"Me abençoe, dispa-me
agarre sua presa de modo cruel
Deus, eu devo confessar...
Realmente invejo os pecadores."
Megan
Minha cabeça está explodindo, uma dor aguda me incomoda quando pisco meus olhos abertos. Estou tão confusa que neste momento, mal lembro quem sou. Tento achar as memórias, mas meus olhos fecham por causa da dor.
A cama que estou deitada é macia, se não fosse pelas fortes dores na cabeça, eu estaria no céu. Me viro no colchão macio e um grito sai pela minha boca.
Ace esta dormindo de modo sereno ao meu lado, eu nunca o vi tão... relaxado.
Ele parece ter se lavado, pois a sujeira e o sangue não estão mais lá, nem suas feições duras. Seu modo pacífico é uma novidade.
" Nunca lhe disseram que é feio encarar?" Ace pergunta sem abrir os olhos.
" Onde estamos?" preciso saber se não há riscos aqui.
Eu não aguento mais essa sensação de perigo em meu peito, a ansiedade de nunca saber o que me espera.
Mas principalmente...
" Como paramos aqui? O que aconteceu?" tenho tantas perguntas... "Por que não consigo me lembrar? Desde quando você dorme ao meu lado?" me forço a ir para longe do seu corpo musculoso e viril.
" Você é insuportável as vezes, Red" Ace resmunga " Eu sou uma pessoa do silêncio pela manhã..."
O cretino está realmente brincando comigo. Pego o primeiro objeto que encontro e atiro em seu rosto. Pena que o primeiro objeto que encontrei foi um travesseiro macio, deve ser esse o motivo da risada do desgraçado.
" O que aconteceu?" falo entre dentes e olho pelo quarto que nunca vi na vida " Que lugar é esse, Ace?"
A serenidade no olhar dele é o meu desespero.
Busco respostas analisando todo o quarto, com certeza eu lembraria dessa madeira nobre se a conhecesse. O que não é o caso.
Onde estão os outros? Por que não consigo sentir Noah?
" Onde está Noah e os outros?" pergunto o fulminando cada vez mais.
" Ah para! Não vai me dizer que sente falta daquele moleque chato? Sério, Meg, você tem um péssimo gosto, apenas o nome desse menino me causa tédio..."
" Desde quando você me chama de 'Meg'?" estou horrorizada " Pare já com isso!"
Mais estranho do que acordar em um quarto que não conheço, é Ace me tratando com intimidade. Tento me comunicar com Noah mas nada acontece.
" Não precisa ficar toda histérica, eles estão bem" ele suspira e levanta da cama, deixando os lençóis brancos para trás e exibindo seu corpo esculpido completamente nu.
Me viro de costas o mais rápido que consigo apertando meus olhos fechados, não quero ver esse homem dessa forma. Eu me nego a despertar o vínculo por ele.
Sua risada atrás de mim diz o quão divertido ele está achando o momento. Puxo meus poderes em um suspiro pesado e lento, o que não esperava era a sombra que me empurra contra a parede de madeira.
" Não tente usar seus poderes em mim, amor, assim você fere meus sentimentos" Olho para trás buscando encarar o filho da puta, mas a sombra demoníaca me encara com curiosidade, e não com a raiva que vi antes em suas feições animalescas " Podemos conversar como dois adultos, ou você vai continuar agindo como uma adolescente rebelde? Sabe que nunca gostei disso em você? Tão imatura..."
" Cristo! Eu vou mata-lo!" eu rosno sem lutar contra a sombra, pois ela não está me machucando, seu toque apenas formiga onde ela está tocando.
" Talvez um dia você o faça... eu não me importo na verdade" ele dá de ombros e veste calças de moletom, para minha infelicidade ele não veste nenhuma camisa.
É estranho ver Ace vestido de maneira tão casual, ele sempre está impecável em seus ternos caros, dessa forma ele até parece ser normal, e não um lunático.
Perdendo a paciência com seus movimentos despreocupados, decido sair desse quarto e arrumar um jeito de descobrir onde estou, já que Ace não fez menção de me responder.
Aproveito quando ele puxa suas sombras, mas elas não desaparecem e sim me seguem pela casa. O lugar é pequeno, mas muito bem equipado, a sala e cozinha dividem o mesmo espaço e a parte da frente é inteira de vidro, nos dando uma visão privilegiada de um vale arborizado. O som dos trovões e da chuva transmitem uma certa paz.
É realmente lindo, mas assustador. Parecido com o homem que me acompanha.
" Que lugar é esse?" meu olhar está fixo nas montanhas do lado de fora.
" Um lugar seguro" Ace responde atrás de mim me surpreendendo ao encostar seu peito nu contra minhas costas.
A camisola branca e fina que estou vestindo, não faz muito para conter o calor que passa do seu corpo para o meu.
Quando eu vesti isso?
Ace é firme, mas o que diferencia ele dos outros é que sua aura é manchada, escura e prepotente. Não sinto a mesma paz que sinto com Noah, muito menos aquele carinho.
Nada do que sinto com Ace é próximo ao que sinto com os outros, é como se a nossa ligação fosse mais forte do que nós, o descontrole é real e sufocante.
Ele me sufoca.
Eu não consigo respirar direito quando ele me toca assim, e não por sentir o mesmo calor que sinto com Shade, nem o ressentimento que tenho por Tristan, é apenas um sentimento pecaminoso e impossível.
Meus olhos fecham involuntariamente quando ele respira em meu pescoço, se eu pudesse comparar Ace com algo, seria uma pantera negra, é um poder força, mas ao mesmo tempo, há um mistério e sensualidade hipnotizante. Eu posso sentir a determinação nele, mas a sua proximidade não está certa.
A última vez que o vi tão próximo a alguém, era a sua amante.
Isso basta para eu despertar da sua magia sedutora, e bater com meu cotovelo em seu estômago. Para a minha frustração, ele não se afasta, apenas segura minha cintura com suas mãos ásperas.
" Gosto dessa sua energia caótica pela manhã, Meg" ele sussurra esfregando seu nariz contra meus cabelos.
" Me leve para casa..." minha voz sai mais arrastada do que eu pretendia.
" Você está em casa, amor" o bastardo sorri, isso prova o quanto as coisas estão erradas " Nós não precisamos deles, podemos viver apenas nós dois aqui. Consegue imaginar nossa vida sem o medo da guerra, de não saber o dia de amanhã e todo aquele drama de vínculo... isso parece perfeito para mim."
Me viro para encará-lo, algo em seus olhos me confirmam que ele não está brincando comigo, o brilho neles é diferente do que ele lançava antes, como uma veneração.
" Mexeram com sua cabeça?" é uma pergunta genuína, já que ele arrancou a cabeça de um psicopata... as memórias voltam dolorosamente, a tortura e o enjoo me deixam doente.
" Calma, amor! É por isso que eu não queria liberar suas memórias, isso é doloroso..."
" Que merda você fez, Ace?" A indignação e repulsa por lembrar o que ele fez me fazem vomitar no chão aos seus pés.
" Por favor, não comece um discurso agora, porque você precisa descansar. Prometo que vamos conversar quando você se alimentar e descansar mais um pouco..." empurro suas mãos para longe e caminho em direção a porta, mas ele é mais forte que eu " Não me obrigue a usar meus poderes em você de novo, elas não gostam quando eu faço isso."
" Elas quem?" pergunto com o cenho franzido e olho para os lados, tentando descobrir do que ele está falando.
" As sombras... elas gostam de você."
De que merda ele está falando?
Antes que eu possa verbalizar as palavras que ecoam em minha mente, as sombras diabólicas se espalham pela pequena sala, elas me encaram, mas como sempre, eu não sinto medo delas, apenas é curioso suas formas desconexas e ameaçadoras.
Eu já vi o que elas podem fazer, isso realmente me excita.
Estou ficando tão louca quanto esse doente.
" Elas nunca gostam de ninguém, principalmente quando alguém se aproxima de mim, mas você..." ele olha para as figuras espalhadas " É como se elas sentissem você, tanto quanto eu. Quando estamos juntos, elas ficam caladas, esperando cada reação sua com ansiedade. Não sei explicar como isso acontece, mas tenho certeza que elas são tão suas, quanto minhas."
Meus olhos saltam arregalados quando repito suas palavras lentamente, tentando entender o que ele quis dizer, mas um detalhe me pega de uma forma...
" Elas falam?" que porra? Não, não, não.
Eu bati minha cabeça e isso é um grande pesadelo. É isso!
" Elas falam apenas comigo, relaxa, elas não irão sair falando com você assim. Apenas se você quiser..."
" Eu não quero!" grito para Ace mas caminho pela sala encarando as sombras " Não falem comigo, podemos achar outro jeito de nos comunicar, ok? Apenas..." Eu não quero ouvir demônios falando.
Como parei nisso? Eu estou ficando louca...
" Baby, você consegue me escutar?"
A voz de Noah me assusta, por uns segundos pensei que fosse uma das sombras, mas me dou conta que isso surgiu em minha cabeça.
" Noah!" choramingo em voz alta.
Eu só queria poder abraçá-lo, sentir seu cheiro limpo, o calor dos seus braços e seus sorrisos doces para me sentir segura de novo.
Tudo está uma bagunça. Estou longe do meu companheiro, um deles me levou para o seu pai psicopata e o outro matou o indivíduo... O que ele fez com Tristan?
Será que eu realmente me importo com o que possa ter acontecido com ele?
" O que você fez com Tristan?" pergunto com certa cautela, sem saber se irei gostar da resposta.
" Pensei que você gostasse do menino Noah, mas vemos que seu coração tem lugar para todos, até para os sádicos... isso é bom, muito bom" o sarcasmo da sua voz me irrita tanto quanto me alivia em saber que seu olhar doce sumiu " Significa que também tenho chances!"
Eu posso lidar com um Ace ácido, jamais com ele sendo doce.
Não quero vê-lo mais do que ele realmente é, mesmo com a distorção que o vínculo faz. Vínculo esse, que estou fingindo a inexistência, desde que o vi nu tempo atrás.
Ace é cruel, tanto quanto Tristan, eu não vou cair em suas armadilhas, não importa o quanto meu corpo traidor queira isso.
" Tristan infelizmente está vivo, eu deixei ele aos cuidados de Nate antes de trazer você para cá."
" Nate sabe que estou aqui?" Ele decidiu me deixar aqui para a minha proteção?
Jamais.
Nenhum lugar com Ace é seguro.
" Não foi isso que eu disse..." Ace desliza preguiçosamente para a cozinha e começa a fazer duas xícaras de café.
" Então ele não sabe que estamos nesse lugar?"
Ace permanece de costas para mim, e eu continuo aguardando sua resposta por longos segundos.
" Eu já disse que gosto de silêncio pela manhã? Falaremos depois do café, mas já adianto que você é minha e não me importo se quer estar aqui ou não. Seu lugar é ao meu lado, e aqui vamos permanecer até eu achar seguro sairmos daqui."
Se não fosse pela cadeira, eu teria caído no chão.
As fagulhas do meu poder estão de volta, mas elas me traem tanto quanto meu corpo, eu não consigo mexer com sua alma.
" Você pode brincar com a minha alma quando quiser, Meg..." ele se vira e larga a xícara quente em minha frente sobre a ilha " Minha alma é toda sua. Não era isso o que você queria?"
Por que no inferno ele piscou? E por que isso fica tão atraente nele?
Noah precisa me encontrar, antes que esse maluco me afogue em suas alucinações distorcidas.