Estilhaços De Mentiras (Lésbi...

By DayseRuas

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A vida de Sarah Mitchell se torna uma bagunça quando precisa substituir o seu pai na empresa da família após... More

PRÓLOGO
Halloween (Parte 1)
Halloween (Parte 2)
Fraqueza
Amizade
Controle
Atração
Confissões
Ciúme?
Autodomínio
Paixão e Preconceito
Permita-se
Metamorfose
Coincidências
Dependência
Relacionamentos
Mentiras
Pressentimento
Queda
Dúvidas
Decisões
Teorias
A Razão
Vício (Parte 1)
Vício (Parte 2)
Amor
Nós
Epílogo
Agradecimentos

Respostas

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By DayseRuas


SARAH

Eu ouvi atenta a última resposta de John Myers para Luke:

— Kendall!

— John, você tem certeza de que esse é o nome que Nikki disse?

— Absoluta!

Nos últimos minutos da "visita", nós conseguimos descobrir a peça que faltava para completar todo o quebra cabeça: John contou que tinha ouvido uma conversa por celular, na Ayers, entre Nikki e a sua irmã, uma mulher chamada Katrina Kendall. Assim que ouviu o nome, Luke, espantado, sussurrou para mim:

— Ela está sendo procurada pelo FBI!

Não foi difícil chegarmos à conclusão de que "April Wiley" era o nome de outra pessoa que Kendall estava usando. Nikki foi assassinada pelo o meu pai e a sua irmã queria vingar-se de mim, e ao que parecia, para ela, a melhor forma seria ferindo Alexandra.

Provavelmente ela sabia sobre o caso entre Nikki e Lexa! Por isso ela queria que eu a matasse. — Concluí.

Enquanto o meu mundo desabava, eu não tive tempo para continuar chorando depois que eu entendi a história.

— Lexa, eu não vou perdê-la. — Afirmei a mim mesma e acelerei ainda mais o carro.

Luke conseguiu me alcançar depois que saí da penitenciária e me seguia dando sinais repetitivos para eu estacionar. No fundo, ele sabia que eu não iria parar e eu sabia que ele não iria me deixar sozinha, transtornada e armada, afinal, essa não era uma boa combinação.

Eu parei e deixei o carro alguns metros fora do meu jardim, mal estacionado e com a porta aberta. Com cautela, andei rapidamente em direção à entrada da casa com a magnum na mão. Da janela, consegui ver o que estava acontecendo e o meu coração acelerou. Percebi que Lexa me viu e enquanto ela tentava manter a atenção de Kendall sobre ela, engatilhei a arma, abri a porta vagarosamente e mirei. Eu a mataria sem pestanejar, mas, me surpreendendo, Luke abaixou a minha mão bruscamente e atirou, acertando a cabeça de Kendall e colocando um fim em sua vida. Eu estava tão concentrada que não vi quando ele se aproximou de mim.

— Sarah! Você está louca? — Ele arrancou a magnum da minha mão. — Isso vai ficar comigo a partir de agora! — Disse baixo de forma ríspida.

Olhei confusa para ele, mas resolveria aquilo depois. Atravessei a sala, desesperada, em direção a Lexa. Eu precisava tocá-la para ter certeza de que ela estava bem. Com exceção de alguns ferimentos no rosto e no lábio inferior, o corpo estava intacto, mas ela estava diferente. Alexandra não me olhava e não reagia.

— Luke, ajude-me a soltá-la. — Pedi ansiosa.

Ela estava presa com cordas a uma cadeira e assim que ele viu as algemas, apanhou uma pequena chave prateada e a libertou em seguida. A face e os punhos sangravam e eu imaginei o quanto ela tentou libertar-se. Também agradeci mentalmente por não ter conseguido, pois do contrário, ela teria mais uma morte em sua conta.

— Lexa? — Eu a chamei, ajoelhada em sua frente, porém, ela não disse nenhuma palavra. Os olhos verdes estavam perdidos em algum lugar distante.

— Acho que ela está em choque! — Luke comentou. Eu considerei que poderia ser verdade.

Ela ergueu e eu prendi o seu rosto de entre as minhas mãos, procurando por seu olhar que continuava vago. Eu nunca a tinha visto daquela forma e temi pelo o que poderia estar acontecendo. Agora que, provavelmente, ela sabia a verdade sobre quem era o meu pai, ela ainda iria querer manter o nosso relacionamento? Enquanto eu tentava algum contato com Lexa, a minha casa transformou-se em um filme ruim de ação. Luke, de repente, escondeu a magnum nas suas costas, entre a jaqueta e a calça.

— Sarah, é melhor ficar calada! — Ele pediu e outra vez eu franzi o cenho, confusa. — Verifiquem se tem mais alguém na casa! — Ele gritou ordenando.

Foi só então eu percebi os oficiais que estavam chegando e eles se espalharam por todo canto.

— Tenente Thompson! — A voz de Curtis ecoou pela sala. — Mas que droga! Não conseguimos chegar a tempo! Vocês precisam sair de perto do corpo. Vamos interditar o lugar.

— E quem é essa? — Luke perguntou.

Olhei em direção a mulher que entrou acompanhada de Curtis observando tudo com atenção.

— FBI. — Ela apresentou o distintivo. — Detetive Ashley Martin. Eu fui chamada para a retomada das investigações há alguns meses, mas parece que você acabou de matar o meu caso, Tenente Thompson!

Ashley analisou a posição de Luke, que permanecia ao lado do corpo de Kendall, ainda com a arma em punho e eu entendi o porquê de ele ter se apossado da magnum repentinamente. Mais uma vez, ele me protegeu.

— Bem, eu acabei de salvar uma civil, detetive! — Ele replicou.

Os olhos de Ashley pousaram em Lexa. Nesse momento ela pareceu retomar a consciência e avançou um passo, ficando em frente a detetive e a indagou:

— Conhecia uma agente secreta do FBI chamada Nikki Lawson? — Perguntou com a voz fraca e rouca.

— Você quer dizer Nicoly Kendall. Nikki Lawson era o seu nome de disfarce. Eu não a conheci pessoalmente, mas, quando fui chamada para essa investigação, eu fui informada de que ela era a agente que estava à frente desse caso há anos. Infelizmente, ela desapareceu e nem mesmo o FBI conseguiu encontrá-la. — Explicou.

A detetive franziu o cenho, desconfiada, olhando Lexa da cabeça aos pés.

— O que sabe sobre ela, Senhorita...?

— Ayers. Alexandra Ayers.

Ignorando os olhares de Ashley e mantendo sua postura, Lexa apanhou uma pasta que estava em cima da mesa de centro e entregou nas mãos da detetive, antes de voltar a falar:

— No celular dessa mulher tem um microchip que você precisa averiguar. — Ela gesticulou com a cabeça para o corpo de Kendall. — E eu sei tudo sobre Nikki e sobre o seu caso!

Eu não soube identificar se Ashley ficou admirada por causa dos ferimentos de Lexa, ou por causa da sua beleza, apesar deles. Mas, eu poderia jurar que o olhar dela não foi nada profissional!

— Isso é ótimo! Poderia me acompanhar, por favor? — Ashley pediu, educadamente.

— Não! — Interrompi. — Lexa está ferida, precisa de um médico! — Eu disse segurei em sua mão, mas ela soltou-se sem sutileza e não fez nenhuma questão de me olhar.

— Tem alguma coisa errada. — Pensei.

— Acalme-se! Senhorita? — Ashley perguntou estendendo a mão para um cumprimento.

— Sarah Mitchell. — Encarei.

— Acalme-se, Senhorita Mitchell. Eu sei exatamente como proceder nesses casos. Eu vou cuidar muito bem dela! — Ashley respondeu e, com a mão no centro das costas de Lexa, começou a guiá-la para a saída da minha casa.

Avancei em direção a elas e Luke impediu, me segurando pelo braço. Ele fez um gesto negativo com a cabeça e gesticulou as palavras sem som "agora não". Não pude fazer nada a não ser observar a levarem para longe de mim.

***

Katrina Kendall era psicopata, assassina de aluguel, extremamente perigosa, procurada há anos pela polícia. Ao ter entrado aos dezessete anos para o mundo do crime, Kendall tirou a vida de quase duzentas pessoas. Por usar várias identidades falsas, o FBI só descobriu que ela e Nikki eram irmãs após a investigação do caso Oxiértis e do seu desaparecimento. A polícia teve dificuldade de reconhecê-la porque ela havia feito plástica facial. Não foi sabido se Nikki tinha conhecimento dos crimes da sua irmã. Uma questão que jamais será respondida.

Katrina possuía um conhecimento elevado na área da tecnologia, por isso era considerada hacker. Foi assim que ela invadiu os sistemas e apagou todo o seu registro de vida, assim como fez com o de Jake Mitchell, o homem que eu não queria mais chamar de pai.

Eu, Luke e Alexandra, ficamos por horas prestando depoimento ao FBI.

Por algum motivo, em sua declaração, Lexa mentiu dizendo que foi Kendall quem presenciou o momento do esquartejamento de Nikki. Curtis explicou que o assassinato brutal da irmã foi o motivo para a sua vingança.

Alexandra também omitiu o fato de ter estado no Becker Real Estate no dia do incêndio. Da mesma forma, eu e Luke decidimos que era melhor não comentarmos sobre esse assunto.

Depois que Lexa contou sobre o galpão abandonado, eles enviaram viaturas para o local que ela se referiu e lá eles descobriram, no subsolo, o laboratório de Mackenzie onde ele fabricava as drogas. Encontraram também os restos mortais de Nikki.

O FBI encerrou o caso culpando Jake Mitchell pelo assassinato de Andrew Ayers, Carol Ayers e Nicoly Kendall.

Katrina levou a culpa pelo incêndio do edifício Becker Real Estate, pelo assassinato de Jacob Byrne, Jake Mitchell e Chris Collins. Ainda foi descoberto o assassinato de Lara Rodriguez, como uma forma de punição a Emily. Além disso, a balística comparou o calibre da arma que estava em seu poder com os projéteis encontrados no corpo de Ethan Scott, o legista que tinha fraudado a autópsia de Jake, e deduziram que foi ela quem o matou. Para o FBI, a intenção de Kendall era cobrir todos os rastros e confundir as investigações para poder seguir com a vingança contra mim e Alexandra. Com exceção de alguns detalhes, eles não estavam errados!

Com o caso encerrado, eu e Luke nos entreolhamos aliviados. Eu pensei que Lexa iria se entregar para o FBI, mas por alguma razão ela não o fez. Eu queria questioná-la sobre várias coisas, mas ela havia sido liberada e não se encontrava mais no Departamento.

Agradeci aos policiais e a Aly, que acompanhou o meu depoimento, e saí do NYPD acompanhada por Brenda e Casey. As duas estavam presas em uma reunião na Ayers, com um cliente em potencial, quando souberam do acidente de carro envolvendo Henry e Anya. Eles estavam voltando do aeroporto e bateram na lateral de outro carro que avançou o sinal. Imediatamente elas se dirigiram para o local e depois os acompanharam até o hospital. Por isso elas só souberam de todos os acontecimentos quando nós já estávamos no Departamento de Polícia.

— Como eles estão? — Perguntei.

— Henry machucou a perna e Anya está com algumas escoriações, mas nada grave. Eles irão permanecer em observação hoje, mas amanhã retornarão para casa. Eu liguei para Alexandra e para você milhões de vezes! Mas, desisti quando lembrei que vocês duas deveriam estar transando! —Brenda explicou enquanto dirigia em direção ao apartamento de Casey.

— Brenda! — Reprimi.

— O quê? Não tenho culpa se vocês são ninfomaníacas! E como eu poderia adivinhar que a louca da Apr... Da Katrina iria aparecer?

— Eu disse que ela não tinha cara de "April" e que ia criar problemas! — Casey disse.

Voltei a ficar calada e elas perceberam que eu ainda não estava de bom humor.

— Como eu pude ser tão idiota? Como deixei me levar por aquela psicopata? — Em pensamento, me condenei por ter sido tão descuidada.

— Eu lamento! — Brenda disse me olhando pelo retrovisor. — Sinto muito por Jake e por Chris. E lamento profundamente tudo isso que você está passando.

Assenti com os olhos e ficamos em silêncio durante todo o trajeto. Sem saber o que sentir em relação a tudo e a todos, eu não lastimei por ninguém.

No apartamento de Casey, recebi algumas reclamações exageradas de Brenda, enquanto ela arrumava o quarto de hóspedes para mim. Eu não poderia voltar para a minha casa, que outra vez estava interditada com faixas amarelas indicando mais um crime. Sendo sincera, eu nunca mais queria voltar para lá! Comecei a sentir que eu estava vivendo a vida de outra pessoa.

— Definitivamente vou vender aquela casa! — Proferi e me joguei na cama.

— Eu concordo! — Casey e Brenda responderam em uníssono.

Eu tinha absoluta certeza de que havia algo de errado com Alexandra, mas eu precisava abordá-la com cautela. Depois de tudo o que passamos e de ter todas as respostas, era óbvio que as coisas entre a gente iriam ficar confusas, mas eu queria saber exatamente o que ela estava escondendo a ponto de nem mesmo conseguir olhar para mim. Entretanto, eu precisava descansar e esfriar a cabeça. Decidi procurá-la depois e resolver de uma vez por todas como ficaria nosso relacionamento e a nossa sociedade.

DIAS DEPOIS...

Todas as minhas tentativas de conversar com Lexa foram falhas e o clima na Ayers estava insustentável.

— Bom dia Senhorita Mitchell! A reunião de hoje com a Senhorita Ayers foi remarcada para o dia...

— Basta, Suzy! — Interrompi a explicação enquanto ela me seguia pelo largo corredor — E, por favor, pare de me seguir!

Após semanas tentando resolver tudo da melhor forma possível eu aceitei que nada iria mudar e antes de colocar em prática o que eu tinha em mente, procurei por Brenda, que me aguardava em sua sala.

— Conseguiu? — Entrei e indaguei ansiosa.

— É claro que eu consegui! Mas ainda acho tudo isso muito precipitado. Você deveria ao menos pensar melhor a respeito e não simplesmente colocar os seus sentimentos à frente da sua vida profissional! — Brenda respondeu.

— Essa não é a minha profissão! Apenas me entregue os documentos e vamos seguir com o planejado.

— Sarah...

— Ela sequer olha para mim! — Gritei.

Abaixei a cabeça e engoli em seco, com os olhos cheios d'água.

— Lexa não consegue olhar para mim, Brenda. E eu não suporto mais isso. Agora vamos, não vou perder essa oportunidade.

Eu precisava de respostas e Lexa ainda não tinha me dado nenhuma. Direcionamo-nos ao último andar. Com a mão na maçaneta, fechei os olhos e respirei fundo algumas vezes antes de abrir a porta e entrar na sala de Alexandra.

Depois que voltamos para a nossa rotina ela me evitava, de todas as formas possíveis. Raramente passava muito tempo na empresa e, a pedido de Henry, dois seguranças a seguiam por toda parte. Ela também se recusava a me receber em sua casa. Com a ajuda de Casey e Brenda, consegui distrair Henry, os seguranças e afastá-los por alguns minutos. Foi tempo suficiente para eu ter uma conversa com a minha sócia.

Entrei sem aviso.

Sentada atrás da sua mesa, assim que me viu, Alexandra ergueu e virou de costas.

— Senhorita Mitchell... Eu não esperava por você! — A sua voz nasalada penetrou meus pensamentos.

Mesmo de costas para mim, percebi sua respiração ofegante, pesada. Eu sabia que tudo aquilo estava sendo tão difícil para ela quanto era para mim. Era complicado continuar namorando a filha de um assassino e eu entendia isso. Não havia nenhuma possibilidade de me impor a ela. Eu não conseguiria magoá-la dessa forma! Mas, o fato de ela sequer conseguir me olhar, doía dentro da minha alma e eu sentia um aperto no peito todas as vezes que ela me tratava com tanta frieza. Engoli o choro antes de começar a falar:

— Eu queria alguns minutos a sós com você, por isso pedi a Suzy para não avisá-la. — Comentei com a voz baixa e sem graça.

— Em que posso ajudá-la? — Ela se manteve de costas, indiferente.

Dei alguns passos para frente e Alexandra fez o mesmo, afastando-se ainda mais de mim, ficando mais próxima da enorme janela de vidro.

— Eu pedi a Brenda para providenciar todos os documentos necessários e eles estão prontos. Vou deixá-los sobre a sua mesa. Falta apenas a sua assinatura. — Suspirei profundamente. — Estou desfazendo a nossa sociedade, Senhorita Ayers.

Quando conversei com Brenda eu a convenci de ficar com as minhas ações da Ayers. Eu não queria nada que me ligasse a Jake, então as vendi por uma mixaria.

Lexa ficou em silêncio e eu continuei com a voz embargada:

— Como sabe, esse não é o meu mundo! Estou voltando para as artes. Eu... — Precisei de uma pausa antes de prosseguir. Ela permanecia imóvel. — Enfim, só insisti para vê-la porque eu não queria simplesmente desaparecer sem esclarecer tudo entre a gente.

— Senhorita Mitchell, eu não vejo necessidade para desfazer a sociedade. Você poderia voltar para as artes e manter-se sócia da empresa. O nosso acordo...

— Senhorita Ayers, nós duas sabemos que o acordo foi desfeito no momento em que apresentei aquele maldito projeto. Então, não existe nenhuma razão para eu continuar sendo a sua sócia. Mas Brenda ficou muito feliz em me substituir.

Ela permaneceu em silêncio e eu entendi que a conversa tinha chegado ao fim. Mas antes de sair, eu precisava fazer uma última pergunta.

— Lexa? — Eu pronunciei seu nome com a voz rouca. — Eu sei que não mereço, mas, gostaria muito que respondesse algo: o motivo de não conseguir olhar para mim é porque eu sou filha dele? É nítido o ódio que você sente desde que descobriu tudo. Eu só preciso ouvir isso de você. Eu preciso ter certeza, então, por favor, não negue essa resposta. — Minha respiração ficou pesada.

Finalmente ela virou-se para mim e nossos olhos se encontraram. Fazia tanto tempo que eu não admirava aquela imensidão verde que eu perdi o fôlego. Ela se aproximou com o seu andar majestoso. O seu olhar estava tão repleto de paixão e desejo quanto o meu. Alexandra ficou tão próxima de mim que pude sentir seu doce hálito.

— Acha que eu odeio você? — Sussurrou.

— Estou vendo que sim e eu entendo.

— Está errada, Sarah. Eu não te odeio! Você merece essa resposta, então não vou mentir e nem omitir mais nada.

Meu coração parecia que queria sair do peito. Com os olhos cravados nos meus ela continuou:

— Eu sei que você pensa que o motivo de não estarmos juntas é porque você é filha daquele... Monstro. — Ela engoliu em seco. — Mas eu sei que você não tem culpa pelos crimes cometidos por ele.

— Se não é esse o motivo, então, qual é, Lexa? O que aconteceu? O que Kendall fez com você? O que ela disse para conseguir fazer você se afastar de mim? — Perguntei aflita.

— Katrina não me afastou de você! O seu pai fez isso. Ele é o culpado pela morte dos meus pais! Já se esqueceu de tudo o que ele fez? — Ela disse com a voz carregada de dor.

— E você o matou! Eu não sei por que você mentiu para a polícia, mas...

— Eu não o matei. Infelizmente. — Ela interrompeu.

— Como assim? — Indaguei confusa.

— Eu não menti para a polícia e muito menos para você! Tudo o que eu disse foi verdade. De fato, eu tentei sim matar aquele miserável, mas fraquejei. Katrina estava no prédio. Ela que o matou. — Explicou.

Fiquei aliviada por saber que ela não era uma assassina. Mas, diante de toda aquela história, não fiquei surpresa. Todos os dias eu esperava por alguma coisa nova aparecer.

— Então é isso? Você não se sente mais culpada pela morte do meu pai, mas me pune pelo o aconteceu com os seus pais?

Negando com a cabeça, ela me encarou por alguns segundos. Lágrimas pesadas desceram pela face de Alexandra quando ela revelou o que havia descoberto poucos minutos antes de Kendall morrer:

— Jake Mitchell estuprou Nikki e ela afastou-se do caso quando descobriu que estava grávida. Kendall contou que, apesar das circunstâncias, Nikki recusou o aborto. — Lexa despejou a verdade em minha cara.

Ah, meu Deus! Balancei a cabeça em negativo repetidas vezes. — Ela mentiu para você. Lexa, isso não pode ser verdade! — Eu disse incrédula.

— Eu já disse a você, Sarah: quem tem dinheiro, tem poder! A detetive Ashley é bastante ambiciosa e ela ficou feliz em "colaborar" comigo. Nikki engravidou de gêmeos e eu sei onde eles estão! Ashley encontrou as crianças no orfanato que Katrina referiu. Conseguiu também o material para o teste de DNA. Ela não mentiu. — Lexa cumpriu sua promessa de minutos atrás e não me poupou de nenhum detalhe.

— Se o que você está dizendo for verdade, então... Eu tenho irmãos! — Deduzi espantada.

Comecei a entender a gravidade de tudo e o porquê de ela simplesmente não conseguir manter contato comigo. Quando namoramos, ela se abriu para mim e eu sabia o quanto Lexa era apaixonada por crianças. Fiquei estagnada depois de ouvir mais uma revelação.

— Esse pesadelo nunca vai ter fim?Eu não consegui mais reprimir as lágrimas.

Ignorando o meu choro, ela prosseguiu:

— Nikki sabia do meu amor por crianças. Ela queria que eles fossem meus filhos também! Eu tenho certeza de que essa era a surpresa a qual ela mencionou a mim antes de ser assassinada. Além de ser culpada por sua morte, eu não consegui salvá-la, mas eu não vou perder as crianças. Eu pretendo adotá-los. Eu devo isso a Nikki. — Lexa suspirou mantendo o seu olhar fixo no meu.

— É a segunda vez que você está desistindo de mim, Lexa! Depois que eu sair por aquela porta, nunca mais eu vou procurá-la, então, você tem certeza do que está fazendo?

— Sim.

Lexa abriu a boca outra vez, mas nenhuma palavra foi emitida. Fechei os olhos e mais uma vez, dentro daquela sala, meu coração se transformou em estilhaços.

Não foram necessárias mais explicações. Alexandra não confessou sobre o incêndio a polícia porque ela já tinha feito uma escolha e eu sabia que ela não voltaria atrás. Ela queria adotar as crianças, que por obra do destino eram meus irmãos. Se havia alguma possibilidade de retomarmos o nosso relacionamento, ela tinha acabado de ser destruída. Eu não tive mais palavras. Por alguns minutos nos olhamos e choramos com a constatação do fim entre nós.

Eu consegui a resposta que queria e, em silêncio, retirei-me da sala.

MESES DEPOIS...

Não tive dificuldades em vender a mansão que cresci. Apesar dos crimes que aconteceram dentro dela, o novo proprietário ficou feliz com a nova aquisição.

Ainda no jardim, fiquei dentro do carro por alguns minutos observando tudo. Várias recordações, boas e ruins, passaram por minha cabeça. Eu tinha certeza de que envelheceria ali, mas, a vida tomou outro rumo. Entretanto, fiz questão de permanecer no mesmo bairro.

A nova casa era menor, mas aconchegante. A primeira coisa que fiz foi criar o meu ateliê em um espaço que pedi para ser construído. Aquele lugar se transformou em meu refúgio, onde poderia me dedicar aos meus quadros e, por algumas horas, esquecer o resto do mundo.

Minha mãe se recuperou e saiu da clínica. Ela ainda era analisada semanalmente por um psiquiatra, mas já estava de volta. Ela ficou feliz com a nova propriedade. Todos os dias, sentávamos na sala, de frente a lareira, e conversávamos por horas. Várias vezes chorei ao saber o quanto ela sofreu na clínica. Ela também se compadeceu por tudo o que passei. Ainda assim, nos mantínhamos ali, fortes, unidas.

Depois de alguns meses, eu finalmente aceitei as visitas de Michael em nossa casa. Percebi que faziam bem a minha mãe. Ela voltou a cuidar do seu corpo, fez um corte novo nos cabelos castanhos deixando mais curto. E como uma boa médica, cuidava bem da nossa alimentação.

Meus amigos frequentavam menos a minha casa. Eles queriam dar espaço para que eu e a minha mãe recomeçasse nossa rotina.

Aos poucos, nossa vida começou a voltar ao normal.

Tudo estava indo bem. Ou quase tudo. Apesar de ter passado muito tempo desde a última conversa que tive com Alexandra, eu ainda sentia a sua falta.

Não contei a minha mãe sobre Nikki e os gêmeos. Eu acreditava que ela ainda não estava preparada para uma notícia tão ruim. Queria poupa-la, mas, nem sempre eu conseguia ser tão forte. E foi em um dia chuvoso e frio que ela me viu, sentada no sofá da sala, aos prantos. Ela sentou-se ao meu lado, mas não disse uma palavra. Apenas me abraçou carinhosamente, esperando o meu tempo para dar uma explicação.

Desde que descobri tudo sobre o meu pai, eu estava despedaçada por dentro. Todos os dias aquela história me consumia. Naquele instante, eu simplesmente cheguei ao meu limite. Ou, talvez, eu tenha decidido seguir o conselho da minha terapeuta, que insistia em dizer que eu deveria colocar tudo para fora. De uma forma ou de outra, foi o que aconteceu.

— Eu o odeio! Eu o odeio, mãe. — Comentei quando consegui me acalmar.

— Querida! O que aconteceu? — Ela perguntou com a voz repleta de amor.

Eu queria responder a pergunta, mas além da dor que me impedia, da preocupação com a minha mãe, eu sabia que se o fizesse, iria comprometer Alexandra. Afinal, ela "comprou" informações de uma agente do FBI.

Sabendo de quem eu estava falando, ela suspirou e permaneceu em silêncio.

— Ele acabou com a minha vida. Com a nossa vida! Ele destruiu a vida de pessoas inocentes! Meu Deus! Como você conseguiu passar tanto tempo casada com um monstro? Como não podemos perceber quem ele era, mãe? — Chorei alto. Ela me apertava em seus braços.

— Querida, dói vê-la desse jeito.

Ela me afastou alguns centímetros, encarando com os olhos castanhos cheios de preocupação e carinho.

— Sarah, eu sei tudo o que você passou desde a morte dele. Mas eu preciso perguntar: essa raiva toda, essa dor que você está sentindo agora é somente por causa dele ou tem alguma coisa haver com Alexandra? — Indagou docemente.

Ainda presa em seu abraço, demorei alguns segundos para pensar em uma resposta. Eu não queria mentir. Nunca gostei de esconder a verdade da minha mãe e já estava farta de tantas mentiras.

— É por tudo, mãe. Não podemos ficar juntas porque sou filha dele. — Resumi sem comprometer Lexa, mas o que eu disse era verdade. Ela queria uma família e seria no mínimo estranho se a sua esposa fosse também a irmã dos seus filhos.

O olhar dela saiu dos meus para alguma coisa ou alguém que estava atrás de mim. Vagarosamente, virei para verificar. De pé, com terno e gravata, Michael Curtis nos observava. Imediatamente ergui, me colocando frente a ele.

— Agora deu para ouvir as nossas conversas? Que falta de educação, Curtis. — Reclamei.

Ele engoliu em seco, porém, diferente das outras vezes, não retribuiu minha provocação. Minha mãe permaneceu sentada. Os dois pareciam conversar com o olhar. Com um leve aceno positivo para ele, minha mãe sorriu de lado. Levantou-se e depositou um beijo em minha cabeça.

— O que está acontecendo aqui? — Perguntei.

— Vem. Vamos dar uma volta no jardim. — Michael pediu.

Voltei o olhar para a minha mãe. Naquele momento, meu coração disparou. Havia algo grave acontecendo e que, certamente, ela ainda não estava em condições de conversar sobre o assunto comigo. Então, coube ao meu futuro padrasto me inteirar dos fatos. Sem dizer mais nada ele saiu e eu o acompanhei.

Michael sentou-se em uma das poltronas de frente ao jardim. Era a primeira vez que o via com tanto receio para iniciar uma conversa. Logo ele, que sempre me enfrentou. Em outra poltrona, sentei ao seu lado. Fiquei em silêncio aguardando suas palavras. Eu já estava anestesiada com tantas revelações.

— Gosta de ouvir histórias, Sarah? — Ele perguntou.

— Desde que não seja a minha! — Respondi sem emoção.

— Que pena! Pois é justamente a sua história que vou contar.

Respirei profundamente. Dei um sorriso debochado, balancei a cabeça em negativo. No fundo, eu tinha certeza de que mais alguma coisa, mais alguma mentira do meu pai ainda estava para ser contada.

Michael continuou:

— Mas antes da sua história, vou contar outra. — Ele pigarreou. — É a história de um homem muito rico, nascido na Austrália. Alto, loiro, olhos azuis, inteligente. Aquele tipo de cara que as mulheres adoram. Para completar, filho único. Ele ficou órfão aos 17 anos de idade. Depois da maioridade, assim que conseguiu tomar posse da sua fortuna, ele decidiu vir morar aqui em Nova York. Cursou a faculdade de ciências tecnológicas. A mesma faculdade que eu e a sua mãe frequentamos. Foi assim que eles se conheceram.

— Olha Curtis, eu não estou nada a fim de ouvir a história dos meus...

Não pude terminar a frase. Ele ignorou meu comentário e prosseguiu:

— Os dois se apaixonaram perdidamente. Ele queria se casar. Ela pediu a ele que esperasse para realizarem a cerimônia depois da formatura. E foi aí que tudo começou a dar errado. Com o passar do tempo, os dois se afastaram. Confuso, enciumado, o australiano colocou um fim no relacionamento retornando em seguida para o seu país de origem. Ellen ficou arrasada, magoada. Nesse período, ela conheceu Jake Mitchell e, repentinamente, surpreendendo a todos, casou-se com ele.

Franzi o cenho, confusa. Até então, eu nunca tinha ouvido falar do tal australiano. Michael conseguiu a minha atenção.

— Logo após o casamento, você nasceu. Eu ainda tentei manter contato com a Ellen, mas não consegui. Ela dizia que o esposo era muito ciumento. Fiquei anos sem ter notícias dela.

Curtis ficou um tempo em silêncio, pensativo. Como se tivesse dúvida em continuar ou não a história. Mas, voltou a falar:

— Jake era ambicioso. Antes de abrir a JKM, ele conheceu Charles Becker Mackenzie. Com posse de uma identidade falsa, Jake deu início a "lavagem dinheiro" no prédio Becker Real Estate, que pertencia a Charles. Mas ele foi informado de que Mackenzie estava sendo investigado, então, decidiu parar com os negócios. Ellen descobriu tudo e queria denunciá-lo para a polícia. Mas ele ameaçava tirar a vida dela e a sua!

— Não posso acreditar nisso! Meu pai pode ter sido um assassino, mas eu sei que ele me amava! — Interrompi.

Curtis deu um sorriso debochado, antes de continuar:

— Sarah, Jake não sabia o significado da palavra amor. — Ele suspirou. — Quando você completou 17 anos de idade, e eles 17 anos de casamento, o australiano retornou para a vida de Ellen. Ele insistiu para voltarem o relacionamento, confessando que nunca havia esquecido ela. Com medo, insegura, ela não deu nenhuma resposta. Então, a partir daí começou, ou continuou, a sua história. Ele entrou na sua família de outra forma. Percebendo a ambição de Jake, ele o incentivou a serem sócios. Eles abriram a empresa JKM.

Abri a boca, pasmada. Aquela história eu conhecia. Ou, ao menos, achava que sim.

— Kevein Cotter? Era ele o australiano? — Perguntei espantada.

— Sim! Kevein foi sócio do Jake. Ao contrário do que todos pensavam a abreviação da empresa não era Jake Mitchell, mas sim Jake e Kevein Mentoring. — Confirmou.

— Eu nunca vi nada na JKM sobre isso. — Comentei.

— Nem poderia. Não existia mesmo nada sobre isso. A abreviação foi um pedido de Kevein, uma condição imposta, para que Ellen, no início, não soubesse da sociedade. É claro que com o tempo, ela descobriu, mas, já era tarde demais. — Ele explicou.

— E por que a minha mãe era contra a sociedade?

Curtis passou a mão na barba, pelos cabelos, claramente sem saber como continuar. Eu esperei. Estava com medo do que viria a seguir. Por um momento, imaginei como ele sabia tantos detalhes, mas imediatamente me lembrei da troca de olhar entre ele e minha mãe. Com certeza ela tinha contado tudo a ele. Recordei também a época do início da sociedade e as constantes brigas dos meus pais. Num estalo comecei a entender o que tinha acontecido.

— Meu Deus! Minha mãe traiu o meu pai com o Kevein? — Questionei.

Nesse momento, Michael ficou pálido. Eu voltei a ficar ansiosa e aflita. Eu sabia que aquela não era uma história qualquer. Existia algo de muito ruim e, ao que parecia, havia chegado o momento do desfecho.

— Sarah, não houve traição. A Ellen é uma mulher digna, fiel. Por esses e outros motivos, sou tão apaixonado por ela...

— Michael, fala logo tudo de uma vez! — Pedi.

— Logo após a sociedade, há mais de cinco anos, Jake surpreendeu a Ellen e o Kevein conversando, na antiga casa que pertencia a sua família. Apesar de estarem falando baixo, Jake conseguiu ouvir claramente a confissão de Ellen, quando revelou que Kevein era o verdadeiro pai da sua filha.

— O quê? Está insinuando que Kevein Cotter é o meu pai? Não! Você está louco! Isso... Não pode ser! É mentira! — Disse alto.

Recordei as poucas vezes que falei rapidamente com o Sr. Kevein. Ele era muito simpático, elegante e educado. Realmente, um homem encantador.

— Não estou insinuando. Estou dizendo somente a verdade. Eu sinto muito, Sarah.

O silêncio voltou a instalar entre nós. Eu não tive palavras para comentar ou perguntar qualquer coisa. Esperei por ele falar, explicar, mas ele não o fez. O que ele poderia dizer? Ficamos parados, encarando. Pisquei diversas vezes, com um nó na garganta e uma cachoeira de lágrimas pesadas molhando meu rosto. Dor, mágoa, raiva... Senti tudo ao mesmo tempo me rasgando por dentro, queimando o meu estômago.

Levantei. Saí de perto dele. Eu queria desaparecer, mas não podia. Era a minha história, a verdade sobre a minha vida e eu só tinha uma opção: aceitar.

— O que aconteceu depois? — Perguntei, ainda chorando.

— Jake não comentou nada com eles. Ainda enciumado, com raiva, voltou a procurar por Mackenzie. Ele pediu que o traficante conseguisse uma substância chamada cocaetileno. Não sei se você tem conhecimento, mas essa droga aumenta os batimentos, causando ataque cardíaco. Atualmente, descobrimos que naquele mesmo dia ele saiu para uma boate, onde conheceu Nicoly Kendall. Na época, ela estava diferente. Usava o cabelo curto, tingido de preto e, evidentemente, sempre usando nomes falsos. Infelizmente, ela estava alcoolizada. Ele a carregou e a estuprou dentro do carro.

— Meses atrás eu soube disso. Lexa contou. — Comentei sem pensar.

— Imaginei que já soubesse. Nicoly não o denunciou. Infelizmente ela decidiu fazer vingança com as próprias mãos. Quando ela entrou para o FBI, os seus filhos já tinham dois anos de idade. Ela os deixou no interior quando recebeu o seu primeiro caso: oxiértis. Nicoly começou a investigar e, para o azar de Jake, ela descobriu que ele estava envolvido com Mackenzie. Foi aí que ela decidiu se passar por assistente de Jake e, na mesma época, conheceu Alexandra. Jake sequer percebeu que a sua assistente era a mesma mulher que ele havia estuprado. Nikki foi imprudente em várias questões. Infelizmente, não conseguimos ter controle sobre as atitudes das pessoas, mesmo elas sendo policiais. Mas, a detetive Ashley está sendo investigada.

Arqueei a sobrancelha. Mais essa agora! Curtis havia descoberto que Ashley tinha aceitado o suborno de Lexa. Mas, no momento, aquele assunto não era importante.

Ele pigarreou antes de continuar:

— Foi Nicoly que descobriu o primeiro crime de Jake. Ele cometeu homicídio no dia seguinte do estupro.

Imediatamente entendi o começo de toda aquela bagunça. Minha mãe havia confessado que eu era filha de Kevein. Ao ouvir a verdade, Jake não aguentou, foi até uma boate e estuprou uma mulher, Nicoly. Não satisfeito, procurou por Charles, conseguiu uma droga e assassinou Kevein.

— Não posso acreditar nisso. Não tem como eu acreditar nisso! — Minha voz quase não saiu.

Pacientemente, Curtis esperou que eu me acalmasse. Em seguida, pegou o celular e entregou em minhas mãos. Trêmula, dei início ao vídeo que já estava pronto para ser exibido, mostrando o momento em que Jake injeta uma seringa no pescoço de Kevein. As imagens eram de uma câmera de segurança, que, certamente, a polícia não teve acesso na época. O assassinato ocorreu dentro da JKM, na sala que era de Kevein, a mesma sala que, anos depois, Brenda ocupou.

— Infarto. — Foi a única palavra que consegui dizer.

— Isso foi o que Jake disse. Ele pagou um bom dinheiro a um legista chamado Emerson Burke para falsificar a autópsia. A seringa que você viu no vídeo tinha cocaetileno.

— Autópsia falsificada? Do mesmo jeito que Katrina fez com ele? — Perguntei com deboche.

— Exatamente. E, por ironia, a própria Katrina que estava com posse desse vídeo. Sarah, você precisa saber que ela mostrou esse vídeo a Alexandra Ayers.

Assenti com a cabeça. Eu já imaginava isso.

— Bem, Jake conseguiu ficar com a JKM só para ele e manter o casamento. A essa altura, Ellen já começava o vício com bebida alcoólica. Ela vivia sob permanente ameaça de vida. Tudo estava indo bem para ele, porém, algo que ele não previa aconteceu: quatro anos depois, Emerson Burke voltou a incomodá-lo. Sem Kevein para injetar dinheiro na empresa, ele começou a falir. Desesperado, Jake novamente procurou por Mackenzie, mas descobriu que ele tinha acabado de ser preso. Ele também foi informado de que a assistente dele, na verdade, era uma agente do FBI. A única saída de Jake era o PH, mas ele não tinha dinheiro para colocar o projeto em andamento. Precisava vender. Então, pesquisou algumas empresas e após definir a Ayers como alvo, infiltrou John Myers para conseguir o máximo de informações possíveis. Jake marcou um encontro com Andrew Ayers e conseguiu convencê-lo a comprar o PH. Após a negociação, ele voltou para o Becker Real Estate e aguardou Andrew transferir o restante do dinheiro. Porém, ele não depositou. Em seguida, Jake recebeu uma ligação de John avisando sobre Nicoly. Assim, ele se atentou que Andrew já sabia tudo ao seu respeito. Antes de conseguir pensar em uma forma de sair daquela situação, ele surpreendeu Nikki dentro da sua sala. Começou a agredi-la, mas quando viu Emerson Burke parado na porta filmando tudo com o celular, desistiu da agressão e foi atrás dele. Não conseguimos descobrir o paradeiro do legista depois disso. Mas, eu acredito que esteja morto. Ao voltar para a sua sala, não encontrou Nicoly. Furioso, ele ordenou que John sabotasse os freios do carro de Andrew, causando assim a sua morte.

— Essa parte da história eu já conheço. — Eu disse, relembrando a morte dos pais de Alexandra.

— Um mês depois, quando Nicoly voltou, procurando pelo PH para usar como prova, Jake conseguiu dominá-la. Ele a matou no mesmo dia.

Arrasada, sentei na poltrona. Curtis não disse mais nenhuma palavra. Ficamos um bom tempo, lado a lado, absorvendo tudo.

Estilhaços de mentiras.

Tudo o que Jake Mitchell deixou para mim foram pedaços de mentiras, que destruíram vidas, que me rasgavam por dentro como pequenos vidros afiados. Por mais que eu gritasse e chorasse não iria mudar o que eu descobri e não iria mudar o meu passado.

Eu precisava recomeçar a minha vida. E dessa vez eu iria viver!

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