Oblíquo

By luanaSales97

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Caio sabia, estar apaixonado era uma maldição que em nada parecia com filmes ou séries de TV onde tudo acaba... More

Epígrafe e apresentações
Ele não está tão a fim de você
Alguém tem que ceder
Questão de tempo
Abaixo o amor
A barraca do beijo
Sim ou Não
Três homens em conflito
Guerra Fria
Feitiço da Lua
O brilho eterno de uma mente sem lembranças
Um momento pode mudar tudo
O Primeiro Amor
E se fosse verdade?
Por trás de seus olhos
Uma noite alucinante
Sempre ao seu lado
A doce vida
Dia do sim
A felicidade não se compra
O Date Perfeito

Trinta anos esta noite

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By luanaSales97

Segura na mão de Deus e vai, segue adiante 🎶 Esse é um dos últimos capítulos do Caio, o penúltimo, e é um pouco maior que o comum. Aproveitem 💕

Olho para o amontoado de folhas a minha frente. Ao lado, meu bloquinho azul piscina está com duas folhas completamente rasuradas. São ideias, conceitos, coisas que poderiam melhorar a peça principal.

Sinto uma mão em meu ombro e uma larga caneca de café é colocada diante de mim. Damien se senta ao lado e coça o queixo discretamente enquanto encara nosso trabalho conjunto.

— Eu acho que está muito bom.

— Você não entende, eu acho que ele vai odiar até se eu escrever o próximo "O Fantasma da Ópera" ele me odeia.

Bufo enquanto encaro o pequeno prato vazio de bolo que deixei ali. Meus olhos já pesados de sono só me pediam para parar.

Apoio a cabeça no ombro de Damien enquanto respiro fundo.

— Ninguém odeia você, Caio. Isso é fisicamente impossível, tá bem? Só...

— Só?

— Tente não ser tão direto da próxima vez, fale com um tom suave.

O encaro, erguendo uma sobrancelha.

— Qual é?

— É sério.

— Eu sou suave — digo encolhendo os ombros.

— Então me mostre.

— Ah, porra.

— Caio! — ele aponta para os próprios olhos com dois dedos e eu me concentro, tentando não
Rir de sua expressão séria. Pisco algumas vezes e foco no verde claro de suas irises. Limpo a garganta por um instante e relaxo os ombros. sorrio com o canto dos lábios e me certifico que meus olhos pareçam acolhedores.

Os traços de Damien se suavizam um pouco e no canto de sua boca uma insinuação de sorriso de faz presente.

Por um segundo me distraio com o modo como ele me encara, o olhar fixo... carinhoso?

— Senhor... — começo. — Acredito que organizei algumas ideias que podem... que vão servir para o nosso enredo. Espero que estejam do seu agrado.

Termino a frase, sentindo-me como um idiota por estar interpretando um menino bonzinho. Mas me divertindo igualmente por qualquer que fosse o motivo.

— Eu mudei de ideia — Damien diz sem desviar o olhar.

— O que foi? Eu dei meu melhor.

— Esse olhar, esse tom de voz... Não fale assim com ninguém além de mim.

Meu coração acelera, tenho medo que ele possa ouvir. Me inclino levemente para frente, apenas para falar baixinho:

— Posso saber por quê?

— Por que o seu diretor pode se apaixonar — ele sussurra, mais para si do que para mim. Meu coração está na garganta. Sinto minha bochechas quentes e meus dedos vibram, como se fosse razoável a ideia de estender e tocar.

— Damien...

— E você não quer isso, quer? — o tom dele é baixo, os olhos, antes focados nos meus, descem lentamente até minha boca. Congelo, sentindo minha barriga gelada, os pernas tremendo. Imagino, por um instante, como deve ser, como aqueles lábios macios seriam em contato com a minha pele.

Como se eu pudesse ler sua mente, sei que ele também imagina. E isso me faz avançar alguns centímetros a frente.

— Vou... — ele gagueja. — Vou pegar água para mim, finalizamos quando eu voltar. Já são duas da manhã.

Ele se levanta rapidamente, dando um passo em falso, topando com o pé na quina da mesa. Aperto os lábios para não rir quando ele se vira para trás de sobrancelha franzida.

Meu coração dá saltos no peito. Eu poderia estar sendo o maior idiota da face da terra, mas eu acho que talvez, só talvez, ele esteja... não. Será mesmo?

Eu deveria fazer alguma coisa? Quer dizer, tirar uma prova? Olho para Damien bebendo um enorme copo de água e me levanto. Engulo em seco e dou um passo em direção a cozinha. Paro.

E se não for nada disso? Eu deveria me controlar. Não criar falsas expectativas.

Não, não, não! Isso é covardia.

Eu posso simplesmente o convidar para dormir comigo? Quer dizer... a gente já fez isso antes, não era nada demais.

— Dami, você quer...

— Eu vou dormir, você se importa? — abro a boca, mas fico sem reação, então ele completa: — me acorde quando precisar sair, eu te levo.

Ele coloca o copo na pia e sorri, dando o primeiro passo para se afastar. Num instante eu seguro seu pulso e ele se volta para trás.

— Você não quer... eu... dormir comigo?

Damien ri e umidece os lábios antes de dizer:

— Vai me deixar dormir contigo?

— Si..sim.

Que droga! Onde estava minha dicção? Se recomponha, Caio!

— Melhor não, eu estou realmente cansado. Vou te apertar no canto, melhor que você descanse bem. — ele espalma a mão no meu cabelo e o bagunça antes de se afastar, dessa vez eu não o seguro.

O que está acontecendo com esse homem?

***

Acordo na manhã seguinte sentindo dor de cabeça, olho para o relógio que marca oito horas da manhã e quase choro com a ideia de precisar levantar.
Me sento na cama e coço meus olhos antes de olhar o celular.

Lucas enviou uma mensagem, aparentemente vamos todos jantar juntos essa noite.

Toco os pés descalços no chão gelado e me arrasto ao banheiro para um banho gelado. Quando vou para cozinha preparar um café respondo a Lucas que, sem demora, me manda uma mensagem dizendo que hoje tiraria fotos do cast da peça de Bernardo. Ele oferecia uma carona.

Aceito e digo que estarei pronto em quinze minutos. Penso em acordar Damien, mas no lugar disso deixo uma mensagem avisando que ele poderia dormir até mais tarde.

Arrumo minha mochila e desço até a portaria, esperando por um carro que para em minha porta uns cinco minutos depois.

— Cara, você parece exausto — Lucas diz quando me jogo em seu banco do passageiro.

— Bom dia, eu dormi mal. — Ele sorri. — Por que você foi escolhido para tirar foto do cast mesmo?

— Porque o teatro regional está em parceria com nossa universidade, e porque uma das atrizes é minha amiga e me indicou.

— O nome dela?

— Letícia.

— Ah, sei quem é. Ela é legal, é sua amiga? — dou ênfase na última palavra sorrindo um pouco.

— Ainda.

— Certo. Vocês são todos iguais.

— Estamos aproveitando nossa juventude, coisa que você também deveria fazer. Quer dizer, você sabe que eu apoio essa sua coisa com o Damien, mas, Caio, não tem nada de errado em transar com quem você não ama. Sem brincar, quanto tempo tem que você não fica com alguém?

Abro a boca e volto a fechar. Eu conhecia a filosofia dos meus amigos, só não tinha vontade de seguir.

— Eu me reservo ao direito de não responder.

— Anos, Caio, faz dois anos. Um homem interessante feito você. Eu sei de caras que matariam pra ter uma chance.

Ergo uma sobrancelha.

— No plural?

— No plural.

Ele estaciona. Abro a porta e sorrio para ele.

— Sabe que não tenho a menor vontade de transar sem ligação emocional, certo?

Lucas bate a porta do carro e se junta a mim soltando um suspiro.

— Só estou avisando. Damien é legal, mas eu tenho medo que você fique preso a isso. Por isso eu digo: fale com ele, se der certo, ótimo. Se não der, o Ygor da odontologia pediu seu contato pra mim ontem.

Reviro os olhos e começo a caminhar para dentro do teatro. Isso não era sobre Damien, era sobre mim. Letícia está na arquibancada, comendo palitinhos de chocolate e sorri quando nos vê entrar.

— Lucas, Caio!

— Oi, você tá sozinha? — pergunto.

— Guilherme está na sala de figurino, Bernardo está na sala dele esperando por você. Eu estou aqui pronta para começar as fotos.

— Ótimo, ele está ansioso — murmuro e sacudo as mãos.

— Eu me pergunto se ele não vai acompanhar as fotos...

— Eu estou aqui para fazer isso! —ao som conhecido eu me viro e vejo Pedro caminhar para dentro do teatro, sorrindo e com uma das mãos levantadas. — Tentei ligar para vocês, onde estão os celulares?

— Você trabalha para o Bernardo? — pergunto surpreso.

— Não, mas estou estagiando com a irmã dele. Ela me pediu para fazer esse favor, parece que ele tem um assunto para resolver hoje.

Lucas assobia baixo.

— Eu vou indo. Boa sorte a vocês dois.

— O que ele tem? — ouço Pedro perguntar antes de caminhar até um corredor estreito com uma pequena sala logo ao fim.

Dou duas batidas na porta e respiro fundo antes que Bernardo me responda com um "entre"

Giro a maçaneta e observo a sala bem decorada. O homem atrás da mesa sorri, não assustadoramente ou coisa do tipo, apenas um leve sorriso cordial.

— Fez o que pedi?

Me sento diante dele e abro a mochila, puxando de lá alguns papéis e o roteiro escrito por ele.
Lembro de sorrir, de não parecer muito direto.

— Está aqui. Pensei em como poderíamos incrementar no que já está escrito pelo senhor. Veja, eu anotei aqui, por exemplo. Cena 1, ato 1. Eu sei que eles tem o primeiro encontro na biblioteca, mas porque, ao invés de ser o garoto da mesa do canto que derrubou seus livros, ele não é o cara que ela sempre vê lendo os livros favoritos dela? Ela pode criar uma longa narrativa em cima de uma possível amizade entre os dois e, quando vai falar com ele, ele simplesmente diz que não está interessado e se levanta, achando que ela está só passando uma cantada ruim.

— E como isso se encaixa com o resto do que escrevi?

Explico carinhosamente como cada uma das minhas ideias podem ser aplicadas dentro da realidade dele. Era uma peça simples, sem nenhum mistério destinada ao público mais novo e, se fosse um clichê, que fosse um engraçado. Algo mais comunicativo.

— Essa produção é apenas um projeto pequeno em conjunto com a sua universidade, um fortalecimento aos aulas de atuação. Minha irmã e sua professora. Você sabe.

— Eu sei, mas também sei que ficarei com o senhor por um tempo bem maior que essa peça, sei que coordena espetáculos realmente grandes, eu quero participar, quero aprender.

— Você tem muita vontade, Caio. Parece comigo na sua idade, mas, olhando para cada uma das suas ideias eu me perguntou se você entende do que se trata um romance.

Fico em silêncio por alguns instantes antes de conseguir entender o significo do que ele dizia.

— Como assim?

— São boas, as ideias, no caso, mas elas são muito... secas? Elas não tem muito sentimento. Você me sugere atitudes extremamente frias que uma pessoa apaixonada não é capaz de ter.

Franzo o cenho. Sentindo o impacto do que ele diz.

— De que está falando?

— De realismo. Quando uma decepção bate a nossa porta, nós raramente somos capazes de nos portar com o nosso melhor raciocínio. Eu tô falando de fazer merda, errar e acertar. Esse é o ponto que falta na sua visão. Escuta, eu vou usar todas as suas ideias, vamos reescrever juntos e vamos encontrar esse sentimento. Sim?

Assinto, meio confuso, meio aliviado. Bernardo levanta da cadeira e me dá dois tapas amigáveis no ombro.

— Ficamos aqui por muito tempo, vamos ver se já acabaram a sessão? Os garotos também são da sua universidade.

— Sim, são meus amigos.

Me levanto, recolhendo rapidamente o que era meu e estava por ali. No corredor ouço risadas, todas muito altas, e encontro Lucas, Pedro, Leticia e Damien sentados perto do palco.

Todos conversamos animadamente.

— Estávamos te esperando! — Pedro fala, olhando para o relógio em seu pulso. — Acabamos tem uns 20 minutos.

— Tivemos uma reunião bem longa. Quem é você?

Damien sorri e salta do palco, estendendo a mão confiante.

— Damien Laerte, sou estudante de cinema. Vim buscar meus amigos, espero que não se incomode.

— Então todos vocês se conhecem?

Damien assente.

— Estudamos todos na mesma faculdade. Eu, Lucas e Caio fazemos as mesmas matérias, estamos no mesmo período.

— Isso é ótimo! Bom, crianças, eu preciso resolver uma pendência no centro. Estão liberadas por hoje.

Passo a mão na parte de trás da cabeça vendo Bernardo se afastar, sinto um braço apoiado em meu ombro.

— Ele amou? — Damien pergunta e eu sorrio um pouco.

— Eu acho que sim? Não tenho certeza.

Dou de ombros, mas não me afasto do deu abraço. Tenho vontade de segurar sua mão, será que eu poderia? Ele parecia tão aberto a isso.

— Bom, de qualquer forma, você merece um bom jantar pra aliviar. Vamos matar aula hoje?

Pedro pula do palco e atrás dele Lucas e Leticia se aproximam. Encaro Lucas, esperando que ele de algum sinal se foi bem sucedido em seus movimentos, se Letícia agora é um pouco mais que uma boa amiga que faz indicações de trabalho. Mas Lucas não sorri de volta.

— Onde vamos? — ela pergunta, sorrindo, os olhos brilhando para Damien que pensa por um segundo antes de responder:

— Vamos a um bar com hamburgueria a duas quadras daqui. O Caio gosta e eu também.

Eu sinto meu estômago pesar por um momento

Damien caminha ao lado de Pedro e eu fico um passo atrás, à espera de Lucas que se junta a mim com as mãos nos bolsos.

— Algo deu errado? — pergunto e sinto que minha voz sai mais baixa do que me é comum.

— Lembra da Letícia das histórias do Damien? A ex com quem ele ficou por um ano? Bom, é essa Letícia.

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