Oblíquo

By luanaSales97

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Caio sabia, estar apaixonado era uma maldição que em nada parecia com filmes ou séries de TV onde tudo acaba... More

Epígrafe e apresentações
Ele não está tão a fim de você
Alguém tem que ceder
Questão de tempo
Abaixo o amor
A barraca do beijo
Sim ou Não
Três homens em conflito
Guerra Fria
Trinta anos esta noite
O brilho eterno de uma mente sem lembranças
Um momento pode mudar tudo
O Primeiro Amor
E se fosse verdade?
Por trás de seus olhos
Uma noite alucinante
Sempre ao seu lado
A doce vida
Dia do sim
A felicidade não se compra
O Date Perfeito

Feitiço da Lua

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By luanaSales97

Foco mais uma vez naquele rosto forçadamente sereno, os olhos brilhando encarando a tela bem na frente.
Pois eu duvido que ele estivesse assistindo ao filme. Me levanto do sofá e estando a mão.

— Pode me devolver meu cobertor? Eu vou dormir.

Damien assente, pega o controle remoto ao seu lado e desliga a televisão, se levantando junto a minha humilde e amassada coberta. Ele a joga sobre o ombro e dá um passo até mim, olhando fixamente meu rosto, procurando por alguma coisa. Eu franzo o cenho e dou um passo para trás, incerto.

Engoli em seco.

— Sabe que pode me contar qualquer coisa, certo?

— Eu... sei.

Ele fica em silêncio por alguns instantes, como se esperasse alguma coisa, meu coração responde, saltando ansioso. 

Ele sabe, ele sabe, ele sabe.

Abro e fecho a boca algumas vezes, procurando as palavras perdidas em minha garganta. Por onde eu deveria começar? Eu deveria pedir desculpas? Eu deveria negar? Eu deveria dar um beijo nele? Olho o rosto sério de Damien, procurando por algum sinal que deixasse qualquer coisa clara. 

Ele não espera um beijo, um pedido de desculpas ou qualquer palavra gaguejada. O que eu estou pensando? Meu Deus. Eu preciso ir para o quarto. 

Enquanto estou imerso nessa onda de pensamentos Damien caminha até nossa geladeira e abre, pegando dali uma cerveja e se encostando no balcão de frente para a sala de estar. 

— Aceita um gole?

Vou até lá e fico do outro lado, de frente para ele, pegando a garrafa de sua mão. Meu peito gritando de ansiedade, o estômago queimando.  

— Desculpe — começa. — Eu não queria te assustar.

— Não assustou, Dami. — sorrio o chamando pelo apelido idiota que a família dele usava, tendo tornar o clima mais leve. Eu precisava tornar. — Me pegou de surpresa. Não sei o que você esperava ouvir. 

— Nem eu. Acho que estou estranho hoje...

Sim, eu podia ver, estranho de verdade, tenso. Os ombros rígidos. Isso por minha causa? Parecia que sim, ou... que droga, eu não sei o que pensar! 

— Por conta do termino? — é o que pergunto, é o que preciso saber.

— Não o término em si — ele vem para o meu lado, pegando para si a bebida, eu espero que a fala continue — Camila chorou muito, e eu entendo, quer dizer, términos são um saco. Ela parecia gostar de mim. 

Assinto e isso é de alguma forma um alívio. 

— E você? 

— Eu gostava dela... em algum grau. Não credito nesse amor... cheio, não acredito em todas essas borboletas no estômago, nesse clichê sobre pensar o tempo todo em alguém, no que faria sua pessoa especial sorrir, eu também não me vejo passar noites sonhando acordado, ansiando, ou esperando por alguém em casa apenas pela felicidade de estar ali. Você pode pensar em mim como um cuzão por terminar tão rápido, mas isso não é mais justo do que deixar alguém esperando por algo que eu não posso ser? 

Sorrio e o olho de lado, empurro-o de leve com meu ombro esquerdo e sinto meu coração, antes acelerado, voltar ao seu lugar. 

—  Eu acho mesmo que você seja um cuzão, mas também acho que vai se apaixonar tanto que engolirá cada uma dessas palavras.

Ele ri. 

— Eu estou falando sério, Damien. Quando você gosta de alguém é... diferente. 

— Diferente como num filme onde dois pombinhos rolam na cama o dia inteiro? Como um daqueles beijos que encerram uma cena? 

— Algo como isso, mas não exatamente — ele parece descrente.

— Eu já beijei muita gente nessa vida, homens e mulheres. 

— Não alguém que você amasse — insisto. — Essa sensação é surreal. 

— Mesmo? E como sabe? 

Os olhos dele brilham em curiosidade, um meio sorriso no canto da boca. Aperto os lábios e espero que meu cérebro me ofereça alguma resposta brilhante que me resgate de ser um cara que não teve mais do que uns dois namoros muito pouco apaixonados ao longo de vinte dois anos. 

— Eu... não sei. 

— Você é um romântico — sinto minhas bochechas quentes. — Me promete que vai escolher alguém que te ame assim quando for a hora. 

— Damien eu não sou virgem ou sei lá o que você está pensando. 

Meu tom sai quase estridente pela vergonha. Eu poderia enfiar a cara no chão agora. Levo a mão ao rosto, mas o gesto é impedido pelo toque de Damien.

— Sério, estou pensando no seu bem estar. Eu penso nisso o tempo todo, na verdade.

Solto minha mão, ainda sentindo minhas bochechas queimarem. 

— Como meu pai — falo a primeira coisa que vem a cabeça. Talvez a pior delas.

Ele dá de ombros. 

— Agora que você chegou, eu vou dormir. Levarei seu cobertor comigo, use o meu. 

— Damien... — eu chamo seu nome enquanto ele se afasta.

— Eu prefiro o seu, fazer o que?

+++

— Corta! — Bernardo, o diretor da peça ao qual agora eu seria co-autor, grita a plenos pulmões para os dois jovens que, no palco, encenavam um encontro apaixonado na biblioteca da faculdade. Aquele ensaio era uma amostra do que já estava escrito, um prototipo. Eu levei o dia todo conhecendo os autores e lendo a ideia central do diretor para que pudesse ajuda-lo a dar vida e voz ao que queria. Estalo os dedos e tomo nota no meu bloquinho novo, presente de Lucas, sobre algumas ideias para melhorar a cena. 

Era um romance jovenil sobre uma escritora que ia a biblioteca toda a semana para ver o rapaz que se sentava sempre na mesma mesa, lendo o mesmo livro. 

A garota loira no palco, Leticia, joga seus cabelos para trás e sorri para o homem ao meu lado. E ele, por sua vez, olha para mim.

— Eu não consigo dizer exatamente o que é, mas falta alguma coisa.

Assinto. 

— Bom, senhor...

— Bernardo, por favor. 

— Bom, Bernardo, eu acho que... se eu puder ser honesto... a cena está fria. 

— Isso, sim, sim. Falta algo. 

Tomo algum ar.

— A protagonista está com um ar muito inocente para quem já tem mais do que uns vinte anos, se ela é esperta mesmo, sabe como as coisas funcionam e mulheres espertas não se apaixonam a primeira vista, se um cara tropeça nelas e derrubam seus livros ela os mandam a merda, e não começam a suspirar, Bernardo — amanso a voz quando chego em seu nome, notando que, talvez, eu tivesse sido rude. 

Leticia me olha assustada e tampa os lábios por alguns segundos, não sei se pela surpresa, ou se contendo uma gargalhada. Bernardo assente. 

— É corajoso de sua parte dizer esse tipo de coisa. 

— Ou foi apenas burrice, talvez — sussurro. 

— Não, quer dizer, eu realmente preciso de um olhar mais jovem... Seus professores me fizeram altas recomendações baseados na sua escrita... Bom, o que acha de revisar para mim as primeiras páginas da peça? Está como co-autor, faça isso e me entregue, não sei, amanhã?

Arregalo os olhos, isso era vingança. Uma vingança fria e cruel.  

— Mas, Bernardo...

— Que tal voltarmos ao senhor? Está dispensado por hoje. 

Abaixo os olhos, xingando mentalmente meus modos. Onde eles estavam quando eu tanto precisava? Pego minha mochila do banco acolchoado e forço um sorriso. 

— Certo, estará na sua mesa amanhã pela tarde. Vou indo para minha aula. Se me derem licença. 

Evito o olhar dos atores quando me retiro da sala. Vou caminhando pela rua, o sol se pondo e um friozinho começando a fazer presença. Sinto meu celular vibrar na bolsa e não pego. Estou a duas quadras da faculdade e escolho caminhar até lá, cruzar todas as ruas e depois os portões e corredores até chegar para a aula de edição de vídeo. Pedro e Damien sentam-se lado a lado e parecem imersos em uma conversa bem séria. 

Me jogo na cadeira atrás deles, atraindo o olhar de ambos. 

— Muito boa noite — digo, puxando meu notebook e o abrindo em cima da mesa. — A gente pode comer bolo quando a aula acabar? Tive um dia ruim. 

— Tem bolo em casa, comprei hoje à tarde — Damien diz, meio aério.  

— Ele é... — começo.

— Recheado com doce de leite, sim. 

— Muito obrigado. 

— O que houve? — Pedro pergunta.

— Fui intrometido, ganhei trabalho extra com um prazo merda. Vou precisar passar a noite acordado. — Dou de ombros. — Falando nisso, sobre o que vocês estavam falando?

— Nada demais — Pedro se adianta. — Estava aconselhando Damien. 

— Mesmo?

Damien ignora, mastigando o lápis e se recostando na cadeira. Acerto nele a tampa da minha caneta e ele leva um susto, me olhando feio. 

— O que foi? 

Pedro ri. 

— Não é nada demais mesmo. Veja, preste atenção, a professora está chegando.    

ATENÇÃO BOIOLAS, esse livro é dividido em duas partes, a segunda é narrada pelo Damien, e ela está quase chegando. Abram o coração para ele... ou não. 

Obs: coloquei a música do Caio no cap <3




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