𝟗𝟎'𝐬 𝐋𝐎𝐕𝐄 | markhyuck

De urmoonbear

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Hyuck se muda para Seul no início dos anos 90, para uma escola melhor, e também para encontrar um time de hóq... Mais

Avisos Iniciais!
Start! (The Jam)
Push (The Cure)
Burning Down The House (Talking Heads)
Underground (David Bowie)
Demon Fire (AC/DC)
In The City (The Jam)
Wind Of Change (Scorpions)
The Kiss (The Cure)
Fever (The Jam)
Hot Hot Hot! (The Cure)
Carnation (The Jam)
This Charming Man (The Smiths)
Bubble Pop Electric (Gwen Stefani)
Cherry Bomb (The Runaways)
Private Eyes (Daryl Hall & John Oates)
Just Like Heaven (The Cure)
Please, Please, Please, Let Me Get What I Want (The Smiths)
Apart (The Cure)
A Night To Remember (Cyndi Lauper)
Pity Poor Alfie (The Jam)
Since You Been Gone (Rainbow)
Time After Time (Cyndi Lauper)
Lovesong (The Cure)
Monday (The Jam)
I Surrender (Rainbow)
What Difference Does It Make? (The Smiths)
Heroes (David Bowie)

Asleep (The Smiths)

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De urmoonbear

~ Oie :) eu realmente recomendo que escutem essa enquanto leem, vai ajudar muito a entrar no clima e a letra diz exatamente o que o Mark sente... amo dms The Smiths😞

TW: Menção a suicídio

    [⛸]

    — Ele teve sorte. Podemos dizer que seu filho nasceu de novo.

    Foi a primeira coisa que Mark escutou ao acordar. Seus olhos gritaram pela luminosidade naquele quarto excessivamente branco. Ele os piscou lentamente, tentando se situar do mundo ali.

    — Ah, meu Deus! Ele acordou! Doutor, ele acordou! — era a voz de sua mãe, bastante anasalada e cansada. Logo a bela mulher entrou em seu campo de visão, juntamente com um médico muito alto de cabelos grisalhos. — Meu filho, meu amor, você está bem? Ah, meu Deus, muito obrigado!

    Mark não respondeu. Tentou levantar e se arrependeu no mesmo instante, o corpo todo estava doendo, não conseguia mexer as pernas e nem os braços corretamente.

    — Se acalme, garoto. Nas suas condições você não pode se mover ainda. — o médico ergueu a mão. — Por favor, fique parado. Consegue nos entender? Como se sente?

    Ele demorou longos segundos para responder, tentava entender o que havia ocorrido. Enfim se deu conta do que houve.

    Luz forte, carro, voz feminina, escuridão. Ele sofreu um acidente e agora estava no hospital.

    Quando o choque de realidade chegou nele, tudo o que conseguiu pensar foi "eu não morri". Não estava feliz.

    — Por que? — murmurou, a voz mais grave que o normal.

    — Meu bem, você sofreu um acidente. Um carro bateu em você. Por sorte, conseguiram acionar a emergência rapidamente, e você fez uma cirurgia. Isso já faz cinco dias, estávamos te esperando acordar.

    Olhou o rosto da mãe, olheiras profundas, olhos molhados, feição aflita ao mesmo tempo que aliviada, rosto vermelho, cabelo bagunçado. Era totalmente diferente da mãe que sempre estava intacta, que mantinha sua aparência tão perfeita. Sempre bem vestida, maquiagem leve e o batom rosado que caía perfeitamente bem em seus lábios.

    — Não. — Mark baixou o olhar. — Por que não morri?

    — O que...? — ela o encarou confusa. — Como assim, meu amor? Você sobreviveu, foi um livramento muito grande.

    — Não. De novo, não. — o filho fechou os olhos, sentindo uma aflição apertar seu peito. Não queria estar vivo.

    — O que houve, meu amor?

    — Eu acho melhor deixar os dois a sós. Se precisarem de qualquer coisa, uma enfermeira está à disposição na frente da porta. — ele tocou o ombro da mulher. — Não o pressione, tudo bem? Ele deve estar confuso ainda. Tente falar com calma e não despertar grandes emoções. Seria ruim ele se desesperar, já que não consegue se mover ainda completamente. Não hesite em chamar se algo acontecer.

    Ela forçou um sorriso ao homem e agradeceu bem baixinho. Ele se foi, Mina puxou a cadeira para mais perto da cama e sentou-se. Sua mão fina tocou a do filho, segurou com tamanha delicadeza, quase como se tivesse medo de quebrar.

    — Meu menino, por favor, fale com a mamãe.

    Mark abriu os olhos, a encarou e suspirou fundo.

    — O que houve?

    — Eu queria ter... Eu queria estar morto. Por que não morri?

    A mãe sentiu seu coração partir em centenas de pedaços, os olhos quase transbordaram novamente. Como seu filho poderia dizer aquilo? Ela estava tão feliz por ele estar vivo. Só Deus sabe como ela ficou com a notícia de que o filho havia se envolvido em um acidente.

    — Por que diz isso? Meu amor, se você morresse, eu morreria junto. Não diga isso, Mark. Você é tudo o que eu tenho.

    Aquilo só o fez se sentir mais culpado. Ele suspirou novamente e recolheu a mão.

    — O que houve comigo?

    Mina hesitou. Ela temia que contar seria demais para ele naquele estado.

    — Eu acho que é melhor você tomar seu tempo e...

    — Não. Me diga o que houve comigo.

    Ela suspirou fundo para responder, olhou os próprios pés e lembrou do que o médico disse. Tentaria passar aquilo da forma mais branda possível.

    — Você quebrou um joelho e fraturou o tendão da perna esquerda. Esteve esses cinco dias em coma por causa do impacto sofrido pela cabeça. Fizeram uma cirurgia e conseguiram impedir que você ficasse paraplégico, mas ainda será preciso fazer muitas sessões de fisioterapia para voltar a andar novamente.

    Mark não esboçou emoção alguma ao ouvir aquilo. Uau, era muito melhor se estivesse morto, ele pensou.

    — Como... Me acharam?

    — A moça que bateu em você chamou a emergência, ela ficou muito nervosa porque estava dirigindo tranquilamente e você apareceu na estrada do nada... Tinha muito sangue vindo da sua cabeça por causa da pancada. Estávamos com medo que o coma durasse mais tempo... Felizmente, você acordou.

    O sorriso dela transmitia muito alívio. Mark desviou o olhar.

    — Eu queria estar morto agora.

    Mina engoliu em seco.   

    — Meu amor... Não diga isso...

    Ele negou com a cabeça, suspirando cansado.

    — Não aguento mais viver, mãe. Eu... Me desculpa, mas não... Não posso mais...

    Ele encarou as pernas, finalmente engolindo as palavras ditas pelo médico. Estava machucado. Andaria de novo? Viveria para sempre em uma cadeira de rodas? Seria inútil agora? Que piada. Ha. Se sentia patético. Ele queria gritar, mas sua melancolia apenas fez com que se conformasse. Não importava mais. Nada importava. Ele só queria morrer e sumir de uma vez.

    Mina encarou seus olhos e percebeu a diferença. Seu filho sempre tinha um olhar feroz, vivo, forte, era assim que olhava para as pessoas. Mas com ela era diferente, o olhar tinha um toque de amor tímido, eram quentes, com alegria velada. Naquele momento ela não achou aquilo. Ela viu um menino perdido dentro de si mesmo, um Mark desnorteado, triste, cansado e magoado. Não existia mais a alegria ao olhar para ela, era como uma alma prestes a se desfazer, sem vida. Aquilo a assustou, porém, Mina era ótima em manter-se calma.

    — Eu sei que você sempre diz que está tudo bem, mas dessa vez eu quero que me fale o que está acontecendo. Eu já não te conheço mais, meu filho. Desde que nos mudamos você virou outra pessoa. Eu preciso saber o que está acontecendo, eu quero te ajudar. Por favor, diz pra mim o que está acontecendo dentro do seu coração.

    Mark ainda tinha coração? Ele achava que não. Já tinha sido tão maltratado, não tinha mais como juntar aqueles cacos. Ele baixou os olhos, exausto, mas ele faria ao menos um esforço por ela.

    Ele só tinha ela.

    — Ah, mãe... Nada importa mais. — Mark começou. — Eu fumo desde que me tornei adolescente. Usei drogas também antes, mas não era tanto como agora. Não consigo mais ficar sóbrio, eu penso tantas coisas que... Que... Que me fazem querer morrer. Tento sempre estar chapado para esquecer a dor. Assim, vivendo nesse ritmo, eu iria diminuir meu tempo aqui. De um jeito ou de outro, eu acabaria morrendo de overdose em um beco qualquer, ou com alguma doença. Mas... Quando eu vi aquela luz forte prestes a me engolir... Eu só consegui pensar em como queria que aquilo me matasse. Fiquei tão feliz em pensar que morreria naquele momento. Eu sinto muito, mamãe, mas eu não aguento mais viver.

    Mina limpou as lágrimas e novamente segurou a mão dele.

    — Meu amor... Por que? O que houve para você pensar nisso? Foi por que nos mudamos? Por que está longe dos seus amigos? Do hóquei? Me conte.

    Mark sorriu fraco, suspirou fundo.

    — Gosto de homens, mãe. Nunca senti atração alguma por mulheres.

    Ela sabia. Claro, uma mãe sempre sabe. Mina nunca conversou aquilo por achar pessoal demais, e ouvir o filho ser tão sincero foi reconfortante. Ela sempre quis que Mark confiasse nela o suficiente para compartilhar suas dores, sempre o achou tão fechado. Não era o melhor momento, mas antes tarde do que nunca.

    — Quero dizer, só tem um homem que me interessa. O nome dele é Lee Donghyuck, ele faz parte do meu antigo time de hóquei. No começo eu era horrível com ele, o tratava mal, eu era um idiota. Mas... Houve um momento em que aceitei que gostava dele. Saímos juntos, fizemos tantas coisas... Estou total e completamente apaixonado por ele como nunca estive por ninguém. Eu nunca senti com outra pessoa nada parecido com o que eu sinto por ele. Donghyuck é meu pensamento ao dormir e acordar, e cada dia que eu passo longe dele... É tortura.

    As palavras carregavam uma sinceridade e emoção que Mina nunca tinha escutado vindo do filho. Ela sabia que era verdade, ele estava apaixonado.

    — Tivemos uma briga, e logo depois meu pai descobriu tudo e... Nos mudamos. Mas antes da mudança eu fui até ele. Eu disse coisas que não queria, disse que tudo o que tivemos foi só diversão, que ele não significou nada para mim. Era tudo mentira. Eu só queria que ele me odiasse. Porque... Se ele sentisse ódio de mim... Então... Ele não iria sofrer tanto por eu ir embora quanto sofreria se me amasse. Eu só quis que... Que ele pudesse se recuperar mais rápido, que fosse mais fácil de seguir em frente. Eu só não queria que ele sofresse tanto.

    Mina estava perplexa. Seu filho havia sacrificado a própria felicidade pela da pessoa que amava. Aquilo era romanticamente trágico demais.

    — Todos os dias ele aparece para mim, como um delírio da minha cabeça. E todas as noites ele está nos meus sonhos. Tento esquecê-lo, mas não adianta. Liguei para ele algumas vezes, só para ouvir sua voz mesmo, e nunca tive coragem de falar nada. Eu soube que ele está com outra pessoa, e isso... Ah, isso me quebrou muito. — riu sem humor. — Mas, no fundo, eu fiquei feliz por saber que ele está seguindo em frente e vivendo bem. Doeu pensar que ele já me esqueceu, mas eu só quero que ele seja feliz. Do fundo do meu coração tão amargo, eu só quero que ele possa viver plenamente todos os dias. Amar isso é, não é?

    Achava difícil segurar as lágrimas, fazia grande esforço. Ele nunca gostou de chorar, principalmente na frente de alguém. Se sentia fraco.

    — Nada faz muito sentido para mim agora. Eu não tenho mais Hyuck, não tenho meus amigos, meu pai me odeia mais do que nunca, não estudo, não tenho um trabalho... Eu não tenho nada. Quero dizer, a única coisa que eu tenho é você.

    Mark apertou com dificuldade a mão dela, querendo sentir mais do seu calor. Mina suspirou fundo, olhando em seus olhos, querendo de alguma forma o fazer melhorar. Não adiantou.

    — Mãe, você é a única coisa que me resta. Só me manti vivo até agora por você. Não quero te deixar sozinho com aquele homem... Eu queria poder te proteger de tudo, mas acho que agora é mais difícil. — olhou as próprias pernas. — Aparentemente vou te dar mais trabalho. Eu sinto muito.

    — Não, meu filho, não precisa se...

    Mark negou com a cabeça e tornou a falar.

    — Eu cresci ouvindo do meu pai que sou um fardo, um inútil que só sabe fazer tudo errado. Eu sou um perdedor e sei disso. Não é que acredito nas palavras dele, é que a verdade é essa. Eu só machuco as pessoas, ferro com tudo. Eu queria muito que você tivesse um filho melhor, porque sei que não adianta eu querer melhorar. Eu sou assim: quebrado e maldoso, como um tornado que destrói tudo por onde passa. Queria que você tivesse um filho que pudesse te ajudar em tudo. Um filho que não fumasse, que fosse bom na escola, que não arranjasse tanta briga por aí, que entrasse em uma boa faculdade e tivesse um bom trabalho... Um filho que pudesse te dar uma nora e muitos netinhos, porque eu sei que você ama crianças. Eu gostaria que tivesse nascido outro no meu lugar, você teria menos problemas e sua vida seria muito melhor.

    Mark puxou um pouco a mão dela e a levou até sua bochecha. Ele deitou a cabeça sobre a mão da mãe, fechou os olhos e sorriu um pouco.

    — Eu sinto muito por não ser um bom filho para você. Eu juro que, se pudesse voltar ao passado e mudar quem eu sou, eu faria.

    Mina começou a soluçar, não queria que Mark se sentisse daquela forma. Ela nunca desejou ter ninguém além dele. Mark era sua felicidade, seu bem mais precioso. Ela não conseguiria viver sem ele.

    — Você é tudo o que eu tenho, mamãe. Eu te amo tanto. Sempre que estou triste só quero correr para os seus braços como quando eu era criança. Quero voltar a assistir aquelas novelas chatas com você e comer da sua sopa quentinha toda noite. Você é a melhor mãe do mundo inteiro, eu sou tão grato por ter você na minha vida. E eu sei que você me ama, sei que daria sua vida por mim, mas... Eu não quero mais viver assim.

    Ele beijou as costas de sua mão gentilmente e enfim soltou uma lágrima que deslizou pela sua pele como fogo.

    — Eu não vou aguentar mais muito tempo, sei que não vou. Sou um covarde por querer me matar, mas... Não encontro mais motivos para ser feliz aqui. Eu odeio esse lugar. Infelizmente, mesmo que eu voltasse para Seul nada seria o mesmo. Eu não teria mais Hyuck também. Não tenho alternativa. Ir ou ficar é uma escolha que não muda muita coisa. Sei que estarei te machucando ao dizer isso, mas... Uma hora ou outra eu vou acabar morrendo por conta própria. Quando isso acontecer, eu quero que você tente não lembrar de mim como um péssimo filho, espero também que algum dia você possa me perdoar. E não se culpe por isso, não mesmo. Você sempre foi a melhor de todas, eu nem te mereço de tão boa que você é.

    Ele abriu os olhos, suspirou cansado e cheio de dor, mas mesmo assim se forçou ao máximo para sorrir.

    — Eu te amo, mamãe. Muito obrigado por ser minha mãe e me aturar até hoje. E me perdoe por te causar tantos problemas. Eu gostaria de não ser assim, mas é tarde demais para tentar mudar. Eu já aceitei que não tenho conserto. Eu sou uma aberração. — parou de sorrir e piscou algumas vezes, ainda um pouco desnorteado. — Só por agora, me deixe sentir seu calor, só um pouco. Por favor, me dê um pouco de carinho, só um pouquinho até eu dormir... Eu... Eu quero sentir que está tudo bem, como quando você me fazia dormir quando criança.

    Mina baixou a cabeça, soltando tantos soluços que mal conseguia respirar corretamente. Ela chorou, grunhiu, sentindo o peito apertado mais do que nunca. Mark se sentiu pior ainda, mas apenas se aconchegou mais na mão alheia, procurando conforto. A mãe voltou a olhar para ele, limpou as lágrimas e forçou um sorriso.

    — Ah, meu filho, por que deixou tudo chegar a esse ponto? Por que não falou comigo antes? Por que... — e ela ainda chorava, mas não estava o culpando, no fundo ela se culpava. — Me perdoe por não ter cuidado de você direito, me desculpa. Eu te amo tanto, meu menino. Não repita coisas assim, eu te imploro.

    Os dedos dela acariciaram a bochecha alheia, acolhendo aquele rosto que sempre foi o seu preferido no mundo. Ela levou a outra mão para segurar o rosto dele corretamente, levantou-se e inclinou-se para beijar lhe a testa.

    — Me escute bem, Mark. Você é meu bem mais precioso, a pessoa mais importante da minha vida... Tudo o que eu tenho e tudo o que eu sou... É para você. Eu nunca quis nenhum outro filho, desde que você estava na minha barriga eu já sabia que te amaria para sempre e independente de qualquer coisa. Eu te amo do jeito que você é, com todos os seus defeitos, e principalmente com suas qualidades.

    — Quais? — Mark riu fraco, triste. — Eu não tenho qualidades.

    — É claro que você tem. — abriu um sorriso para ele, ainda que as lágrimas caíssem lentamente pelo seu rosto. — Você é o homem mais fiel do mundo, desde pequeno sempre foi leal e responsável com seus compromissos e amizades. Você é forte, aguenta o peso do mundo nas costas sem demonstrar fraqueza. Ainda que isso possa te prejudicar, é uma qualidade. É resiliente e persistente, sempre tenta agradar de alguma forma... Você se importa com as pessoas, apenas coloca uma máscara de indiferença porque tem medo de parecer fraco. Mas, no fundo, você só quer o bem de quem ama e quer ser o melhor possível. Eu lembro de quando você era pequeno, sempre se dedicando ao máximo porque queria deixar seu pai orgulhoso...

    — E ele nunca ficou.

    — Mas eu sempre fiquei. Eu sempre tive orgulho de você. Sempre tive orgulho de ser sua mãe.

    Ela limpou as bochechas de Mark com toda a delicadeza do mundo. Beijou a ponta de seu nariz e ficou o olhando de pertinho. Como mãe, ela sabia que tinha que ser forte por ele, ela tinha que mostrar que estava ali por ele.

    — Eu sinto muito por não ter conseguido te proteger dele todo esse tempo.

    Ele sabia de quem ela falava. Mark desviou o olhar.

    — Não é culpa sua ele ser assim.

    — Mas é culpa minha não impedir que ele te machuque. Quero dizer, nos machuque.

    Mina suspirou fundo.

    — Sabe, durante todo esse tempo eu fui paciente, fui uma boa esposa, uma mulher que nunca se impôs. Minha mãe me ensinou a ser assim, ela era burra como eu. Nunca deveria ter seguido os conselhos dela e me comportado como uma boneca que só faz o que seu dono manda e quer. Nenhuma mulher deveria se submeter a isso, a não ter voz, a não se amar... O seu acidente foi péssimo, mas ele serviu para abrir meus olhos.

    Mark voltou a olhá-la, ela agora parecia com raiva.

    — Quando eu soube do que houve, fiquei desesperada, vim correndo. E seu pai... Aquele infeliz nem ao menos se importou. Foi ali que eu percebi que não quero ele na minha vida de forma alguma mais. Todo o amor que um dia senti por ele... Acabou.

    O filho ficou perplexo, incrédulo. Era estranho demais ouvir a mãe falar algo do tipo. Ela, que sempre fora submissa ao extremo, se tornava uma outra pessoa dizendo tais palavras. Mark achou esquisito, mas amou aquilo. Ele se sentiu aliviado.

    — Eu ainda não tenho o suficiente para sairmos daqui, mas... Espere só mais um pouco, por favor. — um sorriso fraco brotou em seus lábios. — Só mais um ou dois meses... Aí vamos voltar para nossa vida. É o tempo que você se recupera também.

    — C-Como assim?

    Dessa vez ela abriu um lindo sorriso.

    — Em breve voltaremos para a nossa vida normal. Vamos voltar para a Coreia, só nós dois. Vamos viver juntos e felizes agora, sem medo. Só nós dois contra o mundo. Eu vou cuidar de você e me certificar de que você possa ter uma boa vida agora, sem aquele homem chegar nem perto de você. Eu prometo que vamos voltar para o nosso país.

    O garoto suspirou feliz, ainda incrédulo. Ele iria voltar para a Coreia... Ele veria Hyuck outra vez... Eles iriam ter uma vida boa agora... Ele não teria que ter medo de entrar em casa outra vez.

    Mina afagou os cabelos dele.

    — Vamos ter que aguentar viver aqui só mais um pouco, eu te prometo. Mas logo iremos voltar para nossa antiga casa, ou compramos uma nova, você decide. Não vai mais precisar usar nada de ruim, nem se sentir triste porque eu estarei do seu lado para te fazer feliz e mostrar que a vida vale a pena ser vivida.

    Uma lágrima escorreu pela lateral do rosto do canadense. Era um alívio, ele nunca havia se sentido tão aliviado quanto naquele momento. Parecia que aquela nuvem escura e tenebrosa estava finalmente sumindo e revelando o céu azul outra vez. A esperança parecia finalmente voltar.

    — A vida pode ser menos dura se tentarmos pegar mais leve com ela. Eu sinto compaixão de quem pensa em tirar a própria vida, porque no fundo eles não querem morrer... Eles apenas não perceberam como a vida pode ser boa. Não condeno ninguém, longe disso, apenas gostaria que essas pessoas tivessem alguém que mostrasse o bom de viver para elas. Mas você tem a mim, e eu serei essa pessoa para você.

    Um vento suave soprou pela janela, estava escurecendo. Os cabelos bagunçados da mulher pareciam voar com leveza. E naquele momento Mark só conseguiu pensar em como ela conseguia ser a mulher mais linda do mundo de qualquer jeito.

    — Eu vou te mostrar como viver é bom.

    Mark ergueu as mãos, pedindo por um abraço. A mãe se aproximou e o acolheu com bastante cuidado, tendo a brandura máxima para não o causar nenhuma dor. Ele afundou o rosto em sua barriga e chorou como criança, sentindo naquele abraço toda a liberdade que nunca teve para chorar.

    Aquele era um lugar seguro, um espaço onde ele poderia ser sincero com o que sentia. O abraço de sua mãe era como uma casa perfeita. Quentinha e acolhedora contra os dias mais frios, feliz como uma véspera de natal, segura e indestrutível mesmo com uma forte tempestade... Era a manifestação pura de todo o amor do universo, um ambiente de carinho e cuidado, um amor incondicional.

    — Eu te amo, mamãe. — ele falou entre um soluço e outro, a voz quebrada e cansada. — Obrigado... Obrigado por tudo... Obrigado...

    Ele repetiu aquela palavra várias vezes, e em resposta Mina também redisse inúmeros "eu te amo". E tudo aquilo era verdade, a mais límpida e sincera de todas.

    Ao que se afastaram, ambos com os olhos vermelhos e inchados de chorar, Mina sentou-se novamente e tornou a segurar as mãos de Mark.

    — Agora vamos melhorar esse clima. — ela riu baixinho. — Me conte tudo sobre o seu garoto. Eu quero muito saber como ele é, aposto que é muito lindo para ter conquistado o coração de um garoto tão bonito quanto você. Sei que já o vi algumas vezes, mas quero saber tudinho sobre ele.

    — Ah, mãe... Ele é quase perfeito. — Mark suspirou apaixonado, mas logo uma onda de tristeza invadiu seu cerne. — Mas... Ele já não me quer. Eu... Nós não vamos mais ficar juntos.

    — Quem disse? — ela arqueou uma sobrancelha. — Meu filho não é de desistir, não. Pode deixar essa melancolia de lado, porque quando voltarmos você vai atrás dele e vai recuperar o amor dele. Eu sinto que ele não te esqueceu, só está tentando seguir em frente. Aposto que, logo quando estivermos de volta, vocês voltarão a estar juntos.

    — Não me dê tantas esperanças, você não pode garantir isso. — riu com o nariz.

    — É verdade, eu não posso. Mas você pode e vai. Você é Mark Lee, o melhor jogador de hóquei de toda a Seul, um menino que nunca desiste do que quer. Você vai conquistar ele outra vez, eu tenho certeza disso.

    O outro ficou com as bochechas vermelhas, era raro isso acontecer, mas as palavras da mãe o deixaram sem jeito. Ele baixou os olhos para as mãos dela e se aconchegou no travesseiro do hospital.

    — Estou com sono... Meu corpo está molenga... — sorriu sem graça. — Minhas pernas... Eu... Eu vou voltar a andar, não é?

    — É claro que vai! Felizmente, só uma perna foi gravemente danificada. Com fisioterapia e descanso, logo estará novinho em folha.

    — Mas... E o hóquei?

    Mina notou a insegurança na voz dele, ela sabia como o hóquei era uma parte importante de sua vida. Ela até havia falado com o médico antes sobre isso, e ele não havia dado tantas esperanças a ela. Ele poderia voltar a jogar um dia, talvez. Mas não era uma certeza. Hóquei é um esporte violento, e apesar da cirurgia, uma nova fratura poderia ser crucial para a locomoção da perna já machucada antes. O melhor seria não arriscar. Hóquei estava fora de cogitação, mas ela não poderia dizer isso a ele agora.

    — Tudo ao seu tempo. — forçou seu mais brando sorriso. — Vamos caminhar um passo de cada vez.

    Mark assentiu e piscou algumas vezes seguidas, tentando permanecer com os olhos abertos.

    — É normal eu estar com tanto sono? — riu um pouco.

    — É, sim. Os efeitos da anestesia ainda não cessaram.

    — Você vai ficar aqui comigo? — tinha vergonha de demonstrar seu medo de ficar sozinho, mas não podia evitar.

    — Claro, não vou sair do seu lado por nada. — Mina se aproximou um pouco e levou a canhota aos fios cinzentos do filho. — Para pegar no sono mais rápido, vá me falando como Donghyuck é.

    Ele não demorou a começar a falar, lentamente juntando as palavras para construir a caracterização de seu amado. A mãe fazia algumas perguntas, encantada pela forma apaixonada do filho falar. Era lindo saber que Mark estava amando, por vezes almejou que o filho tivesse alguém para derreter seu coração. Dentro de algum tempo, Mark apagou, parecendo finalmente tranquilo em muito tempo.

    — Eu te amo, meu menino. — ela sussurrou, deitando a cabeça no encosto da poltrona de acompanhante. Ficou olhando o filho e segurando sua mão, admirando aquele rosto tão lindo da mesma forma como fazia quando ele era bebê. — Vamos ser felizes agora, eu prometo.

    [⛸]

~ mais um capítulo e o Markinhos volta!!!!! SOLTEM OS FOGUETES QUE O MOMENTO DE VCS TÁ CHEGANDO

Mas o próximo é triste, vou logo avisando :')

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