"Merda." Jimin ouviu o seu melhor amigo xingar baixinho na carteira ao seu lado, o que acabou por chamar a sua atenção.
Ao olhar na direção do jovem de cabelo curto e tingido de castanho, o príncipe conseguiu focar a sua visão bem a tempo de assistir Taehyung pegando a bolinha de papel amassado que havia sido jogada sobre a sua mesa e em seguida desembrulhar a folha sem expressão em seu rosto com o intuito de ver o conteúdo.
No entanto, depois de dar uma boa olhada no conteúdo, o rosto de Taehyung escureceu e ele mordeu o lábio inferior com raiva antes de voltar a amassar o papel que não demorou a ser descartado dentro da sua mochila apoiada no chão ao seu lado.
"Tae, você está bem?" Jimin perguntou preocupado com seu amigo que parecia estar muito afetado.
Era óbvio que o conteúdo do papel não era elogioso.
"Pau no cu desses babacas." Taehyung respondeu fugindo de responder diretamente a pergunta feita pelo príncipe, fingindo não estar afetado.
"Kim Taehyung e Park Jimin, caso vocês estejam sabendo o suficiente sobre a matéria ao ponto de conversar livremente, eu peço para que os dois venham até aqui e tomem o meu lugar para explicar o conteúdo ao resto da turma."
"Perdão, senhora Bae." Jimin se desculpou e, ao notar que o seu amigo não falaria nada, deu um leve toque no ombro direito do moreno que parecia com a mente longe dali. "Tae." Chamou e o moreno o olhou, revirando os olhos ao entender o que o príncipe queria.
"Foi mal ai, 'fessora." Pediu e a senhora de aparência jovem e cabelos longos e negros suspirou cansada, sem forças para tentar ensinar àquele adolescente os devidos modos.
A pobre professora tentou consertar as atitudes mal educadas de Taehyung durante todo o ano letivo, mas já era o final do último semestre do ano e o Kim não pareciam ter aprendido nada além das matérias que caíam nas provas. Em suma, não valia mais a pena o seu esforço. Taehyung era um caso perdido e estava levando Jimin consigo.
"Como eu estava dizendo antes de ser interrompida..." Retomou a aula, dando as costas para a dupla e caminhando até a lousa digital presa à parede da sala de aula. "O início do ciclo das almas gêmeas se dá quando uma pessoa vem a falecer e a sua alma decide esperar pela alma de alguém importante para ela. Quando esse encontro no pós vida acontece, ambas as almas irão ascender ao novo plano ao mesmo tempo e, desta forma, o Universo entenderá que esses indivíduos possuem assuntos pendentes. Como consequência, após as almas se recuperarem e descansarem o suficiente, ambas serão enviadas novamente para uma nova vida onde eles irão se encontrar em algum momento para que vivam como almas gêmeas e resolvam as suas pendências." Concluiu a sua breve explicação, caminhando pela sala e se certificando que todos estavam prestando atenção em suas palavras. "Almas gêmeas são partes especiais da sociedade em geral. Elas são casos raros que atingem apenas cerca de 7% de toda a população mundial."
"E como sabemos se temos e quem é a nossa alma gêmea?" Kim Minah, uma das meninas mais inteligentes da turma e com as notas mais altas de toda a escola, perguntou parecendo verdadeiramente interessada na explicação da matéria.
"Não é como se você tivesse alguém esperando por você, Minah." Disse Sung Jaeyoung, um dos garotos que Jimin e seu melhor amigo considerava como membro de um grupo de babacas que adoravam ser maldosos com todos, mas que de alguma forma era querido por grande parte dos alunos daquela escola.
Envergonhada, as bochechas da menina se tornaram vermelhas e o seu corpo todo se encolheu em sua cadeira, o que fez todos rirem mais do que já riam.
"Deixa de ser babaca, Jaeyoung. Literalmente ninguém pediu a sua opinião." Jimin se intrometeu no assunto e, por mais que ele fosse um príncipe muito querido em todo o país, quando se tratava daquele pequeno grupo de alunos, as coisas não eram bem assim.
"A mesma coisa se aplica a você, principezinho de mer—"
"Vamos interromper você bem aí, rapazinho." A professora se intrometeu na discussão dos alunos, parando em frente a mesa do estudante encrenqueiro para se certificar que ele não falasse mais nada que pudesse ofender mais alguém. "Minah, querida, o que acontece é que, quando você e a sua alma gêmea se olham pela primeira vez, vocês dois vão sentir o coração se apertar, quase como uma dor leve, o pulso de vocês vão acelerar, vocês vão ficar sem fôlego e, em seguida, as íris dos seus olhos e dos olhos da sua alma gêmea irão se tornar cinzas por alguns segundos, em seguida verdes e, por último, azuis até que o fio do destino se fortifique ao redor do pulso dos dois e se torne visível aos olhos do par. Apenas aos olhos do par."
"Só isso?" Algum aluno do fundo da sala perguntou. "Você fica ligado a alguém por um fio invisível?"
"Bem, quando o laço for feito, o par também poderá ouvir algo que os marcaram em suas vidas passadas e, além do fio, também existem as mudanças da cor da íris dos olhos que, dependendo do sentimento que a sua alma gêmea o faz sentir, mudará de cor. O mesmo acontecerá com o fio que os une que é constantemente alterado conforme o que você e a sua alma gêmea sentem pelo outro. Metade do fio recebe uma cor e a outra metade outra, a que está presa ao seu pulso significa o que o seu par sente por você e o mesmo se repete ao contrário." Explicou e, em seguida, com o pequeno controle branco em sua mão direita, a senhora Bae trocou o slide anterior para um que mostrava o significado de cada cor.
Sem perder tempo, Jimin, assim como a maioria dos outros alunos presentes, passaram a anotar a matéria exposta na lousa branca com a certeza de que esse assunto seria abordado futuramente.
Satisfeita, a professora continuou: "Além disto, lembranças da sua vida anterior virão ocasionalmente."
"Para o quê?" Minah voltou a perguntar.
"Para que você se lembre o porquê está ligado a aquela pessoa." A professora explicou, sorrindo docemente para a estudante e logo voltou a parar em frente ao quadro, a sua face exposta para toda a turma. "O fio do destino tem o propósito de manter as almas gêmeas unidas e, diferente do que muitos acreditam, não necessariamente em uma relação amorosa. Existem casos de irmãos, amigos, familiares e até mesmo inimigos de outras vidas que retornaram como almas gêmeas. No fim, o certo é que o Universo provoca as lembranças para que você entenda que o objetivo de duas almas gêmeas é perdoar algo e, acima de tudo, se manter unido ao seu par." Esclareceu de forma calma. "Não importa o seu tipo de relação com o seu par, pode ser a forma de relação que vocês desejarem, mas ambos precisam cuidar um do outro e, acima de tudo, se certificar de que as duas partes envolvidas estão bem."
"E se as duas pessoas morarem longe? O fio se expande?" Jimin perguntou pela primeira vez, curioso porque ele não conseguia imaginar um fio invisível que mudava de cor por causa de sentimentos.
"Sim, o fio se expande." A professora confirmou a teoria do Park e sorriu ao ver o possível futuro monarca assentir e anotar algo relacionado à sua resposta em seu caderno bem organizado. "O fio é invisível, mas apenas aos olhos de terceiros, porque quem possui uma alma gêmea consegue ver o seu fio ligado ao do seu parceiro perfeitamente e pode até mesmo seguir o fio até o seu par. Ou puxar o fio para chamar a atenção do outro lado." Contou sorrindo, querendo que seus alunos entendessem que o fio era algo físico que podia ser tocado e esticado, mas apenas pelos seus donos.
"Caso você tenha uma alma gêmea, é possível ver o fio de outros pares?" Chae Yiyeon perguntou de uma das primeiras carteiras da sala e logo foi respondida por um aceno negativo vindo da professora. "Ora, por que?!"
"Não sabemos." Respondeu de forma simples. "Diversos estudiosos criaram teorias a respeito desse fenômeno, mas nenhum nunca sequer chegou perto de conseguir uma prova para autenticar as suas ideias." Revelou e logo o sinal que marcava o final da aula soou alto. "Tudo bem, classe, e isso encerra a nossa aula de hoje. Porém, antes de liberar vocês, eu vou pedir para que todos pesquisem e tragam na próxima aula a teoria a respeito das condições do fio que vocês consideram mais interessantes para que possamos continuar a nossa matéria com uma discussão em conjunto." Pediu e, apesar dos grunhidos de reclamação vindo de todos os alunos, a jovem mulher sorriu e sinalizou que todos estavam livres, inclusive ela que, assim como os seus estudantes, logo tratou de recolher e guardar os seus materiais até então espalhados sobre a mesa.
"Essa matéria é uma droga." Taehyung comentou ao se levantar e pendurar a sua mochila de grife sobre o seu ombro direito. "Quem em sã consciência iria querer uma alma gêmea?"
"Eu." Jimin respondeu simplório, terminando de guardar o seu estojo dentro da sua bolsa para a fechar em seguida. "Imagina o quão reconfortante deve ser ter alguém que você pode confiar e contar pelo resto da vida?"
"Isso você já tem." Apontou para si mesmo e o príncipe riu da brincadeira com um grande fundo de verdade. Ambos os adolescentes se consideravam almas gêmeas simbólicas. Não existia um fio, mas a conexão estava lá. "Mas imagina lembrar da sua vida passada? Deve ser horrível! Sem falar que alguém sabendo exatamente o que você sente é no mínimo invasivo e extremamente sufocante."
"Hm." Concordou ao mesmo tempo em que colocava a mochila sobre as suas costas e caminhava em direção a saída da sala ao lado de Taehyung. "Mas ainda assim eu queria ter uma alma gêmea. Parece ser divertido."