Manuela
Acordo às três da madrugada e perco o sono.
Ótimo meu dia já começou daquele jeito.
Ainda é cedo demais para eu ir até a casa da Larissa, estou me sentindo sufocada aqui dentro da minha casa então o único jeito é eu ir para o único lugar no qual consigo pensar melhor na minha vida e respirar.
Tiro meu pijama e visto uma blusa comprida do Flamengo e um short jeans pego meu chinelo e fecho a casa.
Vou descendo as ruas do morro e vejo alguns vapores fazendo a ronda deles.
No começo quando comecei a frequentar o morro eu morria de medo desses caras armados até os dentes, mas hoje em dia já me acostumei.
Passo na barreira comprimento alguns vapores que já me conhecem me comprimentam de volta.
A única coisa estranha é que dessa vez alguns deles me olham de um jeito diferente.
Vejo um dos vapores pegar o rádio na cintura e falar com alguém enquanto o mesmo me encara atravessar a rua.
Não demora muito e eu chego até a praia. Procuro um lugar para sentar e ficar só com meus pensamentos.
Pouco tempo depois decidi ir até a água.
Deixo meu chinelo na areia onde estava sentada e vou caminhando devagar até começar a sentir a água gelada em contato com meus pés.
Fecho meus olhos e deixo a brisa fresca do mar acalmar meus pensamentos.
Grego: Tá fazendo o que aqui essa hora?
Saio do meu transe e encaro o homem que para ao meu lado.
Seus olhos escuros estão concentrados no mar.
Aproveito o momento e dou uma boa olhada nele todo.
Grego deve ter mais de 1,85 de altura numa boa, o corpo malhado e as tatuagens nos braços dão ainda mais charme a ele todo.
Ele me olha de canto e eu desvio meu olhar no mesmo instante. Fui pega no flagra.
Manu: Fiquei sem sono.
Grego: E teve que vir pra praia as 3 da manhã por isso?
Manu: Gosto de vir aqui, é o único lugar onde consigo fazer minha mente se silenciar. E você?- ele me olha- Veio ver pessoalmente se eu não ia meter o pé do morro?
Grego: Sim. Mas tu não parece surpresa com isso não.
Manu: Não sou uma patricinha idiota Grego, sei que todos aqueles vapores trabalham pra você, é claro que você colocou eles para me vigiar.
Grego: Já é outro dia né?
Manu: Fala o que você quer saber logo.
Grego: Transou com mais alguém além de mim naquele dia?
Manu: Não.
Grego: E depois?
Respiro fundo tentando buscar paciência para não dar na cara desse idiota.
Manu: Na primeira vez que transei com um cara ele me chamou de prostituta e mandou eu meter o pé logo após ter gozado. Minha experiência não foi tão boa assim Grego, então não. Não transei com mais ninguém além de tu, e não se acha por isso não. Só não transei com mais ninguém porque só tem homens idiotas nesse mundo começando por você. Eu quero virar lésbica mas aparentemente nasci com defeito e gosto de homens.
Grego: Tu ficou muito puta comigo né.
Manu: O que cê acha?
Grego: Eu não sabia que tu era virgem pô, tu devia ter me mandado o papo que tava esperando a porra de um príncipe encantado.
Manu: Não tem nada haver com esperar um príncipe encantado, até porque se fosse isso eu não teria transado com você.
Grego: Tem haver com o que então?
Manu: Tem haver com o modo como você me tratou depois. Eu não esperava um pedido de casamento não cara, até foi por isso mesmo que eu nem perguntei seu nome nem você o meu. Foi simples eu queria perder minha virgindade e tu queria comer alguém, só isso.
Grego: Então porque tu ficou tão puta assim?
Manu: Tu me tratou feito lixo. Como se eu fosse só um objeto insignificante. Foi por isso que eu desejei por dois meses seguidos todos os dias que você morresse engasgado com a própria língua.- Ele da uma gargalhada.- Ri não que eu tô falando sério.
Ele fecha a cara na hora.
Grego: Tu tem muita raiva pra alguém do seu tamanho.
Manu: Olha eu só queria esquecer aquele dia e nunca mais olhar pra sua cara. Só que aquele teste de gravidez ter dado positivo não ajudou em nada nos meus planos.
Grego: Ah nossa que bom que não sou o único que pensa assim. Eu não queria filho e muito menos com uma pirralha marrenta feito tu.
Manu: Pirralha que tu adorou comer.
Grego: Eu nunca disse o contrário parceira. Só disse que um filho não tava nos meus planos.
Manu: E tu acha que nos meus estava? Porra eu só tenho 18 anos, meus pais morreram e a única parente viva que eu tenho me expulsou de casa no meu primeiro erro, é sério eu nunca fiz nada nada de errado em toda minha vida... Sempre fui boa filha, uma boa aluna tanto que ganhei bolsa completa para a faculdade de administração que eu faço on-line, sempre tive as melhores notas nem matar aula eu nunca matei tudo pra ser a menina mais comportada que eu pudesse para que minha tia não me deixasse sozinha, e olha só pra mim agora...- meus olhos embaçam e eu não consigo segurar minhas lágrimas.- Eu tô sozinha nesse mundo, todo mundo que eu amava morreu ou me abandonou.
Grego: Tu tem a tua amiga e a mãe dela que te consideram pra caralho, tem até o MT que já ameaçou levar qualquer pessoa que te machucar pro desenrolo... E tem esse bebê que precisa de tu aí também.
Limpo minhas lágrimas ainda sem olhar pra cara do Grego.
Manu: Não preciso da tua pena guarda ela pra alguém que queira.
Grego: Pirralha marrenta, teimosa e orgulhosa.- ri pelo nariz- Que bela mulher eu arrumei para ser mãe da minha cria.
Manu: Imaturo egoísta, debochado ignorante e se acha o dono do mundo. - Dou uma risada sem graça.- É eu também não escolhi o melhor cara do mundo pra ser pai do meu filho não... Bem vindo ao clube das pessoas que não sabem escolher com quem se envolver.
Ele olha pra mim e meus olhos encontram os dele pela primeira vez nessa conversa. Não demora muito e caímos na risada por alguns instantes.
Logo a graça acaba e ficamos em silêncio apenas olhando o mar por alguns minutos. Até ele quebrar o silêncio.
Grego: Eu tive um pai foda pra caralho que fez de tudo para que eu ficasse bem nessa vida, e acho que tu também pelo jeito que falou do teu coroa...
Manu: É meu pai era o melhor...
Nos olhamos mais uma vez mas agora de uma forma diferente.
Grego: Vou te levar pra tua casa tá frio aqui daqui a pouco tu pega um resfriado.
Não digo nada e acompanho ele até o carro do mesmo.
Logo paramos em frente a minha casa.
Manu: Obrigado pela carona.
Grego: Milagre tu sendo educada comigo.
Manu: Tô com sono e fico meio lenta por isso, não se acostuma não.
Desço do carro e vou até ao portão da minha casa. Escuto o barulho da porta do carro abrir e olho para trás vendo o Grego vindo até mim.
Manu: Tá fazendo o quê? Não vou te convidar pra entrar não.
Grego: Só quero pedir pra tu deixar eu tentar...- olho sem entender - Quero tentar ser um pai como o que eu tive e o que tu teve também. Não sou uma boa pessoa Manuela e tô muito longe de ser, mas quero ser bom pra essa criança. Pela primeira vez em muito tempo eu realmente quero ser bom para alguém além de mim mesmo sem querer nada em troca.
Penso por alguns segundos e tomo minha decisão.
Manu: Tenho a primeira ultrassonografia marcada para amanhã às 10 da manhã. Se tu quiser pode ir.
Grego: Passo aqui as 9 e 40 pra ir junto com você.
Manu: Boa noite Grego.
Grego: Boa noite Manuela...