e masculino de mim.
Me sentia suja e profanada.
- Ele não pode- solucei- Não pode fazer isso comigo... Não pode...
Abracei meu corpo, sentindo as costelas proeminentes sob o tecido de seda.
Eu havia me distanciado do que era. E Kai ganhava aos poucos.
Bonnie Bennett estava morrendo dentro de mim.

◆◆◆◆◆

Durante o banho matutino, me concentrei na tarefa de esfregar minha pele vigorosamente com uma esponja áspera de banho. Não queria nenhum resquício de seus toques em minha pele.
Porém, elas estavam lá.
As mordidas em meu ombro e as marcas roxas por todo o relevo de meus seios doloridos.
Sentia lágrimas quentes descendo por meu rosto, conforme esfregava a esponja contra meu antebraço esquerdo à cerca de dez minutos.
Sangue escorria da pele esfolada, mas não me importei. Eu iria tirá-lo de mim.
Kai não se impregnaria em minha pele. Ele sairia de mim...
Uma batida na porta, fez com que eu parasse o movimento.
Era ele.
- E-Eu já vou!- gritei, me levantando atabalhoadamente do chão.
As batidas pararam.
Eu tinha que ser rápida. Kai não gostava de esperar.
Deixei a ducha quente lavar os resquícios de sangue em meu braço.
Fechei o registro e me sequei com uma toalha. Enrolei- me nela e saí do box.
Escovei os dentes rapidamente, tentando não me olhar no espelho.
Odiava o que via.
Os ossos das maçãs do rosto estavam mais proeminentes na pele cinzenta e sem vida. Meus olhos eram esferas verdes flutuando em olheiras escuras.
Não precisava ver para saber o que estaria lá.
Depois caminhei até um cabide na parede próxima, com uma muda de roupa. Às vezes eu deixava uma no banheiro, para o caso de eu estar machucada ou fraca demais para procurar roupas na cômoda em meu quarto.
Coloquei a lingerie e o vestido cinza que cobria meus braços totalmente, impedindo que meu braço esfolado ficasse à vista.
Ajeitei os cabelos molhados atrás das orelhas e caminhei de maneira exitante até a porta do recinto.
Minhas mãos recomeçaram com sua habitual tremedeira. Segurei a maçaneta da porta branca e velha com força.
Respirei fundo e engoli o medo e a agonia.
Abri a porta, saindo do banheiro.
O quarto continuava escuro, com a lâmpada solitária no teto.
O vasculhei à procura de Kai, porém não o encontrei.
Franzi o cenho.
Qual seria sua nova brincadeira de hoje?
Kai adorava jogos; era a única coisa que sua mente doentia conseguia processar como diversão. E com isso acabei aprendendo que se o entretesse com alguma coisa, me deixaria em paz.
Algo que sempre o fazia perder o interesse em tortura física era uma conversa. Acho que ele adorava o som da própria voz. Falava sem parar por horas. E no fundo eu ficava grata por isso; só me limitava à ouvi-lo.
Detestava, quando Kai mudava o rumo da conversa para mim. Havia dias nos quais ele não estava tão interessado em falar, apenas ouvir. Eu era obrigada a sair do meu estado constante de torpor para forçar meu cérebro cansado à falar frases monossilábicas e repetitivas. E por mais ridículas que fossem as minhas respostas para ele, Kai ficava fascinado por tudo o que eu dizia.
Ainda vasculhando pelo quarto em busca do sociopata herege, algo chamou minha atenção. Um retângulo brilhante à alguns metros de distância.
A porta.
Pensei que fosse desmaiar de felicidade.
Ela estava aberta.
Dei um passo decidido, cheia da mais completa e cintilante esperança. Eu iria fugir daquele pasadelo.
Praticamente corri até a abertura e subitamente meus músculos travaram quando eu estava prestes à sair pela porta.
Aquilo estava muito fácil.
E se for mais uma brincadeira de Kai? E se houvesse mais uma armadilha, me aguardando nos corredores sombrios?, desconfiei.
Não seria a primeira vez que Kai me dava aquele tipo de esperança. Ele adorava esse tipo de jogo.
Os tremores em minhas mãos se intensificaram. A agonia me queimava como aquela garrafa de ácido. Estava perto de minha liberdade e ainda assim... hesitava.
O ar dentro daquele quarto escuro e bolorento parecia mais pesado, conforme a brisa calma que vinha dos corredores se tornava mais convidativa.
- O que eu faço?- sussurrei para mim, passando a mão trêmula por meus cabelos úmidos, em um desespero doloroso.
Me voltei para o quarto, fitando suas paredes descascadas e sujas. E voltei a mirar o corredor, com as paredes igualmente sofridas pelo tempo e exposição.
Eu tinha a escolha do ser livre e mesmo que fosse só mais uma brincadeira de Kai, tinha ao menos que tentar.
Eu nunca sairia dali se continuasse sendo a vítima. Bonnie Bennett, a bruxa forte e poderosa precisava assumir.
E deixei que ela o fizesse.
Dei um passo incerto para fora do recinto e aguardei pela chegada súbita de Kai, como ele sempre fazia. Mas, não houve nada.
Continuei parada naquele extenso espaço, apenas respirando o ar límpido e diferente do daquele enorme quadrado abafado em que vivi.
Me voltei para o corredor largo que se estendia por mais uns sete metros, antes de acabar em um paredão, com uma abertura na parede lateral que o interligava à outro corredor, que consequentemente me levaria à uma saída.
Apesar de meu tornozelo estar curado, caminhei lenta e vagarosamente por aquele trecho, olhando para o chão vez ou outra em busca de alguma daquelas armadilhas para ursos. Ou seja lá o que mais a cabeça louca de Kai havia imaginado de colocar por aí.
Ao chegar à outra abertura que levava à mais um corredor, meu corpo já estava tenso como uma corda de violão.
A presença dele, estava em todo o lugar. Ou talvez, eu só estivesse cedendo à paranóia como sempre.
Sentia minhas mãos tremerem em espasmos fortes e quase dolorosos. As colei nas laterais do corpo tentando parar os movimentos involuntários.
Respirei fundo, contendo a onda de terror que queria me dominar.
Sentir mais medo não adiantará de nada, garota, reforcei.
Apressei meus passos querendo fugir o mais rápido possível daquele lugar. Sentia o chão úmido enregelar meus pés descalços.
Andei pelos mesmos corredores sujos e escurecidos pela falta de luminárias, mas consegui a seguir em frente. E comecei a achar que estava realmente perdida, já que por mais que eu andasse não chegava à lugar algum. Eram sempre os mesmos corredores.
Aquilo parecia um labirinto.
Uma parte ridícula de minha mente recordou, das antigas lendas gregas que minha avó contava para mim quando criança. E lembrei-me do Minotauro, uma enorme criatura metade touro e metade homem preso em um enorme labirinto e sedento pela carne fresca de suas vítimas.
Eu era a vítima. E Kai era o monstro que me perseguiria e drenaria todo o sangue de minhas veias.
Que ótimo. Agora eu estava realmente aterrorizada.
Um som alto me fez dar uma ligeiro pulo de susto. O grito ficou preso em minha garganta.
Kai havia me encontrado.
Só podia ser isso.
Aguardei com todo o meu corpo temendo de medo e apreensão.
-...ela me pertence agora- ouvi a voz próxima de Kai dizer à alguém- Você nunca conseguirá tirá-la de mim.
Um som surdo se fez. Como o de um corpo de chocando em um superfície dura.
- Cala a boca!- outra voz rosnou- Onde ela está? Diga onde ela está Kai, ou juro que arranco a sua cabeça de verdade!
Era... Damon? Damon!
Um sorriso bobo e lágrimas de felicidade surgiram em meu rosto.
Uma risada esganiçada se fez.
- Você nunca a encontrará- Kai murmurou, parecendo cansado e ofegante.
Caminhei lentamente, procurando o som das vozes.
Um corredor se estendia até um ponto mais escuro.
- Eu não vou perguntar de novo, seu monstro!- ameaçou Damon- Lhe darei três segundos para me dizer onde ela está. Um...
Encostei- me na parede suja e úmida, e estiquei o pescoço na direção do um outro corredor. E pude ver as duas silhuetas escuras.
Um estava contra a parede, sendo mantido preso por outro que apontava algo para seu peito. Não. Ele não apontava. Damon- o reconheci pela estatura mais baixa que a de Kai- estava com uma das mãos afundadas no peito do herege. Pronto para arrancar seu coração à qualquer momento.
- Dois...
E não me contive, saindo de meu esconderijo.
Estava morrendo de saudades de qualquer outra pessoa que não fosse Kai. Até mesmo de Damon.
- Eu estou aqui, Damon!- chamei com a voz embargada e trêmula de felicidade.
Vi a forma escura de Kai voltar o rosto na minha direção. Ele parecia preocupado.
- Damon!- chamei de novo. Mas ele não me ouviu.
Como não ouviu?
Damon estava prolongando o último segundo de Kai, na esperança de que ele fosse falar mais alguma coisa. Porém, o herege não dava indícios de querer fazer isso.
Ignorei todo no medo que eu sentia de Kai e caminhei na direção dos dois.
O sociopata não parecia interessado em Damon. Senti todo o meu corpo tremer, com o prata de seu olhar me mirando.
- Damon?-chamei, mais uma vez, tocando seu ombro.
Ele não se moveu.
- Três- murmurou de um modo frio. E ouvi o som da caixa torácica de Kai sendo brutalmente arrebentada quando meu amigo arrancou seu coração ainda batendo do peito.
Damon o largou, soltando o órgão vital ao o lado de um Kai mais que morto.
Uma sensação de puro alívio me dominou.
Ele estava morto. Finalmente.
Eu estava livre dele. Livre de Kai.
- Bonnie?- ouvi Damon dizer.
Levantei meus olhos do vampiro ressequido.
O Salvatore parecia surpreso em me ver ali.
- Oi...- sussurrei, sorrindo e chorando.
Damon me agarrou em um súbito abraço apertado e doloroso. Eu também retribuí.
- Minha nossa... eu pensei que nunca a encontraria- sua voz saía abafada, contra meu ombro.
- Mas encontrou- falei, ainda em total estado de choque com todos aqueles acontecimentos. Eu iria embora desse lugar. Para sempre.
Damon me afastou um pouco, mirando meu rosto. Ele sorriu de leve.
- Você está acabada- franziu as sobrancelhas.
Revirei os olhos.
- Obrigada, Damon. Era tudo o que eu precisava ouvir depois de quatro meses de cárcere.
Ele riu.
Eu havia sentido falta de sua risada irônica e ao mesmo tempo, tão profunda e dele.
- Tenho certeza de que o Pequeno Gilbert, não irá se importar com a sua aparência- afirmou, passando os dedos por meu rosto de forma carinhosa.
Sorri mais ao lembrar de Jeremy. Eu sentia falta dele e de seu carinho.
A expressão de Damon tornou-se séria.
- Você esteve aqui esse tempo todo? Viu o que fiz?
Assenti.
- Eu não vi e nem ouvi você.
- Kai deve ter feito algum feitiço de ocultação para me esconder de você- expliquei.
- Verme- ele revirou os olhos e segurou minha mão em seguida- Venha. Vamos sair daqui.

◆◆◆◆◆

Alguns minutos depois, estávamos indo de encontro à uma grande porta dupla de metal cinza e enferrujado.
Damon, estava muito quieto. Durante todo o caminho ele foi paciente, deixando que eu caminhasse no meu ritmo, pois estava muito fraca. Mesmo que Kai, tenha me compelido à me alimentar bem. Era o estresse mental e não o físico que me impedia de ser mais rápida.
Paramos diante da porta.
Pousei a mão trêmula, sobre a barra enferrujada e a empurrei, vendo uma pequena nesga de luz entrar pela fresta.
Fazia meses que eu não sabia como era a luz do dia.
- Espere, Bonnie- ele murmurou, me impedindo de abrir a porta.
- O que foi?-questionei, franzindo as sobrancelhas.
Seus olhos azuis fitavam o piso de cimento.
- Eu não vim por você- sussurrou.
Continuei o encarando sem compreender bem o que ele queria dizer. Até que a ficha caiu.
Senti meus olhos lacrimejarem.
- Veio por ela - sussurrei.
Damon, não respondeu, parecendo à beira de um precipício.
- Eu não sei... não consigo viver sem Elena- sua voz era esganiçada e triste- Por favor, Bonnie... Não torne isso mais difícil.
- Difícil? Você está dizendo que quer me matar, Damon- exclamei- Como quer que eu encare isso?
Seus olhos azuis e gélidos encontraram os meus. Eles estavam cheios de fúria e mágoa.
- E você quer que eu espere até que você tenha uma vida humana e completa, enquanto eu sofro por Elena?!
Suas palavras me acertaram como um chicote. O que havia acontecido com o Damon que eu conhecia?
- Bonnie- sua voz suavizou- Nós dois sabemos que o feitiço de Kai é irreversível. E que você provavelmente, com essa mania de salvar todos, acabará morrendo antes do tempo. Apenas me deixe, tornar isso menos doloroso e mais rápido.
Tremores percorriam todo o meu corpo e meus ombros convulsionavam com os soluços.
- Faça isso por mim, Bonnie- ele sussurrou, pegando meu rosto entre suas mãos frias- Faça por Elena.
Solucei mais uma vez.
Ele tinha razão.
Eu não viveria muito tempo. E não havia mais nada para mim nesse mundo. O que eu tinha além dos meus poderes e minhas parentes mortas?
Elena precisa viver muito mais que eu. Damon, Stefan e Jeremy dependiam dela. Caroline, deveria estar sentindo sua falta como ninguém.
Eu podia fazer mais esse sacrifício por ela.
Engoli o choro, como uma verdadeira adulta faria. E fitei os olhos azuis de Damon.
- Prometa que será rápido- sussurrei, com a voz tremendo levemente.
- Prometo- sussurrou de volta- Me perdoe Bonnie. Eu amo você.
Fechei os olhos e suspirei uma última vez.
Até na morte Kai conseguia completar sua vingança contra mim.
E subitamente, meu pescoço foi virado com uma ardência dolorosa. E tudo se apagou.

◆◆◆◆◆

Arfei com tanta força que quase me engasguei com o excesso de oxigênio em meus pulmões.
Meus olhos se abriram de súbito. E e quase chorei mais uma vez.
Eu estava em minha cela. No mesmo lugar. Eu nunca havia saído daquele quarto.
Sentei- me aparvalhada na cama, arfando desesperadamente. Podia sentir o suor escorrendo por cada centímetro de minha pele.
Eu ainda usava a camisola de seda cor de bronze.
Um "TEC-TEC-TEC" persistente me fez voltar a cabeça na direção do som.
Kai estava sentado e VIVO na mesma cadeira de metal ao lado do minha cama. Ele vestia jeans surrados, os coturnos e uma camisa preta com o desenho de um unicórnio musculoso segurando uma bazuca com os dizeres: "Morte aos Humanos!"
O "TEC - TEC" insistente, vinha do smartphone em suas mãos. Kai parecia concentrado, digitando alguma coisa.
- Pensei que não acordaria mais- murmurou, sem tirar os olhos do aparelho- Sabe, enquanto você dormia, eu aprimorei a técnica de entrar na sua mente. Agora posso fazer isso, até tuitando. Aí está uma coisa que eu não entendo... Essa necessidade que os jovens de hoje em dia têm em contar cada passo que dão em uma rede social. É ridículo!
Ele riu.
- No meu tempo...- revirou os olhos ainda digitando- Nossa, eu pareço um velho de quarenta anos falando isso, não? Ainda assim, nós não éramos tão obcecados com os holofotes de hoje. Tudo é tão sensacionalista! Mas, não posso negar que a Internet foi a melhor coisa que já criaram. Dá pra pesquisar tudo. O que é ótimo, porque é muito chato ter que procurar tudo em catálogos de biblioteca. Isso facilita em muito a minha vida, já que sou um cara curioso. Por exemplo, você sabia que gatos machos tem espinhos no pênis? Eu sei. Coitada das gatinhas. Eu gosto de saber coisas do mundo animal, porque os bichos são surpreendentes. As pessoas não. Elas são previsíveis...
- Você entrou na minha cabeça de novo?-sussurrei, não dando a mínima importância para os tais gatos com cactus nos órgãos genitais.
Kai parou de falar erguendo seus olhos azuis-cinzentos para os meus. Ele parou de digitar.
- Sim, é divertido- ele sorriu- Eu apenas monto o cenário e distribuo os personagens. O que acontece depois é criação sua.
Outra vontade soluçar veio com força em meu peito, mas a contive.
- Por que faz isso comigo?
- Ora, minha bruxinha linda...- ele se levantou, deixando o celular sobre o tampo da cadeira e veio sentar- se ao meu lado. Kai não conhecia limites para a aproximação. Logo, colocou o braço sobre meus ombros e ficou me encarando.
Odiava quando ele fazia isso.
Tentei afastá-lo, mas aquele cara era mais pegajoso que cola.
- Eu faço isso porque... Bem, porque eu posso- disse com se isso justificasse tudo- E você não pode me deter. Eu tenho poder sobre você, BonBon. E deixei bem claro, não é?
Ele tocou o indicador na ponta de meu nariz. Como se eu fosse alguma criança.
- Mesmo que eu morra, Bonnie. Coisa que eu acho que nunca vai acontecer. Você nunca se livrará de mim. Eu estarei em cada cantinho da sua mente, tatuado sob sua pele. Serei sua maldição pessoal. Nunca se esquecerá de mim.
Àquelas promessas me enchiam de medo. Eu não queria conviver com a lembrança da existência dele.
- Odeio você- sussurrei, incapaz de conter minha raiva.
Kai suspirou, como se estivesse lidando com a criança mais malcriada de todas.
- Olha, tá sangrando aí- avisou, apontando para meu braço direito.
Desci meus olhos, vendo meu antebraço completamente esfolado.
- Como...?- tentei dizer, tocando meu machucado dolorido e vi minha mão esquerda completamente suja de sangue.
- Você estava chorando e dizendo que iria "arrancá-lo da sua pele" e ficava arranhando o braço sem parar- explicou Kai com o ar mais cínico de todos- Nem faço idéia de quem seja.
Toquei a ferida que ainda borbulhava o líquido vermelho. Havia sido profundo.
- Ah, todo esse sangue...- Kai suspirou- Está me dando muita fome, apesar de eu ter lanchado na madrugada passada.
O encarei, me perguntando quem havia sido seu "lanche". E vi seus olhos azuis cercados de veias negras.
Sabia que quando ele chegava nesse nível, não havia um jeito de refreá-lo.
- Não...- tentei dizer, em um sussurro fraco.
- Vem aqui, BonBon- ele disse com um sorriso sádico e me puxou para mais perto.
Sua mão que estava em meus ombros desceu para minha cintura e a outra afastou meus cobertores e puxou minhas pernas sobre as suas. De modo que fiquei sentada nas pernas dele mais uma vez.
De todas as torturas, aquela era a mais humilhante. Era o único momento em que Kai podia me tocar de verdade.
- Kai... não. Eu não quero...- tentei afastá-lo de mim empurrando seu peito, mas Kai me manteve firme no lugar.
- Shh...- fez ele, acariciando meu rosto, que estava perto demais- Fica quietinha. Lembra o que aconteceu da última vez em que ficou se debatendo? Eu perfurei a veia errada e você quase sangrou até a morte. Não queremos isso de novo, não?
Continuei me mexendo, negando seu contato com minha pele.
- Por favor... Hoje não...- pedi, mas ele não se importava.
Seus olhos negros fitavam as veias e artérias que desciam por minha jugular. Minha respiração estava acelerada e descontrolada.
Kai me puxou para mais perto, fazendo com que eu encostasse a cabeça em seu ombro.
Uma de suas mãos, me mantinha quieta; pousada em minha cintura e a outra segurava nos cabelos curtos de minha nuca, deixando meu pescoço à vista e na posição correta.
Ele afundou o rosto em meu pescoço, inspirando em minha pele. Senti seu nariz traçando um caminho até o decote em meus seios.
Me remexi, tentando afastar sua respiração quente em minha pele.
Kai deu uma risada sádica e voltou para a área em meu pescoço. Seus lábios tocaram levemente em minha pele, antes de suas presas me perfurarem.
Gemi dolorosamente, quando senti seus caninos penetrando minha pele. Maldito! Ele estava indo devagar, querendo manter a minha dor e tortura.
Doía muito mais quando ele fazia aquilo. Senti sangue escorrer por meu seio direito.
E finalmente, ele afundou as presas em minha carne. Era uma dor desnorteante que beirava o prazer e a agonia. Havia uma linha tênue entre os dois.
No início Kai era bruto, mas acho que estava aprendendo a ser menos. Mas não quer dizer que ele não fosse de vez em quando.
Sua mão apertava minha cintura com força, fazendo meu corpo se grudar ao seu. E sentia seus dedos se emaranhando em meu cabelo. Ele sugava com força, fazendo aquela ferida arder.
Já conseguia enxergar pontos negros diante de meus olhos.
- Kai, pára...- consegui dizer.
Ele continuou.
- Kai- chamei mais uma vez.
Ele não sabia a hora de parar.
Meus braços começaram a ficar molengas, como o restante de meu corpo.
- Kai...
Ele afastou as presas de meu pescoço com um rosnado. Seus olhos mergulhavam em negro.
Ele me assustava mais daquele modo, do que em sua personalidade habitual.
- Pára- ofeguei.
Seus olhos foram deixando o negro e voltaram para o azul - cinzento. Vi Kai lamber o sangue no lábio inferior.
Parecia confuso.
Seus dedos em meus cabelos afrouxaram um pouco, se tornando uma leve carícia.
Ele estava perto demais.
O vi mirar meus lábios de um modo estranho. E para o meu horror, ele começou a inclinar o rosto na direção do meu.
Sabia o que ele queria fazer.
Virei o meu rosto antes que ele fizesse.
Kai encostou a testa em minha bochecha e suspirou de frustração.
- Vá se limpar- resmungou, me tirando de cima dele de um modo brusco.
O vi pegar o celular sobre a cadeira e saiu, batendo a porta.
Eu ainda ofegava, com os olhos arregalados de surpresa.
Ele iria mesmo fazer aquilo, minha nossa.
Cambaleei, um pouco tonta para o banheiro. Tranquei a porta.
A mesma Bonnie de meu sonho/ilusão me encarou de volta no espelho. Podia ver meu braço machucado e o ferimento cheio de sangue em meu pescoço.Porém, o que me chamou a atenção não foi o sangue. E sim os hematomas.
Marcas roxas acima do decote em meus seios. Como dedos... E as mordidas em meu ombro.
Não fora apenas um sonho.
Me despi e entrei embaixo da ducha quente do chuveiro, me afogando em lágrimas.

♥♥♥♥♥

Nota da Autora:

Olá pessoal :)

Peço desculpas pela demora com esse capítulo. Prometo ser mais rápida com o próximo.
E o que acharam? Kai entrando na mente da Bonnie não é uma coisa boa... Bom, pra Bonnie não. Mas pra ele é a melhor coisa do mundo.
Espero que tenham gostado *(♥.♥)*

~E ÓTIMA NOTÍCIA PARA FÃS DE "CONVERGÊNCIA SOMBRIA" !!!~
Eu postei um capítulo bônus de CS cheio se coisas sinistras ( no bom sentido, tá? Kkkk... Ou não, muahahaha!). Dêem uma olhadinha lá! o/

Beijos xxx. Até o próximo :*

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