VERMELHO CEREJA

De ssjcandie

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Recém formada em fotografia, a jovem Shuhua Blue Smith assiste seu mundo inteiro virar de cabeça para baixo q... Mais

I N T R O.
S E S S Ã O D E F O T O S.
L Á B I O S V E R M E L H O S.
J A N T A R.
M I A M I.
C A B I N E.
T E P T.
C A R R O.
M I L A N.
F A S H I O N W E E K.
N O L A N V A L L E Y.
T H R E E S O M E.
C O L L A T E R A L D A M A G E .
C U R A R O N D E D Ó I.
L I B E R D A D E.
R O S A S.
L Í R I O S.
A B S O L U T E.
T H E A G N O L E T T O.
S E R D I G N A.
N A S C E R D O S O L.
S O O J I N × S H U H U A
P E R D O A R.
A C E R T O D E C O N T A S.
G A R O T A P R O D Í G I O
C A S A.
P L A N O.
O S A P O & E S C O R P I Ã O.
O F I M.

S O O J I N A G N O L E T T O.

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De ssjcandie

EU TINHA EXATOS SEIS ANOS DE IDADE quando fui adotada por Kathleen e Louise Blue Smith. Eu as conheci dois anos antes, quando eu ainda tinha quatro e estava assustada demais para confiar em qualquer um que não fosse as irmãs do orfanato. Fui deixada em frente ao local ainda com poucos meses de nascida, não tenho nenhuma lembrança de meus pais biológicos, a não ser a pequena estrela de Davi que deixaram pendurada em meu pescoço quando me largaram lá.

Lembro de mim como uma criança muito quieta, não gostava de fazer contato com as outras e, certamente não confiava em ninguém que não fosse a irmã Sarah, uma senhorinha muito adorável que cuidou de mim desde o dia em que fui deixada na frente do orfanato.

Quando os adultos visitavam o orfanato, eu rezava para que não me escolhessem porquê, na época, em minha cabecinha muito ingênua de criança abandonada, meus pais voltariam para me buscar em algum momento. E, bem, não, não aconteceu mesmo. Foi quando Kathleen e Louise entraram em ação.

Por alguma razão, que até hoje não consigo entender muito bem, elas não desistiram de mim. Nem quando eu fugi da casa delas. As duas vezes. O que posso dizer? Eu era uma criança realmente muito difícil de lidar, apesar de silenciosa.

Aos poucos, elas foram ganhando minha confiança e eu acabei cedendo. Quero dizer, é claro que eu iria ceder! Por mais desconfiada que fosse, Kathleen e Louise tinham muito amor para dar, e elas se certificaram que eu iria receber isso todos os dias da minha vida enquanto estivesse com elas.

Quando nos conhecemos, Kathleen ainda estava em ascenção como modelo, e eu deveria dizer, ela era sim, uma das melhores da época. Minha outra mãe, Louise, não tinha um destino muito diferente ao da moda. Ela era uma das subchefes das jornalistas da Vogue de Nova York, o que acabou evoluindo, tempos depois, para vice-presidente.

Hoje em dia, aos quarenta e três anos, mamãe Kathleen é modelo aposentada. Mas isso não significa que tenhamos algum tipo de descanso dos holofotes. Ela ainda tem muito destaque, as modelos novatas morreriam para algum tipo de conselho da mamãe. Kathleen é modesta, de montão, e não gosta muito de ouvir o poder que tem no mundo da moda, mas bom, ela ainda tem, e demais. Mãe Louise, por outro lado, é do tipo que gosta de verdade de atenção. As pessoas se preocupam com o que ela escreve, elas realmente sentam atrás de um computador e tremem da cabeça aos pés por uma opinião de minha mãe.

Há, também, Lino, meu irmãozinho mais novo de sete anos. Com ele, as coisas foram diferentes. Ele foi gerado por mamãe Kathleen, o que significava que, de alguma forma, ele era filho legítimo delas. Na época, me senti enciumada com o fato de uma criança tirando completamente a atenção de minhas mães. Mas, quando Lino nasceu, eu acho que fui a mais emocionada com sua chegada.

Meu irmãozinho é um pequeno gênio prodígio, e acho que isso está no sangue, de alguma forma. Ele é mais inteligente e antenado que as crianças de sua idade, aprendeu a tocar piano aos cinco, e entrou para a escolinha de futebol aos seis.

E, por fim, e não tão importante como deveria, tem eu, Shuhua. Nunca me preocupei em realmente perseguir algo que me ligasse ao mundo da moda - eu odeio qualquer coisa relacionado à isso, que fique bem claro - e minhas mães nunca me pressionaram para isso. Quando criança, dizia que queria ser desenhista, meus desenhos eram horríveis e eu não sabia colorir nas margens devidas. Mesmo assim, mamãe e mãe me apoiaram.

Aos nove anos de idade, a coisa mudou completamente de figura e então, eu queria ser advogada. Em partes, mamãe Kathleen ficou surpresa com a escolha, mas feliz e eu via nos olhos dela que estava torcendo para que eu não mudasse de ideia; ela sempre achou o máximo o fato do filho de sua prima ser advogado.

Mas é claro, ao decorrer dos anos, eu percebi que minha cabeça mudava muito, o tempo todo. Fui levada à uma psicóloga com doze anos, eu tinha alguns traumas terríveis sobre ser abandonada, chorava todas as noites quando mamãe Kathleen tinha que fazer alguma viagem porquê pensava que ela iria me deixar. Além do mais, a ansiedade começou a agir cedo no meu caso, foi quando minhas mães tiveram a ideia de aconselhamento.

No começo, era um verdadeiro constrangimento me sentar de frente para uma completa desconhecida e falar sobre meus sentimentos. Becca, minha terapeuta, não desistiu. Ela era persistente, mas bonita e legal, e seu sorriso era tão suave e confortável, que me fazia sentir em casa.

Depois de alguns meses, consegui me abrir com elas sobre alguns medos. Não completamente, mas já era algo.

Aos treze, fui diagnosticada com TOC. Não foi fácil, no começo, e a todo momento eu tinha a sensação de que tudo iria desmoronar. Eu via nos olhos de minhas mães que era uma situação completamente difícil, mas, pelo menos, eu estava aberta a ser ajudada, e elas me apoiaram e ficaram ao meu lado do começo ao fim. Nunca me deixaram.

Nesse meio tempo, enquanto mãe Louise e eu voltávamos do aeroporto - mamãe Kathleen havia acabado de embarcar em uma viagem - sofremos um acidente de carro. Eu não sei bem o que aconteceu, não me lembro, mas foi uma pancada bem forte. A próxima coisa que sei, quando acordo, é que eu tinha acabado de fazer quatorze anos e que eu havia perdido um ano inteiro de minha vida.

Nos primeiros meses, era um cuidado em excesso comigo, mamãe Louise se culpava demais porquê era ela quem estava dirigindo o carro. Por sorte, Lino - que ainda era um serzinho minúsculo - havia ficado com nossos avós em casa, então nada realmente aconteceu a ele. Mãe Louise quebrou a perna e veio a ter alguns arranhões pelo rosto, acho que era isso que a fazia sentir imensamente culpada, na realidade. Eu fiquei em coma, perdi um ano inteiro da minha vida, e aquilo a destruía.

Os primeiros dois meses foram os mais difíceis. Tive que me acostumar com minhas limitações, além do TOC. Com a pancada que tive na cabeça por conta do acidente, acabou acertando meu hipocampo, no córtex pré-frontal, o que afetou minha memória a longo prazo.

A memória a longo prazo, para os desinformados, basicamente é a capacidade de manter a informação recente de poucos dias atrás até décadas. E foi o que perdi. Me lembrava, sim, de quem são minhas mães, meu irmãozinho, e até minhas amigas mais próximas. Mas eu não me lembrava sobre o acidente, ou sobre a adoção e metade das coisas que aconteceram comigo há cinco anos atrás.

Foi a partir desse acidente, que algumas coisas começaram a desandar.

Eu achei que as coisas ficariam bem com o tempo e que eu poderia viver tranquilamente depois do acidente, obviamente pensei errado. Eu havia acabado de completar quatorze anos, meus desejos sexuais estavam borbulhando como vulcão escaldante. De começo, pensei que era algo normal porquê estava entrando na pré-adolescência. Foi o meu primeiro contato com pornô. Eu me lembro de pensar, que era completamente esquisito assistir um homem e uma mulher juntos numa tela, me deixava desconfortável, apesar de excitada.

Então eu troquei. Sexo entre mulheres. Apesar de achar algo totalmente forçado, eu gostava. Me masturbava com frequência, e por vezes até mesmo achava tão errado, que eu chorava após fazer. Depois de um tempo, eu não conseguia mais parar.

Voltei para a escola depois de seis meses, minhas amigas me ajudaram com as matérias que perdi, o que era ótimo, mas o acidente ainda me atrapalhava, em partes. E eu não contava para ninguém. Nem sobre as fortes dores de cabeça que sofria frequentemente, e nem sobre como eu deixava meu professor de história me tocar lá, mesmo sabendo que era errado. Eu deixava porquê gostava.

As vezes, era insuportável e me afetava nas mínimas coisas. Tinha momentos que eu precisava pedir para ir ao banheiro na escola porquê doía, eu sentia que precisava de um alívio. Perdi a conta das vezes em que me masturbei no banheiro do colégio. E, uma vez, na sala de aula. Ninguém percebeu, e isso eu agradeço até hoje.

Quando completei quinze anos, foi quando perdi minha virgindade no banco do carro da irmã mais velha da minha amiga. Eu tinha quinze e ela vinte e quatro. Pareceu errado no momento, mas depois dela, tiveram várias.

Denise de dezenove, eu a conheci na escola. Nós flertamos alguns dias e eu conseguia sentir seu olhar por meu corpo. Não ia mentir, eu sabia que tinha sim atributos e que atraía olhares. Deixei que ela me chupasse na biblioteca da escola.

Depois de Denise, teve Dianne, de dezesseis. Ela era da minha sala de computação. Não houve muito papo, na verdade, nós só fizemos. E foi bom, eu admito. Mas ainda não era o suficiente.

Logo após Dianne, eu conheci Mike, o irmão mais velho de um coleguinha de Lino. Ele tinha vinte e um, não era tão atraente assim, mas era bonito e tinha um papo okay. Foi a primeira vez que um pênis entrou em mim. Não foi ruim, é verdade, mas eu ainda preferia as garotas.

É lógico, depois de Mike tiveram tantas outras garotas e garotos, que eu nem consigo contar.

Quando fiz dezessete, foi quando tudo desmoronou de verdade. Havia ido visitar mãe Louise na Vogue, acabei chupando a secretária dela na mesa de trabalho. Ela entrou, viu o que acontecia, e gritou tanto, que os seguranças correram para o andar de cima.

Victoria, a secretária, foi demitida e processeda. Ela tinha vinte e quatro na época, eu dezessete. Segundo minha mãe, era estupro. Mamãe Kathleen chorou muito, ela ainda achava que eu era virgem. Foi quando contei. Cada detalhe, sobre cada parceiro sexual que tive.

Elas procuraram ajuda para mim, acharam que eu estava sendo seduzida. Pobrezinhas, eu é quem seduzia os caras mais velhos e as mulheres também.

Minhas mães queriam me arrumar outra terapeuta, eu recusei. Gostava demais de Becca para me arriscar com qualquer outro psicólogo. Eu me abri, contei a ela tudo o que sentia. Desde as dores na cabeça, a vontade incessante de ser tocada.

- Você sofre de Hipersexualidade, Shuhua, não há dúvidas.

Foi o que ela disse na época. Dias depois, marcou uma sessão comigo e minhas mães.

- Shuhua sofre do que chamamos hipersexualidade, senhoras.

Elas choraram demais, mas a verdade é que nenhuma das duas sabia o que significava. Nem eu sabia.

- A hipersexualidade é um transtorno sexual caracterizado por um nível elevado e incontrolável de desejo e atividade sexual a ponto de causar prejuízos na vida do indivíduo. É por isso que Shuhua procura cegamente alguém que possa a satisfazer, mesmo que isso desafie seu próprio discernimento entre o certo e o errado ao buscar por pessoas mais velhas. - Becca explicou. Então caiu a ficha, eu era uma ninfomaníaca.

Louise me olhou, chocada, enquanto Kathleen só sabia de chorar.

- Como pode? - mãe Louise parecia inconformada. - Shuhua nunca teve... Acesso a pornografia ou a... Sexo. Como isso aconteceu?

- Pessoas que sofrem lesões frontotemporal do cérebro estão em risco aumentado de comportamentos sexuais socialmente inadequados, como hipersexualidade, senhora Blue Smith. A hipersexualidade também pode estar ligada à depressão e ansiedade. Alguns indivíduos podem evitar emoções difíceis, como tristeza ou vergonha, buscando alívio temporário em práticas associadas ao comportamento sexual compulsivo. Os desejos sexuais muito intensos, portanto, podem mascarar outros problemas, como depressão, ansiedade e estresse.

Foi terrível. Eu não sabia como lidar, e muito menos minhas mães. Mas Becca foi de grande ajuda durante o tratamento. As vezes, ela atendia chamadas desesperadas de minhas mães em plena madrugada.

Eu comecei a tomar rémedios para controlar o impulso e o desejo sexual. Não era o suficiente, eu ainda precisava me satisfazer, mas ajudava porquê me mantinha sonolenta, então tudo bem.

Depois de alguns anos, Becca me fez enxergar que eu poderia viver uma vida completamente normal, se eu tomasse os rémedios. Não hesitei, tomei todos eles porquê eu não queria ser uma grande depravada e não queria arruinar a imagem de minha família.

Alguns anos depois, eu finalmente decidi o que queria fazer da vida. Fotografia. Era a minha paixão. Eu amava, e certamente era boa no que fazia, minha família concordava.

Quando anunciei que, aos invés de advocacia ou artes, iria me tornar uma fotógrafa, elas ficaram mais felizes do que eu imaginava. Em partes, sei que estavam orgulhosas de eu ter conseguido seguir uma vida normal após o acidente, mas também sabia que elas estavam felizes de verdade pela minha escolha.

- Você vai ser a melhor, não há dúvidas.

Foi o que mãe Louise disse na época.

- Você não me acordou!

Essa sou eu, correndo escada abaixo, completamente desesperada e com o cabelo todo alvoroçado enquanto calço meu all star vermelho.

- Eu deveria? - essa, sentada na bancada da cozinha enquanto se enche de cereal com leite, é Song Yuqi, minha melhor amiga e com quem divido um apartamento. - Você está toda descabelada, onde vai?

- Trabalho, Yuqi! - exclamei exasperada. - Você se esqueceu que hoje é a minha entrevista e que eu não poderia me atrasar?

A minha amiga me olha com seus olhos grandes e brilhantes, parece sentir culpa, depois um pequeno bico se forma em seus lábios e ela franze a testa.

- Caralho, me desculpa! - bateu na própria testa, me vendo revirar os olhos enquanto rapidamente colocava a blusa. - Eu acabei me esquecendo que era hoje, Shuhua!

Eu parei, ofegante, e coloquei as mãos na mesa da cozinha enquanto tentava recuperar meu fôlego.

- Se eu não conseguir esse emprego, vamos ter que morar debaixo da ponte! - é claro que eu exagerei, sempre exagerava, e isso causava boas risadas de Yuqi.

A minha melhor amiga parou sua ação de levar a colherada de ceral e leite até a boca para me olhar com seus olhos céticos.

- O que foi? - perguntei afobada enquanto abotoava os botões da minha blusa.

- Não vamos morar na rua porquê você tem uma mansão bem grande nos esperando em Upper East Side.

Revirei os olhos com sua fala e alcancei uma banana da fruteira.

- Eu já te disse, Yuqi, nós duas não vamos morar na casa das minhas mães! - gritei já da porta.

Consigo ouvir alguns resmungos da minha amiga, mas nada muito coerente para entender.

- Leva um casaco, tá frio abeça! - gritou de volta.

Eu pego um táxi quando saio de meu apartamento, sorrindo forçado para o motorista que é simpático ao extremo quando conta sobre sua trajetória de vida até aqui. Por alguns instantes, fico realmente feliz que ele fale sobre sua família e não sobre a minha.

Geralmente, as pessoas costumam me reconhecer em lugares públicos por conta da carreira de minhas mães. Embora ambas tenham entrado em consenso sério sobre manter Lino e eu afastados de toda essa loucura de gente famosa, era praticamente impossível que deixassem os filhos da grande crítica da moda e a modelo mais bem paga dos anos 90 de fora dessa.

E, okay, eu sei o que estão pensando; se eu odeio tanto esse mundo, por quê caralhos me tornei uma fotógrafa? Ou melhor, por quê aceitei a proposta de fotografar modelos?

É bem simples, na verdade; eu realmente amo o que faço e, para ser honesta, eu odeio de verdade tudo o que envolve moda, mas sabe o que eu amo pra caralho? Dinheiro! Na verdade, acho que não existe ninguém que desgoste de uma graninha.

Quando comecei a trabalhar, incialmente fazia books para mães grávidas, formatura e até mesmo aniversários de quinze anos. Mas aqui vai uma dica; não é o bastante caso você queira morar sozinha. Então, quando minha mãe Kathleen me disse que uma de suas amigas modelo estava precisando de uma fotógrafa pessoal e perguntou se gostaria que me ajudasse nisso, minha primeira reação foi dizer um não bem grande para ela.

Não é que não aceitasse ser ajudada, e, acredite, minhas mães tem muito disso mesmo quando me recuso veemente. Mas acontece é que saí de casa para ser independente, sabe? Eu queria algo próprio, não ser priveligiada por ser filha das Blue Smith.

Mas, voltando a questão de dinheiro, eu estava e estou realmente dura e precisando de algo para me manter no apartamento com Yuqi. Foi por isso que mamãe e eu combinamos o seguinte; ela iria me arranjar uma entrevista com essa amiga modelo, e não fazer com que eu adquirisse o trabalho logo de cara sem precisar de me esforçar.

Enviei alguns portfólios do meu trabalho para mamãe e ela enviou para essa amiga, é por isso que aqui estou eu.

- Está entregue, minha jovem. - o motorista virou o rosto para me encarar com um sorriso amigável.

- Muito obrigada, senhor Ramirez. - estendi o dinheiro, também sorrindo. - Aqui, pode ficar com o troco.

Ele me olhou de lado, desconfiado, e depois arregalou os olhos.

- Espera! Você não é a filha daquela modelo famosa que se aposentou? - lá vamos nós...

Forcei um sorriso e sacudi a cabeça em afirmação.

- Meu Deus! Você não tem ideia do quanto minha esposa amava o trabalho da sua mãe. - ele sorriu grande. - Bem, vou confessar, eu também a amava.

- É, minha mãe costuma causar essa reação nas pessoas. - cocei a nuca meio sem graça.

- Posso tirar uma foto sua? - perguntou. - Minha esposa não vai acreditar se eu contar!

Eu arregalei os olhos, negando rapidamente com a cabeça. Mamãe Kathleen sempre foi adepta as câmeras, é óbvio, assim como mãe Louise, mas não eu! Sou um completo desastre e odeio tirar fotos.

- Talvez outra hora, senhor Ramirez. - me apressei a abrir a porta do carro, não dando chances para ele reclamar. - Preciso mesmo ir, estou atrasada!

Bati a porta do carro e dei tchauzinho com um pequeno sorriso antes de adentrar o grande prédio moderno. Obviamente, era grande, com muitas pessoas bem arrumadas entrando e saindo, talvez algumas me olhando de forma estranha porquê, bem, eu não era uma pessoa da moda...

Voltando a decoração do prédio, o teto era branco, as portas de vidro, tudo muito aberto, e o chão de madeira maciça. Claro, gente rica ama exibicionismo...

- Ei, oi! - eu me aproximo rapidamente da recepção, me sentindo ligeiramente incomodada com o olhar de desdém que a loira me lança.

- Pois não? - pergunta com certa ironia, passando seu olhar para minhas roupas. Está vendo por quê odeio tudo no mundo da moda, mesmo ironicamente minha mãe sendo uma ex modelo?

- Tenho uma entrevista marcada com uma das modelos para as cinco da tarde, e, bem, sei que estou realmente muito atrasada e talvez, só talvez eu tenha perdido essa oportunidade porquê meu maldito celular resolveu não tocar essa tarde, mas-

A loira de farmácia ergeu uma das mãos, obviamente pedindo para que eu calasse meu monólogo sem fim.

- Pode me dizer seu nome, querida? - ela questiona com uma má vontade que tenho vontade de estapear esse cabelinho e roupas fru-fru.

Se acalma, Shuhua.

Puxei uma longa respiração, vendo a mulher tomar posse do computador em sua frente, esperando que eu respondesse sua pergunta.

- Shuhua... - uma pausa dramática, vendo a loira me olhar com tédio. - Shuhua Blue Smith.

Depois que digo meu nome, um certo tipo de mágica parece acontecer, porquê logo em seguida as alterações de humor daquela mulher não é brincadeira não. Primeiro, ela arregala seus olhos azuis, passando seu olhar novamente por meu rosto e roupa.

Deve estar pensando: como é que a filha de Kathleen e Louise Blue Smith se veste dessa forma?

Quase dou risada de sua reação, mas me obrigo a ficar séria quando ela ajeita a postura, limpando a garganta meio sem graça.

- Mil perdões, senhorita Blue Smith. - ela passa a mão trêmula pela testa. - Não fazia ideia de quem era, sinto muito mesmo.

- Tudo bem. - eu digo, me curvando sobre o balcão. - Será que você pode adiantar para mim, por favor? Realmente tenho uma entrevista e estou muito, muito atrasada.

- É claro, é claro! - ela assente rapidamente. - A senhorita irá pegar o elevador para o antepenúltimo andar, é onde ocorre as sessões de fotos.

- Eu... Pensei que seria entrevistada antes. - franzi a testa.

- A senhorita Agnoletto exige que suas fotógrafas sejam entrevistadas nesta sala. - respondeu educada. - Para sua sorte, ela ainda não chegou, então você não perdeu nada.

Eu faço que sim, sorrindo nervosa antes de me despedir para entrar ao elevador. Olho impaciente para as portas metálicas, torcendo para que aquela coisa andasse mais rápido. Aperto as mãos uma na outra tentando conter a ansiedade que atravessa meu corpo. Eu não sei muito sobre essa amiga da minha mãe, nada além de seu sobrenome, que sei ser Agnoletto. Pelo que Yuqi me disse, ela é uma das queridinhas da atualidade e faz jus as críticas positivas. Mas, como disse antes, não me ligo a esse mundo e, provavelmente, as únicas modelo que realmente conheço é minha mãe e Kendall Jenner.

Um suspiro de alívio escapa de meus lábios quando as portas metálicas do elevador se abrem, é quando disparo como uma louca para o fim do corredor onde estaria a sala que a recepcionista antipática me falou.

Tremendo da cabeça aos pés, eu abro a grande porta de madeira, reconhecendo as enormes janelas de vidro que haviam na sala. Decorada em cores pastéis, dois sofás de cor neutra bem ao canto, iluminada por luzes coloridas, um tipo de local onde as modelos poderiam se trocar e uma máquina de refrigerante.

Quando eu viro o rosto para o parte central, congelo a mão na maçaneta ao captar alguns rostos me encarando com curiosidade. Jesus, parece que vou morrer agora mesmo!

- Eu posso ajudá-la, meu bem? - um dos homens pergunta, cruzando os braços no peitoral enquanto me encara de baixo para cima.

- Ah... - eu largo a maçaneta de imediato, coçando a bochecha que sei muito bem estar vermelha. - Eu sou...

- A fotógrafa! - uma loira baixinha usando terninho feminino me interrompe, mas diferente da mulher da recepção, essa sorri verdadeiramente e não parece realmente se importar com minhas roupas, o que não cabe ao resto das pessoas desta sala. - Reconheci pela câmera. - ela aponta, se aproximando de mim e estendendo sua mão. - Eu me chamo Soyeon, faço parte da assessoria de imagens de Soojin.

Eu aperto sua mão, escondendo completamente o estado confuso que me encontro.

Ela faz parte da assessoria de quem?

- Oi! - eu digo, e sei que minha voz sai mais alta do que deveria porquê isso acontece muito quando estou com vergonha. - Eu estou um pouquinho atrasada e...

- Ah, não tem problema! - Soyeon solta minha mão, sorrindo docemente. - Soojin também está um pouco atrasada hoje, vamos fingir que isso não aconteceu. - piscou ela, me fazendo emitir um sorriso verdadeiro pela primeira vez desde que pisei nesse prédio. - Muito bem, pessoal! De volta para seus trabalhos!

É o tempo dela dizer isso, e então todos estão voltando a cuidar de suas vidas, tirando os olhos de nós duas.

- Sua mãe falou muito de você, Shuhua. - ela colocou a mão nas minhas costas, me guiando para o centro da sala. - Muitos elogios saíram, devo admitir.

- Ah... - eu rio sem graça. - Minha mãe exagera um pouco, sabe como é.

- Na verdade, ela não exagerou dessa vez. - nós paramos no meio da sala e ela me encara com um sorriso suave. - Andei passando o olho por seu portfólio, sua mãe não estava mentindo quando disse que seu trabalho era uma verdadeira obra de arte.

- Aí, meu Deus! - escondi o rosto nas mãos. - Minha mãe disse isso? - perguntei, ouvindo sua risada melodiosa eclodir por meus ouvidos.

- Ela não estava errada, no entanto. - Soyeon balançou os ombros. - Vamos, não seja tão modesta! Você trabalha muito bem em suas fotos, meu bem, e tenho certeza que Soojin e você vão conseguir entrar em um consenso. - ela piscou, retirando o celular do bolso.

Eu faço que sim, ainda ponderando se deveria fazer a pergunta mais estúpida da minha vida.

- Soojin é a modelo? - quando eu parei para perceber, já havia perguntado.

E sei que foi idiotice quando Soyeon retira os olhos do celular lentamente para me encarar, incrédula.

- Você não conhece Soojin? - ergue a sobrancelha.

- Bem, talvez eu já tenha visto alguma foto. - balanço os ombros.

- Com certeza você já viu, querida. - ela ri, e eu me calo.

Não tenho a oportunidade para dizer qualquer coisa para rebater a altura, porquê logo em seguida conversas eram ouvidas do lado de fora da sala, e então eu soube que o momento havia chegado.

A voz era madura, melodiosa, doce e na mesma proporção rígida e intimidadora. Sei que aquela era a tal modelo apenas pelo alvoroço que a sala se encontrava, todos correndo de um lado para o outro tentando arrumar água com gás, uma cadeira confortável e frutas.

- Eu não disse mil vezes que ninguém além de Soyeon está autorizado a estacionar em minha vaga do prédio? - o tom de voz autoritário se faz presente, mas eu não ergo meu olhar para encará-la. - Não, não sei como vão prevenir que outro idiota estacione sua lata velha em minha vaga, e isso tão pouco me importa! Ah, e diga para Jason que não estou interessada em posar nua para a capa de sua revista. Será que é tão difícil entender isso?

- Não, senhora. - a voz responde baixinho.

- Então por quê ainda não saiu da minha frente para dar a notícia para esse rato de cabelos brancos? Estou cercada de incompetência e vocês me mostram isso a cada dia m... - escuto como ela interrompe sua fala, então consigo ter uma ideia do que está acontecendo.

Ela me notou.

De primeira instância, eu encaro os sapatos vermelhos cor sangue que parecem ser caríssimos, e então a meia calça preta de renda que ajusta muito bem em sua coxa grossa. Tomando coragem para subir o olhar para a mulher desconhecida, eu inspiro o ar com força e levanto a cabeça timidamente para finalmente encará-la

Sua beleza é... Ela não parece alguém que precise se esconder atrás de maquiagem ou roupas caras porquê aí está um fator que devemos levar em conta: sua beleza é genuína.

Ela não precisa se esforçar quando seus lábios são carnudos o suficiente para que o batom se encaixe como uma luva, as bochechas são recheadas, mas o corpo esbelto e muito bem torneado como nunca vi numa modelo antes. Seus cabelos são lisos, vermelhos e muito bem hidratados, é óbvio. Mas, dentre todas essas coisas, o que realmente me tira o fôlego é seu olhar.

Eu não sei o que é, mas há algo na maneira em que ela me olha e parece se divertir com o quão atordoada eu estou por sua beleza.

A modelo puxa um fôlego - o que pareceu mais como um suspiro irritadiço do que qualquer outra coisa - e acompanha o olhar da mulher ao meu lado, até a mim.

- Isso aqui, por acaso, virou algum tipo de circo de horrores? - ela pergunta, e então eu tenho a absoluta certeza de que essa desgraçada está falando sobre mim e minhas roupas, seu olhar não mente.

Eu olho ao redor, captando os olhares de pena que lançam por saber o óbvio; acabo me tornar alvo da mulher cujo tenho a plena certeza que seus desejos são puros em fazer diversão as minhas custas.

Onde é que fui me meter?

- Soojin, essa é Shuhua. - Soyeon se apressa em me apresentar para a modelo, mas não faço questão de me mover do lugar, não quando minhas pernas estão igual duas gelatinas. - Shuhua Blue Smith, a nova fotógrafa.

Quando Soyeon diz meu sobrenome, encaro o rosto da modelo com total atenção, tentando reconhecer algum tipo de arrependimento em sua atitude. Normalmente, quando conheço pessoas, sejam elas influentes ou não, é exatamente dessa forma que sou tratada pelo modo que me visto, mas... Uma vez que escutam meu sobrenome, tudo parece mudar de figura.

Mas não com essa mulher. Ela olha para Soyeon, depois me encara com o tédio evidente no rosto, e gesticula para uma das assistentes recolher seus pertences.

- Nova fotógrafa? - a tal Soojin junta as sobrancelhas em confusão. - E o que aconteceu com a última?

Ao meu lado, Soyeon puxa uma longa respiração como se estivesse pedindo por paciência.

- Ela pediu demissão, Soojin. - a baixinha diz com cautela. - Depois de você gritar com ela na frente de todos da campanha e chamá-la de inútil.

Eu abro a boca, chocada, e encaro a mulher com meus olhos arregalados. Ela não parece se importar, entretanto, porquê a expressão desinteressada não se altera em momento algum.

- Bem, - ela começa, e é quando eu sei que alguma merda iria sair de seus lábios carnudos. - eu não trabalho com pessoas incompetentes e você sabe muito bem disso. Se gritei com ela, tive alguma razão. E mais, se não consegue aguentar um gritinho, então não pode trabalhar para mim. - desta vez, a demonia de cabelos vermelhos direciona seu olhar para mim e há uma pitada de ironia em seus olhos intensos.

Ela estava tentando me assustar?

- Soojin...

- Por quê está aqui? - ela pergunta, cruzando os braços acima dos seios.

Porquê não posso morrer de fome, mulher!

Me controlo de verdade para não responder aquilo.

- Bem, fiquei sabendo sobre sua necessidade em conseguir uma fotógrafa pessoal, então pensei, por quê não? Enviei alguns portfólios do meu trabalho para sua-

- Não olhei. - ela me corta, fazendo-me apertar os olhos.

- Ah. - eu digo.

- Então não sabe nada sobre mim? Ou sobre meu trabalho?

Soyeon me olha com desespero nos olhos e sei o que ela está tentando me dizer, quer que eu minta para amaciar o ego dessa desgraçada.

- Não. - sou direta e reta em responder.

Novamente, seu olhar avaliador passa por minhas roupas e então, meu rosto.

- Obviamente não tem nenhum senso de moda. Tem certeza que é filha de Louise?

Mulher insuportável!

- Sim, sou sim. - balançou a cabeça. - E sobre o senso de moda, isso depende muito de-

- Não foi uma pergunta, fotógrafa. - eu fecho a boca rapidamente quando ela me interrompe.

A modelo está séria, mas consigo captar a pitada de diversão brilhando em seus olhos. Ela deve estar aproveitando me humilhar na frente de toda essa gente.

Mulherzinha insuportável...

- Soojin, por quê não vai se trocar para começarmos a sessão de fotos? - Soyeon pede.

A modelo me lança um longo olhar antes de deixar a sala e ir direto para o local de trocas de roupas. Sigo a mulher com o olhar, apenas soltando minha respiração quando a vejo desaparecer.

- Desculpa por isso. - Soyeon me olha com um sorriso amarelo. - Soojin pode ser um tanto quanto... Difícil. - ergo a sobrancelha em sarcasmo. - Mas eu tenho certeza que vocês vão se dar bem! E mais, ela vai amar suas fotos.

É, eu não teria tanta certeza sobre isso, Soyeon.

Ao invés de dizer, eu forço um sorriso e balanço a cabeça.

Depois de alguns minutos - que jurei ser horas - a senhora diabólica volta, agora maquiada, vestida com roupas que tenho certeza custar mais que meu salário, e o olhar superior de madame rica que acha que pode mandar em todo mundo.

Eu me ajeito na mesa com meus aparelhos para as fotos, não olho para trás porquê não quero correr o risco de dizer alguma coisa que possa servir de munição para essa coisinha irritante.

- Podemos começar? - pergunto em baixo tom, virando o corpo com minha câmera e encontrando algumas pessoas em volta dela arrumando seu cabelo sedoso.

- Tudo certo, Soojin? - Soyeon retira os olhos do celular quando pergunta.

A modelo irritante balança os ombros.

- Vamos logo com isso. - gesticula com as mãos. - E seja rápida, fotógrafa, porquê tenho uma sessão de ioga às sete.

Minha filha, e eu com isso?

Levanto as sobrancelhas em sua direção, mas seguro minha língua afiada.

- Colabore e tenho certeza que vamos acabar rápido. - a voz recatada de Soyeon surge atrás de mim.

Agnoletto se moveu em elegância, me fazendo prender o suspiro ao olhá-la pelas lentes da camera. O que tinha de linda, também tinha de insuportável e arrogante.

Foi apenas preciso de alguns minutos tirando foto de Agnoletto para eu ter certeza de algo; as câmeras eram apaixonadas por ela e, mesmo que não tenha simpatizado com sua pessoa, ela sabia exatamente o que estava fazendo durante o ensaio.

Eu pedia para ela se mover, e ela rapidamente acatava meu pedido. Jogava os cabelos para os lados, prendia o lábio inferior entre os dentes e sorria sapeca para câmera, apenas para logo em seguida voltar a ficar séria e agir sensualmente como a female fatal que demonstrava ser.

- Acho que já consigo um bom material com as fotos que acabei de fazer. - eu disse depois da sexta troca de roupas.

Soyeon me olha, animada, e se aproxima de onde eu estava para checar as fotos.

- Posso ver?

- Claro! - concordo de pronto, deitando a câmera para que ela pudesse ver as fotos tiradas.

Eu passo uma por uma, esperançosa de que Soyeon realmente gostasse de meu trabalho.

- Uau! - ela diz, sorrindo. - Você realmente sabe o que está fazendo, Shuhua.

- Obrigada. - agradeço tímida.

- Soojin, venha ver como as fotos ficaram. - Soyeon a chama.

Levanto o olhar para encarar Agnoletto e percebo que ela está me olhando de volta, tão intensamente que sinto vergonha e desvio rapidamente para a camera.

Ela se aproxima calmamente, me fazendo prender a respiração quando seu aroma delicado e feminino se faz presente. Algo como laranja e mel, é suave.

- Hm. - ela diz quando mira as fotos.

Eu fecho os olhos por alguns segundos, pedindo a todos os deuses possíveis que aquela mulher não ousasse abrir sua boca para dizer uma de suas grosserias sobre minha arte.

- E então? O que você achou? - a voz cheia de expectativa de Soyeon me faz olhá-la.

Soojin levanta os ombros para cima, um pequeno bico aparece em seus lábios carnudos e suspira.

- Já vi melhores.

Como é que é?

Escute, eu não tenho problema algum com críticas e sim, percebo que algumas pessoas vão gostar do meu trabalho, como também odiar. Mas essa... Mulher faz isso para me testar e a prova viva disso está em seu olhar.

Eu a encaro com atenção e tenho certeza captar uma ponta de sorriso naqueles lábios pintados de vermelho escarlate.

- Não seja assim, Soojin! - Soyeon a repreende. - Vamos ser sinceras, Shuhua é muito melhor do que as últimas.

- Se não gostou das minhas fotos, talvez-

- Você percebe que apenas está aqui por ser filha de quem é, certo?

Aí, está.

Essa filha da puta estava procurando algo pelo qual poderia me acertar e me fazer perder a paciência, ela finalmente achou.

O sorrisinho que aparece no canto de sua boca me faz contorcer meu corpo pela raiva.

- Soojin! - Soyeon repreende, parece desesperada para se desculpar.

Eu acho que Agnoletto esperava que eu fosse chorar, correr para minha mãe, ou sei lá, qualquer outro ato que demonstre covardia. Mas, ao invés disso, ergo meu queixo e recolho meu equipamento para mim.

Escuto os chamados de Soyeon vindo atrás, mas não a olho enquanto recupero meu fôlego e digo a mim mesma várias vezes para não voltar e desfazer aquele sorrisinho autoritário com as minhas próprias mãos.

Eu abro a porta para sair, mas então paro novamente com minha mão presa na maçaneta, viro o corpo e a olho, que também me olha de volta com seu deboche escorrendo pelos poros.

- Eu sei exatamente que estava pensando isso desde o momento em que pisei aqui, mas a minha mãe não faz meus trabalhos por mim e nunca fez. Não cheguei aqui porquê deixei que minha mãe me comprasse oportunidades, eu trabalhei, e muito, e não é uma riquinha mimada como você que vai me dizer onde eu deveria ou não estar. Se não sou boa o suficiente para você, então deveria mesmo procurar outra fotógrafa, mas te garanto que ninguém realmente vai suportar ficar ao seu lado mais do que alguns minutos porquê você é insuportável, egocêntrica, narcicista e arrogante para um inferno.

Eu percebo que, se em algum momento tive alguma chance de conseguir essa vaga de emprego, ela acaba de ir para o ralo por culpa da minha boca grande.

Soyeon não diz nada, ninguém diz nada, mas todos estão olhando para mim como se eu fosse Simon Cowell.

Agnoletto inclina a cabeça para o lado e eu vejo uma sombra de sorriso em sua boca bem desenhada.

- Você me chamou de mimada?

Ergo a sobrancelha, pronta para mandá-la ir a merda, mas me recomponho na mesma velocidade que me altero, abrindo a porta de madeira e passando por ela como um furacão.

À noite, quando passo na casa de minhas mães para um jantar - e, claro, uma oportunidade para ver Lino - eu escondo completamente o fato de que, querendo ou não, minha entrevista de emprego havia sido um desastre. Também não digo o quão arrogante Agnoletto foi comigo porquê eu sei o quão protetora Louise é, e, para ela, um estalar de dedos bastava para acabar com a carreira da modelo.

Sou monossilabica quando perguntam sobre o ensaio, então ambas percebem que não é algo pelo qual me sinto realmente à vontade para falar.

Ao chegar em meu apartamento, estou pronta para despejar todas as minhas frustrações em Yuqi e comunicar a ela que seríamos duas sem teto caso eu não conseguisse um emprego embreve.

- E aí? - ela pergunta do sofá quando me vê entrando, segura um pote de sorvete na mão enquanto assiste algum episódio de friends.

Eu choramingo e enfio o rosto entre as almofados coloridas, deixando meu corpo parcialmente ao chão.

- Que reação é essa?

- Eu estraguei tudo, Yuqi! - digo chorosa. - E agora vamos ter que morar em uma caixa de papelão debaixo da ponte.

Yuqi solta uma risada alta, mas trata de se conter no instante em que levanto meu rosto e percebe que estou séria.

- Me conta o que aconteceu, Shuhua. - estendeu o pote de sorvete para mim.

Eu me ajeito no sofá, aceitando o pote e devorando o sorvete em questão de segundos.

- Eu não consegui o maldito emprego! - enfiei uma colher cheia do doce na boca.

- Eles te falaram isso?

- Não! Mas eu não acho que vou conseguir algo depois de ter chamado a modelo de egocêntrica, mimada e narciscista. - murmuro baixinho.

- Você chamou Soojin Agnoletto de egocêntrica, mimada e narciscista? - Yuqi grita desacreditada.

- É, foi o que eu disse. - solto um muxoxo desanimado. - Acabou! Acabou tudo! Vamos ter que ir morar na rua.

- Para com isso, garota! - ela ri. - Você é muito dramática, isso sim.

- Eu não consegui a merda do emprego, Yuqi. - digo e minha amiga se aproxima para limpar a minha boca.

- Estranho...

- O que?

- O porteiro acabou de receber aquelas flores em seu nome, e eu dei uma espiada do que se tratava... - ergui a sobrancelha em curiosidade ao finalmente notar os lírios no canto do sofá.

Entrego o pote de sorvete para Yuqi e me aproximo das flores, alcançando o pequeno bilhete com a caligrafia perfeita.

De fato não sabe se vestir como a filha de uma crítica de moda, mas suas fotos são realmente boas, fotógrafa. Seu contrato será mandado por e-mail, não se esqueça de ler e entrar em contato com Soyeon caso tenha alguma duvida.

- Agnoletto.

- Quê? - grito ao ler o bilhete.

- Parece que você tem um emprego. - Yuqi me cutucou.

É, e ao lado de uma das pessoas mais irritantes que eu já conheci na minha vida. Boa sorte para você, Shuhua.


e aí, como estamos? oq acharam desse segundo cap? continuo...?

não esqueçam de votar e planfetar a fic no Twitter usando #CerejinhaDoCaos;)

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