Megan
Estou em um lugar escuro, que cheira a vômito e tem uma energia densa. Há muitas almas perdidas por aqui, muitas delas são almas atormentadas que vagam em busca de vingança.
Sinto um enjoo e uma forte dor na cabeça, a ponto de ter que fechar os olhos para tentar eliminar a causa.
O problema, é que desconheço a causa da dor.
Ao abrir os olhos, vejo um menino pequeno, talvez tenha de 6 a 8 anos de idade, em posição fetal no canto da parede. Ele está tão magro que seus ossos saltados, marcam a camisa preta.
Ele está tremendo, sujo e coberto de sangue seco. Há vômito em sua volta. Tento me aproximar para ajudar aquela criança, a agonia em meu peito de ver uma cena como está, faz lágrimas caírem em meus olhos.
Como alguém pode deixar uma criança nesse sofrimento? Quem seria tão desumano...
Uma porta destranca, o som do ferro causa ecos em volta do lugar.
Quando um homem entra, penso em me esconder, mas ele não parece me enxergar.
Como ele não enxerga? Estou bem a sua frente...
" Tristan... levante!" O homem ordena parado na porta. " Você também, mova-se."
Por alguns segundos penso que ele está falando comigo, mas uma pessoa se levanta da escuridão, usando um traje preto. Não consigo ver seu rosto, parece ser um pouco maior que Tristan, como se fosse um adolescente.
Vejo Tristan se movendo no canto sujo com dificuldade, como se tivesse ossos quebrados.
Com que força ele consegue se mover? Ele parece tão debilitado...
Seus olhos vazios, o mesmo olhar que as pessoas ficam quando estão sob meus poderes, me respondem como ele conseguiu se levantar.
Ele está sendo controlado.
Sigo cada um dos seus passos. O homem não chega perto dele, apenas o olha com nojo e o segue em um corredor vazio.
Não vejo outras salas como essa, apenas o corredor no leva até uma escada.
Queria poder usar meus poderes e matar o desgraçado que vê uma criança nesse estado e não faz nada para ajudar.
A segunda pessoa, não parece estar sendo controlada, na verdade, não sinto nenhum poder em sua volta.
Ela me lembra um vazio.
O menino caminha como um zumbi, até chegar em uma sala onde homens encapuzados estão aguardando.
Suas capas negras e capuz, não permitem que veja seus rostos. Não consigo identificar nenhum deles, mas a sensação de já ter passado pela mesma coisa se torna cada vez mais presente.
Os homens ficam em silêncio, aguardando algo, enquanto Tristan para de caminhar quando chega no centro da sala, e a segunda pessoa para em um canto. É muito estranho como a pessoa reage a tudo com naturalidade, como se já estivesse acostumada a isso.
Passos largos chamam a atenção para a porta do lado contrário, todos ficam atentos, até que uma voz muito familiar fala.
" Bem-vindos, cavalheiros! É uma honra tê-los aqui..." Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar.
"Oh querida, um dia você vai me agradecer de joelhos pelo poder que eu dei a você..."
Não.
Não. Não. Não.
Não com ele, não com uma criança.
Tento gritar para salvar o menino das mãos de Davis, mas nada acontece.
Isso é uma lembrança.
Mas como tive acesso às memórias de Tristan?
" Vamos logo ao que interessa... tragam a traidora."
Existe prazer em sua voz. Esse homem sempre foi um sádico.
Uma mulher é arrastada pelos cabelos, enquanto grita por socorro. Ela parece ter no máximo 35 anos, não sei dizer ao certo, pois seu rosto carrega cicatrizes.
" Por favor. Eu imploro, eu juro que não sabia de nada!" Ela cai sobre seus joelhos com a cabeça baixa, em um choro desesperado.
" Cale-se, traidora. Você sabia sobre as leis desde o início..."
Davis se concentra em Tristan, parado no mesmo lugar, e vejo quando soltam a mulher. Ela tenta fugir, mas no exato momento que ela se levanta para correr, seu corpo trava no lugar.
"Vejam, como ele é fascinante!" Ele diz com orgulho.
A mulher fica congelada, enquanto Tristan recebe uma faca.
Corro para o lado de seu corpinho pequeno, e tento pará-lo, mas é óbvio que nada acontece.
" Tão jovem, e tão talentoso." Algumas vozes comentam.
Fico parada em estado de choque, quando vejo o pequeno inocente, tendo seu cérebro controlado. Percebo que a mulher não consegue se mexer, pois alguém a segura no lugar, mas não é Tristan.
Tristan está anulando seus poderes, por isso ela parece forte mas não consegue se defender.
Um neutralizador tão pequeno, jamais conteria os poderes de um adulto assim.
Fecho os olhos, e tampo os ouvidos, tentando cancelar os gritos da mulher.
Não quero ver isso. Preciso sair dessa lembrança... eu preciso sair.
Momentos tortuosos repassam em minha cabeça das vezes que escutava esses mesmos gritos, sendo eu a causa. Tantas pessoas tendo suas vidas ceifadas, tantas famílias desfeitas, tantas crianças sendo usadas... As lagrimas caem pelo meu rosto, enquanto revivo esse momento várias e várias vezes.
Então os gritos encerram.
Aplausos me fazem abrir os olhos, e encarar a cena sangrenta.
Não quero acreditar que isso aconteceu com uma criança tão nova, mas eu mesma estivesse em seu lugar inúmeras vezes, com a diferença de idade e que aprendi rápido a me controlar.
Como esperar que uma criança controle isso?
" Magnifico!" Alguém grita. " Você tem certeza de que ele não lembrará disso?"
" Absoluta. No máximo, se acontecer de lembrar, acreditará ter sido um sonho."
Sonho? Estou em um sonho de Tristan?
O que...
" Tristan venha até aqui." Vejo o garoto caminhar e parar ao lado do homem que desgraçou a minha vida e agora vejo, que a de Tristan também.
Ele manda os guardas o carregarem para fora, não retornando aquele lugar escuro novamente.
Isso me alivia, pois não aguentaria vê-lo daquela forma novamente.
" Agora mostre-me o que vocês tem..."
A pessoa de estatura muito menor, que estava presa na mesma escuridão que Tristan, caminha até o centro ensanguentado, seus passos são lentos e contidos, como se não tivesse certeza do que estava fazendo. Ela para no mesmo lugar que Tristan estava, e tira o capuz.
Os cabelos loiros de uma menina adolescente caem sobre seus ombros. Ela se veste de preto, igual a todos da sala, como se fizesse parte de uma seita satânica estranha.
" Violet, está na hora."
Acordo com um zumbido em meu ouvido, basta abrir os olhos para a dor estourar em minha cabeça. Me levanto e corro para o banheiro. Não consigo conter o vômito, acabo despejando tudo no vaso sanitário.
Me ajoelho no chão frio, meu corpo treme enquanto tento me ajeitar a beira do vaso. Os tremores em meu corpo enfraquecem minhas pernas, não me permitindo ficar em pé.
Não demora muito para ouvir passos invadindo o banheiro. Me sinto tonta demais para verificar quem é ou tentar usar meus poderes. Escuto o barulho da torneira se abrindo, o som da água parece muito distante...
Uma toalha úmida encosta em minha testa e um corpo se senta atrás de mim.
Quando tento falar, é que percebo que estou chorando.
" Shhh... tudo bem, vai ficar tudo bem." A voz de Tristan sussurra em meu ouvido.
Tento me curar, para acabar com a sensação, mas não consigo.
" Por que?" Soluço e me agarro em seus braços. " Por que?"
Eu não sei exatamente o que estou perguntando, nem se realmente busco uma resposta. Apenas palavras desconexas são balbuciadas entre lágrimas,
Ele fica em silêncio, apenas me deixando chorar, até que os soluços se acalmam. Relaxo o meu corpo contra o dele, agradecendo pelo calor, já que o banheiro parece gelado demais. Os calafrios em meu corpo vão abrandando conforme ele me segura. Permanecemos assim em silêncio até que uma voz nos interrompe.
" Agora podemos entrar?" Shade pergunta do lado de fora.
" Acho que sim, melhor você ajudá-la." Tristan o libera para entrar.
Shade invade o banheiro como uma bala de canhão e me puxa dos braços de Tristan, mas algo em mim se perde quando ele se afasta.
" Eu vou fazer a dor passar, eu juro. Se você quiser esquecer..."
Ele volta a ficar em silêncio quando meu choro aumenta novamente.
Busco Tristan com o olhar, e o encontro abrindo o chuveiro.
Seu corpo tão maior agora, coberto de tatuagens. Sua postura tão relaxada e seus comentários maldosos... nada lembra aquele menino jogado no meio do vômito. Eu nunca mais quero vê-lo assim, tão vulnerável.
Lutei tanto para me manter afastada deles e protege-los da resistência, e agora descubro que Tristan cresceu sendo usado, tanto quanto eu. Na verdade pode ter sido até mais, pois até um tempo atrás seu pai o usou para me neutralizar, enquanto passei muito menos tempo em suas mãos.
Ele era apenas uma criança.
Ninguém o protegeu, ninguém lutou por ele, muito menos cuidou de suas feridas. Ele admitiu que não sabia se alguns momentos da sua vida eram sonhos ou eram reais. Sua cabeça é tão bagunçada que ele nem deve se lembrar se os momentos de sua infância foram realmente vividos, ou apenas implantados em sua cabeça.
Eu disse que odiava neuros quando Shade me tirou do subterrâneo. Neste momento, lembro exatamente o porquê.
" Eu vou tirar essas memórias de você..." Shade avisa mas me afasto.
" Não! Eu não quero esquecer." Olho para Tristan nervoso perto do box do banheiro. " Como estive em suas lembranças?"
Não estamos vinculados, não tenho acesso a sua mente, e já tentei fazer isso, mas nada acontece quando tento invadir.
" Não são minhas lembranças... na verdade, lembrei disso apenas hoje." Ele franze o cenho como se estivesse refletindo. " Ainda me parece apenas um sonho, só percebi que não era quando ouvi seus gritos."
" Eu gritei?" Pergunto desconfiada.
" Várias vezes, mas Tristan disse que não era para ninguém entrar até ele conferir seu estado. Seus poderes estavam se expandindo pela casa, ele teve que te neutralizar."
Tristan parece envergonhado quando sussurra um pedido de desculpas.
" Não se desculpe. Você fez o que precisava para manter todos seguros. Jamais me perdoaria se ferisse alguém." Me aproximo de seu semblante agoniado. " Mas como nós lembramos da mesma coisa ao mesmo tempo enquanto dormíamos..."
Lembro de cada momento do sonho, buscando qualquer rosto para caçar e me vingar por terem usado uma criança dessa forma. Travo no momento que lembro da última frase que ouvi.
" Violet. Ela desencadeou essas memórias em vocês, por algum motivo que não consigo dizer qual. Ace e Nate já estão lá embaixo cuidando disso." Shade tenta me tranquilizar.
Violet.
Por que ela estava presa no mesmo lugar que Tristan?
" Eu quero falar com ela..."
Shade me direciona até a entrada do Box e começa a tirar a minha roupa. " Primeiro tome um banho, e descanse, ainda é madrugada."
" Mas eu preciso de respostas!" Protesto contra ele, e como sempre, fracasso no processo por conta do seu tamanho.
" Depois!" Shade endurece a voz.
" Faça o que ele está pedindo, Meg. Nós dois vamos tirar a verdade daquela maldita. Eu odeio despertar memórias e essa vadia me irritou..."
Ace
Acordar com Meg gritando no meio da madrugada me trouxe memórias dos tempos em que despertava com os gritos de mamãe. Ela era atormentada por pesadelos quase todas as noites. Isso resultou no seu vício em álcool e remédios...
Ao chegar em sua porta, Shade já está pronto para invadir, mas Tristan o impede.
" Melhor eu cuidar disso, ela está descontrolada... e eu acho que sei o motivo." O garoto está perturbado, penso em eu mesmo acabar com a distância entre eu e minha companheira, mas Shade concorda com ele e Nate não fala nada.
" O que aconteceu?" Pergunto logo que Tristan entra sozinha. " O que estamos fazendo aqui fora, se nossa companheira está lá dentro sofrendo?!"
" Violet conseguiu chegar até eles enquanto dormiam. Ela desbloqueou uma memória de Tristan e de alguma forma, conseguiu refletir isso no cérebro de Meg." Shade fica olhando para a porta, como se estivesse preparado para abri-la a qualquer momento.
" O que essa garota é afinal?" Minha voz sai mais exasperada do que devia. " Ela faz coisas que nunca vi antes. O subterrâneo é uma fortaleza, como seus poderes chegam até aqui e dominam duas pessoas ao mesmo tempo? Nós não sentimos nada vindo dela."
"Como um vazio..." Shade fala pensativo, ainda encarando a porta.
" Vamos descer e falar com ela, já que ela parece sem sono..." Nate está com uma aparência sombria.
" Você está bem? Não corremos o risco de você liberar suas sombras nela, não é? Não podemos matá-la, suas informações até agora são todas válidas..."
" Não posso prometer nada."
Nate passa por mim sem ao menos me olhar.
Nós nem vestimos algo decente, apenas invadimos o subterrâneo de moletons e pijama.
Brandon Petrov, o neutralizador que ficou responsável por ela hoje, esta sentado em uma cadeira ao lado da sua porta.
A posição parece desconfortável, mas ele parece relaxado.
" Estava esperando vocês aparecerem..." Ele nos encara com sua postura arrogante.
" Era para você estar fazendo o seu trabalho, como combinamos. Não tem porque você estar aqui se vai deixar a prisioneira atormentar o sono da minha companheira."
Ele não parece se importar com a minha ira. Como qualquer outro Petrov quando é confrontado, ele apenas se prepara para se defender, caso precise.
" Ela disse que era importante..." Brandon parece ameaçador mesmo sentado.
" Vamos repensar nosso acordo. Agora vamos ver o que é tão importante assim, para Violet despertar os traumas das pessoas em plena madrugada." Nate fala abrindo a porta.
Brandon não tenta impedir, basta olhar para dentro da cela para entender o porquê.
Uma luz nos cega assim que a porta se abre. As sombras tentam lutar mas é tarde demais.
Brandon nos traiu, ao invés de neutralizar Violet, ele nos neutraliza, mas não é isso que nos carrega por um fumaça branca, e sim os poderes de Violet.
Quando finalmente consigo abrir meus olhos, não estou mais no subterrâneo, e sim em uma lembrança de Violet.
Ver Tristan ainda criança passando pelo o que passou nas mãos de seu pai, me faz querer matar o desgraçado novamente.
O que não esperava era ver Violet adolescente matando pessoas sem ao menos sair do lugar. Seus poderes são imperceptíveis, um homem está atrás dela a olhando orgulhoso, enquanto uma mulher, a única no lugar, a incentiva a drenar a alma das pessoas.
Quando ela finalmente termina seu trabalho, é aplaudida, assim como Tristan foi.
" Bravo!" Uma voz conhecida fala entre os homens encapuzados. " Simplesmente perfeita!"
Violet puxa sua capa contra seu corpo novamente e olha para a mulher que a incentivava a fazer uma chacina. " Eu posso ficar com ela agora?"
" Sinto muito, Violet." A mulher não parece sentir nada. " Ela foi levada, não conseguimos encontrá-la. Os Redwood a levaram" Dedos pálidos tocam seu ombro, e posso ouvir o tom de voz manipulador que uma menina da idade dela com certeza não percebeu. " Mas se você se esforçar bastante, e fazer coisas maiores que está, poderemos procurar por ela juntas."
Os olhos da menina se enchem de lágrimas, mas ela não derrama nenhuma. Antes que ela consiga esconder a mulher segura seu rosto, apertando mais do que o necessário. " O que já conversamos sobre lágrimas?"
" Desculpe, mamãe..." Ela murmura cabisbaixa.
" Não chore, Violet... nem lamente. Mulheres como nós não choram e sim se vingam." Ela sorri de maneira conspiradora. " Agora nos diga o que você fará quando encontrar os Redwood?"
A dor desaparece dos olhos da menina, dando espaço a um brilho feroz. Seus olhos brilham em tom violeta, suas feições endurecem demais para uma garota tão jovem.
Ela olha para os corpos estirados no chão, junto ao corpo ensanguentado da mulher que morreu nas mãos inocentes de Tristan.
" Irei matar todos e trazer minha irmã de volta."
Acordo do transe ao mesmo tempo que Nate. Pisco para me acostumar a luz natural da cela, após ter sido cegado. Violet está sentada no chão da cela, imóvel.
" Vocês irão me deixar presa aqui em sua visita aos Redwood." Ela fala sem expressão alguma em seu rosto. A frieza em suas palavras não lembram da adolescente esperançosa que acabei de ver. " Um dos Redwood é um neuro, e acreditem, eles são mais fortes do que parecem. Não quero que Meg veja apenas a verdade deles. Eu os cacei porque queria minha irmãzinha de volta. Vocês não deixariam eu explicar isso sem questionar cada palavra que saísse de minha boca. Eles foram bons para ela, mas foram ruins para outras de nós quando a levaram. Minhas irmãs morreram sem ver Red uma última vez e para vocês, pode parecer bobo, mas ela era nossa caçula. Nós prometemos cuidarmos umas das outras... eu prometi que não iria me tornar um monstro e abandoná-la." Ela engole em seco. " Mas eu falhei. Me tornei o monstro que prometi não ser. Eles vão tentar colocá-la contra mim, já que persegui eles por anos. Eu só queria que ela soubesse... não tive tempo de mostrar tudo." Violet descansa seu corpo contra a parede. " Eu fiz coisas ruins. Muitas coisas ruins. Ela já não confia em mim, e eles são tudo o que ela conhece como família, não deixem que ela me odeie."
Nate e eu ficamos um bom tempo a encarando, Brandon permanece em silêncio atrás de nós. As memórias são perturbadoras. Olho para meu irmão, e o vejo me olhando. Seus olhos me dizem que ele entende o que ela quis dizer.
Meu irmão mais velho, tem um senso de responsabilidade muito grande quando se trata de mim. Ele fez coisas terríveis para me proteger e mesmo assim, nunca conseguiu de fato me livrar da crueldade de nosso pai.
" Haviam quantas de vocês? Suas irmãs..." Brandon é quem pergunta, já que eu e Nate parecemos em transe.
" Em nosso complexo éramos cinco."
" Quantas sobraram?" Brandon pergunta exatamente o que queremos saber.
"Apenas nós duas." Ela olha para suas unhas, agora não tão bem cuidadas. " Não me façam voltar nessas memórias. Se quiserem eu posso fazer para que entendam, mas prefiro que o Redwood devolva as memórias de Meg."
Nate se mexe nervoso em meu lado. " Por que você mesma não faz isso?"
" Por que não consigo encontrar. Eu disse que o neuro é bom!"
Olho para Nate e não precisamos falar para nos comunicar, apenas a troca de olhares é o suficiente.
" Vamos descobrir se é tão bom assim mesmo." Nate diz e concordo com a cabeça.
" Quantos anos você tem de verdade? Você era uma adolescente quando Tristan era uma criança..."
" Vinte e seis. Eu tinha doze anos quando Red foi levada." Ela explica.
" Como vocês tinham contato se eram criadas por famílias diferentes?" Brandon demonstra o porque é um ótimo interrogador, fazendo perguntas em tom descontraído, como se estivesse mantendo um conversa informal.
Mas isso não funciona muito tempo com Violet.
" Ah, mas que porra, Brandon. Pare de me encher de perguntas!" Ela se levanta furiosa, perdendo sua postura fria. " Você não cala a boca desde que chegamos aqui. Eu não quero dividir minha vida com você!" Ela olha para Nate e implora. "Eu faço qualquer coisa, apenas tirem esses idiotas do meu caminho."
" Somos companheiros dela Nate. Se tentar nos afastar vamos entregar sua conspiração com um membro da resistência para o conselho." Brandon não está ameaçando.
Esses caras não jogam para nenhum lado. A prova disso é o fato dele acabar de nos trair para ganhar pontos com a garota.
" O conselho mataria Violet. É isso o que você quer?" Nate o encara com sangue nos olhos.
Brandon sorri para Violet e ela bufa. " Primeiro teriam que nos achar, cobrinha..."
Violet revira os olhos e resmunga. " Oh, por favor. Me entreguem para o conselho!"
Nate e eu ignoramos suas reclamações e decidimos verificar nossa companheira. Antes de sair encaro o casal se encarando em uma mistura de tensão sexual e ódio. " Nunca mais acordem a minha companheira, muito menos entrem em sua mente sem sua permissão."
Solto dois pesadelos dentro da cela e os tranco juntos lá dentro.
Os gritos me trazem um sorriso sincero ao rosto.
Vamos brincar com seus medos...
Caminhando em direção ao elevador Nate comenta mau humorado. " E era pra eu me controlar..."
Dou de ombros e seleciono nosso andar. " São apenas pesadelos. Quando eles acordarem vão vomitar o dobro que minha mulher vomitou."
Nate confirma com a cabeça, já conhecendo os efeitos colaterais dos pesadelos.
Os pesadelos buscam no fundo da alma das pessoas seus piores medos e traumas, fazendo suas vitimas entrarem em um looping, até que eu os recolha. Algumas pessoas podem acabar cometendo suicídio se forem sensíveis demais.
Eles não parecem sensíveis... eu espero. Ou talvez espero que sejam.
Chegamos no quarto de Meg para encontra-la dormindo entre Shade e Tristan.
Tristan parece um cadáver, enquanto Shade está encarando o teto.
" Como ela está?" Nate pergunta se jogando na poltrona ao lado da janela. Ele se ajeita, deixando claro que irá ficar ali até Meg acordar.
Não me resta outra opção se não fazer o mesmo.
" Ela chorou bastante, mas consegui fazê-la dormir." Shade continua olhando para o teto com o semblante fechado.
" Violet disse..." Tento falar sobre nossa conversa com Violet, mas ele me interrompe.
"Eu sei exatamente o que ela falou, ela deixou eu invadir a sua mente." Shade se senta na cama e olha para o corpo adormecido de Meg. " Ela está certa. Há uma falha nas lembranças de Meg, por isso eu não consigo ver suas memórias por completo. Ela aprendeu a usar essa falha para guardar memórias que não deseja lembrar. Acredito que seu pai a tenha treinado para fazer isso." Ele fecha os olhos e xinga baixo para não acorda-la. " Merda! Como não pensei nisso antes?!"
" Nisso o que?"
Vejo quando Meg se aconchega em Tristan na cama, e meu peito queima de ciúmes.
" Quando tentava invadir suas memórias, ela ficava cantando, lembrando de coisas específicas, mas sempre com alguma música..."
Nate e eu trocamos olhares confusos. " Desculpe, cara. Mas você não está falando nossa língua. Nosso negócio são sombras..."
"É como programar um cérebro usando ondas sonoras. Qualquer pessoa que tentar invadir suas memórias, encontrará..."
" Um The Eras Tour..." Completo sem pensar.
" Que diabos é isso?" Nate pergunta sacudindo a cabeça.
Caramba, no fim das contas, Taylor Swift tem sentido para eles.
"O 'pai' da nossa companheira programou seu cérebro para, ninguém além dele, mexer nas memórias. Vamos dizer que o cérebro dela possui uma auto defesa implantada dentro dele. Eu pensava que ela fazia isso por contra própria, mas sempre houve intervenção neuro que seu pai deixou pra trás."
" Você consegue desfazer isso?" Me ajeito na poltrona, tentando ficar confortável.
" Não..." Shade levanta da cama e caminha em volta do quarto. " Violet já tentou fazer isso."
" Ela é uma neuro?" Nate esfrega seu rosto cansado.
" Não sei!" Shade senta de volta na cama. " Seu cérebro é a coisa mais horrível que já tive o desprazer de desvendar."
Meg ronca suavemente em seu sono chamando nossa atenção. Shade arruma o cobertor em sua perna, mas ela resmunga e empurra sua perna para fora de novo, deixando apenas ela destampada.
" Parece que teremos que buscar as respostas de qualquer maneira." Shade se ajeita ao lado de Meg novamente, mas não fecha os olhos.
Nós três apenas ficamos em silencio olhando-a dormir, até que Shade resolver nos dar mais preocupação ainda.
" Ela está relutando contra nós. Eu sei que ela se sente mais a vontade comigo, mas não aguento vê-la se culpando por sentir o que sente." Ele suspira e tira uma mecha de cabelo caída em seu rosto.
" Pensei que estávamos tendo um progresso na hora do jantar quando senti seus pés me tocando, mas bastou ela sentir que iria perder o controle de novo, para recuar."
Eu não aguento mais esse morde e assopra.
" Ela só precisa se acostumar a nós. O que fizemos com ela no escritório sem prepara-la antes..." Nate tenta ser compreensivo.
" Ela está confusa." Shade termina. " Tem medo de você, porque não consegue decifra-lo."
As vezes, nem eu consigo decifrar meu próprio irmão. Nate consegue ser muito fechado, é difícil ele deixar alguém entrar.
Ainda me lembro de como a encontrei em seu escritório. Seus olhos cheios de luxúria e desejo, enquanto ela tentava acabar com seu tesão no colo de Shade.
Meu pau também lembra muito bem de tudo, pois endurece na hora e pelos semblantes tensos de Nate e Shade, eles não estão muito melhores que eu.
" Devíamos descansar. Será um longo dia..." É a desculpa que encontro, para fugir para meu próprio quarto e acabar com a minha necessidade sozinho.
Tenho certeza de que Nate e Shade fazem o mesmo.
Estamos vivendo como três adolescentes com os hormônios a flor da pele. E pelo jeito que meu pau volta a ficar duro logo após gozar, percebo que isso não mudará tão cedo.
Quando estou prestes a pegar no sono, uma onda do vínculo passa sobre mim. Pensei que seria impossível, mas meu pau fica duro novamente.
Me sento na cama assustado, tento ver as horas mas outra onda de energia passa por mim, me fazendo arrepiar.
Estou prestes a me levantar e verificar quem está transando com minha companheira depois da forma como ela despertou durante a madrugada.
Jogo minhas pernas para fora da cama e me levanto com dificuldade, já que meu pau parece uma pedra dentro das minhas cuecas.
Consigo chegar até o corredor para encontrar Shade e Nate com o mesmo volume nas calças. Isso seria constrangedor, mas já nos conhecemos a tanto tempo que ninguém se incomoda em esconder a excitação.
Na verdade, isso me trás memórias de quando estive dentro dela após Shade e Nate. Em como ela gemia e dizia que não aguentaria...
" Espera, se vocês estão aqui..."
Shade parece infeliz por não ser ele o causador da tortura em grupo da vez. " Tristan ficou sozinho com ela."
" E algo me diz que ele não quer companhia." Nate resmunga e ao invés de voltar para o quarto caminha até o elevador. " Alguém precisa beber?"