15/04/2024
Point of view: Jennie Kim
Seul - Coreia do Sul
Segunda-feira
12:47 AM
Sentei-me em minha poltrona e comecei a chorar, inclinando meu tronco para frente e enterrando meus dedos em meus fios escuros, arranhando levemente a região. A dor consumiu meu peito, e, por alguns minutos, repensei sobre continuar a vida que estou vivendo.
Ainda amo o Lohan, claro, mas meu medo está passando dos limites. Não sei se vou aguentar isso por muito tempo. Talvez devesse encontrar uma forma delicada de contar a ele sobre o Jinwoo.
Meus pensamentos foram interrompidos por alguém batendo na porta; logo após, a mesma foi aberta, revelando o corpo do Kai. Ele segurava um buquê de flores e uma marmita. Seu sorriso murchou ao ver meu estado.
— O que foi, amor? — ele colocou as flores e a marmita em minha mesa, agachando-se à minha frente e segurando minha mão. — Ataque de ansiedade de novo? Eu já falei pra me ligar quando...
— O Lohan voltou — cortei sua fala, recebendo seu olhar surpreso.
— Ele já sabe do Jinwoo? Você contou para ele, né? — não respondi. — Jennie, você tem que falar com o Lohan sobre isso. Ele tem o direito de saber que é pai do Jinwoo.
— Ele acha que você é o pai do Jin.
— Jennie, por favor, não o deixe acreditar nisso. Você não tem ideia da dor que ele vai sentir se descobrir isso por outra pessoa. Você deveria contar a ele que ele é pai.
— Mas como? Ele vai me matar quando souber. Vai ficar me questionando o porquê de eu não ter contado para ele.
— Daí você explica o motivo. Falando nisso, qual é o motivo? Você nunca me contou.
Obviamente, eu não falaria para ele o porquê o Lohan foi para a Tailândia. Kai é preconceituoso e é capaz de machucar o Lohan se descobrir que ele é trans e intersexual.
— Motivos pessoais, Kai.
— Tudo bem. Mas, Jennie, se você não contar, o Lohan vai descobrir por outra pessoa ou por ele mesmo, e se isso acontecer, garanto que a reação dele será mil vezes pior. Eu ficaria muito chateado se você tivesse escondido um filho de mim por três anos.
— Tá bom, Kai. Pode me deixar sozinha? Não estou com cabeça para conversar com ninguém agora.
— De qualquer forma, eu trouxe seu almoço e flores pra alegrar mais o seu dia — ele se levantou e deixou um selar no topo da minha cabeça. — Pense sobre o que eu te falei e faça o certo de uma vez por todas.
Assenti, não dando a mínima para o que ele falou.
Peguei meu celular e vi um monte de ligações do Taehyung. O Lohan deve ter chegado lá, é bem provável que ele tenha chegado lá. Resolvi atender sua ligação, não conseguindo falar nenhuma palavra, já que meu irmão começou a falar muito rápido, e eu só consegui entender a parte em que ele disse que o Jinwoo estava no hospital.
Desliguei o telefone, sentindo meu coração acelerar. O Jinwoo no hospital era a última coisa que eu precisava naquele momento tumultuado. Limpei as lágrimas do rosto, decidida a enfrentar as consequências dos meus segredos.
Kai permaneceu ali, observando-me com preocupação.
— Jinwoo tá no hospital.
— O que aconteceu? Por que o Jinwoo tá no hospital?
— Não sei, Taehyung falou rápido demais. Preciso ir até lá. — Levantei-me, tentando recompor-me.
Kai segurou meu braço suavemente.
— Jennie, você não pode evitar a conversa com o Lohan. Ele merece saber a verdade.
— Eu sei, Kai, mas agora não é o momento. O Jinwoo precisa de mim.
Kai suspirou, compreendendo a gravidade da situação. Ele soltou meu braço, mas antes que eu pudesse sair, ele disse:
— Não adie isso por muito tempo. O Lohan merece saber.
— Eu já entendi, porra! — falei, sem paciência, caminhando até a minha bolsa apressadamente.
— Quer carona?
— Não, eu tô de carro — respondi, saindo do local.
— MANDE NOTÍCIAS — ele gritou.
Desci apressadamente as escadas, já que o elevador estava em manutenção. O barulho dos meus saltos chamava a atenção das pessoas, eu apenas conseguia liberar lágrimas e ignorar todos que perguntavam se eu estava bem.
Fui até o meu carro e entrei nele, coloquei a chave na ignição e girei ela mais de uma vez, porém nada daquela merda ligar. Bati no volante com minhas duas mãos, começando a chorar alto logo depois.
— VAI SE FODER, CARALHO!
Saí do meu carro apressadamente, batendo a porta com força e travando ele logo em seguida. Corri até a saída do estacionamento, pronta para chamar um táxi.
Por mais que eu tentasse, não conseguia correr tão rápido, já que estava com um salto maior que tudo.
Fui até a beirada da estrada, começando a acenar loucamente até um táxi parar, porém nenhum deles estacionava para que eu pudesse entrar. Isso durou por um bom tempo, até um carro familiar parar em minha frente. De primeira, pensei que fosse meu irmão, mas quando o vidro abaixou, vi que era outra pessoa.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa? — Lohan perguntou, preocupado, enquanto encarava-me chorar.
— Me leva pro hospital?
— Você está bem? Entra — ele destravou a porta, e eu logo entrei, colocando o cinto logo em seguida. — O que aconteceu? — o carro começou a se mover lentamente, saindo do local.
Lohan ergueu os vidros por conta do ar, e antes que pudéssemos sair completamente dali, observei o Kai sair da empresa, indo em direção ao seu carro, sem nem imaginar com quem eu estava.
— O que aconteceu, Jennie? Você está bem? Se machucou? Está se sentindo mal? — ele perguntou, impaciente e preocupado, prestando atenção no trânsito.
— Meu filho tá no hospital, Lohan — falei, vendo ele me olhar rapidamente.
— O pai dele já sabe?
— Acabou de saber — disse, encarando seu rosto e seu olhar concentrado no trânsito.
— Tá bom. Pra qual hospital?
— O principal de Seul — voltei meu olhar para o trânsito, encarando o semáforo na cor vermelha um pouco mais à frente. — Lohan, você prestou atenção no que eu disse?
— Sobre?
— Sobre o pai já saber — olhei para ele, sentindo minhas pernas começarem a tremer de nervoso.
— Sim, você disse que havia acabado de contar para o pai dele. Ele já deve estar a caminho do hospital, fique tranquila.
Eu tinha esquecido que o QI dele é baixo e a lerdisse é alta para caralho. Revirei os olhos, não tendo a mínima paciência para explicar a ele sobre o Jinwoo. Talvez eu conte para ele amanhã ou quando eu esfriar a cabeça.
***
Assim que chegamos no hospital, encontramos o Taehyung sentado numa cadeira, com o seu tronco inclinado para frente, seus braços apoiados em suas coxas e seus dedos entrelaçados. O rapaz estava bem nervoso aparentemente, já que não parava de tremer suas pernas.
— Taehyung — falei, correndo até ele.
Assim que nossos olhos se encontraram, percebi que seu rosto tinha lágrimas por todo canto. Abracei-o fortemente, ouvindo seu choro baixo.
— O que aconteceu? Cadê o Jinwoo?
— Ele está com os médicos. Desculpa, Jen... Eu acho que passei dos limites hoje. Talvez eu tenha dado um excesso de açúcar muito grande pro Jin... Não foi a minha intenção, desculpa, por favor.
— Você é burro, Kim Taehyung? Tem merda na cabeça, porra? — empurrei seu corpo, totalmente estressada.
— Jennie — Lohan tocou suavemente meu braço, fazendo-me dar um passo para trás e me sentar na cadeira.
— O médico já veio falar com você? — perguntei, tendo meu olhar mirado no chão.
— Ainda não...
Ambos se sentaram ao meu lado, fazendo-me ficar no meio deles.
Comecei a roer minhas unhas, tentando controlar a minha ansiedade, enquanto tremia minha perna sem parar. Lohan, percebendo o meu nervosismo, levou sua mão lentamente até a minha, com medo de levar um bronca, porém eu não liguei, apenas deixei ele pegar minha mão e levá-la até a minha perna que estava tremendo, pousando ambas ali, começando a deslizar lentamente seu polegar pela minha pele.
— Vai ficar tudo bem com o seu filho, Jen — ele falou, olhando para mim e sorriso positivamente.
Mirei meu olhar para o Tae, que conversava comigo apenas com seus olhos, indicando para que eu conversasse com o Lohan sobre o meu filho.
— Lohan — ele me olhou —, a gente tem que conversar.
— Claro, sobre o quê?
— Vamos pra outro lugar? — perguntei e ele assentiu, mas antes de levantarmos, o doutor se aproximou.
— Família Kim? — olhamos para ele. — Eu sou o doutor Lee, muito prazer. Quem são os pais do Jinwoo?
— Eu sou a mãe dele.
— Seu filho está estável agora, mas gostaria de discutir o que aconteceu. Poderia me acompanhar até a minha sala?
— Eles também podem ir? — perguntei.
— Claro.
O seguimos até a sala dele, nos sentando nas cadeiras que estavam ali. Meu coração batia forte, e Lohan segurava minha mão com firmeza, enquanto Taehyung estava mais nervoso do que eu.
— O que houve com Jinwoo, doutor? — perguntei, ansiosa.
O médico suspirou antes de explicar.
— Descobrimos que Jinwoo ingeriu uma quantidade significativa de açúcar. Isso contribuiu para um aumento súbito nos níveis de glicose, resultando no episódio hipoglicêmico e no desmaio.
Meu coração afundou. Eu sabia que era importante monitorar a ingestão de açúcar de Jinwoo, mas não esperava que um deslize levaria a essa situação.
Olhei para o Tae, que se inclinou para frente e colocou as mãos no rosto, escondendo suas lágrimas e o seu semblante culpado.
O médico começou a explicar os cuidados que devemos ter com ele, e que, mesmo com a dieta controlada, pode haver momentos em que as crianças conseguem acesso a alimentos fora do planejado. Ele destacou a importância de manter ambientes seguros e controlados, especialmente para crianças com diabetes.
— Vamos reavaliar a dieta e fornecer orientações específicas para evitar episódios como esse no futuro. É vital manter um controle rigoroso para garantir a segurança de Jinwoo — explicou o médico, transmitindo a gravidade da situação.
A preocupação consumiu meu corpo, absorvendo a responsabilidade aumentada que vinha com o cuidado de uma criança diabética. O médico continuou a fornecer informações detalhadas sobre como ajustar o plano de tratamento e evitar situações semelhantes no futuro.
Ao sair da sala do médico, senti o peso da responsabilidade sobre meus ombros. Era uma nova fase no cuidado de Jinwoo, exigindo atenção constante e cuidado redobrado.