As palavras de Jesus eram tão doces que nem pareciam um sermão. Ficamos tão enfeitiçados pela sua maneira falar que nem percebemos as horas passando e o dia indo em bora, mas se despedindo com um lindo e extraordinário por do sol, colorindo os céus inteiros de laranja.
O menino de cabelos escuros que eu acariciava foi ficar com sua mãe, os dois assim como todos, se preparavam para ir em bora.
Com todos os discípulos, fomos até Jesus que despedia a multidão. Enquanto esperamos avistamos um barco grande com sua tripulação se preparando para partir, André vinha de lá.
–André!... Pra quê o barco?– Tiago chama sua atenção em voz baixa para não atrapalhar Jesus.
–Jesus quer atravessar o mar hoje a noite, disse que tem algumas coisas pra resolver do outro lado.– André responde.
–Ele sempre tem algumas coisas pra resolver.– João brinca mas é verdade.
Jesus terminou de despedir a multidão e veio até nós. Parecia cansado. Quem não estaria?
Olho para cada um de nós e aguardamos todos em silêncio para saber o que Ele diria ou mandaria que fizéssemos.
Mas nada, Ele ficou apenas olhando para nós. Mas não conseguimos saber se ele estava feliz, triste ou se estava apenas cansado.
–An... Mestre, o barco já vai partir, é melhor embarcarmos.– André quebra o silêncio.
–Claro! Vocês podem ir, eu vou falar com o meu pai.– Jesus ordena.
Alguns discípulos apenas obedeceram e foram em direção ao barco, Jesus estava indo em direção ao monte para orar.
Mas Simão não se movia, ficou apenas observando Jesus, com os olhos fixos nEle.
Me virei e encarei Tiago e João, que estavam ao meu lado, e os dois pareciam pensar o mesmo que eu, Convencer Simão a fazer a vontade de Jesus.
Simão provavelmente só estava preocupado com Jesus, em como ele atravessaria o mar da Galiléia se aquele era o último barco do dia e já estava escurecendo. Muito coisa poderia acontecer com Jesus enquanto estivesse só: Romanos, Fariseus ou até pior.
Mas mesmo preocupado, não poderia desobedecer a vontade do Mestre.
Me aproximo para tocar o ombro de Simão mas ele se afasta, indo na direção de Jesus.
–Mestre, com todo o respeito, é melhor vir conosco. É o último barco e...– Simão tenta convencer Jesus que se vira para ele, prestando atenção em suas palavras.
–Está tudo bem, Simão.– Jesus diz calmamente.
–Eu vou dar um jeito.– Jesus pisca para mim ao dizer a última parte.
Meus olhos brilham no exato momento. FINALMENTE ENTENDI! Entendi que dia é hoje e entendi o que vai acontecer!
Jesus vai andar sobre as águas hoje! Eu PRECISO ver isso, preciso ver logo.
Um sorriso enorme se faz em meu rosto e começo a ficar impaciente.
–Simão! Tá tudo bem, o Mestre sabe o que faz.– Começo a puxa-lo na direção do barco.
–Mas...– Simão tenta ser teimoso mas eu não permito.
–Ande logo!– O empurro sem dar chances de olhar para Jesus.
Aceno para Jesus como eu sinal de que entendi o recado e que vai dar tudo certo, Jesus concorda com a cabeça e vai em direção ao monte.
Estou ANIMADA!! Finalmente esse dia chegou, um dos meus milagres preferidos, se é que pode existir um milagre preferido.
Sigo empurrando Simão até o barco, enquanto João e Tiago nos acompanham.
–Está bem, eu vou! Não precisa me obrigar feito criança!– Simão se vira para mim irritado.
–Sejamos sinceros, Simão, você age feito uma completa criança às vezes.– digo cruzando os braços como se estivesse no controle.
–O que foi que disse?– Ele se aproxima irritado.
–Vai com calma, Simão.– João e Tiago se colocam entre nós dois como se fossem me proteger.
Eles ficam se encarando como três gatos ariscos prontos para brigar. Tenho que fazer alguma coisa antes que comecem a trocar socos. É incrível a rapidez que eles começam a se desentender sempre que Jesus saí de perto.
–Tá bom... já chega.– Digo separando os três.
–Simão, olha pra mim.– Seguro seu rosto com as mãos o obrigando a olhar em meus olhos.
–Jesus sabe o que faz. Quando foi que algo ruim aconteceu com Ele?– Tento convence-lo de que embarcar no barco vai ser a melhor opção.
Simão respira fundo, parece finalmente ter se acalmado.
–Ei! O barco vai sair! Vocês vem ou não?– André grita para nós.
–Estamos indo!– Simão finalmente sorri e todos corremos para embarcar.
Os três entram antes de mim e fico por último. Nunca andei de barco, estou distraída para ver como vai ser, tão distraída que acabei tropeçando na hora de entrar.
Eu teria caído de cara no chão se alguém não tivesse me segurado pela mão, me vira para ver quem é, era Natanael.
Nós não conversamos muitas vezes, ele não está sorrindo nem parece bravo, sinceramente é difícil saber o que ele pensa.
–Cuidado onde pisa.– ele diz.
–Ah, obrigada. Eu nunca entrei em um barco como este antes então estou um pouco distraída.– Tento me explicar para ver se arranco um sorriso de seu rosto.
–Ah, claro. A primeira vez tem que ser especial, você quer uma cabine com vista pra praia ou algo do tipo?– Não entendi se ele está brincando comigo. Fico confusa com seu jeito de agir.
–Engraçadinho, pode ser a minha primeira vez mas sei que não é assim que funciona.– brinco e ele finalmente deixa escapar um pequeno sorriso.
–Olha só, você tem dentes.– brinco.
Ficamos conversando por um tempo e não demorou muito para Tiago e João se juntarem a nós.
O que esses dois tem hoje? Não desgrudam de mim um segundo se quer. Conversarmos por mais um tempo até sentir pequenos pingos de água caindo do céu. A tempestade já está de aproximando penso.
–Melissa, sabemos que não está acostumada a andar de barco. Talvez você queira ir lá pra dentro onde a chuva não alcança.– João sugere.
–Está tudo bem, eu não sou feita de sal.– brinco e permaneço onde estou. Quero ter uma boa visão quando Jesus aparecer.
–Sal?– Tiago fica confuso.
–É uma maneira de brincar, porque o sal se desmancha na água.– Natanael explica.
Me assusto com um raio que cai perto do barco. Acabo soltando um grito maior do que eu esperava. ODEIO barulhos altos.
Após o raio a chuva começa a cair mais forte e mais densa.
–Está tudo bem aí?– André se aproxima preocupado.
–Está! Foi só um susto.– Explico enquanto mais cabelos ficam encharcados pela água e a chuva cai mais forte, machucando minha pele.
–Talvez seja melhor irmos lá pra dentro!– Tiago sugere. A essa altura já temos que gritar para nos comunicar.
O barco balança de um lado para o outro e as ondas são enormes, dando a impressão de que vamos virar a qualquer momento.
O vendo debate nas velas mas quase não nos leva a lugar nenhum. O convés começa a ficar inundado.
Vão todos para dentro menos a tripulação do próprio barco.
–Esperem! Ainda não!– Eles precisam ver Jesus primeiro.
–Do que está falando? Precisamos ir pra um lugar fechado se não quisermos cair no mar! As ondas estão fostes de mais!– Natanael tenta por juízo em minha cabeça.
–Cadê o Simão?– pergunto. Se ele estiver aqui fora, talvez Jesus apareça mais cedo, afinal é o Simão quem irá afundar.
–Lá dentro! Mas de quê isso importa?– Natanael fica confuso.
–Simão! Precisamos de você!!– Fico na porta e o chamo para fora.
Natanael entra para chamar Simão mas eu me recuso a ir para dentro com todos.
Posso ouvi-los dizerem que eu não quero entrar e alguém precisa me convencer, felizmente nenhum deles será capaz de fazer isso.
Continuo aguardando por Simão, me agarrando no mastro para não ser lançada ao mar pela força que o barco vira com o balançar das ondas.
–Melissa!– Simão finalmente aparece na porta.
–Por que não entra? Não é seguro aqui fora!– João vem logo atrás.
Estou prestes a responder quando uma luz imensa aparece em meio a escuridão das tempestade, em meio aos raios e as altas ondas. Lá está Ele, todo pleno e calmo no meio das chances de morte.
Fantasma!! Podemos ouvir os tripulantes gritarem Estamos mortos! Não temos para onde correr! Eles ficam desesperados.
Mas eu sei quem é e não tenho medo algum. Vou me aproximando da borda do barco para ver melhor o Filho do Homem que caminha sobre as águas, e incentivo os dois a virem comigo.
Olho para Simão na esperança de que a qualquer momento ele pule na água mas me decepciono, ele ainda está incrédulo e com medo, vou ter que dar um empurrãozinho...
–Quem és tu que se aproxima em meio a tempestade?– Pergunto a Jesus.
–Sou eu, teu Mestre.– Jesus diz todo calmo.
Agora sim. Olho para Simão... Ele ainda não vai fazer nada?!
Fico indignada, dou um tapa em sua nuca.
–Faz alguma coisa!– O incentivo.
Simão parece finalmente ter acordado em si e está pronto para tomar uma atitude.
–Se és mesmo nosso Mestre... Permita que eu ande até ti.– Simão pede com autoridade. Agora sim!
–Pode vir, Simão.– Jesus diz.
Simão, sem pensar duas vezes, pula do barco. João quase caí ao chão de espanto ao ver que seus pés se firmaram na água.
Simão sorri e até ri incrédulo, devagar começa a se apaixonar de Jesus, passo por passo.
–Isso mesmo, Simão. Olhe apenas pra mim.– Jesus diz.
Estou apaixonada por essa cena. Amei ler sobre ela e agora estou amando vê-la pessoalmente.
Pena que já sei o que vai acontecer. Simão começa o olhar para as ondas crescentes e os raios caindo a sua volta. Sim, ele parou de olhar pra Jesus, seu maior erro.
O medo tomou conta de Simão e seus pés, que antes estavam completamente firmes na água, agora começam a afundar.
Ele tenta correr até Jesus mas agora a água já está em sua cintura, se aproximando do pescoço.
–Mestre! Socorro!!– Simão grita desesperado.
Jesus se aproxima dele lentamente como se estivesse decepcionado.
–Simão, Simão, por que não olhou pra mim?– Jesus pergunta e lhe estende a mão.
Simão agarra a mão de Jesus que o puxa até nosso barco. Trazemos os dois para cima e no mesmo momento que Jesus põe os pés a bordo a tempestade se acalma e tudo volta ao normal.
É claro, estamos bem mais encharcados que antes.
–Eu mandei olhar para mim. Eu não vou estar sempre aqui para te socorrer.– Jesus repreende Simão enquanto os outros vem para fora, para ver o que está acontecendo.
–Me desculpe, Mestre, o medo tomou conta de mim.– Simão fica prostrado no chão. Ele está mesmo arrependido.
–O medo só toma lugar, quando você dá lugar a ele.– Jesus se abaixa olhando nos olhos de Simão.
–Eu prometo que só olharei para ti, Mestre.– Simão admite de todo seu coração.
–Acho bom, porque enquanto olhar para mim, o medo não poderá te distrair.– Jesus ajuda Simão a se levantar.
Simão está todo encharcado, não sabe nem o que fazer primeiro...
–Quer uma toalha, Simão?– digo enquanto rio dele.
–Engraçadinha.– Simão não achou a menor graça.
–O senso de humor é meu ponto forte.– brinco.
–Claro! E o ponto forte do Simão é pedir ajuda.– André chega ao meu lado, deixando seu irmão irritado para se divertir.
–Cale essa boca!– Simão joga seu sapato, todo molhado, em André.
–Mestre! Socorro!!– André faz uma voz fina como se estivesse imitando Simão.
–Eu não grito desse jeito.– Simão se estressa e saí para se secar enquanto rimos.
Todos estão olhando para eles... Todos confusos, não fazem a mínima ideia de como Jesus chegou alí.
Acho que muitos, nunca entenderão, mas felizes são aqueles que que viram e acreditaram e mais felizes ainda, aqueles que não viram e acreditaram.
Eu não vi e acreditei e quando vi quase não pude acreditar! Um homem andando sobre as águas? Em plena tempestade? Uma tempestade capaz de afundar um navio? Esse é o meu Jesus! JESUS DE NAZARÉ! O CRISTO! Aquele que veio para tirar o pecado do mundo.
Aquele que amo e aquele que me ama.
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