𝔔𝖚𝖆𝖗𝖙𝖔 𝖉𝖊 𝕭𝖗𝖆𝖓𝖉𝖔𝖓
Recente e agridoce.
São duas palavras que adjetificam o relacionamento de Ivy e Brandon. Recente pois conseguiram criar uma conexão em um curto período. E agridoce, pois ao mesmo tempo que é adocicado pela paixão, é intoxicado pelos traumas e mentiras.
É um relacionamento intenso e bagunçado. Quase tão bagunçado quanto o quarto de Brandon nesse exato momento.
O que normalmente era milimetricamente organizado, agora estava marcado pelos rastros de uma longa noite. Pilhas de livros desmoronadas, toalhas úmidas jogadas em cima de uma escrivaninha, roupas de gala espalhadas pelo chão e cobertores embolados no pé da cama.
A cama já estava mais habitual às últimas semanas. Um lençol e duas pessoas. Respirações compassadas e o ápice do calor humano concentrado no meio do colchão.
Brandon sente um raio de sol escapar pela cortina e bater em seus olhos. Ele os fecha de novo e inclina a cabeça para frente, tentando fugir da mira da luz. Seu nariz toca a nuca de Ivy e seu rosto se esconde em seus cabelos platinados.
A fada estava com o aroma de seu sabonete.
Amêndoas.
O especialista não se recordava de como havia pego no sono, mas agora ambos estavam "de conchinha". Qualquer movimento sequer seria o suficiente para acorda-la e isso era o que ele menos queria.
Porém o destino nunca segue seus planos.
"Bep bep"
Um barulho semelhante à um alarme ressoa pelo quarto.
Os celulares estavam largados na cômoda, então não era o despertador. Ivy acorda no susto sem entender o que estava acontecendo, mas Brandon já havia reconhecido o barulho.
- Que droga é essa? - A princesa esfrega os olhos com a palma da mão. Ao sentir suas costas colidirem com Brandon, a fada se vira na cama para a direção do garoto.
- Simulação de treinamento. - Brandon responde sem entusiasmo. Ele sabia que aquilo era um sinal obrigatório para levantar.
- Vou repetir: "que droga é essa?" - Ivy repete sua pergunta sem saber o que aquilo significava. Ela se aninha para perto dele e o envolve com seu braço caso tenha que o prender na cama.
- É um treinamento obrigatório dos especialistas. Simula uma emergência caso Alfea seja invadida. - Brandon tenta sentar na cama, mas Ivy ainda o segurava. Ela tenta ponderar com o olhar, e para sua sorte, não precisava se esforçar para dilatar suas pupilas. Era natural. - Isso significa que eu preciso levantar, senhorita Frost.
- Quantas simulações já teve nesse ano?
- Nove.
- E em quantas você foi?
- ...nove. - Brandon desvia o olhar, já imaginando o que ela diria.
- Ok Soldado, você já foi bem treinado. - Ivy segura o rosto dele e o vira em sua direção. - Alfea está em boas mãos agora!
- Está tentando me corromper? - Brandon pergunta ironicamente, enquanto seu olhar desce para os braços da fada que o seguravam.
- Eu já fiz isso! - A fada sorri ardilosa e o pega de surpresa, subindo em cima dele. - Agora eu estou tentando te convencer.
As mãos do especialista sobem instintivamente até a cintura dela. No fundo ele sabia que precisaria ir, mas estava tentado a se atrasar por ela.
- Por que você sempre joga sujo? - Brandon tenta desviar seu olhar, mas a visão era mais tentadora.
- Foi você quem tirou meu vestido, não eu. - A fada se inclina até estar apoiada sobre ele. Ela amava deixa-lo sem palavras. Normalmente quando isso acontecia, ele partia para ação.
De fato, o especialista a abraça e com um movimento de tronco, inverte as posições.
- Quem está jogando sujo agora? - Ivy se ajeita embaixo dele e segura sua nuca com uma das mãos. Ela o rouba um beijo antes que tivesse a chance de responder.
- "Foi você quem tirou meu terno, não eu." - Brandon repete a fala dela.
Os sorrisos se correspondem. Seus lábios voltam a se unir e a irresponsabilidade volta a tomar conta dos pensamentos de Brandon.
Então essa é a sensação de estar com alguém?
Agora Brandon conseguia compreender o porquê de seu melhor amigo nunca conseguia ficar solteiro.
- VAMOS SUAS MARICAS! - Um grito do lado de fora do dormitório faz com que eles se separem. Brandon reconheceu a voz de Jacob Randall, o "valentão" do quarto ano. - LEVANTEM!!
O especialista mais velho batia nas portas dos dormitórios, tentando adiantar os novatos.
Brandon havia se esquecido que dessa vez, os alunos do quarto ano liderariam a simulação.
- Você bem que podia quebrar o outro braço dele. - Ivy comenta com os punhos serrados.
- Vontade é o que não falta. - Brandon respira fundo. Seu dia estava perfeito até agora. - Você pode continuar dormindo se quiser.
- Dormir não era bem o meu plano. - A princesa responde se sentindo contrariada pelo universo.
Ele não sabia exatamente qual era a dinâmica de um relacionamento, mas achou que seria conveniente beija-la antes de sair da cama. Pelo menos conseguiu tirar um breve sorriso dos lábios de Ivy.
- De qualquer forma, você ainda tem algumas horas antes da primeira aula. - Ao notar a confusão no olhar da fada, Brandon vira a tela de seu celular e mostra o horário.
5h35
As aulas começavam as 8h e as simulações aconteciam geralmente de madrugada (horário mais propenso de ocorrer um ataque), mas por conta do baile eles resolveram adiar algumas horas.
- Eu preciso dar um sinal de vida para minhas colegas de quarto. - Ivy senta na cama e enquanto pensa em como vai voltar para seu dormitório sem ser vista, Brandon joga uma blusa (que ela havia esquecido lá) e um moletom de Fonte Rubra. - Juro que dessa vez eu devolvo.
- Eu duvido. - Brandon retruca enquanto tenta passar os ombros pela blusa do uniforme, que era bem justa por se "ajustar" ao corpo.
- É sério! - Ivy sorri, pois nem ela acreditava no que estava dizendo.
- Ainda não acredito. - Agora ele caçava o suporte que prendia as espadas rente ao seu corpo.
- Você vai ver! - Ivy faz uma camada de gelo subir do chão, elevando o suporte até a altura dele.
- Tem alguém vivo ai dentro? - Riven bate várias vezes na porta do quarto. - Eu não quero ser o cara responsável por apressar todo mundo, então para de distrair ele, Princesa Frozen.
Nessa altura do campeonato não valia mais a pena tentar esconder as coisas de Riven e Sky.
- Quem chegar por último vai ter que ficar com a sala das câmeras! - Sky também aproxima o rosto da porta para falar.
- Acho que alguém vai ficar com as câmeras hoje. - Ivy sorri ao ver que o especialista não havia nem calçado os sapatos ainda.
- Já sabe onde me encontrar.
- Isso é um convite?
- Pensei que a realeza não precisasse de convite.
E não precisava.
𝕯𝖔𝖗𝖒𝖎𝖙𝖔́𝖗𝖎𝖔 𝖉𝖆𝖘 𝕱𝖆𝖉𝖆𝖘
Brandon dá cobertura para que Ivy consiga voltar para seu dormitório sem ser vista.
Era difícil para fada esconder seu sorriso bobo. Ela sabia que precisava manter as aparências, mas estava escandalosamente feliz. Poderia gritar se suas colegas ainda não estivessem dormindo.
Nem todas estavam
- A noite foi boa! - A voz de Musa faz Ivy conter um grito, mas dessa vez de susto.
- Está tentando matar alguém da realeza? - A princesa pergunta com uma mão no peito.
- Perdoe-me vossa Alteza. - Musa encena uma reverência forçada. - Estava tentando dormir.
- Sentada no sofá? - Ivy analisa a cena. Musa estava sentada no sofá com os pés apoiados na mesa de centro. Ela segurava uma revista mundana.
- Não tive sucesso. - Musa dá de ombros.
- O que te impediu?
- Vai descobrir quando entrar no seu quarto. - Ela volta a folhear a revista.
Ivy pensou em perguntar o que ela encontraria em seu quarto, mas chegou à conclusão de que era mais fácil ver com os próprios olhos.
Estava quase tão bagunçado quanto o quarto de Brandon. Vestido jogado no chão, papeis amassados, alguns rastros de um suposto surto de raiva...e Stella deitada quase que em posição fetal. Ela estava virada para a parede, mas seus ombros estavam claramente rígidos e sua respiração descompassada pelo choro.
- Ela e o Sky brigaram feio ontem. Acho que agora acabou de verdade. - Musa sussurra ao passar pela porta do quarto e caminhar em direção ao seu.
Ivy respira fundo.
A fada pensa em se trancar no banheiro até a hora da primeira aula para evitar algum tipo de diálogo. Mas ao mesmo tempo se sentia minimamente responsável pelos acontecimentos da noite passada. Não sabia qual era o motivo da briga, mas a participação de Stella em seu plano para irritar a Rainha foi fundamental.
Ivy olha para o chão e segue o rastro de papéis amassados até um rolo de papel apoiado em cima da cômoda. Já era alguma coisa.
Stella não esperava nada da parte de Ivy, por isso se surpreende quando a fada invernal coloca o rolo de papel rente ao seu rosto. A fada do sol luta contra o impulso de olhar para trás, mas consegue ouvir Ivy voltando para sua cama.
Ela usa o papel para enxugar as lágrimas e espera as horas torturantes para voltar ao seu inferno pessoal, vulgo aulas.
𝕱𝖔𝖓𝖙𝖊 𝕽𝖚𝖇𝖗𝖆
- É a primeira vez que te vejo aqui! - Silva fala com Brandon, enquanto digita o código para ter acesso as câmeras.
- Perdi a hora... - Ele responde pensando na razão que o fez se atrasar.
- Eu imagino. - Saul ergue as sobrancelhas. - Vocês saíram bem cedo da festa.
- Foi tão óbvio? - Brandon contém um sorriso, focando seu olhar no monitor do computador.
- 1° você não é tão invisível quanto pensa, e 2° você estava acompanhado da sua namorada e ela é da Corte Invernal, então... - O professor lista os motivos além de tentar provocar Brandon, insinuando que eles namoram.
- Eu esperava que as Rainhas fossem o suficiente para distrair as pessoas. - O especialista ignora a provocação (que não era nenhuma ofensa para ele).
- Espera, você acabou de concordar com o que eu disse? - Silva nem presta atenção no que ele disse. Apenas nota que o garoto não se incomodou com a insinuação.
- Eu sabia! - Silva exclama ao ver Brandon sorrir ruborizado. - Pra quem odeia chamar atenção, você até que se superou dessa vez.
- Não foi intencional.
- Nunca é. - O professor concorda, pensando nas próprias experiências.
- Sorte a minha. - O especialista aciona as câmeras da escola. - Caso contrário, eu duvido que ela olharia pra minha cara.
- Devia agradecer por ter essa cara. É melhor do que você pensa. - Silva dá dois tapinhas nas costas de Brandon e caminha para outra ala de Fonte Rubra, orientar os outros alunos.
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As primeiras duas horas foram bem entediantes, pois não havia nenhuma movimentação ainda nos corredores. A parte mais descontraída, foi quando Riven começou a fazer algumas gracinhas na frente de uma das câmeras.
O especialista não havia dormido tanto, já que Ivy o manteve ocupado boa parte da noite. Seus olhos estavam quase fechando, mas após algumas piscadas pesadas, a atenção dele foi roubada pela única pessoa que tem cabelos platinados na escola.
A princesa invernal estava saindo de seu dormitório. Brandon estranhou o fato dela estar indo para aula mais cedo do que o habitual, e ficou mais confuso ainda quando notou que ela não estava indo para direção das salas de aula.
Depois de seguir os passos da fada por uns 3 minutos, ele percebeu qual caminho ela estava fazendo.
- Acordou cedo pra ficar bisbilhotando a vida das pessoas? - A voz dela ressoa atrás dele.
- Veio aqui para bisbilhotar comigo? - Brandon gira na cadeira até estar na direção dela.
- Não! - Ivy sorri satisfeita e levanta o moletom dele. - Vim devolver seu casaco.
- Hmm...agora eu entendi. Quando eu quiser alguma coisa preciso duvidar de você.
- Não se anima muito, não vai acontecer sempre. - Ela estreita o olhar e joga o moletom no peito dele.
- É você quem está me acostumando mal. - Brandon pega o moletom e aproveita a aproximação para puxa-la pela mão. Ivy cai em seu colo sem resistência alguma.
- Então você trocou duas hora comigo por isso? - Ivy passa a mão pelo mouse para alternar as imagens das câmeras. No fundo ela achou interessante a ideia de observar as pessoas sem elas saberem.
- Não foi opcional.
Ivy clica no no botão de "próximo", até encontrar uma câmera que captasse sua mãe por um dos corredores. Ela estava acompanhada de Luna e Farah, mas a conversa não parecia muito amistosa.
- E o que você vai dizer para sua mãe quando ela descobrir que você cabulou a primeira aula? - Brandon percebe o que a fada encarava.
- Vou falar que você me manteve ocupada a noite toda. - Ivy se volta para ele com um olhar malicioso.
- Ivy! - Ele exclama espantado com a resposta. Era difícil saber quando ela falava sério ou não.
- E se ela não acreditar, é só mostrar a cena do crime, vulgo seu quarto. - A fada sorri enquanto aproxima seu rosto do pescoço dele. No momento eles compartilhavam do mesmo perfume.
- Estou começando a achar que isso é um plano para me matar de uma vez. - O especialista não contém o riso, mas logo se arrepia ao sentir os lábios dela tocarem o pescoço dele.
- Não se preocupe. Ela não ousaria te machucar. - Ela volta a encara-lo. Dessa vez mais perto.
- Como tem tanta certeza? - O olhar dele oscila entre os olhos e a boca de Ivy.
- Porque ela sabe que não conseguiria me enfrentar, ainda mais se eu estivesse com raiva. - Ela explica com um leve tom de superioridade em sua voz.
Depois de ouvir toda a história de Ivy e entender como funciona a transição de poder no Reino Invernal, ele realmente sabia que ninguém conseguiria enfrentar a magia da princesa invernal. Talvez nem ela mesma.
Mesmo não sendo a hora mais adequada, ele não evitou pensar na primeira vez em que Winter apareceu em Alfea. Na sua "entrada triunfal". Todos ficaram incrédulos ao descobrirem que ainda existia uma fada capaz de se transformar completamente.
Para maioria, isso já seria suficiente para considera-la a fada mais poderosa de todas.
Mas ela não era.
- Você também se transforma? - Os dedos de Brandon deslizam pelas costas da fada, imaginando como seria possível duas asas saírem dali.
Ivy o encara com seu habitual sorriso ardiloso.
- Me pergunta daqui alguns minutos e talvez eu responda. - Ela sussurra e espera que ele compreenda o comando. Brandon retribui o sorriso e aproxima o rosto até acabar com a distância entre seus lábios.
- Não vai responder a pergunta, né? - Brandon afirma quando eles se separam pela falta de ar.
- Eu disse "talvez" - Ela se levanta com um sorrisinho vitorioso. - E a segurança da nossa escola depende de você soldado!
- Isso é crueldade! - Ele protesta ao vê-la se afastar de fininho.
- Então não deveria estar surpreso. - Ivy arqueia as sobrancelhas e o encara uma última vez antes de deixar a sala de câmeras com um sorriso estampado no rosto.
Ela amava suspense.
- Ótimo... - Brandon exclama para si mesmo, sabendo que vai ficar com essa dúvida martelando sua mente pelo resto do dia.
O sorriso em seu rosto se desmancha ao ouvir um rangido de madeira.
- Quanto amor...fiquei até enjoada.
Beatrix
Pegadinha 🤡 eu pensei que conseguiria escrever a tão esperada "sexta-feira" em um capítulo só, mas eu esqueci da parte que eu sou emocionada kkkkkk
Me empolguei escrevendo as cenas de Brany e acabei atingindo o limite de palavras.
Mas enfim, agora é sério kkkk o próximo capítulo já vai conter mais ação e fortes emoções 🙃
Ps: e eu não sei se consegui deixar muito claro, mas a Beatrix ouviu tudo que rolou na sala de câmeras 👀