Morro dos Homens

By Lariie22

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+18| A vida se baseia em matar ou morrer. Lobo ou ovelha? Escolhe quem tu quer ser.... Plágio é crime. More

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By Lariie22

Alguns meses depois *

Cabeça

Passei a mão no rosto e olhei pro teto tentando não pensar muito. A minha vontade era de matar todo mundo que tava nessa porra de lugar.

Cabeça : Caralho, faz alguma coisa, porra! eu tô te pagando pra ficar dando notícia ruim não, se vira. - Gritei vendo ele se encolher. - Eu vou matar geral nessa porra, escuta!

Médico : Estamos fazendo, eu não deixei ela em nenhum momento. Mas do jeito que ela se encontra é só um milagre mesmo. - Tentei ir pra cima mas logo a Mariane entrou na frente me segurando.

Mariane : Eles estão fazendo o máximo, cabeça. - Neguei.

Cabeça : Não, não estão. Se tivessem ela tava bem, ela não consegue nem me responder. - Gritei fazendo ela balançar negando.

Mariane : Mas ela te escuta, você acha que ela tá bem vendo você tratar todo mundo assim.

Cabeça : Foda-se! eu tô avisando, se ela não voltar bem pra casa, eu mato geral.

Mariane : Vai dar tudo certo! - Disse me puxando pra um abraço mas não correspondi. Só fiquei calado na minha. - Você precisa descansar um pouco, tem tantos dias que não dorme direito.

Cabeca : Eu não vou fazer nada enquanto ela me dizer que está bem. Tu não entende, Mariane. Ela é a única coisa boa que eu tenho, porra. Ela é a minha mãe.

Olhei pra ela de lado e engoli seco. A alguns meses tava bem, cara. Rindo atoa, se divertindo e chegou até dar um rolê de carro comigo, pô. Mas aí a diabete dela começou a atacar e do nada o que eu achava que não podia fazer tanto efeito se tornou um pesadelo.

Do nada começou aparecer machucados que não cicatrizavam, ela começou a emagrecer e pro meu desespero maior a sentir falta de ar. Eu estava cuidando dela dentro de casa, pô. Eu nem saia direito era só pra cumprir missão mesmo, mas sempre deixava a Mariane com ela. Eu nunca deixava ela sozinha um segundo. Foi tudo muito rápido e quando eu assustei,  o que era pra ser uma simples consulta se tornou uma internação.

Rn fez questão de colocar ela no melhor hospital e até queria colocar alguém pra ficar com ela, mas eu não aceitei, sem lógica.

A minha vó cuidou de mim a vida toda e agora era a minha vez de cumprir com isso. Eu jamais a deixaria na mão, estaria aqui com ela pra qualquer coisa.

Cabeça : Ela vai ter que usar essas paradas até quando? Esse bagulho parece incomodar ela.

Mariane : Tudo isso é pro bem dela, Jhonatan. Ela vai ficar bem. Vai tomar seu banho, vai dormir um pouco. - Neguei.

Cabeça ; Eu vou continuar tomando banho aqui, pô. E se ela precisar de mim e eu estiver longe? Não dá.

Mariane : Se você ficar desse jeito, cabeça. Ela vai ficar pior, não deixa ela ficar te vendo nesse estado. - Fiquei calado encostado na parede. Depois de um tempo me aproximei dela e segurei a sua mão sentindo o seu leve aperto.

Cabeça : Aí velha, tu tá proibida de meter pé e me deixar aqui sozinho, tá me ouvindo? E eu não vou sair daqui até tu melhorar, vou ficar aqui pra sempre se for possível. Eu quero ver tu gritando que eu não presto.

Senti um aperto na minha mão e sorrir vendo ela abrir os olhos e me olhar.

Cabeça : Tô contigo, mulher. Isso aqui vai ser só mais uma daquelas paradas que tu teve e logo tá em casa. - Beijei a sua mão e fiquei ali conversando com ela enquanto ela me olhava super atenta. Eu chegava até rir quando ela revirava os olhos não aguentando a falazada na cabeça dela. Foi quando entraram pra medicar e eu me afastei indo tomar banho no banheiro que tinha no quarto mesmo.

Tomei um banho rápido e sair pra comer enquanto eles ainda estavam lá, foi quando eu estava voltando pra sala e a Mariane me chamou.

Mariane : Eu coloquei o nome de vocês dois nas orações da igreja, eu tenho fé que isso vai ser passageiro e logo ela estará bem.

Cabeça : Eu te agradeço demais, Mariane. Eu nunca vou conseguir pagar o que tu tá fazendo por mim.

Mariane : Fique tranquilo, vai dar tudo certo.

Olhei pra frente vendo mais um médico entrar na sala.

Cabeça : Quanto tempo? - Ela me olhou sem entender. - Quanto tempo deram pra ela?

Mariane : Uma semana. - Engoli seco. - Mas Deus faz o impossível, Cabeça. Ele cura, abre portas assim como também as fecha. Eu creio que ele fará o melhor pra sua vó. - Ela segurou em meu ombro. - Chame por ele, ele vai te escutar.

Fiquei calado olhando pro nada. Eu nunca fui daqueles que vive pela igreja mas a minha fé era grande, real. Todo dia era um sinal da cruz indo e voltando pra casa ou agradecendo nos pensamentos sempre pela comida e mais um dia de vida. E eu achava que assim era o bastante, mas hoje vejo que não..

Voltamos pro quarto e não demorou ela falar que ia pra casa e amanhã voltava. Eles terminaram de trocar os curativos e fazer todo o procedimento de medicação e logo saíram da sala me deixando sozinho com ela.

Assim que ouvir a porta se fechando, eu olhei pros dois lados e respirei fundo antes de me ajoelhar.

Me apoiei na cama e abaixei a cabeça com as duas mãos pra cima e fiquei em silêncio sentindo o choro vir forte. Eu não conseguia falar nada, só chorar.
Aquele ali foi o pedido mais sincero de toda a minha vida, pprt.

Eu só queria um sinal que tudo ia ficar bem, só isso, pô.

Depois de um tempo lavei o meu rosto e me encostei no sofá, não preguei o olho a noite toda e fiquei só pensando em tudo o que tava acontecendo. Pela primeira vez eu estava me arrependendo da vida fácil que eu sempre sonhei e pensei no desgosto que dei pra ela, nas noites sem dormir preocupada comigo e com o Rn na rua.

Amanheceu e eu só fui perceber quando entraram pra servir o café e eu fiquei calado no canto. A enfermeira entrou e começou a mexer em tudo revisando as coisas.

Xxx : Você precisa descansar um pouco, por que não vai pra casa? Dorme um pouco e volta.

Cabeça : A minha casa é onde ela estiver. - A mulher ficou me olhando por um tempo. - Ela não merece ficar assim, dona. A minha vó é a melhor mulher do mundo, nunca fez mal pra ninguém, pô. - Ela só ficava em silêncio me olhando. - Eu sim, eu sempre fui um filha da puta com todo mundo. Eu não entendo isso. Não deixa a minha vó morrer não, dona. Ela é tudo que eu tenho, pprt mesmo.

Xxx : Qual é o seu nome?

Cabeça : Jhonatan, pô. - Ela sorriu.

Xxx : Jhonatan, você é novo ainda. Você vai passar por muita coisa ainda e lá na frente vai entender que tudo tem uma razão. - suspirei cruzando os braços e desviei o olhar. - Não ache que aqui é o fim só porque algo não saiu do jeito que você esperava, sempre tem alguma solução.

Olhei pra ela e ela se aproximou e já foi pegando na minha mão antes que eu desviasse. Ali eu sentir o meu corpo todo se arrepiar.

Xxx : Fique bem pra ela ficar bem, ela não está feliz vendo você assim.

Cabeça ; E tu acha que eu vou ficar abrindo risinho vendo ela desse jeito, se liga.

Xxx : Veja você mesmo, ela precisa descansar. Ela não vai conseguir com você desse jeito. - Tirei a minha mão da sua e me aproximei da cama vendo ela abrir os olhos devagarinho.

Cabeça : Tu tá dormindo demais em, velha. - Disse com um sorriso fraco. Me deixava triste pra caralho vendo ela assim, po. O meu olho chegou a encher de água. - Tu não pode me deixar, tá me ouvindo? Tu e a minha vida, cara. Eu prometo pra tu que eu vou mudar, mãe.

Segurei a sua mão com um pouco de força.

Cabeça : Eu não quero te ver morrer, por favor.

Vi os olhos dela se enchendo de lágrimas e foi aí que eu não aguentei. Eu chorei feito criança na frente dela enquanto passava a mão pelos seus cabelos.

Cabeça : Eu te disse que mudaria por tu e tô disposto a mudar, vó. A gente mete o pé pra longe e recomeça tudo. Tu não queria morar em Cabo Frio? A gente mete marcha. Só fica comigo, por favor. - Limpei os meus olhos ouvindo o barulho da porta e logo uma enfermeira entrou e começou a fazer a mesma coisa que a de antes tava fazendo. - Qual é? Já mexeram nela toda aí, tem nem meia hora.

Ela me olhou estranho pegou a ficha e começou a olhar. Ela negou com a cabeça e voltou a fazer a mesma coisa. Fiquei encarando a mulher e ela nem tchum, pô. Eu já tava ficando irritado, quando ela saiu eu relaxei os ombros e fiquei encarando o nada. Eu peguei a toalha e fui pro banheiro e tomei um banho rápido.

Ali no hospital quem só vinha ver ela era a Mariane, pô. Eu proibir a entrada de geral. Eu posso está sendo egoísta mas conhecia bem a área que eu morava. Pra sair até foto dela nesse estado em site de fofoca custava pouco.

Eu não tinha amigos, eu não tinha familia. Os laços sanguíneos que eu tinha fez questão de afastar da gente e ainda colocou a minha vó como errada, como se ela fosse culpada das nossas escolhas. E mesmo assim ela nunca virou as costas pra ninguém.

Mas eu sei, pô. Eu sei que isso só mais uma fase ruim e logo ela vai estar comigo. Logo a gente vai estar em casa. Fui tirado dos pensamentos com uma voz bem fraquinha me chamando e assim que me aproximei ela me chamou pra deitar ao seu lado.

Engoli seco e neguei mas ela continuou pedindo, me ajeitei do seu lado com total cuidado e soltei o ar que nem percebia que havia prendido. Peguei o controle da tv e fiquei ali vendo filme, tentando distrair um pouco pra não voltar a chorar.

Amália : Jhonatan? - Ouvir ela me chamando e respirei fundo. - Para de chorar, eu não te criei assim.

Cabeça : Tu não pode me deixar, tá entendendo? Eu não aceito tu fazer isso comigo. A gente vai meter o pé daqui e vamos recomeçar longe com o teu neto lá querendo ir junto ou não.

Ela ficou calada e eu fiquei quieto na minha vendo o filme, eu só apaguei e fui acordar no outro dia com a enfermeira e a Mariane no quarto. Sair da cama com cuidado e fui em direção ao banheiro escovar os dentes. Quando sair às duas estavam ali conversando.

Me aproximei da cama e vi ela acordada, tava com um olhar tão caído, que eu nem conseguia ficar olhando pra ela por muito tempo. Eu só me sentei mais perto e fiquei olhando pra nada, enquanto sentia a sua mão alisar a minha.

Wn

Cheio de corre, pô. Tava nem ficando em casa, o LN tava pegando pesadão. E o foda que caia tudo nas minhas costas, pô. O Fernando não tava vindo por causa do barraco dele e o Fabin tava em Bh indo ver a filha.

E acabava que sobrava pra quem? Pro gostoso aqui. E fora o estresse que ainda dava de chegar e ver aquele tanto de atoa conversando fiado enquanto eu tinha que dar conta de tudo. 

Roberto : Que cara é essa, pô ? Tá parecendo que o Zé passou com a carroça por cima de tu.

Wn : Tô nem parando em casa direito, pô. O LN tá me mandando pra missão longe pra caralho. Olha a hora que eu tô chegando, po. - Ele me olhou desacreditado. - Eu não dormir nem um pouco, tô na base do energético. Agora são nove horas da manhã e eu nem preguei o olho.

Roberto : Melhor que ficar aqui o dia todo subindo e descendo no sol quente pra dar recado. - Só balancei a cabeça. Ela não tava errado, pô. Acabei de organizar as minhas paradas e meti marcha.

Ja cheguei em casa e já fui direto na minha irmã que brincava com alguns brinquedos e já dei um beijo na sua cabeça.

Wn : Tu já tá aí, né? Tu não para um pouco, cara.

Lorena : Ela acabou de acordar e já queria descer da cama a todo custo, foi uma luta. - Dei risada.

Wn : Desse jeito não dá, garota. - Peguei ela no colo. Dei um beijo na sua cabeça e já ia me afastando quando ouvir ela falando "papa" travei na hora, pprt. A minha única reação foi olhar pra ela que estendia os dois braços e me chamava com as mãos. Me aproximei dele e me abaixei perto vendo o seu desespero pra chegar perto de mim. Na real? Eu nem sabia o que falar.

Lorena : Eu não acredito que ela te chamou primeiro. - Disse tentando aliviar o clima. - Eu fico o dia todo com essa garota!

Wn : O que eu faço? Ela não pode crescer me chamando assim não.

Lorena : Calma, isso é comum. Você cuida dela e todo mundo fica falando que você parece ser pai. Você vai ensinando, só isso. - Ela se aproximou dela. - Agora chama a Lolo. - Disse brincando. - Lolo.

Dani : Papa. - Repetiu sorrindo.

Lorena : Lolo, que isso Daniella. - ela começou a falar "lolo" sem parar e a outra gritando "papa" foi feio. Cheguei até dar risada da cara de desespero da Lorena enquanto a Daniella tava tranquilinha ali.

Deixei as duas discutindo e fui pro quarto tomar banho e assim que sair já vi aquele tanto de mensagem chegando foi quando o meu celular começou a tocar e na hora que a Lorena pegou já desfez o sorriso.

Wn : Qual foi? - Ela mostrou na tela o nome da Mariane. - Atende aí, pô. Pode ter rolado alguma coisa.

Ela atendeu e falou um pouco com ela antes de me passar o celular e pegar a Dani que quase não saia do meu colo.

Wn : Oi tia, como tu tá?

Mariane : Wendel, eu não posso falar muito. Eu nem deveria tá ligando pra falar isso, ele me proibiu de falar desse assunto com qualquer outra pessoa.

Wn : Ele quem? O que tá pegando ?

Mariane : O Jhonatan, filho. - Engoli seco. - Eu nem sei como falar isso.

Wn : O que aconteceu com o Cabeça ? - Disse me afastando da Lorena mas adiantou nada, veio atrás.

Mariane : Eu tentei de tudo pra fazer ele se afastar desse lugar, mas nada deu certo. Ele não sai daqui de jeito nenhum e isso vai só piorando, ele não acredita que ela pode morrer a qualquer momento. Ele vive se enchendo de esperanças falando que é só uma fase ruim é que logo eles vão pra casa. - Fiquei calado. - Eu sinto que ela não vai aguentar tanto e eu simplesmente não sei mais o que fazer. Eu preciso de você, Wendel.

Wn : Eu não sei, Mariane. Ele não quer ver a minha cara, pô. Ele deixou bem claro quando mudou de numero e mandou recado pra eu não procurar saber dele mais.

Mariane : Ele não tem ninguém. Ele não confia em mim, ele mesmo deixa claro que se ela morrer ele vai junto. Eu tô com medo dele fazer algo, Wendel. Não deixa ele sozinho nessa, só isso que eu te peço. - Engoli seco olhando pra Lorena que me olhava o tempo todo calada. - Você não pode deixar ele sozinho nessa, Wendel. Você já passou por isso, você entende ele mais que ninguém.

Lorena balançou a cabeça confirmando e eu respirei fundo.

Wn : Eu vou ver o que faço, me passa o endereço. - Suspirei. Ela concordou e disse que ia pedir alguém pra mandar. Desliguei a chamada e olhei pra Lorena que só deu um sorriso sem mostrar os dentes.

Lorena : Eu não entendi direito o que aconteceu com ele, mas acho que você deveria ir. Amor, ele é igualzinho a tu. A única diferença é que você mudou e conseguiu passar por cima do seu orgulho.

Wn : Por tua causa, Lorena. Por tu e por ela. - Disse olhando pra Dani.

Lorena : Você teve nós duas e ele ? Tem quem? Se não é perigoso e ele precisa de um amigo, acho que você deveria ir. O pouco tempo que vir vocês juntos, eu vi como aquele cara era doido contigo.

Wn : O teu pai vai né matar, Lorena. O cabeça é primo do patrão da maré.

Lorena : E quem vai falar pra ele ? Você ? - Dei um sorriso desacreditado. - Tem coisas que não devemos seguir regras mesmo, Wendel. Você não tá indo pra diversão, está indo pra ajudar um amigo, eu não vejo problemas.

Meu celular apitou e eu logo vi a localização do hospital.

Wn : Não é na favela. - Ela abriu um sorriso.

Lorena : Melhor ainda, ué. O meu pai sempre diz que temos que colocar a família em primeiro lugar sempre e você o considera o suficiente pra isso, né ? - assenti depois de um tempo. - Então eu não vejo nada de errado nisso, vai lá.

Wn : Caralho, mulher. Assim tu acaba feio comigo! - Disse ouvindo a sua risada. Me aproximei e dei um selinho rápido na sua boca e beijei a cabeça de Dani e já fui pegando uma blusa de frio e as chaves da moto.

Lorena : Qualquer coisa, você me liga. - Eu assenti. Eu montei na moto e meti o pé seguindo o gps. Vou te contar, nem eu tava acreditando que ali era um hospital, era um prédio imenso pô. Ficava lá em copa, tava de cara em como o bagulho era organizado.

Já peguei o celular e mandei mensagem pra Mariane dizendo que eu tinha chegado e não demorou ela falar que estava descendo. Me encostei na parede perto da recepção e cruzei os braços vendo a maioria do povo passar me olhando. As portas do elevador se abriram e logo o outro apareceu com aquele jeito doido dele indo direto na recepção.

Não nego, pô. Ele tava acabado, dava pra ver só de colocar os olhos que parecia que ele não dormia a dia. Fora que tava magro pra porra, não era assim que eu tava imaginando ele.

Cabeça : Qual foi, tia? Deixaram alguma mochila ali contigo? - Observei ele de longe. A mulher na hora arregalou os olhos e negou.

Cabeça : Olha aí então, pô. Deixaram sim, mulher. Chegaram até ligar pra mulher lá em cima falando que tava aqui.

Xxx : Comigo não, vou dar uma olhada com as outras.

Cabeça : Jae, tô no aguardo aqui e não demora não, pô. Tô cheio de coisa pra contar pra minha vó. - Aproveitei ele pegando o celular e já fui me aproximando devagar.

Wn : Ta procurando o que Cabeça ? - Ele olhou pra trás e já arregalou o olhão. - Tu não me atende por que, fodido?

Cabeça : O que tu tá fazendo aqui? - Disse já olhado pros lados. - Tu veio com quem?

Wn : Eu tô sozinho, Cabeça. É assim que tu trata o seus amigos? Qual foi, eu vir te da uma força, caramba. A Mariane me ligou falando que tu precisava de alguém. - Ele negou.

Cabeça : Namoral, eu não quero dor de cabeça, Wendel. É melhor tu voltar pra tua vida antes que descubram que tu tá aqui, a tua namoradinha vai ficar puta quando souber que tu tá conversando com alemão.

Wn : Como pô? Se foi ela que me deu uma força pra eu vim. Ela não e mais minha namorada, cabeça. Ela é a minha noiva . -ele ergueu a sobrancelha. - Tô contigo e não abro mão, eu não vou embora. Eu não vou te deixar sozinho nessa.

Cabeça ; Nessa qual? Isso é coisa dela, logo "nós" tá em casa. - Olhei pra sua mão que tremia igual uma vara verde. - Vai passar! valeu pela visita, tu já pode ir.

Wn : Tu não vai me deixar nem ver ela? - Disse assim que ele virou as costas. - Qual foi, cara. Tu sabe que eu nunca iria fazer mal a vocês dois, jamais. Eu só vou ver ela e meto o pé, pode ter certeza disso. Eu te dou a minha palavra.

Ele ficou pensando por alguns segundos antes de apontar pra recepção. Dei um sorriso e peguei os meus documentos e já fui lá entregando pra mulher enquanto ele falava que podia liberar a minha passagem. Na hora fiquei mô grilado pela documentação ser com o outro nome, né. Mas no afinal deu tudo certo. Eu seguir ele até o elevador e ficamos calados enquanto as portas se fecharam.

O clima tava pesado pra caralho, nem eu tava entendendo. Eu pensei que quando ele me visse aqui tudo ia mudar, tá ligado? A gente ia conversar e talvez tudo voltaria ao normal. As portas se abriram e ele já saiu andando na frente e eu fui seguindo calado.

Mariane : Você veio. - Disse vindo em minha direção assim que passamos pela porta. Ela me envolveu em um abraço e beijou o meu rosto enquanto o outro me encarava com a cara fechada. - Se eu te falasse, você não ia deixar ele vir.

Cabeça : Já fez! - Disse levantando as mãos. Eu desviei o olhar e olhei pra dona deitada e já fui me aproximando. Eu me abaixei um pouco e passei as mãos em seu cabelo vendo ela abrir os olhos e me olhar.

Wn : Vim te ver, pô. - Vi um sorriso leve aparecer. - Como tu faz um bagulho desse e deixa geral preocupado, me diz? - Falei baixo.

Amalia : É a idade. - disse me fazendo sorrir.

Wn : Que nada, tu tá zero bala. - Falei calmo. Dei um beijo em sua testa e sorrir.

Amália : Eu tô tão cansada. - Observei o seu olhar caído. - Obrigada por vim.

Wn : Tu nem precisa agradecer, pô. Qualquer bagulho que tu pedir eu vou fazer sem pensar duas vezes, tu sempre fez o melhor pra mim. E eu ainda vou trazer a minha irmã pra tu conhecer, tu vai se amarrar nela. - Ela abriu um sorriso.

Amália : Então cuida dele. - Olhei de lado observando o Cabeça tentando escutar, mas assim que me viu olhando desviou o olhar. - Faz ele tomar juízo.

Fiquei calado, eu não podia prometer fazer ninguém mudar de vida, pô. Ele mesmo falava que nada faria ele mudar de ideia e eu o conhecia bem. O cara era cabeça dura, falou tá falado. Eu não pia encher ela de promessas falsas e sair daqui tudo continuar a mesma coisa. Eu não podia mentir mais. Fiquei conversando mais um pouco com ela, até fazer geral rir de menos o outro.

Wn : Tô numa fome, pô.

Mariane : Tem um restaurante aqui em frente, a comida parece ser boa. Lá só vive cheio.

Cabeça : Daqui a pouco eles vão servir o almoço, tu pega o meu. - Neguei. - Eu não como.

Wn : Por isso que tu tá magro assim, né. Bora lá. - Ele negou.

Cabeça : Eu não vou sair daqui, pprt.

Wn : Bora ou tu quer que eu faça tu passar vergonha aqui? Tu quem sabe. - Ele negou. - Anda Jhonatan, que porra! - Falei mais alto ouvindo ele bufar e se levantar. Ele foi até a avó e abraçou beijando a sua cabeça logo em seguida.

Cabeça : Tô aqui em frente, viu? Qualquer bagulho é só acionar que eu venho correndo, pô .

Amalia : Trás um docinho pra mim. - Falou de um jeito estranho.

Cabeça : Tu quer se matar e me matar também, né ? Melhora que eu compro uma fábrica pra tu.

Amalia : Eu sempre volto, você sabe.

Cabeça : Acho bom, pô. É melhor voltar mermo. - Ele abriu um sorriso largo e beijou seu rosto. - Eu amo tu, mãe. Eu já volto, descansa!

Vi ela enchendo os olhos de lágrimas e logo tratando de desviar. Eu sentir até a minha garganta secar mas logo sai do quarto. Quando ele saiu fomos andando juntos mas em silêncio como da primeira vez.

Chegamos no restaurante e logo achamos um lugar no canto e ali foi só sucesso. Nós fizemos o nosso pedido e ficamos calados até ele abrir a boca.

Cabeça : Eu soube do teu pai. - Disse depois de um tempo. - Eu não conversava com ninguém então ninguém me disse nada, eu só soube um mês depois que o Neguinho falou. Eu fiquei sem jeito de tentar contato. - Ele ajeitou o boné.

Wn : Tá tranquilo, eu tento não ficar pensando muito nisso não, foi tudo estranho demais. - Ele me encarou. - Geral me ajuda muito, tá ligado?

Cabeça : Tem ninguém te chamando de filho lá não? - Neguei. - Qual é ? Nem te chamando de cobrão ? - Neguei também. - No, sem base.

Wn : Tu é o único! - Ele balançou a cabeça. A nossa comida finalmente chegou e ele começou a comer como se fosse o fim do mundo, cara. Eu tava desacreditado. - Isso porque tu não tava com fome, né. Tu vai comer a mesa daqui a pouco.

Cabeça : A comida daquele lugar é horrível, não tem sal. - Dei risada. Ele terminou de comer e eu ainda tava comendo. Eu fiquei de cara quando ele pediu uma marmita pra levar dizendo que seria a janta dele.

Wn : Se liga! a gente volta e come aqui.

Cabeça : Tu vai ficar? - Assenti. Terminei de comer e paguei a conta. E quando eu procurei o outro ele tava na fila da máquina de sorvete, ele esperou a vez dele e eu só neguei vendo ele se aproximar com duas casquinhas que nem criança. - A minha vó não pode nem sonhar com isso. - Deu risada. - Quando ela sair de lá, a gente vai trazer ela aqui. - Assenti. - Aí, aquele história de tu ir casar é verdade ?

Wn : Claro pô, quando foi que eu mentir? - Ele me olhou. - Vai se foder, Jhonatan.

Cabeça : Tem coisa que não dá, cara. - Deu risada. - Tu vai fazer coisa grande ? - Neguei.

Wn : Não, coisa bem simples mermo. Pela primeira vez na vida minha mulher concordou com bagulho no cartório e uma coisa só pros mais próximos mesmo. - Ele assentiu. - Até porque não posso chamar geral que eu queria, então...

Cabeça : Teu sogro ia matar geral. - Ele deu risada.

Wn : Mas eu queria que tu fosse. - Ele negou na hora. - Há, qual foi? Eu quero que tu conheça pelo menos a minha irmã, pô. Eu tenho certeza que tu vai baba nela. Há, qual é ? Tu vai fazer essa desfeita mermo? - Ele bufou.

Fomos caminhando até o hospital e assim que entramos no elevador ele já começou.

Cabeça : Tu não sabe o ódio que eu tenho da sua cara, pprt. Tu é um vacilão mesmo. - Olhei pra ele. - Tu me trocou por mulher, cara.

Wn : Tu não ia fazer as coisas que ela faz ou ia? - Ele deu risada negando. - Se for a gente conversa

Cabeça : Qual foi, cobrão ? Tu tá me tirando feio. - Riu mais um pouco. - Obrigado por vim, cara. Namoral mesmo. Eu nem sei o que dizer....

Wn : Tu é foda, cabeça. Tu não tinha nem que abrir a boca pra falar isso. Independente da distância ou das nossas brigas, tu sempre vai ser o meu irmão. - Dei um abraço nele. - Tô contigo e não largo nunca. Ele não falou mais nada apenas ficou olhando o elevador.

Cabeça : Quando ela sair daqui a gente vai meter o pé. Eu tô pouco me fodendo para o que Renan vai pensar. - Disse assim que saímos do elevador. - Se isso vai fazer ela feliz, eu vou sem pensar duas vezes.

Wn : Tô aprendendo que quando se trata de família, a gente sempre tem que colocar ela em primeiro lugar. Tu tá certo, pô. Deixa ele se virar nessa putaria.

Fomos andando até alguém esbarrar em mim, nem deu tempo de ver a cara da pessoa ela já saiu correndo, mas dá-li eu vi que era um médico.

Wn : Pau no cu! esses caras não tem educação nenhuma, pô. - Disse vendo mais algumas pessoas correndo atrás dele. Foi quando percebemos uma movimentação estranha na porta do quarto. - Jhonatan....

Cabeça : Minha vó! - Antes que ela tomasse alguma reação já entrei na sua frente impedindo a sua passagem.
Ele tentava passar a todo custo mas não deixava e cada vez mais a sala ia se enchendo de médico.

Cabeça : É a minha vó, Wendel. Me deixa, porra.

Wn : Deixa eles trabalharem, cara. Tu não vai conseguir nada assim.  O que tu vai fazer lá dentro? Me diz?

Cabeça : Eu não deveria ter saído de lá, porra. - Ele passava a mão pelo rosto e andava pro lado e pro outro. - Me deixei levar, ela deve ter ficado preocupada. Que porra, caralho.

Wn : Vai dar tudo certo, Jhonatan. - Calma. O alvoroço parou e do nada abriram a porta com algumas pessoas saindo de lá.

Jhonatan ficou paralisado, cara. Ele estava completamente em choque me olhando, esperando uma resposta. Alguma coisa que seja e eu não conseguir falar nada.

Cabeça : Wendel? Quando isso acontece é porque conseguiram alguma coisa, né ? - Fiquei calado. - Foi só um mal estar, né ? - Ele tentou passar por mim mas eu o segurei de novo.

Marina : Jhonatan? - Gritou saindo da sala. Quando eu vi que ela estava chorando eu fechei os olhos por alguns segundo e umedeci os lábios. - Eu sinto muito, Jhonatan. Eles tentaram de tudo, me desculpa. - Ele deu alguns passos pra trás e colocou a mão na cabeça.

Cabeça : Para de brincar comigo, Mariane. - Deu risada. - Cadê a minha vó? - A Mariane só sabia chorar negando. Ele negou ainda desacreditado, só passou pela gente ir pra sala e a única reação que eu tive foi segui-lo. Assim que eu cheguei na porta ele estava ali deitado na cama enquanto chorava com a cabeça no peito dela.

Cabeça : Tu me prometeu que ia voltar comigo, vó. Tu é a única coisa boa que eu tenho na minha vida, não pode me deixar. Não faz isso comigo, namoral. Vó? - Falou enquanto a balançava devagar. - Eu te prometo que eu vou mudar, dona Amalia. Só não me deixa.

Os enfermeiros pediram ele pra sair da cama e ele só calado chorando, enquanto conversava com a avó. Me aproximei dei e o puxei com todo custo.
E quando ele estava em pé eu não tive outra reação a não ser puxa-lo pra um abraço.

Wn : Cabeça? Olha pra mim. - Disse segurando o seu rosto. - Eu tô contigo pra qualquer coisa, irmão. Não vou te deixar.

Cabeça : Ela me disse que ia voltar, ela nunca mentiu pra mim. Trás ela de volta, Wendel. A minha vó, porra. Trás ela de volta. - Começou a gritar enquanto eu o mantinha no meu abraço - Ela não pode me deixar, não pode! eles me prometeram que ela ia ficar bem, Wendel. Foi uma promessa, cara.

Wn : Ela conseguiu descansar, Jhonatan. Tu mesmo viu como ela tava sofrendo, cara. - Ele negou.

Cabeça : Eu ia cuidar dela, eu prometi. - Disse enquanto chorava. - Ela é tudo que eu tenho, caralho.

Ele se afastou passando a mão no rosto e tirou o boné puxando os cabelos. Tentei até fazer ele parar, mas quem disse que eu conseguia ? Seu rosto foi ficando mais vermelho ainda e a sua agitação foi me fazendo ficar mais preocupado.

Wn : Qual foi cabeça? Respira fundo, cara. - Falei segurando ele. Quando ele começou a ficar agitado demais, eles tiveram que dopar. O cara tinha começado a ficar agressivo, pô. Com ajuda do enfermeiro eu deitei ele num sofá que tinha ali e fiquei olhando tudo, enquanto eles tiravam o corpo. Eu era péssimo pra esse tipo de situação, cara.

Eu nunca soube reagir a essas coisas.

Mariane : Ela disse que estava com dor e quando eu fui chamar os enfermeiros a máquina começou apitar. Eu fiz tudo que eu podia, Wendel.

Wn : Eu sei, pô. Tu não teve culpa.- Falei dando um abraço de lado.

Mariane : Eu tive porque eu prometi pra ele que ela ficaria bem. - Encarei ela mas não disse nada. - Ele tava tão perdido, eu não conseguia falar nada assim pra ele. Olhei pra ele desmaiado no sofá e fiquei pensando qual rumo ele iria tomar ali. O meu medo era ele se revoltar e ficar pior do que já estava, pprt.

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