NOVA Berlim 2099

By LeoACS

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Após a Terceira Guerra Mundial, em 2023, poderosas potências globais foram completamente arruinadas e muito d... More

Prefácio
Berlim, 08:10 - 18.02.2099.
Berlim, 09:40 - 18.02.2099.
Berlim, 11:02 - 18.02.2099.
Berlim, 13:18 - 18.02.2099.
Berlim, 14:43 - 18.02.2099.
Berlim, 08:53 - 19.02.2099.
Berlim, 16:47 - 19.02.2099.
Berlim, 19:11 - 19.02.2099.
Berlim, 21:01 - 19.02.2099.
Berlim, 09:33 - 20.02.2099.
Berlim, 16:00 - 20.02.2099.
Berlim, 17:13 - 20.02.2099.
Berlim, 19:27 - 20.02.2099.
Berlim, 21:14 - 20.02.2099.
Dossiê Introdutório - Dados Históricos - Terceira Guerra Mundial, 27.11.2023.
Dossiê Introdutório - Dados Históricos - O Grande Terremoto Mundial, 04.07.2025.
Dossiê Introdutório - Dados Histórico-Analíticos - Europa, 2025 à 2099.
Dossiê Pessoal - Anderson, Keith
Dossiê Pessoal - Johansen, Adler
Dossiê Pessoal - Lweiz, Alana
Dossiê Pessoal - Moss, Karen
Dossiê Pessoal - Stoltz, Hellen
Dossiê Pessoal - Alhazred, Yasser
Dossiê Pessoal - Falthouser, Ian
Dossiê Tecnológico - Glossário Bélico e Científico - Europa, 2099.

Berlim, 08:18 - 20.02.2099.

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By LeoACS

Após quarenta e oito horas passadas sem contato algum de nosso agente, assumimos oficialmente que havia sido capturado ou eliminado. Decidimos, então, declarar a missão como falha, para em seguida retomarmos ao nosso cronograma, revisando nossas estratégias em busca de erros a serem sanados e novas medidas táticas a serem tomadas. A sua captura resultaria-nos em um considerável atraso a longo prazo, de acordo com nossas metas, obrigando-nos à vergonhosa necessidade de admitirmos que havíamos subestimado os chefes da segurança interna da DCE e, que de agora em diante, teríamos de calcular nossas projeções com mais cautela.

Os dados que nos haviam sido enviados informavam que, de acordo com o sistema de controle de acesso interno, os chefes do DSI praticamente não estiveram presentes durante o dia de ontem, retornando apenas próximo do fim do expediente. Disso seguiu-se, então, outra ausência, visto que ainda ocorrera o seu retorno ao final da noite. Também segundo as informações posteriores a nós enviadas, os chefes da segurança interna da DCE haviam, na presente data, registrado sua entrada em um horário demasiadamente precoce, em relação aos seus horários antecedes e comumente praticados por eles. Toda essa movimentação indicava que, obviamente, algo estava sendo perpetrado.

As impossibilidades que agora enfrentaríamos pairavam sobre a oportuna vantagem estratégica que haviam adquirido os chefes do DSI.

Na noite anterior, pouco antes que os chefes da segurança interna deixassem as instalações da DCE, o Tenente Johansen questionou-os sobre a possibilidade de o grupo chegar mais cedo, no dia seguinte, e se encontrar na ala funcional do refeitório. Havia dito isso pouco antes de entrarem em seus respectivos carros, para em seguida deixarem o prédio.

Era exatamente essa a lembrança que a Tenente Moss tinha em mente, no exato momento em que o elevador abriu suas portas, dando-lhe acesso ao refeitório da Dan-ho Enterprises. O trânsito próximo ao centro da cidade havia lhe tomado mais tempo que o normal e questionava-se agora se novamente estaria chegando atrasada.

Rapidamente, verificou o horário local, agora em seu campo de visão, enquanto procurava por seus colegas em meio aos muitos funcionários que estavam tomando o seu café da manhã. Vários deles, enquanto caminhava pelo refeitório, cumprimentavam-na ao mesmo tempo em que sobre ela lançavam um olhar incógnito que a Tenente Moss preferia ignorar. Poucos instantes depois, ela avistou seus colegas, algumas mesas à frente, sentados com vários de seus subalternos da segurança interna. Caminhou então na direção da mesa, observando que a Tenente Lweiz parecia-lhe um pouco apática, enquanto apenas os tenentes Anderson e Johansen conversavam tranquilamente com alguns sargentos e agentes da segurança.

Porém, ao se aproximar, todos aqueles sentados à mesa lançaram sobre ela o mesmo curioso olhar que anteriormente a cobria, ao que então ela não foi capaz de conter-se, perguntando-lhes indignadamente:

- Qual é?!

- Que óculos maneiros são esses aê?! - perguntou-lhe o Tenente Anderson curiosamente.

O Tenente Anderson teve então a impressão de que a Tenente Moss o havia fitado por alguns segundos antes de lhe responder, mas não pudera ter total certeza devido ao fato de não poder ver os olhos de sua colega, que se encontravam escondidos por trás do curioso dispositivo que ela portava.

O visor dos supostos óculos era formado por uma única peça vítrea completamente negra, acompanhando a curvatura craniana à frente dos olhos e firmemente preso a uma moldura chanfrada. Essa moldura possuía uma base abaulada que lhe cobria completamente suas órbitas oculares, tendo o que parecia ser um confortável descanso sobre o nariz, além de largas e espessas hastes de apoio, que estavam sobre suas orelhas e que possuíam um formato que insinuava comportar algum tipo de circuito eletrônico.

- É o HoloVisio24 mais recente do mercado! Eu tinha comprado semana passada pela internet, mas o correio só o entregou ontem à tarde - respondeu-lhe ainda indignada com o desnecessário comportamento curioso de seus colegas.

24. Dispositivo semelhante a óculos que permite que o usuário conecte-se a qualquer dispositivo holográfico e assim veja projetado apenas em seu campo de visão os mesmos dados holográficos quer seriam projetados pelo dispositivo conectado. Usando a mesma orientação espacial, permite que o usuário toque e interaja com os hologramas que se encontram em seu campo de visão.

- Sei... - continuou o Tenente Anderson ainda com o mesmo tom - e pra quê?

- Pra quê?! Estou cansada de usar esse HoloPhone e ficar parecendo uma árvore de natal com todos esses hologramas ao meu redor! - respondeu-lhe quase que por entre os dentes enquanto colocava ambas as mãos sobre sua cintura. - Sou uma atiradora e gosto de discrição!

- Certo. Então... - perguntou-lhe o Tenente Johansen, tentando mudar o assunto - vai tomar seu café com a gente?!

- Claro que sim! - respondeu-lhe rispidamente, enquanto seguia em direção aos balcões expositores do buffet, desfazendo-se rapidamente de sua indignação, pois percebera que havia escapado do questionamento sobre seu atraso.

Após servir seu café da manhã, estranhamente semelhante ao jantar da noite anterior, a Tenente Moss retornou à mesa e sentou-se junto da equipe da segurança interna.

Os chefes da segurança passaram mais alguns minutos na companhia de seus subalternos e, enquanto aguardavam a Tenente Moss terminar o seu café da manhã, discutiam com seus sargentos a respeito da possibilidade de uma reformulação na estrutura do Departamento de Segurança Interna, cogitando a aquisição de novos equipamentos de vigilância, armamentos e sobre um possível aumento do atual contingente. Esta confabulação ocorrera, em sua maior parte, liderada pelos tenentes Johansen e Anderson. A Tenente Lweiz nunca se sentia à vontade no refeitório funcional e apenas preferiu pontuar alguns detalhes técnicos - hábito misantrópico subconscientemente adotado desde que fora ameaçada de ser expulsa de casa por seu pai, sendo, em seguida, obrigada a ingressar o curso de oficiais do GSG9, em 2090 -, enquanto a Tenente Moss concentrava-se em sua comida.

Ao encerrarem a discussão, juntamente com a refeição da Tenente Moss, os chefes da segurança interna levantaram-se da mesa, argumentando que precisavam tratar de outras questões de segurança, recebendo então os agradecimentos e despedidas de seus subalternos, enquanto seguiam para fora do refeitório.

Cumprimentaram outros funcionários ao longo do percurso, porém, ao saírem do recinto, e se aproximarem do painel de acesso dos elevadores, a Tenente Lweiz requisitou um deles enquanto retrucava:

- Vocês dois e essa intimidade excessiva com a equipe!

O Tenente Anderson então apenas torceu seu semblante, enquanto o Tenente Johansen respondia-lhe:

- Vale a pena ter o carisma de seus homens. Nem que seja pra usá-los depois! Deveria pensar no caso.

- Tenho razões pessoais pra não fazer isso.

- Ok, faça como achar melhor - disse-lhe o Tenente Johansen cruzando seus braços, pouco antes de um dos elevadores alcançá-los, abrindo suas portas em seguida.

Ao entrarem no elevador e após cada um deles requisitar seu respectivo andar, a Tenente Moss retirou seu HoloVisio, perguntando-lhes enquanto guardava-o em um bolso de seu sobretudo:

- Vamos rever nosso plano?

- Vamos pro DataLink e depois veremos isso - respondeu-lhe a Tenente Lweiz, pouco antes de o elevador parar no andar da Tenente Moss.

- Ok - concordou a Tenente Moss antes de sair do elevador.

Em seguida, os outros chefes da segurança chegaram, um a um, em seus respectivos andares, sendo a Tenente Lweiz a última a fazê-lo. Mal entrou no hall de seu escritório e novamente sua secretária procurou entregar-lhe seus recados acumulados e outros documentos para serem autenticados. A Tenente Lweiz, que não queria ser incomodada ao longo do dia, acabou suspirando em conformidade e tomou os documentos que lhe foram entregues, dizendo que em breve os devolveria autenticados.

Entrando então em sua sala, a Tenente Lweiz sentou-se à sua mesa e acessou o DataLink do DSI, surgindo então à sua frente as projeções de seus colegas, dizendo-lhes em seguida:

- Podem começar! Eu preciso autenticar algumas coisas.

- Certo. Vejamos... - disse o Tenente Johansen, tentando iniciar a revisão de planejamento, mas foi nesse instante interrompido pelo Tenente Anderson, que retrucou:

- Argh, cara... na boa! Vamos mesmo rever isso?! Conversamos sobre isso ontem à noite! Estamos parecendo um bando de velhos esclerosados!

As duas moças presentes no DataLink riram da situação, uma conquista rara do Tenente Anderson, o que se seguiu pela colocação do Tenente Johansen, em tom de desistência:

- Tá... tudo bem. Mas então, Alana. Quando pretende ligar pra aquele escroto e marcar o encontro?

- Vamos definir o local antes! Eu vejo isso depois - respondeu-lhe de cabeça baixa, enquanto lia e autenticava os documentos eletrônicos sobre sua mesa.

- Certo! - exclamou o Tenente Johansen, formando um semblante de decepção em seu rosto, ao notar que a Tenente Lweiz não opinaria muito nesse momento.

- E como pretendem arrancar as informações do cara? - perguntou-lhes a Tenente Moss curiosamente. - É óbvio que ele vai fazer um escândalo dos infernos!

- É... com certeza vai, sim! - respondeu-lhe o Tenente Anderson jocosamente. - Como falei ontem... estava pensando em pedir pro doutor mais uma leva daquele soro da verdade.

- Concordo - disse-lhe o Tenente Johansen, porém em tom de desânimo - Mas isso ainda não vai garantir que aquele lunático fique quieto. Podíamos ver com ele algum tipo de soro paralisante ou algum anestésico pra cavalo.

- Boa, também! - pontuou a Tenente Moss friamente - Mas e depois? Vamos matar o cara?

- Só se precisarmos. Por quê? - perguntou-lhe o Tenente Johansen, estampando curiosidade em seu rosto, após a colocação vinda da Tenente Moss.

- Humpf... vamos deixar o cara solto depois de o drogamos e arrancarmos o que queremos dele?! Isso sem contarmos com a possibilidade do Keith procurar alguma coisa dentro dele! - terminou a Tenente Moss sua colocação, estampando um sorriso sarcástico em seu rosto.

- AUhAuAHuhAUhaUhAUhuaH! Está pegando o jeito, garota! - respondeu-lhe o Tenente Anderson, após gargalhar ironicamente através do DataLink.

- Vá se ferrar! - retrucou a Tenente Moss ainda em tom de sarcasmo.

- É... concordo - respondeu-lhe descontraidamente o Tenente Johansen. - Bom, podemos ver com o doutor se ele também pode sintetizar algum tipo de soro pra apagar memórias recentes.

- Argh... qual é, Adler?! - incrédula retrucou a Tenente Moss. - Acha mesmo que aquele descabelado vai dar conta de fazer todos esses soros?! Nem temos o tempo necessário pra isso!

- Humpf... independente disso, eu vou expor a necessidade e ver o que ele vai falar - respondeu-lhe o Tenente Johansen em tom insatisfatório.

- Beleza, então! - interrompeu o Tenente Anderson, enquanto acessava a internet. - Só que, desta vez, eu vou molhar a mão do cara!

- Pretende subornar um médico?! - admiradamente indagou a Tenente Lweiz, ainda de cabeça baixa.

- Não! Não! - respondeu-lhe enquanto navegava através de sites de vendas de produtos usados ou exóticos. - Pensei em comprar algo pro cara. Só pra dar aquela animada.

- Entendo. E o que tem em mente? - perguntou-lhe o Tenente Johansen em um tom de concordância.

- Sei lá! Não conheço o cara! Pensei em um cachimbo ou algo desse tipo.

Em seguida, o Tenente Anderson passou calmos momentos em silêncio, enquanto limitava sua busca apenas para os sites que pertencessem às lojas localizadas em Berlim, e que possuíssem itens para pronta-entrega. Os curtos momentos em que o grupo aguardou-o, enquanto verificavam e-mails ou cuidavam de outras obrigações, foi brevemente interrompido, ao escutarem:

- Achei!

- O quê? - perguntou-lhe a Tenente Moss curiosamente.

- Uma caixa fechada de charutos cubanos! Aqui mesmo em Berlim. Vamos ver... caixa com dez unidades... mil e quinhentos créditos?! PUTA QUE ME PARIU!

- AUhuahuAHahauAHuhauaHhAU! Boa! - disse-lhe a Tenente Moss após gargalhar da decepcionante surpresa do Tenente Anderson. - Aposto que esses aê ainda são dos vagabundos! Acho melhor comprar um chiclete pra ele!

- Calma! Isso é trabalho - respondeu-lhes o Tenente Johansen. - Deixemos que a empresa pague por nossos custos. Ainda estou com o número de sua conta aqui, Keith.

Dito isso, o Tenente Johansen então retirou de sua carteira o cartão não nominal que haviam recebido de Falthouser e, colocando-o sobre sua mesa, transferiu o valor citado para a conta bancária do Tenente Anderson, dizendo-lhe em seguida:

- Ok! Já está lá. Pode mandar ver!

- Valeu! Foi fechar aqui então... é... não tem problema.

- O que foi?

- Não, nada! Fiquei na dúvida de pagar um adicional de cinquenta créditos pro serviço de entrega imediata, mas já foi. Só vou mudar o endereço de entrega e acho que em uns vinte minutos deve chegar aqui, no máximo.

- Certo! Então vamos levantar a ficha do alvo - disse-lhes a Tenente Lweiz, enquanto acessava o link da DCE junto à DP de Berlim.

- Terminou com sua papelada? - perguntou-lhe o Tenente Johansen.

- Sim, já! Bom... vejamos... - interrompeu-se a Tenente Lweiz, enquanto tomava em mãos sua delicada carteira e dela retirava o cartão que havia recebido do líder religioso, na noite passada, inserindo em seguida o nome do alvo no sistema externo de busca.

- Ok! John McAllister, filho de americanos, quarenta e sete anos, ainda em seu primeiro casamento, três filhos... - por alguns instantes, a Tenente Lweiz murmurou algo, conotando que devia estar pulando vários trechos de texto. - É... não tem nada de mais! Nunca foi militar ou mesmo já teve algum tipo de envolvimento com política. Não existe nenhuma ocorrência policial e nem sequer uma única multa de trânsito!

- Argh... legal! - retrucou o Tenente Anderson, insatisfeito. - Todo mundo agora é santo!

- Isso não existe - disse-lhe o Tenente Johansen soturnamente.

- Com certeza! Ainda mais se estiver aceitando doações de organizações militares - concordou a Tenente Moss, enquanto acessava o servidor criptografado de acesso anônimo, disponibilizado pelo departamento de tecnologia da DCE, que era alimentando por seus poderosos computadores centrais. - Alana, me passe o endereço do cara. Eu vou tentar monitorar sua movimentação.

- Sério?! - perguntou-lhe a Tenente Lweiz estupefata. - Vai ser um prazer!

A Tenente Lweiz enviou-lhe então os dados do alvo e recostou-se desleixadamente em sua poltrona para observar curiosamente a tentativa da Tenente Moss, por meio da conexão de vídeo do DataLink, lembrando-se do período em que desenvolvera suas habilidades tecnológicas, logo após ter sido contratada pela DCE. O Tenente Johansen então torceu incrédulo o seu semblante - ao compreender que novamente a Tenente Moss procurava, inconscientemente, equiparar-se à Tenente Lweiz - e, cruzando os braços, também recostou-se em sua poltrona, lançando seu olhar disperso e desinteressado ao horizonte. Notando a postura desses dois hackers experientes, o Tenente Anderson apenas cruzou seus braços, apoiando-os sobre sua mesa, e passou a observar a movimentação de seus colegas.

Após ter recebido os dados do alvo e tê-los inserido em um sistema de rastreamento, a Tenente Moss procurou por conexões de dados em vídeo que estivessem próximas ao local demarcado. As informações iniciais indicavam que, à frente do exato endereço, existiam centrais de transmissão de dados que indicavam a presença de câmeras de segurança pública. Acionando uma rotina de invasão, a Tenente Moss então passou a ativar vários sequenciadores de códigos randômicos para a quebra de segurança, em busca de uma brecha no sistema.

Não tinha familiaridade com o processo, mas sabia que deveria adquiri-la, pois tinha a certeza de que o momento em que não poderia contar com o Tenente Johansen ou a Tenente Lweiz um dia chegaria. Sua tensão aumentava a cada falha de invasão, ainda mais por estar ciente de que seus colegas a observavam enquanto ela tentava burlar a segurança do sistema de vigilância pública. Podia perceber, a cada instante que se passava da eternidade na qual mergulhara, que sua temperatura corporal estava aumentando lentamente com a tensão que lhe engolfava, como se uma densa nuvem de vapor estivesse lentamente invadindo sua sala. Percebeu então que estaria prestes a suar e que precisaria aumentar a potência do ar condicionado de sua sala, no mesmo momento em que pensou que, se o Tenente Johansen ou a Tenente Lweiz o estivessem fazendo, provavelmente eles já estariam monitorando o alvo através das câmeras de segurança que teriam encontrado na privada do banheiro.

Quase dois minutos haviam se passado desde que iniciara a invasão e, nesse exato instante, a Tenente Moss foi capaz de acessar o sistema interno de monitoramento público, surgindo à sua frente a tela principal de acesso que requisitava nome e senha do usuário. Ao ter visto esse holograma ser projetado sobre sua mesa, a Tenente Moss fechou seus olhos e suspirou aliviada, sentindo então que o tremor de suas mãos havia diminuído. Porém, seu alívio fora apenas temporário. Ela sabia que agora precisaria acionar outra rotina de invasão que, por meio de força bruta, inseriria no sistema um nome de usuário e senha válidos. Disparou então o processo e, nesse instante, uma tempestade de ideias a avassalou. A tensão que antes a engolfara havia retornado e sabia que esse seria o momento decisivo de sua tentativa, vendo-se então dividida entre o glorioso sucesso de sua invasão e o reprovador olhar do Tenente Johansen, além das críticas ácidas do Tenente Anderson.

- Eu consegui! - exclamou então a Tenente Moss, em profunda satisfação e surpresa, segundos após o sistema haver confirmado-lhe os dados inseridos, dando-lhe acesso ao sistema de controle de câmeras definido para a região em que se localizava a residência do alvo.

- Meus parabéns! - congratulou-lhe soturnamente o Tenente Johansen, ainda mantendo sua postura apática.

Caindo, então, em si, a Tenente Moss olhou rapidamente para a tela que exibia o Tenente Anderson, em sua sala, estampando agora um inconformado olhar de derrota e frustração, por ter a simples consciência de que essa não era a sua área de especialização.

- Estou pegando o jeito, garoto! - disse-lhe então a Tenente Moss, estampando um sorriso maliciosamente sarcástico em seu rosto.

- Por gentileza, divida o link conosco, Karen - impacientemente pediu-lhe a Tenente Lweiz.

- Agora! - respondeu-lhe a Tenente Moss, procurando antes pelo ângulo mais adequado e lhes enviando, em seguida, o link de uma câmera que capturava toda a fachada da entrada do prédio, além de sua entrada principal e a entrada do estacionamento subterrâneo.

- Muito bom, Karen! - elogiou-a o Tenente Johansen, nesse momento, em um tom menos indiferente. - Vai tentar também invadir o sistema de vigilância do prédio?

- Com certeza! Só um instante - respondeu-lhe a Tenente Moss, localizando na internet o site administrativo do prédio, e disparando então, outro processo de invasão por meio de força bruta, na tentativa de quebrar sua segurança interna.

Não levou mais que dez segundos para fazê-lo e, ao invadir o sistema, a Tenente Moss acessou o controle de vigilância predial em busca de câmeras internas, mas nada encontrou.

- Lamento, Adler. Mas eles não têm câmeras de vigilância residencial - respondeu-lhe isso com certa frustração, enquanto concluía que, após suas invasões, o arquivo interno que o Tenente Johansen tentou hackear, dois dias antes, deveria possuir uma sistemática de segurança inimaginável.

- Não tem importância, Karen - respondeu-lhe a Tenente Lweiz. - Essa conexão já nos será suficiente pra sabermos se o alvo estiver tramando algo antes do nosso encontro. Recomendo que grave o vídeo ao longo do dia.

- Farei isso. Mas pretendo também passar o dia monitorando a entrada do prédio. Pra garantir que não percamos nenhum detalhe.

- Sem problemas! - pontuou o Tenente Johansen nesse instante. - Então... o que faremos agora?

- Não vamos alugar um local?! Alguém tem algo em mente? - indagou-lhes a Tenente Lweiz curiosamente.

- Bom... - tentou responder-lhes o Tenente Anderson nesse momento - eu pensei em um apartamento bacana, mas nada de extravagante. Algo próximo do centro, pra não dar a suspeita de ser uma armadilha.

- Concordo! - disse-lhe a Tenente Lweiz. - Mas não podemos usar um apartamento muito próximo ao centro. Corremos o risco de nem podermos pagar o aluguel.

- Fora o risco de chamarmos a atenção - pontuou o Tenente Johansen. - Precisamos de um local que possamos também ter alguma discrição. Acho que podemos estabelecer o teto de cinco mil créditos, como valor de aluguel, pra podermos começar a procurar por algo.

- E vamos mesmo gastar cinco mil pra uma única noite? - indagou-lhe reticente a Tenente Lweiz.

- Eu suspeitaria se eu fosse convidado pra um apart-hotel ou algo assim! - exclamou o Tenente Anderson.

- Eu realmente não acredito que vou dizer isso, mas... - estupefata disse-lhes a Tenente Moss - eu vou ter de concordar com o Keith.

- Depois dessa, eu não vou falar mais nada! - incrédula. respondeu-lhe a Tenente Lweiz.

- Tá bom! - retrucou jocosamente a Tenente Moss. - Mas e quanto ao posicionamento geral do grupo? Pretendem também alugar um outro apartamento, do outro lado da rua pra posicionarmos um atirador?

- Um atirador, é?! - questionou-lhe sarcasticamente o Tenente Anderson.

- Não se preocupe com isso, Karen - respondeu-lhe sucintamente o Tenente Johansen. - Podemos garantir sua posição de outras maneiras. Eu te passarei o gerador criptográfico de senhas que ganhamos de presente da Otan e você poderá invadir um prédio qualquer à frente do local.

- Perfeito! Eu vou...

- Peraê! Só um segundo! - interrompeu-a o Tenente Anderson, enquanto atendia sua secretária, ao comunicador. - Tenente Anderson falando. Diga, meu anjo!

- Senhor, uma tabacaria do centro da cidade acaba de entregar uma encomenda em seu nome. Devo recebê-la e pedir para lhe trazerem um cinzeiro?

- Pode autenticar. Já está pago. Daqui a pouco eu pegarei o pacote, mas essa porcaria não é pra mim, não!

- Sim, senhor.

- Então, Adler?! - indagou o Tenente Anderson após fechar esse canal de comunicação. - Vamos falar com doutor?

- Tô nessa! Vocês duas se importariam de começar a procurar por um apartamento? - perguntou-lhes o Tenente Johansen, após se voltar para as respectivas telas de suas colegas.

- Sem problema nenhum! Tchaau! - respondeu-lhe a Tenente Lweiz, voltando-se para sua tela principal e iniciando sua busca.

A Tenente Moss então procedeu igualmente, ao mesmo tempo em que monitorava o prédio residencial de seu alvo, enquanto os tenentes Anderson e Johansen saiam de suas respectivas salas, deixando o DataLink conectado, o qual ainda transmitiu:

- Te encontro na enfermaria, cara.

- Ok.

Rapidamente, o Tenente Anderson saiu de sua sala, passando à frente da mesa de sua secretária para recolher o pacote que havia sido entregue, dizendo-lhe que voltaria em breve. Seguiu apressadamente até o corredor de seu andar, aguardando que o painel de acesso dos elevadores lhe indicasse aquele que havia sido tomado pelo Tenente Johansen. Ao notar qual deles havia partido do andar de seu colega, o Tenente Anderson requisitou-o, rasgando em seguida o embrulho usado para proteger a entrega, deixado então à vista a caixa de charutos que havia encomendado.

Momentos depois, o elevador parou em seu andar e, ao abrir suas portas, o Tenente Johansen fitou seriamente o Tenente Anderson, parado firmemente à sua frente, ainda nos corredores, que lhe devolvia o mesmo frio olhar que havia recebido. Alguns segundos se passaram enquanto eles encaravam-se agressivamente, até que, de repente, os dois começaram a rir sem nenhum motivo aparente e o Tenente Anderson entrou no elevador.

Outros segundos mais foram gastos para alcançarem a enfermaria e, ao que o elevador abriu suas portas, os dois começaram a caminhar firmemente para fora, em direção ao escritório do médico-chefe. Seguiam quase em marcha e, ao passarem por um dos enfermeiros que estava no corredor, este os cumprimentou, estranhando a caixa de charutos que era levada pelo Tenente Anderson.

Após virarem o último corredor de seu percurso, alguns passos a mais foram dados para alcançarem a porta do escritório, que o Tenente Johansen abriu abruptamente. Nesse instante, haviam encontrado o Doutor Alhazred desleixadamente com o pé esquerdo apoiado à beira da mesa, que usava para sustentar seu peso e empurrar sua poltrona para trás, mantendo assim sua cabeça pendente enquanto saboreava o cigarro que tinha nos lábios.

A entrada inesperada dos dois chefes do DSI o assustara o suficiente para que seu pé escapasse rapidamente da beira da mesa, indo assim pesadamente de encontro ao chão e fazendo com que seu corpo fosse quase que catapultado à frente por sua poltrona, ao associá-la a esse movimento a pressão da mola de apoio do assento. Desequilibrado, ele precisou apoiar suas duas mãos sobre a mesa para que evitasse bater nela, com a cabeça, o que fez com que cuspisse acidentalmente seu cigarro ao chão.

Em seguida, desesperadamente ele arremessou seu pavoroso olhar sobre aqueles que haviam invadido seu escritório esfumaçado, que notaram claramente que não tinha feito sua barba desde a última vez que o viram, e que muito menos havia trocado suas roupas até o dado momento. Ambos contiveram suas expressões de assombro, enquanto o Tenente Anderson cogitava que o homem à sua frente deveria ser um viciado em trabalho e o Tenente Johansen imaginava que, provavelmente, a esposa desse coitado deveria ser simplesmente insuportável.

- De novo?! - retrucou o Doutor Alhazred, após formar instantaneamente um semblante de ferrenha indignação enquanto recolhia seu cigarro do chão, colocando-o em seguida de volta à boca para acendê-lo novamente com um clássico isqueiro militar que retirara do bolso de seu jaleco.

- Eu sou um médico! Por que diabos vocês não marcam uma hora?!

- Ahn... foi mal, doutor! Bateremos na porta da próxima vez - respondeu-lhe o Tenente Anderson, enquanto aproximavam-se de sua mesa.

- Melhor! O que posso fazer por vocês? Aliás... seu prisioneiro não acordará tão cedo, se é que é por isso que vieram.

- O cara que se dane! - indiferentemente respondeu-lhe o Tenente Johansen. - Estamos precisando que o senhor nos quebre outro galho, doutor.

- Então?

- Estamos precisando de mais algumas doses daquele soro da verdade que o senhor produziu, além de um soro paralisante ou algum tipo de anestésico - responde-lhe o Tenente Anderson sucintamente.

- Certo. Eu salvei a fórmula que usei da última vez. Vai ser tranquilo. Já o anestésico... posso lhes dar algumas doses de morfina.

- Não seria a melhor opção, doutor - retrucou o Tenente Johansen. - Precisamos de algo que não altere o estado de consciência do indivíduo, pra que ainda seja capaz de responder nossas perguntas.

- Entendo... então vocês vão precisar de um bloqueador neuromuscular. É um adjuvante que usamos, juntamente com a anestesia, para evitar certas complicações durante uma cirurgia. Eu só vou precisar fazer alguns cálculos e talvez diluir parte da fórmula, para que não sejam paralisados os músculos necessários à respiração e seu alvo morra por insuficiência respiratória. Além do mais, caso neutralizada a musculatura facial, provavelmente vocês terão apenas balbucios.

- Ahm... vá com mais calma, doutor - retrucou o Tenente Anderson estampando-lhe um semblante de incompreensão.

- Fato! Principalmente porque precisamos de algo mais - exclamou-lhe o Tenente Johansen estampando o mesmo semblante que o Tenente Anderson.

- O que mais querem?

- Também precisaremos de algum tipo de soro capaz de apagar a memória, ou provocar amnésia.

- Certo. Posso sintetizar algumas enzimas que provoquem este tipo de efeito. Vocês querem lobotomizar quimicamente alguém? - incisivamente perguntou-lhes o Doutor Alhazred, lançando sobre eles um olhar inquisidor.

- Não, doutor - respondeu-lhe o Tenente Johansen tentando acalmar a discussão. - Precisamos de algo em torno de vinte e quatro ou quarenta e oito horas. Nada mais!

- Entendo - disse-lhes coçando sua barba, enquanto formava um semblante profundamente pensativo. - Tudo bem! Eu vou precisar de algumas horas.

- Pode nos entregar isso ainda hoje? - perguntou-lhe o Tenente Anderson, enquanto ainda segurava a caixa de forma a escondê-la.

- Sim, claro! Creio eu que por volta das quatro ou cinco da tarde.

- Perfeito então, doutor! Aproveitando... - disse-lhe o Tenente Anderson enquanto se aproximava de sua mesa e sobre ela colocava o exótico presente que trouxera. - Nós compramos um presentinho pro senhor saborear enquanto estiver no laboratório.

- Não brinca! É sério?! Rapazes... muito obrigado! - agradeceu-lhes enquanto levantava-se de sua mesa para cumprimentar os tenentes Johansen e Anderson pelo presente. - Vou começar agora mesmo!

Tomando em mãos a caixa que havia sido posta sobre sua mesa, o Doutor Alhazred fez imediatamente menção de sair de sua sala, sendo então acompanhado pelos tenentes Anderson e Johansen. Ao saírem todos do escritório, o médico-chefe trancou sua porta e em seguida acompanhou os chefes da segurança interna até os elevadores, enquanto conversavam casual e descontraidamente sobre assuntos diversos. Porém, os dois tenentes do DSI somente perceberam que realmente haviam ganhado a confiança do Doutor Alhazred no momento em que, pouco antes de deixar o elevador, confessou-lhes que frequentemente dormia na DCE, em uma maca de sua enfermaria.

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