Império

By NagilaKristina

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Para provar que sua classe social não conta o que o futuro lhe reserva. Em um século XX onde o mundo é divid... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Para meus leitores fixos
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
7 dias para o casamento real.
7Days e fim
6 Dias para o casamento real
5 dias para o casamento real.
4 Dias para o casamento real
3 Dias para o casamento real
2 Dias para o casamento real.
The End
Agradecimentos finais.
Ascensão
Capítulo 1
Oi

Capítulos 7

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By NagilaKristina

-Cale a boca! Você não pode escolher um momento certo! -Ouvi os gritos baixos de minha mãe, mesmo com a voz alterada.

-E você? Pensa que podemos adiar? E até quando? Você realmente acredita que eles esperariam mais para ter o que é deles por direito? -Meu pai respondeu parecendo perder a paciência.
Eu não entendi, era sete da manhã de sábado, meus pais nunca brigavam, até hoje não, eu me perdi ali. Se existe algo que os tire do sério é o fato de alguém ouvir conversas atrás de portas ou de onde quer que seja. Não tive escolha, não podia perguntar. Voltei para o quarto e peguei a bolsa de couro na escrivaninha, tudo que iria precisar durante o dia.

Sábado é o melhor dia da semana, um dia onde posso ser "EU", onde sou feliz. Meus pais sabem o que faço aos fins das semanas. Papai não se importa, já minha mãe, não gosta nem um pouco. Esse é meu único segredo.

-Mãe? Pai? Estou saindo! -Tenho uma meia certeza que eles ouviram. Peguei a chave da lata e sai. Botei o fone de ouvido no volume máximo e pisei no acelerador. Música Red.

Fiquei desde 8h da manhã às 19h25 da noite no segredo, voltei molhada e suja, um pouco cansada, porém feliz.

Depois de ter banhado joguei-me na cama. E como era bom estar deitada ali. Meu quarto sempre foi meu refúgio, um mundo à parte, é típico... Típico de uma garota de gosto bipolar. Paredes rústicas; o que dar um ar de brutalidade, o piano ao canto e livros que se dividem em duas pilhas.

Sempre economizei nos sapatos e em outros luxos para gastar em livros. Tenho apenas dois pares de sapatos, mas uma mente que precisa ser alimentada.

Duas camas no quarto, embora nunca tenha levado amigo algum para dormir aqui e a tv que é tão fina que quase não daria para notar se não fosse grande. Não uso muito.

Não sou metida, o que não me agrada é a curtição, faminha e como as demais jovens da província são feitas disso. Tenho mais um instrumento; um violão! Ganhei de presente dos meus pais, mesmo sendo assim, o piano é meu preferido, também ganhei de presente, encontrei em uma caixa na porta de minha casa com meu nome e um símbolo que desconheço.

Dormi sem jantar, acordei no horário habitual do meio de semana.

Minha vida é comum e gradativa, não tenho com quem conversar horas, antes ia com mais frequência até o Gramal, era como conversar com meus pensamentos. Será se com a morte do pai, Arthur ia até lá com a mesma intenção que eu?

Apesar de ter sido educado, o príncipe me passou alguma tristeza, não tinha como esconder, novamente lembrei-me da frase... E se ele não estava bem, fingiu bastante. Cortei a enxurrada de pensamentos, levantei da cama, vesti um vestidinho e fui até a cozinha jantar. Meus pais estavam mais calados que o normal.

-Como foi a tarde?

-Muito boa! -Sorri para meu pai e botei uma garfada de comida na boca.

-Não deram falta de você? Foram semanas sem ir até lá.

-Não! Não precisaram de mim.

-Você precisa ser mais discreta. Se algo der errada e você for acusada de apoiar e esconder algo aqui dentro do continente, eu nem sei o que farão com você.

-Pena de morte não é o meio mais usado aqui. -Dei de ombros e sorri. Eu não ligava nem um pouco para riscos. Se algo der errado algum dia... Deu.

-Não brinque, Aliça! -Minha mãe reclamou.

-Mãe? Não brincar com o que? Que se ferrem os protocolos e essa regra de corte horrível. Eles não estão nem ai para vidas individuais! Alguém aqui tem que fazer o trabalho sujo. -A encarei. Ela comia sem me olhar. Era apalpável o medo de minha mãe.

-Silêncio! -Meu pai berrou. -Percebi que ele prestava atenção no que passava na tv, ela estava na primeira sala.

- VÁRIAS PESSOAS ESTÃO SE REUNINDO NAS RUAS PARA PEDIR UMA EXPLICAÇÃO AOS BOATOS DE QUE AMÉRICA DO NORTE E PANTAG SERÃO UM SÓ POVO. -A repórter falava. -Depois de não ter negado nem prestado esclarecimento aos cidadãos norte americanos, Arthur Scaëfer provocou manifestações em todo o continente.

-Senhor? -Ela chamou o homem de cabelos grisalhos que passava. -A que se deve toda essa bagunça?

-Queremos respostas!-Ele grunhiu. -Não é justo que por falta de sabedoria e experiência, a metade do mundo venha pagar. Arthur Scaëfer não pode fazer isso com a memória do pai, com a América do Norte e com nosso futuro. -Ela afirmou com a cabeça e o senhor se juntou novamente aos manifestantes. -Voltamos dentro de alguns instantes com mais notícias.

-Vários alunos voltaram para seus países por conta disso. -Contei. -Alunos como Fred e Maenne Black.

-Você sabe como são essas pessoas da elite mundial. Sempre exagerando.

-O que vamos fazer? Caso isso realmente aconteça. -Minha mãe esperava respostas de meu pai.

-Assim que sair uma nota oficial, tomarei uma decisão.

-Como assim, pai? Se acontecer o pior, ninguém poderá fazer nada. Não é sempre assim? Seguimos a vida que essas quatro crianças birrentas escolhem para nós?

-Você não pode entender, Aliça!

-Eu posso! -Arfei. -Não temos nem dez por cento da grana dos alunos da UW, não podemos ficar mudando de país, é nossa vida, pai. -Ele não prestava mais atenção em mim, novamente o jornal roubava a cena.

-Depois de pressão do conselho, Scaëfer marca um discurso público. O discurso acontecerá nesse domingo às 19h. Segundo a nota oficial do palácio de Wordsands, o evento será dentro da própria província estado. -A jornalista terminou de falar e o comercial entrou.

-Todos nós estaremos lá! -Meu pai não era o tipo de pai que obriga e impõe regras, mas senti a veracidade do que ele avisava.

-Meu Deus! -Gritei! -Por que tudo isso agora?

-Porque é o que estou mandando! -Joguei o lenço sobre a mesa e sai. Eu sentia uma raiva enorme. Não queria mudanças. Independente do que esteja prestes a acontecer, eu sei que não é preciso mudar de continente. Afundei-me na cama e botei um lado do fone de ouvido.

Quando acordei de manhã, a música ainda tocava, eu estava com a mesma roupa. A única coisa que tinha mudado era meu estado de espirito. Não sentia tanta raiva.

-Ainda preciso ir? -Perguntei enquanto sentava à mesa do café da manhã. -Bom dia!

-Sim! -Meu pai respondeu.

-Tudo bem! -Me entreguei.

-São só algumas horas, filha! Você só precisa ser mais compreensiva.

-Eu sei mãe. Mas vocês precisam entender que é difícil mudar de vida de uma hora para outra. Eu vou com vocês e espero não escutar o que todos acham que iremos. -Falei enquanto eles ainda calados comiam e tomavam café.

Tentei relaxar o máximo possível durante o dia, não gostava de ser plateia para essas palhordas de política. E ainda havia o fato de que ver Arthur agora não seria mais tão comum como antes. Eu não queria estar ali, estar de frente para o futuro rei.

Quando a hora se aproximava, tomei um banho e fiz um coque frouxo, o tempo ainda estava quente e ameno, vesti uma calça e uma blusa de meia cinza, botei um cachecol da mesma cor da blusa e sai do quarto.

-Podemos ir? -Minha mãe perguntou enquanto fechava a porta da cozinha.

-Sim! Onde está meu pai?

-Já no carro.

-Nossa! Só eu que não estou nada animada?

-Vamos! -Ela passou o braço por meus ombros e sorriu. Passamos e fechamos a porta da frente, ela abriu a porta do carro e sentou no banco carona. Sem opção, sentei atrás e botei os fones de ouvido. Eu iria ficar com ele o discurso inteiro. Quando chegamos à praça do centro, estacionamos em uma das poucas vagas, que por sinal ainda era longe, descemos e meu pai bateu a porta. O barulho da lata fez quem estava perto olhar. Meu pai saldou o cara que olhava como se ele o conhecesse. Fiz o mesmo. O palco era enorme e com algumas poucas cadeiras. Alguns homens estavam sentados e a única cadeira no meio estava vazia.

Ficamos em pé. Atrás de muita gente. Esperava que trinta metros para trás pudesse me salvar do olhar de Arthur. Como já estava escuro, não seria problema.

-Boa noite! -O homem magro e de terno disse ao microfone. Todos responderam e ele passou meia hora falando, eu não ouvia. Botei as músicas no automático e guardei o celular. Não conhecia a música. O nome era Shadow. Um tanto romântica. Olhei na projeção do aparelho para aumentar o som. Assim que levantei os olhos, Scaëfer olhou automaticamente. Não havia escutado a voz dele ainda, a música era alta o bastante. A música romântica, aquele olhar, o tempo parando. Aquilo não devia ser assim. Tirei o olhar e tentei disfarçar olhando para os lados, eu não podia ouvir nada do que ele falava, mas podia sentir o impulso que ele estava causando sobre mim. Em cima de seu terno claro, havia algumas mini medalhas e uma faixa azul. As meninas gritavam e aplaudiam.

No meu celular era 22h quando meu pai me cutucou.

-Você não queria vir e agora não quer mais voltar?

-An? -Tirei um dos fones. Arthur ainda me olhava do palco, as pessoas saiam e os outros homens ao redor dele o cumprimentavam. Minha mãe puxou em meu braço, olhei mais uma vez para constar que ele não estava olhando. Inacreditavelmente ele sorriu e afirmou com a cabeça. Eu não retribui, apenas dei as costas e acompanhei meus pais.

Eu não queria ter ido, nada daquilo era culpa minha, sem falar que não sabia o que ele tinha falado. Meu mundo estava tão desfocado que nada mais importava. Eu queria dormir.

-Vocês podem jantar. Estou exausta! -Eles se olharam e deram de ombro. Fui até meu banheiro e tomei um banho rápido. Vesti o que achei de mais leve e desliguei as luzes. Joguei o celular no criado mudo e a música voltou a tocar sozinha. O que? Essa música só podia ter vida própria. Desliguei o mais rápido que pude. Não queria lembrar nada que acontecera.

Acordei sem saber se tudo tinha sido um sonho ou se era uma mera realidade. Banhei e fui para cozinha. Por que eu estava tão triste e lenta? Apaga esse sentimento, Deus!

-Bom dia, Aliça!

-Bom dia, pai!

-Você pode ficar na loja agora? Preciso pagar algumas contas e boletos.

-Claro!

-Obrigado, meu amor. Você vai ser útil, as chaves estão sobre a geladeira, cuide de tudo e divirta-se.

-Só preciso vestir outra roupa.

-Como quiser! -Ele disse. Vi minha mãe no fundo do quintal, mas não chamei. Vesti uma blusa cinza e um casaco preto que deixara meus olhos e cabelos ainda mais evidentes, perfume, uma calça jeans e estava tudo certo.

-Precisa de algo mais? Já estou indo. -Falei enquanto amarrava o cadarço.

-Pensei em deixar o carro com você, mas vou precisar. Algum problema se eu deixar você?

-Claro que não, pai. Podemos ir?

-Não vai tomar café?

-Compro algo na lanchonete.

-Essas porcarias que se encontra na rua, não são nada saldáveis.

-A ideia é essa! -Sorri. -Se matar aos poucos. -Pisquei e ele veio me abraçar. Peguei a chave da porta sobre a mesa e fomos juntos até o carro.

Chegamos depois de vinte minutos, abri as portas e sentei-me na cadeira da mesa caixa. Atendi todos que chegaram depois disso, com mais educação do que o necessário, sempre soube como lidar com pessoas, ao menos as consumistas. Ri sozinha.

Quando o relógio marcava 18h eu já estava sendo dominada pelo sono, encarei o copo com água sobre a mesa e foi isso a última coisa que vi.

Saí da loja. Era estranho. Não havia ninguém nas ruas, uma neblina ia se formando do nada.

-Agora você pode escolher! Faça o que é certo. -Olhei para trás para procurar quem tinha falado, não havia ninguém.

-Quem é? -Perguntei olhando para os lados.

-Sou eu! -Alguém sorriu. -Filha?

-Mãe?

-Aqui amor! -Ela acenou no meio da neblina.

-O que houve?

-Faça o que deve ser feito. -Ela disse e sumiu na rua asfaltada. Minhas roupas eram pretas e eu estava com muitos papeis em mãos.

-Moça? -Alguém berrou.

O homem que havia me acordado estava de costas, olhando algumas casinhas de madeira para bonecas. Levantei da mesa um pouco constrangida e fui até ele. Um sonho? E aquela não era minha mãe. Olhei para minha roupa, queria ter certeza que havia acordado.

-Perdoe-me senhor! O que você procura? -Disse pondo a mão no ombro dele.

-Você não se sente constrangida sendo pega dormindo em seu local de trabalho, senhorita?

-Ahh... Não, quer dizer... -Falei sem saber ao certo o que falar, o constrangimento virou raiva por todo meu rosto, mas a voz... Com toda a roupa de frio não conseguia reconhecer as costas.

-Você? -As letras saíram tão rápido que nem consegui esconder o espanto. -Como você achou? -Disse entre gaguejos ao príncipe. Ele fingiu pensar e depois atirou o chaveiro de madeira com o nome da loja e as chaves de minha casa.

-Você deveria prestar mais atenção e não sair esquecendo seus restos mortais em todo lugar.

-O que você veio fazer? -Falei confusa.

-Não seja iludida. -Sorriu. -Não vim lhe pedir em casamento. Preciso de um presente para minha irmã, você vai me vender ou preciso falar com seu chefe? -Ele perguntou erguendo uma sobrancelha, querendo irritar.

Ajudei com a escolha da casa, ele não tinha jeito, mas conhecia bem o gosto da irmã.

-Desculpe-me a evasiva! -Disse o preparando para minha próxima pergunta. - Como ela está? Sandy.

-Bem! -Disse ele. -Na verdade fomos acostumados desde bem cedo com tragédias. Um dia isso teria que acontecer, ela sabe disso.

-Ela deve lhe amar muito.

-Eu sei! Sei que sou um porto para San e não vou abandoná-la.

-Isso é bom.

-Sim! Tenho tentado me dedicar mais a ela do que as tarefas reais e isso é quase impossível. Tem conversado mais com os empregados, e vejo que precisa mais de mim. A questão é que não me resta tempo, não o que ela merece.

-Eu entendo. Sinto a mesma coisa.

-Como? -Ele perguntou sem entender.

-Sou filha única, não tenho muitos... Quer dizer, se lhe convém a verdade; nenhum amigo para falar por horas. Apesar disso sou feliz. Na maioria dos dias me sinto só, procurei outros meios de tornar a felicidade possível. A solidão nunca foi problema para alguém forte.

-Será? -Ele perguntou e fechamos o assunto.

Arthur ajudou a fechar as portas da loja. O presente estava lindo, envolto de papel rosa com laços em fita de cetim.

-Acho que agora devo ir. Obrigada e volte sempre! -Eu disse rindo e olhei para baixo quando percebi que ele recebeu as palavras como flerte.

-Se não houver problemas, a levo até sua casa. -Eu ri com o pedido e ele continuou. -Seu pai costuma usar a madeira para fabricar algo mais que brinquedos inofensivos?

-Talvez! -Eu disse o desafiando.

-Então terei que descobrir. -Ele riu.

-Você fica na loja todo o dia? -Perguntou ele quando entrei no carro.

-Não! Faço medicina.

-Universidade de medicina? -Ele balançou a cabeça em sinal de admiração e tirou o casaco pesado. -Na UW?

-Sim!

-Afinal é a única aqui, não é? -Ele disse o óbvio e eu sorri.

-Pare Arthur! Pare agora!

-Por que? -Ele perguntou assustado com meus gritos.

-Para o carro! -Ele freou o carro que chegou a derrapar, o garoto do dia anterior estava pegando lixo novamente, mas dessa vez no centro da província, dois quarteirões depois da loja.

-Ei loirinho? -Gritei ainda de longe. Ele olhou e eu corri.

-Por que você foi embora? Esperei você até anoitecer, garoto!

-Desculpe-me! -Disse ele. -Fiquei com medo de que Norbeth me pegasse falando com você.

-O que está acontecendo? -Questionou Arthur atrás de mim. A blusa branca formal do príncipe em contraste com a cor do garotinho. O rosto era de preocupação.

-É uma longa história. -Eu disse. -Você pode vir comigo? -Perguntei ao garoto. -Posso levar você para comer algo e o trago de volta.

-Não é uma boa ideia moça. Se...

-Não precisa ter medo. Venha! -Peguei em sua mão e o puxei. -Arthur? Vou com ele.

-Vocês irão aonde? E quem é ele?

-Vou procurar um lugar onde possamos conversar e dar algo para ele comer.

-Eu posso levar vocês. E além do mais, preciso saber o que está acontecendo.

-Tá brincando? Você é o príncipe... Arthur? -O garoto perguntou feliz.

-Sim. -Arthur disse um tanto preocupado.

-E eu vou naquele carrão? -Perguntou o garoto de novo. Ambos olharam para o carro preto.

-Sim! -Arthur disse.

-Então... Vamos agora mesmo. -Ele disse

Atravessamos o canteiro e chegamos ao carro que estava no outro lado da rua.

-Ponha o sinto! Qual seu nome mesmo?

-Johan!

-Ponha o sinto, Johan! -Arthur continuou. -E você Hamkins? Aonde quer ir?

-Podemos ir a qualquer lugar que tenha comida

- Você quer tomar um banho, Johan? -Arthur olhou para o banco de trás.

-Não banho já fazem semanas.

-Podemos ir para o Palace, Hamkins. Subimos, ele banha em um quarto e quando descermos, jantamos no restaurante do hotel.

-Está ótimo.

Paramos no estacionamento do Palace, depois de um dos funcionários pegar a chave do carro para guardar no estacionamento interno, entramos.

-Majestade! -A recepcionista fez reverência.

-Quero um de seus quartos por uma noite.

-Vamos disponibilizar o melhor, príncipe. -A garota checou algo no computador e nos olhou. - Suíte master! Décimo andar. Tenham todos, uma boa noite. -Ela disse sorrindo e entregando uma chave.

-Boa noite! -Respondeu Arthur. Subimos as escadas e entramos no quarto indicado.

-Venha Johan! -Eu o chamei enquanto andava em direção ao banheiro. Arthur encostou-se na porta enquanto cruzava os braços. Como era sex! Sorri da minha própria idiotice ao pensar assim.

-Tire a roupa! -Eu disse.

-Tudo bem. -Disse Johan tirando a calça. Para uma criança de cinco anos ele era bem inteligente e já falava bem. Dei o sabonete líquido na mão dele e depois passei shampoo em seu cabelo lisinho. Quando ele estava bem limpo, Arthur trouxe a toalha que era ainda mais branca e macia que a sua blusa. Ao menos branca. Sorri sozinha novamente.

-Johan? Vou pedir roupas limpas para uma camareira. Espere só um minuto com a toalha. Você está mais molhada que a criança, Hamkins! -Ele riu me olhando. Jogou a chave do carro na cama e saiu.

-O que vou dizer à Norberth, senhorita Aliça?

-Você não vai dizer! E você não vai voltar.

-An? -Ele perguntou.

-Vou atrás de sua família.

-E se não encontrarmos? -Perguntou ele novamente.

-Daremos outro jeito. Você não vai voltar para as ruas. -Eu disse penteando seu cabelo. Continuamos sentados na cama até que Arthur entrou.

-Vista isso Johan. -O garoto pegou as roupas e tratou logo de vestir. -E você terá que passar vergonha com a calça molhada. -Disse ele rindo do meu jeans.

-Pronto? -Perguntei.

-Pronto. -Disse Johan.

-Então podemos jantar. -Disse Arthur. Descemos e fomos para o restaurante onde havia fotógrafos e ao que me pareceu, uma festa. Várias pessoas entravam pela porta principal do hotel e iam em direção ao salão de festas que ficava a esquerda de onde estávamos

-Eu não vou, Arthur!

-Também acho que não é apropriado. Não assim. -Ele olhou para minha roupa.

-Vocês dois podem ir! -Eu disse.

Arthur estava elegante só com a blusa discreta e Johan nunca pareceu vir das ruas.

-Senhorita? -Arthur chamou a camareira que passava por nós. Ele foi até ela e os dois voltaram.

-Acompanhe-me! -Ela olhava para mim agora.

-Mas o...

-Vamos esperar você aqui. -Arthur disse e eu a acompanhei. Subimos as escadas novamente e entramos em uma sala onde estavam roupas, sapatos e toalhas brancas.

-Você pode vestir o que quiser senhorita. Espere aqui! -Ela disse e saiu.

-Uau! -Eu disse em voz alta.

Os vestidos eram de uma delicadeza incrível. Peguei o segundo na arara. Era cor de pele e do mesmo estilo princesa da debutante. A saia tinha detalhes com pedras e a alça era linda. Apesar de a costa ser nua, não me importei muito. Vesti enquanto pegava um scarpin de mesmo tom, alguém bateu na porta.

-Posso entrar? -Uma garota com um vestido simples e preto disse.

-Claro!

-Sou a maquiadora da Bianca, debutante. A camareira pediu para que eu lhe ajudasse.

-Não precisa! -Eu ri.

-Claro que precisa! -Ela disse abrindo uma gaveta cheia de maquiagens e produtos de cabelos.

-Sente-se aqui. -Ela puxou a cadeira e eu sentei de frente para o espelho.

-Posso ligar o som? Sempre ajuda. -Ela disse rindo.

Ligou o som e jogou a música do celular. Uma música agitada começou e ela soltou meu coque.

-Há quanto tempo você não solta esse cabelo?

-Sempre solto, até secar e então amarro.

-Seu cabelo é incrível! Você pode usar como quiser.

-Obrigada! - Ela virou a cadeira e começou a passar todas aquelas trincheiras em meu rosto. Depois amarrou meu cabelo de lado fazendo ondas nas pontas.

Apesar das ondas meu cabelo ainda passava dos seios. Ela virou a cadeira e eu olhei no espelho. Seja lá o que ela tenha passado em meu rosto, funcionou. Eu não me reconhecia. O vestido, o cabelo e a maquiagem. Tudo em uma sincronia que até realçou meus olhos. Era tudo novo.

-Nossa! Fizemos uma transição. -Ela disse surpresa e depois sorriu. -Falta o batom.

-Não exagere! -Disse a ela que logo pegou um batom no mesmo tom de minha boca.

-Obrigada! Você realmente ajudou muito. Qual seu nome?

-Branca!

-Obrigada Branca! -Peguei em suas mãos e saí.

Quando cheguei à beira do degrau da escada, senti que não devia estar ali, lembrei que meus pais iriam me matar por ter sumido novamente e que não conhecia ninguém nesse baile de debutantes.

As poucas pessoas que estavam do lado de fora do salão de festas, olharam para escada.

-Você quer ajuda? -Um jovem de aparentemente minha mesma idade perguntou. O vestido cheio e o sapato me forçaram a aceitar.

-Obrigada. -Aceitei apoiando-me em seu braço.

-Sou Alex! Irmão da aniversariante.

-Prazer! Aliça Hamkins.

-Você está com quem? -Antes que eu respondesse chegamos ao fim da escada e eu soltei de seu braço.

-Preciso ir. - Ele veio atrás de mim e perguntou onde poderia me encontrar novamente. -O que você quer, afinal? -Perguntei confusa.

-Ela já deve está voltando. -Arthur falava para Johan, atrás de mim.

-Meninos? -Perguntei virando. Alex também virou.

-Hamkins?

-O que houve? -Perguntei ao perceber o espanto na voz de Arthur.

-Aliça! Você está bem mais linda que a debutante!-Disse Johan.

-Mesmo sendo irmão de Bianca devo concordar com o garoto. -Alex me olhava.

-Quem é ele?

-O conheci agora. -Respondi para Arthur enquanto olhava para Alex.

-Desculpe-me, majestade! Não sabia que Aliça é a sua acompanhante.

-Eu não sou acompanhante de... -Johan e Arthur me olharam sérios e terminei a frase.

-Sou acompanhante do príncipe, Alex. Mas não estou dentro de um cubo mágico. Obrigada por ser gentil e ter me ajudado.

-Ajudaria novamente. -Ele disse flertando com os olhos. Pegou em minha mão e saiu.

-O acompanhe, se quiser. -Disse o príncipe.

-Vamos! -Arthur pegou em meu braço e andamos até a porta principal do salão. Todos olharam, e eu me senti pintada de vermelho neon.

-Arthur?

-Calma jovem. -Ele disse batendo com a outra mãe em me braço.

-Majestade! -O fotógrafo fez reverência. -Permita-me uma foto?

Arthur pensou por dois minutos e consentiu. O príncipe me puxou por trás para mais perto. Senti uma sensação boa quando a mãe dele tocou na parte nua em minha costa. Se eu posso comparar é ainda melhor que as de meu dentista.

-Obrigado príncipe! E se me permite fazer um elogio; a senhorita é a mais linda da noite.

-Arthur! -Exclamou o dono do Palace, saudoso e alegre em ver Arthur. -Não sabe como fico feliz em ter sua presença no baile de minha filha. Ela vai achar tão bom quanto eu. Não mandei o convite em respeito aos últimos fatos.

-Já estamos se recuperando da perda, meu amigo. -Disse Arthur o abraçando.

-E essa bela jovem? Em toda a província ainda não vi alguém que possa ser tão linda como.

-Obrigada, senhor! -sorri.

-Aliça Hamkins. -Arthur respondeu a pergunta.

-Prazer Aliça! Posso chamá-la assim?

-Claro! -Eu disse e entramos. Sentamos à mesa e Arthur foi falar com uma família na mesa próxima ao palco.

-Você não vai acreditar! Vou tirar uma foto agora mesmo com ele e tenho certeza de que vamos aparecer no jornal amanhã bem cedo. -Disse a debutante à outra garota ao seu lado passando por nós. Ela não deve ter nos visto, já que a celebridade não estava na mesa. O que eu estava fazendo ali? A vontade de ir para casa era enorme.

-Você está gostando? -Perguntei para Johan. Ele olhou em volta e depois para mim.

-É claro! Nunca vesti roupas tão limpas e nem sonhava em entrar aqui no Palace. -Ele disse pegando em sua blusa.

-Então, está tudo bem. -Sorri para ele. Afinal alguém ali tinha que está à vontade.

Vi Arthur tirar uma foto com a aniversariante. Ela se inclinou tanto que quase caiu em cima dele. Depois de um beijo no rosto e um abraço apertado o nosso amigo voltou para mesa.

-Perdão! -Disse o príncipe sentando na cadeira à minha frente.

-É sempre assim?

-Assim divertido? -Ele brincou sendo irônico.

-Não! Assim corrido. Fotos, conversas e pessoas. Você não cansa? -Perguntei séria.

-Na verdade sim. Às vezes não, porque já é de praxe.

-Bem... Acho isso tudo muito chato, que bom que hoje mesmo estarei de volta à minha casa. -Eu disse rindo. Não sou o tipo de pessoa ingrata, que quer sempre mais e mais. Também não sou o tipo de garota que sonha com um príncipe perfeito, que ponha um sapato de cristal em meu pé. Eu amo minha vida, exatamente do jeito que está.
Mesmo que tenha que lavar louça e limpar a casa.

-Agora me conte tudo o que aconteceu, Johan. -Ordenou Scaëfer.

-O loirinho contou tudo. Enquanto ele contava eu olhava para as reações da debutante no palco e Arthur me olhava. A garota pulava de um lado para o outro como se tivesse um escorpião no sapato. Quando eu era adolescente não era espalhafatosa, também não gostava de chamar atenção. Eu levava a vida naturalmente, porque viver algo que não é real ou verdadeiro, não passa de encenar.

-Arthur? Você está ouvindo? -Johan perguntou parecendo perder a paciência. Olhei para Arthur que ainda me olhava.

-Ah sim! Claro que estou! Amanhã iremos procurar seus pais. Ao que me parece eles estão vivos.

-Não sei. Mas se você diz... Confio em vocês dois. -Ele disse encostando a cabeça em meu ombro.

-E então, a pista de dança está liberada, senhores! -Gritou o pai de Bianca no microfone.

Muitas pessoas, entre os convidados levantaram e foram até a pista com seus respectivos pares. As luzes no chão não eram tão coloridas e agitadas como o habitual. Na última festa da UW as luzes eram tão fortes e os globos giravam tanto, a fumaça com cheiro de chiclete me tirava de foco. Lembro-me que esbarrei em garrafas de vidro que quicaram em todo o salão. Como resultado, tivemos cerca de quinhentas pessoas me encarando.

-Você aceita dançar comigo? -Perguntou Alex chegando em nossa mesa. Ele estendeu a mão e Johan o fuzilou com os olhos. Seja lá qual fosse o motivo, os meus amigos pareciam não gostar do garoto.

-Sim! -Respondi sorrindo. -Johan logo foi comer doce onde estavam servindo guloseimas para as crianças. Vi Arthur levantar da mesa e vir para a pista de dança com Bianca.

-Você mora na província, Aliça? Ainda não esbarrei com você em nenhum lugar.

-Sim. -Eu disse tentando ver Bianca e o príncipe entre as pessoas. -Garanto que isso se deve ao fato de não frequentarmos os mesmos lugares.

Eles estavam próximos e o rosto da menina estava tombado sobre o pescoço dele. Arthur pôs a mão nas costas dela, o que me fez sentir uma pontinha de raiva. Afinal ele era o meu amigo. Não costumo deixar ser incomodada, mas quem ali não percebia o assanhamento da menina?

-Você quer tomar algo? -Alex perguntou percebendo que eu não estava à vontade na pista.

-Pode ser. -Respondi. Em cinco minutos o rapaz estava com duas taças em mãos.

-Podemos sentar novamente, se você preferir.

-Sim. Estou exausta! -Ele sorriu e saímos da pista. A bebida era um pouco forte, mas se todos estavam bebendo, por que eu não aguentaria?

Minha vista começou a rodar cinco minutos depois de tomar quase todo o líquido.

-Por que está dando isso a ela? -Perguntou Arthur alarmado quando chegou à mesa com Bianca. Tomou o copo de minhas mãos e levou a boca. Eu não entendi!

-Isso não é o que está sendo servido. -Reclamou.

-E por que deve me importar? Você é o dono do seu palácio. Mas nessa festa, pouco me importa sua opinião. -Disse Alex ficando de pé. Se fosse um dos meninos da faculdade em que eu estudo, com certeza teríamos um barraco.

-Johan? -Arthur chamou o loirinho, que passava correndo entre a nossa mesa e a do lado. Percebi que a festa havia acabado. Eu era grata porque a falta que sentia de um silêncio e uma cama era terrível. Saímos em direção à porta. Bianca ainda deu uns quatro passos atrás de nós.

-Você já vai, mesmo?

-Sim Bia. Boa festa e aproveite a noite! Diga a seu pai que iremos dormir aqui mesmo por hoje.

-Está bem. -Disse ela com cara de decepcionada. Saímos do barulho do salão e voltamos em direção ao quarto. Johan correu na frente e subiu as escadas. Arthur veio calado ao meu lado.

-São duas da manhã. Se você não se importar, podemos dormir aqui.

-Não tem problemas. É o certo. De qualquer forma é até perigoso. -Eu disse já mandando um torpedo sms para minha mão, explicando tudo. Era bem provável que ela não visse, mas se eu não avisasse, pela manhã estaria encrencada.

-Nossa! Escove os dentes, porque o cheiro de álcool é de sentir daqui. -Ele parecia irritado e eu não possuia a mínima ideia de o porquê.

Quando entrei no quarto, Johan já estava deitado na cama. Fui até a sacada e soltei o cabelo, que logo foi levado pelo vento.

-Aliça? -Arthur chamou.

-Sim?

-Nada! -Ele balançou a cabeça deixando para lá e começou tirar os sapatos do loirinho.

-Como vou me livrar desse vestido? -Perguntei. O quarto era confortável e a cama daria nós três, mas o vestido, era volumoso de mais para dormir.

-Olhe dentro do closet! Talvez tenha algo que você possa usar.

Quando vou dormir, tiro tudo que dá para tirar de meu corpo. Sinto-me sufocada com roupas pesadas, maquiagens, pulseiras.

Olhei tudo que tinha e encontrei uma camisola. Não estava disposta a vestir aquilo, já que iriamos ficar no mesmo quarto. Vi um robe de ceda branca, e então peguei os dois. O vestido era horrível. O zíper fino de mais para abrir. Tentei de tudo, mas era justo de mais.

-Arthur?

-Precisa de algo?

-Eu sei que é meio estranho, mas você pode abrir aqui? -Perguntei virando de costas. Pedir aquilo era totalmente insano, já que estávamos a sós.

-Não é estranho! -ele exclamou sorrindo. - Os de San entalam sempre. Se bem que há bastante diferença. Ele abriu e saiu fechando a porta.

Vesti a camisola e botei o robe em cima. Apesar de o robe tapar boa parte da camisola, a renda na borda era transparente, o que não era tão adequado. Mas que se ferrem os protocolos para moças. O sono que eu sentia era bem maior que as regras básicas de conduta.

Quando saí, Arthur e Johan já estavam dormindo jogados na cama. Senti uma coisa boa, uma espécie de alivio de vê-los em paz e fora de todo o barulho da festa. Se eu não fosse julgar pela aparência, diria que pareciam pai e filho. Sacodi a cabeça tentando esquecer essa coisa paternal.

Ainda bem que assim como o quarto, a cama era enorme. Fechei a janela da sacada e tirei os sapatos de Arthur. Desliguei as luzes e me certifiquei se a porta estava trancada. Assim que deitei o sono voltou. Estava tão cansada que acordaria dois dias depois se ninguém me chamasse.

∞∞∞∞∞∞

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