𝟗𝟎'𝐬 𝐋𝐎𝐕𝐄 | markhyuck

By urmoonbear

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Hyuck se muda para Seul no início dos anos 90, para uma escola melhor, e também para encontrar um time de hóq... More

Avisos Iniciais!
Start! (The Jam)
Push (The Cure)
Burning Down The House (Talking Heads)
Underground (David Bowie)
Demon Fire (AC/DC)
In The City (The Jam)
Wind Of Change (Scorpions)
The Kiss (The Cure)
Fever (The Jam)
Hot Hot Hot! (The Cure)
Carnation (The Jam)
This Charming Man (The Smiths)
Bubble Pop Electric (Gwen Stefani)
Cherry Bomb (The Runaways)
Private Eyes (Daryl Hall & John Oates)
Just Like Heaven (The Cure)
Please, Please, Please, Let Me Get What I Want (The Smiths)
Apart (The Cure)
A Night To Remember (Cyndi Lauper)
Pity Poor Alfie (The Jam)
Since You Been Gone (Rainbow)
Asleep (The Smiths)
Lovesong (The Cure)
Monday (The Jam)
I Surrender (Rainbow)
What Difference Does It Make? (The Smiths)
Heroes (David Bowie)

Time After Time (Cyndi Lauper)

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By urmoonbear

    ~ demorei por puro esquecimento :")

Não se esqueça de votar, comentar e compartilhar!!! Quero chuva de estrelinhas, hein?! 🩵

[⛸]

    O começo de um novo dia, um novo mês, quem dera fosse uma nova vida.

    Para Mark, acordar todos os dias era mais uma tortura que um costume. Levantar e pensar que a vida poderia ser melhor naquele dia não passava de um esforço inútil. Nunca seria melhor naquele lugar, não daquele jeito.

    Ele dormia o dia todo, e provavelmente já passava das cinco da tarde, ele não sabia. Infelizmente, em Vancouver as noites costumavam ser brancas, pelo menos até umas nove horas.

    Tomou um banho e comeu um resto de pizza que encontrou na geladeira. Passou pela sala e viu a mãe assistir uma novela, ela levou os olhos para ele e forçou seu melhor sorriso. Mark nem tentou, só seguiu de volta para o quarto. Já não era mais o mesmo.

    A relação com a mãe era mais fria agora. Talvez pelas drogas, pelas saídas noturnas, pelos barulhos dele chegando em casa quase ao amanhecer, pelo pouco diálogo... Talvez tudo isso. Mark mal falava cem palavras por dia, não tinha com quem conversar. Estava envergonhado demais para bater um papo longo com a mãe. Ele sabia que o que fazia era errado e a preocupava, mas não tinha como parar, já estava naquilo até o pescoço.

    Drogas, má alimentação, sono desregulado, festas... Era inútil tentar parar naquele momento.

    Sentou aos pés da cama, suspirou fundo e deitou a cabeça ali, já se sentindo exausto como se tivesse corrido uma maratona. Ele tirou uma pílula do bolso da calça e engoliu a seco, fechando os olhos.

    — Qual será o delírio de hoje? — murmurou consigo mesmo, rindo em seguida. Agora, além dos efeitos, ele tinha sonhos lúcidos. Não sabia se era bom ou ruim, mas sempre Donghyuck estava no meio.

    Ele ligou o toca fitas numa de The Smiths. How Soon Is Now era a música que tocava quando Mark ouviu sua voz.

    — I am human and I need to be loved — aquela linda voz que por tanto murmurou coisas em seu ouvido. Ele até podia ouvir a música carregada de sotaque. Donghyuck nunca foi muito bom em inglês aos olhos de Mark.

    — Eu também preciso. — Mark respondeu, abrindo os olhos e vendo Donghyuck sentado no canto da parede de seu quarto. — Acho que eu preciso ser amado por você. Talvez assim eu seja feliz. — ele esboçou um sorriso triste.

    — Sério? — Donghyuck sorriu. Ele usava a roupa do time, só que sem as luvas e patins. — Sabe, eu também precisava ser amado por você. Só que... Ah, é verdade, tudo foi mentira.

    Aquela farpa doeu. Como sempre, Mark se culpou.

    — É, como sempre você está aqui para me martirizar pelos meus erros.

    — Eu? Não, claro que não. Estou aqui para te fazer companhia, você parece tão só.

    — Eu estou.

    Donghyuck caminhou para perto dele e sentou-se ao seu lado, deitando a cabeça na cama e virando a mesma para olhar em seus olhos.

    — Você já deveria ter feito novos amigos, não?

    Mark só pôde sorrir encarando seu rosto.

    — Talvez. Mas não há motivo. No fim eu estarei sozinho uma hora ou outra.

    — Você escolhe estar assim.

    — Claro, eu escolho sofrer.

    — Não é isso que estou dizendo.

    Ambos suspiraram, o silêncio reinou. Mark ficou admirando aqueles olhos lindos de que tanto sentia falta. Donghyuck abriu um perfeito sorriso.

    — Sinto falta de quando a gente andava de carro. Era legal.

    — Era. — Mark riu. — Era tão bom. Não consigo olhar para um carro e não pensar na gente transando no banco de trás.

    Os dois riram.

    — Ah, bons tempos. É uma pena que não estejamos juntos agora. — Donghyuck disse. — Mas, pensando bem, é melhor com Sungchan.

    — É? — ele sentiu um amargor no céu da boca.

    — É. Me sinto tão bem com ele. — havia provocação na voz. — Ele faz muito bem. Ele é meu namorado, me ama muito, e eu o amo agora.

    — Que bom.

    — Oh, não sente mais ciúmes?

    Aquilo era difícil de responder. Não sabia o que sentia no momento. Por vezes múltiplas, Sungchan e Donghyuck juntos vinha em sua imaginação. O sentimento não era mais ciúmes... Talvez só conformidade.

    — Do que adianta sentir?

    — Então, você já me esqueceu?

    — Não... — respondeu em um fio de voz. — Eu penso em você toda hora. Só consigo te desejar cada vez mais. Não adianta, sempre que tento te esquecer você só aparece mais e mais na minha cabeça.

    — É uma pena. — houve um suspiro. — Porque eu já te esqueci.

    Mark fechou os olhos e sorriu, concordando com a cabeça.

    — Como se sente com isso?

    — Está tudo bem.

    — Está?

    — Sim... — Mark abriu os olhos novamente e ele continuava ali. — É um direito seu. As pessoas sempre me esquecem facilmente, com você não seria diferente, claro. Eu não sou importante. E está tudo bem. Eu só espero que você esteja feliz.

    Donghyuck sorriu de volta e ergueu a mão, mas logo a recolheu.

    — Você está feliz, Mark?

    — Não. Mas está tudo bem.

    — Por que continua repetindo isso? Dizer uma mentira várias vezes não a tornará verdade.

    — Talvez torne. Ao menos eu posso tentar me convencer. — ele murmurou, sentindo os braços molengas. — Eu só preciso aceitar e continuar vivendo, não importa mais ser feliz.

    — Sério? E como pretende aguentar viver sem ser feliz?

    — Não acho que eu vá viver muito. No ritmo que estou talvez eu dure só uns dez anos.

    — Isso é muito pouco. Eu quero viver até ficar bem velho.

    Mark o imaginou velho, usando roupas confortáveis e sentando em uma poltrona para assistir TV com os netos brincando no chão da sala. Parecia fofo. Inconscientemente pediu aos céus para que em algum universo os dois ficassem bem velhos juntos, segurando as mãos e ainda se amando.

    — Espero que você viva muito. — Mark disse, concluindo que nem bastante idoso Donghyuck conseguiria ficar feio aos seus olhos. — E que seja feliz todos os dias.

    — Obrigado. — o outro riu de modo simpático e fofo. — Sabe, houve um tempo em que eu imaginei que viveríamos juntos para sempre. — tornou a rir. — Como acha que seria?

    — Parece ótimo para mim. Eu seria muito feliz.

    — Acho que eu também. Seríamos velhos legais ou carrancudos?

    — Você seria legal. Eu, com toda certeza, seria um velho rabugento.

    Aquilo arrancou uma gargalhada de Donghyuck.

    — Bobo.

    — Você me amaria por muitos anos?

    Ele demorou a responder, mas continuou a sorrir.

    — É claro. Por toda a vida.

    — Só está dizendo isso para não me magoar.

    — Não, eu só estou dizendo isso porque é o que você quer ouvir.

    Ele levantou e caminhou até a janela do quarto, Mark o acompanhou com o olhar.

    — Não se esqueça que eu não passo de um mecanismo de defesa seu. Eu sou fruto da sua imaginação quebrada. Só sou o que você gostaria de ver agora.

    — É, eu sei.

    Hyuck virou-se para ele e sorriu.

    — Não sei até quando vou servir para te confortar, mas... — um suspiro. — Se me quer de verdade... Você sabe para que número ligar.

    E quando piscou, Hyuck nem estava mais lá. Ele voltou a estar sozinho. Encarou o telefone acima de sua escrivaninha e forçou seu corpo a ir até lá.

    — Eu te quero de verdade, Hyuck.

    Discou o número que decorou ao conseguir com Yang, colocou o telefone no ouvido e respirou fundo, ouvindo o toque compassado. Demorou quatro segundos até que ele atendesse.

    — Alô?

    Mark travou ali, abriu e fechou a boca muitas vezes e tudo o que pensou foi no quanto sentiu falta daquela voz. Tão melodiosa, meio preguiçosa, muito suave. Imaginou o garoto usando alguma roupa folgada, deveria estar em casa curtindo preguiça no domingo, nem sabia que horas deveriam ser lá naquele momento.

    Ele sorriu tristonho, fechou os olhos e sentiu que cada mínimo pedaço de seu coração estava queimando.

    — Alô? Tem alguém aí? — repetiu Hyuck, e Mark sabia que ele deveria estar fazendo uma careta confusa. — Alô?

    E Mark não disse nada, só pediu mentalmente para que ele ficasse ali pelo resto da vida. Queria tanto poder ficar escutando sua voz para sempre, nem que fosse por telefone, só queria sentir que Hyuck estava com ele.

    — Alô?

    E três segundos depois ele desligou. Mark suspirou, caindo de joelhos no chão e colocando a mão no peito, estava batendo forte demais. Discou seu número outra vez e ouviu o toque.

    — Alô? — ele tornou a perguntar, mas logo a falta de respostas o fez suspirar. — Alô? Quem tá' aí?

    Mark não disse nada outra vez. Ele só apertou o telefone e mordeu o lábio com certa força.

    — Se não falar nada, eu vou desligar de novo. — Hyuck parecia impaciente. — Qual é, eu escuto sua respiração. Por que não fala nada? Quem é?

    O canadense sentiu os olhos ardendo, o nariz começou a coçar, a visão ficou turva. Não, não, não. Não, ele não podia chorar.

    — Okay. Tchau, senhor mudo.

    E desligou. Mas Mark ligou de novo, e ligaria mais mil vezes só pra ouvir sua voz. Dessa vez demorou mais, porém Hyuck atendeu.

    — Por Deus, quem é?

    Ele abriu a boca, sentiu-se sem voz ou forças. Queria tanto falar com ele, dizer o quanto sentia sua falta e o queria por perto. Queria entrar no telefone e ir até ele, o agarrar, beijar, sentir... Mark só queria ele.

    — Olha, essa é a última vez que eu atendo. Não sei quem você é, mas essa brincadeira é muito chata. Está me fazendo perder tempo. — um suspiro. — Não volte a ligar se não vai falar nada. Tenha um bom dia.

    E desligou. Mark devolveu o telefone ao gancho e sentou na cama. Ele ficou encarando a parede sem expressar nenhuma emoção, a única coisa que denunciava o que ele sentia eram as lágrimas escorrendo das bochechas até o pescoço.

    Eu sou uma perda de tempo. Pensou. Não quero continuar atrapalhando a vida dele, eu fiz isso desde o início.

    Mark levantou e foi aos tropeços até seu guarda-roupas. Vestiu uma camisa amarrotada, colocou uma jaqueta por cima, pegou uma calça que tinha uma mancha de ketchup abaixo do bolso esquerdo, e calçou um tênis surrado. Ele foi em passos arrastados para fora de casa, aproveitou o sumiço aparente da mãe para fugir. Subiu em sua moto, colocou um capacete e saiu pilotando completamente drogado pelas ruas.

    Só Deus sabe como chegou inteiro na zona suburbana de Toronto, mas enfim estava em um bar gay que vinha frequentando já tinha uma semana.

    — Olá, chegou cedo hoje. — o barman cumprimentou com um sorriso travesso. — O que você quer hoje?

    Mark sentou a sua frente, deixou o capacete no chão e apontou para o topo de uma prateleira atrás do homem.

    — Aquela vermelha.

    — Tem certeza? Você já parece um pouco... Alto. — ele pareceu receoso.

    Mark puxou umas cédulas do bolso e bateu a mão no balcão. O homem nada mais disse, recolheu o dinheiro e foi pegar a bebida. Mark olhou ao redor, viu alguns homens se pegando, outros dançando e rindo juntos, um deles rebolava até o chão e soltava gritos animados. O canadense imaginou como seria sentir-se livre daquele jeito, deveria ser ótimo.

    — Aqui está, querido. — o barman deixou o copo ali.

    Ele observou a cor avermelhada da bebida, levou o indicador ao topo do copo e o enfiou dentro, girando os cubos de gelo delicadamente.

    — Como eu faço pra encontrar uma foda?

    O barman soltou um sorriso bonito abaixo de seu bigode, ele fez um sinal com a cabeça para a pista de dança.

    — Os que estiverem sozinhos provavelmente estão disponíveis. A maioria dos homens que vem aqui só querem transar com o primeiro que aparecer. É só flertar. Tem um motel quase aqui do lado. — passou a mão pelo cabelo dourado. — Se não quiser tanta cerimônia, há alguns bonitinhos e baratos espalhados pelas esquinas, é bem fácil fazer sexo aqui.

    Mark concordou com a cabeça e bebeu o líquido em um só gole, sentiu a garganta incendiar mas não fez careta alguma.

    — Valeu.

    E assim, ele adentrou aquele amontoado de homens que se remexiam. Sua cabeça girava, a música era incômoda aos ouvidos, e alguns dos cheiros o deixavam enjoado. Começou a mover o corpo meio desengonçado, tentou imitar aqueles homens, e alguns notaram sua presença com sorrisos de interesse. Um branquelo de olhos azulados e cabeleira negra chegou perto de Mark, dançando em sua frente e o comendo só com o olhar.

    — Você é asiático, não é? — ele praticamente gritou.

    — Tenho descendência. — Mark respondeu.

    — Ah, eu adoro homens com olhos pequenos! — tocou seu ombro, descendo os dedos pelo braço e enlaçando sua cintura. — Dança comigo.

    Não precisou responder, só se agarrou ao seu corpo e passou a dançar praticamente com o peito colado ao dele. Mark reconheceu a colônia que ele usava, era uma que Sicheng costumava usar. Se imaginou naquela situação com o líder, riu do próprio pensamento.

    Não demorou muito para aquele cara tomar seus lábios em um beijo afoito. Mark odiou aquele beijo. Era horrível, tinha um gosto péssimo, seus lábios não se encaixavam bem, os narizes se batiam como espadas, ele nem fechou os olhos. Não aproveitou, mas se permitiu continuar.

    O homem apertou sua bunda, Mark não gostava muito disso. Fechou os olhos para tentar se concentrar em algo que o desse tesão, talvez ajudasse a esquecer toda a situação desengonçada. Sentiu a língua dele deslizando por seu pescoço, apertou o ombro dele, suspirou. Aquilo não era nem minimamente bom.

    Foram longos minutos de pegação sem sentido e sem atração, até que ao se separar de um beijo, ele ouviu o homem falar em seu ouvido:

    — Quer sair daqui?

    Mark abriu os olhos e viu Donghyuck ali. O empurrou e cambaleou para trás. Em dois segundos já não era mais seu amado, era só aquele cara de novo.

    — O que houve? — o homem questionou confuso.

    Mark não o respondeu, saiu andando apressado para fora dali com o coração na boca. Foi só chegar na entrada que começou a vomitar, sentindo o corpo fraco e dolorido. Beber de estômago vazio era péssimo.

    Mark passou a mão pelos cabelos quando terminou, sentiu a testa úmida de tanto suor. Ele foi atrás de sua moto, tirou a chave do bolso e parou antes de a enfiar na ignição. Suas mãos tremiam.

    — Puta merda. Puta merda. — murmurou, sentindo o estômago embrulhar.

    Mais vômito veio e ele só conseguiu virar a cabeça para o lado e colocar mais e mais para fora. Era só um líquido amarelo fedido, não tinha nem o que vomitar. Ele respirou fundo algumas vezes e finalmente conseguiu ligar a moto, esquecendo completamente de seu capacete. Mark deu partida e foi embora dali.

    Mil coisas passaram pela sua cabeça, tudo era muito confuso. O beijo horrível. Hyuck o beijando. Estava prestes a ir pra cama com um desconhecido. Hyuck no telefone. O sorriso triste da mãe. Hyuck e ele no cemitério de automóveis. O pai batendo em seu rosto. Ele e Hyuck transando no quarto do coreano tarde da noite. Comprando drogas. Hyuck gemendo em seu ouvido. Homens não choram. A risada de Hyuck. Vômito.

    Os pensamentos foram interrompidos por uma buzina alta que fez seus tímpanos doerem pra caralho. Uma luz forte bateu contra seu rosto e ele fechou os olhos.

    Depois disso, tudo aconteceu muito rápido. Ele sentiu um impacto que fez seu corpo voar metros para longe. Bateu contra o chão, e a moto caiu sobre suas pernas causando uma dor imensa. Tudo doía, sangue escorria de muitos lugares, principalmente de sua cabeça. Mark olhou o céu, tentando entender o que aconteceu. Ouviu gritos, e a visão ficou turva.

    — Ah, meu Deus! Menino! Você está bem? Consegue me ouvir?! — era uma mulher falando, mas ele não a via, tudo se tornou escuro. — Chamem uma ambulância! Por favor, alguém chame uma ambulância!

    Enfim ele entendeu que havia acabado de sofrer um acidente, provavelmente era um carro envolvido. Sua consciência foi sumindo, mas ele conseguiu ter um último pensamento antes de apagar...

    Estou livre. Finalmente, estou livre.

    [⛸]

    E novamente Hyuck se escondia em seu quarto, abaixo das cobertas, suspirando várias vezes para acalmar a ansiedade em seu peito. Olhava a parede, e ao fundo a melodia de Time After Time percorria todo o quarto.

    Não sabia mais o que fazer com tantos sentimentos correndo sua mente. Se sentia o maior idiota do mundo. Primeiro, foi machucado. Logo depois machucou alguém.

    Ele deveria ter aceito. Será? Devia mesmo? Ele deveria estar namorando Sungchan agora. Deveria estar transando muito, beijando mais ainda e dormindo agarrado com ele. Deveria sentir seu calor e ouvir as palavras bonitas que ele dizia. Ele devia? Não. Ele não queria isso.

    Donghyuck nunca sentiu nem 1% do que sentia por Mark com Sungchan. Ele não o fazia brilhar.

    Não era quente, não fazia seu coração borbulhar em encanto, não tinha intensidade, nem mesmo o causava arrepios, não o fazia querer ficar. Não tinha amor. Hyuck nunca sentiu nada disso com Sungchan. No fundo, ele só o via como o mesmo amigo de sempre, só que agora os dois faziam coisas além da amizade. Claro que, infelizmente para Sungchan, não havia sentimento envolvido.

    Ele fechou os olhos, suspirou bem fundo e tentou organizar toda a sua mente. Não era nada fácil.

    — Eu sou um idiota.

    Era mesmo.

    — Eu joguei fora uma amizade incrível apenas por carência. Que tipo de babaca faz isso? Estúpido... Idiota...

    Abriu novamente os lumes, sentou na cama e pôde visualizar em sua mente aquele momento de mais cedo.

    "Quer namorar comigo?"

    Abraçou os joelhos e deitou a cabeça sobre eles, resmungando e grunhindo. Hyuck se odiava naquele momento.

    A porta foi aberta por seu pai, que estava vestindo uma roupa mais chique. Ele ia avisar o filho que estava de saída, mas ao ver seus olhos caídos e a expressão tristonha, apenas entrou e caminhou até ele. Jihoon sentou na cama.

    — O que houve, tampinha?

    Hyuck balançou a cabeça em negativa.

    — Vamos, me diga. Deixe o papai te ajudar. — falou com bastante amor, exalando o cuidado que tinha, convencendo Hyuck de que ali era seu porto seguro. Abriu os braços e o filho se enfiou neles, afundando o rosto em seu peito e suspirando fundo, sentindo o conforto que tanto quis. — O que aconteceu que te deixou desse jeito, meu garotinho?

    Hyuck sabia que não podia o contar totalmente.

    — Estou no meio de uma confusão amorosa.

    Jihoon sorriu e afagou seus cabelos com cuidado. Admirou as mechas amarronzadas, tinham cor de chocolate.

    — Me explique em detalhes, por favor.

    — Há uma pessoa que eu não consigo esquecer. Mas eu preciso esquecer. Eu... Nós não podemos ficar juntos.

    — E por que não?

    — Ela foi embora para muito longe.

    Jihoon associou os pontos. Sabia que era a mesma pessoa da outra vez, Hyuck já tinha o falado sobre alguém que foi para o Canadá. O pai era tão curioso, queria tanto saber quem realmente era.

    — E então?

    — Eu... Me envolvi com outra pessoa porque queria esquecer de vez ela.

    — E não deu certo?

    — Não.

    Era certo que aquilo não seria um sucesso. Pelos anos de vida de Jihoon, ele tinha consciência de que não se esquece uma pessoa com outra. Não é possível apagar alguém da sua vida e coração colocando outra pessoa no lugar para substituir. Ninguém é substituível.  O tempo se encarrega de apagar o sentimento, pode demorar ou não, mas uma hora vai. Ninguém sofre para sempre.

    — Não se deve procurar uma pessoa para substituir alguém. Não é assim que se muda um sentimento. Pessoas vão entrar em sua vida, situações vão surgir, amizades e amores também. Aos poucos seu coração vai se curando, até estar finalmente pronto para amar outro alguém. Mas desse jeito não dá certo, não assim.

    — Mas... Essa pessoa me pediu em namoro. Só que eu não quero namorar com ela. Eu só... Queria me divertir um pouco e tentar esquecer a outra pessoa. O que eu faço? Eu não quero machucar ninguém, mas... Ultimamente isso é tudo o que eu faço. Estou estragando todas as relações ao meu redor.

    Jihoon o abraçou apertado.

    — Primeiro você precisa recomeçar. Não deveria se envolver com uma menina por diversão, ainda mais se ela tiver sentimentos por você. É cruel se você não gosta dela. Tente conversar com ela, dizer como se sente. Ou você dá uma chance de tentar ser conquistado por ela, ou termina tudo de vez. Coisas que começam erradas estão fadadas a dar sempre errado.

    Hyuck suspirou e refletiu. Se seu pai estava certo, seu relacionamento com Mark sempre esteve fadado a dar errado. Começaram de uma forma péssima, infelizmente por culpa de Mark.

    — Eu... Só quero resolver tudo isso de uma vez.

    O pai afagou seus cabelos e deixou um beijo em sua testa.

    — Você não pode resolver todos os seus problemas de uma vez só, mas pode começar por um pequeno até chegar nos maiores. Me diga um problema que você pode resolver agora.

    — Fome?

    O pai riu e concordou com a cabeça, levantou e estendeu a mão para Hyuck.

    — Vamos comer, então.

    Hyuck se ergueu da cama com sua ajuda.

    — Você não ia sair?

    — Sim, mas posso fazer isso outro dia. Você é mais importante.

    Sentiu-se culpado.

    — Não, por favor, vá. Não quero sentir que estraguei sua noite.

    — Você nunca estraga nada, meu amor. Você é minha prioridade, meu bem mais precioso. Eu sempre vou estar aqui quando você precisar. E agora eu sei que você precisa de mim.

    Jihoon o deu um abraço apertado, tentando fazer com que Hyuck não se sentisse mal. Ele sempre deixaria tudo e qualquer coisa de lado pelo filho. Lembrou-se, durante o abraço, do que sua esposa falecida disse alguns meses antes de morrer:

    "Você é o melhor marido do mundo, então espero que você também seja o melhor pai. Nosso bebê será a nossa prioridade independente de tudo. Me prometa que estará sempre com ele junto comigo, ou até mesmo se eu não puder estar. Você tem que que me prometer que vai cuidar dele tão bem quanto cuida de mim."

    Naquele dia ele a prometeu isso e mais, e ainda brincou dizendo que ela sempre estaria com ele o ajudando a cumprir essa promessa. Infelizmente, o destino não deixou que isso fosse verdade. Mas ele sabia que de onde quer que ela estivesse, ela sabia que ele estava fazendo um bom trabalho.

    Os dois foram comer. Sentaram no sofá e escolheram um dos filmes que o pai tinha alugado na semana anterior: Ghost. Donghyuck comeu bastante da carbonara deliciosa feita pelo pai, e adormeceu em seu ombro depois da metade do filme. Jihoon sorriu ao ouvir um roncar baixo do filho, acariciou a mão do mais novo que repousava sobre a sua e suspirou. Ele gostaria de acabar com todos os problemas de Hyuck, queria que sua vida fosse plenamente feliz sempre. Era egoísta o bastante para desejar o guardar em uma caixinha e proteger de todo o mal.

    Adormeceu também com ele no sofá, após longos minutos tentando imaginar quem seria a moça que tirou o sossego de Donghyuck.

    [⛸]

Se fosse eu a moça, ele não iria sofrer assim, te garanto, tio Jihoon😞

O que achou? Tá gostando?
Até o próximo!

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