NOVA Berlim 2099

By LeoACS

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Após a Terceira Guerra Mundial, em 2023, poderosas potências globais foram completamente arruinadas e muito d... More

Prefácio
Berlim, 08:10 - 18.02.2099.
Berlim, 09:40 - 18.02.2099.
Berlim, 13:18 - 18.02.2099.
Berlim, 14:43 - 18.02.2099.
Berlim, 08:53 - 19.02.2099.
Berlim, 16:47 - 19.02.2099.
Berlim, 19:11 - 19.02.2099.
Berlim, 21:01 - 19.02.2099.
Berlim, 08:18 - 20.02.2099.
Berlim, 09:33 - 20.02.2099.
Berlim, 16:00 - 20.02.2099.
Berlim, 17:13 - 20.02.2099.
Berlim, 19:27 - 20.02.2099.
Berlim, 21:14 - 20.02.2099.
Dossiê Introdutório - Dados Históricos - Terceira Guerra Mundial, 27.11.2023.
Dossiê Introdutório - Dados Históricos - O Grande Terremoto Mundial, 04.07.2025.
Dossiê Introdutório - Dados Histórico-Analíticos - Europa, 2025 à 2099.
Dossiê Pessoal - Anderson, Keith
Dossiê Pessoal - Johansen, Adler
Dossiê Pessoal - Lweiz, Alana
Dossiê Pessoal - Moss, Karen
Dossiê Pessoal - Stoltz, Hellen
Dossiê Pessoal - Alhazred, Yasser
Dossiê Pessoal - Falthouser, Ian
Dossiê Tecnológico - Glossário Bélico e Científico - Europa, 2099.

Berlim, 11:02 - 18.02.2099.

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By LeoACS

Ao entrar na sala de conferências da segurança, por meio do DataLink a Tenente Moss viu seus três colegas, em telas separadas, e imediatamente escutou o Tenente Johansen dizer:

- Então... podemos começar.

Olhou em seguida para a Tenente Lweiz, que aguardava com um olhar absorto, e para o Tenente Anderson, que lançava-lhe um sorriso sádico. Entendendo então a afronta sarcástica, no momento em que ela entrara no elevador - desvio de conduta inconveniente que havia se tornado frequente desde que o Tenente Anderson sobrevivera ao ataque terrorista ao posto militar americano em que serviu, localizado na costa Indiana, em 2089, no qual também perdera sua visão - lançou-lhe ela seu olhar de pura indignação e sussurrou-lhe:

- Palhaço.

- Então... - continuou o Tenente Johansen, inclinando-se para frente e retirando do bolso de seu sobretudo os documentos e cartões de crédito não nominais que havia encontrado com seu prisioneiro - creio que primeiramente temos de descobrir quem é esse cara. Ele não é um qualquer! Esse gerador criptográfico de senhas de segurança não me parece coisa de amadores.

Ao ver o Tenente Johansen colocando o aparelho à sua frente, sobre sua própria mesa, o Tenente Anderson observou-o e perguntou-lhe:

- Você é o especialista. Tem alguma ideia de onde e como ele pode ter conseguido isso aê?

Voltando então de seu horizonte distante, a Tenente Lweiz, que estava absorta, respondeu-lhe:

- Com aquela corja de fanáticos religiosos é que não foi.

- Fato! - concordou o Tenente Johansen. - O aparelho não possui logotipo algum. Seja lá como isso tenha sido desenvolvido, gastou-se muito tempo e dinheiro pra criar algo que pudesse ser usado contra nós, ou contra qualquer um.

- Certeza disso? - indagou-lhe o Tenente Anderson.

- Argh?! Qual é?! Acha mesmo que a Dan-ho ou qualquer outra concorrente iriam criar algo que pudesse ser usado contra eles mesmos?!

- Seja lá quem for, é um inimigo à altura - completou-lhe a Tenente Moss.

- Exatamente! - continuou o Tenente Johansen. - É por isso que vamos começar tentando descobrir quem é o otário que alvejei pra termos uma ideia de que inferno ele veio. Vou acessar o link que temos com a delegacia de polícia de Berlim e ver o que encontramos.

O Tenente Johansen então espalhou os documentos sobre sua mesa e acessou o sistema de segurança da Dan-ho Enterprises para, em seguida, conectar-se ao dispendioso link de dados que a DCE possuía juntamente à DP de Berlim. Ao que surgiu à sua frente a tela de pesquisa de fichas criminais e sociais, vinda do sistema externo, ele inseriu o nome que estava nos documentos que tinha em seu poder. Aguardou ele alguns segundos enquanto observava o ícone animado de busca, mas, confirmando sua infeliz suspeita, nada encontrou. Recostou-se em sua poltrona, afastando-se um pouco do teclado holográfico à sua frente, dizendo:

- Nada! Está realmente começando a ficar interessante!

- O que faremos agora, já que ele não possuí nenhum registro local? - perguntou-lhe a Tenente Moss.

- Nessa circunstância, é possível que ele não tenha nem mesmo um registro nacional - respondeu o Tenente Johansen. - Vamos ter de queimar alguns cartuchos. Falthouser já havia nos informado que, se algum dia fosse necessário levantar alguma informação mais sigilosa, nós deveríamos lhe enviar um e-mail com os dados e ele acionaria um contato na Interpol. Certamente algum cachorro que aquele velho comprou de lá!

- Então - perguntou-lhe jocosamente a Tenente Lweiz -, vai enviar um memorando para Vossa Excelência?

- Eu deveria era enviar um vírus pra aquele velho! Então... vou enviar um e-mail... sem vírus... com os dados e ele que se vire.

Aproximando-se novamente de seu teclado, o Tenente Johansen não gastou mais que um minuto, nem mais do que cinco linhas, redigindo um e-mail explicando a situação, informando o nome e anexando uma imagem de um dos documentos com foto dos quais queria consultar. Ao terminar de fazê-lo, ele recostou-se novamente em sua poltrona e resmungou:

- É... está feito. Vamos esperar agora.

Parou por um instante e, observando, por um momento, os documentos e cartões sobre sua mesa, voltou a se aproximar de seu teclado e começou a digitar algo freneticamente. Notando isso, através da tela do DataLink, o Tenente Anderson lhe perguntou:

- Qual o problema agora?

- Vou acessar os scanners da minha sala e verificar quanto ele tinha nos cartões - respondeu-o com um sorriso sádico no rosto, para logo o desfazer em um semblante de decepção antes de resmungar aos seus colegas:

- Que merda, esse coitado não tinha mais do que 2300 créditos! Bom... como todos fizemos um excelente trabalho hoje, acho justo dividirmos esse espólio. Me passem uma conta pra fazer a transferência! HUAAHuhaUhAUhAUhuAhAuah!

- Ou, peraê... - interrompe-lhe a Tenente Moss - Não há como rastrearmos alguma informação a partir do depósito nesses cartões?

- Perda de tempo! São cartões não nominais. Não vamos encontrar nada.

- Aahh... então, passe minha parte! - disse-lhe então a Tenente Moss em tom de falso remorso.

Como, acima de tudo, os chefes do DSI não passavam de mercenários, nenhum deles questionou a idoneidade do que se seguiu, e dividiram com satisfação o prêmio por uma missão cumprida. Mal terminando esse momento mercenário, o Tenente Johansen recebeu a notificação da chegada de um novo e-mail à sua caixa de entrada, enviado pelo vice-presidente da DCE. Clicou na tela holográfica que pertencia ao seu sistema e-mails e levou alguns instantes para ler o conteúdo que lhe havia sido enviado. Nesse momento, ele inclinou sua cabeça para frente, apoiou seus cotovelos sobre a mesa, espalmou suas mãos uma contra a outra, afastou assim suas palmas e manteve seus dedos retos, apenas com as pontas encostadas umas às outras. Apoiando, então, seu queixo na ponta de seus dois polegares e olhando tenebrosamente para sua tela de e-mails, taciturnamente falou aos seus colegas:

- Agora a porra ficou séria.

- O que foi que aconteceu? - perguntou-lhe a Tenente Lweiz curiosa e preocupadamente.

- Falthouser respondeu. A Interpol não achou... nada!

O grupo então se entreolhou silenciosamente, por alguns momentos, até o silêncio ser novamente rompido pela Tenente Lweiz:

- Se os documentos são falsos, e o prisioneiro que temos simplesmente não existe... quem o enviou?

Então, nesse momento, o Tenente Anderson retirou do bolso interno de seu sobretudo o flash drive que estava consigo e, mostrando-o aos seus colegas, disse-lhes:

- Então... seja lá o que for que ele tenha vindo buscar, com certeza é algo ainda maior do que imaginávamos.

- Keith... -soturnamente lhe disse o Tenente Johansen - me envie uma cópia desse arquivo! É óbvio que está criptografado.

- Ok - respondeu-lhe o Tenente Anderson colocando o flash drive sobre sua mesa e acessando seu conteúdo por meio dos scanners instalados em sua sala. Encontrando apenas um único arquivo dentro do dispositivo, ele o copiou e o enviou para o Tenente Johansen através do DataLink. Ao recebê-lo, o Tenente Johansen notou imediatamente que o contêiner14 do arquivo lhe era desconhecido e, ao tentar abri-lo, surgiu à sua frente uma tela de confirmação de login e senha, assim como havia previsto.

14. Contêiner de Formato Digital. Também conhecido como extensão de arquivos, é o tipo do metaformato que um arquivo possui e que especifica os padrões dos elementos que coexistem dentro do arquivo.

Inicialmente, ele arriscou inserir seu próprio login e senha, mas foram recusados. A permissão de acesso estava além do departamento de segurança interna da DCE. Ajustando sua poltrona em relação à mesa, e acomodando-se nela, ele disse arrogantemente:

- É hora do show!

Seguido disso, ele fechou algumas outras telas menos importantes que estavam abertas à sua frente e abriu outras específicas para inserção de códigos e rotinas de programação, que usaria para tentar quebrar a criptografia contida no arquivo. Percebendo que seus colegas assistiam atentamente à sua movimentação, ele fez questão de enviar-lhes um link de suas telas para que assistissem os procedimentos de hackeamento que faria, mesmo acreditando que praticamente nada entenderiam.

Feito isso, ele começou a inserir códigos de programação freneticamente em seu teclado, inicialmente para tentar definir a linguagem usada para a criptografia, padrão e complexidade de seu código.

Eram por volta de 11:18 horas da manhã quando começou, e ele realmente acreditou que seria uma tarefa fácil - comportamento presunçoso que exibe desde que contribuiu diretamente para o resgate de seu pelotão, aprisionado em uma base terrorista chinesa, em 2086 - frente às suas habilidades. Porém, à medida que tentava encontrar e definir o padrão de criptografia usado, o sistema acusava erros algorítmicos e cancelava o mapeamento dos metadados contidos no arquivo. Percebendo que a complexidade era ainda maior, ele abriu um segundo teclado holográfico à sua frente e, em outra tela, começou a programar uma rotina cíclica para identificação e mapeamento dos metapadrões de criptografia existentes. Deixando essa rotina ativa, ele retornou para o outro teclado e passou a programar uma rotina para a geração de senhas e códigos na tentativa de quebrar a segurança existente no arquivo, ou ao menos configurar o seu padrão. Mas a situação ficava cada vez mais complexa. A rotina que havia programado para identificar e mapear os metapadrões de criptografia começou a apresentar erros consecutivos cada vez mais frequentes, além de que o sistema de autenticação era capaz de processar os dados recebidos ainda mais rápido do que os dados randômicos eram inseridos, até que interrompeu o recebimento dos mesmos, ao mesmo tempo em que derrubou sua segunda rotina de mapeamento.

O Tenente Johansen percebeu então que a arquitetura de instruções computacionais, usada para a criptografia do arquivo, requeriria um nível de potência que seu computador não lhe oferecia, além de certamente usar um módulo criptográfico elíptico, e que provavelmente todo o sistema deveria ser baseado em geometria fractal quântica. Nesse momento, o Tenente Johansen teve de, relutantemente, reconhecer que não seria capaz violar a segurança do arquivo. Percebeu assim que havia sido derrotado e humilhado, frente aos seus colegas, por uma máquina e, nesse instante, esmurrando violentamente sua mesa, com a base de seu punho, gritou:

- MAS QUE MERDA!

Tirando novamente proveito da situação, a Tenente Lweiz lançou-lhe sarcasticamente um sorriso, dizendo-lhe:

- Então... vamos pedir pros moleques da TI abrirem o arquivo pra gente?!

- Vá pro inferno! - retrucou o Tenente Johansen, jogando-se desleixadamente em sua poltrona, cruzando os braços e desviando seu indignado olhar das telas do DataLink.

A Tenente Lweiz conteve-se então para não rir, ainda mais porque possuía um conhecimento tecnológico semelhante ao do Tenente Johansen, mas não o mesmo excesso de confiança e arrogância. Ela sabia que, por mais que fosse tentador arriscar violar a segurança do arquivo, isso seria improdutivo. Engolindo uma risada, ela procurou focar a falha de segurança, dizendo ainda em tom jocoso:

- Bom... ainda temos outro problema pra resolver. Como esse cara entrou aqui na DCE?

- Essa é uma outra boa pergunta - afirmou a Tenente Moss. - Eu acho que pode valer a pena fazer uma busca no banco de dados das câmeras de segurança.

- Concordo - disse-lhe o Tenente Anderson.

Desfazendo sua indignação, o Tenente Johansen aproximou-se novamente de sua mesa e, começando a acessar o sistema de câmeras para vasculhar as gravações existentes em banco, disse-lhes:

- É bem provável que ele tenha entrado pelo nível do solo, ou pela garagem. Não me lembro de ter escutado nenhum veículo aéreo enquanto contínhamos a multidão.

- Verdade. O clima hoje está bem ruim para se arriscar um pouso de asa delta no heliporto de qualquer prédio. - concordou a Tenente Lweiz. - Além do mais, não tivemos quebras de segurança no terraço ou nos últimos andares. Ele não entrou por cima.

- Ele pode ter um contato dentro da DCE e ter entrado de carona pela garagem - disse pensativamente a Tenente Moss.

- Bastante improvável - respondeu-lhe o Tenente Anderson. - Se fosse assim, a distração proporcionada pela manifestação religiosa não seria necessária. Aliás, foi o evento desta manhã que nos fez cogitar a possibilidade de ter ocorrido uma invasão.

- É verdade - frustrada concordou a Tenente Moss. - O mais certo é que, se nada de anormal tivesse ocorrido nesta manhã, nós estaríamos levando o dia como um outro qualquer e esse invasor teria conseguido o que veio buscar.

- Então vamos verificar as gravações que temos em mãos - disse o Tenente Johansen, enviando aos seus colegas o link para os registros de vídeo desta mesma manhã, vinculados às câmeras do térreo, garagem, depósitos e subsolos.

Então, cada um dos chefes da segurança interna tomou para si um desses setores e começou a verificar as gravações existentes. Não seria uma tarefa árdua como a busca anteriormente realizada, principalmente porque alguns desses setores simplesmente possuíam salas ou compartimentos que não continham acessos externos, ou mesmo exaustão de sistemas de ar-condicionado. Alguns minutos se passaram até o momento em que o silêncio sepulcral que assolava o DataLink foi quebrado pelo bom humor da Tenente Moss:

- AUhAUhUAHauhaAUAhAUHahUhauhahaha! Essa foi ótima! Vocês têm que ver isso!

Então, ainda rindo, ela enviou um link de dados para seus colegas, que chegaram a cogitar que, em vez de estar verificando as gravações da segurança, estivesse vendo algum e-mail pessoal. Porém, para a frustração do grupo, ao abrirem o link de dados, uma tela de segurança surgiu à frente de cada um deles, mostrando a câmera de segurança que registra a entrada da garagem da DCE. A cena mostrava um carro, com o que pareciam ser restos de lixo sobre o capô, parando à frente do portão de segurança para realizar os procedimentos de confirmação de dados pessoais e ser liberado para entrar na garagem. Assim que o portão começou a abrir - indicando que a identidade do motorista havia sido confirmada -, da lateral esquerda da mureta da rampa de entrada, paralela ao lado do passageiro do carro, saltou o indivíduo que agachou-se e começou a acompanhar furtivamente a movimentação do veículo para dentro da garagem subterrânea da Dan-ho Enterprises. O carro seguiu rapidamente em frente, o que forçou uma corrida desajeitada por parte do invasor que tentava manter-se agachado, mas outra câmera de segurança revelou o veículo parando bruscamente, em meio à área de tráfego da garagem e seu motorista saindo do carro às pressas, abandonando-o de porta aberta no meio do caminho. O invasor deitou ao lado do carro e observou a movimentação dentro da garagem e, no momento em que pareceu-lhe oportuno, este se levantou e seguiu, ainda agachado e por entre outros carros, em direção à escada de incêndio do prédio.

Nesse momento, a Tenente Moss, que estava controlando o link de dados e as imagens que estavam sendo exibidas, retornou rapidamente toda a gravação até o momento em que o invasor saltara para o lado do carro e pausou a cena. Não era necessário focar a cena novamente, pensaram seus colegas, pois todos haviam reconhecido o invasor em questão. Porém, ela magnificou a cena, focando-a na placa do veículo que entrara na garagem. Retirando uma cópia da placa e inserindo esses dados no sistema vinculado à delegacia de polícia de Berlim, disse ela jocosamente:

- E o vencedor é...

Seus colegas observavam a cena, que exibia uma tela da DP de Berlim, para o levantamento de dados do departamento de trânsito. Segundos de silêncio depois, a tela carregou uma imagem que exibia por completo a carteira de habilitação de Keith Anderson. Esse foi o momento para, desta vez, o Tenente Anderson esmurrar a sua mesa, com a base de seu punho, e berrar incontrolavelmente:

- SEU FILHO DUMA PUTA! Tinha que ser logo comigo?!

A Tenente Moss então jogou-se para trás, em sua poltrona, e gargalhou para o alto. O Tenente Johansen levou a mão direita ao rosto, sem saber se riria com a situação ou se indignaria-se com a falha de segurança. A Tenente Lweiz, então, procurando conter seu riso, tentou confortar seu colega, dizendo-lhe ainda em tom jocoso:

- Relaxe. Poderia ter sido com qualquer um!

- Pro inferno com qualquer um! - reclamou o Tenente Anderson apoiando ambos os cotovelos sobre sua mesa e afundando seu rosto nas palmas de suas mãos, nas quais, inconformado, passou bons momentos escondendo seu rosto de seus colegas e de si mesmo.

Terminando sua terapia de riso, juntamente com o momento de descontração do grupo, a Tenente Moss parou um instante para observar seu colega, com um certo desdém cômico, e começou a sentir um cheiro que a incomodou. Notou então que ainda estava com suas roupas de corrida e que, depois de toda ação de que desfrutou, alguns andares acima, ela estava precisando de um bom banho. Levantando-se de sua poltrona e saindo de sua mesa, deixando seu computador ligado e com o DataLink aberto, ela disse:

- Continuamos depois. Eu preciso de um banho.

- Com certeza precisa... depois desse jogo sujo - disse-lhe indignadamente o Tenente Anderson, por entre as mãos que ainda cobriam seu rosto, esperando alguma retaliação. Porém, para aumentar ainda mais sua frustração, sua única resposta foi outra gargalhada, parcialmente sufocada, evidenciando que a Tenente Moss deixava a sala.

Recobrando parte da seriedade exigida para o problema que tinham em mãos, os três chefes do DSI que ainda estavam presentes no DataLink ajeitaram-se novamente em suas poltronas e, em seguida, o Tenente Johansen pontuou:

- Bom... então, infelizmente, ainda temos dois problemas para solucionar: um... saber quem enviou nosso invasor, e dois... que diabos ele veio buscar.

- Acha mesmo que precisamos saber qual é o conteúdo desse flash drive? - perguntou-lhe desacreditadamente o Tenente Anderson, ao que a Tenente Lweiz respondeu-lhe:

- Com certeza! Não se trata apenas de invasão e roubo de segredos industriais. O indivíduo estava bem armado e equipado, mesmo pra uma tentativa frustrada. Seja lá o que for, isso pode representar, pra nós, uma ameaça futura ainda maior. Precisamos saber com o que estamos lidando. Ainda mais...

Nesse momento, a Tenente Lweiz fez uma pausa e recostou-se em sua poltrona, levando sua mão direita ao queixo e olhando absortamente para sua esquerda. Percebendo seus colegas que ela havia mergulhado em uma tempestade de ideias, o Tenente Johansen perguntou-lhe:

- Ainda mais se o quê?

- Ainda mais se nós pudermos usar este trunfo a nosso favor, para aumentarmos o contingente da segurança e melhorarmos os recursos de que nós dispomos no momento. Se, ao menos hoje, nós tivéssemos algumas câmeras infravermelhas instaladas naquele laboratório, um de nossos homens talvez não tivesse sido ferido. Não acredito que uma empresa que desenvolve de instrumentos musicais e carros até armamentos e próteses cibernéticas não se preocupe, como deveria se preocupar, com sua própria segurança.

- Mas isso é o que já escutamos como reclamação de Falthouser sobre o presidente da empresa - respondeu-lhe o Tenente Johansen. - "O fato de estarmos em uma divisão que prima pela qualidade da vida humana não faz de nós uma ameaça." É nesse monte de merda em que estamos e é essa a única coisa em que eu concordo com nosso excelentíssimo vice-presidente. O humanismo imbecil do dono dessa birosca faz de nós um alvo fácil.

- Concordo - posicionou-se o Tenente Anderson para seus colegas. - Então... nos resta fazer apenas uma única coisa.

- O quê? - curiosamente perguntou-lhe o Tenente Johansen.

- Levarmos o arquivo na cara de pau pro vice-presidente e pedir pra ele abri-lo! Com certeza ele deve ter a autorização necessária para acessar a segurança maluca que o arquivo possui.

- Isso pode ser um tremendo tiro no pé - pontuou a Tenente Lweiz.

- Não temos muita escolha - respondeu-lhe o Tenente Johansen. - A merda já está fedendo! Temos um laboratório arruinado, um prisioneiro que não podemos entregar à polícia e uma tentativa de roubo de segredos industriais. Vamos ter de entregar pro velho um relatório, de um jeito ou de outro. Não vejo por que deixar que ele nos coloque na parede se nós agora temos a chance de fazer isso com ele.

- Isso é verdade - concordou a Tenente Lweiz. - Vai ser um tremendo vacilo deixarmos essa passar. Mas, Adler, acha mesmo que não devemos entregar o invasor pra polícia e prestarmos uma queixa?

- Veja bem... seja lá quem for que tenha enviado esse babaca pra invadir a DCE, quando souber que seu homem está, entre aspas, virtualmente ao seu alcance, com certeza irá ao seu resgate e pagará sua fiança. Não podemos abrir mão de nossa vantagem. Sugiro que passemos primeiro na enfermaria pra tentarmos extrair algo dele e, em seguida, podemos subir direto pra vice-presidência.

Seus dois colegas concordam acenando com suas cabeças e, nesse instante, a Tenente Lweiz reparou que, no canto inferior direito de seu campo de visão digital, seu relógio marcava 12:03. Não querendo deixar mais outra refeição passar-lhe em branco, para não ter de almoçar em sua mesa, ou em algum lugar pior, ela sugeriu:

- Que tal almoçarmos primeiro e continuarmos com isso depois?

- É... é uma boa ideia. Avisamos a Karen que estamos descendo pro refeitório? - perguntou o Tenente Johansen, ao que prontamente respondeu-lhe o Tenente Anderson:

- Opa! Com certeza! Pode deixar que eu aviso! HE heh...

- Certo - concordou a Tenente Lweiz em tom de ridicularização. - Encontro vocês no elevador.

- Desafio aceito! - respondeu-lhe então o Tenente Johansen ao costume insignificante dos chefes da segurança, de desafiarem uns aos outros a se encontrarem, na sorte, dentro de um dos elevadores.

Colocando seus respectivos computadores em modo de espera, os três tenentes saíram de suas salas e foram em direção aos corredores de seus andares. Normalmente, o desafio sem nexo deles era frustrado apenas quando a Tenente Lweiz não era a primeira a entrar no elevador para descer ou quando a Tenente Moss não era a primeira a subir, o que permitia que seus colegas acompanhassem a trajetória delas, desde o andar de seus escritórios até aquele em que se encontravam no momento, por meio do painel de acesso dos elevadores.

Durante a espera pelo elevador, o Tenente Anderson ligou para a Tenente Moss, que lhe atendeu furiosamente apenas com resposta em áudio:

- Que diabos você quer agora?!

- Humpf... estamos indo almoçar. Vai nos encontrar no refeitório? De lá vamos pra enfermaria arrochar o cara.

- Encontrarei vocês lá! - e desligou ela bruscamente.

Como era de se esperar, o elevador da Tenente Lweiz parou no andar do Tenente Johansen e em seguida no do Tenente Anderson, que, ao entrar, lançou-lhe um sarcástico e satisfeito sorriso de lado, para vê-la então apenas lançar um olhar raso e indiferente para o teto, mas que fora correspondido pelo cúmplice e irônico olhar do Tenente Johansen. O silêncio tomou o elevador, somente até ter sido rompido pela sineta que indicava que este havia alcançado o andar desejado. Quando suas portas abriram, logo à sua frente encontraram a Tenente Moss, que os aguardava de braços cruzados. Mais uma vez, não deixando a oportunidade passar, o Tenente Anderson perguntou-lhe:

- Você... realmente tomou banho?!

- Vá cuidar da merda da sua vida - respondeu-lhe com indiferença, virou-se de costas para esconder seu sorriso sádico e caminhou na direção da porta de entrada do refeitório da DCE. Todo o andar havia sido usado para as acomodações do refeitório, que se dividia em duas alas: funcionários e diretoria. Era claro que a Dan-ho Enterprises não iria acomodar desconfortavelmente seus cientistas e pesquisadores, que também tinha acesso à ala privativa. Além da presidência, diretores de setores e pesquisadores, a única outra exceção eram os chefes de segurança - uma das regalias oferecidas pelo vice-presidente da empresa aos seus subalternos -, que adentraram o salão e começaram a caminhar na direção da ala da diretória, que se encontrava no outro extremo do andar. Mal começaram sua despretensiosa jornada e perceberam eles que algo estava fora do comum. Os ruídos normais de um refeitório haviam silenciado abruptamente, o que não lembravam de ter ocorrido antes. Procurando, então, por uma razão aparente, eles perceberam que a maioria dos presentes observava a sua entrada.

O dia havia sido completamente atípico. Constava-se registros anteriores de manifestações religiosas em frente à Dan-ho Enterprises e suas concorrentes, mas nunca a segurança interna da DCE precisou conter e dispersar revoltosos à base de força bruta. Os disparos ocorridos no trigésimo quarto andar foram ouvidos pelos quatro andares adjacentes, onde os funcionários isolados pelo alerta de segurança com certeza teriam enviado incontáveis e-mails para colegas de outros setores, espalhando a noticia do tiroteio. Os agentes de segurança que participaram do grupo de busca provavelmente também haviam comentado o ocorrido com seus colegas e outros conhecidos de seus respectivos setores.

O fato, em sua forma mais simples, era: manifestantes ensandecidos tentaram atacar o prédio e um invasor, que se aproveitou do ataque, invadiu e tentou roubar a DCE, sendo ambos impedidos pelo departamento de segurança interna. Isso estava claramente estampado nos vários olhares que os cobriam, enquanto seguiam em direção à ala privativa onde almoçariam. A maioria dos olhares lançados sobre eles estavam carregados pela satisfação e a tranquilidade de saberem que estavam sendo bem protegidos. Poucos foram os olhares que lhes denotavam a insatisfação pelo incômodo ao qual foram sujeitos. Esses foram os poucos segundos de glória de que os chefes da segurança desfrutaram, acenando positivamente com a cabeça em resposta a alguns sinais de obrigado e de ok que lhes foram lançados pelo público presente.

O ambiente da ala privativa era completamente dicotômico. Diferentemente das mesas comunitárias da ala anterior, nesta, as mesas eram redondas e com no máximo seis cadeiras acolchoadas. Havia sobre as mesas conjuntos completos de aparelhos de jantar e, em vez de copos, todas já possuíam taças postas. Apesar de haver variados expositores de saladas, carnes, frios e sobremesas, os presentes poderiam ainda abrir mão de se servirem para serem atendidos por garçons. Além disso, ainda havia o fato de que o cardápio era completamente diferente da ala funcional.

Apesar da privacidade e elegância que o ambiente proporcionava, a recepção local não foi diferente da que receberam na ala anterior. Alguns diretores levantaram de suas mesas para cumprimentar e agradecer ao grupo pelo serviço realizado, e praticamente todos os cientistas presentes acenaram em agradecimento. Aparentemente, a informação que aqui havia sido trocada entre os presentes era tão diferente quanto o ambiente.

O grupo agradeceu aqueles que se dispuseram a cumprimentá-los, dizendo que não tinham feito mais do que a sua obrigação. Mas, ao terminarem de cumprimentar a todos, o grupo preferiu sentar-se um pouco mais afastado, em busca de privacidade. Ao se acomodarem à mesa, entreolharam-se com a satisfação de terem seu ego muito bem massageado, algo que não acontecera nunca em seus respectivos empregos anteriores, por simplesmente estarem cumprindo ordens. Logo em seguida, o Tenente Johansen retirou sua carteira de cigarros do bolso de seu sobretudo. Balançando-a, e retirando dela um cigarro com os lábios, disse-lhes:

- Então... vamos pedir um vinho?!

- Você vai fumar aqui?! - perguntou-lhe a Tenente Moss.

- Por que não?! Os almofadinhas não fumam seus charutos fedorentos aqui dentro?! Eu quero mais é que se foda!

- Eu ainda acho que está meio cedo pra comemorarmos - retrucou a Tenente Lweiz.

- Não estou comemorando nada! Quero é amaciar os nervos antes de arrochar o otário na enfermaria e depois, Falthouser - disse-lhe o Tenente Johansen, olhando para os lados. Porém ao notar que o vice-presidente e o próprio presidente da DCE não estavam presentes, completou então após acender seu cigarro:

- Falando nisso, onde está aquele velho?

- Deve estar lavando as cuecas! - respondeu-lhe jocosamente o Tenente Anderson, antes que fosse retrucado pela Tenente Lweiz:

- Duvido muito! Nem humano ele parece.

Terminando de dizer isso, a Tenente Lweiz acenou para um dos garçons, que se encontrava perto de sua mesa, e pediu-lhe um bom vinho para abrir o apetite do grupo. Após anotar o pedido e perguntar se eles desejavam algo mais, o garçom retirou-se, dando a oportunidade de a Tenente Moss perguntar:

- E que papo é esse de arrochar esses dois?

- Decidimos isso enquanto você cuidava de sua beleza - respondeu-lhe sarcasticamente o Tenente Anderson. - Temos de averiguar o que realmente deve estar acontecendo e nos prepararmos para tal.

- Fora que pretendemos usar isso pra conseguirmos aquelas melhorias na segurança, que havíamos conversado semana passada - completou-lhe a Tenente Lweiz.

- Tô nessa! - respondeu-lhes a Tenente Moss.

Então, espalhando-se em sua cadeira, o Tenente Johansen lhes disse:

- Então vamos comer. Eu esperarei vocês se servirem.

Seus colegas concordaram com sua proposta e levantaram-se para em seguida irem até aos fartos expositores do refeitório. Tomaram pratos em um mostruário de louças e começaram a se servir enquanto o Tenente Johansen, absorto, lançava seus pensamentos ao horizonte. Tendo seus colegas terminado de se servir e de retornarem à mesa, ele apagou seu cigarro em um cinzeiro à sua frente e foi servir-se. Após encher seu prato, ele passou rapidamente na frente de um expositor onde se encontrava uma infinidade de sobremesas diferenciadas e, escolhendo uma tortilha qualquer, pediu a um dos garçons para colocá-la em um pacote, dizendo-lhe que iria levá-la para mais tarde. Rapidamente, um deles o fez e, recebendo o pacote em mãos, o Tenente Johansen guardou-o no bolso esquerdo de seu sobretudo e retornou em seguida à mesa.

Não empurraram a comida garganta abaixo, mas não desfrutaram de seu almoço como realmente gostariam. O vinho não havia aberto seu apetite. Eles realmente estavam com pressa para saber o que iriam arrancar de suas próximas vítimas. Após comerem e beberem como se estivessem na Idade Média, gastaram alguns poucos minutos absortos e em seguida levantaram-se da mesa. Acenando silenciosamente com a cabeça para os que ainda estavam presentes na ala da diretoria, eles se retiraram tão taciturnos quanto haviam chegado. A ala dos funcionários ainda possuía muitas pessoas ocupando as mesas comunitárias, enquanto almoçavam, mas dessa vez eles saíram direto, sem olhar em nenhuma outra direção que não fosse a das portas de saída do refeitório. O horário do recreio havia acabado, e agora tinham um trabalho para terminar.

Aproximaram-se do painel de acesso dos elevadores, requisitaram alguns e aguardaram pelo que chegasse antes. Quando o primeiro elevador que estava subindo, parou no andar em que se encontravam, mal entraram eles dentro deste e o Tenente Anderson clicou imediatamente no andar da enfermaria. Ao observar a movimentação dele e o andar selecionado, a Tenente Lweiz reclamou:

- Ou... peraê, Keith! Eu queria...

- Escove seus dentes depois! Temos mais o que fazer - respondeu-lhe o Tenente Anderson abruptamente, ao que a Tenente Lweiz apenas cruzou os braços e aborrecidamente se encostou em um canto do elevador para aguardar que este alcançasse seu destino.

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