LAÇOS MORTAIS | Bonkai |

By Dark_Siren4

118K 9.4K 3.8K

Logo após o desastroso casamento de Josette e Rick, Bonnie pensa ter se livrado de seu pior pesadelo: Kai Par... More

Antes de começarmos...
1. Que os Jogos Comecem
2. Armadilha
3. Nosso Pequeno Quiz
4. Lacey, minha amiga zumbi
5. Fogo Líquido
6. Minha Droga
7. Minha Bela Adormecida
8. Dentro do Labirinto
9. A Árvore Morta
10: Rosalie
11. Um Passeio com A Morte
12. Bato um Papo com a Minha Consciência Gostosa
13. Zelador, Garoto de Recados e Assassino
14. Estou de Mudança
15. O Rouxinol
16. A Bailarina, o Sociopata e a Tigresa
17. Cúmplice da Morte
18. Silêncio
19. Lição
20. Fogo e Pólvora
21. Meu Novo Ursinho de Pelúcia
22. Jantar Nada Romântico
23. Encontro com o Exterminador do Futuro
24. A Chamada
25. Controle
26. Tentação
27. A Visita
28. Acordo Desfeito
29. Brincando com Facas
30. Ataque de Fúria
31. Le Courtaud Rouge
32. A Caçada
33. Pedaços de Uma Outra Vida
34: Uma Brecha do Passado
35. Onde os Lobos Habitam
36. Desejo e Segredos
37. A Alcatéia de Paris
38. Dentro de Mim
39. Conversas Ocultas
40. Quase Amigos
41. Pratos Limpos
42. O Jantar Sangrento
43. Entre Deus e o Diabo
44. Bandeira Branca
45. Vamos Passear
46. Palavras Secretas
47. O Duelo
48. Despedida
49. Regresso
50. Genesis
51. Pesadelos e Decisões
52. Reencontro
53. Sobre Um Homem Cruel
54. Minha Existência
55. O Lírio
56. Perseguida
57. Sob Sete Palmos
58. Suspeita
59. Feridas
60. Ameaça
61. Descoberta
62. Trégua
63. Pertencer
64. Vozes
65. Fantasmas
66. Renascida
67. Encruzilhada
68. Água e Vinho
69. Convidados
70. Disputa
71. Café da Manhã
72. Jardim Noturno
73. Mortos
74. Intervenção
75. Fuga
76. Esperança
77. Profundezas
78. Limbo
79. Decisão
81. O Monstro em Mim
82. Expostos
83. Limites
84. Lobo Mau

80. A Porta

438 40 31
By Dark_Siren4

Meus olhos correram do vampiro para o cachorro ainda sem conseguir fazer aquela ligação.

- Isso não é momento para piadinhas, Malachai - soltei uma risada nervosa - Deixe o Raizo passar.

Kai não moveu um músculo sequer, completamente decidido a combater qualquer coisa que estivesse em meu caminho. E isso incluía um cão de vinte quilos.

- Se ele é mesmo um cachorro - disse - Por que não gosta que o toquem? Afinal, ele já está com vocês há anos.

Dei de ombros.

- Talvez ele tenha sofrido maus tratos.

- Mas porque a cisma é apenas com você e não com a Eve?

- Eu não sei, Kai. Apenas saia da minha frente - tentei passar, mas ele não deixou.

- Porque se você tocá-lo por tempo o suficiente pode sentir que tem algo de sobrenatural nele - explicou - Eu sinto com mais facilidade porque sou uma esponja de magia. Não levou nem mesmo um segundo para eu sacar a dele.

Fiquei parada observando um vampiro desconfiado encarando o cachorro como se ele fosse uma espécie de ogiva nuclear que explodiria a qualquer segundo.

- Quem é você? - questionou, Kai.

Pronto. Aqueles anos ouvindo vozes e sendo perseguido o deixaram o maluco de pedra mesmo.

- Ele é apenas um cão - falei, irritada.

- Não estou falando com você, gostosa. Estou falando com o lobisomem aqui.

Revirei os olhos. Raizo continuava parado encarando nós dois com os dentes arregalados. Nada de novo nisso, embora eu deva admitir que ele parecia muito mais tenso do que de costume.

- Você está assustando ele - murmurei - Saia do caminho dele, antes que ganhe outra mordida.

A ferida em sua mão havia parado de sangrar e se fechado. Kai cruzou os braços musculosos e riu debochado.

- Se ele acha que veneno de lobisomem faz algum efeito em mim, está redondamente enganado.

- Sabe que você soa como maluco ao desconfiar de um cão, não é?

Ele não prestava a mínima atenção em mim.

- O quê? - disse para o cão - Você quer ver a Eve?

Com isto, o lobo soltou um ganido e bateu as patas dianteiras no chão, ansioso.

- É claro que ele quer ver a Eve - expliquei - Os dois são inseparáveis.

- Mas no meio daquela confusão ele a perdeu de vista - constatou Kai - E não sabe onde ela está, não é? Quer saber onde a Eve está?

O cachorro ganhou mais uma vez. Ele quase parecia manso e gentil. Suplicante, eu diria.

- Então - Kai se inclinou no batente da porta - Se revele. Ou vou me certificar de que nunca mais veja a minha filha.

Ele não estava ameaçando meu cachorro, estava? Semicerrei os olhos, pronta para acabar com aquela palhaçada quando Raizo simplesmente uivou. Porém, não foi um som comum, foi grave e terrivelmente alto. Algo que fez os pelos dos meus braços se arrepiarem. Ele nunca tinha feito nada parecido com aquilo.

Mirei Kai, intrigada e este estava completamente focado na cena, então, fiz o mesmo.

Raizo começou a tremer de uma maneira completamente descontrolada. E ouvi claramente o que se parecia com um osso se partindo, seguido de mais sons parecidos. Os pelos dele começaram a cair pelo piso de madeira em tufos cinzentos. E lembro de ter pensado: " Meu Deus, que ninguém esteja vendo isso". Embora a rua estivesse completamente vazia como de costume. A cena continuou a se desenrolar de maneira desenfreada e apenas olhei para Kai que encarava aquilo tudo fixamente tão maravilhado e estupefato quanto eu.

Os ossos de Raizo apontavam projetando-se contra a pele sem nunca rompê-la. E isso deveria ser a coisa mais dolorosa do mundo.

A coisa toda levou apenas alguns minutos, mas aquilo nunca mais sairia da minha cabeça.

- Meu Deus - eu disse, arfando ao ver o menino caído no chão da varanda.

Sua pele era morena e os cabelos tão negros e lisos quanto os de Damon. Ele era magro e estava completamente nu. Não devia ter mais que 11 anos de idade.

O menino sentiu-se ainda fraco e ofegante. Seus olhos cor de mel fixaram-se em Kai com raiva.

- Pronto - rosnou - Onde está a Eve?

Demorou um segundo para o vampiro encontrar as palavras certas, mas no final apenas sorriu.

- Bem, eu estava certo.

O menino o fuzilava com os olhos.

- Cadê ela?

- Opa, vamos com calma, lobinho - Kai ficou de cócoras o mirando de perto - Eu quem faço as perguntas aqui. Quem é você e quem o mandou? E porque está interessado na minha filha?

Aproveitei para dar uma olhada na rua em volta. Apesar de silenciosa e vazia, alguém poderia ter visto algo.

- Kai, vamos entrar - falei.

- Ele não vai passar dessa porta.

Respirei fundo.

- Você está ameaçando um menino nu e franzino. Sabe o que isso pode parecer aos olhos dos outros?

Kai soltou o ar com força após ponderar aquilo por alguns segundos.

- Ok. Você venceu - e ficou de pé - Entra, lobinho.

O menino ficou de pé e ele era bem alto para uma criança da sua idade. Seu olhar insolente se fixou em Kai enquanto ele passava.

- Você fala como se essa não fosse minha casa - resmungou, adentrando o hall.

Com minha super velocidade tratei de pegar uma manta no sofá e lhe entreguei para que se cobrisse.

- Obrigado - disse apenas, sem tirar os olhos furiosos de cima de Kai, enquanto se cobria.

- E então? - prosseguiu o próprio.

- Eu não tenho que lhe contar nada - foi ríspido - Onde está a Eve?

Kai ergueu uma sobrancelha.

- Garoto, eu vou te dar um cascudo se falar assim de novo.

- Tente e vai ficar sem os dedos, vampiro - rebateu o menino.

A descrença na cara de Kai foi impagável. Ele avançou na direção da criança, mas o impediu colocando a mão sobre seu peito.

- Deixa que eu conduza essa conversa - murmurei - Para ele, você é um estranho - mirei o garoto - Mas você me conhece bem, não é?

Pela primeira vez os olhos dele se fixaram em mim e aquele ar atrevido deu lugar para um simples acenar de cabeça.

- Está com fome? - perguntei. - Meu amigo, Tyler, ficou faminto após as transformações.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos e seus olhos atravessaram Kai mais uma vez, antes de olhar para mim e assentir.

- Vem comigo - sorri para ele e o conduzi até a cozinha.

Apesar de aparentar calma, para mim, estar conversando com o menino que até poucos minutos atrás era o meu cão de estimação estava no topo da lista de coisas mais loucas que já aconteceram comigo.

O menino sentou-se em um dos bancos e ficou olhando para mim de maneira séria. Servir um prato com as sobras do almoço com um copo de suco de laranja. Ele comeu tudo em questão de segundos. Foi assustador.

- Quer mais um pouco? - perguntei, chocada.

Ele assentiu mais uma vez. Falar não era bem o seu hobby. O vi fazer outra porção de comida desaparecer em segundos e, então, quando estava satisfeito, sentei-me ao seu lado.

- Imagino que essa situação seja tão estranha para você quanto é para mim - comentei, apoiando a mão no queixo - Sei que não quer falar sobre, mas precisamos saber algumas coisas sobre você. Para que seja seguro para Eve. Você entende?

Ele assentiu. Sorri satisfeita.

- Vamos começar pelo básico - falei - Qual é seu nome? Sei que não é Raizo.

O menino sorriu minimamente e isso o deixou mais infantil. Como um garoto normal.

- Meu nome é Hunter.

- Hunter - repete - É bem apropriado - ergui a mão em um gesto cordial - Olá, Hunter.

Ele apertou minha mão e sacudiu levemente.

- Olá, Bonnye.

- É muito bom falar com você sem mordidas envolvidas no processo - murmurei com humor.

Isso fez um sorriso maior se abrir em sua face.

- Não ser xingado de pulguento também é legal - alfinetou.

Isso me arrancou uma risada.

- Em minha defesa, suas mordidas doem.

- Mas nunca mordi para machucá-la - explicou - Apenas queria manter você afastada.

- Agora eu entendo - assenti com a cabeça.

Ele continuou sustentando meu olhar e ele parecia procurar cada mínimo detalhe em mim. Buscando fraquezas ou apenas compreender a pessoa que estava diante dele.

- Eu quero ver a Eve - disse subitamente.

- Eu sei que quer, querido - Surpresa por estar sendo tão carinhosa com um menino suspeito que acabou de se transformar na porta da minha casa - Mas, veja o meu lado. Você confiaria a um completo estranho o local seguro da Eve?

Hunter ponderou por alguns segundos e, então, negou com a cabeça.

- Por isso preciso saber tudo sobre você para ter certeza de que é realmente o amigo dela. Você pode me ajudar nisso?

Ele balançou a cabeça em sinal positivo.

- Certo - juntei as mãos diante de mim - Hunter, onde estão seus pais?

Por um segundo, um sentimento de tristeza atravessou seu semblante. Eu entendia aquela dor.

- Eles... morreram? - hesitei.

Outra balançada de cabeça.

- E quem cuida de você?

Ele apontou para mim. Fiquei surpresa.

- Você não tem uma casa para voltar? Nenhum parente vivo?

O menino deu de ombros.

- Alguns.

- E porque não ficou com eles esse tempo todo?

Ele ficou mudo. Havia algo que estava escondendo. Tive que apelar.

- Se a Eve é importante para você, seja verdadeiro comigo.

Pude ver o dilema em seu olhar, mas por fim, ele acabou respondendo.

- Eu fugi.

- Por que você fugiu?

- Eu não fazia parte daquele bando. Não sem meus pais.

- Mas sua família é importante.

- Minha família morreu - foi ríspido.

Ficamos em um silêncio desconfortável por alguns segundos. Então, Kai se pronunciou.

- E depois?

Eu quase me esqueci de que ele estava ali também, encostado no batente da porta e de braços cruzados.

Hunter apenas o mediu de cima a baixo com cara de poucos amigos.

- Hunter - insisti.

Ele suspirou.

- Eu vaguei pelas ruas por algum tempo, então, acabei encontrando uma mulher - contou. - Ela tinha olhos amarelos e era jovem assim como vocês.

Espera... olhos amarelos? Eu e Kai trocamos olhares preocupados.

- Espera - pisquei aturdida - Qual é o nome dessa moça que falou com você?

Hunter ficou em silêncio por alguns segundos, segurando a informação que certamente não queria compartilhar. Mas se ele queria ver Eve, teria que ser verdadeiro conosco.

- O nome dela é Cecile - disse de má vontade - Cecile Courtaud.

Eu e Kai trocamos olhares significativos.

- Essa moça, Cecile - falei, agora ansiosa - Ela disse para você vir até aqui?

Ele sacudiu a cabeça numa negativa.

- Ela precisa de um lobo que pudesse ficar de olho em você - apontou com a cabeça para mim. - Disse que você sabia de muitas coisas e por isso, poderia estar correndo perigo. Mas, nenhum dos outros da alcatéia queriam ficar perto de uma bruxa. Então, como eu não tinha ninguém, acabei me oferecendo.

Pisquei aturdida.

- Espera... Quantos anos você tinha quando veio morar conosco?

- Acho que uns seis anos - deu de ombros, como se aquilo não fosse nada.

Fiquei estupefata. Quer dizer que aquela criança sempre esteve ali, debaixo do meu nariz todos aqueles anos?

- Hunter, eu... - tentei dizer, perdida.

- Tá tudo bem - ele disse de forma simples - Eu sempre fui muito bem tratado e sempre me senti parte da família também.

- Por que não me contou de início?

- Porque Cecile disse que isso teria que ser nosso segredo. Que eu seria como um espião contra os homens maus que poderiam vir atrás de você e da Eve.

Eu nunca tinha parado para pensar muito em Cecile após todos aqueles anos. Porém, agora me sentia lisonjeada que ela se preocupasse o suficiente comigo e com minha filha.

- Como ela está? Cecile? - questionei.

- Eu não tenho muito contato com ela - disse Hunter - Nos falamos poucas vezes por ano ao telefone. Ela disse apenas que eu deveria estar preparado para quando algo ruim acontecesse.

Franzi o cenho.

- Ela quer a pedra, não é? - ouvi Kai dizer logo atrás de mim.

Hunter negou com a cabeça, ofendido.

- Ela quer destruí-la - e olhou Kai de cima a baixo com desdém - Viver para sempre não é natural.

Kai riu com cinismo.

- Diz o garoto que se transforma num lobo.

- Kai - avisei.

- Porque não repreende esse pirralho marrento? - resmungou, irritado - Afinal, até onde sabemos ele pode ser um espião dessa seita maluca ou apenas está aqui para roubar a pedra para Cecile. Só lhe digo uma coisa: Ele não vai chegar perto das minhas filhas.

Girei no banco e o encarei.

- Nossas filhas - enfatizei - E você não decide sozinho.

- É o que você pensa - desafiou.

Ficamos nos encarando por vários segundos até que Hunter nos interrompeu.

- Me digam logo onde está a Eve para vocês poderem brigar à vontade.

- Você não vai... - Kai começou a dizer irritado.

- Não podemos deixar você ver onde ela está ainda - o interrompi - Mas posso deixá-lo falar com ela.

Seus olhos cor de mel se iluminaram ante a possibilidade.

- Se você se provar confiável - prometi - Daqui alguns dias podemos deixá-lo vê-la pessoalmente. E então? O que acha?

Hunter ponderou por mais alguns segundos, antes de assentir lentamente.

- Então, temos um acordo - sorri, pegando o celular no bolso da calça e liguei numa chamada de vídeo para Eve. Ele atendeu na primeira chamada, seu rostinho corado e sorridente aparecendo na tela.

- Mamãe! - exclamou, feliz.

- Oi, meu amor - cumprimentei, sentindo meu coração se aquecer com sua visão - Como você e sua irmã estão?

- Estamos bem - respondeu - A vovó Sol está fazendo biscoitos para nós, mas só podemos comer depois do almoço.

E fez uma careta. Ela odiava regras.

- Obedeça a vovó Sol, meu amor - avisei, séria e ela assentiu - Adivinha quem está aqui?

Seu rosto se iluminou.

- É o papai? Ele está bem?

Kai se aproximou, aparecendo na tela ao meu lado.

- Eu estou ótimo, tampinha - sorriu. Dava para ver que ele também não era imune à alegria de Eve - Mas não é de mim que sua mãe está falando - sua voz soou azeda ao dizer a última parte.

Então, voltei a câmera para Hunter que estava com os cabelos desgrenhados e com a manta em volta do corpo.

- HUNTER! - ela berrou do outro lado da linha - O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AÍ? SE ESCONDA ANTES QUE A MAMÃE VEJA VOCÊ!

Isso arrancou uma risada dele. Seu rosto suavizou visivelmente e ele relaxou de imediato. Dava para notar o quanto ele gostava de Eve.

- Ela já sabe de tudo, Eve - ele coçou a cabeça, um tanto constrangido.

- M-Mas como...?! - gaguejou.

Hunter fechou a cara.

- O seu pai - disse como se fosse explicação o suficiente.

- O que? - ela pareceu confusa de início, então, explodiu - Papai! O que você fez?!

Voltei a câmera para nós dois.

- Eu não fiz nada, apenas fiz ele mostrar quem realmente era - deu de ombros, nem um pouco arrependido.

- Mas ele está numa missão super secreta para proteger a mim e a mamãe - falou, irritada - Você não podia ter feito isso.

Kai ficou chocado com aquela ousadia.

- Você e seu amigo mentem para sua mãe - alfinetou - E eu que estou errado por revelar toda a verdade?

Ante esse argumento Eve não pode fazer nada além de enrubescer.

- Você errou ao ter feito isso, meu amor - censurei - Mas entendo que teve suas motivações e Hunter, as dele. Espero que de agora em diante não haja mais mentiras entre nós.

Eve sacudiu a cabeça numa negativa furiosa.

- Nunca mais, mamãe! Eu juro!

- O que você jura? - a voz de Amy se fez ouvir ao fundo - Com quem está falando?

Ela se aproximou e surgiu na tela ao lado de Eve.

- Oi, mamãe! - ela sorriu. Eu amei ouvi-la me chamando daquela maneira - Oi, papai!

Kai ficou tão feliz que parecia que ia derreter no chão da cozinha.

- Olá, princesa - disse, quase me empurrando para aparecer na tela - Você está bem? Está se cuidando direitinho?

Ela revirou os olhos azuis, ainda sorrindo.

- Eu estou bem e tomando todas as medicações corretamente - declarou - E a abuelita está me fazendo comer brócolis de novo.

- Sério? - fez uma careta - Eu vou ter uma conversinha com ela quando voltarmos para casa.

- E ela vai te bater com uma colher de pau se tentar me dar doces - ela riu.

- Isso é verdade - ele riu também - Então, continue comendo os legumes. Faça esse sacrifício pelo couro do seu pai.

Fiquei tão absorta na conversa deles que não percebi quando Hunter se aproximou furtivamente e parou ao meu lado, olhando para a pequena tela do celular.

- Quem é esse menino? - Amy perguntou subitamente.

Kai apenas limitou-se a fuzilar o garoto com o olhar.

- Esse é o Raizo - Eve respondeu prontamente.

- Espera - disse confusa - O Raizo não é um cachorro?

Eve sacudiu a cabeça numa negativa.

- Não. Ele é um lobisomem que se chama Hunter.

- Eca! - Amy fez uma careta - E porque tem um lobisomem morando com vocês?

- Ei, não fale como se o Hunter fosse nojento - resmungou Eve - Ele é meu melhor amigo.

- Espera, pensei que eu fosse sua melhor amiga - Amy estava ultrajada.

- Você é minha irmã, está num nível acima dos melhores amigos.

- Não sei se gosto disso - Amy resmungou.

- Ei, meninas - Hunter falou - Eu posso ouvir tudo o que vocês estão dizendo.

Amy fez outra careta olhando para a tela.

- Credo. Ele fala.

Nos poucos minutos de conversa que tive com Hunter dava para ver que ele não era tipo que levava desaforo para casa, mas naquele momento ele não disse nada. Apenas ficou olhando para Amy com um olhar estranhamente terno. Kai também percebeu isso.

- Ei, por que está olhando assim para a Amy, moleque? - rosnou.

Hunter simplesmente o ignorou e ficou olhando para Amy embasbacado. Achei aquilo fofo.

- Assim como? - Amy franziu o cenho.

Eve alternou os olhares entre Amy e Hunter, então, abriu um sorriso maroto.

- Eu acho que o Hunter gostou de você.

Amy ficou chocada e vermelha como um pimentão.

- Eu não gosto dele!

- Mas ele gosta de você - Eve rebateu - Sério. Ele me disse quando você visitou nossa casa pela primeira vez.

- Eve! - disse um Hunter tão vermelho que parecia mais um tomate.

Bastou apenas um olhar para saber que ele ia esfolar Hunter no próximo segundo.

- Meninas, conversamos mais tarde - me despedi rapidamente - Um beijo e se cuidem.

- Tchau, mamãe! - disseram em coro.

Coloquei o celular com a tela desligada sobre o balcão.

- Kai - chamei, vendo o vampiro olhar para o menino como se estivesse cogitando um esquartejamento.

- Você ouviu, Bonnie? Ele... esse... - disse, apontando para um Hunter acusado de vergonha atrás de mim.

- Meu Deus, Kai, não faça tempestade em copo d'água. Ele apenas gosta da Amy - amenizar a situação - O que tem de mais nisso?

- Ela é uma criança - disse com a voz baixa e mortal.

- Ele também é - defendi - E você sabe muito bem que sentimentos são algo que não podemos controlar, não é?

Ele estava pronto para dizer algo, mas ficou em silêncio no mesmo segundo. Kai não seria hipócrita o suficiente para condenar Hunter, quando ele mesmo fez loucuras inomináveis por estar apaixonado por mim anos atrás.

Ele apenas soltou um grunhido de raiva e começou a se afastar.

- Aonde você vai? - questionei.

- Dar uma volta - resmungou.

- Aproveita e traz algumas roupas para o Hunter - exclamei - Ele não pode andar por aí assim.

Kai soltou um rosnado e abriu a porta da sala.

- Ok, eu trago! - urrou, batendo a porta.

E assim ficamos eu e um lobisomem de onze anos olhando um para o outro sem saber como se portar. Mas isso não durou muito, pois Hunter apenas deu a volta em mim e se dirigiu para a sala, sentou-se no sofá e ligou a TV em um canal onde passava uma animação japonesa. Ele parecia totalmente em casa. E dado que ficou cerca de cinco anos conosco, sim, ele era de casa. Sentei-me ao seu lado, ainda confusa com a situação e apenas assisti ao desenho com ele. E mesmo que eu perguntasse algumas coisas, ele apenas se limitava a respostas simples e monossilábicas. Tive que me contentar com aquilo.

Cerca de uma hora mais tarde, Kai retornou com uma quantidade imensa de sacolas. Ele apenas jogou-as ao lado de Hunter e sentou-se em uma das poltronas e encarou a TV sem dizer nada.

Hunter revirou os olhos e vasculhou nas sacolas e tirou de lá um par de tênis de uma marca caríssima e roupas que não ficavam atrás. Seus olhos amendoados e confusos foram das peças até Kai.

- Agradeça, Hunter - incentivei.

Ele fez uma careta e de início lutou muito contra, porém, as palavras fluíram rapidamente:

- Obrigado... hã... Kai.

Este que apenas lhe dirigiu um olhar duro e rápido, então, voltou a encarar a TV. Apenas sorri para Hunter e esse, encabulado, pediu licença e disse que iria se trocar. Quando ele subiu as escadas, apenas suspirei e sorri.

- Bem, acho que ganhei mais um filho.

A expressão no rosto de Kai não foi das melhores.

- Eu não vou adotar esse menino folgado.

- E quem disse que você tem alguma responsabilidade por ele? - ergui uma sobrancelha - Mesmo que indiretamente, eu cuidei dele todos esses anos e...

Kai revirou os olhos e soltou um gemido.

- Não vamos começar com isso de novo, Bonnie. Da última vez que tivemos essa discussão eu acabei preso a uma cadeira tomando facadas - seus olhos azuis me atravessaram - Se isso a deixar mais alegre, eu dou até meu sobrenome pra ele. Hunter Parker. Olha como soa bonito?

Hunter Bennett ficava muito melhor, mas eu não discutiria por algo tão banal.

Respirei fundo.

- Ok. Eu não vou me precipitar. Ele tem uma família, pode ser que ao final de tudo queira voltar para eles.

- Ele não parece animado com a ideia de sair daqui - comentou - Pelo que deu para perceber, ele parece muito à vontade na sua casa.

- Mas ele é uma criança e não pode decidir isso por si mesmo - murmurei.

Kai deu um sorriso amargo.

- Nem sempre os adultos sabem o que é bom para uma criança.

Eu duvidava que ele estivesse falando apenas de Hunter. Porém, não me ative a esse pensamento.

- O que vamos fazer com ele? Hunter não pode ficar nessa casa, afinal, nós viemos para cá para sermos iscas. Ele vai estar em perigo conosco.

O vampiro cruzou os braços.

- Ele pode estar do lado deles.

- Para com isso - sacudi a mão no ar - Nem mesmo você acredita nisso. Ele é apenas um menino perdido e lidando com a morte dos pais.

Apesar de estar a contragosto, Kai pareceu concordar comigo.

- Onde podemos deixá-lo, então? - abri a boca e Kai ergueu um dedo me interrompendo - Lá em casa não é uma opção. Eu não quero ele perto das gêmeas até ter certeza de que é confiável.

Enrolei uma mecha do cabelo comprido com os dedos de maneira pensativa.

- Que tal com a Caroline?

- Ela não passa o dia todo fora? - argumentou - Sem falar que não gosto da ideia de uma máquina de matar com garras e dentes afiados perto das minhas sobrinhas.

Um sorriso brotou nos meus lábios.

- Espera... Você está preocupado com Josie e Lizzie?

Kai bufou, disfarçando.

- É claro que não. Apenas não quero Caroline enchendo minha paciência caso esse pirralho se transforme dentro da casa dela e acaba atacando as meninas. Seria horrível. Ela falaria até o fim da minha existência.

- Se você diz... - contive um sorriso - Que tal deixá-lo na mansão Salvatore? Stefan adoraria ajudar, sem falar que Damon e Elena poderiam ficar de olho nele para nós.

Acho que a ideia de Hunter perturbando Damon todos os dias alegrou Kai, pois um sorriso imenso cobriu suas feições.

- É uma ótima ideia. Você é uma mulher muito inteligente, Bonnie Bennett.

Dei de ombros.

- Já fui acusada de coisas piores, Kai Parker.

Minutos mais tarde, Hunter desceu as escadas, usando um par de jeans, camiseta preta e tênis. Ele estava terminando de vestir a jaqueta jeans com uma careta.

- Vestir roupas outra vez é estranho - comentou.

Isso fez soar um alarme na cabeça de Kai.

- Espera. Você não ficava sem roupas na frente da Eve, não é?

- O quê? - ele franziu o cenho, enojado - Qual é o seu problema? Ela é uma menina.

A última palavra saiu com uma entonação de asco. E aquilo foi resposta o suficiente para Kai.

Me aproximei, avaliando-o de perto. Seus cabelos escuros estavam úmidos do banho e jogados para trás de qualquer jeito. Tratei de ajustá-los com os dedos.

- Pronto - falei, acariciando sua bochecha - Você está lindo.

Hunter ficou vermelho com o elogio.

- Agora ela vai ficar paparicando esse moleque - Kai resmungou para si mesmo.

- Você tá com ciúme, Drácula? - provocou o lobo.

- De um projeto de pinscher como você? - rebateu Kai - Apenas nos seus sonhos, pirralho.

Coloquei as mãos na cintura e respirei fundo.

- Hunter, chega - avisei - E Kai, se comporte como um homem da sua idade e pare de implicar com uma criança.

Nenhum dos dois ficou feliz com a reprimenda. Chamei Hunter para sentar na sala conosco e conversamos sobre os perigos de ficar ali e nossa resolução. Apesar de relutante no início, Kai disse que odiaria ter que secar as lágrimas de Eve caso acontecesse algo ao lobo. E ao pensar nisso, o próprio Hunter teve que concordar. Então, pegamos suas coisas e fomos para o carro de Kai e nos dirigimos a mansão Salvatore. Durante o caminho, liguei para Elena e expliquei a situação, essa que concordou de imediato e ficou muito feliz em ter Hunter por lá.

Observamos, enquanto o menino pegava sua mochila com a nova muda de roupas no porta malas. Kai o ajudou a levar o restante até a porta da mansão e, subitamente, puxou algo do bolso da calça. Era um modelo de celular ultra moderno e avançado que nem mesmo Eve ou Amy possuíam.

- Toma - o estendeu para o menino - Já salvei meu número e o da Bonnie caso precisemos entrar em contato com você.

Hunter o encarou da mesma forma quando recebeu as roupas. Porém, logo ocultou esse sentimento e pegou o aparelho de suas mãos.

- Obrigado - disse apenas.

Kai não disse nada, apenas girou nos calcanhares e voltou para o carro, onde eu o esperava. Acenei para Hunter que assentiu com a cabeça parada ao lado de Elena e Damon.

Kai assumiu o volante ao meu lado.

- Isso foi muito gentil da sua parte.

- Eu não fiz nada de mais - disse dando a partida.

- Mesmo sendo uma pessoa de caráter duvidoso - comentei - Você é um ótimo pai. Acho que nunca lhe disse isso.

- Isso foi um elogio? - Kai ergueu uma sobrancelha escura.

- Vai ser o último - falei, olhando para frente enquanto o carro começava a andar.

- Eu espero que sim - ele riu - Ou as estruturas do universo não vão aguentar toda essa súbita amabilidade da sua parte.

Tentei ignorar aquele comentário. Eu estava distraída, pensando naquele acontecimento fantástico. Estava tão focada na impossibilidade daquilo que me espantei quando Kai estacionou o carro subitamente. Olhei em volta, percebendo que estávamos parados em frente ao parque local. Não era o Central Park, mas era o que Mystic Falls podia oferecer de mais bonito.

- Por que paramos aqui? - perguntei, olhando em volta.

Kai tirou o cinto de segurança e abriu a porta do carro.

- Ainda precisamos ser iscas, não? Quanto mais expostos estivermos, mais eles ficarão revoltados e ansiosos para chegar até a pedra.

E com isto, saiu do automóvel. Suspirei e desafivelar o cinto e quando estava prestes a abrir a porta, Kai já estava do lado de fora, fazendo isso para mim.

Ainda estranhando aquele comportamento o segui pelo pequeno parque com algumas famílias e transeuntes. Demos sorte de encontrar um banco vazio sob uma árvore de copa alta e nos sentamos na sombra.

E como o folgado que era, Kai esticou o braço e o colocou sobre os meus ombros. O tirei de cima de mim na mesma hora, mas isso fez com que ele me puxasse pela cintura para que eu ficasse colada nele.

- Sei bem o que pretende, Kai - resmunguei, olhando para a frente resignada - Isso não é um encontro.

Ele deu de ombros e suspirou olhando em volta.

- Eu nunca disse que era - dava para ver a satisfação no rosto dele.

Eu poderia tê-lo afastado, mas algo me dizia que isso o faria querer se aproximar ainda mais. Então, ficamos assim por longos minutos.

- Sabe - ele comentou, admirando a paisagem - esse lugar me faz lembrar de casa.

Franzi o cenho.

- Não vejo o que tem de tão similar nesse parque e aquela enorme casa de fazenda.

- Estou falando do Mundo Prisão - murmurou ainda contemplativo.

Isso fez com que eu girasse os olhos para ele.

- Você odiava aquele lugar.

Kai deu de ombros.

- Pois é. O estranho era que eu me sentia mais acolhido naquela solidão do que na minha própria casa. Mas só fui perceber isso quando saí de lá.

Compreendi onde ele queria chegar.

- Não havia julgamentos.

- Exatamente - assentiu - Lá eu não precisava ser Malachai Parker, o filho mais velho de Joshua e vergonha da família. Naquela prisão eu era apenas o Kai.

Absorvi suas palavras e pensei nelas.

- As vezes eu me pergunto como teria sido se nossos papéis fossem invertidos - murmurei - Eu sempre quis ter uma família como a sua, embora, para você isso tenha sido como uma penitência.

- Talvez, a solidão tenha me ensinado a ser mais bondoso - concordou - E você teria aprendido a ser mais egoísta e menos ingênua.

Kai me encarou sugestivamente.

- O quê? - Ergui as sobrancelhas - Você acha que todos me fazem de boba? Que eu me doo para pessoas que não merecem?

Ele negou com a cabeça.

- Não. Eu acho que você tem um nível de desapego profundo pela própria vida.

- Então, eu sou suicida? - Arqueei uma sobrancelha.

- Não. Você é maluca - ele riu - E acho que foi isso que me atraiu em você. Sempre me valorizei além da conta, a ponto de matar para provar que estava certo. E você valorizava outras pessoas, a ponto de morrer para provar isso.

Suspirei e mirei o parque ensolarado.

- Um assassino e uma suicida. Nós tínhamos tudo para dar certo.

Pude ouvir o sorriso em sua voz.

- Ou tudo para dar errado.

- Kai - olhei para seu rosto - Você sente falta da sua família?

Ele pensou nisso por alguns instantes.

- Eles tinham vergonha de mim, me detestavam e faziam com que eu me sentisse pequeno e fraco - disse, sua voz vazia de entonação - Mas foi o único tipo de amor que eu conheci. Se é que tinha algum tipo de amor naquele clã.

Foi estranho escutá-lo se abrir daquela forma pela primeira vez em anos, então, resolvi aproveitar aquela oportunidade.

- Você fala muito no seu pai - comecei - Mas e a sua... mãe?

Seus olhos azuis cinzentos me atravessaram de maneira inquisitiva.

- O quê tem ela?

- Como ela era?

Kai respirou fundo, soltando o ar com força.

- Louca.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, absorvendo aquela única palavra.

- Como assim? - Soltei por fim.

- Ela era esquizofrênica. Via coisas que não existiam e achava que todos estavam a observando e que alguém poderia fazer algum mal contra mim e Jo. Joshua fingiu por anos que nada estava acontecendo, que ela estava apenas passando por algum tipo de depressão pós parto prolongada e continuou a engravidando até ter o par de gêmeos perfeitos, já que eu era defeituoso e Josette não tinha nenhum tipo de espírito de liderança - sua voz não continha emoção nenhuma, mas seus olhos estavam inflamados de ódio - Quase no fim, após o nascimento de Lucas e Olívia, ela já nem sabia mais diferenciar o que era ilusão ou realidade. Então, numa noite, ela se trancou no celeiro e atirou na própria cabeça com uma espingarda - ele deu de ombros novamente - Eu que a encontrei daquela forma no dia seguinte e meu pai me fez prometer que não contaria para nenhum dos meus irmãos, nem mesmo para Jo. O enterro foi feito às pressas e ele disse para todos que ela morreu de um aneurisma. Anos mais tarde, eu também surtei e matei todos os meus irmãos. Fim da história.

Eu sabia que a sociopatia implicava em um pequeno grau de empatia apenas para com aqueles aos quais o sociopata dava importância. E era visível que Kai sentia algo por sua mãe, algo que o fez odiar tanto seu pai que o levou a matar os próprios irmãos para roubar sua liderança.

- Eu sinto muito que você tenha passado por isso sozinho - sussurrei, buscando seu olhar.

Kai sorriu, tentando disfarçar os olhos marejados.

- Não seja boba, naquela época eu não sentia nada. A morte da minha mãe me afetou tanto quanto um dia chuvoso.

Sacudi a cabeça em uma negativa.

- Eu não acredito nisso. Você a amava. Do seu jeito, mas amava.

Kai apenas ignorou meu comentário e manteve seus olhos no chão onde a grama aparada e verde brilhava contra o sol da tarde.

- Droga - ele riu, fugindo - Eu acabei com o nosso encontro.

- Isso não é um encontro - revirei os olhos, sorrindo.

O vampiro mirou meu rosto.

- E se eu levá-la para jantar um dia desses? - propôs - Você aceitaria?

Mesmo não querendo, meu cérebro fez ligação com todos os jantares traumáticos que tivemos no passado. E o pior de todos, onde Renly Sinclair, foi morto por minha causa.

Acho que Kai se deu conta do que estava acontecendo, pois seu sorriso minguou de imediato e a culpa tomou suas feições. E um silêncio sepulcral tomou espaço entre nós. Ficamos assim por quase 40 minutos. Nenhum dos dois sabia o que dizer, então, o dia decidiu por nós. O sol baixou no horizonte e a noite começou a cair.

- Temos que ir - sussurrei, incapaz de dizer algo um decibéis mais alto.

Kai apenas concordou e se levantou. Seguimos até seu carro e voltamos para minha casa. Lá, ele apenas foi para seu quarto e eu fui para o meu, ainda pensativa sobre aquela tarde estranha e atípica. Obviamente, eu não estava isenta de culpa, algo em mim dizia que eu era tão podre quanto Kai por ter esquecido o quão monstruoso ele poderia ser. As pessoas que ele havia matado desde sua fuga do Mundo Prisão. E o fato de ter empatia agora, não significava que ela não podia ser aquele monstro terrível. Ele ainda estava lá, sob a pelagem de emoções que o cobriam.

Decidi tomar um banho e me preparar para dormir, porém, logo após, aquela sede veio até mim. Eu precisava de sangue e eu detestava sentir aquela fome apertando meu estômago e fazendo minha cabeça queimar. Era uma parte horrível em ser uma criatura da noite.

Levantei-me da cama e caminhei, já de pijama até a porta do quarto. Suspirei pesadamente e a abri.

Estagnei no lugar.

Apesar da escuridão no corredor, pude ver com meus olhos de vampira que a porta do quarto de Kai, em frente ao meu, estava escancarada. E ao contrário do meu, estava um breu lá dentro, no entanto, mesmo assim, deu para visualizar Kai, usando apenas uma calça de algodão, parado dentro dele, diante da porta, olhando diretamente para mim. Porém, aquela coisa de olhos azuis elétricos e sorrindo de forma maníaca, não era Kai. Pelo menos, não agora.

A coisa deu passo para frente, tentando sair do quarto, mas algo o impediu como uma barreira. Ele olhou para a moldura da porta, onde aqueles símbolos estavam entalhados e um ar de aborrecimento tomou suas feições. E então, a coisa olhou para mim e sorriu novamente, esticando o braço e lentamente, fechou a porta outra vez.

Apesar de ser vampira e acostumada com os acontecimentos estranhos daquela cidade, tive que admitir naquele momento que a visão daquela coisa me deixou tremendo de pavor.

💀💀💀💀💀

Nota da Autora:

Olha que legal eu tô sendo? Dois capítulos num dia só! Alguém ficou feliz? Espero que sim ☺️

Eu ando extremamente ocupada com as coisas da vida e por isso não consigo escrever tanto quanto antes. Sem falar que ando um pouco desmotivada com a escrita em geral. Mas não pretendo parar. É algo que eu amo, como o ar que respiro e não conseguiria viver sem isso aqui.

Muito obrigada por tudo e até daqui 84 anos 👻❤️

Beijinhos 💋 Até mais!

Continue Reading

You'll Also Like

32.5K 1.3K 14
- Srs Comptom e Northman. Vocês estão pagando a punição depois de assassinar tantos dos nossos, embora a autoridade tenha os perdoado, vocês ainda se...
623K 18.5K 28
Você e sua mãe tinham acabado de se mudar para a casa do seu padrasto e foi então que você descobriu que teria um meio-irmão, você só não esperava sa...
193K 9.2K 60
• Onde Luíza Wiser acaba se envolvendo com os jogadores do seu time do coração. • Onde Richard Ríos se apaixona pela menina que acabou esbarrando e...
33.8K 1.5K 71
"Amor à primeira vista é quando, de repente, os corações batem os olhos" Sua vida totalmente transformada por um olhar e um beijo na bochecha, para m...