Estilhaços De Mentiras (Lésbi...

By DayseRuas

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A vida de Sarah Mitchell se torna uma bagunça quando precisa substituir o seu pai na empresa da família após... More

PRÓLOGO
Halloween (Parte 1)
Halloween (Parte 2)
Fraqueza
Amizade
Controle
Atração
Confissões
Ciúme?
Autodomínio
Paixão e Preconceito
Permita-se
Metamorfose
Dependência
Relacionamentos
Mentiras
Pressentimento
Queda
Dúvidas
Decisões
Teorias
A Razão
Vício (Parte 1)
Vício (Parte 2)
Respostas
Amor
Nós
Epílogo
Agradecimentos

Coincidências

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By DayseRuas


Brenda desceu do meu carro no estacionamento do NYPD e me entregou a chave, contrariada por eu não querer a sua companhia. Eu entendia que ela estava preocupada e queria ficar ao meu lado, mas senti a necessidade de ficar sozinha por um tempo, então, saí do Departamento e dirigi sem destino pelas ruas de Nova York. Parecendo se compadecer do meu sofrimento, o tempo fechou deixando o céu cinza. A chuva fina que caía acompanhava o ritmo das lágrimas quentes que desciam por minha face, enquanto eu recordava os bons momentos ao lado do meu pai. Eu só queria poder abraçá-lo mais uma vez.

Pensei em ir visitar a minha mãe e dizer o quanto eu sentia a sua falta e a amava, mas vê-la sem reação fazia com que eu me sentisse ainda mais impotente. O psiquiatra indicado pelo Dr. Gartner, havia me informado, há alguns dias, que o estado de saúde dela não tinha sofrido nenhuma alteração. Os surtos continuavam se repetindo. Sem motivo aparente, ela tornava-se extremamente agressiva com qualquer pessoa que se aproximasse e depois a sua inércia retornava. Precisando de ajuda para fazer qualquer tipo de necessidade, incluindo as fisiológicas, a enfermeira Emily continuava prestando toda assistência necessária.

Questionei ao Dr. Thomas Kaur se ele conhecia outros casos como aquele, mas ele negou:

— "Sinceramente? Não conheço nenhum! Infelizmente não tenho um diagnóstico para ela. Além da alteração sanguínea por causa dos medicamentos fortes, não aparece nada fora do comum nos exames. Os resultados das ressonâncias também foram negativos". — Recordei suas palavras.

Desejei estar em letargia para não sentir o aperto que estava em meu peito.

Deve existir alguma forma de fazer essa dor passar. — Pensei com os olhos fechados e com a cabeça recostada no banco do carro que tinha estacionado em frente a uma praça qualquer.

Cogitei sair da cidade, mas com tantas mudanças não seria viável. A verdade era que eu precisava enfrentar tudo o que estava acontecendo. Eu sabia desde o começo que ele não havia cometido suicídio e agora que a verdade veio à tona eu não poderia simplesmente abandonar tudo. Ia doer a cada descoberta feita, mas não tinha outra saída a não ser encarar e resolver de uma vez o problema.

— Vamos lá Sarah. Chegou a hora! — Proferi em voz alta e acelerei o carro em direção a um lugar que sempre evitava passar, mas que dessa vez eu fiz questão de ir.

Minha garganta apertou em um nó quando entrei no bairro Queens. Voltei a cair em prantos quando parei o carro em frente ao lugar onde, debaixo dos destroços, encontraram o corpo do meu pai.

O tempo tinha feito eu me ajoelhar diante de tantos acontecimentos ruins e eu cheguei a implorar a Deus por paz! Eu consegui ficar de pé quando conheci Alexandra. Eu consegui me reerguer e quando ela entrou em minha vida e novos sentimentos desabrocharam em mim. Eu estava apaixonada e senti que com ela eu poderia finalmente ser feliz, por isso eu queria encerrar aquela história de uma vez por todas e recomeçar do zero, por mim e por ela.

Eu tenho que ser forte e continuar.Falando sozinha, tentei me animar.

Mas é difícil criar coragem num mundo cheio de escuridão. Escuridão essa que fazia me sentir insignificante e impotente.

Olhei para o celular e além das várias ligações perdidas da Brenda, Casey e Luke, notei que a bateria estava quase no fim. Lembrei-me da ligação de Lexa e procurei por alguma mensagem dela, mas não havia nenhuma. Imaginei que ela poderia estar chateada por eu ter desaparecido durante todo o dia, entretanto, ainda não estava pronta para conversar com ninguém. As novidades sobre o caso do meu pai me afetaram mais do que eu poderia imaginar.

Observei a noite cair sobre a cidade e fiquei por um momento analisando meus próximos passos. Reclinei o banco do carro e voltei a lembrar dos últimos acontecimentos. Todos esses pensamentos aumentavam gradativamente a minha dor de cabeça. Me sentia fraca, com náuseas e tontura. Após um tempo, consegui me acalmar para poder voltar a dirigir. Olhei para os lados e percebi que aquela parte do bairro a noite estava escura, com pouco movimento e, de repente, senti a necessidade de sair daquele lugar o mais rápido possível.

Merda! Gritei e bati as mãos contra o volante.

Era a sétima vez que tentava ligar o carro e não conseguia. Completamente irritada, após verificar que tinha combustível suficiente, desci e tentei abrir o capô, mas não tive forças. Voltei para dentro e apanhei minha bolsa.

— Mas que droga! Merda, merda... — Reclamei alto ao ver o celular sem bateria.

Encostei a cabeça no banco e fechei os olhos, respirando fundo. Repassei, mais uma vez, o dia em minha mente tentando me lembrar de como tudo ficou tão ruim de repente; de como saí dos braços de Lexa, mais cedo, e agora estava no pior lugar do mundo, com o celular e o carro sem bateria. Sentindo-me cada vez mais fraca, reclinei novamente o banco e relaxei o corpo.

Acho que não tem problema se eu dormir aqui. — Exausta, pensei e olhei em volta procurando algo para me cobrir. Eu estava tremendo por causa do frio.

Pouco tempo depois que fechei os olhos, um clarão preencheu todo o carro. Coloquei a mão entre a minha visão e a luz forte, tentando entender o que estava acontecendo. Logo o farol apagou-se e vi alguém em uma moto parada de frente a mim. A figura ficou por alguns minutos olhando em minha direção sem mover-se e eu engoli em seco. Normalmente eu teria agido de outra forma, mas a dor no meu corpo não me permitiu sair de onde eu estava. Ainda sentindo tontura, tateei, no escuro, dentro da bolsa, procurando a minha arma. Segurei a magnum 44 e esperei a pessoa aproximar-se. Com o coração acelerado eu a vi descendo da moto e vindo, lentamente, em minha direção.

Assim que a pessoa, vestindo calça e jaqueta preta, ainda usando o capacete, aproximou da porta do carro, me preparei para enfrentá-la.

Epinefrina. Esse hormônio, em momentos de stress, é o responsável por preparar nosso organismo para a realização de um grande feito. Minha pressão arterial se elevou tanto quanto as batidas do meu coração e sentindo a adrenalina percorrer o meu corpo, em questão de segundos, desci e apontei a arma.

— Sarah? — A voz saiu abafada de dentro do capacete.

— Conheço essa voz. — Pensei.

Franzi a testa confusa. A mulher levantou as mãos em um gesto de rendição e vagarosamente retirou o capacete.

— April? — Abaixei a arma e voltei a sentir tontura. — O que está fazendo aqui? Por Deus, April, eu poderia ter matado você!

Eu teria brigado com ela, mas a dor em meu estômago aumentou intensamente. Imediatamente, voltei a sentar-me no banco.

— Estou vendo que você está com problemas. Precisa de ajuda? — Rapidamente ela se aproximou.

Mesmo sem entender com clareza o que estava acontecendo, aceitei.

— Acho que foi a bateria. E o meu celular descarregou também. — Expliquei com a voz fraca.

Ela não fez nenhum questionamento.

— Vamos? Eu levo você para casa. — April ofereceu a mão e eu precisei de muito esforço para apoiar-me em seus braços.

Subi na moto kawasaki preta e abracei April. Eu queria perguntar como ela havia me encontrado, mas eu não me sentia bem para iniciar um diálogo naquele momento. Eu só queria ir para casa. A minha assistente acelerou e não demorou em chegarmos. Assim que desci da moto, vi o bugatti veyron de Lexa estacionado no meu jardim.

Merda! Eu preciso dispensar April antes que a minha namorada a veja. — Pensei.

— Haamm... Obrigado por ter me dado carona. Você já está liberada. — Eu disse com um sorriso torto na tentativa de ser a mais simpática possível.

— Nem pense nisso! Vou levá-la para dentro. Você não está em condições de andar sozinha. — April sorriu de volta e me puxou para ela.

Era verdade. Não soube identificar o que estava acontecendo, mas a fraqueza tomou conta do meu corpo. Sem pensar em mais nada, desejei a minha cama. Permiti que me levasse somente até a porta de casa, mas ela fez questão de entrar. Nos primeiros passos dentro da sala, Casey e Brenda ergueram-se do sofá, ao mesmo tempo, com cara de surpresa. Alexandra que andava de um lado para o outro, segurando as mãos atrás das costas, parou. O olhar furioso dela foi diretamente para a mão de April que estava em meu quadril.

O silêncio deu abertura para todos os tipos de pensamentos absurdos que eu vi aparecer na face de cada uma delas. Naquele instante, eu senti todos os meus sintomas aumentarem.

— Sarah não está bem. Vou levá-la para o quarto. — April proferiu, piorando ainda mais a situação.

Eu nem mesmo tive a chance de falar qualquer coisa.

Com passos largos e firmes Alexandra aproximou-se rapidamente de nós.

— Você não vai a lugar nenhum com ela! — Lexa disse com o tom áspero, a voz baixa.

Casey e Brenda aproximaram-se e eu, imediatamente, me afastei de April. Ao mesmo tempo Lexa a encarou com fúria.

— O que está fazendo com a minha namorada? — Ela perguntou sem rodeios.

— O que você não faz! Estou cuidando. — April respondeu provocativa.

Eu abri a boca, surpresa com as palavras e a sua audácia. Alexandra travou o maxilar e a minha assistente abriu um sorriso debochado provocando-a ainda mais. As duas se encaravam com ódio nos olhos.

— Você nunca mais vai se aproximar da Sarah! Eu vou garantir isso. — Lexa disse, ainda com o tom baixo, cheio de ira.

— Você não vai ficar com ela! Eu vou garantir isso! — April replicou com a voz grave.

— Isso é uma ameaça? — Lexa indagou.

— Entenda como quiser! — April não se deixou intimidar.

No segundo em que ela disse a última frase, Alexandra perdeu totalmente o controle e acertou um soco em seu lábio inferior. Casey e Brenda avançaram, agilmente, contra April e eu tentei alcançar a minha namorada.

— Lexa! Pare com isso! — Eu pedi. Com a visão embaçada, andei até ela.

Enquanto April limpava o sangue da boca com as costas da mão direita, continuava rindo com sarcasmo. Eu tentava chamar a atenção de Alexandra e só consegui quando coloquei a minha mão em seu rosto fazendo com que ela me olhasse. Eu precisava ajudá-la a se acalmar, pois estava tendo um ataque de raiva, mas não me sentia capaz. Milagrosamente ou não, assim que a toquei ela afastou-se de April e me segurou.

— Sarah? Sarah? — Lexa chamava por mim.

Ouvi a sua voz como um eco.

Antes de tudo tornar-se escuro, a última coisa que vi foram os olhos verdes que eu adorava.

***

Depois de um dia tenso e do episódio desastroso que envolveu eu, Lexa e April, tive um esgotamento emocional. Lexa contou que após eu ter desmaiado, Casey expulsou April da minha casa. Depois do colapso acordei no sofá e Alexandra andava, de um lado para o outro, irritada, conversando com minhas amigas. Começamos a discutir quando recusei ir ao hospital.

Brenda também não estava contente e com sarcasmo perguntou várias vezes o que eu tinha na cabeça para estar andando por aí armada. Na tentativa de explicar o porquê, contei a ela sobre ter voltado a praticar tiro ao alvo e ela me olhou, com os olhos arregalados, espantada. Ela odiava armas tanto quanto Lexa.

Quando Brenda perguntou por que ela não havia me impedido, Alexandra apenas disse que a decisão era minha e que não iria se envolver com isso. Mas, na verdade, Lexa era a única que sabia que o único motivo por eu andar com a arma na bolsa, era por causa do Chris.

No meio da discussão, Lexa insistiu em me levar ao hospital e só desistiu quando Brenda assegurou que eu estava bem, que era somente um esgotamento emocional e que eu precisava apenas de alguns dias de descanso. Não conseguindo convencê-la de ficarmos em minha casa, aceitei a sua proposta de passarmos alguns dias fora da cidade.

Saímos no dia seguinte, depois de ela ter ido a Ayers e ter declarado, antes do tempo previsto, recesso.

— Cuido da April quando voltarmos. — Ela disse, após quase uma hora em silêncio, no meio do caminho para nosso refúgio temporário.

Foi o suficiente para retomarmos a discussão e, como das outras vezes, terminou em sexo.

Alexandra parou o carro, fora da estrada, e transamos de forma urgente e ardente. Foi mais uma experiência inesquecível. Mesmo assim, ela continuava chateada e não fazia questão de esconder.

Horas depois acordei procurando por Lexa, mas eu encontrei apenas a meia cama vazia. Olhei para o banheiro e não havia nenhum sinal de que ela estava lá. Coloquei o robe que era dela e saí a sua procura. Desci a pequena escada indo em direção à única claridade do lugar. Aproximei e vi Alexandra sentada no tapete cinza felpudo, encostada no único sofá de frente à lareira.

Estávamos ao norte de Nova York no seu chalé extremamente confortável e charmoso. A paisagem em volta era lindíssima e ele ficava no meio do nada. O único lugar mais próximo era o Lake Placid, um restaurante em frente a um lindo lago.

Acomodei-me ao seu lado.

— Você continua chateada. — Comentei quando percebi que ela não fez questão de olhar para mim.

— Como se sente? — Ela perguntou com a voz doce.

— Estou bem.

Depois de todas as coisas que já tínhamos vivenciado, achei que estava na hora de me abrir para ela. Ou ao menos tentar! Eu não estava sendo justa em esconder as coisas que acontecia comigo e pensando na melhor maneira de iniciar o assunto, toquei suavemente em seu rosto e ela finalmente olhou para mim.

— Ela não vai continuar trabalhando com você! Especialmente depois do que ela disse. — Lexa retomou o assunto de horas atrás.

Ela engoliu em seco e percebi que estava tentando se controlar para não entrarmos em outra discussão.

— Lexa, eu vou conversar com April e tentar entender o porquê de ela ter agido daquela forma! — Minha voz saiu rouca e baixa.

Ela não comentou.

Eu pretendia demitir April e resolver, de uma vez por todas, esse problema com a minha namorada, mas antes eu precisava vê-la mais uma vez!

— Você não confia em mim! — Lexa afirmou.

Existia um pouco de verdade no que ela havia dito. Senti-me incomodada por ter me atentado a isso somente quando ela proferiu, mas ainda estava a tempo de corrigir.

— Eu confio em você!

— Não, não confia. — Ela me encarou. — April tem razão. Não estou cuidando de você. Eu não consigo cuidar de você porque é você quem me afasta! Você não se abre, não... — Suspirou e voltou a ficar em silêncio.

— O que você quer saber Lexa? — Perguntei com calma.

Alexandra umedeceu os lábios e respirou fundo. Ela sempre me deixava à vontade para conversar e perguntá-la sobre o que eu quisesse, mas assim como ela, eu sempre esperava a hora certa para entrar em nossos assuntos proibidos. Como nosso relacionamento acabou se intensificando e fortalecendo, ficamos mais íntimas e não fazia mais sentido manter-nos tão reservadas.

— Você... Ontem você ficou fora durante o dia todo. Aonde você foi? — Ela iniciou os questionamentos, sem parar de olhar para o fogo na lareira.

— Eu recebi uma visita de Luke Thompson, irmão de Brenda. Fui até o Departamento de Polícia com ele. — Mordi o lábio inferior e esperei a próxima pergunta.

— Brenda disse que provavelmente você estaria no Queens, mas não me disse onde e nem como eu poderia encontrá-la. — Suspirou pesadamente. Não era uma pergunta, mas um comentário que eu deveria explicar.

Brenda me conhecia o suficiente para saber que eu iria me martirizar após as notícias sobre o caso do meu pai. Para ela ter comentado algo desse tipo com Alexandra, deveria estar realmente preocupada comigo.

— Eu fui até o Queens depois que saí do Departamento. O que mais Brenda disse a você, Lexa? — Mudei de posição e fiquei de frente para ela.

Seus olhos encontraram os meus, desceram para os meus lábios, corpo e depois voltaram a me encarar.

— Ela disse que, algumas atitudes que você toma e essas coisas que acontecem, como o seu colapso nervoso, tem a ver com a morte do seu pai.

Eu assenti. Minha amiga sabia que já passava da hora de eu me abrir com a minha namorada.

— Obrigada, Brenda. — Agradeci mentalmente.

— Meu pai foi assassinado, Lexa. — Verbalizei, sem mais rodeios, e senti um nó se formando em minha garganta.

Surpresa, com a boca entreaberta, ela esperou eu continuar. Segurou imediatamente em minhas mãos quando me viu franzir a testa e respirar fundo, várias vezes. Eu não queria chorar. Queria continuar a conversar e a explicar tudo para ela, mas era realmente difícil entrar em detalhes, então, sobre o meu pai, foi apenas o que consegui dizer.

— Por isso foi ao Departamento de Polícia? — O tom de voz dela mudou de áspero para preocupado.

— Sim. Infelizmente, eles ainda não descobriram quem o... Quem o matou. Ontem o detetive Curtis conseguiu novas pistas e por isso precisei ir até lá.

— Detetive Curtis? Michael Curtis? — Lexa perguntou em espanto.

— Sim. Você o conhece?

Ela abaixou a cabeça, porém não respondeu.

— E o que você estava fazendo no Queens?

— Foi onde o crime aconteceu.

Ela ficou imóvel, raciocinando o que eu havia relatado.

— Lexa? — Chamei sua atenção. — De onde você conhece o Detetive Curtis?

E foi a minha vez de perceber que ela também guardava algo que não havia compartilhado comigo. Aquele era o momento de dizer a verdade, de demonstrar confiança e ela sabia disso tanto quando eu. Dei o tempo necessário para ela organizar os pensamentos antes de explicar.

— Sinto muito. — Ela disse com sinceridade.

Lexa ficou mais um momento em silêncio e depois voltou a falar:

— Parece que temos mais algumas coisas em comum, Sarah!

— Como assim? O que quer dizer? — Perguntei curiosa.

— Os meus pais também foram assassinados. — Relatou.

— O quê? Não! — Balancei a cabeça negando.

— Foi o detetive Curtis quem investigou o caso.

— Não! Você disse que eles tinham sofrido um acidente de carro! — Comentei com a voz mais alta que o necessário.

Lembrava-me perfeitamente do dia em que estávamos na banheira do meu quarto conversando sobre o assunto. Recordei de como ela tinha ficado tensa e agora fazia sentido o seu comportamento naquele dia. Ela ficou em silêncio, esperando eu absorver a informação.

— Lexa! Meu Deus! O detetive Curtis solucionou o caso ou...?

— Sim! — Ela voltou a fitar a lareira e travou o maxilar, como fazia quando estava irritada.

— Quer contar o que aconteceu? — Agora era eu quem segurava a sua mão, tentando passar algum conforto.

— Há mais ou menos um ano, quando os meus pais morreram, o detetive Curtis foi o primeiro a chegar ao local onde aconteceu o acidente e ficou com o caso. Pedi toda a atenção nas investigações. Ele descobriu que o carro havia sido sabotado por um funcionário da empresa chamado John Myers. Ele trabalhava como um simples faxineiro. Bem, isso era o que pensávamos. — Deu de ombros. — Curtis acreditava que ele estava infiltrado a mando de alguém. John foi preso e, após o julgamento, condenado. Mesmo assim, até hoje não disse o nome da pessoa para quem ele, supostamente, trabalhava.

— Então o caso ainda está aberto? — Insisti.

— Não. Mesmo Curtis supondo que havia mais alguém por trás, o caso foi encerrado quando Myers confessou o crime. — Suspirou. — Eu sei que não teria controle o suficiente para vê-lo, mas Henry o visita com certa frequência. Alguns meses atrás Myers contou a ele que tinha muito mais nessa história do que poderíamos imaginar, mas só diria com a condição de o ajudarmos a sair da prisão.

— E você tem poder para isso? Tem como livrá-lo da prisão? — Questionei.

— Sarah, infelizmente, quem tem dinheiro sempre tem poder. — Ela riu sem humor.

Lexa continuava concentrada nas labaredas do fogo que aquecia a sala. Eu estava impressionada com a história que ela tinha acabado de relatar e com a sua força. Eu não seria capaz de suportar ver o assassino do meu pai vivo e ela, não só sabia onde ele estava, como, de certa forma, mantinha contato com ele. Analisando tudo o que havia dito, e conhecendo o seu gênio forte, deduzi que, na verdade, ela queria descobrir quem havia mandado assassinar os seus pais e, assim como o meu, esse era o seu objetivo.

— Estamos no mesmo barco! — Deduzi.

— Sim. A única diferença é que você tem a ajuda da polícia. — O fogo deixou de ser atraente e ela me encarou.

— Sinto muito Lexa! — A puxei para um abraço para nos reconfortar.

— Sarah? Você acredita em coincidências? — Ela afastou-se e perguntou.

Nossos pais eram empresários, tecnólogos e foram assassinados. Nós duas assumimos as empresas e nós duas estávamos em busca da verdade. Coincidência? Teria sido também coincidência nosso primeiro encontro, não marcado, em uma festa que não queríamos ir? A fantasia parecida, o gosto pelo sexo brutal, o temperamento forte... Tudo isso eram apenas coincidências?

— Não! Eu não acredito que as coisas aconteçam por acaso. — Afirmei.

— O que você teria feito se estivesse em meu lugar? Como você agiria se ouvisse alguém dizer que não iria permitir você ficar comigo?

Analisei a sua indagação enquanto lembrava-me da cena entre ela e April. Provavelmente eu teria a mesma reação.

— Acho que não gostaria de ver alguém tão próximo de você, mas não tenho certeza de como iria agir em uma situação como essa. — Disse fitando-a.

— Nós somos parecidas, Sarah. — Ela deu um sorriso milímetro. — E você teria feito o mesmo!

A afirmação de Lexa referente à April chamou a minha atenção. Senti que as suas palavras não eram exatamente sobre a minha assistente, mas uma constatação de como eu era. Não concordei com Lexa e acredito que não foi preciso. Ela estava convencida da sua sentença e eu em dúvida do que realmente seria capaz.

Lexa deu o sorriso torto que eu adorava e eu avancei sobre ela, beijando-a calorosamente.

Começamos a quebrar a barreira no que se referia aos nossos assuntos proibidos. Eu ainda não tinha relatado tudo e ela também não, mas era um começo. Com mais uma "coincidência", queríamos aprofundar nossa relação com calma. E sendo sincera, eu não tinha nenhuma pressa quando o assunto era Alexandra Ayers. Queria aproveitar cada segundo ao seu lado e aproveitar cada momento de prazer que ela me proporcionava.

Mais uma vez entreguei-me a ela com a paixão e a luxúria que nos pertenciam.

Amamo-nos, no tapete da sala, sendo aquecidas pelo fogo ardente da lareira e dos nossos corpos.

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