Never Stay

By EAIsASecret

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"Nunca amar alguém é o caminho mais fácil para não partir seu coração, mas se isso também significar que você... More

Nota da Autora
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Um bilhete
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Para Sam
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Epílogo
Para o time
Livro novo e 8 mil leituras
10 mil leituras e publicação do livro novo

Capítulo 65

60 10 37
By EAIsASecret

A não ser que o milagre pelo qual todos estavam rezando e esperando acontecesse, os dias de Jane estavam visivelmente chegando ao fim. Havia momentos em que algum acontecimento ou distração trazia de volta a criança feliz e alegre que ela fora em tempo quase que integral antes da doença, mas também havia momentos em que parecia ser absurdamente egoísta querer que ela aguentasse ficar daquele jeito por mais um minuto que fosse.

Com isso, dois dias depois que ela ganhou o cachorro, as preparações para a festa do pijama começaram: Sam prepararia a sala; Violet, Sofia e Jackson comprariam a maior quantidade de doces que eles conseguiriam comer e Heather escolheria filmes legais para que vissem juntos.

Livia ficara responsável por comprar uma caminha para o cachorrinho (que, depois de muito debate, havia sido nomeado "Charlie") e, já com o objeto comprado, a poucos passos do hotel, percebeu que estava a poucas horas de uma festa do pijama sem que tivesse um pijama decente para a noite, ela costumava usar roupas velhas ou algo folgado para dormir. Por isso, precisou voltar, passar em mais uma loja, comprar um pijama e aí sim, chegar ao hotel.

Quando finalmente abriu a porta do quarto, franziu o cenho: Catarina estava encostada na janela, com a expressão mais séria que ela poderia estar e que não era do seu feitio, e com tal atenção no movimento da rua que não percebeu quando sua noiva chegou, nem mesmo se assustou com o barulho que a sacola fez quando alcançou o chão, junto com a caminha. Na verdade, parecia que ela nem tinha ouvido.

-Catarina?- Livia colocou a mão no ombro dela, fazendo-a finalmente notar a presença de mais alguém no quarto e levar um susto. Os olhos de Catarina estavam um pouco inchados e suas bochechas estavam em um tom de vermelho claro- Você está bem?

-Estou.- ela respondeu sem qualquer firmeza e, como que para fugir do assunto, buscou pelo quarto alguma coisa da qual pudesse falar no lugar dos seus sentimentos, encontrando as compras de Livia jogadas na entrada- Conseguiu comprar uma caminha bonitinha?

-Consegui e também comprei um pijama...- Livia a observou ir até a cama e se sentar, encolhida como um feto no útero- O que você tem?

Catarina hesitou, estava tentando evitar o contato visual com a sua noiva, mas Livia demorou menos de 10 segundos para acomodar-se na frente dela, com o olhar pedindo por respostas.

-Eu estava no telefone com a minha mãe...- começou, Livia insistiria de qualquer maneira- E... Bom, alguns exames ainda estão para sair, mas... O meu pai teve um ataque cardíaco e está internado, parece o estado é um pouco grave.

Os olhos de Livia se esbugalharam imediatamente e um aperto tomou conta do seu peito. O pai de Catarina era uma das pessoas mais gentis e complacentes que ela já conhecera, era o melhor sogro que ela poderia desejar e, apesar de não ser muito comunicativa, era uma das pessoas com quem mais gostava de conversar na Califórnia.

-Catarina... E-eu sinto muito, por que não me ligou? Eu teria vindo correndo...

-Por isso mesmo, não preciso de um pai infartado e de uma noiva atropelada.- ela afundou o rosto em um travesseiro que puxou. Pelo tom que ela estava falando, Livia sabia que estava com muito medo, o que foi confirmado quando ela levantou o rosto, com mais algumas lágrimas prestes a descerem- Eu não posso perdê-lo, Lili, não posso perder o meu pai...

"O que dizer para uma pessoa nessa situação?", foi o que Livia pensou. Ela e Catarina eram muito diferentes em vários aspectos: a residente dava mais atenção aos seus sentimentos e Livia costumava varrê-los para debaixo do tapete; uma via o mundo com mais sensibilidade, a outra com uma frieza estratégica; uma gostava se der abraçada e de ter companhia em momentos tristes, a outra preferia ter espaço, era complicado saber o que a deixaria melhor. Mas ela acabou concluindo que, naquele caso específico, havia apenas uma coisa que poderia ser dita e ela era tão óbvia quanto poderia ser.

-Faz as suas malas, Catarina. Volta para casa, vai ficar perto do seu pai.

Catarina continuou tentando manter o olhar distante de Livia por mais algum tempo, mas acabou trazendo-o para ela, com um certo consolo e agradecimento na expressão, a cabeça balançava em negativo de forma leve e quase imperceptível:

-Eu não posso te deixar aqui sozinha, Lili... A Jane vai fazer a cirurgia em poucos dias e...

-Eu não estou sozinha.- Livia garantiu prontamente e segurou a mão dela- Todos os meus amigos daquela época estão aqui, eu me dou muito bem com a Violet, minha relação com Sam e com a Sofia melhorou... Você largou tudo na Califórnia de uma hora para outra só para me acompanhar, está aqui desde o começo. Você já fez muito, Catarina, agora é hora de dar atenção a sua família, ao seu pai, que ama você.

-Lili...

-Olha... Eu também queria está lá com você em uma hora dessas, mas cada uma de nós têm uma coisa diferente para lidar agora e está tudo bem. Em poucas semanas, vamos nos reencontrar. Pode ir sem culpa, vamos ficar bem.

Algumas outras lágrimas desceram pelo rosto já vermelho de Catarina, ela assentiu, ainda que não estivesse 100% convencida, e secou metade do rosto com a mão que não estava sendo segurada pela noiva.

-Eu te amo, Livia...- Catarina passou os dedos pelo rosto dela- Eu te amo muito.

-Eu sei, eu tenho certeza disso...- Livia a puxou para perto de si, abraçando-a fortemente- Logo, logo vamos estar juntas de novo.

* * *

Livia tocou na campainha da casa de Sam duas vezes, mas a segunda foi sem querer. Ela tinha a caminha de Charlie em uma mão e o pijama já no corpo: preferiu entrar de pijama no táxi e sair daquele jeito no meio da rua a carregar mais coisas do que precisava. Sam não demorou a abrir e ele também já usava seu pijama, um de calça comprida preta e uma blusa com uma carinha de panda estampada.

-Livia...- ele sorriu quando a viu, seu cabelo estava levemente bagunçado, contrastando com o estilo que ele adquirira nos últimos anos e lembrando a época em que ele era adolescente e os seus rebeldes fios eram umas das coisas que mais chamava atenção para ele- Chegou cedo e...- ele riu- Pronta.

-É... Eu achei melhor vir aqui e te ajudar do que ficar no hotel sozinha e pensando besteira. Desculpa, eu devia ter avisado.

-Não, que é isso...- ele abriu espaço para ela entrasse. A mesa de centro, o sofá e as cadeiras da sua sala não tão grande estavam em um canto, escondidas. O chão estava escondido por 5 colchões que Livia não fazia ideia de como ele conseguira, cobertos por travesseiros com desenhos fofos e coloridos, além de vários bichinhos de pelúcia, mantas e cobertores igualmente decorados. A iluminação do cômodo era amarelada, por causa das luzinhas que Sam tinha espalhado pela sala, juntamente a algumas fotos reveladas de quando Jane era mais nova. Se a intenção dele era deixar o ambiente aconchegante, havia conseguido com maestria- Mas... Sozinha? Cadê a Catarina?

-Ela voltou para a Califórnia.- Livia entrou, deu uma olhadela pela sala e se aproximou da parede para ver as fotos sem qualquer cerimônia, focando em uma específica em que Jane estava vestida de abelhinha, sentada no sofá que Livia reconheceu ser o da casa que Sam morava com seus pais. Ela era tão pequena que mal entendia o que estava acontecendo, devia ter um ou dois anos, tinhas as bochechas tão grandes que quase faziam sua boquinha sumir, o cabelinho estava coberto por uma touca com duas antenas e os olhos não olharam para a câmera, mas confusos para quem quer que estivesse tirando a foto e, por algum motivo, Livia tinha certeza de que tinha sido Carolyn. Só aí ela se tocou de que nunca tinha visto fotos de Jane criança tão atentamente e que faria qualquer coisa para voltar no tempo e estar lá em todos aqueles momentos tão preciosos- O pai dela teve um ataque cardíaco. Estamos preocupadas, ele é o tipo de pessoa que ninguém nunca vai querer perder.

-Nossa...- ele se aproximou dela, também passando a observar a foto presa abaixo de uma das luzinhas que piscava incessantemente na parede- V-você se sente bem para estar aqui hoje? Podemos marcar outro dia ou eu posso explicar a Jane...

-Não, tudo bem, nós duas já conversamos sobre ela ir e eu ficar e, assim que houver novas notícias, ela vai me ligar.- Livia observou que Charlie estava deitado perto da ilha da cozinha. Lembrando-se do que tinha em mãos, colocou a caminha ao lado dele e deu duas batidinhas para que o filhote entendesse o que deveria fazer, mas ele entendeu errado, porque ficou mais animado em brincar com Livia do que em deitar na caminha, que era cor-de-rosa e cheia de patinhas pretas, exatamente como Jane pedira- Você fez um bom trabalho aqui, ficou lindo.

-Obrigado, aproveitei que a Jane dormiu para preparar tudo. Espero que ela goste quando acordar.

-É claro que ela vai gostar, ficou tudo muito bonito.- elogiou, sentando-se em um dos bancos que ficavam em volta da ilha- Mas e esse pijama? Qual é a desse panda? Não vai me dizer que você dorme com isso...

-Ué...- ele riu- E qual seria o problema?

-Nenhum. Só que não parece fazer muito o seu estilo.

-Talvez você não saiba qual é o meu estilo.- ele provocou, acomodando-se no banco que ficava em diagonal com o de Livia. Ela arqueou uma das sobrancelhas para ele, nada convencida com o seu argumento- Tudo bem, tudo bem... Foi a Jane quem escolheu para mim, ela me deu de aniversário, mas pelo menos o meu pijama é divertido, muito melhor do que essas listras brancas e rosas no seu. Aliás, como as pessoas reagiram a uma jovem adulta saindo pelas ruas da vila de pijama?

-As pessoas eu não sei, mas o taxista me olhou torto o caminho inteiro.- ela levou as pupilas de um canto ao outro dos olhos, na tentativa de imitar a expressão do taxista- Quando saí do hotel, pensei "ah, tudo bem, não é a primeira vez que saio de pijama pela vila", mas tinha esquecido que, da última vez, era madrugada e não tinha ninguém nas ruas além de nós dois.

O tom descontraído e leve dos dois cessou quase que no mesmo instante, Livia se arrependeu do que disse no exato momento em que o fez. A intenção dela era que aquilo saísse em um tom brincalhão, mas acabou trazendo um avalanche de lembranças que deixava o clima muito estranho.

Naquela noite eles não haviam apenas saído pela vila usando pijamas.

Eles tinham andado de mãos dadas pela praia.

Observado a lua refletir na água, abraçados, estando tão próximos quanto podiam.

Eles haviam tomado banho juntos, sentido o corpo molhado do outro encostar no seu.

Eles haviam brincado de esconde-esconde durante a madrugada e sentido, em um momento são simples, a felicidade em seu ponto mais alto.

"Que sexy. Noite do pijama."

"Já posso tirar da lista 'Fugir de uma festa na praia e passar a noite inteira pela cidade com o meu namorado.'"

Livia reprimiu a lembrança de uma terceira frase, assim que ela ameaçou vir. Sam devia estar lembrando da mesma coisa ou de algo muito similar, porque seus olhos pareciam procurar desesperadamente por algo dentro da casa que pudesse levar a conversa para um outro rumo. Os dois sabiam que não tinham controle das lembranças que vinham ou dos sentimentos que elas traziam, mas tinham controle do que faziam com elas.

Eles eram adultos amadurecidos, saberiam como não deixar o passado atrapalhar as suas vidas ou magoar outras pessoas. 

-Sam, eu não sou muito boa com filmes para crianças, mas escolhi 4 hoje de manhã e eu acho que eles são...- a voz característica de Heather invadiu a sala e foi rapidamente interrompida pela percepção dela da presença de Livia. A garota tinha o cabelo ruivo preso em uma trança minúscula que conseguira fazer e trajava um pijama preto de seda, no qual caberiam pelo menos uma Heather e meia. Em uma mão tinha uma sacola com quatro caixinhas de DVD e, na outra, uma bolsa grande e com o formato certo para carregar uma barracada de acampamento. Ou aquilo realmente era uma bolsa de barraca de acampamento?- Ah, Livia, não vi que estava aqui. Boa noite.

-Boa noite, Heather.- Livia cumprimentou, comprimindo o corpo como se faz quando se está envergonhado por alguma coisa. 

Heather jogou a sacola com os DVDs e a bolsa em cima da ilha, dando um selinho em Sam logo em seguida.

-Você fez um ótimo trabalho aqui, Sam.- ela deu uma olhadela geral pela sala, com o mesmo olhar de quando Sam apresentava ideias a ela a respeito da empresa e ela os aprovava.

-Obrigado. Quais filmes você escolheu? Indagou, pegando a sacola e tirando os DVDs de lá.

-Ah, não lembro dos nomes, só pesquisei em um site filmes novos e que as crianças estão gostando e trouxe.

-E para que isso daqui?- Livia apontou para a bolsa que provavelmente guardava uma barraca. Heather pareceu só se lembrar dela com a pergunta, porque, assim que a ouviu, pegou-a e fez menção de levá-la a um quartinho naquele mesmo andar no qual Sam guardava coisas que raramente usava, que queria guardar bem ou esconder.

-Melhor guardar antes que a Jane veja, para que ela não fique ansiosa e queira atropelar as atividades.- ela colocou a bolsa dentro do dito quarto e, no caminho de volta, sorriu para a imagem de Charlie na caminha de cachorro rosa. Ela também percebeu, pelos olhares confusos de Sam e Livia, que não havia respondido à pergunta- Dentro da bolsa tem uma barraca de acampamento, eu trouxe porque imaginei que poderíamos passar uma parte da noite aqui dentro e, depois de umas horas, montar a barraca do lado de fora. O Sam comentou comigo que a dra. Amelia já disse mais de uma vez que não deveríamos demorar muito para realizar os desejos da Jane, então... Achei que juntar dois em uma noite só poderia ajudar.

Sam pensou por alguns segundos em como a ideia dela havia sido boa e anuiu:

-Ajuda, ajuda muito, obrigado, Heather.

-Por nada.- ela deu dois tapinha no ombro dele- A dra. Amelia vem hoje?

-Não.- Sam respondeu negativamente, para o alívio de Livia- Ela disse que podemos ter privacidade hoje e amanhã ela liga para saber como a Jane está.

-E a Catarina?- Heather se direcionou para Livia.

-Voltou para a Califórnia, o pai dela teve um problema e precisou ser internado, mas vai ficar bem.- antecipou, antes que Heather perguntasse e ela precisasse explicar tudo de novo.

É possível dizer que os três estavam em um caminho bom para ficarem sem assunto, mas, por sorte, não demorou muito mais para a campainha tocar e Sam levantar agilmente para atender.

-Chegaram os adultos divertidos da festa!- Violet brincou, com um Oliver risonho no colo. Sam não conteve uma risada ao ver os pijamas inusitados que a família dela usava, todos eles usavam peças do tipo fantasia, daquelas que tem um capuz imitando a cabeça do bichinho e um rabo decorativo atrás: Violet era um unicórnio azul com chifre e rabo rosa pink; Sofia era um dinossauro verde, com spikes amarelos pelas costas, Jackson era um cachorro marrom e peludo e Oliver, um coelhinho cinza, com as orelhas longas passando do seu rostinho.

-Vocês estão demais!- ele exclamou- Onde vocês arrumaram essas roupas?

-Ah, você nem imagina, eu e o Jackson já estávamos com os nossos pijamas normais e já tínhamos vestido o Oliver quando a Violet chegou da rua com várias sacolas dizendo que tirássemos tudo porque ela tinha encontrado as roupas ideais para a ocasião.- Sofia entrou, logo atrás da sua esposa e só aí Sam percebeu que ela tinha duas sacolas, uma pendurada em cada mão- Inclusive, ela trouxe para vocês também.

-A Jane vai adorar!- foi a primeira coisa que Livia pensou e que fez questão de verbalizar. Sem hesitar, ela levantou e começou a andar por cima dos colchões, rumo às escadas- Eu vou acordá-la.









-Mamãe, por que eu não posso abrir os olhos?- Jane perguntou, enquanto segurava firme as mãos de Livia, que a guiava pela escada depois de ter colocado uma venda nela. A ideia de fazer uma surpresa para a garotinha tinha sido de última hora, eles se tocaram de que Jane sabia sobre a festa do pijama, mas não sobre as roupas que Violet havia comprado ou sobre como estava tudo tão bonito no andar de baixo.

-Porque você não vai ver nada de todo jeito, está usando uma venda.- Livia deu uma risadinha, chegando finalmente ao último degrau. Jane notou quando elas pararam de descer, repentinamente.

-Eu posso tirar a venda agora?

-Pode sim.- respondeu, soltando as mãos da menina e tirando, ela mesma a venda.

-SURPRESA!- todos exclamaram juntos, com os sorrisos mais abertos e sinceros que conseguiram dar. Jane deixou escapar uma interjeição e olhou, maravilhada, para todo o ambiente que Sam havia organizado, para os doces espalhados pelos colchões e para Charlie, que ganhara uma roupinha com capuz azul, estando quase tão icônico quanto Sam dentro de uma fantasia de gatinho branco e Heather, com um capuz de ornitorrinco preto.

Jane abriu a boca em uma enorme surpresa antes de ir até Sam. Suas pernas estavam trêmulas, mas ela conseguiu ir até o irmão e, quando ameaçou cair, ele a segurou e correspondeu ao braço que ela lhe deu no instante em que a tocou.

-Você é o melhor irmão do mundo, Sam! Eu te amo, eu te amo!

-Eu também te amo, minha princesa... Que bom que você gostou.- ele beijou a cabeça dela, sem um fio de cabelo sequer, depois manteve uma mão apoiando o corpo dela e a outra alisando suas bochechas- Tem uma roupinha para você também, naquela sacola ali, você quer ver?

-QUERO!- ela gritou, com os olhos brilhando, depois se virou para Livia, percebendo que ela era a única entre ao adultos que permanecia com um pijama comum- Tem para a mamãe também?

-Tem, tem sim. Ela não colocou antes para te fazer a surpresa, vai lá no banheiro com a mamãe e vocês se trocam juntas.

Jane pegou a sua roupa e a de Livia alegremente e a puxou até onde os outros haviam se trocado no andar de baixo. Logo, elas saíram como um porquinho e um cervo respectivamente. Poucos minutos depois, todos já estavam deitados nos colchões, dentre as almofadas, enrolados em cobertas fofas e assistindo atentamente à primeira parte de um dos filmes que Heather havia trazido.

Na segunda parte, quando os doces começaram a diminuir, uma guerra de travesseiros definiu quem ficaria com as últimas jujubas e chocolates (embora sempre que alguém que não fosse Oliver ou Jane ganhasse, cedia os seus doces para eles) e, quando não havia mais nada açucarado, eles brincaram de imitar os animaizinhos que seus pijamas representavam, tiraram fotos e, depois de muitos cliques, Jane pareceu reparar pela primeira vez nas fotografias pregadas na parede e chamou Oliver para vê-las e contar a história de cada uma delas, mesmo que não se lembrasse exatamente quais haviam sido, ela apenas repetia as histórias que lhes eram contadas.

Após umas duas horas, Jackson teve a ideia de apagar as luzes e contar histórias com uma lanterna, acabaram decidindo que fariam a brincadeira na qual uma pessoa conta o início de uma história inventada na hora e as outras vão completando. Com pessoas com personalidades e idades tão diferentes, a história acabou sendo sobre um jogador de futebol americano que se tornou rico fazendo pães e comprou uma mansão na lua, mas todos riram e se divertiram, principalmente Jane, e aquilo era o mais importante.

À medida que a noite foi avançando, os sinais de cansaço em Jane começaram a aparecer e, antes que o seu sono se tornasse algo incontrolável, Jackson e Sofia deixaram o lado interno da casa, discretamente, voltando alguns minutos depois com um sinal positivo para Sam, que não demorou em levantar do colchão e levantar Jane, fazendo-a ficar em pé também, a essa altura, ela já estava bocejando e dando quase o seu primeiro cochilo:

-Certo, mocinha, eu sei que você está com sono, mas tem mais uma coisa para a gente fazer antes de dormir.

-O que é?- ela perguntou, bocejando de novo e ponderando no que poderia ser mais interessante naquele momento do que alguns minutinhos de sono.

As pernas dela começaram a ficar bambas novamente, Sam mais uma vez a pegou no colo e Livia, tentando manter a sua compostura diante de um sinal tão evidente do tumor, alisou os bracinhos dela, enquanto os três andavam até o lado de fora da casa.

Estava uma linda e tranquila noite: a única iluminação da rua vinha dos postes e da casa de Sam, porque todas as outras já tinham adormecido e desligado suas luzes, o silêncio e um vento frio traziam o clima ainda mais aconchegante e as estrelas do céu pareciam mais aparentes naquela madrugada no que nas anteriores, como se estivessem ali só para receber com alegria e beleza aquelas pessoas vestidas de bichinhos que saíam daquela casa.

Além de tudo isso, uma barraca de tamanho médio havia magicamente (pelo menos na cabeça de Jane) aparecido no jardim da casa de Sam.

-Um acampamento...- Jane olhou para a estrutura verde, da mesma cor da grama, incrédula. Se não estivesse tão cansada, sua resposta teria sido um grito o mais estridente possível diante daquilo- Sam... Eu vou ter dois desejos realizados no mesmo dia?

-Vai sim, a gente achou que seria legal terminar a festa do pijama aqui e dormir na barraca. O que você acha?

-A mamãe também vai dormir comigo?

-Vai, vai sim.- antes de Sam dizer que nem todos caberiam na barraca, Heather respondeu à pergunta, tirando o gorro de ornitorrinco e expondo seus fios ruivos levemente bagunçados. Quando olharam para trás, Sam e Livia perceberam que Oliver e Violet não estavam do lado de fora junto com os outros- Sam, nós decidimos deixar vocês um pouquinho. Já passamos a noite inteira juntos e o Oliver dormiu no colo da Violet.

-Heather...- ele falou o nome da namorada, mas seu olhar cruzou com o de Livia, ambos inconfortáveis com a proposta. Heather pareceu notar e até prever aquela situação que considerava esperada, pelo passado que tiveram, então se apressou em não deixar que Sam pedisse para que aquilo não acontecesse.

-Aproveitem estes momentos com a Jane, por ela.- frisou, fazendo-os entender que todos ali estavam em total sintonia quanto ao bem-estar e felicidade de Jane acima de qualquer outra coisa- Se divirtam, é uma linda noite.









-Olha, mamãe, ali parece um cachorrinho...- Jane apontou, deitada na grama, ao lado da barraca, com Livia e Sam, embora seus olhos estivessem quase fechando e limitando o seu senso de direção, para um aglomerado de estrelas que parecia com qualquer coisa, menos com um cachorro, mas não era Livia quem ia interferir na imaginação de uma criança, principalmente porque ela também já estava ficando com sono demais para raciocinar em qual formato a disposição das estrelas as havia deixado.

-É mesmo... Parece com o Charlie, não acha?

-Acho...- ela respondeu e seus olhos fecharam por um segundo, mas ela se apressou em abri-los. Embora estivesse com muito sono, já estava apontando bichinhos nas estrelas há algum tempo com Livia e Sam e aquilo, para ela, não tinha preço.

-Sabe o que o Sam me diz?- ela perguntou a Livia, mas não esperou pela resposta para continuar falando- Que quando uma pessoa é muito boa e vai morar no céu, uma estrelinha nova aparece. Uma estrelinha apareceu quando a minha mãe Carolyn foi morar lá, sabia?

Livia sentiu o seu coração apertar só por ouvir o nome de Carolyn. É claro que ela sabia que Carolyn deixaria a marca de uma estrela, a estrela mais bonita que havia no céu, sempre olhando para baixo pelos seus dois filhos que ficaram na Terra.

-E qual estrelinha você acha que é?

-Aquela ali.- ela apontou prontamente para uma estrela grande e brilhante, que ficava ao lado de uma menorzinha, e fez isso de maneira tão decidida, mesmo com os olhos praticamente fechados, que dava a impressão de que ela apontada e olhava para aquelas estrelas frequentemente- A outra menorzinha é a da minha irmãzinha que eu não conheci, porque ela foi morar no céu muito cedo... O Sam me mostrou uma foto dela uma vez. Qual o nome dela mesmo, Sam?

-Era Belle.- assim como os de Livia, os olhos dele estavam levemente marejados.

-É mesmo...- ela bocejou, seus olhos fecharam por um instante de novo- Eu tinha esquecido.

-Jane...- Sam, que era o mais acordado entre os três naquele momento, sentou-se na grama, fazendo carinho na cabeça da irmã- Acho que já está na hora de dormir...

-Não! Eu quero ficar aqui mais tempo, é o meu acampamento! Eu não estou com sono!- argumentou. No entanto, seus olhos vermelhos e lacrimejantes diziam o contrário.

-Mas você já está cansada, meu amor, e a parte mais legal de um acampamento é dormir em uma barraca. Senão, não é um acampamento de verdade, não acha?

Jane ponderou por um instante e acabou concordando. Ela esticou seus braços finos para que Sam a ajudasse a levantar e, no meio tempo em que ele a colocou em seu saco de dormir na barraca, ela adormeceu, como seu corpo pedia desesperado para que ela fizesse.

Ele deitou de um lado dela e continuou alisando sua cabecinha, como vinha fazendo a noite toda. Ele não queria dormir, queria lutar contra seu sono para ficar consciente ao lado dela pelo máximo de tempo possível, para guardar bem na memória o máximo de momentos ao lado dela que pudesse, caso não os tivesse mais em breve.

Livia deitou do outro lado dela e segurou a sua mãozinha pequena e magra. Eventualmente, ela dormiu também, estava cansada e um pouco desgastada pelas informações fortes que recebera mais cedo.

Sam tentou, mas não conseguiu evitar prestar toda a sua atenção na cena bem à sua frente. Jane e Livia estavam adormecidas ao seu lado, tão serenas, tão tranquilas, como se absolutamente nada estivesse errado. Os dedos delas se entrelaçavam como se tivessem sido feitos para ficarem juntos, parecia que o que a conexão que elas tinham era tão forte que emanava uma energia que quase dava para ver.

Ele lutou, mas perdeu a batalha ao levar o olhar para Livia. Ela dormia com uma expressão tão leve que parecia que estava dormindo em uma nuvem, um de seus braços estava debaixo da sua cabeça, servindo como forma de apoio, e o outro perto do corpo de Jane, chegando até onde suas mãos de encontravam. Alguns fios do seu cabelo agora curto caíam no seu rosto, mas ela não parecia, de maneira alguma, incomodada.

Pelo contrário, Livia parecia um anjo quando dormia. Ela era tão linda, que era quase impossível não olhar.

Em outras circunstâncias, aquele cenário seria o sonho de adolescência de Sam: os três em uma barraca, de férias, sob as estrelas e a luz do luar, serenos, felizes e juntos.

"Droga, por que estou pensando nisso? Eu não posso, eu não devo...", advertiu-se e seu coração acelerou significativamente.  

Ele não tinha controle do que sentia, mas tinha do que fazia.

Então, ele saiu da barraca, com todo o cuidado para não acordá-las, e respirou fundo do lado de fora. Depois, ele entrou em sua casa e foi dormir no seu quarto.

*     *     * 

Ooi, time <3

E aí? O que acham que tá rolando na cabeça do Sam? Particularmente, eu gosto dessa visão de que não se tem controle do que se sente, mas sim do que se faz. Nesse tipo de situação, na vida real e na história, eu acho difícil ninguém sair magoado, mas dá para sair com respeito e dignidade, sabe? Dizendo sempre a verdade e encarando de frente.

É isso. Vejo vocês quarta. Beijinhos <3

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