- Mel, você foi para festa ontem? - Lexie me perguntou enquanto almoçávamos e fico agitada.
- Porque? Você me viu ontem? – indago.
- Não, é que eu vi um vestido seu de renda para lavar.
Respiro em alívio, se Lexie tivesse me visto ontem com Thomas, eu não teria paz por um bom tempo.
- Até fui, mas tinha que ter convite para entrar, daí eu voltei e como tinha ido a cavalo, meu vestido sujou um pouco. Alguém vai precisar do carro hoje? Estava querendo ir à cidade. – emendo uma pergunta para esquecer de vez a festa.
- Ainda com a ideia? - questiona meu pai.
- Que ideia? – Lexie se intromete.
- Eu vou arranjar um emprego Lexie. Não dá pra viver só com o dinheiro da mamãe.
- Estamos no vermelho pai? - Lexie indaga preocupada.
- Não filha, sua irmã só está querendo adiantar um pouco as coisas.
- Nossa, que susto! - ela respira suavizada e olha para mim. - Eu vou com você Mel, tenho umas coisas para comprar.
- Por isso eu vou arranjar um emprego. – murmuro sozinha em voz baixa. - Vamos sair às duas. - digo para ela que come apressada para ter tempo de sobra pra se arrumar.
A cidade apesar de pequena, tem muitas oportunidades para se ter um emprego. Deixei meus currículos em vários lugares, minha formação de contabilidade iria me ajudar em alguma coisa, eu não fiquei um tempo longe de casa para me formar e ficar em casa. Lexie tem formação em administração, mas só fez pra dizer que é formada, ela não é de trabalhar.
Às cinco horas passo em uma lojinha de roupas onde vejo Lexie sair com algumas sacolas na mão, ela entra no carro olhando para os lados.
- Vamos Mel, vamos logo! Terei um encontro hoje à noite. - diz minha irmã animada.
- Com quem?
- Com o filho do dono da joalheria.
- E ele sabe da nossa situação? – pergunto com uma sobrancelha erguida.
- Por enquanto não. Quando ele se apaixonar por mim, eu vou contar daí à gente sai daquela casa e voltamos a morar na cidade. - diz com sorriso na boca.
- Você tem tudo planejado! – me admiro e fico pensativa por alguns segundos – Sabe Lexie, eu prefiro ficar naquela casa.
- Você é diferente. – ela resmunga e gargalho alto.
- Sou mana, sou muito diferente de você.
- Vamos logo Mel, não quero que ninguém me veja aqui. - ela fala apressada olhando para os lados.
- Ah é, esqueci que aqui na cidade eu não sou irmã. Lexie, Lexie... Isso não vai dar certo.
- É só por um tempo. - diz me dando um sorriso doce.
Ligo o carro e em poucos minutos estamos em casa. Papai está em seu quarto ouvindo seu radio, Lexie correu para o nosso quarto e eu fui passear pela região com Lucky. Mal vi o tempo passar e quando reparei já estava quase noitinha. A lua cheia brilhava em seu lugar lá em cima e estava começando a ficar frio. Meu cavalo vai à frente guiando o caminho de volta, mas para de repente.
- O que foi Lucky, você ouviu alguma coisa?
Lucky bufa e bate a pata no chão. Olho ao meu redor, mas não vejo e nem ouço nada.
- Vamos Lucky, não tem... - um barulho me chama atenção e estaco. - Tá certo, agora eu ouvi. - sussurro baixo para meu cavalo.
Fico parada alguns segundos tentando ouvir mais algum som. A lua ilumina a floresta e isso facilita que eu veja uma sombra muito bem vestida em minha frente a alguns metros de distância.
- Quem está aí? - pergunto grudada em meu cavalo, qualquer coisa eu monto e saiu voando.
A pessoa continua seu andar em minha direção com uma das mãos no bolso enquanto a outra é apoiada nas árvores à medida que anda. Ainda não consigo ver sua fisionomia.
- Não vai falar? - eu digo com a voz elevada por conta do nervosismo e tento controlar a minha respiração. - É melhor você falar ou...
- Ou?... - sua voz é grossa e forte. É homem.
Pensa Melissa, pensa! Ou o que?
- Ou... Eu serei obrigada a lutar com você. E olha que eu sou boa. - falo de nariz empinado.
- Isso seria fascinante de ver.
- Eu conheço essa voz... - murmuro me afastando de Lucky e cerrando os olhos para enxergar melhor o rosto do homem. - Thomas! - sussurro surpresa por vê-lo.
- Você não tem noção do quanto é perigoso andar por aí sozinha? - sua fala é leve e com censura.
- Eu poderia dizer o mesmo. – replico já conseguindo ver seu rosto.
- Mas eu sou um homem. – fala com explicação e ergo meus olhos.
- E por acaso tem algum problema eu ser mulher? - digo e cruzo meus braços.
- Nenhum. - ele sussurra e me arrepio. Ele me devora com seus olhos passeando por meu corpo.
Vejo sua mão fechar em punho e sua boca tomar gosto por alguma coisa. Thomas parece bem a vontade ainda que estejamos em uma floresta onde a escuridão só aumenta. Acho que tenho sorte de ser lua cheia. Minha mente entra em alerta. Olho novamente para os olhos desejosos de Thomas queimando minha pele.
- Ai minha nossa, você vai me devorar? - minha voz sai trêmula e percebo ele piscar vacilante.
- Como?
- É que é lua cheia... – menciono e ele olha para cima.
- E qual o problema? – pergunta confuso.
Ele está realmente embaralhado ou está só fingindo? Ou ele não vai me comer? Ele dá um passo a minha frente e eu dou outro pra trás.
- Por que você está com medo? - diz Thomas interpretando minhas emoções. Como ele pode me conhecer tão bem?
Ele só pode saber disso porque talvez saiba ler mentes. Ele devia estar me seguindo e quando percebi ele teve que sair do esconderijo, mas porque ele parece tão incerto do que falo?
- Você é uma fera e não sabe? Oh... Você se transforma e depois não se lembra de nada. Ainda deve estar longe de dar meia noite. - murmuro para mim mesma a última frase olhando ao redor.
- Melissa... - ele resmunga o meu nome de forma tão sutil que sinto minhas pernas fraquejarem.
- Ah não, já estou enfeitiçada. – sussurro tendo a certeza de que ele ouviu. Thomas dá mais um passo em minha direção e nem tenho forças para sai do canto.
- Você quer me explicar o que está acontecendo? - Thomas diz sério e impaciente, e resolvo explicar.
- As pessoas dizem que você é uma fera e que toda meia noite do mês, você sai por aí em busca de pessoas que dão bobeira e eu não acreditava nisso... Até agora.
Thomas parece segurar um riso com a ajuda de uma mão no queixo, apoiada pelo outro braço. Sua reação me deixa abalada.
- E o que te levou a acreditar nisso agora? – indaga interessado e tenho a sensação de estar debochando de mim.
- É lua cheia e você está aqui. – falo insegura.
- Eu posso dizer o mesmo sobre você.
- Tem razão. - digo pensativa. Mas eu sei que não sou uma fera, é ele que tem a fama.
Passado alguns segundos, levo minhas mãos até meu rosto. É só uma fama!
- Que vergonha, fiz papel de boba e agora você está aí... Rindo de mim. – choramingo me sentindo uma tola.
Thomas se aproxima de mim e consigo sentir o calor de seu corpo irradiando.
- Eu não estou rindo de você... - ele diz relaxado e levanto minhas sobrancelhas. - Mas confesso que essa história é um tanto...
- Impressionante? Imaginária? - chuto alguns adjetivos.
- Divertida. - ele conclui seu pensamento, porém seu rosto toma uma expressão tensa. - Eu falei sério sobre andar sozinha á noite, pode ser perigoso e tenho certeza que você não luta nada.
- Você sempre tem tantas certezas?
- Só do que vejo. - ele diz sincero me pegando desprevenida.
- E o que você vê? - pergunto ansiosa.
Olho dentro de seus olhos e consigo me ver refletida neles apesar de ser noite. Como posso me sentir tão bem do seu lado? Sentir-me tão segura de que nada pode me machucar quando ele está por perto? Penso que isso pode ser ilusão da minha cabeça e que isso só acontece por ele ser uma novidade, mas desde a primeira vez que senti suas mãos em mim, meu corpo correspondeu. Eu podia até está nervosa mais eu gostei de senti-lo tão próximo.
Thomas fecha a pouca distância que havia entre nós e leva sua mão até meu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
- Você... - seu sussurro sai doce e gentil, e meu coração acelera apenas com isso.
Lucky até então quieto relincha tirando-nos do transe. Ele se afasta e imediatamente sinto falta do seu calor. Poxa Lucky!
- Você deveria voltar, vamos eu te acompanho. – diz prestativo e acato.
- Vamos Lucky, nos guie de volta a nossa casa. - digo para meu cavalo, que vai a nossa frente mostrando o caminho.