Oblíquo

By luanaSales97

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Caio sabia, estar apaixonado era uma maldição que em nada parecia com filmes ou séries de TV onde tudo acaba... More

Epígrafe e apresentações
Ele não está tão a fim de você
Alguém tem que ceder
Questão de tempo
Abaixo o amor
A barraca do beijo
Sim ou Não
Três homens em conflito
Guerra Fria
Feitiço da Lua
Trinta anos esta noite
O brilho eterno de uma mente sem lembranças
Um momento pode mudar tudo
E se fosse verdade?
Por trás de seus olhos
Uma noite alucinante
Sempre ao seu lado
A doce vida
Dia do sim
A felicidade não se compra
O Date Perfeito

O Primeiro Amor

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By luanaSales97

Um prato vazio estava a minha frente, ao lado dele algum tipo de café gelado, um desses com creme em cima, algo muito mais parecido com milkshake do que com café. Enfio o canudo da boca e puxo. O sabor meio amargo não é ruim, engulo devagar escutando uma risada alta ao meu lado. Lola parecia alegre, os olhos brilhando enquanto falava com Pedro e Lucas que comiam pães de queijo.

A cadeira na ponta, a que sobrava, estava ocupada por Caio, cuja atenção estava completamente focada na tela de seu notebook. Ele não bebeu seu café, também não comeu, parecia extremamente concentrado. Penso em espiar pelo canto do olho, mas não seria educado.

Penso em perguntar, mas parecia rude.

Solto um suspiro cansado.

Se ele agora me odeia, como eu posso falar com ele?

– Damien?

– Está falando comigo?

– Chamei duas vezes. Você vem comigo para casa mais tarde?

– Vou, vou sim.

– Ótimo!

– Pessoal – Lucas começa. – Sei que vocês dois estão animados para ficarem sozinhos e blá, blá, blá, mas temos que assistir a um filme para aula de estruturação de roteiros, lembram? Precisamos escrever um trabalho.

Caio fecha o notebook e lança a Lucas um olhar entediado.

– Qual filme vocês escolheram?

– Nenhum, estávamos esperando por você – Pedro fala na voz mais mansa possível e eu me contento em olhar para os olhos grandes dele.

Meu Deus, como a gente estava patético naquele momento. Qual o meu problema?

– Podemos falar sobre Flipped – a mesa toda fica em silêncio e eu me pergunto se era uma sugestão tão esquisita assim.

– Você odeia esse filme. – Lucas é o primeiro a pontuar.

– É o favorito do Caio. – Me encosto na cadeira enquanto falo e a atitude é seguida de outro silêncio.

Isso era mesmo estranho?

– Por mim tudo bem – Caio diz, pegando sua mochila do chão e enfiando o notebook ali. – Vamos? – questiona quando não vê ninguém se movendo.

– Vou com vocês – Lola se levanta. – Posso ficar na sua casa então, Damien?

Concordo enquanto eu próprio me levanto. Vejo Pedro se aproximar de Caio e estico um pouco o pescoço, tentando escutar um pouquinho. Tudo o que capto é um breve sorriso de Caio seguido por um balançar de cabeça.

– Pedro já conversou com ele. – Lucas diz, tocando meu ombro com o seu. – É bem ruim pra sua moral tentar ouvir uma conversa privada.

– E o que houve? – Ele olha para Lola ao meu lado antes de responder:

– Devia perguntar a um dos dois.

– Vamos assistir na sua casa então, Damien? – Caio pergunta quando chegamos ao lado de fora.

– Sim, é o lugar mais parto e eu tenho o filme.

Ele assente enquanto caminho em silêncio.

Eu odiava aquele clima, a sensação de pisar em ovos e precisar ser cauteloso. Éramos todos amigos, eu queria saber sobre a nova casa, sobre o trabalho, se estava tudo bem ou se não estava, mas tudo o que eu tinha era um clima de merda e um olhar gelado.

Lola segura meu braço no meio da caminhada e me lança um olhar preocupado.

– Está tudo bem?

– Sim, por que não estaria?

– Você tá com uma cara de funeral.

Lucas ri ao meu lado e tenta disfarçar pigarreando. Lanço para ele um olhar mortal.

– Vamos pedir alguma coisa para comer? Eu não gostei dos pães de queijo.

– Podemos pedir pizza. – Caio move minimante a cabeça com o mesmo sorriso educado no rosto. Lucas deixa o meu lado e vai até ele começando uma conversa animada.

Quando chegamos me arrependo prontamente de ter oferecido minha casa. Algumas roupas pelo chão, a louça suja, eu parecia um desleixado.

– Vou pegar o filme, se sentem.

Vou até a estante de DVDs que colecionava e começo a procura pelos títulos, aperto os olhos tentando ver a capa familiar em meio a todas as outras. Ouço passos se aproximando e um braço pálido é estendido para cima, capturando um DVD da última prateleira e o estendendo para mim.

– Guardei aqui da última vez que vi – meu coração falha uma batida e engulo a palavra "obrigado". Sorrio um pouco e me sinto meio idiota quando ele se vira e vai se sentar de novo ao lado de Lucas.

Coloco do DVD no reprodutor e vou me sentar. Me encolho no espaço entre Lola e Caio e vejo quando Pedro apaga a luz. As persianas das janelas colaboram para a escuridão própria para um filme, então me concentro na tela.

O silêncio é o bastante para que eu ouça um suspiro ao meu lado. Caio, de olhos focados na tela, começa seu processo de imersão ao filme. Engraçado como a gente pode conhecer cada pequeno detalhe de uma pessoa próxima, como ela funciona e o que faz em cada uma das situações. Os olhos grandes dele, quando focados e imersos, fazem a testa franzir bem de leve, deixando uma ruga persistente. Os lábios cheios se abririam levemente quando alguma cena o tocasse profundamente, o corpo se voltaria para frente e para trás, como se o filme o fizesse se movimentar.

Sorrio um pouco e aquela leve palpitação volta devagar e persistente, como se marcasse presença. Desvio o olhar para a tela e o sinto se ajeitar, o ombro tocando o meu e ficando ali. Meu coração sente isso também, teimoso.

Era saudade? Talvez fosse. A pele dele era quente, o cheiro dele era bom, familiar. O cheiro que ficava gravado no cobertor que eu pegava emprestado, na cama em que eu dormir. O cheiro que devia ser forte na pele quente e macia.

Engulo em seco.

Fazia tempo que eu não dormia com ele. Muito tempo. Dormir ao lado do Caio era terapêutico, quase medicinal. Eu sentia falta daquilo, sentia falta de tudo. Me acomodo, chegando mais perto, e fecho os olhos por um momento, sentindo uma eletricidade familiar cobrir meus nervos e mandar sinais claros ao meu corpo. Eu não podia continuar assim, não sem estender a mão e tocar a dele, não sem o convidar para ficar depois do filme.

Eu queria tanto que as coisas fossem como antes.

Umedeço os lábios e Caio se mexe, ele me lança um olhar breve antes de voltar a tela, mas não se afasta. Eu sorrio satisfeito e penso em me aconchegar quando Lola deixa a cabeça em meu ombro. Como um repelente. Caio muda a posição, cruzando os braços, deixando centímetros entre nós.

Aquilo me abala como se fosse realmente grave. Franzo o cenho e olho para a menina ao meu lado, abraçando-a pelo resto do filme, tentando pensar em qualquer outra coisa.

Quando acabamos Pedro liga para a pizzaria e debatemos o relatório sobre a estrutura de roteiro de Flipped enquanto Lola se retira para um banho. Quando acabamos eu a encontro no meu quarto, deitada, usando uma de minhas camisas.

– Os meninos já foram? – ela pergunta com um sorriso brilhante nos lábios. – Venha, vamos dormir.

– Vou tomar um banho. – Saio, fechando a porta atrás de mim. Sacudindo a cabeça por um instante. Caminho até o banheiro e quando ligo a água quente penso no momento do filme, penso em como aquela noite poderia ter acabado.

Se nada daquilo tivesse acontecido Caio teria ficado aqui, estaria em seu quarto lendo alguma revista de cinema ou jogando alguma coisa no seu Nintendo Wii, eu tomaria meu banho e seguiria para seu quarto. Ele fingiria que está chateado, reclamaria do espaço, mas me deixaria deitar ao seu lado, então eu poderia prender aqueles olhos grandes nos meus, ver aqueles lábios cheios se entreabrir. Eu chegaria perto, perto o bastante para que ele se sentisse tonto e então...

Pisco algumas vezes. E então o que? Que porra que eu estou pensando? Fecho o chuveiro e me enrolo na toalha, completamente perturbado com meus próprios pensamentos. Abro a porta do quarto mais uma vez e suspiro cansado.

Lola se levanta e caminha até mim, chega perto e fica na ponta dos pés, enrolando os braços em meu pescoço.

Eu não sinto nada.

Não sinto absolutamente nada.

Ela encosta a boca na minha, desejosa. Eu a beijo de volta, procurando qualquer sinal.

Nada.

As mãos dela descem por meu peitoral e ela se afasta por um instante.

– Damien, você está bem?

– Para sem sincero, não. Tudo bem se apenas formos dormir? Eu não me sinto bem hoje.  

Flipped é o filme O primeiro Amor, só pra avisar, galera <3

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