"A chave para a felicidade é tentar fazer o melhor com o que a vida nos dá"
- A Maldição do Tigre
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Zoe colocou a cabeça para fora do quarto, rezando para todos os santos que conhecia para Melanie ainda não ter ido para seu quarto e descoberto tudo. A garota havia acabado de chegar ao instituto e ganhara uma nova família aqui, e não queria começar destruindo a confiança que Melanie colocou nela.
— Ótimo, ninguém a vista. - revelou aos garotos, com um suspiro aliviado. - Vocês dois, guardem os papéis de volta na gaveta.
— E o que você vai fazer? - pergunto Edmund, já começando a pegar os papéis espalhados junto com Julian.
— Eu vou distrair Melanie. - respondeu, antes de sair correndo em direção à entrada do Instituto.
Zoe realmente não queria ficar com o trabalho de distrair a mulher. Ela era péssima nisso. Mas, embora isso a envergonhasse um pouco, não confiava nem em Julian e nem em Edmund, não completamente pelo menos. Portanto, ela faria isso com as próprias mãos.
— Oi, como foi na biblioteca pública? - disse, assim que adentrou a porta da cozinha, de onde as vozes vinham, vendo Piper e Melanie no ato.
— Um horror. - respondeu a mais velha, lançando um olhar raivoso para Piper.
— Ei, não foi tão ruim! - protestou esta, apoiando as costas na pia.
— O que aconteceu? - Zoe soltou uma risada fraca, olhando de uma para outra.
Melanie bufou e passou a mão pelo seu coque bem feito, ainda aparentando estar exausta.
— Me fizeram assinar o papel, mas foi mais ainda. Quando chegamos lá, havia um policial nos esperando, que insistiu em saber todas as informações sobre Piper e ainda passou uns trinta minutos nos fazendo perguntas. - disse, com um olhar cansado.
— Hmm, tem certeza de que não foi mais que isso? Talvez ele tivesse gostado de você e só queria mais tempo ao seu lado. - falou com um sorriso brincalhão, o que fez Piper rir e Melanie revirar os olhos.
— Que engraçadinha. - disse e suspirou. - Agora, se me dão licença, preciso terminar de estudar os papéis.
E começou a andar em direção à porta da cozinha, mas Zoe colocou-se em sua frente, bloqueando a passagem.
— Espere! - falou, com um pouco de desespero. Ela definitivamente não conseguiria atrasar Melanie, mas precisava tentar. - Antes disso, eu preciso te mostrar uma coisa. Prometo que vai ser rápido.
— Você pode fazer isso depois, Zoe. Eu preciso realmente examinar os papéis. - disse a mais velha, tentando passar pela garota.
— Não! É importante! - pediu a Herondale, lançando-lhe um olhar de súplica.
Melanie suspirou, derrotada, e olhou com um pouco de raiva contida para Zoe.
— Tudo bem, mas seja rápida. - disse por fim, recebendo um sorriso largo da loira e logo em seguida sendo puxada pela mesma.
Piper lançou um olhar confuso para Zoe, antes de dar de ombros e pegar uma maça na cozinha. O que foi ótimo para a Herondale, que esteve preocupada com a possibilidade da outra atrapalha-la.
— Para onde está me levando? - perguntou Melanie, enquanto a menina a puxava.
— Ah, para a sala de armas.
— Hm, certo. E para quê exatamente?
— Você vai ver quando chegarmos lá.
Mas, assim que viraram um corredor, o plano de Zoe foi por água abaixo. Julian e Edmund se encontravam saindo do quarto da garota, carregando os papéis e as pastas onde eles estavam guardados. Em questão de segundos, Julian levantou a cabeça e viu ela e Melanie, mas não havia tempo para voltarem atrás.
Zoe precisava agir rápido, antes que Melanie os notasse. Assim, seguindo o primeiro plano que veio em sua cabeça, a caçadora de sombras se jogou no chão, fingindo um grito de dor.
— Ai! Melanie, Me ajude! Acho que torci meu tornozelo. - disse em meio à soluços fingidos enquanto agarrava o tornozelo esquerdo.
— O que? - a mulher se ajoelhou ao seu lado, dando tempo para Julian e Edmund se enfiarem em seu quarto. Ou assim Zoe esperava. - Você tem certeza?
— Uhum. Está doendo muito! - e começou a chorar de mentira, jogando o cabelo em frente ao rosto para Melanie não desconfiar.
— Espere um pouco, vou fazer um irazte de cura. - falou, enquanto rapidamente pegava sua estela e começava a fazer a runa de cura no tornozelo de Zoe.
Uma sensação de bem estar à dominou, ao Melanie terminar de fazer a runa. Fazia anos desde que recebera sua ultima marca, e ela havia se esquecido do poder destas.
— Está melhor? - perguntou Melanie, ajudando Zoe a se levantar.
Ela assentiu, porém continuou se apoiando na mais velha, porque, de acordo com o que se lembrava, ossos quebrados ou deslocados se curavam mais rápido mas não imediatamente.
— Zoe? O que aconteceu? Está tudo bem? - a voz de Julian chegou à seus ouvidos e ela levantou a cabeça, vendo ele e Edmund se aproximando.
— Ela torceu o tornozelo. - esclareceu Melanie, segurando a garota. - Na realidade, não sei como. Afinal, não estávamos fazendo nada que necessitasse de esforço.
— Acho que pisei de mau jeito. - murmurou, colocando o máximo de dor e desconforto que podia na voz.
— Ah, entendo. Bem, pode deixar que cuidamos dela a partir daqui, Mely. Sabemos como anda ocupada. - disse Edmund, com um falso sorriso.
— Está bem. Ficará bem com eles, Zoe?
A garota assentiu e Melanie a soltou, enquanto Julian passava o braço dela por cima de seus ombros e a segurava na cintura com o outro braço.
— Se precisar de algo me chame, querida. - falou a mulher, antes de Zoe começar a andar apoiada em Julian, fingindo mancar.
— Deu certo? - sussurrou para os garotos, conforme se afastavam mais de Melanie.
Foi Edmund que respondeu, com um aceno de cabeça.
— Quase fomos pegos quando vocês duas apareceram mas, graças ao seu excelente trabalho como atriz, conseguimos devolver tudo ao lugar. Muito bem feito, Rapunzel, acho que a subestimei antes.
— Ah, uau, obrigada. Fico lisonjeada. E nunca mais me chame de Rapunzel. - respondeu-lhe, numa voz um pouco mais alta do que um sussurro.
— Anotado. - ele disse, e depois olhou para trás. - Ótimo, ela já foi.
Zoe deu um suspiro aliviado e parou de fingir mancar, então olhou para Julian, que continuava a segura-lá.
— O que está fazendo? Já pode me soltar.
— Bem, você merece uma mimaria pela atuação. Por isso, lhe privarei do incômodo que é andar. Além disso, você é bem leve.
— Quem sou eu para reclamar, não é mesmo?
Edmund balançou a cabeça, olhando-a de modo reprovador.
— E depois eu sou o folgado por deitar na sua cama.
— É diferente. Ele me ofereceu isso e eu aceitei, significa "aceitar por educação". - rebateu ela, com um sorriso convencido.
Edmund abriu a boca, provavelmente para respondê-la de modo bem pouco educativo, mas pareceu concluir que ela não valia o esforço. Então, parou finalmente de andar quando passaram por seu quarto.
— Nossa aliança foi temporária, Rapunzel. Agora voltaremos ao tratamento de antigamente.
— Quer dizer aquele em que você que acabar com a minha raça? Não gosto desse.
— Bem, isso é problema seu. - e entrou em seu quarto, enquanto Zoe revirava os olhos.
— Esse garoto é impossível. Como aguenta tê-lo de parabatai? - perguntou para Julian, quando eles voltaram a andar.
— Edmund fica melhor depois que você o conhece, acredite em mim. Embora tenha demorado duas semanas para isso acontecer da última vez. - ele riu, aparentemente se lembrando daquela época. - Ele tem esse jeito de não confiar em ninguém para depois não se decepcionar, entende?
Entendo, muito mais do que gostaria. Comigo é exatamente assim também, pensou. Mas respondeu:
— É, acho que entendo.
Quando enfim chegaram ao quarto de Zoe, Julian a deixou sentada em cima da cama, aparentemente levando à sério esse negócio de mimos. Deu uma examinada no quarto e depois foi até a porta, onde parou brevemente e lançou um olhar curioso à Herondale.
— Creio que não vai me contar o verdadeiro motivo de querer saber sobre a Corte Seelie, certo? - perguntou, com tanta convicção que Zoe percebeu que não adiantaria negar a afirmação.
— Certo. - disse, ao passo de que Julian assentiu e se virou para sair do quarto.
— Mas não pense que conseguirá encobrir isso por muito tempo, Herondale. - falou, enquanto saía do quarto.