Quando sai o Alexander já estava lá fora dentro do carro dele esperando. Eu não gostava muito disso, sempre acabava desmaiando quando ele selava, e o Neythan tinha que estar por perto porque não confiava nele.
O selo não durava muito tempo então o Alexander voltava algumas vezes para estar selando sempre que quebrava; isso acontecia quando começava a escutar as coisas mais ampliadas: algo que estava longe e parecesse que estava perto; força ampliada ou coisas assim, como eu não tinha controle sobre isso, ele precisava selar até eu aprender a usá-los.
Ele esperou no carro para que eu entrasse, sinceramente seria muito mais fácil se ele entrasse na casa do Neythan, mas eu sabia que isso estava fora de cogitação, porque eles se odiavam, e isso não poderia ser feito na minha casa porque meus pais ainda deviam estar por lá.
— Bom ver você de novo. — Disse ele me observando quando entrei
O Neythan estava parado na porta da casa dele de braços cruzados, percebi que o Alexander o encarou por uma fração de segundo e me perguntei se, talvez, ele soubesse por que o Neythan estava tão estranho ultimamente, ele parecia saber de tudo. Mas era obvio que não. O Alexander tinha coisas mais importantes pra fazer do que cuidar da vida dos outros... Não é?
— Olá! — disse tentando ser o mais breve possível
— Parece preocupada! —comentou, com um olhar curioso.
— Nada de mais.
Ele pareceu dar de ombros, mas não respondeu nada. Pensei se seria uma boa perguntar por onde ele andou nos últimos dias.
— Por que você sumiu? Aparece raramente desde aquele baile de formatura.
Ele sorriu maliciosamente
— Preocupada comigo?
Eu corei
— Não! Quer dizer... Não preciso. Ninguém tem coragem o suficiente para te machucar.
— Você tem. — Disse ele
Entendi o que ele quis dizer, mas que eu poderia fazer? Então desviei o olhar, não queria falar desse assunto.
— É... Melhor andarmos logo com isso.
Ele se virou até ficar de frente pra mim, as janelas do carro estavam fechadas, mas ainda tinha certeza que o Neythan podia ver e escutar o que estávamos falando. Ele tirou a mão do volante e tocou o meu rosto delicadamente, devia ter me afastado, mas acabei fechando o olho com o toque dele... Era tão... Bom.
— Eu ainda não desisti de você.
— Alexander...
— Não precisa continuar. Só disse que não vou desistir de você.
Acordei alguns minutos depois, estava deitada na cama do Neythan e ele estava sentado em uma cadeira pensativo. Ignorei o olhar dele, sabia o que ele estava pensando; odiava a ideia de me ver perto do Alexander e ainda mais ele falando aquele tipo de coisa. E sabia que ele estava chateado por não poder fazer nada quanto a isso, ele não sabia muita coisa sobre selar nunca precisou se preocupar com isso até agora.
E também eu não podia fazer nada, não tinha como impedir isso e o único jeito de selar era com a ajuda do Alexander e o outro jeito era eu aprender a controlar isso.
— Que tal esquecer isso? — perguntei me sentando, odiava esse clima tenso entre a gente.
— Isso?
— É. Desculpa ter ficado chateada com você é que... Estava tudo normal antes. Quer dizer... Na medida do possível. Agora você simplesmente se afastou de mim.
Ele me avaliou por um momento e depois respondeu:
— Tem uma coisa acontecendo. Eu ainda não posso te contar, mas preciso que confie em mim.
Eu sabia. Eu sabia que tinha alguma coisa acontecendo.
— Eu confio em você. Mas por que não pode me contar?
— Segurança — disse ele suspirando como se já tivéssemos falado daquele assunto varias vezes.
— Está tentando me proteger? Do que?
— Eu não posso te contar.
— Isso tem alguma coisa a ver com o por quê de você não querer me tocar? — perguntei e ele sorriu
— Não!
— Então por que fica se afastando?
— É complicando. — respondeu ele levantando-se
Eu fiz o mesmo. Mas ainda precisava de uma explicação já que não tinha nada a ver com o fato dele querer me proteger.
— É por que eu estou diferente? É o meu cabelo? É por que está bagunçado? É o meu corpo? Eu engordei?
Ele pareceu se divertir enquanto eu perguntava aquilo, porque ele estava rindo, mas eu não estava tentando ser engraçada, eu queria realmente saber qual era o problema. Algum tempo atrás estava só de toalha na frente dele e ele tinha se afastado.
Ele veio onde eu estava e parou na minha frente tocando o meu rosto, mas ainda estava sorrindo.
— Não tem nada de errado com você. Está perfeita do seu jeito.
— Então por que está com medo de me tocar? — perguntei e ele ficou sério.
— Não estou com medo de tocar você.
— Prova.
Ele me olhou e acariciou o meu rosto delicadamente, ele aproximou o rosto do meu e minha respiração começou a falhar, ele me beijou como da primeira vez, de uma forma delicada e paciente. Retribui tentando ignorar o pensamento que ele iria se afastar. Ele desceu a mão pelas minhas costas acariciando. O beijo tinha ficado mais intenso, não me dei ao trabalho de tentar recuperar o fôlego, ele estava ali.
Até que, ele se afastou.
— Viu? Não tenho medo de tocar você.
Eu estava prestes a dizer que não valia, mas não disse nada. É claro que aquele beijo tinha valido, tinha me deixado sem fôlego e sem fala.
No outro dia, decidi sair com o Alam para darmos uma volta na cidade, a verdade era que já não passávamos mais tanto tempo juntos como antes, uma por causa dos desfiles que ele estava preparando e outra que eu tinha ficado ocupada com os problemas que estavam acontecendo antes. Passamos em algumas lojas, não que eu gostasse muito disso, mas era praticamente impossível dizer não para o Alam. Depois dali quando já tinha passado o horário de aula da escola (já que a Mary ainda não tinha terminado o ensino médio), esperamos por ela lá e em seguida fomos para uma lanchonete.
— Você não tem ideia de tudo o que aconteceu.
— Ah! Não me diga que o Lionel te deixou? Achei que ele tinha melhorado. — disse
Desde a última vez que tínhamos nos falado ela e o Lionel ainda estavam saindo, ele parecia ter tomado um jeito e parecia gostar dela realmente, mas eu não tinha tanta certeza.
— Não! Minha irmã acha que ele é caso perdido porque fica apostando corrida de moto, particularmente acho isso errado também, mas ainda estamos saindo. Ele está tentando melhorar.
— Se você acha... Mas precisa...
— Tomar cuidado para não sair magoada. Sei disso. — disse ela — E você, Alam? Continua a sair com a Marcela?
— Sim. Estamos trabalhando em algumas coisas juntos. Para um desfile.
— A Marcela entende disso? Achava que ela preferia outras coisas.
— Não. — Negou o Alam enquanto mordia um cachorro-quente.
Logo em seguida ele disse:
— Ela só está me ajudando a organizar.
Estava prestes a voltar minha atenção para o lanche, quando olhei pelo enorme vidro da lanchonete que tinha vista direta para a rua, vi alguém do outro lado, ele tinha acabado de descer de um carro preto reluzente.
Alexander.
Ele estava com roupa formal; terno preto, gravata e estava falando com alguém no celular.
— Já volto. — Disse
Sai dali indo até onde o Alexander estava, ele sorriu quando me viu, mas sua expressão ainda continuava séria.