CABARET

By JikookerTrouxa

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𝕵𝖎𝖐𝖔𝖔𝖐 𝖋𝖎𝖈! ⚣ A que ponto você conseguiria chegar por dinheiro? Ou mais precisamente, por necessidad... More

[E.L.E.N.C.O]
[P.I.L.O.T.O]
[1] BLOODY MARY
[2] MARGARITA
[3] MOJITO
[4] PIÑA COLADA
[5] SEX ON THE BEACH
[6] COSMOPOLITAN
[7] CUBA LIBRE
[8] PISCO SOUR
[9] NEGRONI
[10] MARTINI
[11] MOSCOW MULE
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[13] VODKA
[14] MANHATAN
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[17] TOM COLLINS
[18] CAIPIRINHA
[19] SHERRY COOKING WINE
[20] CHIVAS COLLINS
[21] SAZERAC
[22] LADY WINTER
[23] WHITE RUSSIAN
[24] BELUGA
[25] PENICILLIN
[26] CLERICOT
[27] BERRI BLOSSOM
[28] LAGUNA
[30] PAINKILLER
[31] DARK 'n' STORM
[32] LONG ISLAND ICE TEA
[33] JUNGLE BIRD
[34] DU ALASKA

[29] CHAMPAGNE COCKTAIL

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By JikookerTrouxa


Acessem a playlist com a atualização para o capítulo no Spotify: "CABARET, JKJM²." A atualização está à partir da música "The Beach, Giveon."

Aproveitem o capítulo e tenham uma boa leitura.

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Sair da cama às sete da manhã, era mais difícil do que eu pensava. Ainda mais debaixo de tantos cobertores, sentindo o calor dele no meu próprio corpo e seu aperto ao redor da minha cintura, me segurando com força.

Deveria ser proibido em um sábado ter de ir até o colégio participar de uma votação que não vai influenciar em nada a minha vida.

Garanto que o que aconteceu ontem às três e muitas da manhã não me dava muita opção, a não ser sentir o cansaço de ter corrido uma maratona. Ainda que não houvesse acontecido.

Depois de tudo nós tomamos um banho dos mais rápidos do mundo, "banho de gato", como ele disse, e voltamos para o quarto, onde caímos na cama, acabados. Aposto que dormimos antes mesmo de batermos a cabeça no travesseiro.

No entanto, agora a luz do sol se forçava contra mim, cruelmente, como se a qualquer momento fosse tomar forma, me pegar no colo e jogar para fora da cama. Afastando-me um pouco, ou pelo menos tentando, pouco a pouco me desvencilhei do abraço de Jungkook, tentando não o acordar.

O quarto estava tudo de ruim, sol forte e vento frio. Saí da cama e congelei. Cueca não era o traje mais adequado naquela situação. Parecia o filme da Elsa, faltava eu fazer um Olaf e sair cantando "Let it go."

Em alguns minutos eu fiz tudo o que precisava no banheiro, tão silenciosamente quanto conseguia. Peguei um moletom dele, sentindo o seu perfume adentrar as minhas narinas e coloquei um par de meias aleatórias que encontrei na gaveta.

Muito mais aquecido e com roupas adequadas, deixei-o na cama e fui até o banheiro, ajeitar o cabelo até dar hora de acordá-lo. Da porta do outro cômodo eu sorri sem perceber, ao vê-lo todo jogado na cama, deitado de qualquer jeito com os cabelos completamente bagunçados. Com uma das mãos sobre o peito, onde ficava o meu coração eu suspirei; era de tirar o fôlego. Não havia outra maneira de descrever.

Quando eu olhava o meu reflexo no espelho, algo me acalmava e me dava paz, talvez a sensação de tê-lo por perto depois de tanto tempo. Com ou sem problemas com o Kwon, Kai ou qualquer outra pessoa, eu tinha o que era mais precioso ali comigo.

Era majestoso e irreal, como se eu estivesse sonhando, e por esse motivo, eu resolvi deixar para pensar em tudo o que deveria acontecer apenas na hora que houvesse de acontecer, hoje à noite no caso, quando Kwon estivesse a minha espera no Submundo.

Antes que eu percebesse, braços circularam meu peito, me puxando para o calor. O queixo de Jungkook se esfregou em minha pele, entre o pescoço e o ombro, e eu dei um sorriso.

- É lindo, não é? - Ele disse rouco e eu franzi a testa.

- O que é lindo? - Questionei.

Ele deixou escapar uma expiração lenta e profunda.

- Você.

Jungkook beijou o meu pescoço e apoiou a testa no meu ombro.

- Eu não acredito que a gente vai ter que ir naquela droga, ainda mais pra uma votação ridícula. - Sua voz era um estrondo de tão pesada e eu ri, do cansaço em seu tom, tocando as suas mãos que me abraçavam, olhando para ele através do espelho.

- Eu não vou reclamar. - Respondi, ainda impressionado com o quão manhoso ele conseguia ser.

- Por quê? - Comentou, com um sorriso ladino, apanhando a sua escova de dentes e se posicionando ao meu lado.

- Faz muito tempo que eu não acordo contigo, isso pra mim já faz valer o dia. - Sorri e ele fez o mesmo.

- Você diz isso agora. Vamos ver se você gosta mesmo de mim daqui a algum tempo... quando a gente se casar e você for obrigado a ver a minha cara todos os dias, e tiver de usar uma pá de neve para me tirar de cima de você. - Respondeu com a boca cheia de espuma e uma expressão de malandro engraçada.

Eu ri, com o semblante franzido.

- E quem disse, que a gente vai se casar? - Apertei os lábios, enrugando o nariz. Jungkook olhou para o meu rosto, sorriu, e plantou um beijo espumoso na minha testa.

- Ah! - Reclamei, limpando a sua baba e ele não se importou nem um pouco, enxaguando a boca. - Credo.

- Que tal a gente tomar café da manhã? - Perguntou.

-Hey! Você não respondeu a minha pergunta! - Acusei, enquanto ele caminhava para fora do banheiro. Ele apenas riu e passou direto, eu até poderia insistir no assunto, mas o meu estômago roncou, me forçando a concordar.

- Acho que devido as circunstâncias atenuantes... vou ser obrigado a concordar com a sugestão. - Enrolei, como se pensasse muito bem e ele se jogou na cama outra vez, me deixando admirado com a vista.

- Certo. - Ele disse, erguendo o celular.

- Mas em que lugar a gente vai? - Perguntei subindo em seu corpo e me sentando sobre a sua barriga. - Acredito que você se lembre de que a gente não pode ser visto juntos... - Me inclinei sobre si, e ele tirou os olhos do celular para me olhar, com uma expressão de safado no rosto.

Eu estava com as mãos em seu peito, e seu olhar sugestivo me dizia alguma coisa bem mais sexual do que deveria, pelo menos naquele momento.

- Ah. Você nem pense nisso, nós não comemos ainda, não em forças para transar. - Fiz corpo mole, me deitando sobre ele, que vibrou com a risada que deu.

- Você pode comer aqui mesmo. - Ele disse risonho e mexeu as sobrancelhas diversas vezes para cima e para baixo.

- Escuta, você é feito do que? A gente fez isso não fazem nem cinco horas de prazo. - Constatei, com os olhos arregalados, contando nos dedos.

- Você está certo. - Ele fez uma careta. - E a minha bunda dói. Você pegou pesado ontem.

Eu gargalhei.

- Você bem que gostou. - Desta vez fui eu quem disse, erguendo as sobrancelhas e para a minha surpresa ele ficou calado, segurando um sorriso tímido, mexendo no telefone. - Não acredito. - Eu ri e ele continuou me ignorando. - Tá com vergonha?! - Eu não aguentei e explodi em uma sequencia de risos desenfreada.

- P-pode pensar o que você quiser, tá bom? - Ele disse com o rosto de as orelhas bem vermelhas.

- Hum... tudo bem. - Eu continuei com as mãos em seu peito, enquanto ele digitava qualquer coisa que para mim era menos interessante do que testar a paciência dele. E foi isso que eu continuei fazendo, é óbvio.

Encontrei os seus mamilos, e com as pontas dos dedos eu os toquei, sentindo-os endurecer.

Ele fechou a cara e me olhou, detalhe, ele estava vermelho ainda.

- T-tá fazendo o quê?! 

- Sensualizando. - Cantarolei. E ele soltou o celular, segurando as minhas mãos.

- Você não tem limites, não é? - Constatou, e eu dei de ombros.

- E você tem mamilos sensíveis. - Debochei.

Ele não aguentou e começou a rir também, puxando as minhas mãos para cima da sua cabeça, forçando-me a cair sobre si, ficando sobre o seu tronco, até ele girar os nossos corpos, ficando por cima.

- É?! - Desafiou, como quem está no controle. - Ah, é?! - Eu gargalhei e ele se abaixou em minha direção, me beijando de forma pesada. - Eu também sei o seu ponto fraco, valeu? - Se vangloriou e eu o desafiei com os olhos, as minhas sobrancelhas subiram ao máximo, como quem pergunta:

- É mesmo? - Ele revirou os olhos, ouvindo aquilo, em seguida, indo rumo ao meu pescoço e me beijando lá, fazendo com que eu me contorcesse. - P-para! Para! Para! Eu estava brincando!

- É. É mesmo. - Ele me soltou, se apoiando em ambos os lados do meu corpo, passando os lábios sobre  os meus, e se aprofundando sobre eles em seguida. - Vai se trocar. - Ele disse contra o meu beijo. - A gente vai sair.

Eu confirmei com a cabeça, me levantando em um salto, sentindo um tapa no meu bumbum conforme eu fiquei de pé.

- E onde o senhor pretende tomar café hoje? - Eu perguntei, vestindo uma calça azul clara, e apanhando um par de All Star brancos. O meu cabelo estava ajeitado, e o moletom branco enorme que ele havia deixado ali em um dos dias que dormiu na minha casa combinava perfeitamente com tudo o que eu trajava.

- Não se preocupe, é discreto. É um lugar onde sempre tem comida boa. - Ele sorriu.

- Hum... - Ergui uma das sobrancelhas, apertando os cadarços do tênis no pé, enquanto ele ainda estava deitado de cueca. - Tudo bem então. Confio em você... mas pra gente sair você deveria se vestir.

Ele fez cara de surpresa.

- Tudo bem. Eu faço isso sim. - Ele se levantou da cama e logo estava praticamente igual a mim, moletom branco, calça azul e tênis, a única diferença era que o seu era preto.

Eu não me preocupei em perguntar onde é que nós tomaríamos café da manhã, porque não imaginei que fosse em nenhum lugar estranho, mas sim eu um local isolado, onde fosse mais discreto para nós dois.

O que eu não soube era o quão estranho, o quão isolado e o quão discreto seria.

Eu não estava preparado para a cena com a qual eu me deparei no momento em que chegamos a luxuosa casa dos Kim. A qual eu gostava de denominar carinhosamente como: Roça.

Animado, eu saí do carro, pronto para acordar Kim Taehyung, meu best para todas as horas, que com toda certeza estaria a postos para me alimentar, ainda mais tendo um pai Chef.

Sem avisar eu caminhei, empurrei a porta de madeira e literalmente invadi o ambiente, passando pela sala grande com tapete felpudo, lareira e belos sofás. O que eu não esperava era o cenário a seguir, atravessando o arco enorme entre a sala e a cozinha.

- Agora sim eu estou surpreso. - Sussurrei para Jungkook, rindo um pouco, enquanto contemplava de olhos arregalados, o cenário a minha frente.

- Surpreso com o quê? - Jung perguntou, segurando os meus dois ombros e encostando o seu peito em minhas costas, e o queixo sobre a minha cabeça. - Uau. - Ele riu.

- Por que esse lugar é tão badalado tão cedo assim? É impressionante. Se eu soubesse, viria mais vezes. - Eu disse em voz alta, fazendo os três pararem onde estavam e Taehyung dar um gritinho vergonhoso o suficiente para eu debochar dele pelas próximas três encarnações.

- AAH! - Ele arregalou os olhos, deixando a frigideira cair no chão. - Que susto Chim! Seu filho da-

Ele parou no meio do caminho, olhando para os lados, e eu me esforcei até o talo do cú para segurar o riso.

Yoongi estava parado em frente a geladeira, segurando um pente de ovos e uma jarra de leite. Hoseok estava ao seu lado, com uma caixinha de bacon e um pote de manteiga.

Intactos.

Taehyugn me olhou: impávido, colosso.

- Q-que porra vocês-... - Tae foi interrompido.

- BOM DIA! - Hoseok gritou, e se ele estivesse um pouquinho mais animado do que isso, poderia dar uma cambalhota.

- Vim tomar café. - Passei andando por seu corpo, e levantei o seu queixo, fechando a sua boca. - Bom dia minha florzinha. - Deixei um beijo em sua bochecha.

- Bom dia Jiminzããão! - Hoseok veio correndo e pulou no meu pescoço, passando as pernas na minha cintura.

- Ahhg! Bom dia Hobi, você parece até um polvo cara! - Gargalhei, e ele parou de rir, descendo de mim. Parecia ter visto algo bem mais interessante do que eu atrás de mim, e quando eu me virei, Jungkook estava parado, de braços abertos.

- MEU NAMORADO! - Hoseok foi correndo até Jungkook que o abraçou, girando o seu corpo.

- MEU NAMORADO! - Jung repetiu, na mesma intensidade.

- Credo que horror, como vocês são barulhentos. - Yoon disse, colocando as coisas no balcão.

- Bom dia Yoon. - Eu disse, abrindo os braços para o receber em um abraço, mas ele desviou e bateu na minha testa.

- Bom dia cara de bunda. - Ele debochou, e eu me vinguei, pulando em suas costas.

- CARA DE QUÊ?! CARA DE QUÊ MEU IRMÃO?!!

- Ahhh! Me solta encosto! - Yoon era um cara muito carinhoso pra ofender.

- Que gritaria é essa? - Ouço, enquanto me viro descendo das costas do outro. Um corpo exacerbadamente musculoso vem andando pela casa, e aquele tanquinho ali eu conhecia.

- HOSEOK?! - Gritei, vendo o meu irmão naquele antro de perdição que aqueles três fizeram a noite toda. - Mas que porra você tá fazendo aqui? - Arregalei os olhos.

Ele veio caminhando de pouco em pouco, coçando os olhos, com os cabelos pro alto, e um sorriso na cara amassada.

- Mas qu-

- Eu vim com o Hoseok. - Hoseok respondeu logo, e eu olhei para o outro Hoseok, vendo Hoseok parar a minha frente, enquanto Hoseok dava de ombros.

Espera, deu tela azul.

- É-é claro que você veio com aquele motoqueiro delinquente ali! - Revirei os olhos, batendo no seu braço. - Eu te deixei aos cuidados dele, e eu ne sei o motivo. - Eu disse, mais para mim mesmo do que para ele.

- Ele não é ruim. - Wonho riu, me abraçando.

- Ou, você não está na sua casa, vai vestir uma roupa. - Semicerrei os olhos e ele riu outra vez.

- A minha mãe bem que gostou. - Tae resmungou, se recompondo.

- Eu também. - Hobi brincou, dando uma piscadinha.

Eu reclamei, olhando para o teto.

- Você pode por favor, por favorzinho, não pegar o meu irmão? Eu só conheço ele a alguns minutinhos. - Hope sorriu sacana, com a língua entre os dentes, olhando pro meu Body Builder preferido.

- Ninguém aqui vai pegar ninguém. - Wonho disse, dando tapinhas na minha cabeça, feito um dono de cachorro. Sua voz era um estrondo baixo, o som de um homem que não estava acostumado com o sanatório particular que eu cultivava. - Fica bonzinho, pra eu gostar de você.

Abri a boca incrédulo com a audácia do recém chegado.

- Escuta aqui-

- IIIh, sujou, vai ter halterofilista pela cozinha toda... - Jungkook debochou e Wonho engoliu em seco.

- Em três... - Tae disse.

- Dois... - Hope continuou risonho.

- Você pode ir olhando bem o jeito que fala comigo, porque se não eu juro que te espanco até te virar do avesso!

- Uau. - O meu irmão respondeu, soltando-se do meu corpo com as mãos em defesa própria.

- É, e agradece por ele não ter te agredido. - Kook disse do balcão, debruçado com uma mão no queixo, como se fosse a coisa mais divertida de se assistir.

- Agradecer? - Wonho riu, olhando de cima para baixo, encontrando o meu olhar. - Desse tamanhinho? - Ele debochou.

- "O preço que eu pago é nunca ser amado de verdade, ninguém me respeita nessa cidade..." - Taehyung e Yoongi cantaram em coro, rindo da minha cara.

- É bom agradecer a Deus, porque se não eu vou te dar a oportunidade de agradecer pessoalmente.

Ele arregalou os olhos, olhando para Jungkook que assentiu, como quem já estava acostumado.

- O-obrigado...

- De nada. - Sorri e apertei seu mamilo, forçando-o a tampa-los rapidamente.

- AÍ! - Ele gritou e deu um gemido, massageando o local. - Meu peitinho... pelo que eu estou agradecendo na realidade?

- Pela sua vida. Você me fez raiva, e olha só! - Fiz expressão de surpreso. - Você continua vivo e são!

Ele fez uma careta bonitinha.

- O meu peitinho não...

Dei de ombros.

- Você sobrevive sem peitinho.

- Vai ficar igual ao Ken, só que bombadão. - Jungkook riu.

- E o Ken por acaso não tem peitinho? - Taehyung perguntou para Yoon e Hoseok que estavam próximos dele.

Yoon deu de ombros, Hobi por sua vez:

- Eu sei lá? Tenho cara de Toy Story? Quando encontrar com a Barbie eu pergunto. - Não sei nem como, mas ele conseguiu terminar a frase antes de Tae acertar a sua cabeça com a caixinha de bacon. - AÍ!

- Hoseok's nessa casa não tem um dia de paz. - Meu irmão resmungou contrariado, ele estava no balcão perto de Jungkook, massageando o peitinho.

- Deixa de ser dramático. - Falei e, em seguida, o pai de Taehyung entrou na cozinha, com uma roupa de quem havia voltado da corrida agora.

- Papai. - Tae disse, chamando a sua atenção.

- Papai. - Eu remedei.

- Papai. - Yoon fez o mesmo.

- Sugar dad- AÍ! - Hobi lá ia dizendo, antes de um saco de pão de forma acertar a sua fuça.

- Tete, eu pensei ter te educado melhor. Não se joga pão na cara de ninguém. - Ele olhou ao redor. - Eu tenho três perguntas: - Ele ergueu os dedos. - Um: Por que a minha cozinha parece uma creche? Dois: Por que tem um halterofilista bombadão exibindo o tanquinho na minha cozinha... - Ele olhou para Wonho mais uma vez, com os olhos semicerrados. - Enquanto massageia o peitinho... eee três: Por que o bacon está no chão?

Tae balançou a cabeça.

- Tudo bem, vamos lá. - Respirou fundo. - Um: A gente está indo votar na Barbie fascista e no Ken do bordo, pra rei e rainha do baile de formatura. Além de que eles invadiram a casa quando eu não estava olhando. - Ele disse, com a voz mais contrariada que podia. - Dois: Porque a gente escondeu todas as blusas da casa pra poder ver ele andando sem camisa por aí.

- Da próxima vez a gente esconde as calças e cuecas também. - Yoongi disse rindo.

- E três: - Ele fingiu pensar bem. - Pelo mesmo motivo que o pão acabou de ir parar no chão também.

- Oh, certo. Agora apanha essa comida do chão, antes que eu obrigue vocês a jejuarem até amanhã por brincar de guerra de comida na minha casa. E disso tudo, o que ainda não faz sentido é que ele continua massageando o peitinho.

Wonho fez cara de sofrido e apontou para mim, Jungkook começou a rir.

- É que ele belisca forte...

Eu não aguentei e comecei a rir.

- Beliscou ele? - Hae Woon riu e eu assenti.

- É o meu irmão, eu posso. - Me gabei orgulhoso e Sr. Kim franziu a testa.

- Eu não entendi. - Ele riu confuso.

- Nem eu. - Respondi, percebendo o quão caótica era a minha vida, fazendo uma careta e dando de ombros em seguida, caminhando até Jungkook e o abraçando pelas costas.

- O meu pai saiu fazendo filho por aí sem pensar nas coisas... - Wonho disse sem rodeios.

- P-pera, vocês são mesmo irmãos?! - Sr. Hae Woon pareceu não acreditar.

- Acredite, essa foi a mesma cara que eu fiz quando me dei conta. - Confessei.

- Isso é que é surpresa boa, hein Park Jimin? - Sr. Kim disse, afagando os meus cabelos e eu sorri.

- É... mas eu quase fico sem ele... - Fiz uma expressão triste e eles me encararam sem entender. - Me respondeu atravessado agora a pouco, facinho de eu matar e dar pro Namjoon comer.

- Namjoon? - Hae Woon questionou, provavelmente pensando em me internar. - Namjoon, Namjoon? Tipo Namajoon? - Continuou, na sua intensa batalha para identificar o meu amigo, e nada poderia defini-lo ou marcá-lo tanto quanto o seu apelido de infância.

- Não. - Eu ri. - Namjoon o bode do Taehyung, não Namajoon meu papi poderoso. - Sorri, como se fosse óbvio.

- Olha só, o meu bode não come carne com Whey. - Taehyung intrometeu.

- O seu bode come carne? - Jungkook questionou como se fosse a coisa mais estúpida do mundo, sendo que o problema na real era o nome do bode.

- Você tem um bode? - Wonho questionou perplexo.

- Imagina, se eu faria uma coisa dessas com o meu filho. - Tae respondeu para Kook, que riu, maneando a cabeça.

- V-você tem um bode? Tipo... - Ele olhou para Hae Woon, que confirmou, como se não houvesse sido ideia dele. - Tipo bode de verdade?

- Ué, queria o quê? De pelúcia? - Tae debochou, como se fosse normal e todo mundo criasse um bode.

- Gente, ele tá perplecto. - Hobi riu.

- Perplexo. - Yoon corrigiu.

- Valeu, Aurélio.

- Eu tô mesmo. Quem cria bode? - Meu irmão parecia ter acabado de descobrir a América.

- Eu crio! - Tae levantou a mão, como se fosse realmente o assunto a ser retratado. - Na verdade eu crio, seis cavalos, um bode, um porquinho da índia, três vacas, dois pavões, um lagarto, três pererecas, quatro canários e dois periquitos. Tem uns cachorros também, mas eu perdi a conta. E eu tô querendo adotar um cabrito...

- O que?! E como... como chamam?

O meu irmão perguntou, e eu bati a mão na testa, Yoongi bateu a mão na testa, Jungkook fez o mesmo, Hobi deu um mugido igual a uma vaca e os olhos de Tae brilharam tanto que ele parecia que ia explodir a qualquer minuto.

- P-por que perguntou isso, meu Deus? - Sr. Kim perguntou, nem ele aguentava.

- Boom... - Ele deu um sorriso de vilão de filme de criança, tipo Gargamel. E aí começou o pesadelo. - Tem um cavalo, ele se chama Jackson, uma égua que eu carinhosamente apelidei de La Rosalía...

- Espera, o seu cavalo é tipo... Jackson? Michael Jaackson? - Tae negou com a cabeça.

- Não menino, Jackson nosso amigo.

- Huh... tudo bem...

- Tem a minha cavala Beterraba-

- Ela é roxa por acaso? - Jungkook intrometeu. Tae negou. - Então por que caralhos-

- POR QUE EU QUIS!

- Porque você é sonso! E pro teu governo, "cavala" não existe!

- Existe sim! Porque ela ia se chamar cavala, mas o meu pai não deixou! - Tae realmente parecia se importar com isso.

- Uh... ressentimento. É coisa de infância?

- Se fosse quando ele era criança eu juro que deixaria, isso foi a uns dois meses atrás, ele já era adulto. - Hae Woon coçou o nariz, nem ele entendia os gostos do filho.

- Não interessa. Aí tem a Lady, ela é classuda, a Nicki e a Kim Kardashian. Eu tô querendo comprar mais um, vai chamar Jungkook.

- Tsc! - Jungkook beijou santo e eu comecei a rir.

- Uau... o seu gostou pra nomes é-

- Perfeito, não é? Mas não termina por aí, tem o Senhor Hamster, ele é o meu filho mais lindo.

- Ué mas você não disse que tinha Hamster.

- É claro, o gorducho é um porquinho da índia. - Eu reclamei, lembrando do rato de dois quilos dele.

- Você respeita o meu filho e ninguém se machuca. - Taehyung me apontou uma manteigueira e eu me rendi. - Como foi que a gente chegou nesse assunto?

- Eu disse que ia matar o meu irmão e dar pro teu bode comer.

- Ah! O Namjoon é o teu bode? - Wonho concluiu.

- É! E o meu amigo também. É uma homenagem e tal...

- Oh...

- Ninguém concorda que isso é uma homenagem, mas cedo ou tarde nos tornamos vítimas. - Eu disse e o rosto de Tae se contorceu em desgosto.

- E-eu não acho, acho que você é muito carinhoso em cuidar de tantos bichinhos...

- Ah! Que fofo... - Tae disse emocionado. - Viu só? Ele me compreende.

- Eu te compreendo também. - Yoon se pronunciou. - E cheguei a conclusão hoje, ouvindo todos esses nomes, de que o melhor caminho a se tomar... é o caminho da clínica psiquiátrica.

- Yoongi! - Tae tentou o alcançar, por o desacatar, mas foi impossível, então ele bateu no Hobi.

- HEY! Por que eu apanhei?! - O motoqueiro reclamou, esfregando o local.

- Porque por via das dúvidas a agressão vai em tu mesmo. Eu opto por descarregar toda a minha raiva em quem anda de moto.

- O Jackson também anda de moto... - Jungkook disse, como se o tico e o teco do Taehyung fossem algo a se levar a sério.

- E ele deu o nome dele pra um cavalo, quer coisa pior? - Eu disse e todos começaram a rir.

Jungkook olhou no visor do celular e estava quase na hora de a gente ir.

- Por que a gente não vai logo? Caso contrário a fila vai ficar grande e a gente vai ter de ficar lá por horas...

- Mas a gente nem comeu. - Hoseok reclamou.

- Eu resolvo para vocês. - Hae Woon disse de prontidão, ele era um fofinho. Queria ele de pai. - Podem ir se trocar.

- Jim... eu vou também ou... - Wonho perguntou.

- Não, você vai ficar no celeiro, com Jackson, La Rosália e Kim Kardashian. Vai ser um rolê do caralho. - Jungkook alfinetou e o meu irmão começou a bater nele de mentira, nesse meio tempo Hobi passou por trás e bateu no topo da cabeça dele.

- Não fala palavrão, o Sr. Pai do Taehyung está aqui. Aquele gostoso. - Ele disse, saindo da cozinha, fazendo todo mundo rir.

- Olha, não liga pra ele, pode ir se trocar que eu vou te levar comigo. - Eu disse para a montanha de músculos, quando ele e Jungkook pararam de se bater.

- Tudo bem... - Ele olhou para o lado. - Ele vai fazer comida pra nós mesmo? - Disse surpreso, vendo o Sr. Kim na beirada da pia, com um avental. Eu assenti.

- Ele é chef, tem um restaurantããão. - Ele pareceu surpreso.

- Achei que ele fosse alguma coisa de animais, porque... - Era meio óbvio o motivo.

Eu ri um pouco.

- Não, essa neura do Tae vem da mãe dele, ela é veterinária... agora vai se trocar, eu te espero aqui. - Todos já haviam ido.

- Certo... - Ele disse se afastando, e gritando em seguida: - TAE DEVOLVE A MINHA CAMISA!

Eu ri, Jungkook também.

- A gente está em apuros. - Ele disse rindo um pouco ainda, me segurando pela cintura. - Como vamos carregar esse bando de malucos pra escola?

- Não sei... a gente da um jeito.

- A gente podia fazer alguma coisa mais tarde... - Ele disse, me lembrando do que tinha essa noite, fazendo a sensação de ansiedade esquentar o meu peito, seguindo de um suspiro profundo que eu dei pedindo a todos os santos para que isso passasse pelo menos até a hora de tudo realmente acontecer, finalmente chegar. - Você está disponível?

Eu engoli em seco.

Olhei para o lado. Hae Woon estava ocupado na cozinha, cozinhando as coisas com maestria.

Olhei n os olhos do meu namorado, segurando a sua mão e puxando-o para fora dali, indo em direção a sala e me sentando no sofá escuro dali, sendo acompanhado pelo outro, que tinha uma expressão doída no rosto.

- O que foi? - Eu perguntei, e ele me olhou feio.

- A minha bunda dói. - Ele respirou fundo e eu comecei a rir.

- Você se acostuma. - Garanti.

- O quê?! Como assim? - Ele disse sem crença alguma na situação, e tudo o que eu conseguia fazer era rir. Os papéis se inverteram.

- Huh... bom, pois eu acho que comparado a sua trepada sacana...

- "Trepada sacana"? - Ele riu com a língua entre os dentes. - Quando foi que você ficou tão pervertido?

- Quando você veio com essa cara de safado e esse jeitinho de mauricinho seu. Antes disso eu era um santo. - Jungkook sorriu e mordeu o lábio inferior.

- E você não tem culpa no cartório... - Confirmei com a cabeça, com a cara mais deslavada desse mundo.

- Não senhor, eu peguei super leve. - Ele arregalou os olhos.

- Do que você tá falando?! Você meteu na minha bunda igualzinho a uma furadeira, sem dó. - Ele cruzou os braços e eu caí em uma crise de risos que fez a minha barriga doer.

- Bom, uma vez eu conversei com uma pessoa que disse, que quanto mais você faz, mais rápido se acostuma... - Sussurrei em seu ouvido e ele riu, maneando a cabeça.

- Essa pessoa provavelmente é muito inteligente. - Ele disse de um jeito sedutor, me puxando pela cintura e me abraçando. - Porque essa é uma ótima ideia.

- O que é uma ótima ideia? - Meu irmão disse se aproximando, ao pé das escadas.

Eu me virei rapidamente, ficando de costas pro meu namorado, que ria baixinho com o rosto escondido no meu pescoço, eu estava falhando miseravelmente na missão de segurar o meu riso.

- É que... é uma boa ideia... - Jungkook apertou as minhas costelas e eu ri. Wonho tinha um olhar enigmático, meio risonho no rosto, como se não soubesse se era uma boa ideia ouvir a resposta para aquela pergunta. Dei uma cotovelada de leve no outro atrás de mim e ele levantou a cabeça, com lágrimas nos olhos.

- A gente estava falando sobre ser uma grande ideia fazer sexo com maior frequência. - Disse e eu abri a boca em um enorme "o".

- U-uau. - Wonho deu uma risada sem jeito, ele pareceu surpreso, como se achasse que eu fosse uma espécie de celibatário. - Jiminzinho, eu pensei que você fosse um bebê.

Eu abaixei a cabeça, exercitando o meu auto controle para parar de rir.

- Você tinha que abrir a sua boca grande. - Respondi, pensando na oportunidade perdida de não passar vergonha.

- Desculpa, é que eu não tenho desculpa equivalente. A minha bunda precisava ser vingada. - Jungkook disse e eu comecei a rir de novo.

- Nossa. - Meu irmão disse, abismado.

- Chega, eu quero terminar. - Falei, me soltando dele. - Wonho, não é desse jeito que ele está falando não. A parte do sexo é um detalhe que deveria ficar só entre nós dois, não é Jeon Jungkook?  - Ele ergueu as sobrancelhas divertido, cruzando os braços e fazendo cara de indiferença.

- Eu nunca concordei com essa cláusula do contrato. Por mim eu fazia em um daqueles carros de som, anunciando pra todo mundo que eu sou pioneiro nesse terreno aí. - Confessou convencido.

Eu revirei os olhos, e da escada eu consegui escutar uma expressão de espanto que me forçou a dar um sobressalto. Aquela mesmo, a que a gente faz puxando o ar para dentro com a boca aberta, apontando para alguém.

- Ããããhhn!! - Taehyung desceu de lá, como eu disse: Boca aberta, dedo apontado, cara de pasmo. - O neném, não é neném! - Ele gritou chocado, e eu bati a mão na testa.

- Ótimo. Agora eu estou bem mesmo. - Bati a mão na testa, e o meu irmão olhou para trás com a sobrancelha erguida.

Foi tudo muito rápido. Ele veio pra cima de mim igual a um mamute lanoso com ódio, eu era no máximo uma ameba.

Foi Taehyung voando em mim, eu voando no chão.

- AHHGH! - Grunhi, sentindo os braços de polvo dele ao redor da minha cabeça, e as suas pernas enroladas ao redor do meu corpo. - SOCORRO! Seu maluco! NAMJOOON! - Eu gritei inutilmente.

- POR QUE NÃO ME CONTOU QUE TRANSOOU!?? - Franzi o cenho confuso, parando de lutar. - Ué... desistiu? - Ele disse, diminuindo a força.

Eu sorri.

- Não, só queria garantir que conseguia tirar o meu braço. - Respondi sorrateiro, puxando o meu braço do seu aperto, e agarrando o seu nariz.

- AAAHH! Filho da-

- TAEHYUNG SEM PALAVRÕES! - Hae Woon gritou da cozinha.

- TÁ BOM! Seu ridículo, cada de bunda! - Respondeu a minha afronta com a voz anasalada devido ao aperto, mordendo a minha cabeça.

- AHH! Por que sempre morde a minha cabeça?!

-Porque tem um gosto bom! - Ele vociferou. - Por que não me contou que transou?

- Quem transou? - Hoseok perguntou, se aproximando.

- É, quem transou? - Yoongi perguntou, chegando junto.

- Se esses dois se enrolarem um pouquinho mais nesse chão eu tenho certeza que eles chegam lá. - Jungkook debochou.

Era incrível que todo mundo tinha um palpite ridículo demais para dar, mas ninguém para ajudar a tirar aquela girafa de cima de mim.

- Saí daqui! Me solta! - Gritei. - Olha, por que ninguém me ajuda?!

- Porque a gente está ocupado gravando. - Yoongi disparou, irônico como sempre.

- Vocês são uns filhos da- AAH! PARA DE ME MORDER SATANÁS!

- Não! - Ele disse entre dentes.

- Quer saber?! Você é completamente maluco! Se não me soltar eu juro que vou no seu quarto e pego aquele hipopótamo peludo que você chama de filho e faço uma touca!

- Não mexe com criança não! Pela criança eu dou a minha vida! Vagabunda! - Ele gritou e os meninos começaram a rir.

- Eu vou arrancar os seus cabeloos! - Gritei, puxando as madeixas escuras entre os meus dedos.

- AH! Me solta! Eu vou enfiar o meu dedão no teu cu. - Disse com lágrimas nos olhos.

- NAMJOON! - Eu gritei mais uma vez.

- Desiste, ele não tá aqui pra te defender dessa vez! - Respondeu alto puxando as minhas bochechas uma para cada lado. - Seu coreano safado de baixa estatura.

- AH MAIS QUE MERDA DE VIDA! QUE MERDA! - Clamei aos céus, com vontade de fincar o pé no piru dele.

Ouvi o som da porta abrindo, e para a minha salvação alguém responsável chegou no recinto.

As minhas sobrancelhas se ergueram, e eu senti uma pontada de esperança de ser salvo, enquanto eu apanhava daquele que dizia ser o meu amigo.

- Bom dia gale-... - Silêncio. - Eles estão brigando de novo? - Ouvi Namjoon dizer.

- NAMJOOON! - Eu quase relinchei de felicidade, igual a um cavalo.

- Uhuuul! BRIGA DE GOSTOSAS! Traz a navalha e a vaselina que eu vou entrar nessa! - Jackson disse.

Jackson o meu amigo, não o cavalo.

- Por que eu sempre chego e encontro vocês dois no chão desse jeito? Essa foi a educação que eu te dei Chimmy? 

- Mas nunca sou eu! É esse psicopata que cria ratos aqui!

- Psicopata é o seu paai! - Taehyung resmungou, mordendo as minhas costelas, me fazendo entrar em um misto de dor, risadas e ódio.

- Isso é verdade... - Jungkook debochou. E eu achando que namorar era sinônimo de ter alguém ali pra te cuidar nessas situações, eu sou rodeado de Judas.

- O seu também é. - Taehyung retrucou e Jungkook chutou a bunda dele.

- Gente o lanche est... eles estão brigando de novo? - Hae Woon questionou, como se já estivesse acostumado.

- Estão. - Responderam todos em um som, tipo um coro.

- Que coisa, foi sempre assim... quando acabarem de se bater venham comer. Namjoon, bom te ver filho. - O pai de Tae disse normalmente, se afastando.

- VOCÊ CRIOU UM MONSTROOO! - Disse eu, dando o brado retumbante.

- Eu sei, o problema é de vocês. - Deu as costas. Por isso que esse lunático é assim.

- Kim Taehyung, solta o caverninha.

- Me obri-... - Não foi necessário o fim da frase, Namjoon puxou ele pela orelha. - Ahhh aí, aí, aí-Tá bom! Tá bom! Já soltei esse tratante de meio metro.

- Ahaha, se fudeu. - Debochei, recolhendo o pouco que restava da minha dignidade do chão, junto dos cabelos dele que eu arranquei. - Feio, bobo, puta.

-Feio?! Eu sou bonito viado. - Tae retrucou, se recompondo, quase completamente, menos o cabelo, que estava todo pro alto.

- Taehyung tá parecendo uma galinhona. - Jackson riu, com a mão na frente da boca. E o outro tentou o alcançar. - Ops, eu não estou incluído na porrada.

- Aliás, por que bateu no Chim? - Nam questionou, com os braços cruzados, inquisitivamente. Ele é um ótimo pai, eu fico até emocionado. - A vida dele já é uma merda, oras! Deixa ele.

Retiro o que eu disse.

- É verdade. - Os meninos concordaram, juntamente.

- Um grande toletão de vida. - Yoongi entrou junto, para me "ajudar", fazendo um sinal de grande com as mãos no ar.

- É, uma grande bosta. - Hoseok completou, concordando com a cabeça, ao lado de Yoon.

Revirei os olhos com tanta força que se fosse um pouco mais, eles se prendiam nas sobrancelhas.

- Pensa em alguém que sofre... - Jungkook disse, dando tapinhas na minha cabeça.

- Tem razão... Chim, me desculpa sei que a sua vida é péssima. - Tae se desculpou e eu me virei, chutando os seus pés, fazendo ele cair com aquele cu no chão.

- Isso é por me espancar. - Me levantei, batendo as mãos na parte de trás da calça, ajeitando o moletom. - Quer saber? Vocês são todos uns filhos da puta, amigos da onça. Conseguem ser piores ajudando do que os meus inimigos. - Respondi, apontando o dedo pra eles, mantendo uma expressão colérica na face, até eles não aguentarem mais e começarem a rir.

- Tem razão, desculpa amor, a gente estava pegando no teu pé. - Jeon se aproximou, e eu tive vontade de atirá-lo na lareira.

- Poxa pior que é verdade.... ele tem inimigos pra caralho. - Yoongi zombou e eu o mirei arbitrariamente.

- Quer apanhar também palhaço? - Ameacei e ele riu junto com os outros. - Bando de tratante.

- Aí meu bumbum. - Tae reclamou, se levantando com as mãos na bunda.

- Não vai dar nunca mais. - Jackson riu, e Tae saiu correndo atrás dele pela casa, me fazendo rir também.

Bando de sem serviço.

Nós fomos até a cozinha, comemos, deliciosamente por sinal. Jungkook estava rindo, enquanto conversava com Namjoon e com o meu irmão. No momento em que terminamos de conversar, a mesa inteira estava vibrando, de tanto que a gente ria.

Logo nos colocamos de prontidão para ir até a escola. Yoongi optou por deixar o carro na casa dos sogros, e ir junto de Nam em seu carro, sendo assim Yoongi, Taehyung, Jakckson junto de Namjoon em um carro. E Eu, Hobi e Wonho no carro de Jungkook, já que Hoseok também deixou a moto na casa de Taehyung, e todos pareceram felizes com a possibilidade de continuarmos juntos para fazer algo após a votação.

Quando chegamos ao Sierra Canion não havia um fluxo tão profundo de alunos quanto haveria em um ano letivo, mas ainda sim, existia um certo número de pessoas, forçando assim com que eu me soltasse de Jungkook e entrasse a escola abraçado ao meu irmão.

Tae olhou nos meus olhos, ele, Hoseok, e Yoon eram os únicos que estávam a par de tudo o que havia ocorrido no decorrer da semana, sendo assim, nenhum de nós estava afim de dar brecha para Kwon ou Kai, o que no final das contas dava na mesma.

Jungkook estava mais atrás, com Hoseok, seu carrapato particular. Apesar da briga encenada, e de tudo o que fizemos todos ali imaginar, o fato de estarmos no mesmo local ao mesmo tempo poderia facilmente ser explicado por fazermos parte do mesmo circulo de amigos, e não necessariamente que estávamos juntos novamente, levando em consideração que nunca nos deixamos.

A minha liberdade estava diretamente relacionada com a ausência de Kai  ser uma  prerrogativa do dia de hoje. Porém, eu estava fortemente acostumado com o fato de ter os meus planos massacrados o tempo todo.

E ali estava ele, parado no pátio, onde a fila da votação estava instaurada, sem parecer estar interessado naquilo.

Estava parado, com uma jaqueta preta, e uma calça da mesma cor, semelhante até demais com a forma como Hseok se vestia. Um capacete repousava ao seu lado, e os seus braços estavam cruzados. óculos aviadores no rosto faziam a sua aparência destoar ainda mais da dos outros estudantes, parecia bem mais velho.

Bastou um olhar, para que o seu rosto se voltasse em nossa direção, se unindo diretamente com os meus olhos.

- Ele está te encarando. - Tae disse baixo, próximo ao meu pescoço, discretamente.

- Eu sei. - Disse, sem desviar nem por um segundo sequer. Sentindo o meu sangue esquentar nas veias. - Eu estou vendo. E estou encarando de volta. - Respondi sério.

- O-o quê?! - Ele deu um sobressalto ao meu lado. - Ficou louco? Uma coisa é você caçar briga comigo que não quero te matar, mas com esse cara aí?! A gente nem sabe de onde ele veio. - Me alertou, mas no atual estado em que eu me encontrava, não estava pensando direito.

- Vale a pena o risco. - Falei, tudo isso sem parar de olhá-lo.

- Seu maluco. - Tae me chamou a atenção. - Acha que ele vai vir até aqui? - Ele perguntou, pousando a mão no meu ombro.

Neguei com a cabeça.

- Não vai ter tanta cara de pau. - Eu disse. - Eu tenho plena certeza de que ele me reconheceu na boate. E sabe que eu o vi também. Ele não vai aberar... - Fui franco. Sabia exatamente o que eu havia visto.

Pelo menos era essa a premissa.

- Mas... - Senti cautela em sua voz. - Se ele realmente te reconheceu... por qual motivo ele guardaria isso do Kwon?

- Eu não sei. - Maneei a cabeça. - Mas sei que ele não disse nada.

- Como assim? - Indagou anárquico.

- Bom... se Kwon soubesse algo, ele teria vindo correndo até mim, me fazer uma ameaça.

- Mas nesse caso, ele estaria imaginando que você e Jungkook estivessem em maus lençóis.

Neguei.

- Ele não se contentaria com isso. Estamos "brigados", com uma possibilidade de reaver tudo. Esse é um risco que ele não correria. - Suspirei, vendo o olhar do mais alto se desligar do meu pela primeira vez, indo até o chão e depois ao nada, e ainda que eu segurasse toda a ferocidade dentro de mim, pude finalmente respirar profundamente, me virando para Taehyung. Eu não precisava de uma confirmação, o olhar de Kai me fazia crer que a minha tese estava correta. - Se tem uma coisa que eu entendi nos últimos dias, após conversar com Lily, foi que a família dela não gosta de assuntos inacabados, ou pontas soltas. Kwon não vai deixar pistas, se ele tiver algo contra mim, vai tramar algo grande, para me destruir, me fazer sumir, ou... - Resfoleguei, tentando não pensar no pior.

- Ou?...

Balancei a cabeça, tentando espantar os pensamentos que rondavam a minha mente.

- Nada. Melhor pensar que termina por aí...

- O-ok... mas se essa for realmente a situação, você vai fazer o que exatamente?

Respirei profundamente, e soltei lentamente, ansiando algo que eu não tinha certeza se conseguiria concluir.

- Armar algo maior...

Engoli seco, angustiado pela noite que viria a seguir.

Depois de votar eu caminhava pelos corredores, como fui o primeiro a votar, saí para ir ao banheiro sozinho.

Recebi no telefone uma mensagem de Jungkook, perguntando se eu já estava voltando, e logo enviei uma afirmação para ele. Quando respondi, o som da porta do banheiro batendo atrás de mim foi forte o suficiente para ecoar o ambiente, me forçando a um sobressalto.

Olhei repetidas vezes para os lados, levemente intimidado, supondo que fosse pela força do vento. Até um homem com mais ou menos o dobro da minha altura passar por trás de mim. Tudo o que eu vi foi o rastro de sua presença, um mero vulto.

Senti um choque me percorrer dos pés a cabeça, assustado eu me virei, após alguns segundos, vendo a minha frente uma figura inadvertida.

Ele era magro e usava roupas que eu já havia reparado mais cedo.

- Kai. - Eu disse incerto, com um fio de voz muito mais trêmulo do que o normal. - T-tá fazendo o que aqui?

Os seus olhos vazios ergueram do chão, se encontrando com os meus, me fazendo petrificar por dentro.

- Nós temos assuntos, a serem resolvidos. - Ele disse, com o tom de voz sério e grave, e a expressão intocada. - Não concorda? - Seus cílios bateram contra as maças de seu rosto lentamente, se abrindo frigidos.

Eu precisava sair dali. O meu foco estava unicamente em uma forma de fugir daquele lugar.

Os cabelos castanhos familiares bem penteados no lugar, e a expressão serena eram as características mais fortes daquele. Tentei desesperadamente ver mais em seu rosto, algo que me passasse segurança de alguma forma. Mas seu semblante era mais fechado do que o normal.

- Sabe que eu sei de tudo. - Ouvi parte das palavras de Kai, mas o meu foco me impedia de assimilar qualquer coisa. Olhei por um instante para a porta de saída do banheiro, que estava fechada, existiam cerca de dez metros, entre eu e um grito seguro por socorro. - E eu também sei que você sabe tudo sobre mim... - Engoli em seco. - Sei que você disse tudo o que sabia para Jungkook... - Uma sensação de formigamento surgiu em meus nervos, me confundindo. - Sabe que eu não posso deixar as coisas como estão... não sabe? - Ele piscou, e fez menção de se mover, me forçando a me mover um passo para trás, atemorizado. Ele sorriu. - Não precisa ter medo.

Estreitei o meu olhar em sua direção. O meu coração bate tão rápido que eu consigo senti-lo se chocar contra o meu peito.

- Eu não diria dessa forma. - Haviam mil sensações diferentes borbulhando dentro de mim.

Raiva. Frustração. Desespero. Desamparo. Medo.

Tudo isso e muito mais atingiu o meu corpo como um trem de carga em movimento, e em um segundo de desassombro, me esgueirei em direção a porta, porém Kai era um dos capangas de Kwon, e isso não era algo que se subestimasse, então rapidamente, com o dobro da minha velocidade o homem me alcançou, parando o meu corpo contra a parede, com um de seus braços de cada lado do meu corpo em um baque.

- Eu tenho que sair daqui! - Eu disse em uma avalanche de adrenalina.

- Eu não posso fazer isso. - Ele disse olhando em meus olhos. - Sabe que eu não posso! Eu prometi a ele que não deixaria assuntos inacabados. - Meus olhos se arregalaram quando ele disse, e foi questão de segundos para que em uma tentativa frustrada de sacar o meu celular, ele foi tirado das minhas mãos, sendo colocado no bolso do homem que me prendia ali.

Senti os meus batimentos aumentando gradativamente.

Aquele era o fim do jogo então?

Resfoleguei, vendo os seus olhos tão sérios. Meu coração erra uma batida, eu estava preso em um lugar fechado com alguém completamente imprevisível, o desespero era gritante, porém silencioso, por dentro eu estava a mil, por fora, estático, apenas o medo em minha face.

- Quem te fez prometer isso? Kwon? - Perguntei sem pausa.

As suas sobrancelhas se franziram.

- O quê?! - Ele piscou algumas vezes e eu o olhei nos olhos, parado a minha frente, me cercando com firmeza. - Quem te disse isso?

Como em um filme, o celular em seu bolso começou a tocar, no momento mais propício por um segundo de descuido pude ver seu olhar ir em direção ao seu bolso. Me dando a deixa para escapar entre os seus braços, inutilmente, sendo agarrado e trazido de volta para o mesmo lugar.

Com a mente em desordem eu levei a mão até o seu rosto, dando um tapa forte, que o fez virar para o lado oposto, e voltar a me olhar com cólera no semblante, agarrando os meus braços com firmeza e os segurando contra a parede, enquanto eu me debatia desesperadamente.

- Será que dá para colaborar?! Eu estou tentando acabar com isso de uma vez por todas! - Tenho certeza que a expressão alarmante em minha face era de horror.

Tentei me soltar de suas mãos outra vez, sem efetividade, e depois olhei em seus olhos.

Engoli um caroço do tamanho de uma bola de golfe que parecia estar parado ao pé da minha garganta e, com lágrimas nos olhos, olhei para o garoto que eu conhecia a tantos anos, mas já não reconhecia.

A primeira reação do nosso corpo é se desligar da consciência após um evento que nos impressiona tanto. O choque.

Então era essa a sensação de estar literalmente a beira da morte.

Com a insegurança e a força de seu toque frio em minha pele, eu inspirei o ar frio. O meu coração acelerou em uma velocidade completamente desproporcional ao meu estado físico. Mas em um milésimo de segundo os meus sentidos se reanimaram, saindo do transe em forma de uma frase em um fio de voz desesperado.

- Kai, você enlouqueceu, vai fazer o que?! Vai me matar? Aqui?! Dentro do colégio? - Me exasperei, com os olhos marejados e o coração disparado.

Kai franziu a testa.

- O quê? - Ele questiona, com confusão na voz grossa.

Tento esconder o medo e o desespero, mas falho, pois os seus olhos refletem algo que eu não sei descrever. Então lentamente ele desliga os olhos dos meus, olhando para o chão, para as mãos posicionadas em ambos os lados do meu corpo, e depois para a expressão em meu rosto.

Eu não sabia o que queria dizer.

Vi seu pomo-de-adão de mover uma vez, e ele suavizou sua expressão, soltando os meus braços, me libertando, se afastando um passo e colocando as suas mãos nos bolsos da calça.

Suspirei profundamente, cruzando os braços na frete do corpo, meio acuado.

- Me perdoe, Jimin... - Sua voz fria e grave me atinge, fazendo com que uma onda de calafrios passe por minha espinha, me causando arrepios.

Como assim? "Me perdoe"?

- Eu... eu não quis te assustar... - Ele diz e eu sinto raiva por meus poros.

- Como assim não queria me assustar?! Você me fechou dentro do banheiro, e me agarrou!

- Eu-... - Ele me olha no fundo dos olhos, respira fundo e limpa a garganta. - Você tentou fugir de mim. Esse é o único lugar onde eu consigo falar contigo sem que tudo vá pelos ares. - Algo em seu tom parecia sincero.

- Você me fecha no banheiro, e vem com aquela conversa de que "não pode deixar coisas pelas metades", que "não pode deixar as coisas como estão", o que quer que eu pense?! Seu maluco! - Gritei, e ele arregalou os olhos, se encolhendo um pouco.

- E-eu... me perdoa, é força do hábito, eu sou bruto, mas não quis te assustar.

- Mas assustou!

- D-desculpa.

- Que história é essa de que prometeu não sei o que, pra não sei quem?! - Ele engoliu em seco.

- Jungkook. - Disse baixo, nem parecia o cara de que intimidou segundos atrás.

- Como é?! Fala pra fora, eu não sou adivinha!

- Jungkook! O seu namorado droga. - Ele disse e eu desconfiei, era visível no meu olhar. - Ele não te disse mesmo?

- Como assim? Disse o quê? Tá querendo o que comigo?!

- Ele é um filho da mãe. Bem que disse que eu ia ter que enfrentar sozinho...

- Enfrentar o quê? Seu maluco!

- V-você!

Eu respirei, o mais profundamente que conseguia, pra não ter que bater nele outra vez, e fui até a pia, me sentando na mesma.

- Devolve a droga do meu celular! - Estendi a mão e ele veio rapidinho, me devolvendo.

- Eu só-

- Só é um traíra. Trabalha pro Kwon. Tô certo?

- Em tese... sim... - Ele desviou o olhar para o chão. - Mas se soubesse que eu estou fazendo isso aqui agora, jamais iria me deixar vivo. Então eu não sei por quanto tempo eu trabalho para ele...

Eu ri seco, revirando os olhos e reiterando a opção de socar ele. Inacreditável.

- Eu sabia. - Respondi, maneando a cabeça. - Era você quem passava tudo o que rolava pro pai do Jungkook, não era? Por isso ele estava sempre um passo a frente.

Kai me olhou nos olhos, provavelmente postergando se deveria ou não terminar aquela conversa ali.

- Nem tudo... - Respondeu calmamente, e seu pomo-de-adão se mexeu, mostrando a sua apreensão.

Ele caminhou até o meu lado, se inclinou para frente e apoiou os cotovelos no balcão, olhando para o espelho.

- Nada é tão simples quanto nós costumamos acreditar...

Pela tensão em seu corpo e a incerteza em seu olhar, eu podia dizer que ele não sabia qual era a melhor maneira de começar uma conversa a respeito de uma relação tão complexa quanto a que todos nós estávamos vivendo agora. E eu também não, principalmente vindo de alguém que eu mal ouvia falar, talvez o silêncio não fosse uma característica de Kai, e sim do personagem que ele interpretava. E a minha reação provavelmente deu uma boa indicação de como eu me sentia.

- Eu não tenho certeza. - Dei de ombros, deixando de olhá-lo, para olhar para as cabines a minha frente. - Tudo o que você me mostrou até agora não estava errado, levando em conta as minha conclusões, certo?

Ele maneou a cabeça, e os cantos dos lábios foram para baixo por um instante como quem diz "mais ou menos".

- Você também achou que eu fosse te machucar ali e agora. E olha só para nós aqui... você estava errado.

Kai assentiu.

- Mas você não está certo o tempo todo. Todo mundo erra. Não acha? - Ele de ergueu da pia, parando a minha frente, e olhando nos meus olhos. - Foi o que aconteceu comigo. E eu estou aqui para concertar. Mas... eu não sou o único com segredos. Certo?

Suspirei, negando lentamente.

- Não. Não é...

Os meus ombros se ergueram quando a tensão começou a me envolver.

- Não se preocupe. - Ele alertou. - Isso não é uma ameaça... eu vim para tentar concertar um pouco dos estragos que eu ajudei a causar...

- Para ajudar? - Ergui uma das sobrancelhas, e ele confirmou.

- Ou talvez, eu esteja apenas colocando o meu pescoço direto na forca nesse instante... - Ele olhou para a porta do banheiro, e eu fiz o mesmo. Era possível ouvir passos. - Jimin. - Ele chamou, e eu o olhei. Ele segurou a minha mão. - Eu me acertei com o Jeon... mas não posso terminar isso sem me desculpar contigo. Quero que me perdoe por tudo, e saiba que existe uma explicação perfeitamente razoável para o que aconteceu entre nós... só... - Ele suspirou fundo. - É estranho, mas... eu não fui cem por cento fiel ao Senhor Jeon...

Eu não podia negar que a coisa toda era estranha, porém o seu olhar por incrível que pareça me passava uma extrema sinceridade. Eu só não sabia se confiar seria a questão. No entanto...

- Eu estou acostumado com coisas estranhas. - Disse, retribuindo o seu aperto, com fé de que aquilo ali, não fosse a minha caminhada para a guilhotina... e nem a dele.

Os últimos meses foram completamente construídos sobre uma cadeia aleatória de acontecimentos que me levaram aonde eu era necessário, e aonde eu encontraria as melhores e piores pessoas. Peculiar, não? O fato de não ser possível distinguir se eu deveria agradecer ou praguejar os últimos meses da minha vida.

Eu estava apenas... levando.

Até agora, havia funcionado. Até agora...

Eu conhecia de verdade o homem com quem eu sentia que deveria realmente estar. Fiz amigos para a minha vida inteirinha, os melhores de todos. Encontrei o meu irmão mais velho. Joguei tudo para o alto algumas boas vezes, isso incluía tudo o que eu mais odiava, o meu antigo emprego, a minha relação destrutiva com o meu pai, as amarras que me prendiam ao passado, me permitindo seguir algo que eu realmente queria em cima dos palcos. Enfrentei um mafioso. Concertei a minha vida em relação a Madelaine. Agredi um homem. Perdi a virgindade. E comecei uma nova "carreira", que confesso, estava amando. Mas mais importante do que tudo, me via cada dia mais apaixonado pela pessoa que escolhi tão cedo na vida.

Tive alguns pequenos e alguns grandes problemas no decorrer do caminho, uns maiores que outros. Mas tudo no final das contas dava certo, graças a família que eu escolhi, e que também me escolheu.

Honestamente, eu não queria perder muito tempo questionando.

- Eu... quero acreditar em você, Kai. Eu só preciso de ajuda para isso...

Ele me olhou nos olhos profundamente. Como se suas próximas palavras fossem de extrema importância.

- Eu... eu sei... sobre a Lalisa. - Ele disse, e eu arregalei os olhos ao máximo que pude, sentindo a boca secar. - Eu descobri tudo sobre ela a cerca de seis meses... e eu não passei nenhuma das informações para os Jeon... nem para o Jungkook. Pode confiar em mim? - Pediu.

Assenti.

- Jungkook também não sabe nada sobre você... e aquele lugar... - Ele olhou o relógio, e olhou para mim. - Jimin... existem infinitas coisas que eu gostaria de te dizer, mas eu não posso. Não sei se você vai concretizar o seu plano, e derrubar Kwon do trono, mas, o que eu posso agora, é te alertar.

Assenti mais uma vez.

- Ele está planejando algo grande contra você. Ele tem certeza de que já está fora do seu caminho. Tenho certeza de que alguma outra pessoa já te disse isso, mas, saiba que ele é um homem extremamente perigoso. Não baixe a guarda. Não fraqueje, e... não seja descoberto. - Ele olhou para o relógio mais uma vez.

Tenho certeza de que o meu rosto parecia mais confuso do que eu poderia descrever em palavras agora.

Kai ergue a mão com um dedo apenas levantado, o indicador, quando abri a boca para contra argumentar. Nada fazia sentido, e o cara estava enrolado. Eu não sabia o que fazer, ou o que sentir, e eu odiava me sentir assim, me fazia sentir como um idiota.

O homem balançou a cabeça, e olhou para a porta.

- Eu não sei se o pai do Jungkook vai saber sobre o que eu fiz. Mas se eu não estiver mais aqui amanhã... - Ele olhou dentro dos meus olhos, e sorriu, sinceramente, pela primeira vez. - Eu vou ter me certificado de que consegui te ajudar... - Ele olhou ao redor. - Que pude me redimir... ainda que um pouco. - Engoli em seco, suspirando pesarosamente. Aquela conversa ia andando por um caminho que eu não estava gostando que fosse. 

- O-o que você quer dizer... Kai? - Mais uma vez, os seus olhos pareciam querer me analisar detalhadamente. Era inquietante. Eu me senti inseguro, querendo saber em que lugar ele queria chegar. - Você está em perigo?

Eu não gostava da sensação. Definitivamente, havia algo mais no que ele via.

- Todos nós estamos Jimin. - Ele disse, sendo deliberadamente vago. E eu não fazia ideia do por quê. - Presta atenção. - Olhou sério para mim. - Eu quero que preste bem atenção, pois eu não sei se vou ter mais alguma oportunidade de te dizer isso outra vez. - Assenti, freneticamente.

Não fazia sentido, nada disso. Quando as coisas não se encaixavam, minha mãe sempre dizia... procure mais fundo.

- Eu quero que pegue os arquivos que você fotografou no escritório de Kwon, na vez em que invadiu o escritório dele. - Ele disse, e eu me surpreendi, por ele saber e algo, que nem mesmo eu me lembrava. - Esse é um dos principais motivos para ele e querer fora do caminho, aqueles documentos eram confidenciais. Eu os mostrei para Jungkook, mas agora eu preciso que leve tudo para Seokjin, para que ele use-os.

Eu assenti, incerto sobre tudo. Ele falava tudo rápido demais, eu não tinha tempo de questionar. Meus olhos se estreitaram, ele estava me guiando por um caminho para o qual eu não havia dado importância ainda, tinha que haver mais. Alguma coisa que estava faltando, para eu finalmente pegar Kwon, e era isso o que ele estava me entregando.

- Quero que tenha coragem para fazer o que eu sempre quis, mas não tive. Ou quem vai terminar mal... vai ser o Jungkook...

Ouvimos o som da maçaneta sendo aberta, e eu desci da pia, segurando em suas mãos e sussurrando.

- Eu... eu posso te ajudar Kai! - Ele sorriu, com uma expressão sombria no rosto.

- Ninguém pode Jimin... - Ele olhou para a porta se abrindo. - Só mais uma coisa, não vá essa noite!

A porta começou a se abrir e eu não pude ouvir a sua outra vez, pois quando eu voltei o olhar, Kai já não estava mais lá.

- Mas que porr-

- Jimin... - A voz que eu menos esperava ouvir por ali veio da porta do banheiro, que se abriu lentamente, a medida que o corpo de Dylan apareceu.

Estreitei o olhar sobre ele, e olhei ao redor, rodando sobre os meus calcanhares, sem entender nada.

Pra onde aquele cara se foi naquela velocidade?

- Jimin? - Dylan deu dois passos para o lado de dentro do banheiro e eu olhei seus olhos. - Está tudo bem? Procurando alguém? - Ele disse, vindo até mim, mas eu neguei antes.

- Tá fazendo o que aqui? - Murmurei confuso, sem mover um músculo sequer.

Ele riu, e coçou a parte de trás da cabeça.

- Oh... ok. Eu sempre me esqueço de como você consegue ser direto. - Ele olhou ao redor. - O Jeon pediu que eu te levasse de volta. - Deu um sorriso brando, e eu franzi o cenho.

Jungkook não pediria nada assim ao primo, não tendo a relação que eles tem, e nem podendo pedir isso a qualquer um, como Nam, Tae, Hobi ou mesmo ao meu irmão. Sendo assim, ou eles haviam passado por uma reconciliação brusca, da qual eu não soube; ou existia algo de muito errado ali.

Na verdade eu vinha sentindo que várias coisas estavam erradas ali desde o dia em que Kai espancou o meu antigo patrão na cafeteria em que eu trabalhava.

- Bom... nesse caso... - Murmurei, e ele continuou, em seguida levando uma das mãos até as minhas costas, me encaminhando até a saída.

- Vamos? - Ergui a cabeça, com uma expressão mais do que anárquica. - Ou... está esperando alguém? - Suas sobrancelhas se ergueram, e ele deu mais uma boa olhada ao redor do ambiente. Eu engoli em sego, e neguei com a cabeça, fechando o semblante, e caminhando para fora dali.

Chegando até o pátio, os garotos estavam todos juntos, e quando eu me aproximei, algo no olhar de todos desmentiu o que Dylan havia dito. Existia confusão no rosto de todos ali, ou no mínimo, surpresa.

Para Jungkook, não era uma das boas.

Ele olhou o primo profundamente em seus olhos, como se desconfiasse até de seu andar.

Inclinou o corpo sutilmente para frente, alcançando a minha mão com as pontas dos dedos e segurando-a, me levando para perto de si. Dylan viu o gesto que apesar de lento e delicado, fora muito mais hostil do que eu esperava,  dando um sorriso leve e cortando o contato que sua mão tinha com as minhas costas. Sua mão desceu, até o bolso da calça, e os seus olhares cruzados fizeram uma tensão maçante descesse sobre as nossas cabeças.

- Está entregue. - Dylan sorriu, Jung olhou para ele e depois para mim, eu por minha vez meio que dei de ombros. Ele não pareceu satisfeito.

Alguns segundos depois ele se aproximou do meu ouvido discretamente.

- Mas que porcaria foi essa? - As minhas suposições estavam corretas então.

Dei de ombros.

- Acha que eu entendi?! - Murmurei, e disfarcei, passando as mãos para cima e para baixo em seu peito, acariciando-o da mesma forma que ele fazia com o meu cabelo. - Não foi você quem pediu que ele me chamasse?

As feições de Jungkook foram de perplexo para caótico.

- Mas que porr-... - Ele revirou os olhos. - Acha mesmo que eu iria pedir alguma coisa pra ele? Sabe que a gente se odeia. - Sussurrou e gritou ao mesmo tempo, de uma forma que chegava a ser engraçada.

- Sei que você o odeia, e não vice versa. - O corrigi, e ele riu um pouco, fazendo pressão na minha cintura e mordendo o lábio inferior. - Acredite ou não, eu pensei o mesmo... mas...

- Engraçadinho... mas?

- E-eu... eu estava com o seu amigo. - O olhei nos olhos, reprovando um pouco. Seu olhar desarranjado passeou por todos os caracteres do meu rosto, e a confusão em seu rosto foi dando espaço ara surpresa, quando as suas sobrancelhas se ergueram, sua boca se abriu em um "O" e depois ele deu um sorrisinho de quem fez coisa errada, mostrando os dentes feito um coelho. - É... pois é.

Ele deu uma debochada.

- O Bruce Lee? O Kai?

Revirei os olhos.

- Não, mané, o Kung-fu Panda. - Dei um tapa em sua cabeça, e ele riu. - Claro que é o Kai! Por que não me contou?!

- Bom... porque eu queria ver você acabar com a raça dele, é claro. - Disse como se fosse óbvio e eu me senti ultrajado.

- E-EU! - Olhei para os lados e ele riu. - Eu não faço isso! - Sussurrei com gritos igual a ele, depois de controlar o tom de voz.

Ele cruzou os braços e a sua língua apareceu na bochecha. Seus olhos passeavam o ambiente, como quem diz: "Aham Cláudia, santa lá."

- Sei...

Estreitei os olhos, ao não ver sinceridade em sua expressão.

- Cara de pau. O que você fez? - Fiz uma careta, sentindo uma imensa vontade de bater nele também. - Matou, picou picadinho e jogou dentro do vaso sanitário?

Jungkook refletiu e eu fiquei de boca aberta, sem saber ao certo como responder.

- Desembucha tampinha... - Ele riu.

- E-eu possso... meio que... ter dado uma porrada na cara dele...

Jungkook soprou o ar para rir, fazendo um barulho realmente alto, chamando a atenção dos curiosos que eu chamava de amigos, Dylan já não estava mais ali.

- Você deitou ele? - Jungkook disse e eu rezei para que eles não tivesse ouvido.

- E-eu não-...

- JIMIN DEITOU QUEM?! - O boca arregaçada de sacola, vulgo, meu querido amigo Kim Taehyung fez questão de gritar para os quatro ventos.

- O Kai. - Jungkook debochou.

- Eu não deitei ninguém! - Me defendi. - Olha só, vai se foder Jungkook, seu bundão!

- Ninguém mandou deitar ele... - Disse com uma falsa entonação de inocência.

- Ixi... Jimin deitou ele... - Yoon retrucou sorridente, e eu o fuzilei com o olhar.

- O teu rabo.

- Eu finalmente estou vivendo esse momento. Obrigado Deus. - Hobi agradeceu, com as mãos unidas em prece e os olhos voltados para o céu.

- Olha vai tomar todo mundo no cú galerão. Eu só soquei a cara dele, porque ele me segurou contra a parede, e acreditem, ele mereceu!

Eles permaneceram debochando da minha cara, mas não durou mais do que cinco minutos, até estarmos todos fora dali, livres da votação inútil que com toda a certeza daria Madelaine e Jungkook, ninguém realmente se importava.

Eu estava de cavalinho nas costas do meu irmão, íamos de encontro aos carros.

Lágrimas se formaram em meus olhos, enquanto eu tentava controlar a dor na minha barriga, vendo Jungkook aguentar tranquilamente Hoseok aporrinhando a paciência dele.

- Eu vou amar quando eles chamarem o rei e a rainha do baile para dançar a valsa com os seus pares, e o Jungkook tirar o Jimin para dançar. - Taehyung disse, enquanto eu me aconchegava no meu mais novo meio de transporte. - Vai ser tão romântico.

- Não. Não inventa moda. - Revirei os olhos, vendo de canto Jungkook me mirando de soslaio, algo em sua expressão eu não conhecia. E eu normalmente conhecia tudo em suas expressões.

Nunca mais tínhamos conversado sobre a nossa exposição pública. Para ser sincero, não conversávamos muito sobre nada além de ficar juntos, de como seria o nosso futuro, entre outras coisas. Ainda mais considerando como tudo parecia correr tão bem a "tanto" tempo.

Duas ou três semanas de sossego não deveriam ser nada mais do que normal, partindo do pré suposto de que jovens namoram o tempo todo, e Jungkook e eu não deveríamos fugir a regra, somos como quaisquer outras pessoas, exceto por alguns mínimos detalhes.

Kwon.

E por esse motivo, perdíamos muito, por tentar aproveitar cada segundo de paz a nós entregue.

Seria cômico, se não fosse trágico.

- Nós não precisamos desse tipo de exposição agora. - Disse com uma falsa animação, e carregado de um verdadeiro porém velado, nervosismo. - Não é? - Perguntei incerto, vendo o seu sorriso forçado pousar e ir para longe em questão de segundos, dando espaço para uma expressão que eu mais uma vez, não sabia o que queria dizer.

- Eu... - Ele fez outra vez, sorriu e deu de ombros, sem jeito. - Eu não sei se deveríamos realmente nos expor tanto assim... - Vi o relevo em seu pescoço subir e descer, ele engoliu em seco. - Mas também não quero ser refém dos meus pais para sempre...

Semicerrei os olhos, descendo das costas do meu irmão e caminhando junto a todos, naquele clima estranho que havia se instaurado.

- Eu estava pensando. Depois da formatura, talvez fosse a nossa vez de ter liberdade plena... - Disse com as mãos nos bolsos, como quem não quer nada.

- O-o que quer dizer? - O olhei nos olhos, mas ele olhava para o chão. - Está falando sobre o nosso... futuro?

Ele fez uma pausa antes de dizer.

- Quando me formar, eu não quero continuar em Maple Hill... e esse convite se estende a você.

Eu estava falando do panorama que a maioria dos casais visualiza antes de jogar tudo pro alto e começar uma vida a sós.

Em duas semanas, não haveria como voltar atrás. Nos formaríamos, e eu não sabia se estava pronto para esse tipo de responsabilidade, não nos conhecíamos a fundo... ou melhor, ele não me conhecia. Não que eu estivesse com medo ou alo assim. Eu sentia que a minha vida seria vivida ao lado dele, mas como?

Como namorado, é claro. Amigo, certamente. Mas o que Jungkook via no horizonte?

Com tudo o que separa a gente?

Kook refletiu, e um sorriso pequeno apareceu em seu rosto, ele deu de ombros levemente e seu rosto enrubesceu.

- Não é algo com o que você tenha que se preocupar agora, vamos ter tempo para conversar sobre essas coisas. Não estou tentando te assustar, nem nada assim.

Fiz uma careta.

- E-eu não fiquei assustado. - Fiquei sim. - É só que... ao meu ver, esses planejamentos eram os que a gente faz depois da faculdade...

Ele riu um pouco, e se aproximou, delicadamente tomando a minha mão contra a sua entrelaçando nossos dedos.

- Eu não fiz faculdade. Você também não... - Fomos parando de andar, ao chegar próximo ao seu carro, e ele me encostou contra ele, e ficou a minha frente. Nessa hora os meninos nos deram um momento de espaço. - O que você quer do futuro? Digo, como me vê nele?

Ele apertou os braços ao meu redor, me abraçando. Seu calor me envolveu de uma forma que eu não esperava.

- Eu me vejo... - Ele olhou para o alto um pouco, como se pensasse. - Casado com você, vivendo tranquilamente, longe de todo o drama que vem nos cercando a tanto tempo. Longe de quem nos faz mal, e próximo a quem nos faz bem, os nossos amigos... a nossa família do coração. - Ele sorriu e eu mimetizei, involuntariamente. - E quem sabe alguns gatinhos... - Deu de ombros. - Ah! E é óbvio que um quarto para o seu irmão, porque eu já sei que você não vive sem o halterofilista bombado. - Disse, e eu desatei a rir sem saber o que dizer.

Era como se ele juntasse cada uma das minhas dúvidas e inseguranças com as próprias mãos e jogasse para o alto.

Ele me apertou um pouco, na cintura, onde a sua mão estava.

Jungkook levantou meu queixo para olhar em meus olhos.

- Eu estou louco pra poder fazer as coisas que os casais normais fazem. Sair juntos, churrasco no verão, convidar os amigos, fazer as refeições juntos... Jimin, eu quero poder te beijar, te abraçar, segurar a sua mão... eu quero poder dizer que você é meu, sem me preocupar se tem alguém olhando. - Ele deu um longo suspiro. - E infelizmente, eu não posso ter isso, não vivendo debaixo do teto dos meus pais. Se eu tenho a sorte de ter condições para viver contigo o quanto antes, é isso o que eu vou fazer. É a decisão que eu tomei, a solução que eu encontrei para os nossos problemas... - Os seus olhos brilharam. - Você não vai precisar fazer mais nada para lutar contra o meu pai. Nós vamos passar por isso finalmente. Eu te prometo.

Suspirei.

Sem olhar para ele dessa vez, fiz a pergunta de um milhão de dólares, que estava entre nós desde o início.

- E quanto a você? - Ele me olhou. - Vai abrir mão de todos que ama por minha causa?

Os seus dedos apertaram a minha pele momentaneamente. Não o suficiente para machucar, e sim para mostrar que isso estava pesando sobre ele consideravelmente.

Ele limpou a garganta, e negou com a cabeça.

- Não é bem assim... - Começou, e eu senti o meu coração acelerar. - Eu não vou abrir mão de todos que amo por sua causa. Vou abrir mão de todos que não te amam, porque eu te amo.

Eu senti ele se mover, e os seus braços me rodearam mais uma vez. Ele me apertou contra si, e escondeu o rosto em meu pescoço, os meus olhos estavam marejados.

Nesse momento eu me recordei de quando alguém me disse que a Disney era o lugar mais feliz do mundo. E sinceramente, foda-se a porra da Disney. O abraço de Jungkook era o lugar mais feliz da terra.

Eu não aguentava mais mentir para ele. E essa seria a última noite em que eu esconderia algo dele. Colocaria todas as cartas na mesa essa noite.

- Sabe que eu te amo... não sabe? - Questionei, e ele tirou o rosto do meu ombro, me olhando nos olhos e assentindo. - Quero que vá ao meu apartamento essa noite... - Disse, reunindo toda a coragem que ainda me restava desde o dia em que enfrentei Kwon da última vez.

- Mas você trabalha, e eu tenho-...

- Não importa quando você chegue, só... venha.

Ele sorriu, e eu fiz o mesmo, selando os lábios nos seus por um segundo.

Eu não queria perder ele, nunca.

Sorri, com as mãos em seu rosto, acariciei seus lábios com os dedos, e ele sorriu.

- O que foi? - Seu rosto corou um pouco, coisa que era extremamente difícil de se presenciar, sendo a pessoa segura que ele era. - Por que está me olhando assim? - Os seus olhos se fecharam em linhas, quando sorriu.

Por alguma razão, os gritos em minha mente, que faziam tantas perguntas se calaram, contrariando o sentimento de que eu enganava quem eu amo. Uma voz que eu não ouvia a tanto se fez presente.

Suspirei fundo, e uma lágrima desceu de um dos meus olhos.

Se esconder para tentar lidar com tudo isso não é errado. Se esconder para sempre, sem pensar no que foi perdido, é. Eu acho que você sabe o que precisa fazer.

- Mamãe... - Eu sibilei minimamente, e Jungkook franziu a testa confuso.

Eu sorri largo, e ele colocou as suas mãos sobre as minhas que repousavam em seu rosto macio.

- Você é a minha luz... em uma experiência muito mais do que sombria. - Resfoleguei, e ele sorriu, tirando as minhas mãos de seu rosto com delicadeza. - Você sabe disso... não é? - Engoli em seco.

Ele sorriu, e sua mão em minha nuca me inclinou para frente, tomando a minha boca num beijo lento e profundo.

Eu sorri. Era hora de ir.

...

[28.5] CHAMPAGNE COCKTAIL

.

Antes...

Cheguei ao Sunset CABARET Lounge pontualmente às sete. Taehyung me emprestou um uniforme, já que eu havia vindo direto da casa dele. Antes, fomos embora da escola de para almoçarmos em sua casa. Seguido de uma tarde super tranquila, com Jungkook, meu irmão e os meus amigos. Seria, se eu não estivesse tão nervoso com a situação que viria a enfrentar. Em vez disso, me sentia tenso, e com o estômago embrulhando, embora ninguém pudesse perceber. Ao mesnos, era o que eu desejava transparecer, mas que ainda assim, não se escondia de Taehyung, Hoseok e Yoongi.

Assim seguimos, até agora.

Em frente ao espelho do elevador eu me vi, parei, ajeitei os fios escuros dos meus cabelos e arrumei a lapela da camisa social branca que eu vestia. Com as mãos eu pude posicionar o harness marrom de couro, com fivelas douradas sobre meu busto. A calça marrom chocolate cobria as minhas pernas, combinando perfeitamente com a parte de cima e com o brogue terroso que eu calçava.

Suspirei, vendo o reflexo de Lalissa atrás de mim quando as portas se abriram, eu me virei, e a mesma permaneceu estática, com a mão na maçaneta.

- Você fica aqui. - Falou, e o segurança nem fez questão de me parar.

Eu me sentei, sentindo toda a exposição que era estar na sala de Seokjin, sem ele ali... até não estar mais.

- Se você pensar um pouquinho... - Rápido como um raio eu levantei o meu olhar, vendo Seokjin com uma carranca no rosto, se dirigindo diretamente até sua própria Whikeira, virando em um copo e dando um gole. Eu me levantei, e ele se aproximou. - Jimin. Jeon já machucou muito mais gente do que você imagina. Feio. Muito feio. Ele ameaçou a Lisa e a mim também. Não acredito que você entrou no caminho dele.

Eu engoli em seco, sabendo o que vinha por aí.

O olhar de Jin agora carregava chateação.

- Não posso deixar que ele ameace mais alguém de quem eu gosto... - Seus olhos foram em direção ao chão.

E apesar da música exorbitantemente alta, eu estava consciente de que era o suficiente para me desmontar, ver um cara durão como ele ali, sem defesas.

- Eu sei como lidar com ele...

- E se ele te machucar?

- Ele não vai me machucar. É do interesse dele me manter inteiro. Confia em mim. - Olhei em seus olhos.

Ele respirou longa e lentamente. Até as pessoas mais difíceis ficavam sem cartas às vezes.

- Tudo bem...

Sorri.

- Será que eu posso te dar um abraço?

Ele revirou os olhos, mas confirmou, e eu o fiz. Dando um abraço bem apertado em seu corpo.

- Você me lembra alguém, sabia? - Sorri, e ele ergueu as sobrancelhas.

- Não vai dizer que é o seu pai. - Suspirou.

- Na verdade é. O Nam.

Eu sorri e me virei, indo direto até o elevador com ele em meu encalço feito um segurança.

- Só... - Ele segurou o meu braço, antes que fossemos de encontro ao diabo. - Só... pode me explicar? Digo, como aconteceu tudo... eu ainda não entendi nada. - Ele pediu, ajeitando o par de luvas de couro, que casavam bem demais com o terno preto feito a noite e os sapatos oxford em verniz em seus pés. O casaco de pelos preto por cima do paletó, apenas apoiado em seus ombros sem cobrir seus braços faziam jus a sua pose.

Os seus olhos se escureceram instantaneamente e eu vi o Jin que eu conheci quando pisei lá pela primeira vez.

- T-tudo bem. Eu vou te contar...

Olhei para o elevador, para o relógio e depois para o seu rosto. Todos dispararam adrenalina em minhas veias.

- Tudo começou assim...


Agora...

Seus ombros caíram, e ele segurou a respiração por um segundo, soltando-a em seguida.

- Me mata saber que deixei chegar a esse ponto. - Disse Seokjin, olhando profundamente dentro dos meus olhos.

Desta vez eu revirei os olhos, mas não em desdém ao homem à minha frente, mas em desistência.

Neguei com a cabeça, e suas sobrancelhas se franziram.

- Isso não aconteceu, não coloque em si essa culpa. - Cruzei os braços, e virei um pouco o rosto, olhando para o chão da sala. - Ela não te pertence... - Sorri um pouco, sem humor.

- Não? - Sua sobrancelha se arqueou de maneira desafiadora. - É bom saber, porém isso não me fez sentir melhor.

- No fim das contas... eu sinto como se... fosse inevitável. Ele está em toda parte, literalmente o tempo todo. Como se tudo de alguns tempos até aqui caminhasse exatamente para esse momento. Eu me lembro bem de alguém me dizendo que ele era o tipo de pessoa que conseguia exatamente o que queria, e eu não acreditei... foi um dos meus vários erros, eu o subestimei, e ele conseguiu o que queria, um confronto.

- Mas você não está colocando no papel o fato de que ele não sabe que é você... - Jin disse, cruzando os braços.

- É o que nós imaginamos... - Lily abriu a porta e olhou para nós dois.

- Precisamos ir. - Disse ela baixo, olhando em meus olhos. Seokjin suspirou fundo, crispou os lábios e virou de costas, esfregando o rosto com as mãos. - Está quase na hora. - Assenti.

- Tudo bem...

- Tem certeza que vai fazer isso?

- Claro que não. - Sorri. - Mas não é como se eu fosse deixar tudo ir da forma como ele quer que vá... não é? - Falei, observando-o com o olhar mais tranquilo que conseguia, na tentativa de transmitir calma.

- Eu... - Ele se virou e abriu os braços, com o olhar preocupado. - Eu não sei mais o que te dizer, tá bom?! - Disse impaciente. - Está se colocando em perigo!

Silêncio.

Eu podia ouvir o som da sua respiração ofegante, então ele se recompôs, voltando a sua postura habitual, com o semblante neutro, olha sério e postura impecável.

Tocou a fivela do cinto e respirou profundamente outra vez.

- Sabe... é por isso que eu sempre digo que tenho os melhores amigos do mundo. - Sorri, me aproximando dele, que desviou o olhar, apanhando um copo. - Se preocupam comigo sempre... vai dar tudo certo.

- Se nos preocupamos? - A última voz que eu esperava ouvir ali chegou, passando pela segurança junto de Taehyung. - Eu sinto o triplo. Você é o meu filhinho. - Namjoon sorriu e a minha expressão se desfez em pânico.

- Nam?! - Engoli em seco.

- Acha mesmo que faz alguma coisa sem que eu saiba? - Ele deu um tapa leve no topo da minha cabeça. - O fofoqueiro do Taehyung me conta tudo.

Estreitei o meu olhar para o assunto do momento e ele sorriu amarelo.

- Sabe o que é... - Coçou a cabeça.

- Boca de sacola. - Eu disse e ele sorriu.

- EU SOU MESMO! - Respondeu, como se fosse um elogio.

- V-você está muito bravo? - Falei, observando Nam com um olho aberto e um fechado, esperando a próxima porrada.

- Você acha? - Engoli em seco.

- Ahnn... tudo bem, pode se juntar com aquele ali. - Apontei para Seokjin, que até agora observava tudo em silêncio. - Ele também está me odiando muito nesse momento.

- Oh. Seokjin. - Nam o cumprimentou.

- Você criou um filho terrível. Sabia? - Jin disse sério e Nam me olhou de soslaio.

- Só eu falo dele. - Ele sorriu. - Estamos entendidos? - Seokjin ergueu as sobrancelhas por um instante, a expressão de Namjoon estava tão serena que nem fazia parecer que ele havia acabado de insultar o segundo coreano mais assustador que eu conhecia.

- Ele acabou de dar uma ordem para o Deus da arrogância que dorme no formol? - Tae sussurrou em meu ouvido, e eu movi milimétricamente a cabeça, sentindo que dali floresceria uma bela guerra.

Rapaz, eu não sabia da missa a metade.

- Estamos entendidos... - Seokjin surpreendentemente respondeu, em um tom repleto do que eu me atrevia dizer que seria diversão.

- Ótimo. - Namjoon disse. Havia um sorriso em seu tom de voz.

- Qual é mesmo o seu nome? - Jin perguntou, girando o copo com Whisky, com um tom de curiosidade, e um sorriso zombeteiro no rosto.

Tae e eu nos entreolhamos de olhos arregalados, como se concordássemos com uma coisa: era uma briga de gigantes, e eu claramente, não era um gigante.

Namjoon também pareceu confuso, afinal, Seokjin havia acabado de o cumprimentar ali.

- Namjoon. Kim Namjoon. - Respondeu comedido. Esperando algo mais, provavelmente.

Certamente era mais um dos caprichos de Kim Seokjin.

- Claro... - Ele assentiu, satisfeito, com um sorriso acobertado por sua própria convicção. - O melhor é que você não vai nem precisar de trocar o teu sobrenome pelo meu. - Disse passando entre nós, com todo o seu sarcasmos, apenas dando um gracejo a Nam, com seus olhos, deixando a mim e Tae de boca aberta.

O rosto de Nam enrubesceu e ele fechou as mãos em punhos.

Taehyung levantou o meu queixo com a mão e eu levantei o seu, fechando as duas bocas, que se encontravam abertas.

Finalmente, ele nos olhou por cima do ombro. Apanhando seu enorme casaco de pelos.

- Vocês não vem? - Ele disse e nós nos prontificamos, nos apressando a alcança-lo. - Máscara para o garoto novo. - Ele disse para Derek, o segurança que o Hobi tentou espancar da outra vez, que logo atendeu.

- Obrigado. - Nam respondeu, segurando as feições de lobo em suas mãos, com uma interrogação no rosto. Algo me dizia que aquele dourado e preto da máscara combinavam perfeitamente com o meu amigo.

- Olha só quem está de bom humor. - Lalissa disse, do batente da porta, com um sorriso zombeteiro no rosto. - O dono dessa mudança brusca tem nome? - Ela debochou e ele a ignorou.

- Tsc. Vai logo trabalhar. - Ela sorriu, vindo até mim saltitante.

- Chegou o grande dia, tá preparado?!

- Embora essa sua animação seja contagiante, não. - Respondi, entrando no elevador de vidro.

- Vai dar tudo certo.

- Acho que vou vomitar.

Do nada o meu maxilar pareceu tensionar, os meus olhos pesaram e os meus joelhos fraquejaram. Isso tudo dentro do elevador. Eu tinha perdido totalmente a noção do espaço e do tempo. Tudo o que eu sabia era que parecia estar à beira da morte.

Eu tinha certeza de que a única coisa que me prendeu os pés no chão naquele instante foi a segurança de que no fim da noite eu estaria nos braços da pessoa que eu amava.

Chegamos até a sala dos funcionários, Seokjin desceu e ficamos eu, Lily, Tae, e Nam, que por sinal estava lindo de terno.

Sorri minimamente e ele notou, devolvendo o gesto. Se eu estivesse com a cabeça boa, teria feito uma piada, mas o humor e a sagacidade tinham me abandonado para morrer a míngua.

- Você está péssimo. - Disse Taehyung se aproximando. Como sempre, o espelho do qual eu não podia fugir.

- Mas isso vai mudar já já. - Lily veio até mim com uma caixa em mãos. Ela sorriu. - Eu escolhi para você. - É a sua roupa... - Ela deixou a caixa e veio até mim, com os seus cabeços pretos balançando na altura da cintura. - Eu estou muito orgulhosa de você. Considere isso como o seu debut.

Uma sensação de cócegas subiu ao longo do meu tornozelo, em seguida em minha panturrilha, como se alguém estivesse passando as pontas dos dedos.

Sorri. Era o frenesi que provinha de suas palavras. Era bom ter talento em algo para variar, e ter o reconhecimento dela, que me ensinou o que eu sei, era incrível.

- Obrigado Lily... isso é... muito importante para mim. - Ela sorriu também. Os seus olhos brilhavam como joias. Eu tinha certeza de que o seu orgulho era genuíno, e não algo para me incentivar naquele momento que poderia facilmente acabar com tudo. Tudo o que ela disse, e o que não disse em voz alta podia ser sentido.

- Bom... eu queria que fosse especial, e mesmo nessas circunstâncias... tomei liberdade de escolher o seu figurino e a música. Algo que você sentisse de verdade.

Assenti, meio resoluto.

- T-tudo bem... - Respondi, olhando para a caixa.

- O que foi? - Ela ergueu as sobrancelhas bem definidas e eu maneei a cabeça.

- Não. Nada...

- Qual foi? - Ela riu, lendo os meus pensamentos. - Não pensou que fosse dançar com essa roupa. Pensou?

Eu movi a cabeça incerto.

- Tá brincando... vai logo se trocar, você dança à meia noite.

Confirmei.

E o fiz.

- Que porra-... - Arregalei os olhos, me vendo no espelho.

- Terminou? - Lily perguntou de lá.

- T-terminei...

- Então vem, eu quero ver isso.

- O-o Namjoon vai me deserdar...

O traje consistia basicamente em uma cueca preta, uma blusa social branca que parecia feita exatamente para o meu corpo, e um par de suspensório cinta liga, que segurava a camisa social no lugar, e ao mesmo tempo dava um ar voluptuoso, até demais.

Caminhei para fora dali cuidadosamente, como se tivesse medo de queimar os meu pés no chão.

Os olhos dos três se abriram ao máximo que suar órbitas permitiam, e o meu rosto com toda certeza ficou vermelho feito um tomate, já que senti-o aquecer.

Fechei e abri os olhos, e já não tinha mais certeza se a cara deles queria dizer algo de bom. Eu já me sentia bem envergonhado pela exposição.

- V-vocês não vão dizer nada? - Olhei para um e depois para o outro, esperando alguma reação.

- Ernn... - Nam piscou algumas vezes, e se endireitou. - E-eu... o-o que é que eu vou dizer?! - Ele parecia desconcertado.

- Está super gostoso amigo! Pra diabo só faltam os chifres. Onde é que você estava escondendo tudo isso?! - Taehyung disse animado.

- Está maravilhoso Jimin. - Lily sorriu. - Do jeitinho que eu imaginei.

- Hum... eu não gosto disso. Muito sexy. - O tom baixo atingiu meus ouvidos quando Seokjin disse adentrando a sala.

Lalisa revirou os olhos.

- Tsc. Deveria ter pensado nisso antes de batizar esse lugar de Cabaret.

- Pois eu amei. - Hoseok disse ao seu lado. - Tá de enlouquecer. No ponto certo. Você vai arrasar Jimmy.

- Valeu Hobi... - Abri um sorriso envergonhado. Tinham muitas pessoas ali.

- Espero que você tenha plena certeza do que está fazendo. Pois eu continuo não concordando.

- Huh. Muito engraçado. Vindo de quem iria ter começado uma guerra se eu não tivesse interrompido. - Agarrei a calça social preta, e vestindo-a. Era tão bem ajustada ao corpo quanto todo o resto, também havia vindo na caixa que Lily me deu.

- E você não começou? - Ele disse resistente, com uma sobrancelha erguida. Deu dois passos, girando o copo na mão, com um sorriso convencido no rosto. - Acha mesmo que ele e ingênuo o suficiente para fazer algo que não irá o beneficiar em primeiro lugar? - Riu soprado, sem o mínimo humor. - Tem certeza de que ele vai cair em qualquer ideia ou plano mal pensado que você tiver no calor do momento?

- E você acha que eu já não entrei em outras situações que envolviam ele?

- Eu não duvido. Eu acredito de verdade que você vive enfrentando ele. Mas pode ter certeza de que vive pelo acaso, só porque ele quer. Assim como eu. Aquela pessoa vem de uma linhagem de assassinos de sangue frio, que não tem uma grama de remorso, e que saí ileso, todas as vezes. - Eu suspirei com as suas palavras, temendo o encontro.

A sua razão exacerbada às vezes me dava nos nervos.

- Por mais que não acredite, estou dizendo isso pelo seu bem. Não faço gosto por esse encontro... mas acima de qualquer coisa eu vou estar aqui para te apoiar, e pra te proteger. - A sua seriedade me dizia algo mais do que ele usava em palavras.

Ele por fim suspirou bem fundo e se virou, caminhando em direção a porta.

- Ah. Já ia me esquecendo... você está lindo Jimin. Ele por fim suspirou bem fundo e se virou, caminhando em direção a porta.Disse, e saiu. Simplesmente.

Todos ficaram olhando para mim, e eu resfoleguei, desviando o meu olhar para o chão. Estremeci, mas não foi de excitação. Os meus olhos estavam arregalados, e todos em silêncio, até Tae chamar o meu nome. Pisquei algumas vezes, tentando me situar.

- Chim... - Os seus olhos vieram até os meus, mas eu não consegui responder nada. Ninguém havia entendido nada. Eu era parte desse ninguém.

- E-eu... - Olhei para ele. - Será que eu posso ficar um pouco sozinho? - Minha voz tremia, e os seus olhos se estreitaram.

Ele suspirou e confirmou com a cabeça, se inclinou, e deixou um beijo na minha cabeça.

Assim que todos deixaram o recinto, eu apanhei o celular às pressas, discando o número de Jungkook.

O som da chamada ativa parecia eterno.

- Vamos... atende...

- Amor. - Ele atendeu. A sua voz em meus ouvidos era reconfortante e bem-vinda, mas algo em mim não ia bem.

Mal podia esperar para chegar ao fim essa noite, para que eu pudesse me abrir completamente para ele. Sem mais segredos.

- Tampinha... está aí? Está tudo bem? - Eu o ouvi se movimentar, e deduzi o que eu imaginava ser o som de sua cabeça se mexendo na fronha de algodão.

Suspirei.

- Sim... é só...

- Pode me dizer. Aconteceu alguma coisa? - A sua voz era calma e serene, ao contrario da minha respiração descompassada.

- É difícil. Eu não tenho certeza de que é a coisa certa a se fazer, mas eu... - Uma pausa. - Eu só queria ouvir a sua voz...

Silêncio na chamada mais uma vez.

Engoli o nó que estava subindo e descendo na minha garganta.

- Não acho que você esteja sendo sincero. Sabe que pode me dizer tudo, não é? - A forma como as suas palavras vinham até mim, faziam o meu coração palpitar.

Olhei para cima no momento em que uma lágrima escorreu pelo meu rosto, formando uma piscina ardente em meus olhos, a qual eu tentava reprimir. Um estalo em minha mente me fez ver: já fazia algum tempo desde que eu chorei a última vez. Talvez isso significasse algo, que eu estou me tornando mais forte, ou mais frio.

- Você me faz muito feliz, sabia? - Sorri, passando a mão no rosto.

- Você pode até não acreditar, mas eu sinto a mesma coisa. - Ele limpou a garganta. - Essa ligação... tem a ver com o que você quer me falar mais tarde? Por isso me pediu para ir até a sua casa?

- Sim.

- Pode começar a me falar se quiser... eu ainda tenho algum tempo.

Fechei os olhos, outras lágrimas solitárias caíram, e eu neguei, mesmo sabendo que ele não poderia ver.

- Não... melhor deixar para mais tarde. Eu realmente precisava ouvir a sua voz. - Ele riu soprado, do outro lado da linha.

- Olha, você pode não ter notado, mas eu sou uma pessoa bem literal, e se você disser que gosta da minha voz, eu vou começar a tagarelar na sua cabeça até você me bater.

Sorri, passando o polegar em meu lábio inferior.

- Você está de saída?

- Huh... - Ele estava se levantando da cama, isso era perceptível. - Sim. Eu não te disse?

- Ah, não. Deve ter se esquecido...

-Bom. Não é nada, é só mais uma coisa chata de família... me desculpe por ter esquecido. - Sorriu.

- Não. Tudo bem, a gente passou o dia todo distraído.

- Eu gostei muito de passar o meu dia distraído contigo. - Sua voz era suave. - Eu estava muito bem, agora estou muito mal. - Disse dramático, como sempre, e eu ri um pouco.

- Não é para tanto vai.

- Não. Pelo menos não agora. Vou voltar para o que eu sei, o que me faz bem.

- O quê?

- Você. Daqui a algumas horas.

Eu sorri.

- Eu te amo tanto.

- Hummm... é?

- Ahã... mesmo que às vezes eu seja obrigado a te dar umas pancadas.

- Huh, isso é bom. - Ele riu. - Eu gosto.

Me levantei, passando a mão livre pelos cabelos.

- Eu preciso ir, seu tarado. - Gargalhei.

- É, eu também... te vejo mais tarde? - Perguntou.

Assenti.

- Eu estou contando com isso.

- Tudo bem... eu estou indo então... - Pelo seu tom, eu podia imaginar um sorriso largo e bonito em seu rosto. Absolutamente tudo nesse garoto poderia iluminar um dia maçante e sombrio. Eu estava completamente disposto mais uma vez. - Ah! Eu já ia me esquecendo! - Comentou, com uma pitada de desconforto na voz, e eu franzi a testa.

- O quê? - Questionei, colocando o par de sapatos sociais preto que Lily havia designado, e ficando de pé, sentindo um leve desconforto pelos acessórios em minhas coxas.

- Eu também te amo, demais, meu garoto.

O meu rosto provavelmente se acendeu tanto que poderia parecer que o sol estava brilhando diretamente sobre mim. Ouvi um estado de um beijo seu, vindo do outro lado da linha, e depois um "Tchau" baixinho, antes de desligar a chamada.

Tae abriu a porta devagar, colocando apenas a cabeça para dentro, e me olhou, com um sorriso no rosto.

- Você está pronto? - Bufei, e ele fez uma bola com o seu chiclete.

- Não. Eles já chegaram?

- Éh... bom... não chegaram. Mas, um contato do Seokjin, que é próximo a eles disse que já estão à caminho, saíram agora. - Suspirei, e desviei o olhar para o chão, quando Lily adentrou à sala, com uma maleta de maquiagem prateada e com um collant preto de manga única, e com um detalhe pomposo no ombro. - Hey, quê isso?! Onde está indo pirua?

- Eu?! - Ela questionou. - Maquiar a nossa estrela. E também dar um jeito para que o seu ninho de mafagafos fique no lugar enquanto ele arrasa no pole.

- "Arrasa no pole?" - Eu repeti desanimado e ela assentiu, com um pincel preto em mãos cara de inocente.

- Éh... tem isso e mais uns segredinhos que eu te ensinei, mas que só nós sabemos. - Ela disse da forma mais engraçada possível, mexendo os dedinhos igual As Branquelas.

- E-eu, eu não vou fazer aquilo.

- Ah mas vai sim. Eu não me esforcei até o talo do cú pra te fazer rebolar melhor do que eu atoa.

- Pera aí. Do quê vocês estão falando? - Tae entrou de braços cruzados e eu revirei os olhos. - Segredinhos agora Park Jimin?

- E-eu-

Fui interrompido por Lalissa jogando um spray no meio da minha cara, me fazendo sentir cheiro de brejo e ter uma crise de tosse, e possivelmente rinite também, desenvolvida adivinha por quem? Pelo spray.

- Porra é essa Lily? Sua vaca!

- É água termal... - Ela disse confusa, como se eu tivesse tido um enfisema pulmonar atoa. - Qual foi palhaço?

- "Qual foi"? O seu spray de água de aquário que me asfixiou e- - Mais spray de Madelaine na minha cara.

- Deixa de ser fresco. Ela precisa consertar os erros que tem nessa sua cara de tacho. - Tae debochou e ela riu.

- Filho da mãe. Deixa essa noite terminar e eu melhorar, vou castigar a sua cara no muro.

- Hum... castigada foi essa sua cara quando Deus te fez.

- Porra, essa foi de fuder. - Lily riu e eu joguei um pincel na direção do palhaço a minha frente.

- Eu te odeio! - Ri também. - Se eu não estivesse tão nervoso eu juro que esmurrava essa cara perfeita sua.

- Pode esmurrar, pelo menos eu fiz o meu anjinho rir. - Ele disse e eu me amoleci todinho. - Você vai tirar de letra, vai ver. Vai acabar com ele de uma vez só.

Eu ri soprado, sentindo o lápis nos meus olhos.

- Eu?

- É claro! Olha só para você! É um gostosão que gira naquele... - Ele gesticulou com as mãos. - Pau lá...

Lily arregalou os olhos e eu ri.

- Não fala que eu giro no pau cara. - Ele gargalhou.

- Naquela coisa de ferro.

- "Pole". - Eu e Lisa dissemos ao mesmo tempo.

- Isso. Você vai acabar com aquele burrão.

- Se tem uma coisa que ele não é, é burro amigo. - Lisa discordou e eu confirmei.

- É. Bom, burro ele pode não ser. Só um canalha insensível e desalmado.

- This!

A essa hora, as mãos de Lily já trabalhavam nos fios do meu cabelo, com outro spray do cão, mas esse eu sabia que era um fixador.

- Que mal lhe pergunte, tá me maquiando por que? Se no fim das contas eu vou usar uma máscara?

- Terminei. - Disse se afastando. - Bom... os seus olhos ficam meio visíveis. Queremos você o mais discreto possível, e o mais bonito também... sem falar que... - Disse mexendo na maleta, guardando tudo.

- Que?

Ela me olhou.

- Que o Jin tem algo para você. - Falou saindo, e eu a acompanhei. - Mas antes que me pergunte, eu não sei de nada. Toma, usa isso. - Disse, colocando uma capa de cetim preta por cima de mim, com um capuz.

- Porra é essa? - Eu ri. - Programa de proteção a testemunhas? Vão me dar um novo endereço e mudar a minha identidade também? - Eu debochei.

- Não. - Ela riu. - Só a capa, e os seus dois seguranças.

Eu ri um pouco, até me aproximar de dois homens grandes com máscaras pretas de lobo e músculos e altura invejáveis.

- É-é sério? - Engoli em seco e ela assentiu.

- É sério. - Um terceiro corpo esguio se aproximou usando uma máscara, era Namjoon.

- Está pronto? - Disse baixo. - Eu vou te acompanhar, ele pediu.

- Sim... - Resfoleguei com a minha própria mentira. - Assim eu me sinto mais... seguro.

Eu não estava nada pronto.

- Jimin... o sábado é... diferente dos outros dias... você ainda não viu, mas... é bem mais sério. - Disse enquanto caminhávamos. - Nós vamos te ajudar...


Jimin... te vejo no Submundo.



[29] CHAMPAGNE COCKTAIL

.

Chegamos aos elevadores, e descemos para o andar do Submundo. Em frente ao espelho do elevador acarpetado, parei, ajeitei o cabelo e arrumei a camisa, para me certificar de que nada passasse do combinado. Eu estava completamente vestidos com as cores do meu cabelo, exceto pela camisa social branca. Porém, o ponto alto eram os meus olhos, pintados com um preto intenso, que dava profundidade e algo que eu arriscava dizer que seria sensualidade.

Com os olhos nos meus eu suspirei, tão profundamente quanto poderia. Algo em mim me fazia sentir poderoso e de certa forma, pronto para lidar com aquele idiota.

Eu me virei para Nam, e as portas se abriram, com o que eu julgava ser centenas de pessoas.

- Você coloca isso. - Nam colocou o capuz de volta em minha cabeça.

Eu tinha os olhos muito bem abertos, surpreso e assustado com o que eu havia acabado de presenciar. Todas aquelas pessoas se viraram instantaneamente quando as portas se abriram, porém em tempo, os seguranças deram um passa em direção ao outro, fechando o campo de visão que vinha até mim, e me tampando dos olhares alheios.

Eu me virei para Namjoon, ofegante, e ele segurou as minhas mãos.

- I-isso tá errado... - Sibilei baixo, sentindo o meu coração disparado com o que eu vi. - N-não é o que eu-

- Chim! Você precisa se acalmar! - Nam me olhou nos olhos. - Não tem mais volta.

- N-namjoon... - Engoli em seco, sentindo as minhas mãos suadas. - É um número muito grande de pessoas.

Os olhos de Namjoon queimaram. Ele colocou a mão no bolo e sacou o telefone.

- Atente... - Ele suplicou. Porém a música alta lá fora era um impedimento para qualquer um que estivesse naquele subsolo.

Crystalised, The xx.

O cheiro de tabaco veio até o elevador, e Nam guardou o telefone. As luzes âmbar da boate, haviam sido substituídas por um azul fechado, que dava um ar excitante ao ambiente.

- E se ele te machucar? - Nam questionou, tão nervoso quanto eu.

Eu senti um sobressalto em meu peito.

- Ele não vai. Se não tiver me reconhecido, ele não teria motivos...

- E se tiver? - Eu engoli todo o meu medo, e coloquei para fora todo o ódio que eu sentia de Jeon Kwon.

- É do interesse dele me manter inteiro. Confie em mim. - Olhei em seus olhos e deixei que ele visse todo o meu amor, mas também a minha fúria, que expurgava o medo e a preocupação.

Ele respirou longa e lentamente.

- Tudo bem. Nós estaremos por perto o tempo todo. - Virei o meu corpo e ele fez o mesmo, saindo fora da caixa de aço que nos carregara para baixo.

Esperei até que os seguranças saíssem primeiro, e Namjoon logo em seguida, até que eu desse o primeiro passo no inferno, em direção ao diabo.

- Eu te amo pra sempre. - Nam disse baixo.

- Eu também te amo, pra sempre. - Sorri, mas em seguida fechei o semblante. Era hora de enfrentar o monstro.

Caminhando entre todas as pessoas, que aparentemente me acompanhavam com o olhar, eu refiz todos os meus passos nos últimos sete meses, que foram os mais loucos de toda a minha vida.

Eu conheci Hoseok, Yoongi, Seokjin, e o meu próprio irmão, entre outras pessoas que hoje fazem parte das mais importante da minha vida. Enfrentei pessoas, situações, tomei decisões importantes. Trabalhei de todas as formas, em mim e nos outros, e hoje estava aqui, para provar que estava pronto para qualquer coisa.

Para a minha surpresa, todos usavam máscaras, obviamente mais discretas do que as dos funcionários da boate, na maior parte cobrindo apenas parte dos olhos.

- Com licença. - O segurança disse para alguém, era impossível para alguém como eu identificar qualquer um ali, eu estava de cabeça baixa, para que ninguém visse o me rosto. Abriram caminho para que eu passasse. Seokjin se levantou, quando eu adentrei ao camarim, estavam todos lá.

- Eu fiz algumas alterações. Você pôde perceber, certo?

Confirmei com um aceno de cabeça.

- Tentei deixar tudo o mais confortável possível para você.

- Obrigado... eu só... não esperava um público tão grande .

- Eu não costumo receber tantas pessoas aqui... são convidados... - Seus olhos se desviaram por um segundo. Faltavam cerca de dez minutos para o relógio marcar meia noite no Submundo.

- Desculpe. O que você disse?

- Eu não-

- Isso é coisa dele, não é? - Fechei e abri os olhos, esperando uma negação vinda de alguma forma. Essa que não se fez presente.

- Não tenho como negar... - Fechei os olhos e senti o coração falhar a batida.

- Que merda é essa? - Sussurrei. - Ele sabe de tudo?

- E-eu... - Ele estalou a língua no céu da boca, confuso, nervoso também. - Eu não sei. Não sei o que te dizer... eu só- -Ele segurou os meus ombros. - Eu estou preparado para tudo Jimin. E não vou deixar nada de ruim te acontecer.

Balancei a cabeça e apertei as mãos, desejando socar a parede mais próxima. Senti o calor dominar meu corpo como lava ardente a caminho do topo de um vulcão.

- Eu não vou cair na droga do jogo desse filho da mãe. - Disse de forma abrupta, tirando a capa de cetim de cima de mim. - É sempre assim! Quando eu penso que eu estou um passo a frente nessa droga! - Disse ofegante, o suficiente para minha raiva alcançar o ponto de ebulição.

- Tem muitos Jeon do lado de fora Jimin. - A voz de Taehyung era suave, apesar de suas feições denunciarem os seus hormônios a flor da pele.

- Conseguiu ver ele? - Taehyung nega.

- Está cheio... eu não vi direito, a gente só tem controle pelos nomes. Eu passei o olho na listagem e só tem sobrenome Jeon. - Ele explicou, olhando para todos nós. - Eu acho que você deveria ficar fora dessa vez. Não é vergonha voltar atrás Chim.

- Ei! Ei! Ei! Calma aí! - Lily se posicionou.

- Qual o problema? - Tae disse, a sua voz soava preocupada.

- Não estão vendo? - Ela me olhou. - É exatamente isso o que ele quer! Ele está manipulando tudo, como sempre!

- Não interessa Lily! Ele não é do tipo que se brinca. - Tae rebateu.

Suspirei.

- Eu não vou deixar barato. Eu disse que era a última vez que eu corria desse filho da puta. - A minha voz parecia com uma navalha afiada.

- Você não percebeu? Meu Deus, o Kwon está te encurralando por todos os lados. Não faz isso! - Ele pediu rouco.

- Tae, infelizmente essa decisão só cabe ao Jimin. - Seokjin disse, e um segurança apareceu na porta, chamando a sua atenção. - Você tem quatro minutos. O que vai ser? - Disse olhando profundamente em meus olhos.

- Senhor Kim. - O segurança mascarado disse com cuidado na voz. - A senhoria Sherryl está a sua espera. - O corpo do meu patrão se retesou nessa hora. Esse nome não me era estranho. Era a Jeon que atormentava Seokjin. - Os Jeon também já estão aqui.

Jin me olhou.

- Estão aqui. - Mais uma vez os seus olhos esperavam por uma resposta.

- Chim... se você pensar só um pouquinho... fica aqui. - Pude ouvir a luta em sua voz, a tentativa de conter a própria frustração. - Por favor. - Implorou, segurando as minhas mãos.

- Tae... o Kwon já machucou muita gente ao meu redor. Feio. Muito feio. - Disse, olhando para Lily por um instante, e para Seokjin, sem perder Kai e Dylan de memória. - Ele ameaçou o Jungkook, e a mim também. Eu não posso mais deixar que ele tenha a oportunidade de ferir ou de ameaçar mais alguém que eu amo. Preciso de você comigo, e preciso que me entenda. - Disse, sentindo os meus olhos marejando, ao mesmo tempo que os seus. - Antes era mais fácil... mas não somos mais só eu e a memória da minha mãe... agora eu tenho um irmão. Agora eu tenho algo a perder. Chega de deixar ele mexer comigo... - Olhei profundamente em seus olhos, e segurei os dois lados da sua cabeça, chegando o seu rosto perto do meu. - Agora é a minha vez de mexer com Kwon.

Ele abriu bem os olhos marejados, e sorriu minimamente, confirmando duramente.

- Eu vou estar aqui. - Ele resfolegou. - Acaba com esse filho da puta.

Eu me virei em direção a Seokjin, que estava no mesmo lugar.

Apertei os dentes, a irritação tomando o lugar da tristeza e do medo e a substituindo por raiva incandescente.

Ele olhou em meus olhos.

Houve uma longa pausa em que não dissemos nada, tudo era apenas um longo zumbido em minha mente enevoada. Nada, exceto um longo suspiro, vindo de mim.

- Prepara tudo. - Fechei os olhos e engoli o nó na garganta. - Eu vou dançar.

- Venha comigo. - Ele murmurou suavemente, parecendo aquele Seokjin assombroso da primeira vez em que eu estive aqui. - Eu tenho algo para você.

Ele me apressou no momento em que entrei em outra ala reservada, me alcançando, com uma caixa preta de tamanho médio, com um laço preto de cetim por cima.

Eu a segurei nas mãos e olhei em seus olhos, que me acompanhavam lentamente.

- O que... o que é isso?

- Bom... abra, e aí vai ver. - Ele murmurou suavemente, da forma mais aveludada que já o ouvi se referir.

- Oh... tudo bem... - Pousei-a em cima de uma penteadeira que havia por ali, retirando a tampa com cuidado, sendo acompanhado, a cada mínimo movimento.

Respirei fundo, e olhei para o seu rosto. Tudo parecia muito estranho depois de ter passado porta à dentro hoje cedo, a forma como todo nós nos mostrávamos despreparados uns aos outros fez com que uma tensão palpável pairasse sobre nós.

Eu sorri.

Depois de tudo, um gesto como esse, me fazia sentir bem outra vez.

- É só uma coisa... você sabe... a gente nunca teve ninguém como... você, antes. - Sua respiração irregular atrapalhava um pouco a fala, ele estava se enrolando todo nas palavras, e eu não consegui segurar um riso contido. - Olha eu só quis fazer algo diferente, você não precisa fazer essa cara de mané.

- Eu- ... - Fiz cara de tédio para ele, segurando a máscara em minhas mãos. O seu parente havia me surpreendido bastante, mas a sua personalidade de primo terceiro de Satanás permanecia intacta em meu conceito. - Você não sabe ser legal por mais do que trinta segundos, não é?

Ele confirmou com a cabeça, usando aquela máscara de deboche, com a qual ele me tratava a maior parte do tempo.

- Na verdade não. Você me descobriu... o meu recorde são vinte e seis segundos, depois disso eu volto a ser arrogante.

Revirei os olhos, com um sorrisão no rosto.

- Éh... tem razão. Com isso eu concordo. - Ele riu também, e eu maneei a cabeça, olhando para a máscara em minhas mãos, admirado.

O seu presente era comum para todos ali, odos usavam máscaras, porém a minha tinha um símbolo diferente. No lugar de um lobo, como todos ali costumam usar, ou das coiotes que as bailarinas normalmente carregavam em seus rostos, a minha era marcada pela face de um coelho.

A cor predominante, o branco, o contorno que caminhava entre as orelhas, e se encontrava no nariz, fazendo um belo desenho na testa e um contorno sutil ao redor dos olhos, terminando em um arabesco.

- Apesar das brincadeiras, das broncas e de qualquer outra coisa. E apesar de eu não concordar com tudo o que veio acontecendo, incluindo esse show. - Ele fez uma pausa. - Quero que saiba que hoje eu já não reconheço mais a pessoa amedrontada que eu vi da primeira vez em que você esteve aqui. Hoje você é um homem completamente diferente, você é forte, e sabe disso. Quando eu te disse para "nadar contra a correnteza"... não imaginei que fosse fazer isso com tanta garra. - As sobrancelhas de Seokjin suavizaram a sua expressão por um instante e por um breve momento, ele sorriu. - Eu estou muito orgulhoso de você. Boa sorte. - Ele sussurrou a última parte, se virando e saindo dali, me deixando sozinho, apenas com a máscara que me deu e os meus pensamentos.

Lily entrou, ao mesmo tempo em que Jin saía. Vindo com um celular e um par de fones e me entregando em mãos.

Ela parou ao meu lado, olhando o objeto em minhas mãos. Se recostou em um sofá preto, exibindo seu belo corpo, em direção oposta ao meu. Sorriu e bebeu o champanhe que estava em sua mão. Eu não dei nada mais do que um belo olhar em si e ela deu de ombros.

- Não se sinta lisonjeado. Não é só o senhor que está com os nervos a flor da pele aqui, somos vários nessa mesma situação. - Disse divertida. - Eu acho que deveria ouvir a música mais uma vez antes de subir no palco. É bom...

- Uma mulher que pensa como eu... - Eu disse rindo sem graça. Era bom saber que eu não estava sozinho nesse barco.

Suas sobrancelhas se arquearam e os olhos brilharam.

- Quer um gole? - Disse ela me olhando e eu não neguei, mas não confirmei. Porém no meu atual estado, eu precisava sim de um impulso que me levasse um pouco mais perto do céu.

Então eu peguei o copo, e engoli a bebida de uma vez só, sem deixar uma gota se quer para trás.

- Uau! - Exclamou.

- Bleagh! Isso é horrível. - Fiz uma careta, colocando os fones nos ouvidos. - Trás mais um. - Ela arregalou os olhos. - O quê? Não se preocupa. Se der tudo certo eu vou me embora em um container. - Ela colocou a mão no meu peito, e deu duas batidinhas, e um cavalheirismo simulado.

- Olha, se você conseguir dançar e tudo sair como planejado, eu faço questão de te dar o que você preferir. - Suas sobrancelhas se ergueram. - Caso contrário não vai conseguir subir no pole... - Ela debochou, saindo da sala de mansinho. Seu rosto indicou que ela estava prestes a fazer uma piada, mas cortei suas palavras, olhando feio em sua direção. Ela se recostou no batente e levantou o queixo uma vez. Como quem diz:

- Quê que é?! Vai encarar?! - Disse com os braços abertos e eu ri, mostrando o dedo do meio, quando a música invadia os meus ouvidos. - Foi o que eu pensei. - Se gabou e saiu. Eu maneei a cabeça, me sentei no sofá e fechei os olhos, respirando profunda e lentamente, absorvendo o máximo de oxigênio que conseguia naquele momento.

You'll be seein' me in your dreams and
I'll be there when your reality drowns.


There's a bright side
To every wrong thing
If you're looking at me through the right eyes
Darkness in my name
Don't you wanna come and play on the cool side
Don't be so shy.


There's a pleasure in hidin' from the sun
No, I was never one for pretty weather
I'd rather be a creep, baby, follow me into the water
I'll take you to the darker.


This could be perfection
A venom drippin' in your mouth
Singin' like a siren
Love me while your wrists are bound
You've been seeing me in your dreams but
I'll be there when your reality drowns.


Siren, Kailee Morgue.

Senti um toque leve em meu braço, e quando abri os olhos, Taehyung estava me olhando. As suas sobrancelhas se ergueram. Sua boca se abriu em uma expressão de choque, e eu fiquei sem entender, retirando os fones e olhando em seus olhos, fugindo do universo paralelo onde eu me encontrava.

- Você está de sacanagem? -Ele deu um sorriso forçado. Balancei a cabeça.

- Eu não te entendi...

- Você... como está sorrindo em uma situação dessas?!

Franzi a testa.

- Ué, mas quando foi que eu-

- Enquanto estava usando esses fones. - Disse ele, segurando ambos, um em cada mão e olhando confuso para os dois. Eu ri da cena. - Parece maluco. - Disse levando-os até os ouvidos. - Nossa mas qu-

- Está na hora. - Nam disse, chamando da porta.

- Éh... foi isso o que eu vim até aqui para te dizer... - Tae olhou para mim, com uma expressão não identificável no rosto bonito. - Você quer ajuda... digo, para tirar as roupas?

Eu maneei a cabeça, me levantando do sofá, tirando os sapatos com os pés mesmo e abaixei as calças sem cerimônia, ajeitando as peças no corpo por fim. Os suspensórios presos nas minhas coxas faziam um pouco de pressão, sendo assim, as roupas saírem do lugar, para mim não eram uma preocupação.

- Como eu estou Tae? - Eu disse, e Tae sorriu.

- Bom... - Disse ele, ajeitando a lapela da minha camisa. - Aqui em baixo, eu não sou Tae, sou Vante.

- Eu sei, codinomes... aqui você é Vante, Lisa é Lily, Hobi é Hope, o Jin é-

- Você já sabe. - Disse o próprio, se aproximando como um gato que se esgueira entre as sombras, com a expressão tranquila e o rosto sério, ao mesmo tempo. O seu casaco de pelos que pousava em seus ombros, mas não em seus ombros, o faziam parecer ainda maior, mais imponente. - Eu sou Senhor Kim.

Eu engoli em seco e ele sorriu, cheirava a um perfume amadeirado, que parecia remeter apenas a ele, ainda mais misturado com o Whisky caro que era característico e seus olhos meia-luz.

- E você? - Ele mesmo perguntou.

Tae ergueu o rosto e sorriu, Seokjin pegou a máscara de onde estava, caminhando até próximo a mim, e passando por detrás do meu corpo.

- Você, é o primeiro bailarino do Submundo... um pioneiro, se quiser dizer assim. - Sua voz se elevava conforme a animação aumentava. - Angel.

Taehyung e os outros tinham sorrisos no rosto, Lily por sua vez ficou de pé. As suas mãos foram até os quadris, e ela fez uma pose encenada de irritação.

- Eu não acredito que você batizou o meu aluno, sem o meu consentimento. - Brincou e ele riu.

- Se não se lembra, quem faz isso sou eu. Bico fechado, Jeon da sarjeta. - Ele debochou e eu ri um pouco, ainda que os meus batimentos estivessem aumentando gradativamente, a medida com que os segundos passavam. Eu sentia cada um deles.

Ela deu língua para ele, e me olhou.

- E aí... como se sente? - Pressionei as mãos em meus bíceps, quando cruzei os braços, ergui e relaxei os ombros uma vez.

- Eu não sei...

Ela arregalou os olhos.

- Como assim? - Hobi disse, se aproximando com uma carinha de orgulho. - Você é o primeiro coelhinho nesse mundo de coiotes. - Deu ênfase à última parte.

- N-não acho que seja tanto assim...

- Senhoras e senhores... - Pude ouvir ao fundo, uma voz grossa que dizia, com um som leve de blues ao fundo.

- Mas é claro que é... Hobi disse, olhando para Seokjin uma vez, esse que aparentava estar indiferente, mexendo na máscara. - Se não fosse, ele não faria todo esse evento de destaque, só para você. - O solzinho deu um sorriso ladino, algo que poderia parecer atrevimento para os bem informados.

- Chega. Você está conversando demais. Vai logo cuidar do teu bar. - Jin o espantou. - Xô, x\Ô, saí pra lá!

- Hey! Valentão, não sei se se esqueceu, mas, eu não sou a porra de um pombo. - Disse, fazendo todos rirem.

- Vocês são todos pombos. Inconvenientes e fedidos. Agora me deem licença, eu vou colocar isso nele.

- Você vai-... - Disse meio recluso, vendo o objeto em suas mãos.

Seokjin me apontou os orbes, com um pouco de vergonh, desviando-os em seguida.

Apertei os olhos.

- Não pensei que essa coisa sentimental fizesse o seu estilo. - Fiz um biquinho, debochando dele.

Um pouco da tensão deixou aquela sala, quando nos distraímos.

Seokjin beijou santo.

- Tsc! A gente está dentro de um Cabaré, rodeado de mafiosos, não tem nada de sentimental, se vira aí. - Revirou os olhos, me virando de costas para ele.

Quando o objeto pousou em meu rosto eu suspirei, vendo a minhas visão se tornar levemente escurecida, pelas limitações da máscara.

Olhando para o chão eu tateei as feições do objeto, e algo ali, me fazia sentir seguro, como se atrás dela, estivesse seguro. Longe dos olhares alheios, para fazer o que quisesse, como quisesse.

- Queiram dar as boas vindas ao nosso mais novo ato... - Eu ergui o olhar para eles, e como em um passe de mágica, eu não era mais o único mascarado ali.

Taehyung, Namjoon, e Hoseok usavam as feições aviltantes e grosseiras dos lobos. Lalissa tinha o rosto e as orelhas do coiote em sua máscara. E Seokjin, a sua expressão de aço, que não trepidava mesmo em frente ao pior dos homens ali de fora daquela sala.

Namjoon parou ao lado de Seokjin, com o seu corpo esguio, porém grande e atlético coberto pelo terno preto que trajava, combinando tanto com o terno do homem ao seu lado, quanto com a sua máscara que parecia tão mais chamativa do que as outras, com detalhes em branco e dourado por cima do preto, sem falar no enorme casaco de pelos que era tão característico do outro, o qual foi novamente repousado sobre seus ombros por Vante, que parou à direita do mais alto ali, também com um terno preto, não destoante dos outros dois, e com sua máscara ornamentada com veios azuis escuro sobre o fundo preto e cinza, exemplificando com sucesso a metáfora de ser seu braço direito.

- Confesso que não estava nos planos da nossa equipe um número novo, porém, como o líder generoso que é, o nosso estimado anfitrião, Senhor Kim, preparou algo extremamente excitante para essa noite. - O locutor disse, utilizando de palavras lentas, e insinuações veladas em seu tom de voz. Coisa realmente característica do Submundo como um todo. - É evidente que todos aqui estão extremamente ansiosos pelo que está por vir, porém eu digo com toda a certeza. Vocês certamente não se prepararam o suficiente para o que está por vir...

Eu suspirei.

Por baixo do lobo cinzento com traços e ramificações em em um prateado metálico, que conversava muito bem com a de Taehyung.

Seokjin assentiu para mim mais uma vez, e eles se retiraram, Nam, Hope e Tae. Porém, não sem antes me fazer um sussurro.

- Você está incrível. - Tae disse baixinho. - Acaba com eles.

Quando se retiraram, eu pude me ver no espelho de corpo inteiro que havia ali refletido. E o que eu vi ali, me deu muito orgulho de ser eu.

- O nosso líder, tão clemente como é... - Uma pausa, entre as falas do locutor. - Ali está ele. Uma salva de palmas senhoras e senhores, por gentileza...

- Eles chegaram... - Eu disse baixo, ouvindo a salva de palmas que recebia Seokjin no salão.

No espelho eu podia ver o meu reflexo. Eu não estava nada mal, e a máscara caía muito bem com as poucas roupas que eu vestia. Me dando uma repentina sensação de poder.

Um tempo de pausa soou através do salão.

- Sabem que a maior característica de um bom anfitrião é a que o faz conhecer bem o seu povo, e o Sr. Kim sabe muito bem do que os seus convidados gostam, então no nosso Submundo não seria diferente. Então...

Caminhei calmamente para fora da sala, encontrando Lily a beira dos bastidores a minha espera.

- Você entra agora. - Ela disse, e era visível que se não fosse tão vaidosa, estaria roendo as unhas. Porém, com um olhar sorridente e orgulhos, ela disse me dando um abraço: - Boa sorte, você vai ser incrível!

Não tinha mais volta.

- Então... senhoras e senhores... - A voz ao microfone disse, e eu respirei profundamente, parando de costas, atrás da cortina que logo subiria.

- Mamãe... - Falei. A minha oz saiu mais como um sussurro, visto que tinha um nó enorme atravessada em minha garganta.

- Recebam agora no palco o nosso garoto...

- Espero estar fazendo a coisa certa... - Resfoleguei, sentindo o meu corpo todo tremer, e a adrenalina aquecer o meu corpo.

- Angel. - Disse o locutor com um tom despudorado e lascivo, quando as cortinas se abriram atrás de mim.

O silêncio pairou, quando se abriu. Pelo que eu havia tomado conhecimento, e pelas palavras do apresentador, eu era o primeiro homem a performar no Submundo, na boate inteira, para ser sincero. O meu corpo pareceu endurecer como uma pedra, como se algo estivesse muito próximo de dar errado. A minha mandíbula se apertou e eu engoli em seco.

O meus batimentos pareciam ser audíveis para qualquer um naquele salão.

Até mesmo o som das máquinas do pequeno cassino e dos jogos de azar parou. Eu era finalmente, o centro das atenções.

Um som leve de um murmúrio melodioso se fez presente. Esse que eu conhecia.

You'll be seein' me in your dreams and
I'll be there when your reality drowns...

Siren.

Era a música. Era a minha música.

Com os olhos fechados por detrás da máscara eu pude sentir novamente, a nostalgia, essa que não me pertencia, e eu sabia. Mais uma vez em mim, porém dessa vez eu estava consciente. Eu sabia a quem pertencia isso.

- Mamãe... espero que não se importe... mas eu vou pegar emprestado um dos seus dons.

E com uma respiração sôfrega, afastando o peso esmagador de estar ali em cima sozinho, a mercê dos olhares julgadores daqueles que tanto me feriam, eu me virei, seguindo o som do canto das sereias.

O grave fez presença por trás da voz tão doce que cantava aquela música. E vendo todos aqueles rostos eu me apoderei de um arrepio de excitação que subiu por toda a minha coluna, enquanto eu caminhava em direção ao pole, saindo finalmente da penumbra que me escondia, e que impedia os olhos alheios de me enxergarem com clareza.

Ainda que tudo o que vissem fosse o coelho atrás do qual eu me escondi. Eu sentia fortemente, o poder emanando de mim, e eu queria fazer com que eles também tivessem consciência desse poder.

Com três passos lentos no ritmo da música, eu alcancei o pole, dando uma volta ao seu redor, lentamente, e ocando em seguida a sua estrutura metálica.

Entre um verso e outro, quando existia um breve silêncio eu senti o estalo em minha mente.

Era ali.

Era agora.

Com uma das mãos na altura da minha cintura eu me apoiei na barra, e com a outra a cima da minha própria cabeça eu alcancei o êxtase, erguendo os meus pés do chão e levando-os em direção ao teto, ficando de cabeça para baixo na barra cromada. A prendi entre as coxas, com um aperto certeiro, soltando as mãos brevemente, e escorregando até a metade do objeto de apoio.

Apenas o som da música me acompanhava.

Respirei fundo, apertando-me mais, e fixando as mãos no poste metálico, me virando de volta para baixo, prendendo-o entre as pernas, e escalando até o alto, era o Martini.

Entre giros e movimentos eu podia ver as expressões de todos, e poderia garantir com certeza, era uma visão extremamente gratificante. Estavam todos hipnotizados, e eu sabia que estava entregando o meu melhor.

De longe eu consegui avistar a maior parte das pessoas. Eu conseguia reconhecer Seokjin, Taehyung, Hoseok e Nam, até mesmo Chris, que acompanhava tudo de uma mesa cheia de pessoas importantes. O filho de um dos senadores da Califórnia, um homem do alo escalão do governo, negociantes internacionais e presidentes de multinacionais. Apenas as pessoas mais poderosas. Pessoas que eu podia reconhecer por notícias passadas, ou fotos em tabloides.

A mesa central no salão, bem de frente para o palco era a que mais me interessava, e a última a qual eu consegui avistar, entre um movimento e outro.

Kwon.

Os olhos do homem que era o motivo de eu estar ali, tinha um sorriso convencido no rosto. Os seus olhos se estreitaram, e sua boca se torceu em uma careta.

Uma coisa eu tinha certeza.

A sua expressão não havia mudado por estar entre pessoas tão influentes, afinal, ele era uma delas. Nenhum deles iriam compartilhar o motivo pelo qual um ricaço da alta sociedade estava participando de uma disputa de ego com bailarino. Nenhum deles sabia. Os motivos pelos quais as suas caras pareciam insatisfeitas pareciam ser os mesmos pelos quais os outros miravam admirados.

Superei a sua aposta. Deixei o meu medo e as suas ameaças no passado e estava bem física e mentalmente. Ter um plano, qualquer plano, me ajudou a acreditar que eu poderia passar por isso até que tivéssemos mais informações, mais recursos.

Com o corpo suspenso na metade da barra cromada, mantive o meu corpo em uma postura reta, era a "mesa", e algo nas palavras de Lalisa eu recordava, aquilo realmente me fazia sentir, total e completamente poderoso.

Os meus olhos estavam escuros, sem transmitir nada em suas próprias profundezas além da promessa de prazer. Eu sentia como se pudesse ter um orgasmo ali, apenas causado pelos olhares boquiabertos daqueles que acompanhavam tudo.

Eu sentia o meu corpo quente, fervendo de necessidade. A cada movimento, gesto ou respiração. Eu me sentia mais próximo do nirvana.

Em um movimento rápido, deslizei do topo do aço até o chão de cabeça para baixo, apoiando as mãos no palco e virando o corpo, ficando ajoelhado em frente ao pole. Com mais uma volta no ferro, fazendo o carrossel, eu finalizei a fatídica apresentação, que ainda sim, fazia com que eu me sentisse nas alturas.

Quando pousei os pés no palco, e olhei para frente, todos estavam de pé, no segundo em que a música teve fim.

- Não acredito. - Falei. Saiu mais como uma espécie de sussurro, visto que eu tinha um zumbido forte nos ouvidos, alto, mas tão alto que tudo o que eu via, eram os movimentos de suas mãos, sem som audível, apenas o movimento de suas mãos, e o estridente som, que fazia um escarcéu em meus ouvidos, juntamente das batidas do meu coração.

Um sorriso contido me enfeitou a face, que ainda que velada pelas feições do coelho, fazia uma abertura, de uma bochecha a outra.

Vitória.

Antes que eu me desse conta, Taehyung chegou próximo ao palco, chamando a minha atenção, me fazendo ouvir aos aplausos com vigor. Acompanhando a sua figura, irreconhecível aos desconhecidos, eu me embrenhei dentre a penumbra do palco, encontrando o meu amigo nos fundos.

- Como eu me saí? - Eu perguntei, muito mais excitado do que imaginei que me sentiria, quando subi ao palco.

- Chimmy, você incrível... na realidade foi muito mais do que incrível! - Tae disse com um sorriso amarelo no rosto, o qual eu pude identificar, quando ele retirou a máscara do rosto, mostrando uma expressão mais preocupada do que a de antes de eu subir ao palco.

Franzi o cenho.

- O-o que foi? - Ele desviou o olhar. - Algo está errado? - Em seguida, olhou em meus olhos.

- Não! O-... - Ele engoliu em seco, o que era praticamente audível, pelo movimento que ele fez em seu pescoço. Taehyung estava de fato extremamente nervoso. - O Kwon está aqui...

- Huh. - Ergui uma das sobrancelhas. - Bom... isso não é novidade, por que motivo está assim nesse caso?

O olhar que ele emanava me passava algo mais do que eu podia entender.

- Ele disse alguma coisa... não foi?

Dificultosamente consegui arrancar de sua postura resistente uma confirmação em formato de aceno.

- Ele quer um "biz"... O olhar que ele emanava me passava algo mais do que eu podia entender.

- Ele disse alguma coisa... não foi?

Dificultosamente consegui arrancar se sua postura resistente uma confirmação em formato de aceno.

- Ele quer um "biz"...

Revirei os olhos. Meu amigo disse, sem parecer satisfeito.

- Inacreditável... isso é porque não saiu nos conformes do que ele esperava. Ele é tão previsível... não achou que eu fosse conseguir...

- Nós deveríamos ter imaginado.

Sabia muito bem que as próximas horas iriam se passar como se estivesse patinando em concreto.

Respirei profundamente e maneei a cabeça.

- Tanto faz... eu fiz uma vez, posso muito bem fazer outra vez.

- Não! - Ele me parou, erguendo uma das mãos. - N-não é isso... na verdade ele descobriu sobre... os seus outros... - Tae se enrolou nas palavras. Eu estalei a língua no céu da boca.

- Tsc! Desembucha Tae. Ou eu vou ir lá e fincar o pé naquela bunda milionária dele agorinha mesmo!

Meu amigo revirou os olhos.

- Ele descobriu sobre os seus outros "talentos". - Ele fez aspas com as mãos. - Se é que me entende...

-"Talentos"? - Semicerrei os olhos. Tae desviou o olhar e cruzou os braços, com o rosto enrubescido. - E-eu. - Arregalei os olhos. - Eu não sou garoto de programa! - Esbravejei.

- Não é isso não maluco! - Ele ergueu as duas mãos com medo. - É a... a coisa da dança. - Eu fiz cara de confuso. - A dança na porra do colo! - Disse de uma vez, e eu fiz cara de tédio.

- Tanta cerimônia para isso?

- E-eu... olha só, eu não fui contratado pra isso! - Ele fez bico.

- E NEM EU PRA ISSO! - Devolvi, apontando para eu todo, eu todo sem roupas no caso. - Quem é que você imagina que está na pior agora?!

- Huh... você bem que parecia estar adorando aquilo tudo lá...

Fiz beiço, contrariado.

- Teu rabo. Eu odiei.

- Meu cú?! Meu cú não, o teu cú! Safado, hipócrita! Te conheço!

- Meu cú?! Seu analfabeto! Eu não falei teu cú! Falei teu rabo, palhaço.

Ele revirou os olhos.

- Tudo igual! - Ele rebateu.

- Tem uma diferença... - Discordei.

- O caralho que tem. Vou te descer o pau aqui mesmo se não parar de discutir comigo.

- Espera aí! Eu não vou dançar no colo daquele filho da puta! - Neguei veemente.

- É sobre isso que eu vim até aqui falar. - Fiquei quieto, esperando a sua ideia brilhante. - Quando isso acontece, o que é raro... quem chama o convidado para o palco é você...

- E?

- Você é burro assim mesmo ou come capim no café da manhã? - Disse ele com cara de tédio.

- Tsc. Te foder Tae... - Revirei os olhos.

- Bom, nesse caso, você poderia chamar o Hoseok, ou a mim mesmo... tem o Jin também, e o Namjoon.

Pensei por um instante.

- E se eu não for?

Tae suspirou.

- Era o ideal... mas levando em consideração a guerra que você declarou contra ele, o fato de que ele está em reunião essa noite, e a cara que ele fez quando exigiu que você se apresentasse mais uma vez, provavelmente quer dizer que ele provavelmente vai armar alguma aqui dentro.

- Acha que ele faria isso? - Os meus olhos encararam os de Taehyung.

- Bom... eu conheço bem essa gente... são asquerosos. Tem tudo a tempo e a hora por conta do dinheiro e do status, e caso fuja desse padrão, agem feito crianças. Mas o Jin te deu a opção de não fazer... sabe que ele foi contra esse evento desde o primeiro dia.

Fiquei parado enquanto processava os prós e os contras. Permaneci quieto, enquanto o som da multidão lá fora fazia ressoar o som de vozes e de copos se tocando durante os múltiplos brindes que distribuíam.

- No seu lugar eu não iria... - Tae segurou a minha mão. -n Fez a sua parte do rato, e também não é como se o Jin fosse um pobre coitado... pode ser bonzinho com a gente, mas ele pode ser tão frio e calculista quanto eles. Se houver a necessidade, pode ter certeza de que ele vai te proteger.

Ainda incerto, eu balancei a cabeça várias vezes, negativamente.

- Eu vou.

Tae me encarou.

- Tem certeza? - Assenti sério, apanhando a máscara e a olhando em minhas mãos.

- Eu tenho. - Eu disse que não ia mais fugir desse cara. Se é um show o que ele quer... é isso o que ele vai ter.

- Qual é a música?

- 6 Inch. Beyoncé com The Weeknd.

- Boa escolha. - Ele anotou. - Não se esquece. Chame um de nós. Vamos ficar próximos ao palco.

Assenti.

Não demoraram mais do que cinco minutos para que eles preparassem tudo, e logo, um "biz" estava sendo apresentado pelo mesmo homem que abriu para mim antes.

O som da música invadiu o ambiente, assim como o silêncio mutuo. E novamente, eu estava completamente extasiado por ser mais uma vez o centro das atenções.

Mordi o lábio inferior, caminhando da escuridão do fundo do palco, até o pole, onde dei os primeiros passos, me prendendo ao ferro, sentindo o frio do objeto em minhas mãos.

Poder. Encanto. Inquietação. Frenesi. Angustia. Desassossego. Tentação. Volúpia. Excitação. Soberba. Luxúria. Ira.

E tesão...

Era eu. Realmente eu. Eu de verdade.

Pela primeira vez, eu enxergava alguém em mim, a quem eu desconhecia a muito. Um estranho.

Entre um movimento e outro, senti a volúpia me assolar, quando caminhei pelo palco, afim de encontrar quem seria

- Se você quiser fazer uma lap dance, deve se soltar, ser sexy e trabalhar o seu corpo com confiança. Para que a dança seja inesquecível... - As palavras de Lily se fizeram em minha mente, ecoando feito um mantra. - Escolha uma música que seja sexy o bastante para criar um clima, mas com ritmo o suficiente para a dança. Pratique com a música antes para verificar se ela é apropriada para uma lap dance, não para o sexo. Uma lap dance não deve durar mais do que um ou dois minutos...

Os meus olhos caminharam por entre os convidados da noite, eram tanto que eu não poderia contar. Alguns hipnotizados, alguns cochichavam com outros, e algumas pessoas acompanhavam tudo de longe.

Com mais facilidade do que eu esperava, avistei Jeon Kwon sentado, porém, em um local onde eu já havia observado anteriormente, onde agora, haviam mais pessoas.

Kwon. Ming Feng. Sr. Min. Blaine Scott. A garota, a qual identifiquei como sendo Sherryl, a mulher que havia ameaçado Seokjin no celular. Um garoto e um homem os quais eu não fazia ideia de quem pudessem ser. Kai...

Eu parei de respirar por um segundos, que pareceu mais com uma eternidade. Senti o meu corpo endurecer por dentro e o meu sangue gelar.

Eu sentia que poderia estar nas garras de homens que não tinham o mínimo pudor, ou a menor parcela de escrúpulos possível. Homens que torturavam e matavam aqueles que não partilhavam de suas convicções. Mas não tinha mais certeza se conseguiria passar por isso.

Não quando aqueles olhos tão escuros e profundos se encontraram com os meus.

Jungkook.

Ao enxergar a cena de Jeon Jungkook sentado a poucos metros, no lugar onde eu menos esperava encontrar eu perdi os sentidos.

Enquanto o observava, sentado na mesa de Kwon, com o olhar meio perdido, e carregado ao mesmo tempo, me encarando como uma incógnita, eu me dei conta: Kwon sabia exatamente quem eu era, e sabia exatamente como agir.

E mais uma vez no nosso jogo de gato e rato, eu era quem estava encurralado.

Eu tive os meus planos frustrados por ele outra vez.

Engoli em seco, quando o garoto esguio se pôs de pé, caminhando, meio desconcertado.

Isso tudo em uma única fração de segundos. Na realidade, ele se movia como o vento, rápido, para que ninguém pudesse tomar a mesma iniciativa que ele.

Afastando o peso esmagador e o desejo de chorar sozinho, eu me curvei, segurando a sua mão, quando a estendeu para mim. Pelo visto, eu não seria quem escolheria, ele veio até mim.

Me envolvi na penumbra, sem compreender direito quanto tempo havia passado desde que ele havia tocado a minha mão. Jungkook me olhou nos olhos.

Eu suspirei pesadamente, sentindo tudo dentro de mim se mover, todos acompanhavam a cena com olhos famintos.

- Jimin! - Senti os meus olhos lacrimejando, e as minhas pálpebras pesando, quando Taehyung chamou o meu nome. - Ele estava pouco à frente. E chamou em um tom de voz, que a física discordaria da possibilidade de que eu ouvisse.

Jungkook parou quando me viu, Jungkook, mas, visivelmente abalado com o susto, e por isso, eu fui obrigado a pela primeira vez, controlar a vontade que eu sentia de correr dali, em direção ao banheiro, arrancar a face do coelho de mim e vomitar desesperadamente, enquanto me arrependia amargamente da decisão que tomei de enfrentar Jeon Kwon.

- Você precisa se acalmar. - Jungkook disse sério. Subindo os três degraus da escada e passando por mim, se sentando na cadeira, com a expressão mais fria que eu já havia presenciado, mas não sem soltar a minha mão, ou para de olhar dentro de mim.

Passei a mão nos cabelos, respirando mais do que profundamente.

Tremendo feito uma folha na árvore, olhei em seus olhos tão vazios e ao mesmo tempo, tão profundos.

- Olha só... - Sorriu para mim, sem humor. Ele chegou perto, passou as mãos pela minha cintura, e me deu um beijo no umbigo. - Eu não tenho certeza se você se ligou de tudo isso. Mas de qualquer forma, você vai ter que encarar... sabe que consegue...

O olhar que ele emanava me passava algo mais do que eu estava acostumado. Não sabia o que poderia ser, mas sabia que não era bom.

Sua mão alcançou a minha bunda, onde ele apertou, se levantando e colando o seu corpo no meu. Com uma agilidade que eu desconhecia suas mãos alcançaram as minhas coxas, me puxando para seu colo, onde senti o seu pau duro feito pedra, me forçando a engolir em seco.

Talvez de medo. Talvez de excitação.

Sua mão subiu mais alguns centímetros, até tocar a pele nua da minha coxa. O seu olhar estava focado no meu, me fazendo sentir quente.

Jungkook se sentou, e dessa forma, eu me sentei junto de si, em seu colo, com os meus braços em seu pescoço. Ele se inclinou para trás e geme, ajustando a virilha, de forma pouco sutil.

Ele me fuzilou com o olhar, mas terminou acenando uma única vez com a cabeça e sorrindo. Era como o sorriso do diabo em pessoa.

Sua mandíbula se apertou, acentuando a expressão fria que ele carregava e rosnou entre dentes:

- Vamos lá amor... - Pressionou as suas duas mãos em meu quadril, forçando o meu corpo para baixo, onde mais uma vez senti seu pau duro. Ele sorriu e mordeu o lábio antes de dizer: - Dance para mim.

Obrigado pelos 216K meus amores! Esse capítulo foi um especial, que era de 200K, mas acabou que vocês foram bem mais rápidos. Eu nem acredito nesse número, então muitíssimo obrigado!

Perdão por qualquer erro, e pela demora! Obrigado a quem não desistiu de mim!

Mais uma vez, muito obrigado pelas cobranças, isso mostra que vocês gostam do que eu faço!

Se tiver curtido esse capítulo, por favor, deixe o seu voto, os seus comentários e compartilhe para que a gente chegue ainda mais longe! Muito obrigado por estar sempre ao meu lado! Eu te amo demais! ❤️

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