O Internato

By fhormonies

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Não havia no país um colégio interno melhor conceituado do que o Internato Jauregui. As famílias, evidentemen... More

Camila Cabello
O encontro
Flagra
Primeiras impressões
Reação inesperada
O que faltava
Mudanças
Autocontrole
Testando limites
Acordos
Como quiser
De última hora
Na estrada (Parte I)
Na estrada (Parte II)
Na estrada (Parte III)
Aceitação
Entregue a você
Eu quero você
Sua
Provocações
Dando o troco
Que comecem os jogos
Próxima vez?
Um novo acordo
Concorrência ampliada
Quando parece que não dá pra piorar
Eu aguento. E você?
Trauma
Frustração
Beirando a loucura
Verdades
Mal acostumadas
Vivendo o agora
Aos fracos e oprimidos
Entre ódio e desejo
Intimidade
Distrações
Se não é o bastante
E se é
Começos
Meu rumo
Decisão final
Estranha
Os olhos de Clara
Reviravoltas
Descoberta
Porto seguro
Surpresa
O jantar
(In)dependência
Consequências inevitáveis
Ponto de partida
Quando o mundo para
Inseguranças
Pedidos
Toda reação
Nós precisamos conversar
Escolhas
Ninguém, a não ser você
Arrependimento
Rotina
Seguindo em frente
De acordo com o plano
Recomeços
O começo do fim
Conciliando
(Não tão) Simples assim
(Nem tão) Complicado demais
EPÍLOGO - Parte 1: O Casamento
EPÍLOGO - Parte 2: Preparativos
EPÍLOGO - Parte 3: Feitas uma para a outra
EPÍLOGO - Parte 4: Na alegria e na tristeza
EPÍLOGO - Parte 5: Na saúde e na doença
EPÍLOGO: Parte 6 - Até que a morte nos separe

Lauren Jauregui

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By fhormonies

Tudo o que podia ser ouvido dentro daquela biblioteca eram os toques ritmados que a ponta de meu lápis provocava ao batê-lo contra a superfície da grande mesa de mármore sobre a qual eu me encontrava sentada, displicentemente, naquela tarde de segunda-feira. Enquanto continuava a "batucar" com o pequeno objeto contra a mesa, soltei um longo bocejo antes de sequer me preocupar em cobrir a boca com uma das mãos para abafar o som do ato. Na noite passada foi praticamente impossível pegar no sono. A discussão que eu tive com a minha mãe foi uma das mais sérias e tensas que eu havia tido nos últimos meses. Discutir com ela era normal. Frequente. Mas por muitos meses essas discussões não passavam de alguns desentendimentos aqui e ali. Nas últimas semanas, porém, as discussões vinham se tornando mais intensas. Desde que meu pai veio me informar de que a vontade de ambos era a de que eu trabalhasse no internato antes de pensar em ingressar num curso superior, eu virei um bicho. Literalmente. Fiquei simplesmente enlouquecida e indignada. Eles sabiam muito bem quais eram as minhas prioridades, e quais preferências eu tinha, e nenhuma delas incluía herdar o negócio da família. Eu amava o internato e tinha um carinho muito grande por ele, por ter vivido praticamente toda a minha vida e, principalmente, parte da minha infância aqui, correndo pelo escritório do meu pai e invadindo as salas de aula sem aviso para falar com os professores que, naquela época, me achavam uma criança fofíssima. Posso nunca ter estudado aqui, como sempre quis, mas meu amor pelo lugar era inegável. O fato é que apesar de todo esse amor, não existia nenhum interesse da minha parte de tratar do internato como um negócio. Nem do internato, nem de nenhum outro lugar. Não me considero uma mulher de negócios. E quando a minha preferência pelos livros e pela música foi revelada aos meus pais, os dois simplesmente surtaram. Minha mãe, completamente irredutível, desde aquele dia repete que assim que eu me formasse na escola, eu passaria a trabalhar aqui dentro, onde fosse. Na época, tivemos outras discussões e eu jurei que isso não aconteceria, não importa o que ela fizesse. Mas, vocês podem perceber desde já que eu não tenho muita representatividade nessa família, não é? Caso contrário, hoje não estaria sendo o meu primeiro dia como chefe da monitoria da biblioteca do Internato Jauregui.

Após algum tempo batucando e perdida nestes pensamentos, suspirei pesadamente e desci da grande mesa. A biblioteca naquele horário ficava absolutamente vazia. Todos os alunos se encontravam em aula. Eu, tecnicamente, tinha a biblioteca toda pra mim, mas não é como se existissem muitas opções do que se fazer numa biblioteca vazia estando sozinha. Justamente pelo meu grande interesse por literatura, durante os anos em que visitei o internato, eu praticamente li todos os livros ali existentes, então nem isso era uma possibilidade. O que me restava era simplesmente esperar até que algum aluno entrasse por aquelas duas grandes portas e, quem sabe, quisesse pedir alguma informação ou ajuda a mim.

Olhei por uma das janelas daquela grande sala e vi que o tempo lá fora era de um sol radiante. Só de pensar na grande piscina gelada que havia em casa, apenas esperando pra que alguém entrasse nela e passasse o resto do dia nadando, sem fazer mais absolutamente nada da vida, eu tinha vontade de gritar de raiva. Quando lembrei que meus irmãos mais novos nesse exato momento podiam estar justamente dentro dela, eu passei de ter raiva a ter vontade de chorar. Eu suspirei novamente e olhei para o grande relógio pregado à parede. 1 hora da tarde em ponto. A qualquer momento o sinal tocaria e os alunos seriam dispensados de suas aulas para o primeiro intervalo daquela segunda-feira. Durante o intervalo, uma das funcionárias vinha à biblioteca para me substituir até que o mesmo se encerasse e eu poderia usar do tempo para, tecnicamente, comer. Mas naquele dia, minha prioridade era outra. O sinal, como o esperado, bateu alto ecoando por todo o internato e eu não contive um sorriso no canto dos meus lábios. Como um alarme, a minha substituta entrou na biblioteca no mesmo segundo e sorriu para mim. Era uma das poucas funcionárias dali que eu não conhecia muito bem. Provavelmente fora contratada recentemente. Sorri de volta para ela, alargando meu sorriso, e com um aceno de cabeça saí dali de dentro.

À medida que eu andava pelos corredores ao meu destino, estes se enchiam de alunos de diversas idades, todos devidamente uniformizados tal como meu pai fazia questão de obrigá-los. Eu, sinceramente, achava o lance dos uniformes uma besteira. No colégio em que me formei o uso não era obrigatório e eu me sentia muito satisfeita em acordar todos os dias de manhã e simplesmente vestir uma roupa que fosse minha, ao contrário de um uniforme que todos possuíam igual. Mas, de qualquer forma, eu entendia a necessidade disso naquele caso. O instituto era tão conceituado que até mesmo o uso dos nossos uniformes era uma espécie de aspiração para jovens de todo o país que sonhavam em estudar aqui.

Dobrei mais alguns corredores, com certa pressa, e cheguei a um lance de escadas que dava a duas grandes portas brancas de madeira. Subi em sua direção, pulando dois degraus a cada vez, e dei dois toques nelas. Alguns instantes se passaram até que uma senhora baixa e branquinha as abriu, abrindo um largo sorriso em surpresa.

- Lauren, minha querida! – a dona Janete me abraçou assim que me viu, me obrigando a curvar o corpo para que pudesse abraçá-la apertado de volta.

- Dona Janete, daqui a pouco eu vou ter que começar a me ajoelhar quando quiser te abraçar. A senhora anda diminuindo, é? – disse, me sentindo parcialmente sufocada, porém, muito feliz em encontrá-la.

Ela me largou do abraço, me estapeando de leve em um dos braços e sorrindo abertamente em seguida para mim.

- Ora! É a senhorita que não para de crescer! Veja só, como está enorme e bonita! – ela respondeu, enquanto segurava minhas mãos nas suas e se afastava para me olhar melhor. – Aposto que o senhor Michael vem tendo muito trabalho com todos os garotos que devem te rodear.

Ao ouvi-la, eu soltei uma risada alta e balancei a cabeça negativamente.

- Como se ele estivesse preocupado com isso. Tudo o que interessa pra ele agora é me convencer a herdar a administração do internato. – respondi, ficando de repente um pouco desanimada.

- Lauren, não fique assim. – a dona Janete retrucou rapidamente, percebendo minha mudança de humor. – Você sabe que o seu pai te ama muito e se quer que você assuma o negócio da família é porque acredita que é assim que você será feliz...

- Eu sei que é assim que ele pensa. – eu respondi praticamente a interrompendo. Suspirei antes de continuar. – O problema maior na verdade não é ele e sim a dona Clara. – eu disse, pronunciando o nome da minha mãe com tom de deboche.

Dona Janete voltou a sorrir novamente, agora com os olhos ternos grudados nos meus, e levou suas mãos ao meu rosto antes de voltar a falar.

- Vocês ainda vão se entender um dia. Tenha paciência, tudo bem? – ela disse com a voz mais baixa. – Agora venha aqui.

A baixinha segurou em uma das minhas mãos e me arrastou para dentro da enfermaria. Sim. Eu estava na enfermaria do internato e a dona Janete era a mais antiga das enfermeiras ali. Desde muito pequena eu vivia visitando aquele lugar, às vezes simplesmente para conversar com a dona Janete, e muitas outras porque havia me machucado fazendo alguma travessura pelos jardins ou corredores do colégio. Ela me levou até algumas cadeiras, próximas a uma mesinha de canto, e empurrou uma delas na minha direção para que eu sentasse. Eu sabia o que ela faria. Era engraçado ver que, apesar dos anos terem se passado, ela ainda me tratava como uma criança, me mimando e fazendo coisas que me agradariam quando eu tinha, talvez, uns sete anos de idade. Como eu previa, ela se afastou, entrando por uma pequena porta aos fundos e voltou alguns instantes depois com um grande pote, erguendo-o na minha direção.

- Abra e escolha quantos quiser. – ela disse sorridente e eu já sabia o que me aguardava. Abri o pote e fechei os olhos, agarrando com uma das mãos a maior quantidade possível de doces que havia ali dentro e colocando-os sobre a mesa em seguida.

- Prefiro a surpresa. – respondi o que sempre costumava dizer e sorri. Ela riu da minha tão costumeira resposta e se sentou na cadeira a minha frente, suspirando.

- Sinto tanto a sua falta, Lauren. De quando era pequenininha e entrava por aquelas portas toda ralada, mais preocupada em ganhar doces do que se curar dos machucados. – ela gargalhou com a lembrança e eu gargalhei junto. Eu sempre sendo uma gorda mesmo.

- Eu também sinto, dona Janete. – respondi num fio de voz, me sentindo nostálgica. – Mas quer saber? Agora que meus pais inventaram essa de que eu tenho que trabalhar na biblioteca todo o santo dia, é bastante capaz que eu passe aqui mais do que passava antigamente, só pra não ter que ficar aguentando um bando de alunos me pedindo informações o tempo todo.

Ela soltou uma risada gostosa, alta e agarrou meu rosto novamente com as duas mãos, os olhos brilhando de alegria.

- Eu espero mesmo que você faça isso. Vai ser sempre bem-vinda!

- Eu não espero. Você mal começou a trabalhar aqui e eu já não aguento mais ter que olhar pra essa sua cara.

Ouvi uma voz masculina mais que conhecida atrás de mim. Sorri antes mesmo de me virar na cadeira e encontrei o seu dono parado de braços cruzados sobre o peito, encostado na parede e com um sorriso debochado na minha direção. Levantei dali na mesma hora e fui ao seu encontro, andando lentamente enquanto cruzava meus braços da mesma maneira que ele.

- Ah é? Pois agora sim eu faço questão de vir até aqui todos os dias, só pra te encher o saco. – disse irônica e sorrindo. Ele ergueu uma das sobrancelhas e descruzou os braços, apontando um dos dedos pra mim.

- Você tá esquecendo que eu não ligo pro fato de você ser mulher, não é? Você sabe que quando começa com essas gracinhas, apanha do mesmo jeito. Acho melhor não brincar comigo.

Àquela altura, eu já estava perto o suficiente dele e parei na sua frente, olhando-o nos olhos e o intimidando.

- Não. Não esqueci. Quem esqueceu que, no fim das contas, quem acaba levando um pau e sai com um dos braços quebrados, foi você.

- Ah, pelo amor de Deus, você nunca mais vai esquecer essa única vez? – ele exclamou, se rendendo. Eu alarguei ainda mais o meu sorriso e pulei em seu pescoço de uma vez, abraçando-o com toda a força que eu tinha.

Nicolas. Meu melhor amigo. Um negro de quase um metro e oitenta, com longosdreads no cabelo e uma barbicha sob o queixo que, até então, eu não tinha visto crescer ali. Nicolas trabalhava desde muito novo na enfermaria. Aos 15 anos de idade ele já frequentava o internato por conta da sua mãe, dona Olívia, ser enfermeira ali. Quando Nicolas se formou no ensino médio público, meu pai, por conta da nossa amizade, fez questão de pagar todo o curso de medicina pra ele, já que dona Olívia, mãe solteira, apesar do bom salário que recebia do internato, não possuía condições financeiras de arcar com todos os custos de uma faculdade para seu filho. Sabendo da dedicação que o Nicolas apresentava desde quando tentava ajudar sua mãe aqui na enfermaria, meu pai não hesitou duas vezes antes de investir nele. Hoje, já formado e com 25 anos, Nicolas trabalha junto com dona Janete, ocupando a vaga de dona Olívia que, por sua vez, se aposentou. Durante todos os seus anos de internato, nos tornamos amigos inseparáveis.

- Vai ficar feio se eu disser que não senti nem um pouquinho a sua falta, não é? –ele disse com o rosto apertado contra o meu enquanto me abraçava fortemente pela cintura.

- Não. Eu também não senti a sua, então tá tudo certo. – eu disse sorrindo, finalmente me afastando dele e olhando em seus olhos.

- Sua ridícula... – ele sussurrou e sorriu em seguida, me dando um beijo estalado na bochecha.

Com a lembrança de dona Janete e Nicolas ali, os dias que se seguiriam na biblioteca já não me pareciam mais tão insuportáveis assim. Quem sabe aquele tempo trabalhando no internato não pudesse também ser divertido. Afinal de contas, já que eu não poderia aproveitar a minha vida como realmente gostaria por causa dos meus pais, eles que aguentassem e engolissem as minhas maneiras de fazer isso estando dentro daquele lugar.



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