Forgive | JIKOOK

By seokiearth

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Durante um encontro diplomático entre dois países a beira de uma guerra nuclear, Park Jimin e Jeon Jungkook... More

Avisos iniciais importantes
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capitulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58

Capítulo 33

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By seokiearth

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⚠️ AVISO IMPORTANTE!! ⚠️

Assuntos bem pesados vão ser abordados nesse capítulo, então eu peço que quem tem sensibilidade para assuntos como revenge porn, abuso sexual, violência doméstica, transtorno de estresse pós traumático, drogas e suicídio PRESTE ATENÇÃO!

A partir do momento em que esses assuntos começarem a ser tratados eu vou colocar um fileira de '⚠️' e, assim que o assunto acabar, eu vou voltar a fazer uma fileira com '⚠️' para delimitar o final.

Por favor, fique avisado disso. Boa leitura :)
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Depois de notar a mudança da coloração do fio preso ao pulso esquerdo de Jimin, Jungkook gaguejou bastante até finalmente aceitar a nova cor e se acalmar a respeito do que aquela mudança significava. Não era como se Jungkook não tivesse questionado ele mesmo algumas vezes a respeito dos seus sentimentos pela sua alma gêmea. Ele não entendia como era possível estar sentindo por alguém o que ele sentia por Jimin e esse sentimento ser apenas encantado.

Em qualquer outra relação, ele já se consideraria apaixonado há muito tempo, mas aparentemente tal sentimento por Jimin só havia se instalado em seu coração naquela manhã. Era loucura, mas era mais loucura ainda tentar duvidar do fio.

O fio nunca erra. Ele está ligado à alma dos dois lados e nada no mundo é mais sincero que a alma de alguém.

Após o mais novo examinar os dois lados do fio com as suas bochechas vermelhas de vergonha e receber algumas provocações vindas de Jimin, este que insistia que o mais novo havia se apaixonado enquanto eles estavam fazendo sexo, os dois príncipes finalmente se sentaram na ilha da cozinha e comeram o café da manhã. O moreno havia preparado toda uma refeição de desjejum no estilo ocidental para ele e para o seu parceiro e, felizmente, o sabor estava mais do que agradável.

Jungkook era um ótimo cozinheiro.

"Eu vou tomar banho." Jimin falou após limpar educadamente a sua boca com o guardanapo para em seguida colocar o pano bege sobre a bancada de mármore e se levantar. "Mas antes, eu lavo os pratos." Avisou caminhando até o outro lado da ilha apenas para deixar um beijo rápido sobre os lábios do japonês.

"Não precisa. É só colocar dentro do lava-louças." Falou de uma maneira que soou muito adorável para Jimin que sorriu e bagunçou com carinho os fios negros do cabelo do mais novo.

"Então eu coloco tudo dentro do lava-louças." Decretou fazendo uma pequena mudança nos seus planos. "Você preparou o café da manhã, eu limpo a bagunça."

Dessa vez, a sua ideia foi aceita totalmente por Jungkook que continuou a comer enquanto o mais velho enchia a lava-louças antes de deixar mais um beijo no topo da cabeça do mais novo antes de caminhar corredor adentro em direção à suíte principal do apartamento com o objetivo de se banhar. Enquanto isso, Jungkook não estava com pressa alguma de terminar a sua refeição. Então, por um tempo ele apenas continuou sentado no mesmo lugar e passou os minutos seguintes focado em comer as suas panquecas e assistir vídeos curtos e bobos no seu celular.

Apenas quando a última panqueca havia sido consumida e seu copo com suco de laranja estava vazio que Jungkook se levantou e se alongou brevemente antes de trilhar o mesmo caminho feito por Jimin há alguns minutos.

Durante o curto caminho, Jungkook pensou que a aquele ponto Jimin já estaria fora do banheiro, mas ao alcançar o seu quarto, Jungkook se deparou com todo o cômodo vazio e com a porta do banheiro fechada. E, se a porta fechada já não fosse uma boa resposta para a dúvida do paradeiro de Jimin, o som da água do chuveiro caindo foi a confirmação das suas suposições.

Apesar de estarem há mais de uma semana dividindo o mesmo quarto, Jungkook ainda não havia se acostumado com a demora do loiro sempre que ele tomava banho. Enquanto ele costumava demorar no máximo cinco minutos se banhando, Jimin parecia não ter pressa alguma e ficava quase meia hora preso no banheiro

Bem, aparentemente quem está acabando com a água do mundo são as grandes indústrias e Park Jimin, Jungkook pensou dando de ombros enquanto caminhava até a cama.

Quando seu corpo atingiu o colchão, uma risada acabou por escapar dos seus lábios. Por algum motivo desconhecido, ele encontrou um certo humor em seu pensamento idiota, mas não o suficiente para fazer ele gargalhar. Assim, logo ele passou a esperar Jimin sair do banheiro enquanto encarava o teto do quarto.

Contudo, o silêncio não durou muito e logo a calmaria foi interrompida pelo toque alto do celular que Jungkook sabia pertencer a Jimin. O primeiro pensamento de Jungkook ao ouvir o toque foi que ele finalmente poderia tomar o seu merecido banho. No entanto, a ligação foi encerrada depois do número máximo de toques e o loiro ainda estava no banheiro como se absolutamente nada estivesse acontecendo. E assim permaneceu até a terceira ligação recebida, quando Juntou se sentiu com pena da pessoa que ligava e decidiu avisar Jimin a respeito das ligações.

"Hyung!" Jungkook gritou, chamando por Jimin enquanto ele mesmo ainda deitado em sua cama de uma maneira confortável. "O seu celular não para de tocar!" Continuou a informar enquanto passava despreocupadamente os canais de televisão.

"Atende para mim e avisa que eu retorno depois." Jimin pediu com a sua voz em um volume alto para que ele fosse escutado mesmo com a distância entre ele e o mais novo.

Ao ouvir o pedido alheio, a primeira reação que Jungkook teve foi de se surpreender ao ponto em que ele cogitou mais de uma vez ter escutado errado o que Jimin havia dito.

Em todas as suas relações anteriores, absolutamente nenhum dos seus parceiros alguma vez permitiu que ele sequer tocasse em seus celulares. Não era como Jungkook fosse um grande stalker ou invasor de privacidade, normalmente ele só queria um celular emprestado para tirar uma foto, vídeo ou até mesmo para fazer uma rápida ligação. No entanto, todas as vezes que ele pedia o aparelho de um namorado ou namorada, mesmo deixando claro o que ele iria fazer e sem ter planos de quebrar a sua palavra, ele sempre recebia um duro 'não' como resposta junto a um grande discurso sobre como não é educado nem aceitável fazer tal pedido, visto que celulares são aparelhos muito íntimos.

Com o tempo, Jungkook simplesmente parou de pedir e mesmo quando ele estava sem seu celular ou quando a bateria do seu aparelho acabava, ele sempre optava por ficar sem fotos ou se virar para resolver sozinho qualquer que fosse a situação problemática na qual ele estivesse inserido. Por esse motivo, Jungkook não pôde acreditar imediatamente que Jimin estava o permitindo que atendesse uma ligação sem nem ao menos saber quem estava do outro lado da linha.

"Tem certeza?" Jungkook perguntou alto com o objetivo de saber se o mais velho estava certo da sua decisão Ao questionar o coreano, o moreno acabou soando incerto ao mesmo tempo em que pegava o celular alheio e lia o nome de contato presente na tela que ele automaticamente reconheceu por ser Taehyung.

"Sim, atende, por favor!" Jimin confirmou, firme a respeito da sua decisão.

Não era grande coisa para o Park ter o mais novo atendendo o seu celular. Aquele celular não carregava nenhum documento oficial ou confidencial do seu governo, então o máximo que Jungkook poderia descobrir era o que Jimin vinha pesquisando nos últimos meses que era basicamente notícias sobre a geopolítica mundial e ver as milhares de fotos e vídeos de Ice Bear que lotavam o seu rolo de câmera.

Coçando a garganta e olhando ao redor uma última vez para se certificar de que Jimin não estava vindo o deter, Jungkook deslizou o polegar pela tela e atendeu a ligação: "Oi, Tete hyung. Aqui é o Jungkook. O Jimin está tomando banho e me pediu para atender e te avisar que quando ele sair ele vai retornar para você."

Em sua mente, Jungkook acreditava que Jimin já tinha sido gentil o suficiente para deixar que ele atendesse o celular. Por esse motivo, ele certamente não deveria abusar da confiança alheia e precisava passar as informações o mais rápido possível.

"Ah, tinha que ser o viadinho pão com ovo..." Taehyung suspirou, perceptivelmente lamentando o desencontro com Jimin. "Tá, eu ligo depois." Avisou, repentinamente conformado.

"Eu não sou pão com ovo." Jungkook protestou.

Ele não odiava aquele apelido, mas sua relação com o modo como o Kim chamava por ele também não era uma das melhores. Ele sequer entendia o significado dessas palavras.

'Pão com ovo' era para ser um apelido gentil ou ofensivo? Jungkook não sabia dizer e por isso às vezes ele se incomodava mesmo que, na maior parte do tempo, ele se sentisse feliz por ter ganhado um apelido. Em suma, ele tinha uma relação complicada com aquele conjunto de palavras.

"É pão com ovo sim." Taehyung voltou a afirmar, parecendo estar se divertindo com aquilo. "Pergunta para o Jimin depois e ele vai te confirmar isso."

"Rude." Jungkook acusou, mas em momento algum ele soou maldoso. Sua intenção era apenas brincar com o melhor amigo da sua alma gêmea e fez questão de deixar isso explícito pelo seu tom de voz. "Quando você tiver um namorado, eu vou falar para ele que você é assim comigo."

"Isso absolutamente nunca vai acontecer." Taehyung falou rindo, parecendo estar se divertindo com o imaginário de Jungkook.

A fala do modelo fez com que o príncipe se lembrasse de algo muito importante e curioso que ele queria saber mais a respeito desde uma das conversas que eles tiveram pelo grupo de mensagens que ambos estavam. No entanto, ao mesmo tempo em que Jungkook queria saber mais a respeito do tema, ele também carregava em si o medo de ofender o mais velho.

Se bem que eu posso só pedir com jeitinho, não é mesmo? Jungkook pensou. E eu tecnicamente não estou mexendo no celular do Jimin, então ele não vai ficar bravo.

"Tete hyung, eu posso te fazer uma pergunta?" Perguntou juntando toda a sua coragem.

"Já fez. Tchau." Taehyung decretou sério, sua voz soando distante com a última palavra que foi dita por ele.

"Ah, qual foi?" Jungkook perguntou, decepcionado ao mesmo tempo que incrédulo com a resposta que recebeu do mais velho.

Do outro lado da linha, Taehyung suspirou pesadamente.

"Tá, fala logo que eu tenho coisa melhor para fazer." Taehyung decidiu.

"Por que você não gosta de relacionamentos amorosos?" Jungkook foi direto ao ponto, mas ainda sentiu a necessidade de se explicar. "Quer dizer, você meio que disse isso outro dia e ontem você meio que reforçou essa ideia. Sei que não é da minha conta, mas é que você é meio que meu oposto, sabe?"

"Para de falar 'meio', pelo amor de Deus." Taehyung praticamente implorou, incomodado pela repetição constante da palavra em questão.

"Desculpa." Pediu constrangido, abaixando a cabeça conforme usava o seu indicador para fazer desenhos invisíveis sobre o lençol da cama. "Mas o que eu quero dizer é que nós dois somos como dois lados diferentes da mesma moeda. Eu sempre sonhei com príncipes e princesas e o beijo do amor verdadeiro. Eu praticamente vivo em função disso e tenho orgulho disso, sabe? Eu gosto de romances, tanto que escrevo e canto sobre isso sempre que posso. Mas você foge disso tudo." Jungkook esclareceu a fonte da sua dúvida. "Só que eu não estou te criticando não!" Se apressou em dizer, erguendo a sua cabeça enquanto movia de um lado para o outro a sua mão livre do celular.

Taehyung não estava ali, logo ele não veria os olhos arregalados e os gestos aflitos de Jungkook, mas isso não impediu o japonês de continuar.

"Eu sei que não." Taehyung avisou, mantendo o seu tom calmo e indiferente de sempre.

"Eu só queria entender porque você é bem diferente de mim, sabe? Eu fico curioso." Jungkook continuou a se explicar, se esforçando ao máximo para não parecer muito enxerido.

Pelos segundos seguintes o outro lado da linha ficou mudo. Tão mudo que Jungkook cogitou a possibilidade de Taehyung ter desligado na sua cara e ele só aceitou que estava errado ao olhar a tela do celular de Jimin e ver que a ligação ainda estava acontecendo.

Talvez eu tenha ido longe demais, Jungkook pensou sentindo as suas bochechas esquentarem pelo constrangimento.

Ele estava com vergonha por ter sido tão invasivo e estava começando a se sentir aflito porque Taehyung poderia reclamar a respeito da sua atitude para Jimin e, como resultado, a sua alma gêmea poderia ficar bravo com ele...

Por Deus, Jungkook não queria que o mais velho ficasse bravo com ele. Sempre que seus antigos interesses românticos ficavam bravos com ele, ele perdia com rapidez e totalmente o contato com a pessoa por quem ele estava se apaixonando.

Era tão triste e ele não queria passar por isso de novo, muito menos com a sua alma gêmea.

Contudo, como se quisesse ser mais uma vez do contra, Taehyung quebrou o silêncio: "Tudo bem." E suspirou. "Você está preso ao meu melhor amigo pelo resto dessa vida e eu já sei um monte de podre seu, então eu posso te contar sem medo de que você espalhe essa porra para todos." Falou praticamente ameaçando o príncipe.

Meus podres? Jungkook pensou arregalando seus olhos, apreensivo com a revelação. Se Taehyung sabia de tudo o que eu fiz de errado na vide, então talvez Jimin também saiba.

"Mas antes de eu te contar toda a minha historinha disfuncional de como eu me tornei quem eu sou hoje, eu quero que você me prometa uma coisa. E se lembre que eu odeio mentiras e não aceito elas!" Taehyung voltou a falar, sua voz firme mostrando que ele não estava brincando a respeito das suas palavras.

"Tudo bem." Jungkook concordou sem pensar duas vezes. "O que você quer que eu prometa?" Perguntou curioso.

"Eu não quero sua pena." Declarou.

Pela primeira vez, Jungkook sentiu que Taehyung estava falando muito sério a respeito do seu desejo. Era como se toda a brincadeira obscura que o modelo costumava fazer tivesse desaparecido por completo e ele não fosse permitir que o seu pedido fosse desrespeitado.

Continuando, Taehyung concluiu com o mesmo tom: "Então quero que você me prometa que não vai sentir essa merda por mim."

"Por que eu sentiria pena de você?" Jungkook perguntou genuinamente confuso.

"Por que a grande maioria das pessoas que sabem o mínimo da minha vida acabam sentindo essa merda." Taehyung explicou. "Vai prometer ou não, viadinho pão com ovo?" Perguntou fazendo questão de voltar ao assunto principal.

"Prometo." Jungkook declarou firme, acreditando fielmente que poderia cumprir com a sua palavra.

"Ok." Taehyung concordou.

Nos segundos seguintes, o modelo voltou a ficar em silêncio. Era como se ele estivesse pensando em suas próximas palavras e, de fato, ele estava.

Era sempre uma droga contar a sua história. Não foi muitas vezes que ele contou ela, talvez uma ou duas vezes, mas ainda assim era incômodo só pensar em contar. No entanto, Jungkook agora seria uma pessoa presente em sua vida, principalmente porque Jimin estaria na sua vida para sempre e Jungkook era permanente na vida do Park. Além disso, ele sabia que o japonês era um grande idiota que sabia manter a boca fechada e ele também estava disposto a acabar com a vida do mais novo caso ele abrissse a boca.

Enquanto muitas pessoas temiam pessoas com título de príncipes e princesas, reis e rainhas, imperadores e imperatrizes, Taehyung transava com eles, fazia amizade e não temia bater em um caso um deles pisasse na bola com ele.

Suspirando uma última vez, Taehyung concluiu em sua mente o seu plano de bater em Jungkook e seguiu em frente.

"Simplificando o começo, meus pais se conheceram quando eles estavam na faculdade." Taehyung começou a contar de repente, pegando Jungkook desprevenido. "Por eles dois serem herdeiros majoritários das grifes da família deles, eles faziam o mesmo curso que era design de moda. Eles amavam a moda e isso ajudou bastante para que eles se tornassem amigos. Melhores amigos." Riu amargo. "Eles se davam muito bem e com o tempo a amizade acabou por se tornar algo a mais para a minha mãe. Ela se apaixonou por ele e um dia eles foram para uma festa, beberam todas, ela se declarou e eles transaram. Esse foi o primeiro erro deles e o resultado da festa foi eu."

"De primeira?" Jungkook perguntou fazendo careta.

Era uma pergunta feia a se fazer, mas poxa, imagina engravidar alguém logo de primeira quando uma gestação não é o plano? Era sufocante só de imaginar.

"De primeira." O Kim confirmou. "Eu acho que eu realmente queria nascer ou coisa do tipo, sei lá, o carma deles era terrível. Só sei que se eu pudesse escolher, eu super daria o meu lugar para outro espermatozoide."

"Mas sem você não teríamos um parâmetro de beleza inatingível no mundo." O príncipe falou aproveitando a chance para bajular um pouco Taehyung e também brincar com o modelo que pareceu realmente se animar um pouco com seu comentário.

"De fato!" Concordou, rindo logo em seguida e sendo acompanhado por Jungkook que se ajeitou melhor em sua cama. "De qualquer forma, com a minha mãe grávida, meus avós paternos e maternos se juntaram e deram uma dura nos meus pais. A questão era: eles se casavam ou eles se casavam. Não tinha outra opção já que na època aborto era ilegal na Coreia e ser mãe fora do casamento não era uma coisa bem vista." Contou. "Segundo meu pai, mesmo sendo gay para um grande de um caralho, ele não viu problemas em casar com a minha mãe. Afinal, ele amava a minha mãe como uma amiga e eles teriam um filho juntos. Que mal faria se casar sem amar a sua esposa, não é?"

Diante da pergunta, mesmo sabendo que era algo retórico, Jungkook ainda acabou resmungando negativamente, respondendo a questão. Afinal, ele não concordava nem um pouco com essa ideia. Casamentos deveriam ser resultado de um grande amor que devia ser cultivado diariamente e filhos era o resultado desse amor bem alimentado e cuidado. Era assim que uma família devia ser criada.

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"Esse foi o segundo erro deles e eles perceberam isso depois." Taehyung apontou rindo fraco mesmo sem encontrar humor algum em sua conclusão. "Quando eu tinha quatro anos eu não entendia o motivo pelo qual minha mãe gritava e chorava tanto quando meu pai chegava em casa de madrugada. Eu também não entendi nada quando ela entrou no meu quarto no meio da noite e chorando muito, me dando um casaco para eu me vestir enquanto ela praticamente me arrastava escada abaixo com ela e meu pai vinha atrás gritando que ela não podia me tirar dele." Contou e, por alguns segundos Jungkook se arrependeu de ter feito a pergunta inicial para Taehyung.

Jungkook certamente não estava presente no dia do relato de Taehyung, mas só de ouvir ele já sabia que aquela noite foi um trauma para Taehyung. E como não poderia ser? Ter a sua mãe te arrastando escada abaixo enquanto seu pai berra logo atrás...

Jungkook se sentia mal por Taehyung.

Continuando, Taehyung falou: "Também foi confuso para mim entrar no carro e ver meu pai batendo no vidro da janela do carro me pedindo para abrir a porta e sair. E eu queria abrir, mas minha mãe me deu um tapa quando eu tentei, então eu parei." Revelou fazendo Jungkook arregalar os olhos.

Eu não devo fazer mais perguntas! Jungkook pensou, se sentindo culpado por ter começado com aquilo. É melhor deixar o assunto morrer por ali mesmo. Ok, Taehyung teve pais com uma péssima relação e é por essa razão ele não gosta de relacionamentos. Pronto, é fácil de entender e não tão raro assim.

No entanto, Jungkook era curioso demais e, quando ele percebeu, ele já tinha voltado a perguntar com um tom surpreso: "Ele batia nela?"

"Meu Deus, não." Taehyung negou de imediato, parecendo muito surpreso com a pergunta feita pelo príncipe. "Meu pai é um merda, mas nunca foi agressivo com a minha mãe ou comigo e meu irmão. Só que ele também não é nenhum tipo de mocinho da história." Avisou. "Enfim, para mim não fazia sentido ver meu pai chorando daquele jeito e literalmente implorando de joelhos no chão da garagem para que ela não fosse embora." Suspirou pesado. " 'Eu e Taehyung vamos ficar, mas eu não quero que você se encontre com aquele homem de novo.' 'Tudo bem, eu não vou.' 'E eu também quero mais um filho' 'Vamos fazer isso'." Citou o que foi dito naquela noite. "Foi assim que meu irmão veio ao mundo. Ele foi uma moeda de troca." Resumiu, soando um pouco amargo por se lembrar daquele fato. "Depois daquela noite que eu não consegui dormir porque estava assustado demais, eu descobri ouvindo as moças que trabalhavam lá em casa que basicamente meu pai tinha traído a minha mãe várias vezes com um homem e ela tinha descoberto isso naquela noite." Contou com uma risada amargurada no final. "Mas aí que entra o ponto: se ela sempre soube que ele era gay, por que ela estava tão surpresa? E por que caralhos ela queria manter a porra de um casamento que estava fadado ao fracasso? Ele sequer a amava e só humilhava ela ao ficar com outros homens na rua!" Exclamou a última frase, revoltado com a história. No entanto, no instante seguinte ele coçou o interior da sua garganta e voltou a falar com a sua voz já normal. "Era impossível manter aquele casamento e todos sabiam disso. Quando eu escutei as funcionárias falando na cozinha, uma disse 'ela é obcecada por ele. Você sabe o que ela fez quando descobriu sobre toda a traição? Ela literalmente prendeu a respiração e se recusava a respirar mesmo com as amigas desesperadas pedindo para ela parar porque ela tinha um filho para cuidar' e a outra moça disse 'Eu tenho pena da criança. Um pai que se importa mais em pular a cerca e viver com outro homem e uma mãe que faz a sua vida girar em torno de um homem que sequer olha para ela. Ele está sozinho no mundo'. E ela não estava errada. Eu de fato estava sozinho no mundo. Mas então a 'moeda de troca' nasceu." Contou. A sua voz parecia mais calma ao citar seu irmão, mas ainda assim parecia estar um pouco ressentida. "Meu irmão veio ao mundo como uma estratégia da minha mãe de segurar o meu pai e como uma medida do meu pai de impedir que a minha mãe fosse embora e me levasse junto. Porém, mesmo sabendo que é um ponto de vista egoísta, para mim o Yeonjun também veio ao mundo para me fazer companhia." Explicou parecendo mais tranquilo. "Depois que ele nasceu eu nunca mais fiquei sozinho. Eu não estava mais sozinho. De verdade mesmo." Suspirou. "Enfim, depois que o meu irmão nasceu, eles pararam de brigar. Éramos uma família feliz. A gente jantava juntos todas as noites e saímos todos os sábados para lugares bem divertidos e bonitos."

"Isso é bom." Jungkook comentou feliz que as coisas tinham melhorado para Taehyung e o resto da família dele, suspirando aliviado que tudo havia se resolvido.

"É, mas não durou." O modelo avisou, quebrando a expectativa de Jungkook. "Tudo na vida tem data de validade, a felicidade e paz não são diferentes. Então, logo logo o normal voltou." Riu em um sopro, sem humor nenhum. "O normal no caso eram os gritos e choros. Era uma questão de tempo até que meu pai traísse a minha mãe de novo e todas as noites eram gritos, choro, coisas batendo e quebrando no andar de baixo. Só que o foda é que dessa vez o Yeonjun existia e ele sempre acordava com essas coisas, então eu corria para o quarto dele e ficava brincando com ele até o silêncio voltar. Só aí que eu podia colocar ele na cama e ir para o meu quarto para dormir por uma ou duas horas para depois acordar e ir para a escola." Contou, sua voz se tornando um pouco mais grave que o comum. "Eu odiava aquilo tudo, Jungkook. Eu realmente odiava porque eu sempre ficava com medo de nunca mais ver meu pai, medo de que minha mãe se machucasse, medo de tirarem meu irmão de mim..." Suspirou. "Eu sentia medo. Muito medo."

Diante da confissão, Jungkook sentiu pena de Taehyung. Os medos que ele sentia não eram algo que uma criança tão nova devia sequer imaginar sentir. Portanto, ele sentiu pena do mais velho, mas ele jamais confessaria tal coisa. Afinal, ele prometeu que não se sentiria de tal forma e estava quebrando a sua promessa.

Como se não fosse o bastante, Taehyung continuou: "E eu também detestava ir para escola. Eu sei que muitas crianças não gostam de ir para a escola, mas eu não odiava por ser entediante, mas sim porque as crianças da escola eram más comigo o tempo todo. Eu tinha olheiras horríveis e faziam piadas maldosas com isso, eu não tinha amigos porque eu passava o intervalo dormindo e eu não conseguia entender nada e sempre tirava notas ruins, então eu era chamado de burro até pelos professores... Mas eu estava cansado. Como eu iria entender a matéria? Eu só queria dormir." Riu amargo. "O engraçado é que eu sempre virava as noites acordado e pensando bastante, mas ainda assim eu não entendia por qual motivo eles estavam brigando daquela vez e nunca escutava direito o que eles estavam falando. Os gritos sempre eram altos, mas ao mesmo tempo abafados, sabe?"

"Uhum, sei." Confirmou, sua voz baixa, mas alta o suficiente para ser escutado pelo mais velho sem problemas. "Tipo quando você está do lado de fora de um show."

"Exatamente assim!" Taehyung concordou. "E eu queria saber o que eles estavam falando, então um dia eu deixei o Yeonjun no quarto dele com meus protetores de orelha que eu sempre usava quando ia esquiar com meus avós para que ele não acordasse e fui até as escadas. A escada era em U e dava para ficar sentado ali sem ser visto pelas pessoas que estavam na sala." Suspirou e se calou. Por um tempo, tudo o que Jungkook ouviu foi o barulho da água caindo no banheiro do seu quarto. "Viadinho pão com ovo." Chamou de repente.

"Oi." Respondeu pouco se importando com o apelido.

"Você já ouviu aquela frase de merda que diz que a curiosidade matou o gato?"

"Sim, já." O príncipe confirmou já imaginando que aquela história iria piorar.

Sempre piorava quando alguém citava aquela frase. Era como um presságio de que as coisas estavam prestes a ir para o sul.

"Então, a curiosidade não me matou, mas fodeu bastante com a minha vida." Contou rindo. "Enfim, eu fiquei lá ouvindo eles gritando e pela primeira vez eu entendi o que eles estavam falando. 'Se você tirar eles de mim eu faço da sua vida um inferno' 'A minha vida já é um inferno desde o dia em que eu engravidei de você pela primeira vez', 'Pois você deveria ser grata pela sua gravidez porque é por causa do Taehyung que eu casei com você e é por causa dele que eu não te deixei antes', 'Eu deveria ter abortado, então. Talvez assim, se eu tivesse seguido o conselho do meu irmão, eu seria feliz agora'." Repetiu as palavras ditas pelos seus pais naquela noite, sua voz cheia de rancor. "Depois disso veio mais um grito do meu pai. Um grito bem raivoso." Jungkook suspirou, mas continuou calado ouvindo. "Foi nesse dia que eu entendi tudo. Eu finalmente entendi o motivo pelo qual eles gritavam, brigavam e se odiavam tanto. Era por minha causa. Eu fui o erro número um. Se eu não tivesse nascido, então eles não estariam passando por tudo aquilo. Eu não tinha mais a quem culpar por todas as noites que eu e meu irmão virávamos acordados com medo dos gritos e também não tinha a quem culpar por todas as manhãs de risadas maldosas, puxões de cabelo e empurrões. Era tudo culpa minha, então tudo era daquele jeito porque tinha que ser daquele jeito."

"Você não merecia aquilo e você não era e nem é culpado de nada." Jungkook se apressou a dizer, não querendo que Taehyung se sentisse mal mesmo que o mais velho já parecesse estar se sentindo chateado por todo aquele assunto que provavelmente trazia lembranças ruins para ele.

"É isso o que meus psicólogos e psiquiatras disseram a minha vida toda, mas nenhum conseguiu me convencer disso." Contou rindo. "Porque para mim, falar que eu não fui o culpado disso tudo é como dizer para um crente que Deus não existe." Explicou, optando por fazer uma analogia para deixar a sua situação mais clara. "De qualquer maneira, depois daquilo eu comecei a me odiar mais e mais e me culpava cada vez mais também." Confessou, coçando o interior da sua garganta. "Até que um dia eles estavam gritando mais alto que o normal e meus ouvidos começaram a zunir muito e minhas orelhas começaram a coçar muito também. Então, para fazer parar, eu cocei a minha orelha porque eu pensei que assim fosse aliviar o incômodo. E eu cocei, cocei e cocei até não aguentar mais o zumbido horrível. Foi nesse momento que eu bati a minha cabeça e depois disso eu não lembro mais de muita coisa. Só lembro do meu corpo caindo no chão, os gritos do meu irmão me chamando, a porta do quarto abrindo com força e meus pais chamando o meu nome. Eu não conseguia responder, eu só conseguia prestar atenção naquele zumbido ensurdecedor." Revelou e Jungkook não notou, mas ele acabou prendendo a sua respiração ao ouvir o que havia acontecido com o melhor amigo da sua alma gêmea. "Quando eu voltei ao normal eu estava no hospital cheio de curativos no meu pescoço e nas minhas orelhas. Eles me disseram que eu me machuquei porque eu estava me batendo e coçando minhas orelhas sem parar até que as minhas unhas cortaram a pele." Contou, sua voz se tornando mais grave e suas palavras sendo pronunciadas com mais lentidão que o comum.

Não era difícil para Jungkook perceber que Taehyung estava, de certa forma, revivendo aquele dia em questão.

O Kim estava sentindo a dor que sentiu naquele dia graças à confusão que se instalou na sua pequena mente ainda infantil. Foi um dos piores dias da sua vida, mas definitivamente não era o momento que ocupava o número um no seu ranking que parecia ser mais concorrido que o TOP 10 da Billboard.

Engolindo em seco, Taehyung revelou: "Nesse dia eu fui diagnosticado com transtorno pós traumático. Basicamente eu sempre reajo desse jeito quando tem pessoas brigando perto de mim."

"Nossa, Taehyung, eu nem sei o que dizer..." Jungkook falou em um tom de lamento, suspirando enquanto tentava encontrar as melhores palavras para confortar o Kim.

"Relaxa, é raro de acontecer e quando acontece eu não machuco as pessoas. Eu só me machuco mesmo." Taehyung falou, fazendo questão de deixar claro para o mais novo que ele não era um perigo para terceiros. "Enfim, continuando–"

"Taehyung." Jungkook interrompeu o coreano, chamando pelo seu nome de repente. "Você pode parar de falar se quiser. Eu já entendi." Falou fazendo questão de dar a oportunidade do mais velho parar de falar.

Taehyung estava perceptivelmente desconfortável e o príncipe não queria causar mal nenhum para o coreano.

"Não, você ainda não entendeu." Taehyung respondeu de maneira firme, mas não mal educada como de costume. Apenas bem firme. "Você entendeu ⅕ das minhas razões e apenas isso." Acrescentou e Jungkook não pôde deixar de pensar que era uma grande merda que aquilo fosse só o início da história.

"Mas eu não quero que você fique desconfortável." Jungkook argumentou. "Mais do que você já deve estar, na verdade."

"Eu não estou. Eu não gosto de falar sobre, mas não é como se eu não pensasse nisso quase que diariamente." Avisou rindo em seguida de maneira fraca e um pouco sombria. "Eu sei que parece que eu vivo em um clichê de que eu odeio a ideia do amor porque meus pais nunca se amaram e eu sofri tanto com isso." Falou, mudando o seu tom habitual para algo forçado e fino para decretar a sua suposta razão. "Mas não é tão simples assim. Não quando você vive essa merda. Eu sinto medo de amar, então não me permito fazer isso. Eu corto laços antes de que eu acabe dando espaço para que qualquer coisa venha disso. Não só por causa do casamento de merda dos meus pais, mas também porque eu morro de medo de ser como a minha mãe. Sabe, amar tanto alguém ao ponto de me tornar dependente dessa pessoa?" Perguntou retoricamente. "Não financeiramente, até porque nunca se tratou disso para a minha mãe, mesmo que sempre que eu pedia para ela se separar dele, a desculpa dela para não pedir o divórcio era dinheiro. Mas como poderia ser uma questão financeira quando ela tinha a Sunce e ele a Vante?" Quis saber, rindo por considerar cômica a desculpa mal feita da sua mãe. "Não é como se meu pai estivesse planejando roubar a grife da família da minha mãe." Bufou. "De qualquer forma, quando eu tinha mais ou menos uns oito anos, eu percebi que nunca foi questão de dinheiro, mas sim uma questão de vida porque para a minha mãe não existia vida sem meu pai. Só que para o meu pai a vida dele se tratava apenas de mim, do Yeonjun e da Vante." Suspirou e, do outro lado da linha, Taehyung bagunçou seu cabelo enquanto olhava para a paisagem em frente à varanda do apartamento de Namjoon e Seokjin. "Então, juntando tudo isso à todos os episódios que eu tive que aguentar durante toda a minha infância, eu me impedi de sentir."

"Então você nunca amou ninguém?" Jungkook perguntou curioso a respeito do assunto. "Digo, romanticamente."

"Amar romanticamente não, mas já me apaixonei uma vez e foi o maior erro que eu já cometi em toda a minha vida." Respondeu suspirando. "Tirando a minha existência, claro." Acrescentou rindo, dessa vez de bom humor. "E não estou sendo dramático, ok? Esse aesthetic cafona é todo seu."

"Muito obrigado pela parte que me toca." Jungkook agradeceu de maneira irônica, mas seu tom carregava uma leveza que fez a conversa se tornar mais confortável.

"Apenas verdades sempre, vossa alteza." Taehyung brincou, fazendo o mais novo rir baixinho e leve.

Nos instantes seguintes, Jungkook e Taehyung riram juntos até que o silêncio voltou gradualmente a tomar conta da linha telefônica. Nenhum dos dois jovens presentes nos dois lados da linha falava absolutamente nada. A tensão de antes não estava tão forte quanto nos minutos anteriores, mas ainda estava presente.

Jungkook sabia que a melhor coisa a se fazer era aproveitar que as energias pesadas haviam se enfraquecido para apenas dar o assunto como concluído e seguir em frente. No entanto, o príncipe japonês era um homem curioso e, como a maioria das pessoas curiosas ao extremo, Jungkook deixou a lógica de lado para buscar uma resposta.

"Mas Taehyung–"

"Pode me chamar de 'Tete hyung'." Taehyung interrompeu o mais novo, avisando nas entrelinhas ao mais novo de que agora eles possuíam uma certa intimidade.

"Sério?" Jungkook perguntou animado, arregalando de leve seus olhos já grandes. Do outro lado da linha, quase sem vontade, Taehyung murmurou em concordância. "Maneiro!" Comemorou feliz. Jungkook gostava genuinamente do modelo e achava Taehyung tão divertido e engraçado que queria o ter como um amigo. Antes de voltar a falar, o príncipe respirou fundo para se acalmar. "Tete hyung." Chamou.

"O que você quer?" O coreano perguntou, parecendo um pouco entediado.

"Você vai me contar sobre quando você se apaixonou?" Jungkook perguntou sem vergonha na cara.

"Já deu das minhas tragédias pessoais por hoje, não?" Taehyung riu. "Cadê o Jimin? Ele não termina esse banho nunca?"

"Ele demora no banho." O japonês explicou enquanto olhava para a porta que continuava fechada.

"É, eu sei. Eu sou a alma gêmea dele." Taehyung falou cheio de confiança a respeito do seu título de relacionamento com Jimin.

"Você não é." Jungkook negou, sorrindo porque ele sabia que o mais velho só queria incomodar ele.

Entretanto, a verdade era que o Kim realmente acreditava ser a alma gêmea legítima de Jimin. Claro, ele também falava sobre isso o tempo todo para incomodar Jungkook, mas no final do dia ele ainda se considerava uma alma gêmea do príncipe coreano mesmo que aquele fio idiota não estivesse preso em seu pulso, o ligando à Jimin.

"Sim, eu sou. Você sabe disso e ele também." O modelo insistiu, mantendo a sua voz tão calma quanto o usual.

"Eu que tenho o fio do destino com ele e vivi a vida passada com ele." Jungkook apontou os fatos, inconscientemente pegando com a sua mão livre a linha roxa que não pesava nada e que continuava a brilhar como sempre fazia.

"Grande merda, eu sou melhor amigo dele desde sempre e sou a alma gêmea dele. Olha como ele salvou o meu contato no celular nele." Taehyung instigou e Jungkook seguiu as instruções do mais velho, afastando o celular de Jimin do seu ouvido para conferir o nome de contato que ele já sabia qual era. Alma gêmea. Esse era o nome de contato de Taehyung. Suspirando, Jungkook voltou a colocar o celular contra a sua orelha. "Seu silêncio ensurdecedor diz que você já viu o contato e percebeu que eu estou certo."

"Eu tenho o fio, você tem o contato." Jungkook falou com um sorriso presunçoso. "Quem está realmente ganhando, hm?" Provocou cheio de infantilidade.

"Eu." Taehyung respondeu rindo enquanto mantinha o seu tom confiante. "Ele me ama." Falou o que era um fato incontestável.

Jimin realmente amava muito Taehyung.

"Ele está apaixonado por mim." Jungkook resmungou como uma criança contrariada por um adulto malvado.

Era engraçado para o modelo o jeito como aquele homem de vinte e três anos, príncipe da porra de todo um país que aterrorizou o seu dezenas de vezes ao longo da história e com todos aqueles músculos agia. Era como se a droga da soma não batesse e a matemática estivesse totalmente errada. Nada fazia sentido com nada. Justamente por isso que Taehyung se divertia tanto ao implicar com Jungkook. Era como assistir um bobo da corte de perto. De fato era muito interessante.

"Grande bosta." Taehyung desmereceu sem hesitar, rindo soprado. "Rola ou amizade? O que é mais relevante?" Perguntou maldoso.

"Eu sou mais do que uma rola." O príncipe protestou revoltado por ter sido rebaixado a algo tão simples como uma genitália.

"Discutível, otaku fedido." O modelo continuou a provocar o mais novo que caiu em sua armadilha como um patinho indefeso e não tardou a protestar.

"Eu tomo banho!" Falou alto, se ajoelhando na cama diante da sua revolta porque ele era realmente um homem limpo. Hoseok o obrigava a ser limpo ou então reclamava bastante!

"Que?" Jimin perguntou do banheiro, desligando de repente a água do chuveiro para o ouvir melhor. "Quer usar o banheiro? Estou terminando de lavar o meu cabelo!" Se explicou antes mesmo de Jungkook conseguir responder qualquer coisa. "Já estou quase saindo!" Prometeu.

"Nada não, Jiminie." Jungkook respondeu. "Tome seu tempo!" Falou agitado, encarando a porta de madeira que se manteve fechada durante todo o tempo.

Sem protestar, o loiro logo voltou a ligar o chuveiro. No entanto, Taehyung não voltou a falar para responder ao protesto feito anteriormente pelo príncipe japonês e nem o mais novo voltou a dizer nada por um tempo. Era como se o assunto tivesse sido concluído e nenhum dos dois estava mais interessado em voltar a abrir o tópico já esquecido. Notando isso, Jungkook aproveitou a chance para iniciar uma nova conversa.

"Então..." O japonês voltou a falar, deixando a palavra no ar.

"O que você quer?" Taehyung perguntou suspirando.

Ele só queria desligar o celular e voltar a dormir.

"Você vai me contar sobre quando você se apaixonou?" O príncipe perguntou voltando a se sentar na cama, cruzando as suas pernas para ficar em uma posição mais confortável para ouvir o mais velho falar.

"Espera." Taehyung perguntou soando legitimamente surpreso com a situação. "Você realmente não ouviu falar sobre? Foi tipo, o meu maior escândalo." Falou para o príncipe que riu em um sopro.

"Não, Tete, eu não leio sobre essas coisas." Jungkook voltou a afirmar o que era a verdade.

"Mas todos estavam falando sobre." Taehyung resmungou ainda mais surpreso e confuso do que antes.

"Quando isso aconteceu?" Jungkook perguntou tocando seu lábio inferior, planejando saber a data para talvez assim ter uma ideia de onde ele estava e o que ele estava fazendo na época.

"2012." O Kim revelou.

Ao ouvir a data, a única reação que Jungkook pôde ter foi rir. Naquela época ele ainda prezava bastante pela sua saúde mental e era sensato o suficiente para não ousar abrir um jornal físico ou digital. Nunca tinha nada de bom direcionado à ele. Pelo contrário, era sempre negativo e ele sempre saía machucado. Não valia a pena de maneira alguma, então ele não tinha interesse em saber da vida alheia e fofocas escandalosas.

"Nesse ano eu só queria saber de Naruto, One Piece e se o calendário maia estava certo." Jungkook revelou de maneira bem humorada, arrancando uma risada baixa e fraca do modelo. "O que aconteceu?" Perguntou se referindo ao tal escândalo no qual o Kim estava envolvido. "Mas se não quiser falar, está tudo bem. De verdade mesmo." Foi sincero.

Jungkook estava curioso, mas escândalos públicos eram sempre chatos de se lidar e muitas vezes causavam tormento na vida de quem era alvo da fofoca. Portanto, caso Taehyung optasse por não contar, então ele respeitaria a decisão do Kim.

"Querer eu não quero, mas é melhor eu contar antes que você descubra na internet e pegue nojo de mim ou coisa parecida igual ao seu amiguinho." Taehyung falou. "Afinal, eu vou ter que aturar a sua cara até o Jimin cansar de você."

Ele não vai cansar de mim, Jungkook quis dizer, mas ele sabia que essa não era a verdade. Ninguém nunca aguentava passar muito tempo ao lado dele. Por esse motivo, Jungkook preferiu ignorar essa parte da fala alheia e focar em outras coisas que foram ditas.

"Eu não iria sentir isso de você, doido." Jungkook avisou franzindo o cenho diante da ideia infundada de Taehyung. "E não precisa me contar só por causa disso. Eu prometo que não vou procurar nada sobre." Prometeu, de fato planejando fazer o que ele disse que faria.

Se o assunto em questão fosse fazer Taehyung ficar constrangido, então ele não iria procurar saber sobre o que se tratava.

"A questão não é sobre isso." Taehyung falou rindo soprado, mas sua risada não era verdadeira. Estava mais para algo forçado para soar mais descontraído do que ele realmente estava. "Somos amigos, é natural que você saiba."

"SOMOS AMIGOS?!" Jungkook praticamente gritou, surpreso que o mais velho o considerava de tal maneira tão importante.

"Achei que fosse um consenso." Taehyung resmungou parecendo dar pouca, ou quase nenhuma, atenção para o assunto.

Mas o assunto merecia atenção. Taehyung não era uma pessoa fácil, ambos os jovens presentes na ligação sabiam muito bem disso, e era mais difícil ainda conseguir formar uma amizade com o modelo coreano.

A aquele ponto, por mais que o príncipe japonês desejasse ter uma amizade com o Kim, ainda era difícil para ele acreditar que Taehyung sequer gostava de como ele era. Frequentemente o herdeiro da moda fazia piadas e comentários sarcásticos com uma visão negativa sobre algumas das escolhas e da personalidade do japonês e isso acabava por fazer Jungkook acreditar que não existia possibilidade alguma do melhor amigo da sua alma gêmea carregar qualquer intenção de ser seu amigo.

Então, sim, pelo menos para Jungkook aquelas palavras formavam uma grande revelação.

"Ah, mas você..." Jungkook começou a falar, mas hesitou. "Sei lá..." Voltou a hesitar, rindo constrangido pelas suas pausas repetidas logo em seguida. "Eu achei que você não gostasse de mim."

"Eu não gostava. Achei que você fosse tirar o Jimin de mim. Mas sei lá, você é um cara idiota demais para conseguir isso e também acaba sendo idiota o suficiente para ser agradável estar perto de você. Sabe, para rir da sua cara." Taehyung explicou com naturalidade, como se nem mesmo precisasse pensar nas suas palavras, tão confiante quanto o usual.

Taehyung era sempre muito confiante.

"Nossa, valeu." Jungkook agradeceu beirando o sarcasmo.

Jungkook não era um idiota, mas ele também não queria discutir sobre esse assunto, então para ele estava tudo bem. Em um outro momento ele corrigiria o coreano.

"E você também faz meu ChimChim feliz." Taehyung acrescentou, sua voz bem mais suave do que antes. "Então é, eu gosto de você." Concluiu estalando em seguida a sua língua no topo da sua boca.

"Ah, Tete hyung..." Jungkook falou, suspirando como um adolescente apaixonado. E, apesar de não ser um adolescente, ele realmente estava apaixonado. Ele apenas não estava apaixonado por Taehyung, mas sim pelo melhor do modelo. "Eu também gosto de você!" Declarou sorrindo.

"Tá, tá." O Kim falou perceptivelmente cansado daquele assunto. "Quer ouvir a minha história de merda ou não?" Perguntou já quase desistindo de contar mais alguma coisa para o mais novo, este que assentiu assiduamente mesmo sem que o modelo pudesse ver ele.

"Quero." Jungkook confirmou certo do que ele queria. "Conta."

"Ok." O Kim concordou sem relutância. "Continuando a saga de desgraça da minha vida, mesmo eu tendo todos esses problemas que eu falei, eu ainda queria ter amigos." Falou rindo soprado, amargo o suficiente para Jungkook notar. "Aliás, que criança não quer ter amigos, não é?" Perguntou resmungando.

"É." Jungkook concordou, se esforçando para não deixar tão explícito a forma como ele entendia bem o que Taehyung queria dizer.

"Eu só tinha nove anos e sempre perdia todos os meus amigos porque eu não conseguia dar atenção para eles e não tinha energia para brincar, mas eu ainda queria ter alguém para brincar comigo. Sabe, para me distrair um pouco de tanto ódio e caos que tinha em casa e tudo mais." Explicou e Jungkook voltou a assentir, mesmo sabendo que Taehyung não estava vendo. "Mas a merda de ser uma criança que sofre de transtorno pós traumático é que seus pais precisam notificar aos seus professores e para a diretoria sobre a sua condição para que eles saibam o que fazer quando e caso aconteça algum episódio com você. Sabe, para que todos saibam que determinados objetos poderiam oferecer risco para mim ou para as pessoas ao meu redor caso estivessem ao meu alcance." Esclareceu e, naquele mesmo instante, o príncipe já começou a imaginar que as coisas iriam piorar naquela escola.

Jungkook adorava crianças, mas ele nunca foi do tipo de pessoa que desacredita do ditado 'crianças são cruéis'. Ele sabia que nem todas eram cruéis, mas muitas eram.

"Depois que eu fui diagnosticado, meus pais marcaram uma reunião com meus professores e com o pessoal da diretoria só para explicar o que acontecia comigo e tudo mais. O objetivo era que eles soubessem que eles teriam que afastar os alunos de mim e afastar todos os objetos que estivessem ao meu alcance, principalmente os afiados e finos." Falou, mas antes que ele pudesse continuar a sua história, ele interrompeu a ele mesmo e tomou um outro rumo. "Mas não precisa se assustar, Jungkook. Eu não machuco as pessoas. Nunca machuquei ninguém." Voltou a repetir o mesmo aviso que já havia sido dado antes, preocupado que Jungkook fosse passar a temer estar perto dele.

"Você já disse antes, Tete, e eu acredito. Fica tranquilo." Jungkook se apressou em dizer em uma tentativa de impedir que o mais velho pensasse em coisas erradas.

"Obrigado por isso." Taehyung agradeceu sincero.

O Kim era sempre sincero, mas naquele momento a sua fala havia soado tão sincera que pareceu frágil para o príncipe. Estava claro para Jungkook o quanto aquele assunto era sensível para Taehyung e, por essa razão, o japonês estava com a sua atenção redobrada para não falar besteiras.

"Mas eu não tenho esses surtos do nada. Meu gatilho são brigas. Gritos comuns de pessoas comemorando, cantando, chamando alguém que está longe ou qualquer outra coisa não me afetam, mas gritos de raiva, brigas em tom de voz alta..." Continuou a se explicar apesar do aviso dado anteriormente por Jungkook. "É, essas coisas são ruins para mim." Confirmou, suspirando.

"Entendi." O príncipe falou baixinho, demonstrando estar ciente das palavras proferidas pelo modelo.

"Enfim, no final, uma coisa que era para me proteger e proteger os meus colegas acabou por virar uma arma usada contra mim porque as crianças descobriram sobre a minha condição. E crianças são más." Taehyung contou, revelando o que Jungkook já desconfiava que seria o desfecho desastroso daquela memória. Cheio de rancor e amargura, o Kim riu baixinho antes de continuar a falar. "Meu cu que crianças são uns anjinhos. Hobbes estava certíssimo quando disse que 'o homem é, desde o início, mau, perverso e egoísta'." Citou a fala do filósofo sem dificuldades, como se já estivesse na ponta da sua língua. "Um dia eu estava indo para o vestiário me trocar para a aula de educação física, mas alguns meninos começaram a brigar e me prenderam lá dentro. Eles gritaram um com o outro e se bateram e os que não estavam participando da briga gritavam para eles continuarem e me seguraram. Eles não queriam me bater, eles só queriam assistir um show de terror. E eles assistiram."

"Ai não." Jungkook deixou escapar baixinho, mas a sua fala não foi o suficiente para impedir que o coreano continuasse a falar.

"Nesse dia eu me machuquei mais do que das outras vezes porque eu estava com um casaco com zíper na manga e até hoje eu lembro perfeitamente bem da risada deles." Resumiu. "Eu não lembro de tudo, nunca lembro direito desses momentos de surtos, mas eu lembro que eles pareciam muito satisfeitos com o que estavam vendo. Eu estava sangrando, meu ouvido doía e eu grunhia igual a porra de um cachorro louco e confuso, mas entre os zunidos eu só conseguia ouvir as risadas deles e ver conforme eles apontavam. Eles estavam assistindo o meu sofrimento com muito prazer um show de horrores ao vivo."

"Sinto muito por isso, Tete." Jungkook lamentou sinceramente, se sentindo triste por saber que o mais velho havia vivido coisas tão ruins logo nos seus primeiros anos de vida.

"Não é culpa sua." O modelo falou tentando dispersar o mais rápido possível as palavras de consolo do príncipe. No entanto, o coreano não obteve sucesso algum em seu objetivo.

"Ainda assim, eu sinto muito." O príncipe insistiu. Seu tom ainda era o mesmo que antes. "Ninguém merece passar por esse tipo de coisa. Você não merecia isso." Jungkook lamentou. "Eles foram expulsos?"

"Alguns sim, outros não." Taehyung respondeu, voltando ao seu tom indiferente de costume. "O dinheiro fala mais alto que a sensatez, mesmo quando isso coloca a vida e integridade de pessoas em risco. Os pais que conseguiram pagar para fazer a diretoria esquecer o nome dos filhos deles conseguiram fazer os filhos levarem só uma suspensão de três dias." Contou estalando a sua língua no topo do interior da sua boca. "Eu quase fiquei cego de um olho e estourei os meus tímpanos, mas de onze alunos que participaram daquela merda, só dois foram expulsos. Os dois eram bolsistas."

"Que filhos da puta do caralho!" Jungkook xingou alto, se surpreendendo e se revoltando mais com tudo aquilo que ele acabou de ouvir. "A Coreia é um bom país! A polícia não fez nada?"

"Eles sequer ficaram sabendo, Jungkook." Taehyung contou rindo da quase inocência do mais novo. "Meus pais tentaram, eles fizeram um escândalo na escola, mas o que são dois bilionários contra um grupo composto por nove milionários e bilionários? Porra nenhuma." Xingou, se sentindo um pouco irritado com o que ele havia vivido e com a realidade das coisas. "Então meus pais me trocaram de escola e eu decidi que dessa vez eu seria diferente porque eu aprendi que ser bonzinho e tratar todo mundo bem, não me traria porra nenhuma de bom."

Por causa da sua atenção reforça, Jungkook conseguiu sentir a diferença no tom de voz usado por Taehyung. Era uma mudança pequena, mas uma mudança que deixava explícita para quem prestasse atenção a forma como o Kim ainda guardava dentro dele todo remorso a respeito daqueles dias sombrios.

Continuando, ele disse: "Porque antes eu costumava oferecer meu lanche para as pessoas só para ter com quem ficar na hora do intervalo." Riu fraco e cheio de amargura. "Sabe, depois do meu primeiro surto, meus pais começaram a se controlar mais e, se eles brigavam, eu não escutava. Portanto, naquela época eu conseguia dormir bem e conseguia ter tempo para fazer o meu dever de casa e o dever de casa de algumas outras pessoas. Até porque, dessa forma, no dia seguinte eu teria alguém me esperando na escola." Falou e, por mais que tenha prometido o contrário, Jungkook sentiu mais uma vez pena de Taehyung.

Ele prometeu que não se sentiria, mas ele não conseguia controlar seus sentimentos, principalmente porque a vida do modelo não foi fácil. Quando Jungkook conheceu Taehyung, ele julgou o coreano como apenas mais um membro da elite da sociedade que teve a vida mansa e que no máximo teve que lidar com os pais ausentes que apareciam de vez em quando para paparicar ele, nunca estabelecendo limites. No entanto, agora o príncipe queria se punir por um dia ter rebaixado tanto os problemas do Kim.

"Quando aquilo aconteceu, quando os garotos para quem eu fazia aquilo tudo fizeram aquela merda comigo, eu entendi que toda essa droga era desnecessária porque no final eu ainda ia continuar sendo o esquisito que não tem amigos para convidar para a festa de aniversário." Falou com raiva. "Então foda-se. Eu taquei o foda-se para todos eles! Depois daquele ataque, os meus pais me trocaram de colégio. E nessa nova escola, eu não era mais dado como solitário porque eu era esquisito, mas eu era solitário porque eu estava indiferente a absolutamente todos. Eu passava para todos a ideia de que eu me achava melhor que cada um deles e, Jungkook, se você age de uma maneira e age como se você realmente acreditasse nisso, então todos vão acreditar também e vão te tratar como tal." Revelou, soando tão amargo quanto wasabi. "Eu ainda não tinha amigos e, no fundo eu ainda queria amigos, mas a partir dali eu não era mais capacho de ninguém e ninguém me machucava." Falou respirando fundo logo em seguida, se acalmando um pouco. "O tempo passou, eu entrei no ensino fundamental e mudei de escola de novo. Foi só então que eu conheci o Jimin. Quando eu e ele tínhamos doze anos."

"Jiminie!" Jungkook comemorou, tomando pouco cuidado com o volume do seu tom de voz, o que resultou em Jimin abrindo a porta do banheiro para em seguida sair do cômodo de higiene pessoal.

"Oi!" O príncipe coreano respondeu, secando o seu cabelo com uma toalha branca igual a que circulava a sua cintura para esconder suas partes íntimas que estavam nuas.

A presença repentina de Jimin no quarto acabou assustando Jungkook, este que sequer ouviu quando o chuveiro foi desligado e, ao notar que o Park já estava no quarto, se levantou e se sentou sobre o colchão para observar o mais velho com a pele pálida ainda molhada e o rosto totalmente livre de qualquer vestígio da maquiagem que o príncipe sempre fazia tanta questão de usar.

Mesmo sem os retoques dos cosméticos, Jimin ainda era um homem dono de uma beleza tão notável que era o suficiente para tirar momentaneamente o ar dos pulmões de Jungkook, que encarou o coreano como um bobo por alguns segundos até ser arrastado de volta para a realidade pela risadinha encantadora do loiro.

"Nada não." Jungkook respondeu, oferecendo um sorriso para o coreano que voltou a rir baixinho enquanto negava com a sua cabeça apenas para em seguida caminhar, ainda rindo, em direção ao closet de Jungkook. Era lá onde estava a mala de viagem com as roupas do príncipe estrangeiro. "Pode continuar a falar, Tete hyung." Notificou ao voltar a ficar sozinho.

"Sim, era o Jimin." Taehyung confirmou de bom humor, rindo baixinho da cena estúpida que ele ouviu através do celular. "Um ano depois que eu entrei no colégio, ele também entrou e, como ele era novo na escola, todo mundo queria ser amigo dele. Óbvio que todos queriam. E, honestamente? Eu era um deles. Só que diferente de todos que queriam ter um príncipe como um amigo, eu queria ser amigo dele porque ele usava um chaveirinho de flor de cerejeira na mochila dele. Era bem fofo." Contou junto a uma risadinha fraca. "E eu também amo cerejeiras. Elas são lindas e me trazem paz. E o Jimin me trouxe paz."

"Tipo a primavera." Jungkook se deixou levar, sua personalidade romântica conspirando para que ele começasse a imaginar lindos cenários envolvendo uma brisa fraca carregada de flores de cerejeira e dois grandes amigos no meio de um caminho de árvores. Era lindo! "Jiminie é um anjo." O príncipe suspirou baixinho, mas alto o suficiente para que Taehyung escutasse e, do outro lado da linha, o modelo fingiu o som de vômito.

"Porra, você é tão baitola que chega a ser nojento." Taehyung xingou, imitando o tom típico de alguém enojado. "Você de verdade me faz querer ser Jungkook-fóbico."

"Eu sou um homem apaixonado, me deixa em paz." Jungkook protestou em sua defesa, usando um argumento que era bem válido.

Afinal, para Taehyung pessoas apaixonadas eram realmente idiotas e, mesmo que ainda fosse vergonhoso, quando se tratava dos seus amigos, o modelo fazia um certo esforço para relevar a breguice.

"O fio mudou de cor?" Taehyung perguntou como quem não quer nada.

"Sim, está todo roxo." Jungkook confirmou, se sentindo orgulhoso disso, mesmo que a ficha ainda não tivesse caído.

Na mente de Jungkook, ainda parecia uma grande loucura sem nexo cogitar que Park Jimin estaria minimamente interessado nele. Mesmo depois dos dois agirem feito coelhos em Redcliffe, Sidney e na noite anterior já em Tóquio, para o príncipe mais novo, o coreano nunca estaria interessado nele além do físico.

Jimin nunca foi discreto a respeito do seu desgosto com tudo o que envolvia a família imperial japonesa e, dado os acontecimentos históricos, Jungkook não podia julgar o mais velho, ainda mais agora que ele sabia que em sua vida passada ele foi um coreano vivendo na península coreana bem durante o período de invasão japonesa. Em suma, os sentimentos negativos de Jimin pela coroa japonesa eram compreensíveis e por essa razão e outras que Jungkook não esperava muita evolução da sua relação com a sua alma gêmea. Talvez eles se tornassem grandes amigos.

No entanto, Jimin foi o primeiro a se apaixonar e Jungkook ainda sentia um controlado frenesi sempre que se lembrava ou olhava para a coloração presente no seu fio do destino.

Roxo. Estava totalmente roxo porque os dois estavam apaixonados um pelo outro.

"Eu já sabia. O Jimin me contou hoje de manhã." Taehyung revelou, fazendo questão de mostrar o seu conhecimento sobre os acontecimentos recentes da vida do príncipe coreano. "Enfim, voltando para a história de merda... Por obra do destino, o Jiminie sentou do meu lado em todas as aulas naquele dia e nunca mais trocou de lugar. Ele sempre sentava do meu lado e mesmo que ele tivesse um estojo cheio, todos os dias ele me pedia emprestado um lápis, borracha, caneta, corretivo e vários outros materiais que eu sabia que ele tinha, mas eu sempre emprestava mesmo assim."

"Não se nega nada para o Jimin." Jungkook apontou, certo das suas palavras.

"Sim, não se nega." O modelo concordou rindo. "Mas é, nós dois viramos amigos com o tempo e agora somos desse jeito. Inseparáveis desde o primeiro dia e sem planos de mudar isso."

"Adorável." Jungkook comentou com um belo sorriso em seu rosto.

"Calado." Taehyung pediu tentando soar sério, mas acabou rindo soprado em seguida por apenas alguns segundos antes de coçar o interior da sua garganta para suprimir a risada. "Enfim, a gente ficou naquela coisa de emprestar material escolar por um tempão até o dia em que ele sentou do meu lado na hora do lanche e puxou conversa comigo sobre como era uma grande coincidência que a gente estava comendo pizza na hora do almoço. Até hoje eu acho que não foi coincidência nenhuma porque eu levava pizza todos os dias e ele sempre levava frutas e kimbap, mas naquele dia em específico ele levou pizza e depois nunca mais."

"Ele queria ser seu amigo e levou pizza para ter sobre o que falar." Jungkook apontou o achismo dele enquanto ria.

"Acho que sim." O modelo concordou. "E funcionou. Depois disso, a gente começou a conversar sempre. Compartilhamos segredos um com o outro e ele sabia sobre meus episódios pós-traumáticos, inclusive o gatilho, mas não sentiu medo nem nada, ele só quis saber mais sobre e até estudou para saber como me ajudar caso precisasse um dia." Contou e, mesmo do outro lado da linha telefônica, Jungkook conseguiu sentir o quanto aquele gesto vindo do príncipe coreano significou e ainda significava para Taehyung. "Viramos um grude completo. Ele sempre visitava a minha casa e eu visitava o Palácio Azul. A gente fazia festas do pijama, acobertava um ao outro quando a gente queria sair com algum cara, a gente fugia juntos para festas–"

"Jimin fugia para festas?" O príncipe interrompeu o coreano com um grito sussurrado causado pela sua grande surpresa ao ouvir aquela revelação.

Para Jungkook, Jimin era certinho demais para fazer algo tão fora da linha como fugir de casa para frequentar festas e, provavelmente, encher a cara com bebida alcoólica. Essa era uma imagem que simplesmente não batia com o que ele conhecia de Jimin e, se não fosse Taehyung dizendo isso, ele certamente não iria acreditar em alguém dizendo tal coisa sobre a sua alma gêmea. Afinal, entre ele e o Park, o mais velho era o que parecia um senhor de idade de tanto que adorava seguir as regras!

"E muito." Taehyung reforçou o que ele já havia revelado há poucos segundos. "Naquela época, nós dois estávamos emocionalmente no topo do mundo. Era sempre tão divertido estar juntos e a gente finalmente tinha um ao outro. Sabe, amigos de verdade." Suspirou. "Pessoas como a gente tem tudo o que quiser, mas ter amigos de verdade que gostam e querem estar com você por quem você é, é uma merda difícil para um caralho de conquistar."

E Jungkook sabia bem disso.

Crescer como um príncipe não era um mar de flores, pelo menos não depois de experimentar o que era ter liberdade e a sinceridade. Quando ele morava em Redcliffe, todos os seus amigos eram seus amigos porque gostam de quem ele era, não do que ele tinha a oferecer. A vida era bem mais fácil naquela época. Ele não precisava se preocupar com absolutamente nada, ir para a escola era divertido e todos os dias um dos seus amigos estaria batendo na porta da sua casa depois do almoço para que eles fossem brincar na rua.

Já quando Jungkook se mudou com a sua família para o Japão e se tornou conhecido mundialmente por ser um dos dois filhos do novo imperador do Japão, a sua vida mudou completamente. A partir do dia da coroação do seu pai, ser comparado o tempo inteiro com o seu irmão mais velho se tornou parte do dia a dia de Jungkook. Frequentemente todos enchiam a boca para dizer o quanto Seokjin era incrível e imaculado enquanto Jungkook era um grande fracasso e um ótimo exemplo de jovem problemático.

Era revoltante, mas em momento algum Jungkook se revoltou contra o seu irmão ou família. Ele nunca se revoltou nem mesmo com as fake news que preenchiam as manchetes e a boca do povo ou com as pessoas que se aproximavam dele cheios de segundas intenções.

Era cansativo ter a necessidade de sempre questionar quais eram as verdadeiras intenções de quem se aproximava dele. Contudo, Jungkook considerava que era melhor questionar do que acordar no dia seguinte com uma foto dele dormindo de bruços em uma cama de hotel com apenas a parte debaixo do seu corpo sendo coberta por um lençol branco correndo por toda a internet porque um 'parceiro em potencial' quis se gabar em seu Instagram a respeito de com quem ele havia passado a noite apenas para ganhar algumas centenas de milhares de seguidores.

Mas essa era a vida que pessoas com grandes influências viviam e não existia qualquer escapatória para essa realidade. Pelo menos, não enquanto o título de príncipe ainda estivesse atrelado ao seu nome, mas em breve Seokjin se casaria e Jungkook poderia seguir com o seu plano de se mudar de volta para a Austrália.

Continuando sua história, Taehyung falou: "Mas é, a gente viveu os anos seguintes como qualquer outro adolescente idiota vive. A gente tinha alguns colegas com quem a gente costumava sair as vezes e, quando a gente já tinha dezesseis, eu estava conversando com o Jiminie e contei para ele sobre esse garoto que eu tinha pegado em uma festa de fraternidade que eu entrei de penetra com um pessoal da escola." Taehyung contou enquanto Ice Bear pulava no colo de Jungkook e começava a se acomodar sobre as coxas do príncipe japonês. "O garoto tinha me mandado mensagem naquele dia me chamando para sair com ele, justamente quando eu estava no quarto do Jiminie. Na época, eu já tinha essa regra de não repetir macho e o Jimin me perguntou o motivo pelo qual eu não dava logo uma chance de conhecer melhor esse menino." Falou, rindo um pouco amargo logo em seguida. "Eu lembro que ele disse: 'Nem todos os relacionamentos são ruins, Tae. Sei que seus pais foram uns merdas um com o outro, mas nem todos acabam de um jeito ruim'. Eu não acreditei em nada que ele disse, nem em uma palavra sequer, mas o Jimin nunca falaria ou faria algo para me machucar. Na verdade, pelo contrário, o Chim prezava e ainda preza pelo meu bem estar, então eu dei uma chance para o cara e respondi a mensagem." Concluiu suspirando em seguida, parecendo decepcionado com ele mesmo.

E Taehyung realmente estava. Ele não culpava Jimin. Afinal, quem havia aceitado sair e se envolver com Hansol foi Taehyung. Em momento algum houve a presença de uma arma apontada contra a sua cabeça para que tais decisões fossem tomadas. Contudo, em todos esses ultimos anos, Taehyung não conseguia se impedir de pensar e imaginar como a sua vida seria se ele não tivesse respondido àquela maldita mensagem.

Talvez eu fosse mais feliz.

Talvez eu teria realizado o meu sonho e me tornado um veterinário.

Talvez eu estivesse vivendo uma vida mais saudável, longe dos meus pais e com uma porção a menos de cicatrizes no meu rosto e pescoço.

Minha vida seria melhor que eu não tivesse tentado sair da estrada bem feita para me aventurar em uma trilha desconhecida.

"Eu e ele saímos algumas vezes e ele era incrível. Muito inteligente, bonito, engraçado, gostava de moda, dos mesmos cantores e artistas plásticos que eu..." Suspirou. "Era perfeito. E também era tão legal porque ele era mais velho e queria sair comigo. Ele era tipo, o típico cara maneiro de fraternidade da faculdade, sabe?" Perguntou retoricamente. "Nessa época, graças a tudo o que existe de bom, meus pais já tinham se separado. Minha mãe vivia em Paris por causa do ateliê dela e, mesmo que eu e meu irmão estivéssemos morando com meu pai, ele também estava quase sempre no ateliê dele em Paris. Ele raramente estava na Coreia, então eu ficava em casa com o meu irmão e, como eu era o mais velho e mandava em tudo, até nas pessoas que deveriam cuidar da gente, eu comecei a passar noites foras, roubar as bebidas e os charutos do meu pai e fumava eles com o Hansol." Contou tranquilo, mas de repente ele suspirou um 'ah' como se estivesse lembrando de uma informação. "Eu não disse antes, mas Hansol era o nome dele." Adicionou a informação, o que veio a assustar Jungkook.

"Era?" O príncipe perguntou ligeiramente preocupado com o uso do passado ao se referir ao nome do homem em questão. "Ele morreu?" Continuou a perguntar, acabando por arrancar uma risada sincera do modelo.

"Digamos que sim. É, eu gosto de usar essa linha de pensamento." Taehyung falou ainda rindo fraquinho, parecendo estar satisfeito com a ideia. "Enfim, eu estava muito louco nessa época. Eu só sabia beber e fumar, dar festas e ir para festas. Eu cheguei a me afastar do meu irmão nessa época porque eu não tinha tempo para ele e quando a gente estava juntos era certo que iríamos brigar. Eu virava noites em festas bebendo, então durante o dia eu só queria dormir e acordava só para sair de novo." Triscou a língua no céu da boca. "Eu mal aparecia na escola. Minhas notas despencaram, eu brigava o tempo todo com o Jimin e com o meu pai porque eles falavam que o Hansol era uma péssima companhia, eu ignorava meu irmão porque ele sempre me pedia para eu parar de beber tanto e de fumar. Eu odiava cerveja, sempre odiei, e eu também estava cansado de tantas festas diárias, mas eu ignorava o que eles diziam porque o Hansol era o único que importava para mim naquela época." Suspirou arrependido. "O meu mundo girava em torno dele, entende? Então, já que ele queria continuar a sair, eu precisava ser legal como ele para manter um namorado legal como ele." Contou, seu tom perdendo todo o bom humor a cada palavra dita. "Tudo já estava uma bosta, mas para mim estava maravilhoso e melhorou mais quando o Hansol me chamou para viajar com ele. Os pais dele tinham comprado uma ilha particular com uma mansão e ele queria estrear a casa. É óbvio que eu aceitei o convite." Dessa vez, o que veio a seguir foi um silêncio que se arrastou por longos segundos até ele voltar a encher os seus pulmões de ar. "Eu perdi minha virgindade para ele em uma parte do telhado. Eu nem lembro muito bem de como foi, eu estava muito bêbado para isso e eu só lembro que doeu bastante e que antes disso eu tinha nadado pelado na piscina. Por não lembrar de nada, eu considero como a minha primeira vez o sexo que a gente fez no dia seguinte, que foi em uma cama comigo e com ele sóbrios e foi bem menos doloroso."

Mas ele... Jungkook pensou. Ele não percebeu que foi abusado? Se ele sequer se lembra da primeira vez dele de tão bêbado que estava, só lembra da dor... Ele realmente não percebeu?

"Depois que a gente voltou para Seul a gente transou mais algumas vezes e continuamos a viver nossa vida até dar merda." Taehyung continuou a contar, o que fez o príncipe parar de acariciar os pelos brancos de Ice Bear no mesmo instante.

"Ai não..." Jungkook lamentou, já imaginando para qual tipo de acontecimento as palavras ditas pelo coreano estavam levando aquela história.

"Ele queria ser modelo e é óbvio que ele sabia quem meus pais eram." Taehyung falou, fazendo pouca questão de esconder no seu tom todo o seu ressentimento. "Você entende do mundo da moda, Jungkook?"

"Só um pouco. Hoseok fala sobre as vezes."

"Você conhece as grifes dos meus pais?"

"Quem não, né?" Jungkook respondeu forçando uma risada fraca com a intenção de quebrar um pouco do clima gélido que tomou conta da ligação.

"Exatamente." Taehyung murmurou. "Todos conhecem e assim como é o sonho de muita gente ter  no armário uma bolsa criada pelo meu pai ou uma jaqueta idealizada pela minha mãe, muitos modelos sonham em trabalhar para eles. Desfilar para Sunce ou para a Vante pode ser uma virada de chave na sua carreira. Se você está na passarela de uma dessas grifes é porque você é bom. Foda-se quem você conhece e seu sobrenome, o seu portfólio também não importa muito. O que os meus pais querem ver é o seu talento. Você tem que ser bom no que faz ou não entra e é por isso que desfilar para eles é o sonho de muitos modelos. Só que o Hansol não sabia dos critérios dos meus pais e me pediu para falar com eles para que ele participasse da próxima semana de moda." Suspirou profundamente. "Eu prometi para ele que eu iria falar com meus pais e eu falei, mas meus pais odiavam o Hansol e odiaram mais ainda quando viram que ele achou que conseguiria entrar para a equipe só por namorar comigo. Meus pais negaram na hora que eu pedi e não mudaram de posicionamento nem mesmo quando eu implorei." Contou

Automaticamente, Jungkook ficou preocupado pelo o que estava por vir.

"Quando eu percebi que eles não iam aceitar o Hansol, eu fiquei com vergonha. Eu não sabia como dizer para ele que meus pais disseram não, então eu menti. Eu disse que meus pais acharam ele incrível e que eles estavam pensando em chamar ele. Ele ficou tão feliz..." Riu seco. "Lembro até hoje daquele sorriso. Eu estava com ele todos os dias fazia meses, mas ali foi quando eu vi ele mais feliz." Taehyung revelou, mas algo em seu tom fez Jungkook acreditar que o Kim não estava melancólico com aquela lembrança, mas sim um pouco enjoado. "A questão é que a mentira nunca dura muito e, com o tempo, ele ficava me cobrando um contato de um dos representantes dos meus pais e eu sempre inventava uma desculpa. Porém, não deu para impedir que os dias passassem e, quando a semana de moda de Nova Iorque chegou e ele viu que eu tinha mentido sobre o que os meus pais disseram, ele simplesmente sumiu."

"Que filho da puta desgraçado." Jungkook xingou, esquecendo de manter a calma e ficando realmente irritado com a atitude ridícula daquele homem que Taehyung falava sobre. "Ele só estava te usando para chegar nos seus pais e pegar um atalho para o sucesso e, quando não conseguiu o que ele queria, ele foi embora. Que pessoa desprezível. Que raiva." Continuou ofendendo o homem que ele sequer conhecia, mas que já havia escutado o suficiente para julgar como bem entendesse."Seus pais fizeram certo, Tae. Ele tinha que se foder mesmo por sumir para sempre e ter feito o que fez." Falou certo das suas palavras e bravo enquanto brincava delicadamente com os pelos do gato deitado em seu colo.

Jungkook odiava pessoas interesseiras! No entanto, a reação que ele teve de Taehyung não era algo que ele esperava. Afinal, quem diria que o modelo que estava tão sério iria rir ao ouvir a última sentença dada pelo príncipe? Jungkook certamente não esperava.

"Quem me dera que ele tivesse sumido para sempre." Taehyung falou, praticamente murmurando, o que confundiu Jungkook que voltou a se impressionar com o acontecimento.

"Ué, ele não sumiu?" O príncipe perguntou franzindo o cenho ao mesmo tempo em que parava brevemente de acariciar os pelos de Ice Bear.

"Não." Taehyung respondeu com um pesar tão explícito que Jungkook sentiu seu coração cair sabendo que ele estava prestes a descobrir a pior parte da história. "No dia do desfile da Sunce no New York Fashion Week, o Hansol postou na internet um vídeo nosso transando. Aquela transa que eu disse que considero como a minha primeira. Ele escondeu a câmera no quarto e eu não vi." Contou rindo tão amargo quanto um limão misturado com sal, a sua risada soando rouca para de repente Taehyung parar de rir e respirar fundo. "E no dia seguinte, no desfile da Vante, ele postou um compilado de videos que me mostrava nas festas fumando, bebendo e agindo feito um bêbado idiota. E, para a cereja do bolo, na legenda desse mesmo vídeo ele fez um texto enorme dizendo que eu estava usando drogas." Contou enquanto Jungkook negava com sua cabeça em silêncio, descrente das coisas que aquela pessoa fez. "Não sei se você conhece as leis coreanas, mas na nossa constituição toda e qualquer substância ilegal pode e vai te levar para a cadeia. Uso ou porte, dentro ou fora do país, nada disso importa. Entrou em contato? Cadeia. Principalmente em um caso tão grande quanto esse." Suspirou. "Encurtando a história, meus pais processaram o Hansol por revenge porn, vazamento de vídeo íntimo de menor, difamação e algumas outras coisas. Já o estado me processou por uso de substâncias ilegais." Essa foi a vez de Jungkook suspirar.

Taehyung era tão jovem naquela época. Ele tinha apenas dezessete anos e foi forçado a passar por tudo aquilo.

Era triste! Em qualquer idade aquela história seria triste, mas se tornava mais ao ter ciência da idade do Kim enquanto todo o desastre e acusações aconteciam.

Ser julgado pela justiça ao mesmo tempo em que era julgado pelo mundo inteiro que, ao mesmo tempo em que jovens e adultos apontavam os dedos para ele em crítica e assistiam com risadas e comentários repulsivo o vídeo de um adolescente tendo relações sexuais com uma pessoa que ele confiava...

Era definitivamente triste.

Nojento, revoltante e triste.

"Eu não usava drogas, então eu não fiquei com medo de que os exames que fizeram em mim mostrassem o contrário, mas o processo de provar ser inocente é desgastante, humilhante e traumatizante. Principalmente quando se é uma pessoa pública e você só tem dezessete anos recém completos." Sua voz tremeu e ele precisou parar para se recompor. "Até quando você ganha os processos você simplesmente não sente que ganhou porque você já foi tão humilhado que..." Suspirou se calando.

"E você foi dado como inocente?" Jungkook perguntou baixo, ligeiramente com medo da resposta que sua pergunta receberia.

"Sim, claro. Só que o Hansol não pôde dizer o mesmo." Taehyung falou e Jungkook sorri sentindo que a justiça foi feita. "Ele foi preso por um ano e meio e me pagou alguns milhões de dólares como indenização além de ser proibido de ficar a menos de dez metros de distância de mim." Contou e, apesar do triunfo jurídico, ele não parecia feliz. "Obviamente eu não queria nada daquele merda, então eu doei tudo para um projeto do irmão do namorado do Yeonjun que prometia ajudar jovens de baixa renda com mentes brilhantes." Contou, fazendo os olhos do príncipe se arregalarem pela informação.

Jungkook conhecia esse projeto!

"Esse não é o projeto do Namjoon?!" O príncipe perguntou surpreso ao saber que seu cunhado também estava presente naquela história triste.

"Exatamente." O Kim confirmou, nem um pouco mexido pela reação do mais novo. "Foi assim que eu me aproximei dele e foi assim que viramos amigos. Eu fiz a doação do valor inteiro da indenização e o Namjoon fazia questão de me mostrar com quem e com o que ele estava gastando o dinheiro." E dessa vez ele riu de verdade. "Eu ainda tenho contato com algumas das pessoas que, graças à aquele dinheiro, conseguiram se formar e hoje trabalham desenvolvendo projetos muito interessantes. Uma coisa ruim pode gerar coisas boas às vezes." Deu de ombros.

Notando a forma como Taehyung não parecia estar se vangloriando do seu ato, Jungkook ficou surpreso da melhor forma possível. O Kim havia doado milhões de dólares para ajudar centenas ou milhares de crianças em seus estudos e parecia que para ele isso não havia sido grande coisa. Parecia que para ele aquela era apenas uma forma de se livrar de um dinheiro que ele não queria, como se qualquer um fosse fazer o mesmo, mas essa não era a verdade.

Taehyung era um caso à parte. Ele era um homem que sofreu durante a sua vida toda por motivos diversos e ainda por cima queria ajudar sem fazer escândalo sobre isso. Ele apenas ajudava porque esse era o seu natural.

Para Jungkook, o ato havia sido fantástico e surpreendente.

"Enfim, no dia do julgamento do Hansol, eu prometi para mim mesmo que nunca mais iria mentir para ninguém porque mentiras só trazem merda para a minha vida e eu já estava afogado sem precisar de mais." Contou, acabando por dar para Jungkook a razão pela qual ele era sempre tão sincero sobre tudo, praticamente não tendo um filtro social. "Foi difícil para o Jimin se acostumar com a minha honestidade e foi pior ainda para o Namjoon porque ele era um recém chegado na minha vida e não tinha um grande apego por mim. Porém, eu dei sorte por ter encontrado duas pessoas que entendem que a minha sinceridade não é para machucar ninguém, mas sim para evitar machucados. Tudo bem que tem hora que eu extrapolo, mas nunca é a intenção de ser malvado." Se explicou um pouco constrangido e quase se atrapalhando em suas palavras.

Jungkook, no entanto, apenas sorriu feliz pela conquista de Taehyung. Ao mesmo tempo que o Kim não teve muita sorte em sua vida, Jungkook achava que o modelo coreano também tirou a sorte grande. Ele encontrou dois grandes amigos que amavam ele por quem ele era, com seus defeitos e tudo mais.

Suspirando, ele continuou: "De qualquer maneira, no final eu recebi ajuda para apagar os vídeos da internet, tirei a prova real de que não vale a pena me apaixonar e, sabe o que mais?" Perguntou cheio de emoção, parecendo ansioso para poder contar ao mais novo aquele detalhe.

"O que?" Jungkook quis saber.

"Um dia eu acordei e percebi que eu poderia bater nele bem onde mais doía." Taehyung contou, rindo em seguida por estar satisfeito com tal memória. "O sonho dele era ser um modelo, então eu usei os contatos dos meus pais para fazer com que ninguém, absolutamente ninguém, aceitasse contratar ele." Revelou com um sorriso no rosto que não foi visto por Jungkook, mas ainda não passou despercebido. "E, apesar de não estar nem perto do que eu realmente queria fazer, eu optei por me tornar um modelo e fiz questão de estar no topo para que toda vez que ele abrisse uma revista ou saísse na rua, ele iria ver o meu rosto em todas as revistas, comerciais, eventos e qualquer outra merda que um dia ele sonhou em estar. E sabe qual é a parte engraçada?" Perguntou rindo, se divertindo pela primeira vez naquela conversa e, ao ouvir um murmúrio negativo vindo do mais novo, ele continuou: "Eu nunca usei os contatos dos meus pais para conseguir nenhum contrato para mim ou algum outro privilégio. Não por ética, eu não sou uma boa pessoa, mas sim só porque eu verdadeiramente queria ser bom. Porque todos já me chamavam de prostituto da alta sociedade coreana e de viciado, rebaixavam tudo o que eu dizia ou fazia, então eu quis me tornar excelente no meu trabalho porque nisso ninguém poderia jamais abrir a boca para me criticar negativamente." Contou com orgulho. "'Taehyung é um merda, uma pessoa desprezível, mas pelo menos ele sabe como vender um produto'." Citou. "É isso o que eu queria que dissessem de mim e é isso o que dizem, é isso o que o Hansol precisa ouvir. Meus pais não compraram a minha carreira, eu construí ela. Claro, ter o sangue deles abriu portas para mim, mas quem me estabeleceu nessa indústria fui eu e hoje ele precisa me assistir brilhar nos lugares onde ele nunca, jamais vai conseguir estar."

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Diante da explicação de Taehyung, mesmo sentindo pena, Jungkook riu. Ele realmente gargalhou junto com Taehyung, contente que a vingança do mais velho havia sido bem sucedida. Ele sabia que era errado, mas Jungkook achava que era gratificante saber da desgraça de uma pessoa tão ruim quanto aquele tal Hansol.

"De uma maneira estranha, eu fico feliz por ouvir isso." Jungkook falou, olhando para o rostinho bonito e sonolento do Ice Bear. "Mas Tae, você realmente não teve culpa. Por nada disso. A questão dos seus pais..." Suspirou, deixando as palavras no ar para criar um pouco de coragem para continuar. "Eles podem até ser boas pessoas, mas falharam como pais e como um casal. Eles trouxeram para você uma experiência que nenhuma criança deveria ter." Apontou o que ele acreditava ser o que estava certo. "Você não pediu para nascer, mas você nasceu e você é incrível." Elogiou sinceramente. "O motivo do relacionamento dos seus pais ter acabado não foi você, mas sim eles."

Ao concluir a sua fala, a linha ficou em silêncio. Nenhum dos lados falou mais nada e o máximo de som que era possível ser escutado era o som da respiração dos dois e do gato branco que não parava de ronronar no colo do príncipe japonês. Por alguns segundos, Jungkook chegou até a cogitar a possibilidade de ter escutado Taehyung fungar o nariz do outro lado da linha, mas pouco tempo depois o modelo voltou a falar.

"Obrigado, Jungkook. De verdade mesmo." Taehyung agradeceu sincero e estranhamente gentil. Essa era a primeira vez que o príncipe escutava aquele tom de voz sendo usado pelo Kim direcionado à ele, o que fez ele estranhar, mas se sentiu feliz por saber que o Kim estava comovido pelas suas palavras. "Mas por mais que eu quisesse, as suas palavras não vão surtir efeito em mim. Só que eu espero que você entenda que não é nada pessoal. Eu fico feliz de verdade em saber que você pensa dessa maneira, é só que..." Se interrompeu para respirar entrecortado. "Eu não consigo acreditar nas suas palavras mesmo sabendo que você está sendo sincero sobre o que pensa."

"Fico feliz em saber que você sabe que eu estou sendo sincero." Jungkook compartilhou seu pensamento enquanto sorria e acariciava o gato da sua alma gêmea. "Você não foi um erro e nem vai ser. Um dia você vai se amar e vai ser amado ao ponto de querer amar alguém também. Sei que você me vê como um cara infantil e eu realmente sou em alguns pontos, não vou fingir o contrário ou que não tenho noção disso, mas eu também sou maduro o suficiente para saber que você não mereceu nada de ruim e que você é uma ótima pessoa." Falou convicto de cada uma das suas palavras.

"Obrigado, Jungkook." Taehyung agradeceu, se livrando daquele antigo tom e voltando ao seu habitual tom superior.

"Você está bem?" O príncipe perguntou, não podendo deixar de se preocupar com o mais velho que teve que reviver todos aqueles momentos sombrios e tristes para contar para ele a sua história.

"Estou com dor de cabeça depois de falar todas essas coisas." Taehyung confessou, parecendo estar se espreguiçando logo em seguida. "Vou dormir." Decidiu, comunicando ao mais novo os seus planos.

"Quer remédio?" Jungkook perguntou prestativo, de fato querendo ajudar o modelo já que o príncipe estava bem ciente da grande possibilidade do mais velho estar triste ou mal por ter compartilhado toda a sua história.

"Que?" Taehyung perguntou soando surpreso, como se ele não estivesse esperando que tal oferta fosse feita pelo japonês.

Ora, por que é uma grande surpresa? Jungkook pensou, parando de acariciar a cabeça do gato branco que o olhou bravo pela interrupção do carinho. Eu sou legal! Como eu poderia deixar ele abandonado e com dor de cabeça agora, bem depois dele se abrir tanto? Isso seria um grande vacilo.

"Vou levar remédio para você." Jungkook decidiu, sequer cogitando a possibilidade de dar para trás com a sua promessa.

"Jungkook–"

"E hambúrguer." Acrescentou pouco se importando com a tentativa de pronunciamento do mais velho.

"Jungkook, não preci–"

"Tchau, Tete hyung! Espere por mim e pelo Jiminie!" Se despediu com pressa, deixando o recado de que ele e Jimin estavam a caminho e desligando logo em seguida para não dar tempo do modelo dizer algo contra.

Ao jogar sobre o espaço vazio ao seu lado na cama o seu celular com a tela bloqueada, Jungkook respirou fundo e engoliu a angústia que ele sentia.

Era indiscutível o fato de que ele não conhecia Kim Taehyung há muito tempo. A primeira conversa entre eles dois havia acontecido a cerca de dois ou três meses atrás e desde então eles mal passaram tanto tempo juntos. No entanto, ainda assim o príncipe japonês já gostava bastante do pouco que ele conhecia do modelo e, agora que Taehyung havia se aberto dessa maneira, ele não pôde deixar de sentir muito.

Sentir muito pela história extremamente triste do Kim, sentir muito por já ter julgado o modelo de uma maneira totalmente errada em certos momentos, sentir muito por ter recebido o reconhecimento de Taehyung e ser considerado digno de confiança pelo coreano.

Jungkook ainda estava pensativo, perdido em seus muitos sentimentos, quando Jimin deixou o closet do quarto totalmente vestido com uma calça jeans preta colada, uma blusa social branca e um colete azul claro por cima. Seus pés ainda estavam descalços e seu cabelo loiro estava sendo seco pela toalha branca que Jimin segurava em sua mão direita, o fio roxo balançando para todos os lados a cada movimento feito pelo príncipe coreano.

Jimin estava concentrado em secar seu cabelo e procurar pelo quarto de Jungkook o local onde o mais novo guardava seus perfumes. Deveriam ficar no closet, mas o japonês aparentemente não os seguia padrões de organização e não facilitou a tarefa de Jimin de usar um pouco da fragrância amadeirada que o mais novo costumava usar e que era bem cheirosa.

O Park estava olhando para o banheiro quando seu olhar desviou para a cama e ele encontrou o mais novo sentado sobre o colchão com o seu gato dormindo no colo alheio. Ao mesmo tempo, o olhar de Jungkook parecia perdido mesmo que estivesse concentrado em um ponto fixo à sua frente.

"O que houve?" Jimin perguntou para Jungkook, erguendo uma das suas sobrancelhas bem feitas enquanto olhava para o moreno que piscou algumas vezes antes de direcionar o olhar para o loiro que estava parado no meio do quarto o encarando.

"O Tete hyung." O mais novo respondeu sem entrar muito em detalhes, instigando a curiosidade do coreano que franziu levemente o cenho para em seguida caminhar em direção à cama king size localizada no centro do quarto e contra a parede de fundo.

"O que que tem o Tae?" O Park perguntou enquanto parava em frente da cama, bem de frente para Jungkook com uma distância tão curta do mais novo que Jimin teve que se esforçar para não empurrar os fios curtos do cabelo do japonês para trás em um carinho singelo.

"Ele me contou toda a história dele." Jungkook revelou, olhando para cima, para os olhos de Jimin, bem a tempo de ver o mais baixo arregalar levemente os seus olhos pela surpresa.

No entanto, a reação durou pouquíssimos segundos e logo o loiro voltou com a sua expressão calma de praxe, como se ele não estivesse movido nem um pouco pela nova informação.

"Toda?" Jimin perguntou com calma e gentileza, tão natural quanto era de costume.

"Toda."

Ao ouvir a confirmação dada por Jungkook, Jimin precisou de alguns segundos para pensar. Afinal, não era da natureza de Taehyung sentar, ligar para uma pessoa aleatória e contar a sua história de vida. Tudo certo que a maior parte dos acontecimentos estavam na internet e poderiam ser encontrados com dois cliques, mas ainda assim o Kim tinha a filosofia de se fazer de sonso e fingir para todos que nada daquilo aconteceu um dia.

Para Taehyung, ele nunca teve um vídeo íntimo vazado, ele nunca teve que lidar com falsas alegações em uma corte e ele não tinha nenhum trauma. Afinal, Taehyung não mentia, mas ele certamente omitia grande parte dos seus pensamentos e sentimentos.

Para Jimin, tudo era bastante estranho. Jungkook e seu melhor amigo não se conheciam há tanto tempo para chegar ao ponto do Kim se abrir dessa maneira, mas o mesmo já havia acontecido antes. Em menos de dois meses de amizade, Taehyung chamou Namjoon para a sua casa e contou tudo para ele. Desde os seus pais até o inferno que ele viveu por causa daquele merda humano chamado Lee Hansol.

Quando o modelo fez tal coisa, ele contou para Jimin que escolheu contar sua história para Namjoon porque confiava nele e porque queria manter o gênio por perto, além de que ele acreditava que era melhor que o herdeiro tecnológico soubesse de tudo por ele do que pela internet.

Ao lembrar desse detalhe, Jimin finalmente entendeu o motivo pelo qual Taehyung resolveu falar sobre a sua história para Jungkook. Taehyung confiava no príncipe japonês e provavelmente queria o manter por perto. E, honestamente, isso era ótimo tanto para o modelo quanto para Jimin que gostou de saber que seu melhor amigo aprovava a sua alma gêmea.

"Por que você está sorrindo?" Jungkook perguntou, puxando Jimin de seus pensamentos ao mesmo tempo que também fazia o loiro notar que, de fato, ele estava sorrindo.

"Por nada." Jimin respondeu, mantendo o seu sorriso e finalmente deixando a sua toalha molhada sobre o seu próprio ombros para em seguida empurrar os fios escorridos e pretos do cabelo de Jungkook para trás.

Sem dizer nada, o moreno ergueu a sua cabeça e aproximou a sua boca da do Park, este que sem protestar se inclinou para frente poucos centímetros até colar os seus lábios aos do japonês. Assim, um beijo lento e prazeroso foi iniciado e logo a mão de Jungkook passou a segurar a cintura de Jimin com as duas mãos, aplicando uma força moderada para o manter ali até mesmo depois que faltou ar nos pulmões dos dois príncipes.

"Essa roupa está boa para ir até Nezu Shrine?" Jimin perguntou após afastar lentamente os seus lábios dos lábios do mais novo, mas mantendo o seu rosto próximo do japonês que olhou para baixo, analisando o corpo do coreano por um tempo maior do que o necessário para só depois voltar a olhar nos olhos do loiro que sorria satisfeito com a expressão de desejo presente no rosto do mais alto.

Jungkook queria Jimin naquele momento.

O Park estava ridiculamente lindo como sempre e aquela calça jeans apertava as coxas e pernas longas do príncipe estrangeiro de uma maneira que faria qualquer pessoa se sentir como um homem sedento diante de um copo de água. No entanto, por mais que a sua vontade fosse deitar e prender Jimin em sua cama, Jungkook ainda havia feito uma promessa para Taehyung e o modelo provavelmente estava esperando por eles.

"Podemos cancelar nossos planos de hoje para visitar o Taehyung?" Jungkook perguntou um pouco sem jeito e com um ligeiro medo de que Jimin achasse a sua atitude ruim e brigasse com ele. Afinal, eles já possuíam planos para aquela tarde e Jungkook estava querendo cancelar eles para ir visitar um outro homem.

É, Jungkook pensou. Esse é definitivamente um bom motivo para ele brigar comigo.

No entanto, antes que Jungkook pudesse voltar a falar para pedir desculpas e desistir, sorriu antes de dizer: "Eu ouvi você falando sobre levar hambúrguers? Que tal uma hamburgueria artesanal?"

Sorrindo amplamente, Jungkook assentiu, concordando com a sugestão da sua alma gêmea antes de se levantar e avisar que tomaria um banho rápido antes de sair.

De qualquer forma, diferente do que Jungkook acreditava, Taehyung não estava esperando por eles. Na verdade, à primeira instância, quando os príncipes alcançaram o corredor do apartamento de Seokjin e de Namjoon, Taehyung só quis aceitar o remédio para dor de cabeça e a sacola de papel cheia com três combos de lanche sem nem ao menos abrir a porta do apartamento da maneira apropriada, passando a apenas o seu braço pela fresta aberta para que ele pudesse pegar os ítens e permanecer sozinho.

Porém, o que Taehyung se esqueceu foi de que aquele apartamento pertencia não apenas à Namjoon, mas também à Seokjin, este que era o irmão de Jungkook.

Era óbvio que o moreno tatuado conhecia a senha da porta e, quando Taehyung arrancou tudo das mãos do japonês e voltou a fechar a porta, Jungkook sequer se importou e apenas digitou a senha da porta e entrou no apartamento com Jimin. Já do lado de dentro, o Park correu atrás do modelo com seu sapato em mão enquanto reclamava que Taehyung não podia fazer isso com ele.

Com Jungkook tudo bem, mas com ele não!

Jungkook se sentiu traído ao ouvir aquilo, mas as batatas que ele comprou estavam gostosas o suficiente para fazer com que a sua mente ignorasse os dois coreanos e focasse apenas nos petiscos bem temperados com sal e molho agridoce.

Quando Jimin e Taehyung finalmente cansaram de correr pelo apartamento e o Kim implorou por perdão, o Park aceitou o sorvete do modelo como uma oferta de paz e os três se sentaram no sofá da sala de estar com seus respectivos lanches e refrigerantes para decidir qual filme eles iriam assistir.

Jungkook queria assistir Boku no Hero enquanto os coreanos queriam assistir Crepúsculo. E, no final, foi exatamente esse o filme que eles assistiram porque Jimin queria tanto assistir os vampiros que brilhavam no sol que Jungkook não teve coração de negar a vontade do mais velho.

Dessa maneira a tarde se estendeu. Com os três deitados no sofá, Taehyung em um sofá sozinho enquanto os príncipes dividiam um. Enquanto comiam e assistiam ao filme, Jimin usava o corpo de Jungkook como apoio e o moreno abraçava com um único braço o corpo esguio do coreano, usando a sua única mão livre para se alimentar e se hidratar.

Os três estavam incrivelmente confortáveis do jeito que estavam, então de um a um eles foram gradualmente pegando no sono. Nenhum sabia dizer com exatidão quando eles caíram no sono, mas o trio acordou juntos e assustados ao ouvir Seokjin entrando no apartamento enquanto gritava com Namjoon sobre como ele agradecia, mas o gênio não iria entrar na cozinha naquela noite porque o hospital ficava longe e, mesmo sendo um príncipe herdeiro, Seokjin já estava perto de perder a carteira por todas as vezes que ele furou os semáforos para levar Namjoon ao hospital após um acidente acontecer na cozinha.

Após notar a presença dos outros três no apartamento, Seokjin sorriu, cumprimentou todos e arrastou um Jungkook sonolento para a cozinha para que o mais novo servisse como ajudante enquanto os coreanos cuidavam da bagunça presente na sala.

Com isso, os irmãos foram para a cozinha para preparar o jantar enquanto o trio de melhores passou a trabalhar enquanto fofocavam entre eles sobre tópicos diferentes. Eles estavam com muitas fofocas boas, coisas que aconteceram enquanto Jimin estava praticamente inacessível na Austrália por estar muito ocupado com Jungkook, coisas que Taehyung viu e ouviu nos bastidores do drama que ele estava gravando e nas suas sessões de fotos e, principalmente, as fofocas que Namjoon ficou sabendo através de boas stalkeadas nas redes sociais e internet em geral.

O trio estava tão entretido com a conversa, risadinhas e reações exageradas que rapidamente terminaram de arrumar a bagunça na sala de estar e, para continuar a conversa, os três se sentaram em um mesmo sofá para continuar a cochichar e rir. No entanto, por mais que a sessão de fofocas tenha se estendido por um tempo, após quase uma hora a conversa foi interrompida pelo toque da campainha do apartamento.

"Deve ser o Hoseok e o Yoongi." Namjoon comentou, aproveitando que eles interromperam a conversa sobre a menina que costumava dizer ser good vibes na internet, mas que era uma megera na vida real.

Ao ouvir a fala do gênio, o Kim mais novo sentado ao seu lado e que mantinha as pernas sobre a de Namjoon fez careta.

"Ew, eles vieram?" Taehyung perguntou visivelmente desgostando da ideia, até que de repente a sua expressão inteira mudou completamente como se ele estivesse percebendo algo. "Pera, eles vieram?!" Voltou a perguntar, desta vez bastante animado.

"Por que você está feliz com isso?" Jimin perguntou desconfiado do seu melhor amigo.

Taehyung nunca estava feliz em se encontrar com Yoongi, pelo menos não depois de que o modelo coreano teve a chance de conhecer pessoalmente o seu ídolo. A partir daquele encontro e da grande decepção que Taehyung teve a respeito do rapper, a presença de Yoongi nunca mais foi um motivo de felicidade para o Kim.

"Eu estou com medo pela sua animação." Namjoon avisou apontando seu dedo indicador em direção à Taehyung ao mesmo tempo em que erguia uma sobrancelha. "O que você está tramando?" Perguntou usando o mesmo tom que seu pai costumava usar com seu irmão mais novo sempre que Soobin estava perceptivelmente escondendo algo.

E, assim como Soobin tinha o costume de fazer, Taehyung vestiu a expressão mais inocente possível e negou com a cabeça, fingindo ser tão inocente quando um querubim.

"Cospe o chiclete." Jimin decidiu, estendendo a mão aberta até parar com a palma virada para cima próxima à boca do modelo.

"Que nojo?" Taehyung perguntou fazendo uma careta de desgosto direcionada ao seu amigo para em seguida desviar o seu olhar para um ponto aleatório da sala de estar, ignorando a existência de Jimin.

Mas aquele pedido vindo do Park e direcionada ao Kim mais novo não era novidade.

Existiram inúmeras vezes onde Taehyung ameaçou colar chiclete no cabelo dos outros e, em algumas dessas vezes, o ameaçado cometeu o erro de desdenhar dele, então Taehyung realmente colava o chiclete no cabelo dessas pessoas. Era um grande terror e na maior parte dos casos Taehyung levou um processo logo em seguida, então para evitar o caos, Jimin passou a intervir pelo menos no assunto do chiclete.

Desta forma, Jimin continuou encarando Taehyung com a sua mão estendida, esperando a colaboração de seu amigo até que finalmente o Kim voltou a olhar lentamente para o Park e suspirou frustrado antes de abrir a boca e empurrar com a língua o chiclete para a mão do príncipe.

"Você é nojento, Jimin." Acusou enquanto assistia o príncipe se levantar para descartar o doce na lixeira da cozinha. "E eu não ia prender chiclete no cabelo deles!"

"Melhor garantir." Namjoon falou, arrancando mais um revirar de olhos do modelo que se levantou logo após ouvir a fala de seu melhor amigo mais velho.

Sem perder tempo e com os passos largos e apressados, Taehyung cruzou a sala de estar do apartamento e passou rapidamente pelo hall de entrada até alcançar o final do pequeno corredor e, por fim, abrir a porta.

Como havia sido especulado por Namjoon, quem estava do outro lado da porta era Hoseok e Yoongi. Os dois estavam muito bem vestidos, mas Hoseok estava a alguns passos de distância de onde Yoongi estava. O Jung parecia estar amarrando o cadarço do tênis ou coisa semelhante enquanto o rapper se mantinha parado com aquela mesma expressão de quem pisou na merda no meio do caminho para um compromisso importante.

Nada disso era algo inovador ou interessante para o modelo coreano, então Taehyung foi direto ao seu único ponto de interesse: "Cadê o Tannie?" Perguntou sem rodeios, seu rosto totalmente livre de expressão enquanto assistia o rapper de olhos felinos o olhar com tédio.

"Oi para você também, Taehyung. Boa noite, Taehyung." Yoongi cumprimentou cheio de deboche e sarcasmo visto que o modelo não o cumprimentou antes de começar a fazer perguntas.

No entanto, apesar da sua intenção ser de arrancar pelo menos um 'oi' de Taehyung, o herdeiro da moda não pareceu nem um pouco movido pelas suas palavras pronunciadas em um inglês lento e cheio de sotaque britânico e logo voltou a perguntar: "Cadê o Tannie?"

"O que é 'Tannie'?" O rapper perguntou após bufar e revirar os olhos diante da insistência do coreano sobre aquele assunto que ele sequer estava entendendo qual era.

"Quem." Taehyung corrigiu duramente. Ele definitivamente não tinha muita paciência quando se tratava de Yoongi. "E eu estou falando do Yeontan, o meu cachorro." Esclareceu para em seguida afiar o seu olhar que mirava o rosto pálido do homem alguns centímetros mais baixo que ele. "Ele está com você ou você está tentando roubar ele de mim?" Perguntou abaixando o seu olhar para ver a mão do Min, mas seus olhos acabaram apenas flagrando o mais baixo segurando uma bolsa lateral colorida que não combinava em nada com a sua roupa toda preta.

"Qual é o seu lance com roubo?" Yoongi perguntou irritado. "Tudo para você se trata de alguém te roubando. Você tem que se tratar."

"Só me trato depois de você ir cuidar dessa sua caranca de velho seboso!" Taehyung rebateu como uma criança do primário.

Yoongi estava prestes a responder o Kim, sua boca se abrindo enquanto o ar entrava pronto para formular sua nova frase, mas Hoseok foi mais rápido e antes que qualquer som pudesse escapar da boca do rapper, o Jung já estava se colocando ao lado de seu namorado e de frente para o coreano, este que olhou para o que ele tinha em seus braços com os olhos brilhando em animação.

"Serve esse?" Hoseok perguntou, rindo pela expressão quase adorável presente no rosto de Taehyung que a cada segundo se tornava mais animado.

"Tannie!" Exclamou abrindo os seus braços e pegando o filhote de Spitz Alemão Anão que foi de bom grado para a segurança dos braços do jovem coreano que o aconchegou perto de seu peito assim como faria com um bebê. "Ai, mas coisa mais fofa!" Observou cheio de carinho, olhando exclusivamente para o cachorro que o olhava com curiosidade.

Sem dizer mais nada para o casal japonês, Taehyung deu as costas aos dois homens e seguiu em direção à cozinha com seu novo cãozinho preso confortavelmente em seus braços.

Ele é perfeito! Taehyung pensou enquanto acariciava o animal. Eu vou te dar muito amor e em troca, quando eu não estiver mais aqui, você vai ter que dar bastante amor para o Yeonjunie e cuidar dele, certo? Perguntou enquanto encarava o cachorro como se ele pudesse ler a sua mente e, ao receber uma lambida em sua mão, Taehyung sorriu aceitando aquilo como uma resposta. Temos um trato então, Kim Yeontan.

"Namjoonie, Jiminie, venham conhecer o Tannie!" Chamou atenção dos seus amigos. Ao ouvir o chamado, Namjoon se levantou e foi em direção ao ambiente onde seu noivo, cunhado e melhor amigo estavam, enquanto Jimin estava no banheiro e sequer ouviu o convite. "Beep beep, saiam da frente do meu cachorro. Vaza, Jungkook! Você vai passar piolho pra ele!" Taehyung falou por pura implicância, sorrindo vitoriosamente ao ver que ele conseguiu alcançar o seu objetivo de perturbar o príncipe japonês mais novo que franziu o cenho ao ouvir tal coisa, falsamente ofendido.

"Jimin hyung!" Jungkook gritou em direção à saída da cozinha, não chegando a se mover para não perder o espaço onde ele estava, que era bem pertinho do cãozinho adorável. "Olha o Taehyung fazendo bullying comigo."

Quando Jungkook gritou, coincidentemente Jimin estava saindo do banheiro e por isso ele conseguiu ouvir perfeitamente o que a sua alma gêmea havia dito em voz alta, quase gritando. No entanto, Jimin escolheu simplesmente não responder e se abster do assunto.

Taehyung adorava perturbar Jungkook e Jungkook era besta o suficiente para não se importar negativamente com as palavras ásperas de Taehyung, principalmente porque no final o príncipe mais novo do grupo insistia tanto no que ele queria que no final o herdeiro da moda não via outra opção a não ser permitir que o japonês fizesse o que ele queria apenas para que Jungkook calasse logo a boca. E tal coisa foi exatamente o que provavelmente aconteceu porque enquanto o príncipe coreano caminhava pelo corredor em direção à cozinha, ele passou a ouvir Jungkook, Namjoon e Hoseok comentando sobre o quão adorável era o filhote de cachorro de Taehyung enquanto o modelo se gabava concordando que Yeontan era o mais adorável de todos os tempos.

Isso tudo até Taehyung falar que Yeontan era mais adorável que Darwin. A partir desse momento a discussão entre o modelo e Jungkook voltou a acontecer.

"(...) ele sabia sim, Seokjin. É óbvio que ele sabia que porra tava acontecendo." De repente a voz de Yoongi soou baixa ao mesmo tempo em que o rapper parecia frustrado. O Min e Seokjin estavam juntos no início do hall de entrada do apartamento, ambos parados frente a frente, tão focados em olhar um ao outro que sequer notaram Jimin parar e se encostar contra uma das duas paredes que se encontravam e dividiam a sala e o hall de entrada da cozinha. O loiro estava em um ponto cego para os japoneses, tal local sendo perfeito para ele bancar o bisbilhoteiro. "Ele pegou a porra da bolsa de dinheiro e simplesmente sumiu e agora ele age como se tivesse o direito de agir como um maldito amiguinho deles." Yoongi continuou a falar.

Ooh, meu japonês está ficando melhor, Jimin pensou ao notar que ele estava entendendo as palavras ditas sem dificuldades ou esforço. Mas do que ele está falando? Quem deu golpe em quem?

"Porque os dois melhores amigos dele estavam mortos." Seokjin respondeu suspirando, parecendo cansado como se eles já tivessem tido aquela mesma conversa diversas vezes. "Ele perdeu tudo em menos de seis meses, Yoon."

"Eu ainda era o namorado dele. Ele não tinha me perdido." O rapper rebateu, rejeitando totalmente o argumento levantado pela sua alma gêmea.

"Até quando?" O príncipe herdeiro japonês perguntou, sua voz se tornando tão séria e profunda que até mesmo Jimin se tornou mais alerta. O Park sequer estava entendendo sobre o que aqueles dois estavam conversando e muito menos sabia sobre quem eles estavam falando, mas só de ouvir aquele tom junto com aquelas palavras, o loiro se arrepiou e engoliu em seco enquanto aguardava ansiosamente pelo resposta de Yoongi ou pela continuação da falar de Seokjin.

"O que?" Yoongi perguntou parecendo estar tão mexido com as palavras e tom usado pelo mais velho quanto Jimin.

"Até quando ele não teria te perdido?" Seokjin refez a sua pergunta, mantendo o mesmo tom que anteriormente. "Era isso o que eu me perguntava todos os dias, então eu imagino que era isso o que ele se perguntava também. 'Quando eu vou precisar passar por isso de novo?', 'Essa será a ultima vez que eu vou poder dizer para ele que eu amo ele?', 'Amanhã de manhã ele vai estar aqui?'. Eram essas as coisas que eu pensava, então eu imagino que ele pensava o mesmo." Esclareceu.

Eita, Jimin pensou enquanto torcia para que a fofoca se estendesse para que ele pudesse saber mais sobre.

"O nosso irmão estava morto, Yoon, e você estava correndo perigo diariamente." Seokjin continuou. "Ele te amava e por isso precisou ir embora."

Espera, Jimin pensou franzindo o cenho. De repente ele não estava achando mais o assunto interessante, mas sim assustador. Jungkook era irmão deles na vida passada. Esse tempo todo eles estavam falando da vida passada deles? Então isso significa que o Younghyun morreu antes deles? Ele morreu cedo?

A partir desse pensamento, Jimin não conseguiu achar mais nada interessante. Todas as palavras que ele ouviu até então passaram a deixar um gosto amargo em sua boca. A sua mente que até então trabalhava tentando entender sobre o que e quem exatamente eles estavam falando passou a focar apenas na informação de que Younghyun havia morrido antes de Minhyuk e Sungjoo, o que fez Jimin acreditar que provavelmente a sua alma gêmea veio a falecer ainda durante a sua juventude.

Talvez ele tenha morrido naquele verão e por isso nos tornamos almas gêmeas? Tivemos uma relação interrompida por terceiros? Afinal, relacionamentos entre japoneses e coreanos naquela época...

Jimin suspirou baixinho, não querendo escutar mais nada do que saísse da boca daqueles dois. No entanto, Seokjin foi rápido ao voltar a falar.

"E ele estava sofrendo igual a você. Igual a todos nós." O príncipe herdeiro japonês falou com pesar.

"Por que você está sendo tão defensor dele tão de repente?" Yoongi perguntou parecendo estar sentindo uma mistura de confusão e frustração. "Vocês nem eram próximos." Acusou.

"Eu não quero que a história se repita, só isso." Seokjin respondeu com simplicidade para em seguida suspirar. "E vamos parar de falar disso. Vamos aproveitar o momento. Todo mundo está saudável, feliz e presente em nossas vida. É uma segunda chance que o universo nos deu e eu sinceramente não quero jogar ela fora." Falou bem menos sombrio do que antes, forçando um otimismo que não iria convencer nem mesmo uma criança. "Vamos jantar, tudo bem? É aniversário do Joonie e eu fiz o jantar do zero com o Jungkookie. Está realmente delicioso e eu preparei dangos do jeitinho que você e o Ggukie gostam."

Essa foi a deixa para o Park se retirar de onde estava escondido antes que os japoneses o notassem. Com poucos passos, Jimin alcançou a cozinha e se misturou na comoção que havia sido criada ao redor de Yeontan, este que brincava no chão perseguindo o próprio rabo e pulava de vez em quando nas pernas dos homens que o cercavam para admirar a sua fofurice.

Durante todo o jantar, Jimin pensou no que ele havia escutado. Graças aos anos lidando com política, ele tinha a cara dura e a lábia boa o suficiente para fazer todos ao seu redor acreditarem que ele estava prestando atenção no que eles conversavam e que estava tão tranquilo quanto uma brisa. Em certos momentos, Jimin chegava a rir e também fazer comentários pontuais para reforçar a naturalidade da sua atuação além de marcar sua presença na confraternização. Contudo, em todo o tempo a única coisa que ele pensava eram nas palavras ditas por Seokjin e Yoongi.

Ele sabia que um dia ele iria se lembrar da sua morte e da morte de Jungkook dado que para renascer precisa morrer antes. No entanto, ele sempre pensou que a memória desse momento fosse demorar muito para chegar. O certo é as pessoas morrerem de velhice, em paz e sem dor. Era como as coisas deveriam ser, mas aparentemente não foi assim que aconteceu, não para Younghyun. E, por puro egoísmo e medo de sofrer, Jimin não queria se lembrar de tal momento da sua vida passada. Ele não queria ver o brilho constante nos olhos felinos cheios de curiosidade e vida daquele jovem se apagar. Jimin queria assistir Younghyun envelhecer sendo feliz e saudável.

"Tudo bem, hyung?" Jungkook perguntou de repente, baixinho e próximo ao ouvido do coreano que piscou algumas vezes enquanto se soltava dos seus pensamentos conturbados e voltava para o presente.

"Hm?" Jimin perguntou um pouco confuso, mas logo entendeu a pergunta que havia sido feita e sorriu pequeno para acalmar o coração do mais novo que pareceu ter sentido de alguma forma que o Park não estava muito feliz e nem confortável. "Ah, sim." Confirmou ainda sorrindo pequeno, erguendo a sua mão sobre a mesa para posicionar a sua palma sobre as costas da mão do japonês sentado ao seu lado na mesa de jantar. "Sim, está sim." Reforçou, ficando satisfeito após Jungkook sorrir e assentir.

Em seguida, o moreno voltou a comer a sua refeição enquanto Jimin o assistia com carinho.

Ele não mudou quase nada, Jimin pensou sorrindo. Tão adorável quanto antes.

"Esses dois aí nem precisam falar que o fio está roxo dos dois lados. Olha essa merda." Taehyung falou, gesticulando com seu garfo em direção à dupla sentada na sua frente ao mesmo tempo atraindo a atenção de todos para o casal ainda não oficial que estavam de mãos dadas enquanto Jungkook comia tranquilamente. "Meus pêsames." Desejou com um pesar que foi retribuído por Jimin.

"Obrigado." Agradeceu ao seu melhor amigo, erguendo seu polegar para o modelo que assentiu antes de voltar a se concentrar em sua refeição.

"Jimin!" O príncipe mais novo protestou, olhando para a sua alma gêmea que franziu o cenho por não estar entendendo o motivo do protesto.

Jungkook não estava bravo, apenas estava fazendo um certo drama diante da brincadeira dos coreanos e Jimin sabia bem disso. Justamente por essa razão, o Park manteve a sua expressão intacta ao perguntar: "O que foi?"

"Vamos tirar uma selfie em grupo." Seokjin propôs, se levantando de sua cadeira e interrompendo o que poderia se tornar uma grande cena de drama entre Jimin e Jungkook.

Diante das palavras do mais velho do grupo, todos na mesa largaram seus respectivos talheres de prontidão para se preparar para a foto. No entanto, uma pessoa seguiu outro caminho e se levantou da cadeira onde estava.

"Deixa eu pegar o Yeontan primeiro, caralho." Taehyung reclamou conforme já deixava a cozinha, deixando explícito o seu desejo de que seu cachorro saísse na foto em grupo.

"Ele já se apaixonou pelo cachorro." Namjoon comentou para Jimin que riu e moveu a sua cabeça para concordar.

"Fomos substituídos em menos de duas horas, Namu. Tem noção disso?" Perguntou ainda de bom humor.

Era bom ver Taehyung se apegando a mais coisas que iriam manter ele feliz. O Kim tinha dificuldade em deixar pessoas entrarem em sua vida e os seus motivos eram mais do que válidos e compreensíveis, mas Jimin andava preocupado com Taehyung.

Seonghwa, irmão mais velho de Jimin, não queria assumir o trono e seu avô se recusava a passar o trono para o pai de seus netos, então não havia escapatória para Jimin de maneira alguma. Ele seria o herdeiro ou acabaria com a dinastia ainda recente de sua família, o que era algo que o loiro não queria. Então, Jimin assumiria o trono um dia quando seu avô abdicasse ou partisse desse mundo e ele não teria mais tanto tempo livre como ele tem nos dias atuais para dedicar aos seus amigos.

Antes, o Park acalmava o seu coração por saber que Taehyung teria Namjoon, mas agora o gênio estava noivo do príncipe herdeiro do Japão e sequer iria morar mais na Coreia. Por essa razão, Jimin estava preocupado e torcia para que o Kim criasse novas amizades porque por mais que o trio de amizade deles fosse permanecer unido pelo resto dos seus dias, com seu futuro cargo e com Namjoon longe, quem faria companhia para Taehyung nas tardes de folga para comer pizza e assistir os filmes da saga Crepúsculo? E quem iria cuidar do Kim quando ele estivesse triste e querendo falar mal das coleções da última estação só para passar o tempo? Alguém precisava estar lá por ele.

"Tenho e dói. Foi muito fácil para ele esse processo de abandono do velho para o novo." Namjoon respondeu Jimin, arrancando uma risadinha fraca do loiro que fingiu não notar o modo como a expressão de Yoongi se tornou um pouco mais sombria ao ouvir o que foi dito pelo gênio.

"Estamos prontos." Taehyung anunciou logo em seguida, caminhando com seu cachorro preso em seus braços.

No entanto, ao invés do modelo voltar para o mesmo lugar que ele estava antes, Taehyung escolheu se espremer no pequeno espaço entre Jimin e Jungkook, inclinando seu corpo em direção ao corpo do seu melhor amigo para em seguida posar para a foto assim como todos os outros já estavam fazendo.

"Certo..." Seokjin falou erguendo o seu celular virado na horizontal para que todos os indivíduos ficassem presentes na foto. "Três, dois, um, e..."

Click.

Mais tarde aquela foto foi postada pelo príncipe herdeiro em uma das suas redes sociais, causando um pouco de histeria entre as pessoas e veículos de informação que estavam chocados em ver Jimin jantando em casa junto ao príncipe Jungkook e o príncipe herdeiro do Japão. Outro burburinho se deu pela confusão mental de todos que não esperavam que existisse uma relação entre o gênio da família Kim e Seokjin. Eles nunca sequer foram vistos antes, a não ser em fotos tiradas onde todos os sete estavam juntos, mas Seokjin e Namjoon estavam sempre bem distantes um do outro.

Tal aproximação repentina foi estranhada, mas logo esquecida pelo público que preferiu prestar atenção em como as mãos de Jimin e de Jungkook estavam unidas sobre a mesa de jantar mesmo que Taehyung e seu cachorro ainda estivessem no meio do casal.

@princeseokjin feliz aniversário, Namjoonie :)

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